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LIVRO DOS 10 TEMAS - ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL

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Moral e ética: dimensões intelectuais e afetivas 49
por diante. Isso se verifica também com crianças: aquela que patina na sua
evolução como aluno, às vezes desenvolve-se claramente em outras atividades,
que lhe dão satisfação e lhes permitem atribuir-se valor. É portanto bastante
difícil avaliar se uma pessoa está, ou não, acomodada na sua mesmice sem
conhecer todo o leque de suas atividades e dos juízos que faz de si, como ela
“negocia” com o seu “ideal do Ego”.22
Para finalizar minha defesa da importância da “expansão de si próprio”
para o plano ético, quero lembrar que a tese da necessária e possível
perfectibilidade do homem encontra-se em variados sistemas éticos. Lembre-
mos de Aristóteles, para quem a felicidade depende da auto-elevação por in-
termédio do cultivo das virtudes. Lembremos de Spinoza, para quem a maior
alegria é passar de uma perfeição mínima para outra maior. Lembremos de
Smith, para quem o merecimento é condição necessária à felicidade. Lembre-
mos de Nietzsche, que elege a “vontade de potência” como fonte motivacional
por excelência das ações humanas, e para quem o prazer equivale à sensação
de acréscimo dessa potência. Pode-se ver nesses autores, e em outros, como
diferentes representantes da corrente ética chamada “perfeccionismo”, que vê
na “expansão de si” fenômeno crucial da natureza humana.
Mas cuidado! As diversas formas de perfeccionismo ético não se limitam a
apresentar uma tese psicológica sobre as motivações e potencialidade humanas:
elas visam a também fundar uma moral. São teorias do Bem ou do Bom. Ora, a
tarefa que nos espera agora é justamente a de articular os planos moral e ético.
RELAÇÕES ENTRE OS PLANOS MORAL E ÉTICO
Lembremos que a questão que nos levou a dar definições diferentes para
“moral” e para ”ética” era a dos papéis da inteligência e da afetividade na
moralidade. Havíamos visto, por intermédio da análise de algumas teorias de
psicologia moral, que parecia haver uma relação entre o fato de enfatizar à
dimensão racional ou à dimensão energética e a definição assumida do que
seja a moral. Por esse motivo, debruçamo-nos também sobre definições para
poder apresentar uma tese diferente das estudadas anteriormente a respeito
da fonte motivadora da ação moral. É chegado o momento de explicitá-la.
Comecemos por relembrar nossas definições de moral e ética e as dimen-
sões psicológicas a elas relacionadas.
Chamamos de moral os sistemas de regras e princípios que respondem à
pergunta “como devo agir?”. Como todos os sistemas morais pressupõem, por
parte do indivíduo que os legitima, a experiência subjetiva de um “sentimento
de obrigatoriedade”, identificamos esse sentimento como o invariante psicoló-
gico do plano moral.
Reservamos o conceito de ética para as repostas à pergunta “que vida eu
quero viver?”, portanto, à questão da felicidade ou “vida boa”. E identificamos
na “expansão de si próprio”, a motivação psicológica a ser necessariamente
50 Yves de La Taille
contemplada, para que um indivíduo experimente o sentimento perene de bem-
estar subjetivo.
Em resumo, “sentimento de obrigatoriedade” e “expansão de si próprio”,
eis os dois processos psicológicos apontados como centrais para a moral e a
ética, respectivamente. A articulação entre os planos moral e ético passa, por
conseguinte, pela articulação desses dois processos psicológicos.
Vamos então à busca dessa articulação, começando por lembrar que a
questão das possíveis relações entre “deveres” e “felicidade” geraram e geram
polêmicas filosoficamente não-superadas até hoje. Pode-se pensar, por exem-
plo, que não há, de maneira alguma, como derivar uma moral das variadas
opções que podem ser associadas ao plano ético. Era essa a posição de Kant,
para quem a felicidade era apenas um “título geral” para as determinações
subjetivas, e que destas nunca seria possível deduzir deveres, nem quanto a
seus conteúdos, nem quanto a seu caráter de obrigatoriedade. Mas pode-se
também pensar que moral e ética têm elementos comuns, pois alguns deveres
morais apresentam conteúdos relacionados à felicidade, não de quem os se-
gue, mas de outrem: não há dúvidas, por exemplo, de que o desrespeito fere a
pessoa desrespeitada, traz-lhe, portanto, mal-estar, e que o dever moral de
respeitar a outrem parece ser inspirado pelo valor atribuído a um item da
felicidade. É verdade que nem todos os deveres apresentam essa possível rela-
ção com a felicidade. Bons exemplos disso são aqueles da chamada moral se-
xual: não se vê, de fato, em que “casar virgem” ou “fazer amor apenas para
procriar” equivaleriam a um ganho de felicidade – trata-se de pura obediência
a regras instituídas por certas instituições religiosas. Mas não há dúvidas de
que para alguns deveres, a felicidade alheia, ou pelo menos a ausência de
infelicidade, está em jogo. Pode-se então dizer, com Comte-Sponville (Comte-
Sponville e Ferry, 1998), que a moral está dentro da ética? Seu argumento é
que decidir “como viver” consiste também escolher que lugar alocar para os
deveres. Paul Ricoeur (1990) vai no mesmo sentido: fala em primazia da ética
sobre a moral, e refere-se ao fato de ser a reflexão ética aquela que nos permite
sair de impasses morais (por exemplo, como decidir entre ficar ao lado da mãe
doente e ir à guerra defender seu país – as duas soluções aparecem como
moralmente dignas e seria preciso ir além das normas para tomar a decisão).
Mas alguém poderá retrucar que projeto de felicidade somente merece ser
chamado de ético se condizente com a moral. É o que Kant chamava de mere-
cimento da felicidade. Nesse sentido, a moral seria exterior à ética e limitaria o
leque de opções do que viria a ser uma “vida boa”. Tal limitação seria essen-
cialmente referência a outrem: felicidade pessoal sim, mas com a condição de
contemplar, de uma forma ou de outra, a felicidade alheia. Mas, como não se
vê claramente porque a felicidade pessoal implicaria a felicidade alheia ou
dela dependeria, esse respeito pela qualidade da vida dos outros indivíduos, a
moral, portanto, corresponderia a um imperativo cuja fonte seria estranha ao
plano ético.23
Moral e ética: dimensões intelectuais e afetivas 51
Eu poderia alongar essa discussão filosófica, mas decido não fazê-lo. Nela,
freqüentemente forma e conteúdo misturam-se, como confundem-se o “ser” e
o “dever ser”, conforme o que bem havia notado Hume (1757/1990, 1740/
1993). Pretendo permanecer tanto no campo da forma (os planos moral e
ético) quanto no campo da psicologia.
Do ponto de vista psicológico, defendo a tese de que para compreender os
comportamentos morais dos indivíduos, precisamos conhecer a perspectiva ética
que adotam. Nesse sentido, assumo, com Comte-Sponville e Ricoeur, que o
plano ético engloba o plano moral. Porém, minha argumentação é exclusiva-
mente psicológica. Vamos a ela.
Nossa tarefa é, como dito anteriormente, pensar a relação entre o senti-
mento moral de obrigatoriedade e a motivação ética de “expansão de si pró-
prio”. A tese acima apresentada, segundo a qual a compreensão dos comporta-
mentos morais dos indivíduos passa pelo conhecimento da perspectiva ética
que estes adotam, implica afirmar que a existência e a força do sentimento de
obrigatoriedade moral está, de uma forma ou de outra, na dependência dos ru-
mos que toma a expansão de si próprio. Dito de outra maneira, somente sente-
se obrigado a seguir determinados deveres quem os concebe como expressão
de valor do próprio eu, como tradução de sua auto-afirmação. Em suma, iden-
tificamos na “expansão de si próprio” e no valor decorrente atribuído ao eu a
fonte energética das ações significativas em geral, e das ações morais em parti-
cular. Em poucas palavras, identificamos no plano ético as motivações que
explicam as ações no plano moral. Se tal hipótese for correta, não terá sido vã
a tarefa de dar definições diferenciadas para a ética e para a moral.
Vamos agora aprofundar a questão, lembrando já um problema clássico
da moral: a referência ao eu para explicar ações dedicadas a outrem. Com
efeito, se assumirmosque quem age moralmente o faz porque interpreta tal
ação como coerente com uma busca de atribuição de valor a si próprio, não
estaremos assim aceitando o fato de as ações morais serem “interessadas”?
Ora, a moral não é justamente o campo das ações desinteressadas? do sacrifí-
cio de si? da abnegação de si, até mesmo da própria vida? Não há dúvidas que
a moral freqüentemente implica abandonar o próprios interesses, mas nem por
isso ela é “desinteressada”. Devemos, portanto, começar pensando um pouco
mais sobre essa noção de “interesse”.
Como o disse Piaget, em seu curso da Sorbonne (1954), há dois sentidos
usuais para a palavra “interesse”. Um primeiro tem como adjetivo associado o
conceito de “interessante” e diz respeito a todas as motivações humanas. Afir-
mar que somente há ação se houver algum interesse significa dizer que somen-
te há ação se uma força energética a desencadeia. Esse sentido da palavra
“interesse” não é em nada estranho à moral: o interesse pode ser o bem-estar
alheio, por exemplo. O segundo sentido de “interesse” tem como adjetivo asso-
ciado a palavra “interesseiro”, o que denota uma posição egoísta. Assim, o
“interessado”, nesse segundo sentido, pode ajudar pessoas em vista de recom-
52 Yves de La Taille
pensas variadas (dinheiro, boa reputação, etc.), e, é claro, na ausência de tal
perspectiva não ajudaria ninguém. Do ponto de vista da moral, esse sentido
egoísta de interesse costuma ser descartado, pois significa a negação radical
do altruísmo.24
Isto posto, devemos perguntar-nos a que sentido de “interesse” pode
corresponder a busca da expansão de si próprio. Certamente ao primeiro, pois
ele é sinônimo de motivação. Todo o problema reside em situá-lo perante o
segundo sentido, o de egoísmo. Ora, a expansão de si próprio não implica
postura egoísta. E nem, aliás, implica postura altruísta. Tudo dependerá dos
valores associados à referida expansão. Porém, para melhor explicitar a tese de
que a expansão de si próprio não equivale a assumir uma postura egoísta,
talvez seja revelador lembrar rapidamente o debate em torno do chamado
“amor próprio”, execrado por uns, considerado incontornável por outros, e
valorizado por alguns.
É de Pascal (1670/1972) a famosa expressão segundo a qual “o eu é odio-
so”. É também dele o juízo de que a grandeza do homem residiria em reconhe-
cer-se miserável. Adepto da rigorosa corrente cristã, o Jansenismo, Pascal faz
eco à idéia de que o homem deve adorar a Deus acima de todas as coisas, inclu-
sive de si mesmo, e que, portanto, o amor próprio que não for o amar a Deus
dentro de si, como expressava-se Santo Agostinho, é moralmente condenável e
também causa de grandes tristezas. Em outros trechos de suas Pensées, ele vitu-
pera a busca da glória, que interpreta como irremediável heteronomia. Reconhe-
ce-se na avaliação do filósofo francês uma certa interpretação do que seja a
virtude da humildade: considerar a si próprio como ser fundamentalmente in-
digno, marcado pelo pecado original, quer dizer, antes pecador do que santo,
antes objeto da fúria do Senhor do que merecedor de sua clemência. Tais avalia-
ções têm, sem dúvida, o mérito de apontar os perigos éticos e morais do amor-
próprio: a hipertrofia do eu pode levar à vaidade, à superficialidade, à fatuidade,
ao egoísmo e demais vícios que traduzem não um eu digno de amor, mas, pelo
contrário, um eu desprovido de qualidades amáveis. Porém, para além desses
riscos de desvario narcísico, pode-se contestar a tese pascaliana.
Uma forma de fazê-lo é reconhecer a presença inevitável do amor próprio
nas ações humanas. Trata-se de uma tese psicológica que os estóicos já tinham
concebido ao perceber que, em todo desejo de algo, há sempre a “deleição de
si mesmo”, para empregar uma expressão trazida por Ricoeur (1988). Se isso
for verdade, não há como eliminar o amor próprio: deve-se, portanto, trabalhá-
lo para que não leve à imoralidade. No campo da psicologia, a aceitação de
inevitáveis investimentos narcísicos costuma ser aceita e a maioria dos psicólo-
gos certamente concorda com o poeta Paul Valéry (1941), quando este diz que
a vaidade é a mãe mesquinha de grandes obras.
Mas pode-se ir além do reconhecimento da presença incontornável do
amor-próprio, e dar-lhe um valor moral e ético. Tal é evidentemente a posição
de Nietzsche (1995), para quem o homem é movido pela vontade de potência
e que essa, longe de ser um mal, é o princípio criador da vida. Rousseau (1762/
Moral e ética: dimensões intelectuais e afetivas 53
1996) condena o amor-próprio por razões parecidas com as de Pascal, mas
valoriza o “amor de si”, pois, por intermédio dele, amamos a humanidade que
está em nós, amor esse sem o qual não haveria moral possível. Kant aproxima-
se de Rousseau ao eleger o “aperfeiçoar a si próprio” como um dos dois deveres
maiores do homem (ou outro é cuidar da felicidade de outrem). Por que essa
busca de perfeição? Para que o homem se torne digno da humanidade que o
habita. Portanto, um trabalho sobre o próprio ser é visto como condição neces-
sária ao agir moral. Mais perto de nós, Schlich (2000) vê no cumprimento dos
deveres morais um “desabrochar de si mesmo”, tese à qual adere Savater (2000)
que chega a intitular um livro seu de “Ética como amor próprio”. Em resumo,
esses autores, e outros, não pensam o “amor de si”, ou a referência às qualida-
des do eu, como pedra inevitável no caminho da moralidade, mas sim como
condição necessária ao advento dessa última. Coloco-me entre eles.
Porém, cuidado! Nem eles nem eu consideramos o amor-próprio suficien-
te, por si só, para garantir a moral. Rousseau o deixa claro ao diferenciar amor-
próprio de amor de si. O eu pode ser, de fato, odioso, moralmente falando, e a
expansão de si, para retomarmos o conceito aqui empregado, pode levar tanto
à moral quanto ao seu contrário.
Para compreendê-lo, devemos avançar na análise psicológica do que seja
esse eu e sua relação com o querer.
Comecemos por sublinhar que o sentimento de obrigatoriedade corresponde
a um “querer”. Portanto, age moralmente quem assim o quer. Vale a pena nos
demorarmos um pouco sobre essa afirmação, pois não raro “dever” e “querer”
são erroneamente pensados como opostos.
Como, por exemplo, interpretar uma sentença como a que segue: “eu
queria ir ao cinema, mas não pude, porque eu devia cumprir minha promessa
de lavar o carro de meu pai”? Tal frase expressa a vontade frustrada de ir ao
cinema, frustração essa decorrente de um dever de cumprir uma promessa.
Aparentemente, o dever contraria o querer, mas aparentemente apenas porque
o sujeito da oração poderia muito bem trair sua promessa, não querer cumpri-
la. Ora, ele quis honrar sua palavra. Se o querer ir ao cinema tivesse sido
contrariado por alguma força externa à vontade do sujeito, o quadro seria
diferente. Imaginemos que ele tenha sido impedido de ir assistir a um filme
seja por estar sem dinheiro para a pagar a entrada, seja por ter ficado parado
em um congestionamento: nesses casos, o não poder ir ao cinema explica-se
por alguma coação que independe da vontade. Porém, se ele deixa de realizar
seu programa desejável porque ele mesmo se coage a cumprir o seu dever, não
podemos atribuir a razão de sua ação a outra coisa senão ao seu querer. Nesse
caso, trata-se de “quereres” conflitantes, mas se ele optou por cumprir a pro-
messa, é porque esse querer foi mais forte que o querer ir ao cinema. É por essa
razão que Tugendhat (1998) e Spaemann (1999) insistem no fato de o dever
ser sempre um querer.
Se insistem sobre esse ponto, é porque o dever coloca a questão da restri-
ção da liberdade, enquanto o querer costuma ser a associado à não-restrição
54 Yves de La Taille
da liberdade: ser livre é fazer o que se quer. Daí a tentação de se opor dever a
querer. Porém, é novamente preciso atentar para uma possível confusão na
identificação do lugar da liberdade, na moral. É, por um lado, totalmente cor-
reto afirmar que a moral restringe a liberdade de ação. Com efeito, se aceito o
mandamento “não matar”, deixo deter a liberdade de tirar a vida de uma
pessoa, mesmo que eu seja momentaneamente acometido do desejo de fazê-
lo. Se legitimo a regra que diz ser um dever ajudar as pessoas necessitadas,
abdico da liberdade de ir passear tranqüilamente no bosque, se alguém preci-
sar de minha ajuda. E isso vale para todas as regras morais: ao dizerem o que
se deve fazer, elas limitam o campo das ações possíveis, portanto, limitam a
liberdade. Porém, como já vimos, somente age moralmente quem se sente inti-
mamente obrigado a tal, e não quem é coagido por algum poder exterior. Logo,
o sujeito moral é, por definição, livre, porque é ele mesmo quem decide agir
por dever. Dito de outra forma, somente é moral quem assim o quer. Aliás, se
assim não o fosse, a noção de responsabilidade não teria sentido. Alguém po-
derá dizer aqui que somos totalmente determinados por forças inconscientes e
que, portanto, nossos supostos “quereres” não passam de expressões de dese-
jos que nos guiam à revelia nossa. Talvez, mas se aceitamos essa hipótese (ou
aquela, na prática semelhante, que consiste em nos conceber como máquinas
neuronais, cujos mecanismos físico-químicos nos determinam por inteiro), de-
vemos ter a coragem de dizer que a responsabilidade moral não existe, como,
aliás, nenhuma outra forma de responsabilidade. Os seres humanos e os ani-
mais assim se equivaleriam. Todavia, como essa hipótese radical não somente
não é convincente e como, sobretudo, implica redesenhar totalmente nosso
universo moral, ético e político, podemos deixá-la de lado e afirmar que o
sentimento de obrigatoriedade corresponde a um querer conscientemente con-
cebido e livre. A oposição entre querer e dever não se sustenta, portanto. E
alguém que diga que “sempre gosta de fazer o que lhe apraz”, para retomar um
exemplo dado por Spaemann, está, na verdade, disfarçando um truísmo com
um pobre apelo estereotipado de liberdade. Salvo em caso de coação externa,
tudo mundo faz o que lhe apraz. O mistério está em se saber porque algumas
pessoas querem agir moralmente, e outras não. Não se trata de querer versus
dever, mas sim de “quereres” diferentes, uns morais, outros não. E é justamen-
te para procurar compreendermos porque alguns “querem o dever” que a refe-
rência ao eu é indispensável.
O eu: eis outra noção objeto de definições e abordagens diversas. É preci-
so, portanto, deixar claro como o eu será aqui concebido: concebê-lo-emos por
intermédio dos conceitos de “representações de si” e de “valor”.
Já é clássica, em psicologia, a afirmação de James segundo a qual o ser
humano, graças à sua capacidade de tomada de consciência de si mesmo, é
capaz de cindir-se em um “eu” e um “me”, portanto, é, ao mesmo tempo, sujei-
to e objeto: eu me vejo, eu penso em mim, eu me julgo, etc. Mas o que é esse “me”
por intermédio do qual o “eu” se concebe? É o que, com Perron (1991), chama-
mos de representações de si. Três são suas características fundamentais.
Moral e ética: dimensões intelectuais e afetivas 55
A primeira: as representações de si, como seu nome indica, pertencem à
ordem simbólica. Não poderia ser diferente, uma vez que a cisão “eu/me” im-
plica apreender a si próprio por meio de substitutos do objeto apreendido. É
por essa razão que as representações de si existem somente quando a criança,
por volta dos 2 anos, é capaz de pensar o mundo, e a si mesma, por meio de
imagens, noções, conceitos.
A segunda: as representações de si pressupõem uma assimilação cognitiva.
O eu é objeto de conhecimento e, enquanto tal, é concebido por intermédio
das estruturas cognitivas do sujeito. Note-se que, sendo fruto de assimilações
cognitivas, as representações de si equivalem a interpretações sobre si, inter-
pretações essas decorrentes tanto das características das estruturas de assimi-
lação quanto de aspectos afetivos. Note-se também que elas são plurais: não
fazemos apenas uma representação de nós, mas várias, que podem até ser
contraditórias entre si. Por essa razão, não emprego a expressão “autoconceito”
que sugere uma unicidade que, na verdade, não existe. Note-se finalmente
que, sendo múltiplas, as representações de si formam uma espécie de siste-
ma: relacionam-se entre si, notadamente de forma hierárquica. A hierarquia,
assim como os modos de interpretação, são influenciadas pela dimensão
afetiva.
A terceira e última característica fundamental das representações de si – e
que nos interessa diretamente – é a de que elas são valor. Reencontramos neste
ponto a dimensão afetiva. Já empreguei algumas vezes aqui o conceito de
valor, mas sem explicitar sua definição. É hora de fazê-lo. Como se sabe, o
referido conceito é empregado em várias áreas, científicas e filosóficas, o que
resulta em uma polissemia. A definição que proponho é de cunho psicológico.
Com Piaget (1954), defino valor como investimento afetivo. Portanto, assim
como a relação de um sujeito com um objeto é mediada por estruturas de
assimilação que conferem sentido ao objeto, tal relação também é mediada por
afetos, que lhe conferem valor, positivo ou negativo. Ora, tal não poderia ser
diferente com esse objeto singular que é o próprio eu. Nesse sentido, as repre-
sentação de si são, sempre, valor.
Podemos, agora, relacionar “querer” e “ser”. Como bem o destaca Savater
(2000), o homem somente poderá querer alguma coisa de acordo com o que
ele seja. Com efeito, é um eu que quer. E sendo uma das motivações fundamen-
tais desse eu a “expansão de si próprio”, em cada querer se encontra, em grau
maior ou menor, essa busca de auto-afirmação, busca, portanto, de representa-
ções de si de valor positivo. Se isso vale para o “querer” em geral, a fortiori
valerá para esse querer particular que é o “dever”. Talvez entenda-se melhor
agora porque Schlich, citado acima, vê no cumprimento dos deveres morais
um “desabrochar de si mesmo”. É certo que outros sentimentos, como amor e
compaixão, podem comparecer para motivar a ação moral; porém, se correta a
tese da expansão de si mesmo como motivação central do ser humano, esses
outros sentimentos podem compor com ela, não substituí-la. Além do mais,
nem todas as ações morais implicam amor ou compaixão, e se formos procurar
 
ÉTICA 
Gisele Varani
Ética versus moral
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Construir um conceito de ética.
 � Elaborar um conceito de moral.
 � Diferenciar ética e moral.
Introdução
Costumeiramente pensamos que moral e ética são sinônimos, mas filo-
soficamente são palavras parecidas, interligadas, mas não iguais. 
Neste capítulo, você vai estudar os conceitos de ética e moral e poderá 
fazer a diferenciação entre estes dois termos, além da possibilidade de 
reflexão sobre o quanto esses dois conceitos impactam na sua vida. 
Você vai estudar sobre o poder da escolha moral, a ética no cotidiano, 
o comportamento, os valores e tudo o que traz nexo sobre a ética e a
moral na sociedade em que vivemos.
Moral e ética: o que tem a ver comigo? 
Quando se trata de um assunto ligado às ciências humanas sempre há os que 
amam e os que detestam, pois existe a possibilidade de pensar sobre uma 
escolha subjetiva, em que não há somente o sim ou não e que a soma 2 + 2 
pode não resultar em 4 e o tema pode remeter a algo que parece não fazer 
parte do seu contexto de vida, de que a reflexão sobre ética é monótona, 
distante da realidade e que não teria nada a ver com a vida que se vive no 
mundo atual. Porém, quando ligamos a TV para assistir a um programa de 
notícias ou então ler as notícias on-line, percebemos que o comportamento 
da sociedade exige reflexão sobre o que fazer conforme a autoescolha. Até 
mesmo a infinda busca pela felicidade faz parte do conceito da ética, visto 
que se trata de pensar o comportamento do bem ou mal no humano, já que 
não existe o poder da dúvida em nenhum outro ser vivo. Jamais veremos 
uma formiga se questionando se vai ou não cortar a folha para levar ao 
formigueiro ou então diríamos que um leão foi malvado por ter comido o 
cervo(CORTELLA; BARROS FILHO, 2014). Ou seja, no homem há essa 
possibilidade da dúvida, a liberdade da escolha por algo que possa nos fazer 
sofrer, pois somente nós, humanos, criamos guerras em que nos matamos 
na busca pelo poder religioso, político ou social. 
Historicamente, tivemos legados sobre a ética conforme as épocas vivi-
das. Na Grécia antiga, se consideravam três princípios da vida moral: por 
natureza os homens aspiravam ao bem e à felicidade e somente poderiam 
ser alcançados pela conduta virtuosa; eles acreditavam que a virtude seria 
a força interior do caráter (consciência do bem e na conduta pela vontade 
guiada pela razão) e a razão controlaria os instintos e impulsos irracionais 
descontrolados do homem; por último, eles consideravam a conduta ética 
como algo possível e desejável para o ser humano, no qual o agente teria noção 
do que estaria em seu poder de realizar e que não está. Os filósofos antigos 
traziam sempre o contexto do equilíbrio entre a paixão e a razão, sendo o 
fortalecimento da vontade um dos principais requisitos para o viver bem em 
sociedade. Eles acreditavam que a natureza de nosso ser fosse passional e a 
ética deveria orientar para a razão e assim dominar os instintos da paixão 
(CHAUÍ, 2010, p. 389).
Com o advento do Cristianismo o homem grego troca a relação com a pólis 
(cidade) para a relação com Deus. Ele seria o mediador das nossas ações com 
a sociedade: de tudo a Ele, para e por Ele. Assume-se pela primeira vez o 
conceito do pecado original como norteador da moral vigente, o livre-arbítrio 
é atrelado à desobediência aos mandamentos e ao desejo de Deus em Adão e 
Eva, fazendo com que individualmente nossa vontade seja incapaz de reali-
zar o bem e as virtudes, necessitando da mediação entre Deus e os homens. 
Digamos, por exemplo, que você seja católico e costume ir à igreja fazer sua 
confissão semanalmente. Ao fazer isso, você tem a certeza de que o pároco 
irá ouvi-lo, fazer um julgamento de suas ações e posteriormente emitir sua 
opinião e também a possibilidade de remissão por meio de orações, gestos ou 
contribuições conforme o relato de seus pecados. Essa cena se repete desde o 
início dos tempos da Igreja Católica e o clero continua com a premissa básica 
do sigilo da confissão. Essa atitude do padre pressupõe um exemplo do que 
estamos refletindo, a ética cristã. Essa confiança da preservação de seu relato 
com e somente o religioso é uma atitude comportamental já previamente 
estabelecida e mantida por seus seguidores. O comportamento é um exemplo 
do que vamos conhecer sobre a ética e se manteve desde o princípio pela 
relevância junto a sua comunidade religiosa. Isso não significa que a ética seja 
Ética versus moral2
imutável, pois ela não é, mas se sabe que o que a sociedade ainda considera 
primordial para sua existência, mesmo mudando algumas regras, continua 
valendo para o todo.
Rousseau, filósofo do século XVIII, acreditava que o sujeito poderia re-
cuperar sua natureza original boa e benevolente, perdida pelos efeitos da vida 
social, se tivesse um bom relacionamento com a natureza, ou seja, a consciência 
moral e o sentimento do dever atrelado ao divino (dedo de Deus interferindo 
na razão utilitária dos homens). 
Kant, por sua vez, contradizia a “moral do coração” do Rousseau, em que 
volta a afirmar o papel da ética, não acreditando na bondade inata. Para ele, 
o homem nasce egoísta, ambicioso, destrutivo, cruel, ávido por prazeres que 
nunca saciam e por isso a necessidade do dever para frear esse sentimento 
natural e virarmos seres morais. 
No século XIX, o filósofo Hegel contradiz o que anteriormente os filósofos 
Kant e Rousseau definiram como ética na sociedade do século XVIII. Ele 
criticava os dois pensadores anteriores por utilizarem mais a relação humana 
com a natureza (suas paixões e razões) do que o fato de a cultura ou a história 
serem mais interligadas e importantes para o homem. Então, a partir das ideias 
dos filósofos que ele criticava e que considerava muito frágeis, construiu suas 
teorias. Considerava que os autores anteriores deveriam estudar os laços da 
ética com a sociabilidade dos seres humanos e utilizar como base de suas 
teorias as relações sociais coletivas e não individuais, como as instituições 
sociais (família, sociedade civil, Estado). Elas sim, segundo ele, teriam laços 
mais fortes para manter a conduta ética das sociedades ao que ele chamou de 
vontade objetiva, pois elas seriam um conjunto de conteúdos determinados 
com fins, valores, normas determinadas pelas instituições ou pela cultura 
(CHAUÍ, 2010, p. 391–397).
O filósofo brasileiro Clóvis Barros Filho, em seu artigo O que é Ética, traz 
a ideia de que ao tentarmos definir ética, falamos de vida, em como vivê-la e 
de viver bem. Ele conceitua: “E isto é ética. A atividade mental de aprender, 
hierarquizar e aplicar valores na nossa vida, com o objetivo de que ela seja a 
melhor possível” (BARROS FILHO, 2017, documento on-line). Parece simples 
a conceituação do termo, mas ao aprofundar mais esse tema diversas dúvidas 
surgem, tais como tentar fazer de tudo para viver bem, pensar e hierarquizar 
ações para o bem quando vivemos numa sociedade com tantos valores dife-
renciados e grupos culturais com diversos costumes de vida. 
Marilena Chauí (2010) traz em seu livro Convite à Filosofia o conceito 
de ética como um campo estudado pela filosofia e o define como “[...] estudo 
dos valores morais (as virtudes), da relação entre vontade e paixão, vontade e 
3Ética versus moral
razão; finalidades e valores da ação moral; ideias de liberdade, responsabili-
dade, dever, obrigação, etc.” (CHAUÍ, 2010, p. 73). Estudo esse que observa, 
questiona, analisa e justifica o homem e suas possibilidades da escolha, a 
liberdade de optar por qual modo de vida quer viver, os conceitos do bem viver 
em sociedade, nunca se esquecendo do outro lado da moeda, consequências 
dos atos feitos a partir dessa decisão. 
Kant foi um filósofo muito importante do século XVIII e ainda influencia 
nossa sociedade ocidental. “Tudo o que não puder contar como fez, não faça.” 
Para ele, o bem era dever acima de tudo, mesmo que precisasse sofrer pela 
escolha. Ele traz esse pensamento de que se você não consegue falar para os 
outros sobre o que fez, então não deve fazer, pois se algo o envergonha prova-
velmente estará ferindo o que você tem como base moral (CORTELLA, 2017).
Dalberio (2012, p. 9) escreve que existem requisitos necessários para ser 
uma pessoa ética: “ter a capacidade de reflexão e de reconhecimento da 
existência do outro, saber que existem outras pessoas na relação ou interação 
social, isto é, ter consciência de si e dos outros; ter capacidade para dominar-se, 
controlar-se e, também, decidir e deliberar entre alternativas”.
Os primeiros filósofos diziam “Ética é a morada do homem”. Essa morada 
a que eles se referiam seria um local em que seus habitantes poderiam ter 
segurança, e que se vivessem segundo as normas e leis existentes nas cidades 
(pólis) a sociedade se tornaria melhor, com os indivíduos protegidos, con-
fiantes. Esse primórdio de aprofundamento sobre a ética remonta ao século 
VI a.C., período na Grécia em que Ethos (modo de ser ou caráter) era o lugar 
que abrigava os indivíduos-cidadãos, os responsáveis pelos destinos da pólis.
Essa morada a que os gregos se referiam não era necessariamente mate-
rial (as paredes e o teto), ela trazia a conotação de “sentir-se em casa”, mais 
existencial, como se naquele ambiente criado ele pudesse ter uma sensação 
de proteção e cuidado e que as pessoas que dele fizessem parte pudessem ter 
harmonia, paz e um habitat tranquilo. É sabido que os antigos pensadores gregos 
elaboraram seus estudos a partir de suas realidades de vida e da sociedade 
ocidental existente na época, mas pode-se transpor essas barreiras iniciais e 
trazer para os tempos em que vivemos. Afinal, mudaram muitas de nossas 
concepções de mundo, mas perpetuam-se alguns pontos considerados comuns 
e necessáriosà vida em comunidade (VAZ, 1999).
A ética teoriza sobre a forma de responder às perguntas que normalmente 
fazemos a nós mesmos quando ficamos na encruzilhada moral de saber se um 
ato a ser realizado é certo ou errado perante a sociedade. Na hora da dúvida, 
no momento de justificar os critérios de escolha para amainarmos nossa cons-
ciência e ter a certeza da resposta correta, levamos em consideração alguns 
Ética versus moral4
quesitos, tais como se a ação maximiza a felicidade de todos, se é praticada 
por alguém do bem, se cumpre as regras pré-determinadas socialmente ou até 
mesmo se pode ser justificada aos outros de maneira a ser aceita, mesmo que 
razoavelmente (BORGES; DALL’AGNOL; DUTRA, 2002, p. 3).
Ética, um exercício de escolha permanente
O homem é diferenciado dos outros animais em atitudes e no comportamento, 
pois como já foi dito anteriormente, um cachorro não questiona sua forma de 
viver a vida, ele simplesmente vive conforme sua natureza, ele instintivamente 
precisa fazer assim. Já com o ser humano não acontece desse jeito, ele nasce 
destituído de qualquer atitude ética, ou seja, com o passar dos anos o homem 
vai se aprontando socialmente e então as condutas sociais serão trazidas como 
princípios, finalizando na compreensão de um código de ética já estabelecido 
pela comunidade em que vive. Essa construção cultural e simbólica é realizada 
ao longo da experiência humana por meio da cultura, regras jurídicas, educação 
ou reflexões pessoais (OLIVEIRA, 2017).
Com o passar dos anos, o homem aprende valores e mesmo com o aumento 
do conhecimento, possibilidade e capacidade de escolha, provavelmente viverá 
conforme as ideias dos que lhe disseram como viver, e caso não concorde 
com o ocorrido, viverá desrespeitando os padrões éticos estipulados pela 
comunidade em que vive, poderá viver em conflito constante. A autonomia de 
pensamento e de ação vai requerer muita reflexão sobre a sociedade em que 
se vive, caso não queira agir conforme o grupo, ou seja, a escolha individual 
confirmará a do coletivo. Nessa decisão prevalecem as vontades, desejos, 
sentimentos, ímpetos e valores ensinados desde a mais tenra idade, pois com 
esses apetrechos teóricos o ser humano poderá fazer suas regras de conduta, 
ser livre, determinar-se, “[...] desde que estejam em conformidade com a 
cultura vigente” (DALBERIO, 2012, p. 09). 
Ética, valores e espiritualidade acabam por se entrelaçar em vários momentos da vida, 
principalmente da metade para o final da mesma. Para conhecer um pouco mais sobre 
valores humanos, leia o texto Ética, valores e espiritualidade, acessando o link a seguir.
https://goo.gl/7J4tsh
5Ética versus moral
O que é moral? 
Enquanto a ética assume uma posição questionadora das atitudes e com-
portamentos do homem na qual há a possibilidade da escolha por meio da 
racionalização, a moral é mais prática, assumindo a característica de regular 
o comportamento humano, uma experimentação no cotidiano, na vivência 
e interação com os outros, fazendo com que sejam criadas novas normas e 
regras de convivência. Os valores humanos são peças importantes na cons-
trução cultural das normas que regem a sociedade vigente e eles formam 
a realidade e dão significado aos fenômenos, acontecimentos e à interação 
social. Os signos, as organizações de códigos definem o modo de viver dos 
grupos sociais e tentam regulamentar as relações a partir de um conjunto de 
valores (DALBERIO, 2012, p. 7).
Subdivisões da moral
Cortina e Martinez, em seu livro Ética, no subcapítulo “A ética como filosofia 
moral”, utilizam o termo moral como um substantivo e assim classificam o 
termo em cinco probabilidades de definições. 
1. Moral como um “conjunto de princípios, preceitos, comandos, sendo a 
moral um sistema de conteúdos sobre comportamentos”. 
2. Também poderia se referir a um código de conduta pessoal, como, por 
exemplo, dizer que uma pessoa tem uma moral muito rígida ou carece 
de moral.
3. Diferentes doutrinas morais (“ciência que trata do bem em geral e das 
ações humanas marcadas pela bondade ou maldade moral”) que “sis-
tematizam um conjunto de conteúdos morais, enquanto que as teorias 
éticas tentam explicar o fenômeno moral”. 
4. Sentido de caráter ou atitude, “ter uma boa disposição de espírito, estar 
com o moral alto”, não no sentido de saber, nem de dever.
5. “Compreender a dimensão moral da vida humana que é a âmbito das 
ações e das decisões”. 
Além de utilizar “moral” como substantivo, Cortina e Martinez postulam 
que o termo pode ser um adjetivo, qualificando alguma atitude, por exemplo. 
O termo moral poderia, assim, estar em oposição ao conceito de imoral, como 
sendo algo moralmente incorreto e o de amoral, como um sujeito destituído 
Ética versus moral6
do juízo da moral, sem condições de fazer juízo sobre os conceitos relativos 
à moral (CORTINA; MARTINEZ, 2005, p. 2). 
Sanchez Vasquez (2000) define moral como o um conjunto de normas 
que orientam as relações dos indivíduos, tanto entre eles e também na sua 
relação com a sociedade, cuja função é a de equivalência dos interesses de 
cada indivíduo com os da sociedade. O fato das sociedades humanas serem 
mutáveis faz com que a moral também sofra mudanças e com isso temos 
diversas morais, tal como moral na sociedade antiga, moral feudal, moderna, 
etc. O ser humano não nasce pronto e vai fazendo sua história, assim como a 
moral também segue a historicidade.
A moral não é universal, cada sociedade e cultura institui uma moral com 
seus valores relativos ao bem e ao mal, à conduta correta e comportamentos 
permitidos ou proibitivos para seus integrantes. Em culturas com diferenças 
muito profundas e sociedades fortemente hierarquizadas podem possuir várias 
morais, segmentando os valores conforme as classes sociais vigentes.
O historiador e filósofo Leandro Karnal fala sobre o relativismo histórico da moral e da 
ética, assunto bem importante na atualidade. Acesse o link a seguir.
https://goo.gl/Vr8D1X
Ética versus moral
Embora sejam relacionados entre si, moral e ética são termos diferentes, elas 
tratam do mesmo tema, mas não são a mesma coisa. Enquanto a ética é o estudo 
ou análise dos sistemas morais, ela nos elucida sobre a moral vigente na época, 
pois provoca a reflexão dos costumes (moral) do grupo social em que se vive. 
A consciência moral sempre existiu na humanidade, desde o momento em que 
os homens começaram a morar em grupos havia a necessidade de manutenção 
de regras numa tentativa de manter o equilíbrio social. O termo é proveniente 
do latim mores significando “costumes”, ou em outras palavras, a manutenção 
dos valores e o conhecimento do bem e do mal no contexto em que se vive, ou 
seja, “[...] um conjunto de normas que regulam o comportamento do homem 
7Ética versus moral
em sociedade, essas normas são adquiridas pela educação, pela tradição e pelo 
cotidiano” (SILVANO, 2008 apud RIBEIRO, 2008, p. 78). 
Já dizia Aristóteles, em sua Ética a Nicômaco, que a ética nos ensina a viver, 
ela, para ser vivida, é práxis e não propriamente teoria ou póesis. Desse 
ensinamento se deduz que ética se instala em solo moral, uma vez que ela se 
depara com uma experiência histórico-social no terreno da moral (FIGUEI-
REDO, 2008, p. 1).
A ética ou filosofia moral como é também denominada por alguns autores, 
trata da reflexão a respeito dos fundamentos da vida moral, ela é individual, 
pois está se falando de como o indivíduo entende e reflete a moral do coletivo. 
Sendo assim, pode ser modificada à medida que o tempo ou as situações 
conflitantes com os valores acontecem. À medida que mais pessoas aceitam 
determinado ato ético ele poderá se tornar coletivo e virará uma representa-
ção moral. Uma pessoa pode ser considerada antiética perante a sociedade, 
porém para seu entendimento individual de ética ela pode estar seguindo 
seus parâmetros aceitos, ou seja, numa situação comum uma pessoa pode ser 
considerada antiética segundo a sociedade em que vive, porém segundo os 
princípiosindividuais ela pode se considerar ética (vide exemplos em que para 
o grande grupo um político, por exemplo, faz atos considerados errados, mas 
ele parece não ter remorso nenhum, pois não “fez nada de mal”). 
Ana Pedro (2014, p. 486), em seu artigo “Ética, moral, axiologia e valores: 
confusões e ambiguidades em torno de um conceito comum”, infere que 
“[...] não terá significado idêntico referenciar moral e ética sob a mesma 
perspectiva para falarmos de uma única realidade valorativa” e ela ratifica 
a questão do conceito anteriormente dado sobre a moral referir-se a um 
conjunto de normas, valores (nas dualidades bem/mal), além dos princípios 
de comportamentos e costumes atribuídos a determinada sociedade ou 
cultura. Nesse sentido, trata-se da moral que é coletiva, que representaria o 
pensamento vigente da sociedade. 
Já a ética exige maior grau de cultura, reflexão e inteligência. A reflexão 
sobre ela acontece após Sócrates começar a questionar os costumes vigentes e 
trazer à luz da sociedade as formas e motivos que a levaram a agir de maneira 
a fazer sentido, com regras e normas de convivência. Ela investiga e explica 
as normas morais, pois obriga o homem a refletir sobre suas ações não só por 
tradição, educação ou hábito e então decidir com maior convicção, ou seja, 
a ética é a “[...] forma que o homem deve se comportar no seu meio social” 
(BORGES, 2018, documento on-line). O objeto de análise e de investigação da 
Ética versus moral8
ética seria a natureza dos princípios que se antecipam a essas normas descritas 
para a moral. Ela faz como que um questionamento acerca do sentido dessa 
moral, a estrutura dessas teorias morais e de argumentação que mantém ou 
não os costumes e traços culturais de uma sociedade. Exemplificando para 
construir critérios de definição ou diferenças entre os dois termos, “[...] a 
moral procura responder à pergunta: como havemos de viver? a ética (meta 
normativa ou meta ética) defronta-se com a questão: porque havemos de viver 
segundo x ou y modo de viver?” (PEDRO, 2014, p. 486).
Borges (2018), em seu artigo sobre as diferenças entre moral e ética, elabora 
um quadro comparativo e procura deixar mais compreensível as definições de 
cada termo e suas nuances. Pode-se perceber as sutis diferenças e compreender 
onde os termos estão imbricados. Confira no Quadro 1.
Fonte: Adaptado de Borges (2018, documento on-line).
Moral
lida com o certo versus errado
Ética
lida com o certo versus errado
Modo pessoal de agir
(é adquirida e formada ao longo 
da vida, por experiências)
Modo social de agir
(implica no consenso e na 
adesão da sociedade)
Norma e regras pessoais
(é guiada pela consciência)
Normas e regras sociais
(é guiada pela cultura da sociedade)
Individual
(é o que fundamenta a ética)
Grupal e/ou coletivo
(se constrói a partir do consenso 
de várias “morais”)
Quadro 1. Definições de moral e ética
O quadro anterior elucida e ajuda a compreender melhor as diferenças dos 
termos e com isso podemos verificar que a ética fica no campo especulativo, 
teorizando as formas de viver com sucesso fundamentando a moral; já a moral 
é fundamentalmente prática, orientada para a ação real e concreta em que as 
aplicações das normas morais têm acolhida, são validadas pelos membros 
daquela sociedade ou grupo social. Não se trata de a ética ser um conjunto 
de nãos proibitivos nem da moral ser somente uma visão inconstante, pois 
há uma relação de complementaridade entre elas. Elas são interdependentes 
entre si, visto a ética ter como objeto de estudo a própria moral. 
9Ética versus moral
Essa importante relação de circularidade ascendente e de complementari-
dade faz com que a ética continue fazendo a moral repensar-se numa constante 
busca de equilíbrio. Temos na Figura 1 a relação entre os dois termos.
Figura 1. Relação intrínseca entre ética e moral.
Fonte: Pedro (2014, p. 487).
Moral
Ética
Conforme Pedro (2014, p. 487) relata em seu artigo, as duas terminologias 
têm suas “[...] especificidades e particularidades, que as caracterizam no seu 
modus operandi”, porém ela também traz a importância dessa relação com-
plementar visto que enquanto a ética tem sua característica mais inflexível, 
secularmente construída e instituída, a moral permite ponderar e até mesmo 
rever costumes e atitudes anteriormente consideradas inflexíveis e nem sem-
pre repensadas sob a ótica dos princípios teóricos, provocando na ética uma 
reflexão e, com isso, possibilidades de realinhamento das condutas sociais. 
O que é extremamente saudável para a humanidade e essa valorização do 
conhecimento, após esses desassossegos morais, são condições necessárias para 
o modo de agir e viver moral, tornando o equilíbrio entre ambas fundamental 
para nossa sociedade como um todo (PEDRO, 2014).
Ética versus moral10
BARROS FILHO, C. O que é ética? 25 ago. 2017. Disponível em: <http://www.espacoetica.
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BORGES, R. Diferença entre Ética e Moral. 2018. Disponível em: <http://www.profes-
sorrenato.com/index.php/filosofia/127-diferenca-entre-etica-e-moral>. Acesso em: 
21 maio 2018.
CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. 14. ed. São Paulo: Ática, 2010. 
CORTELLA, M. S. Tudo o que não puder contar, não faça: integridade é não agir errado 
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nao-puder-contar-nao-faca-integridade-e-nao-agir-errado-mesmo-sozinho>. Acesso 
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CORTELLA, M. S.; BARROS FILHO, C. Ética e vergonha na cara! 05 jun. 2014. Disponível 
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CORTINA, A.; MARTÍNEZ, E. Ética. São Paulo: Loyola, 2005. Resumo Prof. Dr. Roque 
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triangulo/article/view/228>. Acesso em: 21 maio 2018. 
FIGUEIREDO, A. M. Ética: origens e distinção da moral. Saúde, Ética & Justiça, v. 13, n. 1, 
p. 1-9, 2008. Disponível em: <http://www2.fm.usp.br/gdc/docs/iof_83_1-9_etica_e_
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OLIVEIRA, E. D. Ética, moral e valores: breve debate. 17 mar. 2017. Disponível em: <https://
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PEDRO, A. P. Ética, moral, axiologia e valores: confusões e ambiguidades em torno 
de um conceito comum. Kriterion - Revista de Filosofia, Belo Horizonte, v. 55, n. 130, 
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arttext&pid=S0100-512X2014000200002&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 21 maio 
2018.
RIBEIRO, L. M. Professores universitários: seus valores e a opção da educação ambiental. 
2008. 290 f. Tese (Doutorado em Educação) - Pontifícia Universidade Católica do 
Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2008. Disponível em: <http://www.dbd.puc-rio.br/
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11Ética versus moral
SANCHEZ VASQUEZ, A. Ética. 36. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000. 
VAZ, H. C. L. Escritos de Filosofia IV: introdução à Ética Filosófica 1. São Paulo: Loyola. 
1999. (Filosofia).
Leituras recomendadas
FERREIRA, R. J. Ética: até quando esperar? 2015. 62 f. Monografia (Especialização em 
Altos Estudos de Política e Estratégia) – Escola Superior de Guerra, Rio de Janeiro, 2015. 
Disponível em: <http://www.esg.br/images/Monografias/2015/Ferreira_ricardo_jose.
pdf>. Acesso em: 21 maio 2018.
FRITZEN, A. Evolução Histórica da Ética. 2013. Disponível em: <https://sites.google.
com/site/aloisiofritzen/Home/etica-apresentacao/etica_conteudos/evolucao_his-torica_etica>. Acesso em: 21 maio 2018.
LAISSONE, E. J. C.; AUGUSTO, J.; MATIMBIRI, L. A. Manual de Ética Geral. Beira: Universi-
dade Católica de Moçambique, 2017. Disponível em: <http://www.ucm.ac.mz/cms/
sites/default/files/publicacoes/pdf/MANUAL-DE-ETICA-GERAL.pdf>. Acesso em: 21 
maio 2018.
RAMOS, F. P. A evolução conceitual da Ética. 2012. Disponível em: <http://fabiopes-
tanaramos.blogspot.com.br/2012/03/evolucao-conceitual-da-etica.html>. Acesso 
em: 21 maio 2018.
SGANZERLA, R. Ética, valores e espiritualidade. 2011. Disponível em: <http://www.
robertosganzerla.com.br/etica-valores-e-espiritualidade/>. Acesso em: 21 maio 2018.
Ética versus moral12
ÉTICA E 
CIDADANIA
Renan Valle Scarano
Direitos humanos
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Compreender o contexto político internacional em que é feita a De-
claração Universal dos Direitos Humanos.
  Discutir o percurso em que os direitos humanos são desenvolvidos 
relacionando com os momentos sócio-político e econômico.
  Analisar o contexto brasileiro e compreender os desafi os dos direitos 
humanos.
Introdução
Os direitos humanos são os princípios ou valores ético-políticos que 
permitem a toda pessoa afirmar sua condição e dignidade enquanto 
ser humano.
Neste texto, você vai compreender que a criação dos direitos humanos 
visa a garantir que a vida de toda pessoa possa ser realizada em suas 
condições biológicas, psicológicas, econômica, cultural, política e social.
Circunstâncias em que surge a Declaração 
Universal dos Direitos Humanos
Após o término da Segunda Guerra Mundial (1945), os países se uniram 
com a meta de restabelecer a paz entre os povos. A Organização das Nações 
Unidas (ONU) passou a existir ofi cialmente no ano de 1945 com a ratifi cação 
da carta feita pelas nações vencedoras da guerra (China, Estados Unidos, 
França, Reino Unido e a União Soviética). Com o objetivo de restabelecer a 
paz e evitar uma nova guerra mundial, a Declaração Universal dos Direitos 
Humanos foi assinada em 10 de dezembro de 1948 por esses países. A carta 
enumera em 30 artigos os direitos humanos e as liberdades fundamentais que 
os homens e as mulheres têm e que devem ser respeitados.
Etica e Cidadania 2ed_BOOK.indb 215 09/07/2018 15:16:08
O contexto histórico e político em que é assinada a Declaração Universal 
dos Direitos Humanos é o período da Guerra Fria. Nessa época, o mundo 
estava dividido e sendo disputado por duas potências (Estados Unidos, que 
liderava o bloco dos países capitalistas, e União Soviética, que liderava os 
países socialistas). O conflito entre os blocos envolvia questões de ordem 
política, militar, tecnológica, econômica, social e ideológica.
O centro da Declaração Universal dos Direitos Humanos é a dignidade 
da pessoa humana, que deve estar acima de qualquer interesse de ordem de 
governo ou econômico. De acordo com Pequeno ([19??], p. 2), os direitos 
humanos são “[...] os princípios ou valores que permitem que uma pessoa 
possa afirmar sua condição humana e participar plenamente da vida [...]”. Tais 
direitos devem fazer com que o indivíduo possa vivenciar plenamente sua 
condição biológica, psicológica, econômica, social, cultural e política. Tendo 
em vista a prioridade na dignidade humana e “[...] na igualdade de direitos 
entre homens e mulheres [...]” (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 
2009, p. 3), a Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou a Declaração 
Universal dos Direitos Humanos.
O preâmbulo da Declaração já traz o seguinte ponto de destaque: “[...] 
considerando ser essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo 
império da lei, para que o ser humano não seja compelido, como último recurso, 
à rebelião contra a tirania e a opressão [...]” (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES 
UNIDAS, 2009, p. 2). Sendo assim, a Declaração coloca o Estado como ente 
responsável pela garantia, proteção e efetivação dos direitos.
Traçando o percurso dos direitos humanos
Tudo que prejudica o desenvolvimento da vida dos seres humanos – seja 
enquanto condição biológica, econômica, psicológica, social, cultural ou polí-
tica – é uma negação e uma afronta aos direitos humanos. o que é um direito?
De acordo com Rabenhorst [19??], na sua origem, a palavra “direito” 
designa aquilo que é reto, justo, correto. Apenas no final do período medieval, 
os estudiosos passaram a utilizar a palavra “direito”, cuja terminologia deriva 
do latim rectum e directum, que significam “reto” e “em linha reta”. Nesse 
sentido, sustenta Rabenhorst ([19??], p. 3), “[...] falar de direitos, portanto, é 
em primeiro lugar falar do desejo e da necessidade que possuímos de viver 
em um mundo justo [...]”.
A construção da Declaração Universal dos Direitos Humanos se deu em um 
processo histórico de conquistas e lutas que envolveram, desde a Modernidade, 
Direitos humanos216
Etica e Cidadania 2ed_BOOK.indb 216 09/07/2018 15:16:08
os campos jurídico, sócio-político e cultural. Um primeiro conjunto de direitos 
é percebido na Modernidade através das revoluções burguesas dos séculos 
XVII e XVIII, a Revolução Inglesa, em 1688; a Revolução Americana, em 
1776, e a Revolução Francesa, em 1789. Foi em torno da questão da liberdade 
que os direitos foram discutidos, reivindicando as liberdades individuais. 
Nesse sentido, o liberalismo político era o que reunia o debate acerca do 
direito civil e político.
Os direitos civis e políticos referem-se aos direitos individuais vinculados 
à liberdade, à igualdade, à propriedade, à segurança e à resistência às 
diversas formas de opressão. Direitos inerentes à individualidade, tidos 
como atributos naturais, inalienáveis e imprescritíveis, que, por serem 
de defesa e serem estabelecidos contra o Estado, têm especificidade de 
direitos “negativos” (WOLKMER, 2010, p. 15).
Em um primeiro momento de geração de direitos, tratava-se de firmar 
os direitos em um combate da sociedade civil contra o Estado absolutista 
enquanto violador dos direitos. Mas, em um segundo momento histórico, 
outras gerações colocam o Estado como o garantidor dos direitos.
A segunda geração de direitos é composta pelos chamados direitos sociais, 
econômicos e culturais. São entendidos como direitos sociais, direito ao traba-
lho, à saúde e à educação. Esses direitos são “[...] fundados nos princípios da 
igualdade e com alcance positivo, pois não são contra o Estado, mas ensejam 
a garantia e a concessão a todos os indivíduos por parte do poder público [...]” 
(WOLKMER, 2010, p. 16). Com a efetivação desses direitos, o Estado passa 
à condição de garantidor, e a sociedade civil, à condição de sujeito ativo que 
reivindica a concretização de tais direitos.
A necessidade dessa intervenção do Estado no decorrer do período 
liberal, para assegurar direitos, principalmente no campo social, que o 
livre jogo do mercado não permitia, caracteriza uma nova fase, a histórica 
dos Estados desenvolvidos. Estamos no Estado social, o Estado intervém 
visando a assegurar não mais aquela igualdade puramente formal, utópica, 
concebida pelo Liberalismo, mas a procura de uma igualdade material, 
permitindo que os mais desfavorecidos tivessem acesso à escola, à cul-
tura, à saúde, à participação, àquilo que já se sustentava no passado, a 
felicidade (CARNEIRO, 2007, p. 24).
217Direitos humanos
Etica e Cidadania 2ed_BOOK.indb 217 09/07/2018 15:16:08
Os séculos XIX e XX foram marcados por lutas populares, foram um tempo 
em que o pensamento marxista exerceu grande influência na conversão dos 
direitos que, até então, estavam sustentados na figura do sujeito individual, 
mas que, a partir dessa nova etapa, passavam a ser discutidos enquanto direitos 
sociais. Os chamados direitos de segunda geração – que visam à garantia social 
realizada pelo Estado em relação a trabalho e salário dignos, assistência social, 
educação, saúde, moradia, cultura, livre associação sindical, greve, saneamento 
básico, lazer, entre outros – ainda estão alicerçados nodireito individual.
No século XXI, foram aprovados os direitos de terceira geração. Esses 
direitos buscam proteger os grupos humanos: povos, nações e grupos étnicos. 
Referem-se também à paz e à solidariedade entre os povos, aos cuidados com 
os recursos naturais, à dignidade das diversas culturas e às relações mais 
justas, igualitárias e pacíficas entre os povos. Pelos avanços no conhecimento 
científico-tecnológico, já se fala, hoje, em direitos humanos de quarta geração. 
São direitos ligados à bioética e à tecnologia na medicina, ao respeito ao 
patrimônio genético dos indivíduos e grupos étnicos.
Alguns pensadores, como Carneiro (2007), acentuam esse período como 
após o Estado-social, caracterizado pelo avanço do neoliberalismo, em que a 
intervenção do Estado é cada vez menor. Historicamente, esse período está 
marcado pela queda do muro de Berlim (em 1990), fazendo com que o libera-
lismo econômico avançasse, não encontrando outras perspectivas suficientes 
para pôr limites a essa onda. Com o mercado em condições livres para se 
estruturar nas diversas sociedades, os campos social, político e econômico ga-
nharam ares de globalização. As relações entre capital e trabalho – que outrora 
foram intermediadas pelo Estado de bem-estar social – foram absorvidas pelo 
mercado. O mercado – principal sujeito da esfera econômica – ganhou espaço 
em vários campos, como político, cultural e social, atravessando as relações 
que desde a Modernidade estruturavam-se no Estado Democrático de Direito.
Agora, nesta terceira fase, a intervenção [do Estado] é cada vez menor, em 
função das economias dos Estados, que impossibilitam a manutenção 
de importantes programas sociais, passando a optar pela privatização de 
serviços não essenciais e pela diminuição de seus investimentos naqueles 
considerados essenciais, gerando crises de desemprego, insuficiente 
assistência a direitos básicos como a saúde, a idosos, a criança, etc. (CAR-
NEIRO, 2007, p. 35).
Esse novo cenário traz algumas consequências em relação aos direitos 
conquistados em épocas anteriores. Os direitos que o Estado-social oferecia 
Direitos humanos218
Etica e Cidadania 2ed_BOOK.indb 218 09/07/2018 15:16:08
(como direito ao trabalho, à educação, à saúde) são ameaçados pelas políticas 
de privatização, que visam ao lucro monetário como um fator prioritário. Nesse 
sentido, os direitos sociais foram os mais atingidos. Essas ameaças dizem 
respeito às privatizações de serviços públicos e que estão em consonância 
com a Declaração dos Direitos Humanos, como o direito à saúde, à educação 
e aos direitos trabalhistas.
Direitos humanos no Brasil
No Brasil, os direitos humanos são garantidos na Constituição Federal pro-
mulgada em 1988. No contexto brasileiro, os direitos humanos foram um 
importante avanço jurídico para uma sociedade que foi marcada por cerca de 
20 anos de Ditadura Civil-Militar (1964-1985).
Se os direitos humanos não são um dado, mas um construído, enfatiza-
-se que as violações a estes direitos também o são. Isto é, as exclusões, 
as discriminações, as desigualdades, as intolerâncias e as injustiças são 
um construído histórico, a ser urgentemente desconstruído (FLORES, 
2009, p. 15).
Diante de uma realidade em que a violência era institucionalizada através 
de torturas, assassinatos e desaparecimentos, os direitos humanos passaram 
a ser um importante dispositivo que visava à proteção da dignidade humana 
em relação com a cidadania. O viés democrático que o Brasil e outros países 
latino-americanos readquiriram, a partir dos anos de 1970/1980, foi uma 
importante construção da classe política e civil, imprescindível para criar 
espaços em que a dignidade humana seja respeitada e para a concretização 
dos direitos.
A questão da cultura democrática assume um caráter crucial no Brasil e 
na América Latina como um todo. Esta é uma sociedade na qual a desi-
gualdade econômica, a miséria, a fome são os aspectos mais visíveis de 
um ordenamento social presidido pela organização hierárquica e desigual 
do conjunto das relações sociais: o que podemos chamar autoritarismo 
social. (DAGNINO, 1994, p. 103).
Nesse cenário de conflitos em que o Brasil está imerso e que é resultante 
de um autoritarismo social, Dagnino (1994, p. 104) argumenta que se trata 
219Direitos humanos
Etica e Cidadania 2ed_BOOK.indb 219 09/07/2018 15:16:08
de uma cultura baseada “[...] predominantemente em critérios de classe, raça 
e gênero, esse autoritarismo social se expressa num sistema de classificações 
que estabelece diferentes categorias de pessoas, dispostas nos seus respectivos 
lugares na sociedade [...]”. Trata-se de uma sociedade na qual as elites exercem 
forte influência, e o desafio aos direitos humanos é ainda uma realidade a 
ser construída. “Esse autoritarismo engendra formas de sociabilidade e uma 
cultura autoritária de exclusão que subjaz ao conjunto das práticas sociais 
e reproduz a desigualdade nas relações sociais em todos os seus níveis.” 
(DAGNINO, 1994, p. 104).
O Brasil tem avançado em direção à concretização dos direitos humanos, 
porém, através de pesquisas realizadas por entidades nacionais e por ONGs, 
descobriu-se que muitos passos ainda devem ser dados. De acordo com dados 
do Ministério dos Direitos Humanos, no ano de 2016, “foram registradas 
133.061 denúncias de violação de direitos humanos no Brasil, de acordo com 
balanço divulgado pelo Disque 100, serviço vinculado à Secretaria de Direitos 
Humanos” (HUFFPOST BRASIL, 2017), somando 364 casos por dia.
Os resultados da exclusão e da cultura de antidireitos humanos fazem da 
sociedade brasileira uma sociedade violenta. De acordo com o Anuário de 
Segurança Pública (FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA, 
2016, p. 6), 
[...] a cada 9 minutos, 1 pessoa era morta, totalizando 58.492 mortes 
violentas intencionais em 2015, incluindo vítimas de homicídios dolosos, 
de latrocínios, lesões corporais seguidas de morte e mortes decorrentes 
de intervenções policiais. Dessas pessoas assassinadas, 54% eram jovens 
de 15 a 24 anos e 73% são pretos e pardos.
Nessas estatísticas de violência, a polícia brasileira apareceu como a que 
mais morre (fora do trabalho) e a que mais mata. “Entre 2009 e 2015, policiais 
brasileiros morreram 113% mais em serviço do que os policiais americanos 
[...]” (FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA, 2016, p. 6).
O Brasil registrou mais vítimas de mortes violentas intencionais (ou pes-
soas assassinadas) em cinco anos do que a guerra na Síria no mesmo período. 
Enquanto a guerra na Síria (no período de março de 2011 a novembro de 2015) 
contava 256.124 vítimas mortas, no Brasil, nesse mesmo período, foram con-
tabilizadas 279.592 pessoas mortas. A violência policial também é um fator 
que, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública (FÓRUM 
BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA, 2016), contribui como ameaça 
para os direitos humanos. As mortes decorrentes das intervenções policiais 
Direitos humanos220
Etica e Cidadania 2ed_BOOK.indb 220 09/07/2018 15:16:08
somam 3.345 em 2015. Entre 2009 e 2015, esse número subiu para 17.688. 
Um dos indicativos desses dados é que a militarização adotada pelas polícias 
estaduais fortalece uma cultura antidireitos humanos.
A alta taxa de homicídios no País, os abusos policiais, a crítica situação 
do sistema prisional, a vulnerabilidade dos defensores de direitos humanos 
(principalmente em áreas rurais), a violência sofrida pela população indígena, 
(sobretudo pelas falhas em políticas de demarcação de terras) e as várias 
formas de violência contra as mulheres, populações homossexuais, travestis, 
transexuais e transgêneros são exemplos de violências sofridas no Brasil 
todos os dias.
De acordo com a RedeTrans, “[...] as pessoas trans sofrem com a violação 
de direitos humanos diariamente. Do ponto de vista dos avanços legais para 
a promoção dos direitos das pessoas trans, o avanço foi pouco, destacando 
apenas a política do nome social, contudo que ainda existem constrangimentosna prática e despreparo para acolhida em serviços públicos” (NOGUEIRA; 
AQUINO; CABRAL, 2017, p. 40). A pesquisa da rede europeia Transgender 
Europe (TGEU) apontou que o Brasil é o país que mais mata pessoas trans e 
gênero-diversas no mundo (Figura 1).
Figura 1. Assassinatos de pessoas trans de 1º de outubro de 2015 a 30 de setembro de 2016.
Fonte: Nogueira, Aquino e Cabral (2017).
Brasil
123
México
52
EUA
23
Colômbia
14
Venezuela
14
Índia
6
Paquistão
5
Itália
5
Turquia
5
No caso da violência contra a mulher, embora a criação da Lei Maria 
da Penha (Lei nº 11.340, sancionada em 2006) tenha sido uma importante 
resposta à violência contra a mulher, ainda se trata de uma realidade a ser 
superada. De acordo com o Mapa da Violência de 2015, o Brasil contabiliza 
4,8 assassinatos a cada 100 mil mulheres, número que coloca o Brasil no 
5º lugar no ranking de países nesse tipo de crime. Sobre os assassinatos de 
221Direitos humanos
Etica e Cidadania 2ed_BOOK.indb 221 09/07/2018 15:16:09
mulheres, dos 4.762 assassinatos de mulheres registrados em 2013 no Brasil, 
50,3% foram cometidos por familiares, sendo que em 33,2% destes casos, o 
crime foi praticado pelo parceiro ou ex. Essas quase 5 mil mortes representam 
13 homicídios femininos diários em 2013 (WAISELFISZ, 2015).
O sistema prisional brasileiro é, há tempos, um fator negativo no que diz 
respeito aos direitos humanos. Os dados de 2014 e os de 2015 apontam que a 
capacidade dos presídios brasileiros não comporta mais presidiários, pois já 
passaram os limites de ocupação, tal como pode ser constatado na Figura 2 
(CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO, 2016).
Figura 2. Capacidade, ocupação total e taxa de lotação pelo sexo dos internos por região 
(2014-2015).
Fonte: SIP-MP (13/09/2016). Resolução CNMP nº 56.
Os direitos humanos são um processo, surgem de uma tensão que não finda 
com a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Porém, é no cotidiano da 
luta e da resistência que os direitos humanos se afirmam contra as formas de 
reprodução da desigualdade, que ferem a dignidade humana.
Direitos humanos222
Etica e Cidadania 2ed_BOOK.indb 222 09/07/2018 15:16:09
223Direitos humanos
1. Marque a alternativa correta: 
De acordo com a ONU, em sua 
Declaração Universal dos Direitos 
Humanos, é correto afirmar, fica 
a cargo de qual instituição a 
proteção dos Direitos Humanos?
a) O Mercado
b) As Organizações Não 
Governamentais (ONG’s)
c) As Igrejas
d) O Estado
e) O Sistema Educacional
2. Os direitos civis e políticos, 
reivindicados pelas revoluções 
burguesas dos séculos 
XVII-XVIII, dizem respeito a:
a) São direitos que possuem a 
liberdade como sua principal 
defesa. São direitos ligados a 
liberdade individual, direito 
a vida, direito a propriedade, 
direito de votar e ser votado
b) Direito ao trabalho, à 
saúde, à educação
c) Direitos de Terceira geração
d) Igualdade entre os cidadãos 
sem distinção de raça, 
credo ou religião
e) Direito a democracia 
e ao pluralismo
3. Os chamados direitos de 
segunda geração equivalem a:
a) Direitos relacionados ao 
meio ambiente, direito da 
autodeterminação dos povos, 
direitos de comunicação.
b) Assistência social, educação, 
saúde, moradia, cultura, livre 
associação sindical, direito a 
greve, a organização sindical, ao 
saneamento básico, ao lazer
c) Direitos a um sistema 
democrático e ao pluralismo
d) Direito dos Governos
e) Direitos a propriedade privada 
e o direito de escolher o 
representante político
4. Sobre Direitos Humanos 
é correto afirmar:
a) São um processo histórico que 
tem como um de seus pontos 
culminantes a Declaração 
Universal dos Direitos Humanos 
que busca garantir a paz mundial 
e cujo centro da declaração 
é dignidade humana.
b) São direitos que não dependem 
de regime político devido 
a sua universalidade
c) São direitos reservados 
a bandidos
d) São uma ameaça à 
soberania nacional
e) São direitos que foram pensados 
por países alinhados aos 
Estados Unidos para evitar 
que o terrorismo avançasse 
nos países ocidentais.
5. A concentração de poder está na raiz 
das violações dos Direitos Humanos. 
Este enfoque é fundamental para 
compreender as causas das violações 
e para definir estratégias eficientes 
de promoção e defesa desses 
direitos, argumenta Samuel Pinheiro 
Guimarães no texto “Direitos 
Humanos e Neo-Liberalismo”
Diante dessa afirmação, qual 
modelo de governo possui 
Etica e Cidadania 2ed_BOOK.indb 223 09/07/2018 15:16:09
BRASIL. Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência 
doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição 
Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação 
contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a 
Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Domés-
tica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e 
a Lei de Execução Penal; e dá outras providências. Brasília: Presidência da República. 
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-em-2_a_22037193/>. Acesso em: 8 jul. 2017.
as condições para a defesa e 
propagação dos direitos Humanos:
a) Oligarquia
b) Tirania
c) Democracia
d) Ditadura
e) Monarquia
Direitos humanos224
Etica e Cidadania 2ed_BOOK.indb 224 09/07/2018 15:16:10
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225Direitos humanos
Etica e Cidadania 2ed_BOOK.indb 225 09/07/2018 15:16:10
ÉTICA E CIDADANIA 
Juliano Gomes
Ética social, profissional 
e política
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 Identificar os princípios gerais da ética social.
 Reconhecer as especificidades da ética profissional.
 Relacionar o papel da ética com a prática política.
Introdução
A ética estabelece os princípios que servem de parâmetro e fundamen-
tam o comportamento dos indivíduos. Esses parâmetros acompanham 
o indivíduo em todas as esferas de atuação, na sua vida social, na sua
atuação profissional e no exercício político.
Neste texto, você vai ver o que é a base comum da ética e as caracte-
rísticas próprias de cada uma das três áreas que serão abordadas. Na ética 
social, você vai conhecer a construção da ideia de ser humano digno e 
sua relação com o próximo. Na ética profissional, verá as especificidades 
do ambiente de trabalho, seus desafios e dilemas. Já na ética política, 
estudará o conceito de poder e autoridade.
Ética social
O convívio social é permeado por regras, princípios e noções que fundamentam 
a vida moral. O papel da ética é fazer a refl exão sobre esses princípios e noções. 
Existem diversas concepções de ética que variam de acordo com a ideia de 
ser humano com que se trabalha, desde a noção religiosa até o pragmatismo 
Etica e Cidadania 2ed_BOOK.indb 121 09/07/2018 15:15:51
mais radical. Diferentemente da moral – que é relativa à um grupo social, 
uma cultura –, a ética pretende ser universal. Enquanto a moral pergunta “o 
que devo fazer?”, a ética pergunta “o que é o bem?“. A primeira é normativa, 
enquanto a segunda é refl exiva.
Aristóteles (384-322 a.C.) considerava a felicidade a finalidade da vida 
e a consequência do único atributo humano, a razão. As virtudes intelectuais 
e morais seriam apenas os meios destinados à sua consecução.
O epicurismo, doutrina idealizada por Epicuro (341-270 a.C.), por sua 
vez, identificava como sumo bem o prazer, principalmente o prazer intelectual, 
e – tal como os adeptos do estoicismo, escola fundada por Zenão de Cítio 
(340-264 a.C.) – preconizava uma vida dedicada à contemplação.
No fim da Idade Média, São Tomás de Aquino (1225-1274) viria a fun-
damentar na lógica aristotélica os conceitos agostinianos de pecado original 
e da redenção por meio da graça divina.
Conforme a Igreja Medieval se tornava mais poderosa, desenvolvia-se 
um modelo de ética que trazia castigos aos pecados e recompensa à virtude 
pela imortalidade.
Figura 1. Aristóteles, filósofo grego que fundamentou o debate sobre ética.
Fonte: MidoSemsem/Shutterstock.com.
Ética social, profissional e política122
Etica e Cidadania 2ed_BOOK.indb 122 09/07/2018 15:15:51
Para Baruch Spinoza (1632-1677), a razão humana é o critério para uma 
conduta correta, e apenas as necessidades e interesses do homem determinam 
o que pode ser considerado bom e mau, o bem e o mal.
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), por sua vez, em seu Contrato Social 
(1762), atribuía o mal ético aos desajustamentos sociais e afirmava que os seres 
humanos eram bons por natureza.
Uma das maiores contribuições à ética foi a de Emmanuel Kant (1724-
1804), em fins do século XVIII. Segundo ele, a moralidade de um ato não 
deve ser julgada por suas consequências, apenas por sua motivação ética.
As teses do utilitarismo, formuladas por Jeremy Bentham (1748-1832), 
sugerem o princípio da utilidade como meio de contribuir para aumentar a 
felicidade da comunidade.
Já para Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831), a história do mundo 
consiste em “disciplinar a vontade natural descontrolada, levá-la a obedecer 
a um princípio universal e facilitar uma liberdade subjetiva”.
A ética contemporânea é fragmentada, pois se abandonam as pretensões 
de montar um conjunto de postulados e passa-se a analisar situações, temas 
e questões pontuais. Ainda se encontram divisões no modo de análise, e as 
duas principais visões são:
Morais deontológicas (ou do dever ou da lei) – que afirmam que o critério 
supremo é o dever ou as leis. O termo deontologia surgiu das palavras gregas 
“déon, déontos”, que significam “dever”, e “lógos”, que significa “discurso” 
ou “tratado”.
Morais situacionais e relativistas – que se recusam a construir a moral 
sobre um princípio absoluto, seja ele o fim último ou o dever.
Seis princípios da ética social
A ética social se apoia em seis princípios clássicos, veja quais são:
Dignidade da pessoa humana
A Convenção Americana sobre Direitos Humanos, de 1969, estabelece, em 
seu art. 11, § 1º, que “Toda pessoa humana tem direito ao respeito de sua 
honra e ao reconhecimento de sua dignidade.”. É característica intrínseca e 
inalienável de cada ser humano, colocando-o como merecedor do respeito e 
da consideração do estado e da sociedade.
123Ética social, profissional e política
Etica e Cidadania 2ed_BOOK.indb 123 09/07/2018 15:15:51
Direito de propriedade
O direito de propriedade é o direito das pessoas de possuírem coisas para 
atender às suas necessidades, para seu uso; é um direito pacifi camente reco-
nhecido por todos.
Primazia do trabalho
O trabalho – atividade que o ser humano realiza para sobreviver, ganhar a 
vida e crescer como pessoa – é a atividade de primordial importância, sem 
dúvida a mais expressiva da pessoa humana. A pessoa mesma está em seu 
trabalho. É comum as pessoas apresentarem-se pelo nome e pelo trabalho. 
Não só a subsistência pessoal e de familiares depende do trabalho, mas antes 
a própria pessoa, seu crescimento, seu desenvolvimento.
Primazia do bem comum
O interesse do coletivo deve se sobrepor ao interesse individual, pois o avanço 
de uma sociedade depende do esforço conjunto das pessoas e só pode ser 
alcançado com a colaboração de todos os integrantes do grupo. Os seres 
humanos buscam naturalmente a união, primeiramente porque são essencial-
mente sociais e em segundo lugar porque sentem inúmeras limitações ao agir 
isoladamente. É o conjunto de condições sociais que permite e favorece aos 
membros da sociedade o seu desenvolvimento pessoal e integral.
Solidariedade 
Um dos traços mais fortes da natureza humana. A pessoa imediatamente 
identifi ca o próximo como seu igual, ainda que não o conheça, ainda que 
de outra raça ou de outra língua. A solidariedade entre os seres humanos 
decorre diretamente do fato de todos serem da mesma natureza. É a chamada 
fraternidade humana.
Subsidiariedade
A participação ativa das pessoas e de todos os grupos sociais nas esferas 
superiores, econômicas, políticas e sociais, de cada país e do mundo é a base 
desse princípio. Em latim, subsidere signifi ca “sentar-se debaixo”, estar na 
reserva. Subsídio é o auxílio dado; quem recebe é dito subsidiado; quem doa 
Ética social, profissional e política124
Etica e Cidadania 2ed_BOOK.indb 124 09/07/2018 15:15:51
é o subsidiário. Devido à presença do sufi xo -idade, a palavra subsidiariedade 
signifi ca o estado ou a qualidade de subsidiário. A organização social funciona 
porque o ser humano a sustenta na base.
Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) demonstrou uma definição de felicidade que se 
encaixa muito com os elementos da ética social. Para ele, o homem feliz é “[...] aquele 
que é ativo de acordo com a virtude completa e é adequadamente fornido de bens 
externos, não por um período de tempo não específico, mas em uma vida completa, 
destinado a viver e a morrer, consequentemente [...]”.
Ética profissional
A ética profi ssional diz respeito tanto ao comportamento do indivíduo em um 
ambiente de trabalho quanto à atuação de empresas e organizações. Para o 
indivíduo, é a observância dos comportamentos adequados ao convívio com 
colegas, chefi as e clientes e dos compromissos assumidos com o trabalho. 
Para as empresas e organizações, é pautar sua atuação sempre pensando em

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