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LIVRO LIBRAS

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31
Libras
LIBRAS 
 
CLÉLIA MARIA IGNATIUS NOGUEIRA 
MARILIA IGNATIUS NOGUEIRA CARNEIRO 
BEATRIZ IGNATIUS NOGUEIRA 
Apresentação do livro 
 
Você, certamente, deve estar se perguntando por que estudar a Língua Brasileira 
de Sinais, a Libras. Afinal, essa é a língua dos surdos brasileiros e, provavelmente, você 
nem conhece alguém surdo. Outra coisa que, talvez, você não sabe, caro(a) aluno(a), é 
que, no Brasil, atualmente, há cerca de 5.700.000 pessoas surdas. 
Segundo dados do Ministério da Educação (MEC), em 2001, havia 50 mil 
estudantes surdos matriculados no Ensino Fundamental, a maioria em classes comuns, 
em escolas inclusivas. Apesar dessa grande quantidade de alunos surdos matriculados 
no ensino regular, poucos obtêm sucesso, principalmente, porque a principal maneira de 
ensinar ainda é a explicação oral. Nesse caso, o surdo não entende nada, devido à 
dificuldade de comunicação entre professores e alunos. 
Esse dado de 2001 é importante, porque essa constatação deu origem a diversas 
ações do Ministério da Educação brasileiro, mudando radicalmente, e para melhor, a 
educação do surdo brasileiro. Foi tentando mudar essa realidade de fracasso educacional 
dos alunos surdos que o Governo Federal adotou diversas medidas, dentre elas, o 
Decreto Federal nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Esse Decreto tornou obrigatório 
o ensino de Libras em todos os cursos de formação de professores e também de 
fonoaudiologia do Brasil, além de tornar a Libras uma disciplina optativa nos demais 
cursos. 
Por esse motivo, caro(a) aluno(a), você estudará essa disciplina, que tem como 
objetivo proporcionar o estudo da Língua Brasileira de Sinais e refletir sobre a surdez, a 
cultura, as identidades surdas e a educação de surdos na realidade brasileira, pensando 
na inclusão social e educacional do surdo. Nesse sentido, a surdez pode ser 
caracterizada de duas maneiras distintas: seguindo o modelo médico, que a considera 
uma deficiência, uma limitação de natureza patológica, rotulando a criança por aquilo 
que ela não é capaz de fazer. 
Por outro lado, ao ser adotada a concepção socioantropológica, que entende a 
surdez não mais como uma patologia, mas como uma diferença linguística, a criança 
surda passa a ser encarada a partir de suas possibilidades, que podem ser mais ou menos 
aproveitadas em função da educação ofertada. 
Assim, compreender os surdos e a surdez por meio desse viés educacional é 
fundamental para o professor, pois é esse profissional que estará mais próximo da 
família no momento dela lidar com a educação da criança surda. Além disso, pensando 
no surdo adulto, que pode e deve exercer sua cidadania, é importante que qualquer 
profissional esteja minimamente capacitado para atendê-lo. 
Dessa forma, procuramos atender, prioritariamente, a três grandes objetivos: 
proporcionar a constituição de uma imagem positiva da surdez e dos surdos; favorecer a 
inclusão educacional e social do surdo; promover a difusão da Libras. Para atingir esses 
objetivos, este livro está organizado em três unidades. Na Unidade I, apresentamos a 
Libras – Língua Brasileira de Sinais, em seus aspectos geral e sintático. 
A Unidade II é destinada, basicamente, à apresentação de um vocabulário 
específico, o qual permite que você, caro(a) aluno(a), comunique-se, de modo funcional, 
com o surdo, em sua área de atuação profissional. Apresentamos, também, na segunda 
unidade, os profissionais da Libras, a saber, o tradutor intérprete de Língua de Sinais 
(TILS) e o professor de Libras, que, de acordo com o Decreto nº 5.626, deve ser, 
prioritariamente, surdo. 
Na Unidade III, trataremos da sensibilização e da conscientização acerca dos 
aspectos sociais e antropológicos da surdez, ao discutirmos as concepções de surdez, as 
diferentes filosofias educacionais, a cultura e as identidades surdas e a história da 
educação de surdos. Ainda, apresentaremos algumas leis e políticas públicas 
relacionadas à educação de surdos, finalizando com uma desconstrução de alguns mitos 
e crenças sobre a surdez e os surdos. 
Na conclusão, além de retomarmos os assuntos abordados nas Unidades I, II e 
III, há uma breve discussão a respeito da inclusão educacional e social do surdo. Essas 
discussões são sustentadas em nossa formação acadêmica, mas, particularmente, em 
nossa experiência de vida. 
Devido aos nossos sobrenomes, você já deve ter percebido que nós três somos 
parentes! É verdade. Somos mãe (Clélia), ouvinte, e filhas (Marília e Beatriz), surdas e 
vivenciamos um período muito difícil na vida do surdo brasileiro, no qual os 
professores não aprendiam a se comunicar com seus alunos e os próprios surdos eram 
proibidos de usar a Libras. 
Isso acontecia porque as pessoas, incluindo os professores e a família, 
acreditavam que aprender a falar oralmente era a única forma de o surdo – que, naquela 
época, era denominado deficiente auditivo – se integrar à sociedade. Atualmente, muita 
coisa mudou, inclusive, a maneira de se referir aos surdos. Portanto, é essa experiência 
que nos credencia a discutir esses temas tão delicados com você, caro(a) aluno(a). 
Finalizamos esta apresentação com uma frase atribuída ao surdo francês 
Ferdinand Berthier, que viveu no século XIX e é considerado um dos mais brilhantes 
exemplos de sucesso de um surdo, sendo um dos fundadores da primeira associação de 
surdos, a Societé Centrale des Sourds Muets, de Paris. Essa frase foi extraída do livro de 
Gesser (2009): “O que importa a surdez da orelha, quando a mente ouve? A verdadeira 
surdez, a incurável surdez é a da mente” (BERTHIER, 1854). 
Abram suas mentes e bons estudos. 
As autoras. 
Unidade I 
Linguagem, línguas orais, de sinais e Libras 
 
Objetivos de aprendizagem: 
● possibilitar a constituição de uma imagem positiva da surdez e do surdo; 
● estabelecer a diferença entre linguagem, língua e fala; 
● discutir a relação “pensamento e linguagem”; 
● compreender a Libras em seus aspectos gerais; 
● compreender a Libras em seus aspectos linguísticos; 
● favorecer o processo de inclusão da pessoa surda; 
● expandir o uso da Libras, legitimando-a como língua oficial do Brasil. 
 
 
Plano de estudo 
● Linguagem e pensamento. 
● História das Línguas de Sinais e da Libras. 
● Paralelos entre Libras e a Língua Portuguesa. 
● Línguas de Sinais e Libras. 
● Aspectos linguísticos da Libras. 
Introdução 
Os fortes preconceitos relacionados à surdez se sustentam na crença, praticamente 
inabalável, desde o tempo de Aristóteles e reforçada por diversos estudos ao longo do tempo, 
de que a linguagem falada é essencial para o desenvolvimento do pensamento humano. Os 
estudos sobre cognição e linguagem, entretanto, efetivados pelas teorias de aprendizagem 
mais conhecidas, como o behaviorismo (do qual Frederic Skinner é um dos mais importantes 
representantes), o construtivismo genético de Jean Piaget e o sociointeracionismo 
(representado por Lev Vygotsky), dentre outras, além da neurociência e de teorias 
marcadamente linguísticas, como a abordagem gerativista (que tem Noam Chomsky como 
principal representante), mostraram que o importante para o desenvolvimento do pensamento 
é a comunicação e não a língua que se usa. 
Além disso, outros estudos demonstram que crianças surdas, filhas de pais surdos, têm 
um desempenho escolar superior aos das crianças surdas filhas de ouvintes. Esse fato reforça 
a premissa anterior de que, para o desenvolvimento cognitivo, o que importa é a comunicação, 
e não a modalidade de língua utilizada. 
Houve, portanto, um novo direcionamento nas pesquisas sobre a relação entre o 
pensamento e a linguagem, com a realização de diversos estudos referentes às línguas de 
sinais, os quais demonstraram que essas línguas desempenham, no desenvolvimento cognitivo 
e afetivo dos surdos, o mesmo papel das línguas orais para os ouvintes. Além disso, houve 
pressões resultantes de movimentos de surdos,respaldados em pressupostos de direitos 
humanos e, tudo isso, contribui para que as línguas de sinais assumissem posição de destaque 
na educação e na inclusão social de surdos. 
Atualmente, as leis “da Acessibilidade” e “da Libras” garantem ao surdo o direito de 
ser educado em sua primeira língua, de ter atendimento jurídico, de saúde, enfim, de todos os 
serviços prestados pelo governo, em Libras, além de ter o direito às traduções de programas 
televisivos, de serviços bancários etc. Enfim, como a Libras é uma língua oficial brasileira, 
ela tem o mesmo status da Língua Portuguesa. 
Assim, nesta Unidade I, apresentamos as línguas de sinais em geral e a Libras em particular. 
Para isso, organizamos cinco seções. 
A primeira, intitulada “Pensamento e linguagem”, destaca que as línguas de sinais são 
fundamentais para o desenvolvimento cognitivo dos surdos. Na segunda seção, abordamos a 
“História das línguas de sinais”, mas, além da história dessas línguas, anunciada no título, há 
uma discussão acerca das diferenças conceituais entre linguagem, língua e fala. Na terceira 
seção, como o título indica, estabelecemos “Paralelos entre a Libras e a Língua Portuguesa”, a 
fim de facilitar a compreensão da primeira. Na quarta seção, “Línguas de sinais e Libras”, 
procuramos desconstruir crenças e mitos relacionados às línguas de sinais e à Libras. 
Finalizamos com a seção mais extensa e complexa desta Unidade I, que é o estudo dos 
“Aspectos linguísticos da Libras”. 
Lembre-se de que os surdos “escutam com os olhos e falam com as mãos”. Você 
entenderá essa fascinante forma de comunicação. Bons estudos. 
 
Seção 1 
Linguagem e pensamento 
 
A relação entre pensamento e linguagem é discutida desde os tempos mais remotos e, 
desde então, existe uma forte crença de que a linguagem falada é essencial para o 
desenvolvimento do pensamento humano. Esse fato é reforçado por pesquisas mais recentes. 
No século XX, Piaget estabeleceu que a linguagem é responsável pela qualidade do nosso 
pensamento, pois permite sairmos do estágio das operações concretas e alcançarmos o estágio 
lógico-formal. Entretanto, para esse estudioso, antes mesmo da linguagem, existe uma 
inteligência prática, característica do sensório-motor. Para Vygotsky (apud FARIA, 2011), 
por sua vez, a linguagem tem um papel essencial na organização das funções superiores, pois 
exerce papel fundamental no desenvolvimento cognitivo dos seres humanos. 
 
No processo interacional verbal, o sujeito também utiliza o processo 
cognitivo, pois, segundo Vygotsky, a palavra, por ser carregada de sentido, 
exige que o sujeito realize operações mentais para compreendê-la, assim 
como para compreender as motivações de uso dela [...]. Por intermédio dessa 
forma de pensar, pode-se compreender a afirmação de que a comunicação 
verbal exerce papel central no processo interacional (FARIA et al., 2011, p. 
174). 
 
Então, a comunicação verbal refere-se apenas à língua oral? A resposta é não. Verbal 
vem de verbo, que significa palavra, a qual pode ser reproduzida tanto na língua oral como na 
de sinais. Essa constatação de que a comunicação espaço-visual se constitui em comunicação 
verbal, assim como a oroauditiva, é recente. 
Durante muito tempo, acreditou-se que a linguagem oral era a única responsável pelo 
funcionamento cognitivo humano e a dificuldade encontrada pelos surdos para falar foi 
considerada como, praticamente, impeditiva do desenvolvimento do pensamento. Além disso, 
como a língua de sinais, por muitas décadas, foi confundida com mímica, era entendida como 
dependente do mundo concreto, não permitindo a compreensão de conceitos abstratos e, por 
conseguinte, não se acreditava em suas potencialidades para o desenvolvimento cognitivo dos 
surdos. 
A presença de surdos em instituições escolares inclusivas ou especiais, sendo 
educados em sua língua natural, tem contribuído muito para desconstruir a imagem de que a 
surdez compromete o desenvolvimento cognitivo e linguístico do indivíduo, pois conforme 
expõe Gesser (2009), 
 
o surdo pode e desenvolve suas habilidades cognitivas e linguísticas (se não 
tiver outro impedimento) ao lhe ser assegurado o uso da língua de sinais, em 
todos os âmbitos sociais em que transita. Não é a surdez que compromete o 
desenvolvimento do surdo, e sim a falta de acesso a uma língua (GESSER, 
2009, p. 76). 
 
Com o reconhecimento de que a língua de sinais desempenha, no desenvolvimento 
cognitivo dos surdos, o mesmo papel que a língua oral para os ouvintes, compreendeu-se que 
a surdez não torna a criança um ser com menos possibilidades, mas com possibilidades 
diferentes. O estudo dos surdos mostra que as capacidades humanas de linguagem, 
pensamento, comunicação e cultura não se desenvolvem de maneira automática, não se 
compõem apenas de funções biológicas, mas têm origem social e histórica. Como assevera 
Sacks (1998), essas capacidades são um presente – o mais maravilhoso dos presentes – de 
uma geração para outra, o que reforça a importância do grupo, da cultura surda para a 
construção da identidade e o desenvolvimento cognitivo do surdo. 
Assim, ter a dificuldade de ouvir não impede o ser humano de adquirir uma língua e 
nem de desenvolver sua capacidade de representação. Faz, porém, o surdo criar uma maneira 
própria de se comunicar, utilizando uma língua de natureza visomotora. As línguas de sinais, 
portanto, comprovam que a surdez não impede o surdo de adquirir uma língua e nem de 
desenvolver sua capacidade de representação, mas isso, provavelmente, envolve mecanismos 
mentais diferentes dos da pessoa ouvinte. 
As ações negativas quanto ao uso da língua de sinais estiveram e estão, em 
grande medida, atreladas aos seguidores da filosofia oralista. Muitos 
pesquisadores têm abolido a visão exposta, ao afirmarem justamente o 
inverso: é o não uso da língua de sinais que atrapalha o desenvolvimento e a 
aprendizagem de outras línguas pelo surdo. Considerando-se que a relação 
do indivíduo surdo profundo com a língua oral é de outra ordem (dado que 
não ouvem!), a incorporação da língua de sinais é imprescindível para 
assegurar condições mais propícias nas relações intra e interpessoais que, por 
sua vez, constituem o funcionamento das esferas cognitivas, afetivas e 
sociais dos seres humanos (GESSER, 2009, p. 59). 
 
Sendo a língua de sinais imprescindível para o desenvolvimento cognitivo e social do 
surdo, “[...] é fundamental que a criança aprenda a língua de sinais bem cedo, pois pesquisas 
têm mostrado que, quando a criança surda adquire linguagem desde bem pequena, o seu 
desempenho escolar será equivalente ao de crianças ouvintes” (REILY, 2004, p. 123). 
Portanto, é indispensável que a família esteja completamente envolvida nesse processo e que 
se disponha a fazer parte da comunidade surda. 
Ora, mas as pesquisas apontam que cerca de 90% das crianças surdas são filhas de 
pais ouvintes que pouco ou nenhum conhecimento possuem acerca da surdez e da língua de 
sinais e que, muitas vezes, ainda não resgataram a serenidade emocional abalada pelo 
imprevisto da chegada de uma criança surda. Nesse contexto, há o papel fundamental 
desempenhado pelo professor, que, além de ser o profissional mais próximo da família nesse 
momento, tem a serenidade emocional que os pais, em especial, podem demorar para adquirir. 
Mas, enquanto a família se dá conta das dificuldades de adaptação ao novo 
filho que lhes foi imposto, algo deve ser feito e rapidamente. A criança 
cresce e necessita da linguagem para poder se colocar no mundo, entender e 
se fazer entendida. Entra aí o papel da escola (MOURA, 2013, p. 18). 
 
Portanto, como o professor é, na maioria dos casos, o único profissional em contato 
com a família, ele passa a ser o responsável pela orientação sobre a atuação da família em 
toda a vida do filho surdo. Por isso, esse profissional deve conhecer muito bem as implicações 
sociaisda adoção do modelo bilíngue de educação dos surdos. 
 
Seção 2 
História das línguas de sinais e da Libras 
 
“LIBRAS É LÍNGUA”. Foi este o título escolhido para a palestra 
apresentada por uma linguista em um evento cujo público-alvo era o 
estudante do curso de letras. Uma professora que trabalha na área da surdez, 
mencionando o título, fez o seguinte comentário: “De novo? Achei que essa 
questão já estivesse resolvida!” (GESSER, 2009, p. 9). 
 
Embora mais de cinquenta anos já tenham se passado desde que a língua de sinais foi 
mundialmente reconhecida, do ponto de vista linguístico, como uma verdadeira língua, no 
Brasil, mesmo após a promulgação da Lei Federal nº 10.436, de 24 de abril de 2002, que 
reconhece a Libras como língua oficial brasileira, ainda é necessário afirmar e reafirmar essa 
legitimidade. Assim, por que é preciso insistir tanto nessa questão de que a Libras é uma 
língua? Afinal, o que isso significa? Língua e linguagem são a mesma coisa? O surdo “fala” 
em Libras? 
Por linguagem, designamos o sistema abstrato, articulado, fenômeno universal, 
independente da situação cultural, que diferencia o ser humano das demais espécies. 
Denominamos língua o sistema abstrato, articulado, utilizado por um grupo ou uma 
comunidade específica, por exemplo, a Língua Portuguesa. O modo particular e 
individualizado de exercitar a língua é o que denominamos fala, a qual “é o exercício material 
da língua levado a cabo por este ou aquele indivíduo pertencente a uma comunidade 
linguística específica” (BASTOS; CANDIOTTO, 2007, p. 15). 
De acordo com Bastos e Candiotto (2007, p. 15), a linguagem é a capacidade do ser 
humano de se comunicar com os semelhantes por meio de signos. É, ao mesmo tempo, física, 
psicológica e social, e realizada sempre dentro do âmbito de uma língua, “inseparável de um 
contexto cultural específico, particular, de uma comunidade linguística”. 
De acordo com essa perspectiva, é possível admitir que a Libras é uma língua, porque 
permite que uma comunidade linguística particular, a comunidade surda, exerça sua 
capacidade de comunicação. Ademais, se a fala é o modo de um elemento de uma 
comunidade linguística exercitar sua língua, o surdo fala em Libras. 
Não foram considerações simplistas, como as feitas até aqui, que permitiram afirmar, 
em bases científicas, que a Libras é uma língua. Esse reconhecimento linguístico teve início 
com os estudos descritivos do linguista americano William Stokoe, em 1960. Antes disso, as 
línguas de sinais não eram vistas como uma língua verdadeira, com gramática própria. 
No Brasil, conforme afirmamos anteriormente, os primeiros estudos sobre a Libras 
foram realizados na década de 1980, por Lucinda Ferreira Brito, da Universidade Federal do 
Rio de Janeiro, e Tanya Mara Felipe, da Universidade Federal de Pernambuco e da Federação 
Nacional de Escolas e Instituições de Surdos (FENEIS), entidade máxima representativa dos 
surdos brasileiros. Atualmente, no Brasil, há estudos sobre os aspectos gramaticais e 
discursivos da Língua Brasileira de Sinais, produzidos, principalmente, pela Universidade 
Federal de Santa Catarina, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e pelo Instituto 
Nacional de Educação e Integração dos Surdos (INES). 
Devemos salientar, todavia, que a comunicação com as mãos não teve início com os 
surdos e nem é exclusividade deles. Existem estudos que indicam que os homens pré-
históricos se comunicavam por meio de gestos. Apenas quando começaram a utilizar 
ferramentas, ocupando as mãos, começaram a utilizar a comunicação oral. Portanto, antes de 
utilizarem a palavra, os seres humanos utilizavam as mãos para interagir, demonstrando a 
naturalidade da comunicação por sinais. Podemos, então, afirmar que o processo inverso, isto 
é, a passagem da língua oral para a manual, foi reinventado pelo homem, sempre que 
necessário, e não somente no caso dos surdos. 
 
Você sabia que existem várias linguagens manuais criadas em diversos 
momentos da história da humanidade, para uso em contextos variados, tendo 
em vista possibilitar a comunicação e a interação em situações em que a fala 
era inviável, proibida ou impossível? 
Mergulhadores, por exemplo, criaram um sistema de códigos gestuais para 
se comunicar debaixo d’água, onde a fala não é possível. Considerando os 
riscos de uma comunicação equivocada em circunstâncias perigosas, fica 
evidente o quanto essa comunicação deve ser bem assimilada durante os 
cursos de mergulho para garantir a segurança no meio líquido (REILY, 
2004, p. 113). 
 
No Brasil, Lucinda Ferreira Brito, em 1982, iniciou seus estudos linguísticos acerca da 
língua de sinais dos índios Urubu-Kaapor da floresta amazônica brasileira, após um mês de 
convivência com eles, documentando em filme sua experiência. Brito constatou que essa 
língua se tratava de uma legítima língua de sinais. O interessante de se observar, no caso dos 
Urubu-Kaapor, é que os ouvintes da aldeia “falam” a língua de sinais e a língua oral, 
evidentemente, enquanto os surdos se restringem à língua de sinais. Assim, os ouvintes da 
aldeia se tornam bilíngues, enquanto os surdos se mantêm monolíngues. 
De acordo com Reily (2004), os indígenas do planalto americano também 
desenvolveram uma língua de sinais para estabelecer uma comunicação entre tribos distintas, 
que não falavam a mesma língua e precisavam de uma forma convencional de comunicação. 
Assim, desenvolveram, ao longo do tempo, um conjunto de sinais bastante eficiente, com o 
qual conseguiam realizar alianças e comércios. 
Um sistema de sinais também foi desenvolvido no período medieval por monges nos 
mosteiros europeus, que faziam o voto do silêncio, sendo que, mesmo atualmente, algumas 
comunidades de monges comunicam-se por gestos em suas atividades cotidianas no mosteiro. 
Também, concebia-se a função do silêncio no período monástico, segundo regras registradas 
por São Basílio Magno. Nesse contexto, a palavra só poderia ser utilizada em caso de 
necessidade e estando as mãos ocupadas com algum trabalho, o que permite inferir que a 
comunicação gestual que eles utilizavam era bastante eficiente. Observe a explicação a seguir. 
 
É bom para os noviços também a prática do silêncio. Se dominam a língua, 
darão simultaneamente boa prova de temperança. Com o silêncio aprenderão 
junto dos que sabem usar da palavra, com concisão e firmeza, como convém 
perguntar e responder a cada um. Há um tom de voz, uma palavra comedida, 
um tempo oportuno, uma propriedade no falar, peculiares e adequados aos 
que praticam a piedade. Não os aprende quem não tiver abandonado aquilo a 
que estiver acostumado. O silêncio traz consigo o esquecimento da vida 
anterior, em consequência da interrupção, e proporciona lazer para o 
aprendizado do bem. Assim, a não ser por questão especial atinente ao bem 
da própria alma, ou por inevitável necessidade de um trabalho em mãos, ou 
por negócio urgente, guarde-se o silêncio, excetuada, é claro, a salmodia 
(BASÍLIO MAGNO apud REILY, 2004, p. 114). 
 
No século XVI, o médico e filósofo italiano Girolamo Cardano, utilizou a língua de 
sinais e a escrita para ensinar seu filho, que era surdo. No mesmo século, Pedro Ponce de 
Leon estabeleceu um método para a educação de surdos, em que combinava datilologia, 
escrita e oralização, entretanto, como na época era comum se guardar segredo dos métodos, 
após a morte de Ponce de Leon, seu método caiu no esquecimento. 
Na interface dos séculos XVI e XVII, na Espanha, Juan Pablo Bonet educava nobres 
surdos por intermédio de sinais, treinamento da fala e alfabeto datilológico, alcançando 
enorme sucesso, tendo sido, em razão disso, nomeado Marquês pelo Rei Henrique IV. Bonet 
publicou o primeiro livro que se tem notícia sobre a educação de surdos, no qual está exposto 
seu método que, apesar de ser oralista, defende o ensino do alfabeto manual aos surdos, o 
mais precocemente possível.A língua de sinais que conhecemos hoje no Brasil, utilizada pelos surdos, teve origem 
na sistematização realizada por religiosos franceses, desenvolvida a partir de 1760, 
particularmente pelo abade L’Épée, que foi o primeiro a reconhecer a necessidade de usar 
sinais como ponto de partida para o ensino. L’Épée se interessou pelos surdos quando deu 
prosseguimento à educação religiosa de duas irmãs gêmeas surdas, que estavam sendo 
educadas utilizando gravuras. Ele decidiu mudar a metodologia utilizada anteriormente, 
porque acreditava que a compreensão das meninas ficaria restrita ao significado físico da 
imagem, sendo impossível transmitir por figuras o sentido mais profundo da fé. Desse modo, 
 
resolveu ensinar linguagem pelos olhos, em vez de pelos ouvidos, apontando 
os objetos com uma mão e escrevendo o nome correspondente numa lousa, 
com a outra. [...] logo as meninas estavam lendo e escrevendo os nomes das 
coisas. No entanto, esse sistema não permitia maiores avanços, porque não 
contemplava nenhuma gramática, nem sentidos abstratos, essenciais para o 
ensino religioso, restringindo-se à nomeação de objetos presentes, visíveis, 
perceptíveis pelos sentidos. [...] porém, deu-se conta de que as meninas já 
deveriam possuir um sistema gramatical, pois elas se comunicavam entre si 
com muita fluência (REILY, 2004, p. 115). 
 
L’Épée aprendeu os sinais com suas alunas surdas. Também, observou que os surdos 
das ruas de Paris desenvolviam uma comunicação gestual bastante satisfatória e os levou para 
residir no convento. Com esse conjunto de sinais estabelecido, fez adaptações e acrescentou 
outros, desenvolvendo um método para aproximar os sinais à Língua Francesa, o qual ficou 
conhecido como Sinais Metódicos. 
Em 1775, L’Epée fundou uma escola para surdos, a primeira desse tipo, com aulas 
coletivas, nas quais os professores e os alunos usavam os chamados sinais metódicos. A 
proposta educativa da escola era que os professores deveriam aprender tais sinais para se 
comunicarem com os surdos. Assim, eles aprendiam com os surdos e, com essa forma de 
comunicação, ensinavam o francês falado e escrito. 
Diferente de outros professores que escondiam seus métodos, L'Epée divulgava seus 
trabalhos em reuniões periódicas e propunha-se a discutir seus resultados. Em 1776, publicou 
um livro no qual divulgava suas técnicas, intitulado “A verdadeira maneira de instruir surdos-
mudos”, em que divulgou seus sinais metódicos, as regras sintáticas e o alfabeto manual 
criado por Bonet. Quando faleceu, em 1789, L’Epée havia fundado 21 escolas para surdos na 
Europa. O Abade Roch-Ambroise Sicard continuou o trabalho de De L’Epée, inclusive, 
complementando seu livro. 
Os alunos dessas escolas usavam bem a escrita e muitos deles tornaram-se, mais tarde, 
professores de outros surdos. Nesse período, alguns surdos puderam destacar-se e ocupar 
posições importantes na sociedade de seu tempo, além de terem escrito vários livros, 
relatando suas dificuldades de comunicação e os problemas causados pela surdez. 
No século XIX, o americano Thomas Hopkins Gallaudet tomou conhecimento do 
método de Sicard e levou um professor surdo para os Estados Unidos, começando um 
trabalho educacional seguindo essa metodologia. Em 1864, seu filho Edward Gallaudet 
fundou a primeira universidade para surdos, importante instituição, que resistiu ao banimento 
das Línguas de Sinais pelo Congresso de Milão. 
Em 2018, visitamos a Gallaudet University, em Washington D.C., e foi uma 
experiência fascinante. São mais de 1.300 estudantes universitários surdos oriundos de 
diferentes países do mundo e que moram na instituição. No local, há uma estátua de Thomas 
Gallaudet ensinando a letra “a” para uma menina surda. A estátua foi um presente da 
comunidade surda dos Estados Unidos para comemorar o centenário de seu nascimento, em 
1887. Em todo o campus, os postes de luz têm um banner com a frase “There is no other 
place like this in the world”, que significa “Não existe outro lugar no mundo como este”. De 
fato, essa é a única instituição que atende surdos desde a mais tenra idade até o doutorado. 
 
 
A escolarização do surdo brasileiro teve seu início ainda no período imperial, em 
1855, com a chegada do professor surdo francês E. Huet. Em 26 de setembro de 1857, foi 
fundado o Instituto Nacional de Surdos-Mudos, atual Instituto Nacional de Educação do 
Surdo (INES), que adotava a língua de sinais. Essa língua deu origem à Libras e, constitui-se, 
naturalmente, pela interação da língua de sinais francesa (LSF), já constituída em seus 
aspectos gramaticais, com o conjunto de sinais utilizados pelos surdos brasileiros. 
Assim, tanto a língua de sinais Americana (ASL), quanto a língua de sinais brasileira 
(Libras) foram influenciadas pela língua de sinais Francesa. Com o passar dos tempos, essas 
línguas adquiriram características culturais próprias de seu país e acabaram se diferenciando. 
Em 1870, Alexander Graham Bell iniciou uma “verdadeira cruzada” contra as Línguas 
de Sinais, argumentando que elas não proporcionavam o desenvolvimento intelectual dos 
surdos. Além disso, criticava as escolas especializadas, sob a alegação de que promoviam o 
isolamento dos surdos. Ele publicou vários artigos defendendo suas ideias e foi fundamental 
para a proibição das Línguas de Sinais pelo Congresso de Milão, em 1880. No Brasil, em 
1957, o INES proibiu oficialmente o uso das Línguas de Sinais nas salas de aula, mas os 
alunos continuaram utilizando essa forma de comunicação, escondido dos professores e 
funcionários. 
Conta a história que a língua de sinais no Brasil sobreviveu principalmente 
graças a esses surdos que estudavam no INES em regime de internato. As 
conversas em Libras só eram possíveis longe dos olhos de professores e 
vigilantes, à noite, à luz de velas, embaixo das camas e das mesas, nos 
refeitórios, banheiros ou corredores (FENEIS, 2011, p. 13). 
 
Para encerrar essa breve apresentação histórica, a seguir, há um resumo da história da 
Libras, realizado por Góes e Campos (2013, p. 71): 
 
Percebe-se que a história sofreu mudanças e foi muitas vezes influenciada 
por diferentes grupos em diversos momentos e contextos. Partiu-se da 
descoberta da comunicação natural de pessoas surdas, para tentativas de 
oralização com o intuito de “normalizar” os surdos, até o reconhecimento da 
Libras como língua de comunicação de pessoas surdas em nosso país. Houve 
a proibição da língua de sinais, o que prejudicou a evolução da educação de 
surdos e também o progresso de pesquisas e produções científicas em 
relação aos estudos linguísticos da língua de sinais. Mas com o 
reconhecimento da Libras pela lei 10.436, emergiram possibilidades para o 
livre uso da língua de sinais e a criação de novos cursos e de novos e 
diferentes espaços de estudos linguísticos envolvendo a língua de sinais. 
 
Com base nesses estudos, podemos afirmar que, além de proporcionar a comunicação 
efetiva entre os surdos, a língua de sinais possibilita a expressão de sentimentos, a 
composição de poesias, a discussão filosófica, pois se trata de um idioma completo. Porém, 
talvez, principalmente devido as suas características icônicas (uma representação da realidade, 
por ícones) e à forte influência da língua oral, tanto na estrutura gramatical quanto lexical, há 
muitas interpretações equivocadas sobre as Línguas de Sinais, em geral, e sobre a Libras, em 
particular. 
 
Seção 3 
Paralelos entre a Libras e a Língua Portuguesa 
 
Os estudos que se seguiram ao trabalho pioneiro de Stokoe revelaram que as Línguas 
de Sinais eram verdadeiras línguas, preenchendo, em grande parte, os requisitos da 
Linguística daquele período para as línguas orais, como os níveis de articulação da 
linguagem: fonológico, semântico, morfológico e sintático. Em outras palavras, para poderem 
chegar à conclusão de que as Línguas de Sinais constituem-se como idioma,foram feitos 
muitos estudos, sustentados quase sempre na parte da Linguística que compara duas ou mais 
línguas, denominada Linguística Contrastiva, a qual é uma parte da Linguística Geral que 
estuda as similaridades e as diferenças estruturais entre duas línguas. Essa comparação é feita 
nos níveis fonológico, morfológico, sintático e semântico. Observe as explicações a seguir. 
• Fonológico: estuda os fonemas que são a menor unidade distintiva da palavra. Por 
exemplo, na palavra fala, a letra f representa o fonema /f/ (fê), que se refere aos sons 
em uma língua oral. 
• Morfológico: estuda a forma das palavras, como elas são construídas. Nesse caso, a 
unidade mínima é o morfema, unidade mínima significativa. Por exemplo, em 
estud/ei; estud/amos e estud/ante, a identidade de significado das três formas ocorre 
devido ao morfema estud, que é igual nas três palavras. 
• Sintático: estuda como as palavras são organizadas em uma frase. Sabemos que as 
palavras são combinadas, segundo regras determinadas, para formar frases e orações. 
Por exemplo: eu estudei muito ontem. 
• Semântico: estuda o significado ou o sentido das palavras dentro de uma organização 
textual (e contextual). 
A Libras também possui suas unidades mínimas distintivas, os quiremas, que, 
combinados, produzem unidades significativas, os sinais, os quais obedecem a regras para 
constituírem frases, que, também combinadas, produzem contextos. Utilizamos aqui, 
http://pt.wiktionary.org/wiki/%C3%ADcone
propositadamente, a palavra “contextos”, porque a Libras é uma língua falada (cuja escrita se 
faz por meio do sistema SingWrittig – Escrita de Sinais) e a palavra “texto” remete à 
produção escrita. Assim, ao serem estabelecidas comparações entre a Língua Portuguesa e a 
Libras, percebe-se uma série de diferenças, das quais destacamos: 
(1) A língua de sinais é visual-espacial, e a Língua Portuguesa é oral-auditiva. 
(2) A língua de sinais é baseada nas experiências visuais das comunidades surdas, 
mediante as interações culturais surdas, enquanto a Língua Portuguesa constitui-se 
baseada nos sons. 
(3) A língua de sinais apresenta uma sintaxe espacial, incluindo os chamados 
classificadores. A Língua Portuguesa usa uma sintaxe linear, utilizando a descrição 
para captar o uso de classificadores. 
(4) A língua de sinais utiliza a estrutura tópico-comentário, em que o objeto direto é 
posicionado à frente do sujeito. Por exemplo: “Você vai ao cinema?” Em Libras 
fica: “Cinema você ir?” Ou ainda, “Gato você tem?” Isso também ocorre em 
sentenças afirmativas e negativas, como “Carro eu tenho”. 
(5) A língua de sinais utiliza a estrutura de foco, que significa destacar a parte mais 
importante da conversa, por meio de repetições sistemáticas. Esse processo não é 
comum em Língua Portuguesa. 
(6) A língua de sinais utiliza as referências anafóricas, isto é, sobre quem se está 
falando, mostrando ou indicando pontos específicos no espaço, o que exclui as 
ambiguidades possíveis em Língua Portuguesa, ou seja, os apontamentos utilizados 
na língua de sinais, para indicar um referente, evitam ambiguidades. 
(7) A língua de sinais não tem marcação de gênero, isto é, não há sinais diferentes para 
feminino e masculino. Em Língua Portuguesa, o gênero é marcado a ponto de ser 
redundante, como na frase “A mulher é professora”, na qual o feminino é utilizado 
duas vezes. Por essa razão, na transcrição de um sinal para a Língua Portuguesa, 
adotamos o símbolo @. Por exemplo, ao utilizarmos bonit@, estamos indicando 
tanto “bonito” quanto “bonita” e, também, o plural. 
(8) A língua de sinais atribui um valor gramatical às expressões faciais, as quais não 
são essenciais em Língua Portuguesa. Nesse caso, elas podem ser substituídas pela 
prosódia, que significa a pronúncia correta das palavras, com acentuação ou 
intensidade adequadas. 
(9) Algumas coisas ditas em língua de sinais não precisam do mesmo tipo de 
construção gramatical em Língua Portuguesa. Assim, às vezes, uma grande frase 
em Língua Portuguesa é necessária para representar poucas palavras em Libras e 
vice-versa. 
(10) A escrita da língua de sinais, denominada SignWriting, não é alfabética. 
Além disso, há muitas semelhanças entre as línguas orais e as Línguas de Sinais. Ao 
serem observadas as produções em línguas orais e de sinais, neste caso particular, entre a 
Língua Portuguesa e a Libras, percebe-se uma série de semelhanças, das quais destacamos: 
(1) Arbitrariedade: as línguas orais são, majoritariamente, arbitrárias, pois não se 
depreende a palavra simplesmente por sua representatividade, mas é necessário 
conhecer o seu significado. A iconicidade encontra-se presente nas Línguas de Sinais, 
mais do que nas orais, mas a sua arbitrariedade continua a ser dominante. Embora, nas 
Línguas de Sinais, alguns sinais sejam totalmente icônicos, é impossível, como nas 
línguas orais, depreender o significado da grande maioria dos sinais apenas pela sua 
representação. 
(2) Comunidade: as línguas orais são adquiridas por uma comunidade, como a língua 
materna, cujo desenvolvimento ocorre mediante uma comunidade de origem, passando 
pela família, pela escola e pelas associações. Todas as línguas orais têm variações 
linguísticas e todas as Línguas de Sinais possuem essas mesmas características. 
(3) Sistema linguístico: as línguas orais são sistemas regidos por regras, assim como 
acontece com as Línguas de Sinais. 
(4) Produtividade: as línguas orais possuem as características da produtividade e da 
recursividade, sendo possível que os falantes nativos produzam e compreendam um 
número infinito de enunciados, mesmo que nunca tenham sido produzidos antes. Isso 
também é possível com as línguas de sinais, pois há a criatividade e a produtividade em 
Libras, por exemplo, devido aos seus sinalizadores nativos, parecendo não haver limite 
criativo. 
(5) Aspectos contrastivos: as línguas orais possuem aspectos contrastivos, isto é, as 
unidades fonológicas do sistema de determinada língua se estabelecem por oposições 
contrastivas, ou seja, há pares de palavras em que a substituição de uma unidade 
fonológica (uma letra) por outra altera o significado da palavra (por exemplo: parra e 
barra). Isso também acontece nas Línguas de Sinais, mas, em vez de uma unidade 
fonológica, um pequeno aspecto do sinal é alterado. 
(6) Evolução e renovação: as línguas orais modificam-se, como no caso das palavras que 
caem em desuso e de outras que são adquiridas, a fim de aumentar o vocabulário e 
devido aos casos de mudança de significado das palavras. Esse fato também acontece 
nas Línguas de Sinais, a fim de responder às necessidades que a evolução sociocultural 
impõe. 
(7) Aquisição: a aquisição de qualquer língua oral é natural, desde que haja um ambiente 
propício desde nascença. Na língua de sinais, esse processo ocorre da mesma forma. O 
surdo não tem que exercer esforço para aprender uma língua de sinais ou a necessidade 
de qualquer preparação especial. 
(8) Funções da linguagem: as línguas orais podem ser analisadas de acordo com as suas 
funções, o que também acontece com as Línguas de Sinais. As funções são: referencial, 
emotiva, conotativa, fática, metalinguística e poética. 
(9) Processamento: embora utilizem modalidades de produção e percepção distintas, as 
línguas orais e de sinais são processadas na mesma zona do cérebro. 
Os estudos de Stokoe (1968) mostraram que os sinais não eram apenas imagens, mas 
símbolos abstratos complexos, com uma complexa estrutura interior. O estudioso estabeleceu 
que cada sinal era composto por três parâmetros básicos: a configuração das mãos (CM); o 
movimento das mãos (M) e o ponto de articulação (PA) ou Locação (L), que é o lugar do 
espaço onde as mãos se movem. 
A partir da década de 1970, foram aprofundados os estudos fonológicos sobre a língua 
de sinais Americana (ASL), que resultaram na descrição de um quarto parâmetro:a orientação 
(O). Ademais, é preciso salientar que um parâmetro básico ou primário compõe uma palavra 
(no caso das línguas orais) ou um sinal que, se for alterado, modifica o significado da palavra 
ou do sinal. 
 
Esse contraste de dois itens lexicais com base em um único componente 
recebe, em linguística, o nome de “par mínimo”. Nas línguas orais, por 
exemplo, pata e rata se diferenciam significativamente pela alteração de um 
único fonema: a substituição do /p/ por /r/. No nível lexical, temos em 
LIBRAS pares mínimos como os sinais grátis e amarelo (que se opõem 
quanto à CM), churrascaria e provocar (diferenciados pelo M), ter e 
Alemanha (quanto à L) (GESSER, 2009, p. 15). 
 
As unidades mínimas podem ser produzidas simultaneamente e a variação de uma 
delas pode alterar o significado do sinal. Além disso, elas não têm significado isoladamente e 
um sinal é constituído por mais de uma unidade mínima. Por exemplo, o sinal de “televisão” 
envolve, de modo simultâneo, configuração de mão, ponto de articulação, movimento e 
orientação de mão. 
 
TELEVISÃO 
A orientação das mãos (O) é importantíssima e diferencia o significado em pares 
mínimos que possuem CM, M e PA iguais, como “ajudar” e “ser ajudado”; “eu perguntar” e 
“me perguntar”, “eu responder” e “responder para mim” etc. Além de ser utilizado na flexão 
de verbos, o parâmetro O é usado em marcações negativas, como “querer” e “não querer”; 
“gostar” e “não gostar” etc. 
Ainda, alguns estudiosos consideram como parâmetros da língua de sinais os aspectos 
não manuais, as expressões faciais e corporais que são muito utilizadas pelos surdos para 
produzir informações linguísticas. No caso das Línguas de Sinais, as expressões faciais 
(movimento de cabeça, olhos, boca, sobrancelhas, bochechas) não servem apenas para 
complementar informações, pois são elementos gramaticais que compõem a estrutura da 
língua. 
Quadros e Karnopp (2004) apresentam uma análise linguística da Língua Brasileira de 
Sinais e, de acordo com esse estudo, alguns dos aspectos fonológicos dessa língua estão 
expostos a seguir. 
● As Línguas de Sinais são visual-espaciais (ou espaço-visual), pois a informação 
linguística é recebida pelos olhos e produzida pelas mãos. 
● Os elementos mínimos constituintes da língua de sinais são processados 
simultaneamente, e não linearmente como ocorre na língua oral. 
● Os articuladores primários das Línguas de Sinais são as mãos, que se movimentam no 
espaço em frente ao corpo e articulam sinais em determinadas locações nesse espaço, 
mas os movimentos do corpo e da face também desempenham funções. 
● Um sinal pode ser articulado com uma ou duas mãos. No caso de uma mão, a 
articulação ocorre pela mão dominante. 
● Um mesmo sinal pode ser produzido pela mão esquerda ou direita. 
 
Seção 4 
Línguas de sinais e Libras 
Na seção 2 desta unidade, ao citarmos Gesser (2009), para retomar a discussão sobre a 
Libras ser uma língua, nossa intenção foi salientar o desconhecimento generalizado acerca 
dessa realidade linguística, tanto daqueles que convivem de perto com a surdez quanto da 
sociedade ouvinte em geral. Esse desconhecimento está expresso em textos de Gesser (2009), 
Reily (2004) e Pereira et al. (2011), quando esses autores abordam mitos e crenças sobre as 
línguas de sinais. Aqui, acrescentamos nossas reflexões, sustentadas nesses autores, e 
discutimos tais crenças, mitos ou, simplesmente, dúvidas que ainda pairam sobre a Libras. 
1. Os sinais são gestos? 
Em função de suas características, os sinais podem parecer movimentos aleatórios de 
mãos e corpo, acompanhados por expressões faciais variadas, ou seja, seriam apenas “gestos”. 
De acordo com Pereira et al. (2001, p. 18), essa descrição para sinais seria equivalente a 
descrever uma língua oral como “ruídos” feitos com a boca. Além disso, os gestos são traços 
das línguas orais, acompanham essas línguas e favorecem a comunicação. Os sinais são 
produzidos combinando-se, simultaneamente, a configuração de mãos, o ponto de articulação 
ou localização, o movimento, a orientação das palmas das mãos e os componentes não 
manuais, que são os parâmetros constituintes da língua de sinais, conforme veremos na 
próxima unidade. 
2. A língua de sinais é icônica? 
Grande parte dos sinais é icônica, isto é, os sinais são parecidos com o que 
representam, e isso poderia significar que a língua de sinais não seria arbitrária e resultante de 
convenção, como as línguas orais, nas quais não existe uma relação de semelhança entre a 
palavra e o conceito que ela representa. Apesar disso, não se pode afirmar que a língua de 
sinais seja icônica, pois, embora haja uma relação direta, quase transparente, entre um sinal e 
o conceito que ele representa, as modificações sofridas por eles ao longo do tempo e na 
combinação com outros sinais resultam em perda de iconicidade. Portanto, há a 
arbitrariedade. 
3. A língua de sinais tem gramática? 
Essa questão tem origem no fato de que, antes das pesquisas pioneiras de Stokoe na 
década de 1960, corroboradas por Sacks (1990), a língua de sinais não era vista, nem mesmo 
por seus usuários, como uma língua verdadeira, com gramática própria. Com o 
reconhecimento linguístico efetivado por Stokoe, ficou comprovado que a língua de sinais 
possui tem gramática própria, um conjunto de regras partilhado por todos os seus usuários e 
que permite a expressão de qualquer ideia. No entanto, como a língua de sinais utiliza espaço 
e corpo, destacando as expressões faciais e, muitas vezes, adotando sinais icônicos, muitos a 
consideram mímica. 
Ademais, como a língua de sinais não apresenta preposições, artigos, flexões e tem 
poucas conjunções, é considerada limitada, empobrecida, se comparada à língua oral. Essa 
opinião revela um total desconhecimento, porque, pelo uso do espaço, é possível expressar as 
mesmas relações que, por exemplo, as preposições na língua oral, ou seja, a língua de sinais 
utiliza recursos diferentes para expressar as mesmas ideias e também não tem limites para 
expressar quaisquer conceitos. Assim, como exposto anteriormente, a Libras tem gramática 
própria e se estrutura nos mesmos níveis das línguas orais: fonológico, morfológico, sintático 
e semântico. 
4. A língua de sinais é mímica? 
Para demonstrar que a língua de sinais não é mímica, foram realizadas diversas 
pesquisas em que as pessoas usavam gestos para demonstrar algumas palavras, sem que 
tivessem conhecimento da língua de sinais. A principal constatação foi a utilização de 
mímicas muito mais detalhadas (porque pretendiam representar o objeto) do que os sinais. 
Isso porque “a pantomima quer fazer com que você veja ‘o objeto’, enquanto o sinal quer 
fazer com que você veja o símbolo convencionado para esse objeto” (GESSER, 2009, p. 21). 
5. A língua de sinais é o alfabeto digital? 
Há outra constatação importante: a língua de sinais não é o alfabeto digital, o qual é 
um recurso utilizado pelos surdos sinalizadores para soletrar, manualmente, as palavras 
(soletração e datilologia). Assim, apesar de ter uma importante função na interação entre 
sinalizadores, o alfabeto digital não é uma língua, apenas um código para a representação 
manual das letras alfabéticas. Outro detalhe importante é que a soletração só é possível entre 
interlocutores alfabetizados. Ademais, o alfabeto digital da Libras não é o mesmo utilizado 
pelos surdos-cegos, que precisam pegar na mão do interlocutor para, nela, produzir o sinal. 
6. A língua de sinais é artificial? 
Outro aspecto que abordamos e, para isso, recorremos a Vygotsky, é o fato de que a 
comunicação manual é inerente ao ser humano e já existia entre os hominídeos pré-históricos, 
sendo, portanto, natural, como exposto anteriormente. Dizemos que uma língua é artificial 
quando é construída por um grupo de indivíduos, com um objetivo específico, como o caso do 
Esperanto, língua criada pelo russo Ludwik Zamenhof,em 1887, com o objetivo de 
estabelecer uma comunicação internacional fácil. De maneira semelhante, foi criado o 
Gestuno, com a intenção de ser uma língua de sinais universal, apresentado pela primeira vez 
em 1951 no Congresso Mundial da Federação Mundial dos Surdos, mas que não conseguiu 
aceitação plena entre os surdos por ser inventada. Logo, a língua de sinais não é artificial. 
7. A língua de sinais é universal? 
Com o histórico apresentado na segunda seção desta unidade, já demonstramos que a 
língua de sinais não é universal, pois existe diferença entre as Línguas de Sinais utilizadas 
em países diferentes. No caso do Brasil, a Língua Brasileira de Sinais é denominada Libras e, 
portanto, é brasileira, não podendo ser considerada uma língua estrangeira. 
A Libras é uma língua nativa, de falantes nativos e brasileiros, utilizada em todo 
território nacional ao lado da língua oficial – o português – e ao lado de outras línguas 
também praticadas no país, como as diferentes línguas das comunidades indígenas. Assim, a 
Libras é a língua materna e constitutiva do falante surdo, estruturante do seu inconsciente e 
fundamental para a construção de suas subjetividade e identidade. 
Estudos linguísticos desenvolvidos por pesquisadores brasileiros confirmam que a 
Libras é uma língua que, como qualquer outra, tem sintaxe, semântica, morfologia e 
gramática próprias. Desse modo, não se trata, absolutamente, de um conjunto de gestos, 
mímicas ou de português sinalizado. Já comentamos, mas é importante frisar que as Línguas 
de Sinais, por comprovação científica, cumprem todas as funções de uma língua natural e, 
mesmo assim, ainda sofrem preconceito e são desvalorizadas diante das línguas orais, visto 
que são consideradas uma derivação da gestualidade espontânea, como uma mescla de 
pantomima e sinais icônicos. 
Além das características icônicas, alguns preconceitos a respeito das Línguas de Sinais 
fortalecem a ideia de uma língua de sinais única, ao considerarem que a comunicação por 
gestos é intuitiva e espontânea e, por conseguinte, a língua de sinais deveria ser igual para 
todos os surdos. Ora, primeiro, já demonstramos que gestos e sinais são coisas diferentes. Os 
gestos podem ser associados à mímica e, portanto, uma comunicação intuitiva. Os sinais, por 
sua vez, são símbolos, logo, arbitrários, porém convencionados pelos seus usuários. 
Nesse sentido, existe uma diferença importante entre as Línguas de Sinais e as orais. 
Quando surdos de diferentes nacionalidades se encontram, mesmo um não conhecendo a 
língua de sinais do outro, são capazes de efetuar a comunicação com mais facilidade do que 
os ouvintes. De acordo com Felipe (2009, p. 20), isso se deve “à capacidade que as pessoas 
surdas têm em desenvolver e aproveitar gestos e pantomimas para a comunicação e estarem 
atentas às expressões faciais e corporais das pessoas”. Outra coisa que facilita essa 
comunicação é o fato de essas línguas terem muitos sinais que se assemelham às coisas 
representadas. 
8. As Línguas de Sinais são dependentes das línguas orais? 
Os linguistas que estudaram as Línguas de Sinais de diferentes países concluíram que, 
embora haja semelhanças entre as Línguas de Sinais e as orais – os chamados “universais 
linguísticos” –, que permitem identificá-las como línguas, e não linguagens, como as 
utilizadas pelos animais, elas apresentam diferenças consideráveis entre si, as quais não 
dependem das línguas orais utilizadas nesses países. 
Por exemplo, Brasil e Portugal têm a mesma língua oral oficial, o português, mas as 
Línguas de Sinais desses países são muito diferentes, e isso também acontece com os Estados 
Unidos e a Inglaterra. Desse modo, a língua de sinais não é subordinada à língua oral 
majoritária do país, ou seja, as Línguas de Sinais são, completamente, independentes das 
http://pt.wiktionary.org/wiki/ling%C3%BCistas
línguas orais dos países em que são produzidas. É possível, porém, que países diferentes 
usem a mesma língua de sinais, como é o caso dos Estados Unidos e do Canadá. 
Da mesma forma que acontece com as línguas faladas oralmente, quando algumas 
possuem as mesmas raízes (por exemplo, português, espanhol e italiano), há correspondências 
entre as Línguas de Sinais de diferentes países. A Libras e a ASL representam essa 
explicação, pois são derivadas da LSF. Além disso, nelas, igualmente, existem variações, 
assim como há os regionalismos e os dialetos em línguas orais. Essas variações se devem às 
culturas diferentes e às influências diversas no sistema de ensino, por exemplo. 
Dessa forma, caro(a) aluno(a), você deve se conscientizar de que não é possível falar 
em Libras e em português ao mesmo tempo, pois a Libras é “falada de boca fechada”. As 
pessoas ouvintes, fluentes em Libras, costumam misturar as duas línguas na comunicação 
com surdos e utilizam os sinais, mas com a estrutura da Língua Portuguesa. Normalmente, o 
surdo não compreende essa mistura de línguas, pois a construção de sentido depende da 
estrutura e, portanto, da fidelidade à gramática da língua de sinais. 
9. As Línguas de Sinais são exclusividade dos surdos? 
Como você já sabe, as Línguas de Sinais não são exclusividade dos surdos. Como 
expõe Reily (2004), os ouvintes que apresentam distúrbios de fala deveriam se apropriar da 
língua de sinais. Afinal, em diferentes situações, sempre que existe necessidade, como no caso 
dos monges, dos mergulhadores ou dos índios americanos, o homem cria saídas para permitir 
a interação com o seu semelhante. 
10. O que é um tradutor intérprete de Libras e Língua Portuguesa? 
É a pessoa que, sendo fluente em Língua Brasileira de Sinais e em Língua Portuguesa, 
tem a capacidade de verter, em tempo real (interpretação simultânea) ou com pequeno espaço 
de tempo (interpretação consecutiva), a Libras para o português ou ele para Libras. A 
tradução envolve a modalidade escrita de pelo menos uma das línguas envolvidas no 
processo. 
A função de traduzir/interpretar é singular, haja vista que a atuação desse profissional 
leva-o a interagir com outros sujeitos e a manter relações interpessoais e profissionais, que 
envolvem pessoas com surdez e ouvintes, sem que esteja efetivamente envolvido nelas, pois 
sua função é, unicamente, mediar a comunicação. Assim, ao mediar a comunicação entre 
usuários e não usuários da Libras, o tradutor/intérprete deve observar preceitos éticos no 
http://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADnguas
http://pt.wikipedia.org/wiki/Regionalismo
http://pt.wikipedia.org/wiki/Dialeto
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ensino
desempenho de suas funções, entendendo que não pode interferir na relação estabelecida entre 
a pessoa com surdez e a ouvinte, por exemplo, a menos que seja solicitado. 
 
Seção 5 
Aspectos linguísticos da Libras 
A estrutura gramatical da Libras é organizada a partir de cinco parâmetros que 
estruturam sua formação nos diferentes níveis linguísticos: a configuração da(s) mão(s) – CM, 
movimento – M, ponto de articulação – PA, orientação das mãos – O, e componentes não 
manuais, que são as expressões faciais e corporais. 
A configuração de mão (CM) tem sido coletada pelos pesquisadores em 
comunidades de surdos das principais capitais brasileiras, e se trata do ponto de partida da 
articulação do sinal, pois uma mesma CM possibilita a produção de vários sinais. Por 
exemplo, a CM em “L” está presente nos sinais de “televisão”, “trabalho”, “papel”, 
“educação”, dentre outros. 
Ferreira-Brito (1995) propõe 46 configurações de mão. Atualmente, o dicionário 
digital de Língua Brasileira de Sinais, organizado pela Acessibilidade Brasil (disponível em: 
<www.acessobrasil.org.br/libras>. Acesso em: 24 out. 2018) apresenta 73 configurações. A 
seguir, há as configurações de mão mediante as cinco primeiras que compõem o alfabeto 
digital. 
 
A Libras não se resume a escrever as palavras utilizando o alfabeto digital. A escrita 
datilológica só é utilizadapara nomes próprios ou para palavras que ainda não têm um sinal 
ou que não podem ser facilmente representadas por um classificador icônico. Essa escrita é 
feita em Libras, letra por letra, da mesma forma que na Língua Portuguesa, mas soletrando, 
com a mão, o nome Maria (escrita ou fala); M-a-r-i-a (soletração), por exemplo. 
 
 
É importante soletrar devagar, formando as palavras com nitidez. Entre as palavras 
soletradas, é melhor fazer uma pausa curta ou mover a mão direita para o lado esquerdo, 
como se estivesse empurrando a palavra já soletrada para o lado. Conforme afirma Reily 
(2004), 
os nomes podem ser transmitidos por datilologia, quando o surdo está 
alfabetizado, mas a comunidade surda prefere a prática de atribuir um sinal 
que identifica cada pessoa. Esse sinal adjetiva características físicas da 
pessoa. Por isso, dois meninos chamados Jonatas, por exemplo, podem ter 
sinais diferentes um do outro, porque um tem uma covinha no queixo e o 
outro tem o cabelo encaracolado, também pode acontecer de dois alunos de 
nomes diferentes terem o sinal parecido (REILY, 2004, p. 132). 
 
O movimento (M) é uma importante unidade mínima, pois, além de participar 
ativamente da produção do sinal, atribui graça, beleza e dinamismo a essa língua. Ao usarem 
a língua de sinais, as pessoas ouvintes, normalmente, fazem os sinais de maneira mais 
estática, porque, embora o movimento seja uma parte integrante dessa língua, ele é realizado 
com mais propriedade pelos surdos, que são visuais, mais fluentes em relação aos ouvintes e 
conhecem a língua profundamente. 
Associar aspectos como o movimento e as expressões não manuais à produção do 
sinal não é algo simples para os ouvintes. Essa habilidade exige muita competência e fluência 
na língua, além de boa coordenação motora, domínio do movimento e orientação no espaço. 
Desse modo, para os ouvintes usuários da língua oral-auditiva, o domínio dessas habilidades é 
algo bem complexo. Como exposto, por serem seres visuais, os surdos adquirem essas 
habilidades com muito mais naturalidade e facilidade do que os ouvintes. 
Então, para que haja movimento, é preciso haver espaço, logo, o movimento é 
indissociável do espaço. As variações do movimento servem para diferenciar itens lexicais, 
como nome e verbo, para indicar a direcionalidade do verbo. Por exemplo, o verbo “olhar” e 
“olhar para” indicam a variação em relação ao tempo dos verbos: “olhe para”, “olhe fixo”, 
“observe”, “olhe por um longo tempo”, “olhe várias vezes”. Assim, os movimentos se 
diferenciam pela direcionalidade, pelo tipo, pela maneira (tensão e velocidade) e pela 
frequência do sinal (movimentos simples ou repetidos). 
Quanto à direcionalidade o movimento pode ser: unidirecional (proibir e mandar); 
bidirecional (discutir, julgamento) e multidirecional (incomodar, pesquisar). Em relação ao 
tipo, os movimentos podem ser retilíneos (encontrar, estudar); helicoidal (macarrão, azeite); 
circular (brincar, preocupar), semicircular (surdo, coragem); sinuoso (Brasil, navio) e angular 
(raio, difícil). 
Em relação à maneira, tensão e velocidade, por exemplo, o verbo “olhar”, pode ser 
sinalizado rapidamente, para dizer que a pessoa apenas avistou, ou longamente, significando 
que a pessoa olhou com atenção. No caso da frequência do sinal (movimentos simples ou 
repetidos), isso pode ser verificado na diferença entre o substantivo e o verbo, por exemplo, 
cadeira e sentar. Ademais, um sinal pode ser realizado sem movimento. Observe os 
exemplos. 
 
• Circular 
 
 
• Semicircular 
 
• Helicoidal 
 
• Unidirecional 
 
• Bidirecional 
 
A orientação das mãos (OM) é a direção para a qual a palma da mão aponta na 
produção do sinal. É possível identificar seis tipos de orientações da palma da mão em Libras: 
para cima, para baixo, para o corpo, para frente, para a direita e para a esquerda. Também 
pode ocorrer a mudança de orientação durante a execução de um sinal, por exemplo, no sinal 
para montanha. 
 
MONTANHA 
Além disso, a orientação das mãos é importantíssima e diferencia o significado em 
pares mínimos que possuem CM, M e PA iguais, como ajudar e ser ajudado, eu perguntar 
e me perguntar, eu responder e responder para mim etc. Assim, além de ser utilizado na 
flexão de verbos, o parâmetro OM é empregado na marcação de negativas, como em querer e 
não querer, gostar e não gostar etc. 
a) 
 
 
b) 
 
 
 
c) 
 
 
 
Em relação à expressão facial, como você já sabe, a Libras conta com uma série de 
componentes não manuais, como a expressão facial e o movimento do corpo, que, muitas 
vezes, podem definir ou diferenciar significados entre os sinais. Esses componentes envolvem 
movimento da face, dos olhos, da cabeça e do tronco. A expressão facial e a corporal podem 
traduzir alegria, tristeza, raiva, amor, encantamento etc., atribuindo mais sentido à Libras e, 
em alguns casos, determinando o significado de um sinal. Observe os exemplos: 
 
 
 
Os sinais são executados em Libras dentro de um espaço bem definido, denominado 
espaço de sinalização, que abrange a área delimitada pelos quadris e o topo da cabeça. É a 
manipulação dos sinais no espaço que estabelecem as relações gramaticais em Libras. A 
informação gramatical se apresenta simultaneamente ao sinal e é produzida por mecanismos 
espaciais que envolvem dois aspectos: a incorporação, usada, por exemplo, para expressar 
localização, número, pessoa, e o uso de sinais não manuais, como movimentos do corpo e 
expressões faciais. 
 
EXPRESSÃO FACIAL OU MODULAÇÃO NÃO MANUAIS EM LIBRAS 
 
São as componentes não manuais, particularmente, as expressões faciais que 
estabelecem a modulação em Libras, equivalente à entonação nas línguas orais. A Libras 
também usa modulações de olhar e expressões faciais e corporais para transmitir a intensidade 
do verbo apresentado e sua significação no contexto. Ainda, há as modulações de grau e de 
intensidade, pelas expressões faciais, que podem ser consideradas gramaticais. Essas 
marcações são denominadas “marcações não manuais”. 
A sinalização é sempre acompanhada pela posição da cabeça, por movimentos da 
cabeça, pela postura do corpo e, principalmente, pela expressão facial. Esses componentes 
podem indicar alegria, tristeza, raiva, amor, encantamento, dentre outros sentimentos, dando 
mais sentido à Libras e, como você já sabe, determinando o significado de um sinal. 
 
 
 
Observe os exemplos. 
 
 
 
 
 
 
O olhar também faz parte das expressões faciais, particularmente na apontação. Por 
exemplo, aponta-se para o lado e o olho segue o dedo. Se a apontação é para cima, os olhos 
também se direcionam para cima. Observe: 
 
 
 
Por sua vez, o ponto de Articulação (PA) é a segunda principal unidade mínima e 
refere-se ao lugar do corpo em que será realizado o sinal. Os sinais podem ser produzidos em 
quatro pontos de articulação: tronco, cabeça, mão e espaço neutro e subespaços (nariz, boca, 
olho etc.). 
Muitos sinais envolvem um movimento indo de um ponto de articulação para outro, 
mas, mesmo assim, cada sinal tem apenas um ponto de articulação, mesmo que ocorra um 
movimento de direção. Se dois sinais têm configuração de mão e movimento iguais, mas 
pontos de articulação diferentes, eles são diferentes. Por exemplo, os sinais de “amar”, 
“ouvir”, “aprender” e “laranja” diferem-se entre si apenas pelo ponto de articulação. 
 
 
1 – Cabeça; 2 – Corpo; 3 – Braços e mãos; 4 – Espaço neutro 
 
 
ASPECTOS MORFOLÓGICOS 
 
A Morfologia se refere à maneira como as palavras são formadas em uma língua. 
Nesse sentido, a Libras tem um léxico e recursos que permitem a criação de novos sinais. 
Esses recursos são denominados derivação, composição e incorporação. 
Na derivação, um novo sinal é obtido pelo enriquecimento do radical (raiz) com 
vários movimentos e contornos no espaço. A maneira mais comum de criação de novos sinaisem Libras é realizar mudanças no movimento, para derivar verbos de substantivos e vice-
versa. 
 
 
Outra forma bastante usual de criar novos sinais é a composição, em que, como o 
próprio nome indica, dois ou mais sinais se combinam para criar um novo sinal. Observe os 
exemplos a seguir. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Da mesma forma que nas línguas orais, em que uma palavra é polissêmica, isto é, 
admite diferentes significados, existem sinais em Libras que também admitem diferentes 
significados. Portanto, o contexto em que esses sinais são usados estabelece as diferenças. 
Observe os seguintes exemplos: 
 
 
 
Apesar de a Libras ser independente da Língua Portuguesa, alguns sinais são 
originários das iniciais da representação escrita de seus significados, demonstrando que, da 
mesma forma que nas línguas orais, em que uma língua influencia a criação de novas palavras 
(exemplo: deletar), a Libras é influenciada pela Língua Portuguesa. 
 
 
 
TIPOS DE FRASES EM LIBRAS 
 
As sobrancelhas e o rosto são neutros. 
 
 
 
A negativa pode ser feita de duas maneiras: com as sobrancelhas franzidas e a cabeça 
sendo balançada para os lados, como na Figura 1, ou com a cabeça parada, com as 
sobrancelhas franzidas e o dedo sendo balançado, representando “não”, como na Figura 2. 
 
 
As sobrancelhas levantadas e a boca um pouco aberta. 
 
 
1) Sobrancelhas franzidas levemente, não como na frase imperativa, apenas de maneira 
séria. Por exemplo, em uma reunião, uma audiência ou entrevista, há algumas 
perguntas que combinam com essa face, por exemplo, “Sabe escrever um livro?”; “Em 
qual banco você sacou dinheiro?”; “Quer casar com minha filha e vai cuidar bem 
dela?”; “Vai trabalhar amanhã?”; “Vai vir comigo para casa agora?”; “Você assume a 
responsabilidade de seu trabalho?”. 
2) Cabeça levantada levemente, sobrancelhas arqueadas e boca um pouco aberta, para 
expressar o pronome interrogativo “quem”: “Quem é?”; “Quem vem?”; “Bolsa de 
quem?”; “Carro de quem?”. 
3) Sobrancelhas franzidas e curvadas com a boca em forma “semicircular”, para 
expressar a pergunta “cadê”: “Cadê a bola?”. 
4) Boca em “U” e as sobrancelhas neutras expressam “o que”, referindo-se a questões do 
tipo: “O que tem aí?”; “O que vai fazer?”; “O que tem dentro?”. 
5) Sobrancelhas levantadas e boca fechada, para perguntar “quer?” e fazer perguntas que 
questionam, por exemplo, o desejo de outra pessoa, e podem ser utilizadas em 
conversas cotidianas. Por exemplo, “Gosta de comer morango?”; “Vai viajar hoje?”; 
“Você é casad@?”; “Quer refrigerante?”; “Quer bolacha?”; “Você sabe cozinhar?”; 
“Você consegue dirigir um carro grande?”. 
6) Sobrancelhas franzidas e boca fechada expressam perguntas referentes a identidade 
pessoal, saudações cotidianas, locais, por meio de palavras como “onde”, “por que”, 
“para que”, “nome”, “idade” e “sinal”. Por exemplo, “Onde fica o Correio?”. Também 
é possível uma combinação das expressões em frases interrogativas e exclamativas, 
como em “Para que muita roupa (risos)?”. 
Assim, o importante é utilizar a expressão adequada a cada pergunta no contexto das 
conversas cotidianas. 
 
 
As sobrancelhas franzidas e o rosto representando “brava”. 
 
TIPOS DE NEGAÇÃO 
Há três tipos de negação: somente acrescentando um sinal para “não”; incorporando a 
negação e utilizando sinais diferentes. Por exemplo, “não + conhecer”: é preciso sinalizar 
“conhecer”, com a cabeça balançando, o que demonstra “não”. 
Nas fotos a seguir, observe que o sinal para a negação é diferente do sinal afirmativo, 
pois já está incorporando a negação. É válido, salientar, porém, que são poucos os sinais em 
que a negação está incorporada. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FLEXÃO DE GÊNERO 
A flexão de gênero, quando necessária, é marcada pelo sinal de masculino ou 
feminino antecedendo o substantivo. Já explicamos sobre a morfologia e os sinais compostos 
ou a composição de sinais, então, quando se faz a transcrição da Libras para a Língua 
Portuguesa, o símbolo @ significa que não há marcação de gênero, por isso, precisamos 
acrescentar primeiro o gênero, depois o sinal, por exemplo, “tio = homem^C na testa”. No 
caso de animais, também é preciso acrescentar a flexão de gênero, por exemplo, “égua = 
mulher^cavalo”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GRAU OU ADVÉRBIO DE INTENSIDADE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TIPO DE VERBOS 
Em Libras, os verbos classificam-se em simples, ou sem concordância, direcional, ou 
com concordância, e espacial. 
Os verbos simples ou sem concordância não se flexionam em pessoa e número e não 
incorporam afixos locativos, mas alguns apresentam flexão de aspecto. Todos os verbos 
ancorados no corpo são simples, porém há alguns que são feitos no espaço neutro. Exemplos 
dessa categoria são “precisar”, “pensar”, “conhecer”, “casar”, “aprender”, “saber”, “inventar” 
e “gostar” (UFSC, 2008, on-line). 
 
 
 
 
 
Os verbos com concordância ou direcionais se flexionam em pessoa, número e 
aspecto, mas não incorporam afixos locativos. Exemplos dessa categoria são “dar”, “enviar”, 
“responder”, “perguntar”, “dizer” e “provocar”, que são subdivididos em concordância pura e 
reversa (backwards). Os verbos com concordância apresentam direcionalidade e orientação. A 
primeira está associada às relações semânticas (source/goal). A segunda, a orientação da mão 
voltada para o objeto da sentença, está associada à sintaxe (UFSC, 2008, on-line). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O verbo espacial tem as mesmas características que os verbos com concordância. São 
sinais de movimentos direcionais, flexionam-se em pessoa e, além dos objetos, incorporam 
advérbios de lugar como afixos (afixos locativos). Veja os exemplos a seguir. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CLASSIFICADORES 
Ainda no que se refere às categorias ou estruturas gramaticais da Libras, há os 
classificadores, os quais são auxiliares da língua de sinais, para determinar as especificidades 
e “dar vida” a uma ideia ou a um conceito ou signos visuais. Isso significa que o classificador 
representa a forma e o tamanho dos referentes, assim como características dos movimentos 
dos seres em um evento, tendo, pois, a função de descrever o referente dos nomes, adjetivos, 
advérbios de modo, verbos e locativos. 
A denominação dos classificadores (CLs) como “auxiliares”, importantíssimos para as 
Línguas de Sinais, foi atribuída pela comunidade de linguistas, para fazer a comparação com 
as funções da língua falada ou oral e suas estruturas gramaticais. Para os pesquisadores 
surdos, essa estrutura gramatical da Libras ainda está à procura de uma definição adequada 
para nomeá-la, de acordo com as perspectivas viso-espaciais. Para as Línguas de Sinais, a 
descrição e a reprodução da forma, do movimento e da relação espacial do que se quer 
enunciar são fundamentais, pois tornam mais claro e compreensível o significado do que está 
sendo exposto. Essa é a principal função dos classificadores. 
Em Libras, esses classificadores são formas representadas por configurações de mão, 
que podem aparecer junto de verbos de movimento e de localização, para classificar o sujeito 
ou o objeto que está ligado à ação do verbo. Além de, como já exposto, tornarem mais 
compreensível o significado do enunciado, os classificadores desempenham uma função 
descritiva e podem detalhar som, tamanho, textura, paladar, tato, cheiro, formas em geral de 
objetos inanimados e seres animados etc. 
Muitos classificadores são icônicos em seu significado, devido à semelhança entre a 
sua forma ou ao tamanho do objeto referido. Como os classificadores obedecem a regras de 
construção e são representados sempre por configurações de mãos específicas associadas a 
expressões faciais, corporais e à localização, ou seja, aos parâmetros da Libras, apesar de 
serem icônicos, não podem ser considerados mímica, como jáexposto anteriormente. A 
seguir, há mais alguns exemplos. Observe-os. 
 
Logomarca: 
 
Corpo: 
 
 
Plural: 
 
Instrumental: 
 
Elemento: 
 
Específico: 
 
Descritivo: 
 
 
 
 
Classificador de sintaxe: o classificador descreve uma ação e o verbo “incorpora” o 
sujeito ou o objeto. Por exemplo, “gato X cachorro, morder”. O sinal para o verbo é igual, 
mas é preciso sinalizar qual é o animal que está mordendo. Isso também acontece com os 
verbos “andar” e “correr”. Observe os exemplos a seguir. 
 
 
 
 
 
 
 
No caso de “elefante andando e de porco andando”, por exemplo, por meio dos sinais, 
é possível perceber que há diferença entre os dois animais. 
 
 
Porco andando 
 
Em relação ao verbo “beber”, é necessário incorporar o objeto utilizado, como no 
exemplo a seguir. 
No caso de “andar”, incorpora-se a quantidade de pessoas que estão andando. 
 
Quanto a “escovar”, “pente”, “escova para roupa”, “escovar dentes”, os sinais são 
diferentes. Observe os exemplos a seguir. 
 
A seguir, a mais dois exemplos. 
 
Comer: 
 
Lavar: 
 
Esses sinais são muito parecidos com o que estão representando, mas não são 
mímicas, porque há configuração de mãos, movimento, orientação, ponto de articulação e 
expressões não manuais. Assim, o classificador é uma representação da Libras que mostra 
detalhes específicos, permitindo a descrição de pessoas, animais e objetos, bem como a 
movimentação ou a localização. Os classificadores são muito importantes, pois ajudam a 
construir a estrutura sintática da Libras. 
 
MARCAÇÃO DE TEMPO VERBAL 
 
Os tempos verbais em Libras se resumem em presente, passado e futuro. Caso seja 
utilizado o tempo presente, ele pode ser enfatizado pelos sinais de “agora” ou “já”, seguidos 
do sinal do verbo desejado. Caso seja o tempo passado, utilizam-se os sinais de “ontem” ou 
“muito tempo atrás”, e o sinal do verbo. Por fim, caso seja o tempo “futuro”, sinaliza-se 
“amanhã” ou um “futuro mais distante”, em seguida, o sinal do verbo. A ordem pode ser 
invertida em qualquer um dos casos, sinalizando-se, primeiro, o verbo e, depois, o advérbio de 
tempo. 
Além disso, a Língua Portuguesa possui derivações e a própria morfologia para deixar 
claro o tempo verbal e o pronome pessoal que está sendo utilizado. Em Libras, entretanto, 
precisamos de um sinal específico para o tempo verbal, outro para o pronome pessoal e outro 
para o verbo. Por exemplo: 
Entender: 
1- Eu 
Entendi = passado. 
Entendo = presente. 
Entenderei = futuro. 
2- Nós 
Entendíamos = passado. 
Entendemos = presente. 
Entenderemos = futuro. 
 
Em Libras fica assim: 
1- Nós 
Nós entender já. 
Nós entender sim. 
Nós ir entender. 
2- Eu 
Eu entender antes. 
Eu ainda entender. 
Eu futuro entender. 
 
Então, precisamos sinalizar duas palavras ou mais, pois é impossível sinalizar apenas 
o verbo com a derivação, como em Língua Portuguesa. Observe outros exemplos: 
Mamãe comprar mercado já ontem. 
Mamãe comprar mercado amanhã. 
Mamãe comprar vivo mercado. 
 
O sinal de “vivo”, ou “vida”, acompanhando o sinal de um verbo, indica o gerúndio. 
Desse modo, “Mamãe comprar vivo mercado” significa “Mamãe está comprando no 
mercado”. 
 
Sinais para passado: 
 
 
 
 
Sinais do tempo presente: 
 
Sinais para futuro: 
 
 
 
 
 
 
 
ASPECTOS SINTÁTICOS 
 
A sintaxe da Libras não pode ser estudada tendo como base a da Língua Portuguesa, 
porque tem gramática diferenciada, independente da língua oral. A ordem dos sinais na 
construção de um enunciado obedece a regras próprias, que refletem a forma de o surdo 
processar suas ideias, com base em sua percepção visual-espacial da realidade. 
Em relação à ordem da frase em Libras, embora a construção SVO (sujeito – verbo – 
objeto) seja predominante, de acordo com Quadros e Karnopp (2004), a ordem “tópico 
comentário” ou OSV parece ser a mais comum, principalmente entre os surdos menos 
oralizados. Também é possível encontrar construções como SOV e OSV. 
Os advérbios temporais e de frequência não podem interromper uma relação entre o 
verbo e o objeto, sendo que os temporais podem aparecer antes ou depois da oração. Por 
exemplo, “João comprar carro amanhã” ou “Amanhã João comprar carro”. Os advérbios de 
frequência, por sua vez, podem aparecer antes ou depois do complemento, como em “Eu bebo 
leite algumas vezes” ou “Eu, algumas vezes, bebo leite”. Assim, encerramos nosso estudo a 
respeito dos aspectos linguísticos da Libras. 
 
#Saiba mais# 
O reconhecimento da potencialidade da Libras para exprimir conhecimentos das mais variadas 
naturezas tem se consolidado de tal forma que já existe uma revista científica virtual em Libras. Esse 
tipo de publicação tem a dupla função de garantir a autoria de textos científicos produzidos por surdos, 
que, para serem apresentados na forma escrita, precisam de revisão de ouvintes, e de contribuir com a 
constituição de um corpus de conhecimento em Libras, acessível aos surdos. Para conhecer algumas 
produções em formato de videorregistro, acesse o site da Universidade Federal de Santa Catarina, 
disponível em: <http://revistabrasileiravrlibras.paginas.ufsc.br/>. Acesso em: 24 out. 2018. 
#Saiba mais# 
 
DICAS DE LEITURA 
Para complementar seus estudos sobre o tema, indicamos 
livros como “Que palavra que te falta? Linguística, educação e 
surdez”, de Regina Maria de Souza, publicado em 1998, pela 
editora Martins Fontes, de São Paulo. Embora não seja um livro 
sobre a história da educação dos surdos, esse livro é 
imprescindível para a compreensão do papel da língua de sinais na 
constituição do surdo como sujeito, permitindo avaliar melhor a 
“tragédia” que significou para os surdos a proibição do uso dessa 
http://revistabrasileiravrlibras.paginas.ufsc.br/
língua e o que significa esse resgate que vivenciamos atualmente. O livro apresenta, ainda, no 
Capítulo V, um resgate histórico a respeito das pesquisas sobre Línguas de Sinais. 
O segundo livro que podemos indicar é “Libras: conhecimento além dos sinais”, de 
Maria Cristina da Cunha Pereira, Daniel Choi, Maria Inês da S. Vieira, Priscilla Roberta 
Gaspar e Ricardo Nakasato. Esse material foi publicado pela editora Pearson, de São Paulo, 
em 2011. 
Dentre esses autores, duas são ouvintes. Maria Cristina é professora 
titular da PUC/SP, doutora em Linguística. Por sua vez, Maria Inês é 
mestre em Educação, na área de distúrbios da comunicação, e 
tradutora-intérprete de nível superior em LIBRAS, certificada pelo 
PROLIBRAS. Os demais autores são surdos, professores de Libras, 
com graduação em Letras/Libras pela UFSC. O livro, composto por 
poucas páginas e com um texto fluente e agradável, deveria ser 
leitura obrigatória para todos aqueles que pretendem se aproximar 
do mundo dos surdos. Enfatizando aspectos fonológicos, morfológicos e sintáticos da Libras, 
o livro apresenta, ainda, a síntese histórica da educação de surdos e as discussões sobre 
cultura e identidades surdas, além de tecer comentários sobre legislação e proposta inclusiva. 
 
REFLITA 
“Ainda hoje, muitos ouvintes tentam diminuir os surdos para que vivam isolados e 
tendo de assumir a cultura ouvinte, como se esta fosse uma cultura única; ser “normal” para a 
sociedade significa ouvir e falar oralmente. Os ouvintes não prestam atenção aos surdos que 
se comunicam por meio da Libras. Consequentemente, não acreditam que os surdos sejam 
capazes de estudar em faculdade ou realizar mestrado e doutorado, por exemplo. Os sujeitos 
ouvintes veem os sujeitos surdos com curiosidade e, às vezes, zombam por eles serem 
diferentes” (STROBEL, 2008, p. 22). E você? O que pensa a respeito dos surdos? 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
O caminho que trilhamos nesta unidade começou com a contextualização do tema. 
Desse modo, discutimos as relações entre pensamento e linguagem, ressaltando que o 
importante para o ser humano não a língua que

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