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Direitos Humanos Profa. Regina Celia Martinez Direito do homem = direito à vida; é inerente. Direitos humanos = direitos do homem positivados na esfera internacional em tratados ou convenções que é muito amplo; visa a proteção da pessoa humana. Direitos fundamentais = são os direitos humanos positivados na CF de um estado. Estão incorporados dentro do ordenamento de um Estado. Historicidade: os direitos humanos surgiram ao longo do tempo e não de uma única vez. Os Direitos Humanos são um conjunto de direitos, positivados ou não, cuja finalidade é assegurar o respeito à dignidade da pessoa humana, por meio da limitação do arbítrio estatal e do estabelecimento da igualdade nos pontos de partida dos indivíduos, em um dado momento histórico. Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) Esse documento não tem caráter vinculante, ou seja, não tem natureza jurídica de um tratado internacional porque foi feita através de uma resolução. Essa resolução é dividida em direitos civis e políticos (primeira geração) e outra estrutura que é de segunda geração direitos sociais, econômicos e culturais. Os Direitos Humanos possuem, entre outras características: universalidade; indisponibilidade, inalienabilidade e irrenunciabilidade; imprescritibilidade; indivisibilidade, interdependência e complementaridade; historicidade e proibição do retrocesso; aplicabilidade imediata e caráter declaratório (3.6). Universalidade Tal princípio foi consagrado no art. 1º da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 . Nesta Declaração fica estabelecido que todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. Os direitos humanos são pra todos e válidas para qualquer Estado; Uma característica que decorre diretamente da universalidade é a inerência. Por ela, temos que não é preciso depender de concessões dos Estados ou de qualquer ente público ou privado para que sejam assegurados os direitos e garantias fundamentais. Irrenunciáveis Os direitos humanos são irrenunciáveis. Direito à sua vida privada, à sua vida privada. Eu não renuncio ao direito eu apenas deixo de exercer (caso do BBB). Direito ao Asilo Indivíduo vítima de perseguição pode pedir a outro Estado soberano proteção. Esse direito é previsto na DUDH e não poderá ser invocado quando da violação de Direito Comum por esse indivíduo. Princípio da Dignidade da Pessoa Humana = é o mínimo que um indivíduo precisa ter para a sua existência. A DUDH foi aprovada por 48 Estados à exceção de 8 : Bielo Russia, URSS, tchecoslováquia, etc A Constituição de Weimar foi o marco do movimento constitucionalista que consagrou direitos sociais, de 2ª geração/dimensão e reorganizou o Estado em função da Sociedade e não mais do indivíduo. Tribunal de Nuremberg - acordo firmado em Londres pelos países aliados ( Inglaterra, França, USA e URSS) com a intenção de julgar os crimes de guerra no ambito do direito internacional. Foram 13 julgamentos entre 1945 e 49. - intenção de legitimar o julgamento dos acusados pelas atrocidades, afastando a possibilidade de impunidade. Honrou-se um verdadeiro pedido da humanidade por justiça. Três categorias de crimes pelas quais os acusados seriam julgados: crimes contra a paz (planejamento e engajamento em atividades de guerra que descumprissem acordos internacionais), crimes de guerra (como tratamento impróprio a civis e prisioneiros de guerra) e crimes contra a humanidade (assassinato, escravização, deportação e perseguição a civis com base em motivos políticos, religiosos ou raciais). Ficou ainda decidido que tanto militares quanto civis poderiam ser acusados de tais crimes. Foram 24 indiciados, dos quais um não foi a julgamento por motivos de saúde e outro por ter cometido suicídio antes do início do mesmo. O principal argumento utilizado pelos advogados de defesa foi o de que os crimes de que os réus estavam sendo acusados não eram ainda considerados crimes quando aconteceram, o que é chamado de juízo ex post facto. Dos 22 réus, 3 foram absolvidos; 12 condenados à morte; 3 condenados à prisão perpétua; e 4 condenados a cumprir entre 10 e 20 anos de prisão. A partir do tribunal surgiu o crime do genocídio, essa concepção de crime contra humanidade não existia antes. Campo de concentração: ausência de um caráter utilitário dos campos de concentração. Os Judeus eram a maior parte da mão de obra da Alemanha. DIREITOS HUMANOS E O ORDENAMENTO JURÍDICO contexto de Estado liberal, a Revolução Americana foi a primeira a tratar de direitos humanos na famosa Declaração da Virgínia (1776) QUESTIONÁRIO (ORIENTAÇÃO DE ESTUDOS) DIREITOS HUMANOS Prof.ª Dra. Regina Célia Martinez DIREITOS HUMANOS E DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA 1. Conceitue direitos humanos e dignidade da pessoa humana. Os Direitos Humanos Fundamentais colocam-se como uma das previsões absolutamente necessárias a todas as Constituições, no sentido de consagrar o respeito à dignidade humana, garantir a limitação do poder e visar o pleno desenvolvimento da personalidade humana. Podem ser definidos como os princípios jurídica e positivamente vigentes em uma ordem constitucional que traduzem a concepção de dignidade humana de uma sociedade e que legitimam o sistema jurídico estatal; são, portanto, direitos indispensáveis à condição humana. A dignidade é um valor essencial e intrínseco ao ser humano e o seu respeito é uma forma extrínseca de reconhecimento a esse direito. Acresce-se à sua integridade física e psíquica, o respeito ao seu pensamento, comportamento, imagem, intimidade, consciência e ações. São exemplos de direitos humanos: direito à vida - sadia qualidade de vida; direito à saúde; direito ao lazer; direito ao trabalho, entre outros. 2. O que você entende por Direitos do homem, direitos humanos, direitos fundamentais e cidadania? Explicar e exemplificar. Os direitos humanos consistem em um conjunto de direitos considerados indispensáveis para uma vida humana, pautado na liberdade, igualdade e dignidade. Os direitos humanos são os direitos essenciais e fundamentais. Exemplos: direito à vida, direito ao lazer. 3. Fundamentos dos Direitos Humanos: teoria jus naturalista, teoria positivista e teoria moralista. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS HUMANOS 4. Escreva sobre os direitos humanos na Antiguidade, idade Média e Moderna. 5. Comentar destacando a importância da Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão (França, 1789). A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão é um documento culminante da Revolução Francesa, que define os direitos individuais e coletivos dos homens (tomada a palavra na acepção de "seres humanos") como universais. Influenciada pela doutrina dos "direitos naturais", os direitos dos homens são tidos como universais: válidos e exigíveis a qualquer tempo e em qualquer lugar, pois permitem à própria natureza humana. Na imagem da Declaração, o "Olho da Providência" brilhando no topo representa uma homologação divina às normas ali presentes, mas também alimenta teorias da conspiração no sentido de que a Revolução Francesa foi motivada por grupos ocultos. Inspirada nos pensamentos dos iluministas, bem como na Revolução Americana (1776), a Assembléia Nacional Constituinte da França revolucionária aprovou em 26 de agosto de 1789 e votou definitivamente a 2 de outubro a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, sintetizado em dezessete artigos e um preâmbulo dos ideais libertários e liberais da primeira fase da Revolução Francesa (1789-1799). Pela primeira vez são proclamados as liberdades e os direitos fundamentais do homem de forma econômica, visando abarcar toda a humanidade. Ela foi reformulada no contexto do processo revolucionário numa segunda versão, de 1793. Serviu de inspiração para as constituições francesas de 1848 (Segunda República Francesa) e para a atual, e também foi a base da Declaração Universal dos Direitos Humanos, promulgada pelas Nações Unidas. 6. Escreva sobre o conteúdo e a importância do Tribunal de Nuremberg. Foi a formação inédita de um tribunal militarinternacional para julgar o alto escalão nazista por crimes de guerra e contra a humanidade durante a 2 guerra mundial. Os procedimentos duraram 315 dias de novembro 1945 a outubro 1946 e aconteceram no Palácio da Alemanha. Pode-se dizer que dois motivos levaram à escolha de Nuremberg, no estado da Bavária, para a realização dos julgamentos. Anualmente, durante o Terceiro Reich, comícios e passeatas de Propaganda Nazista eram realizados na cidade. Assim, a instalação do Tribunal tinha um caráter simbólico de marcar o fim do nazismo e as consequências das políticas adotadas pelo Partido Nacional-socialista e seus adeptos. As leis e procedimentos a serem adotados em Nuremberg foram estabelecidas pelos aliados na carta de Londres, lançada em 8 agosto de 1945. 1 - Crimes contra a paz: planejamento e engajamento em atividades de guerra que descumprissem acordos internacionais. 2 - Crimes de guerra: como tratamento impróprio a civis e prisioneiros de guerra. 3 - Crimes contra a humanidade: assassinato, escravização, deportação e perseguição a civis com base em motivos políticos, religiosos ou raciais. O argumento da defesa era que os crimes que estavam sendo acusados não eram ainda considerados crimes quando aconteceram, chamados ex post facto. Dos 22 réus ,3 foram absolvidos, 12 condenados a morte, 3 a prisão perpetua ,4 penas de 10 a 20 anos de prisão. As execuções ocorreram em 16 de outubro de 1946. Polêmicos na época, os julgamentos de Nuremberg são hoje compreendidos como um marco no direito internacional e no estabelecimento de uma Corte Internacional permanente. Desde de 1946 existe, no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU), a Corte Internacional de Justiça (também conhecida como Corte de Haia ou Tribunal de Haia), que tem por função julgar Estados. Em 2002, criou-se a Corte Penal Internacional (ou Tribunal Penal Internacional), que, como os julgamentos de Nuremberg, tem como objetivo julgar indivíduos por crimes de guerra, crimes contra a humanidade, genocídio e os crimes de agressão. CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS 7. Classificar as gerações (dimensões) dos direitos humanos, exemplificando. Cada dimensão representa a evolução da sociedade. 1. Dimensão rep. civis e político: • Liberdades públicas • Direito a vida, direito de ir e vir, não poderá o Estado impor o que devemos fazer. • Associação de voto * Independência dos EUA, revolução Francesa, paz de Westfália, Bill of Rights, habeas corpus. 2. Dimensão, sociais, culturais e econômicas: • Direito de igualdade • Exigir atuação positiva • Direito ao trabalho de proteção contra despedida arbitrária, repouso remunerado, acesso à educação, saúde pública, etc. * Movimento cartista, movimento coluna em Paris; 3. Dimensão: Difusos coletivo • Direitos ambientais • Direito do consumidor • Direito a paz *Surgimento da robótica, viagens espaciais, fim da 2 guerra mundial; 4. Dimensão: Norberto Bobbio • Pesquisas biológicas e patrimônio genético • Democracia, direito à informação e o pluralismo político. • Direitos da minoria • Direito a ter direito, atribuído homossexuais, crianças, idosos, deficientes, índios e outros. * 11 de setembro, lei de bio segurança. 5. Dimensão • Direito a paz permanente. 8. O que você entende por direitos e garantia fundamentais? Comentar e exemplificar. Direito é o justo para todos, fundamental é a base, o mínimo que o ser-humano precisa para sobreviver e ter uma vida digna. Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade Partindo do artigo 5° da constituição, onde prega os direitos fundamentais, qualquer ser-humano tem o direito garantido a liberdade, a vida, a igualdade, a segurança, o lazer, etc. Exemplo: todos temos o direito a segurança, o direito de ir e vir, de se sentir seguro dentro de casa, de não sofrer qualquer tipo de agressão física ou moral. CARACTERISTICAS DOS DIREITOS HUMANOS 9. Escrever, comentar e exemplificar as características dos direitos humanos. 1. Universalidade; 2. Indivisibilidade; 3. Interdependência; 4. Interrelacionaridade; 5. Imprescritibilidade; 6. Inalienabilidade; 7. Historicidade; 8. Irrenunciabilidade; 9. Vedação ao Retrocesso; 10. Efetividade; 11. Limitabilidade; 12. Inviolabilidade; 13. Complementariedade; 14. Concorrência e 15. Aplicabilidade Imediata. Os Direitos humanos são os direitos fundamentais, surgindo a muito tempo, conforme a evolução da sociedade. Os direitos humanos são universais para todos seres humanos é um direito essencial, um direito não alienável, com exceção do direito à propriedade, visando a proteção da pessoa humana. Toda sociedade tem um rol determinado de condições e direitos. Podem ser ampliados expandidos e a qualquer tempo surgir novos direitos. São também inerentes ao ser humano, tendo por base valores supremos do homem e sua dignidade, tais direitos não se perdem com o tempo, não pode haver renúncia e nem violados, sujeitos a pena de responsabilidade civil, penal e criminal. A administração pública cria mecanismo para sua efetivação, não são absolutos, sofrendo restrições, e são observados de forma conjunta. Liberdade de informação, comunicação e opinião estão agregados a tais direitos, e jamais podem ser reduzidos. Todavia os Direitos Humanos visam garantir o respeito e seu direito a vida, a liberdade, igualdade e dignidade, e seu pleno desenvolvimento. DIREITOS HUMANOS NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO 10. Direitos humanos na Constituição Federal (Destaque para Preâmbulo, art. 1°, 3°, 4°, 5° a 17 da Constituição Federal). 11. Dissertação. Direitos Humanos no Ordenamento Jurídico Brasileiro. Teoria e prática. TRATADOS INTERNACIONAIS SOBRE DIREITOS HUMANOS 12. Dissertação. Tratados Internacionais sobre Direitos Humanos. Teoria e prática. SISTEMA GLOBAL DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS 13. Dissertação. Sistema global de proteção dos direitos humanos. Teoria e prática. TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL 14. Dissertação. Tribunal Penal internacional. SISTEMA INTERAMERICANO DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS 15. Dissertação. Sistema Interamericano de proteção dos direitos humanos. 16 Escreva sobre a Convenção Interamericana de Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica, 1969). - A Convenção Americana de Direitos Humanos, popularmente conhecida como Pacto de São José da Costa Rica é um tratado celebrado pelos integrantes da Organização de Estados Americanos (OEA), adotada e aberta à assinatura durante a Conferência Especializada Interamericana sobre Direitos Humanos. O documento tem um total de 81 artigos, incluindo as disposições transitórias, e tem como objetivo estabelecer os direitos fundamentais da pessoa humana, como o direito à vida, à liberdade, à dignidade, à integridade pessoal e moral, à educação, entre outros similares. A convenção proíbe ainda a escravidão e a servidão humana, o objetivo da constituição deste tratado internacional é a busca da consolidação entre os países americanos de um regime de liberdade pessoal e de justiça social, fundado no respeito aos direitos humanos essenciais. Considerando que a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica) entrou em vigor, para o Brasil, em 25 de setembro de 1992, de conformidade com o disposto no segundo parágrafo de seu art. 74; DECRETA: Art. 1° A Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), celebrada em São José da Costa Rica, em 22 de novembro de 1969, apensa por cópia ao presente decreto, deverá ser cumprida tão inteiramente como nela se contém. Art. 2° Ao depositar a carta de adesão a esse ato internacional, em 25 de setembro de 1992, o Governo brasileiro fez a seguinte declaração interpretativa: "O Governo do Brasil entende que os arts. 43 e 48, alínea d, não incluemo direito automático de visitas e inspeções in loco da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, as quais dependerão da anuência expressa do Estado". Art. 3° O presente decreto entra em vigor na data de sua publicação. 17. Qual a importância da Comissão Interamericana de Direitos humanos? Comentar e exemplificar. R. Comissão Interamericana de Direitos Humanos Criada em 1959 como órgão especializado na promoção e proteção de direitos humanos no âmbito da OEA. Pela proposta aprovada, a Comissão funcionária provisoriamente até a adoção de uma “Convenção Interamericana de Direitos Humanos.” Após a edição do Protocolo de Buenos Aires em 1967 (entrou em vigor em 1970), como emenda da Carta da OEA, que a Comissão passaria a ser órgão Principal da própria Organização dos Estados Americanos, superando a debilidade inicial de ter sido criada por mera resolução adotada em reunião de Ministros. Assim, a Comissão incorporou-se à estrutura permanente da OEA, tendo os Estados a obrigação de responder aos seus pedidos de informação, bem como cumprir, em boa-fé, com suas recomendações, pois essas eram fundadas na própria Carta da OEA, agora reformada. A Comissão é composta de sete comissários, que são pessoas de alta autoridade moral e notório saber na área de direitos humanos, indicados por Estados da OEA e eleitos em escrutínio secreto pela Assembleia da organização, para mandato de quatro anos, com a possibilidade de uma recondução. Incumbe à Comissão Interamericana de Direitos Humanos a tarefa principal de responsabilização dos Estados por descumprimento dos direitos civis e políticos expressos na Carta e na Declaração Americana. A partir da entrada em vigor a Convenção Americana de Direitos Humanos em São José, Costa Rica, em 1969, a Comissão passou a ter papel dúplice. Em primeiro lugar, continuou a ser um órgão principal da OEA, encarregado de zelar pelos direitos humanos, incumbido até do processamento de petições individuais retratando violações de direitos humanos protegidos pela Carta da OEA e pela Declaração Americana. Em segundo lugar, a Comissão passou a ser também órgão da Convenção Americana de Direitos Humanos, analisando petições individuais e interpondo ação de responsabilidade internacional contra um Estado perante a Corte. Caso o Estado não tenha ratificado ainda a Convenção (como os Estados Unidos) ou caso tenha ratificado, mas não tenha reconhecido a jurisdição obrigatória da Corte, a Comissão, pode apenas acionar a Assembleia Geral da OEA. • De acordo com as competências previstas na Carta da OEA e estatuto da Comissão – promover estudos e capacitação em direitos humanos; – criar relatorias especiais de direitos humanos em temas ou países; – receber petições de vítimas de violação de direitos humanos e recomendar reparação; • De acordo com as competências previstas na Convenção Americana de Direitos Humanos; – receber petições de vítimas, recomendar reparação de danos aos Estados e, caso (i) não cumprida a reparação e (ii) caso o Estado infrator tenha reconhecido a jurisdição da Corte IDH, encaminhar o caso à Corte; – solicitar opiniões consultivas; – atuar nos processos perante a Corte IDH como custos legis. Exemplo de medidas Cautelares da Comissão: Em março de 2011, a Comissão adotou medida cautelar requerendo a suspensão da construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, a principal obra de fornecimento de energia do Brasil nos últimos anos, por ofensa a diversos direitos dos povos indígenas. Após veemente recusa do Estado brasileiro em cumprir tal deliberação, a Comissão modificou sua posição e decidiu que a obra poderia continuar desde que fossem tomadas cautelas na preservação dos direitos até deliberação final da Comissão. O episódio mostrou que a ausência de previsão expressa das medidas cautelares da Comissão na Convenção Americana de Direitos Humanos faz com que os Estados Partes da Convenção não aceitem sua força vinculante. Por outro lado, a Comissão pode requerer medidas provisórias à Corte IDH, que possuem – de modo expresso – previsão na Convenção. Exemplo de Conciliação perante a Comissão O primeiro caso brasileiro que foi objeto de conciliação foi o Caso dos Meninos Emasculados do Maranhão em 2005. RELATÓRIO Nº 43/06 CASOS 12.426 e 12.427 SOLUÇÃO AMISTOSA MENINOS EMASCULADOS DO MARANHÃO BRASIL 15 de março de 2006 I. RESUMO 1. Em 27 de julho de 2001, as organizações não-governamentais Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente Padre Marcos Passerini e o Centro de Justiça Global (CJG) apresentaram uma petição à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (doravante denominada “Comissão” ou “Comissão Interamericana”), contra a República Federativa do Brasil (doravante denominada “Estado”, “Brasil”, ou “Estado brasileiro”), na qual denunciaram o homicídio da criança Raniê Silva Cruz em setembro de 1991, no Município de Paço do Lumiar, Estado do Maranhão. Em 31 de outubro de 2001, as peticionárias apresentaram uma segunda petição denunciando o homicídio das crianças Eduardo Rocha da Silva e Raimundo Nonato da Conceição Filho, em junho de 1997, novamente em Paço do Lumiar, Maranhão. 2. Com base nos fatos denunciados, as peticionárias alegaram que o Brasil violou os artigos I (Direito à Vida), VI (Direito à Constituição e Proteção à Família), VII (Direito de Proteção à Maternidade e à Infância) e XVIII (Direito à Justiça), da Declaração Americana sobre Direitos e Obrigações do Homem (doravante denominada “a Declaração”), e os artigos 4 (Direito à Vida), 8 (Garantias Judiciais), 19 (Direito à Proteção da Criança) e 25 (Direito à Proteção Judicial) da Convenção Americana sobre Direitos Humanos (doravante denominada “a Convenção”). 3. O Estado brasileiro respondeu a ambas as petições no sentido de que a Polícia Civil do Estado do Maranhão vinha adotando as providências cabíveis e que uma força tarefa da Polícia Federal havia sido designada para colaborar com as autoridades locais na agilização da persecução criminal dos fatos. 4. Em 15 de dezembro de 2005, as peticionárias e o Brasil assinaram um acordo de solução amistosa no qual o Estado reconheceu a responsabilidade internacional nos casos em comento e estabeleceu uma série de compromissos relacionados ao julgamento e punição dos responsáveis pelo homicídio e emasculação de crianças no Estado do Maranhão, medidas de reparação pecuniária aos seus familiares e medidas de prevenção à violência sexual contra crianças e adolescentes. O mencionado acordo abrange os casos 12.426 (Raniê Silva Cruz) e 12.427 (Eduardo Rocha Silva e Raimundo Nonato da Conceição), em tramitação na Comissão Interamericana, bem como o homicídio e mutilação de outras 27 crianças mortas em circunstâncias similares entre 1992 e 2002 em São Luis do Maranhão. 5. No presente relatório de solução amistosa, e conforme o estipulado no artigo 49 da Convenção e o artigo 41(5) do Regulamento da Comissão, a CIDH apresenta um resumo dos fatos alegados pelas peticionárias, indica a solução amistosa alcançada e decide pela publicação do relatório. II. TRÂMITE PERANTE A COMISSÃO 6. A primeira denúncia foi recebida pela Comissão no dia 27 de julho de 2001 e encaminhada ao Estado em 6 de setembro do mesmo ano, dando origem ao caso 12.426 (Raniê Silva Cruz). A segunda denúncia foi recebida aos 31 de outubro de 2001 e encaminhada ao Estado em 27 de novembro do mesmo ano, dando origem ao caso 12.427 (Eduardo Rocha Silva e Raimundo Nonato da Conceição). 7. No curso da tramitação dos dois casos perante a Comissão, as peticionárias enviaram notas sobre o assassinato e emasculação de outras crianças no Estado do Maranhão. Em atenção a estas notas, a Comissão notificou o Estado para que prestasse informações sobre as providências adotadas. 8. A CIDH convocou audiências e reuniões de trabalho sobre os casos, celebradas em distintas oportunidades na sede da Comissão. Em 1 de março de 2004 iniciou-se um procedimento formal de solução amistosa e, após várias reuniões, as partes firmaram umacordo final na cidade de São Luis do Maranhão no dia 15 de dezembro de 2005, cujos termos estão doravante detalhados. O acordo foi assinado em ato público, por altas autoridades do Governo Federal do Brasil e do Governo do Estado do Maranhão, por representantes dos peticionários e representantes da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, na presença dos familiares das vítimas. III. OS FATOS 9. Em ambas as denúncias as peticionárias alegaram que o Estado brasileiro violou suas obrigações à luz da Convenção Americana sobre Direitos Humanos e da Declaração Americana, por não adotar medidas eficazes para conter as práticas de tortura e homicídio de diversas crianças no Estado do Maranhão e pela omissão na investigação dos fatos. 10. As peticionárias relataram, especificamente, o desaparecimento das crianças Raniê Silva Cruz, Eduardo Rocha da Silva e Raimundo Nonato da Conceição Filho, na cidade de Paço do Lumiar, sendo seus corpos encontrados com marcas de tortura e emasculação nos órgãos genitais. Alegaram que houve um atraso injustificado por parte das autoridades locais na busca pelas crianças e que os inquéritos policiais sobre a responsabilidade pelos crimes foram demasiado morosos e ineficazes. Destacaram que tal fato se deveu à imperícia da polícia do Estado do Maranhão e à omissão da Polícia Federal ao intervir de forma extemporânea nas investigações. 11. As peticionárias alegaram que os dois casos denunciados são parte de um repertório de casos de crianças mutiladas e assassinadas no Estado do Maranhão, divulgados pela imprensa brasileira como “Caso dos Meninos Emasculados do Maranhão”. Salientaram que somente em abril de 2003, doze anos após o primeiro crime, designou-se uma Força Tarefa composta por autoridades da Policia Civil, Polícia Federal e Ministério Público para investigar os fatos. Em março de 2004, a Força Tarefa apresentou o provável autor dos crimes, o qual confessou ter assassinado 30 crianças em São Luis do Maranhão e outras 12 em Altamira, no Estado do Pará. 12. Com relação ao fenômeno em geral, as peticionárias destacaram que os índices de desenvolvimento humano no Estado do Maranhão são significativamente baixos, notadamente entre a população infanto-juvenil, a qual se encontra sujeita a um universo de problemas como exploração do trabalho infantil, altos índices de evasão escolar e elevada taxa de analfabetismo. Aduziram que a população de crianças e adolescentes da região da Grande São Luis (capital do Estado do Maranhão) se encontra privada dos seus direitos básicos relativos à educação, saúde, moradia, lazer e alimentação. 13. Por derradeiro, face à resposta do Estado brasileiro em relação ao andamento das investigações, as peticionárias questionaram as medidas concretas para identificar os responsáveis pelos crimes, prevenir a ocorrência de novos assassinatos de crianças, reparar os familiares das vítimas e melhorar as condições de vida das crianças e adolescentes no Estado do Maranhão. IV. SOLUÇÃO AMISTOSA ALCANÇADA 14. O acordo de solução amistosa assinado entre ambas as partes em 15 de dezembro de 2005 contempla o seguinte: 1. O Estado brasileiro, por meio da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República e do Governo do Estado do Maranhão, e os peticionários, representados pelas organizações não- governamentais Justiça Global e Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente Padre Marcos Passerini, celebram o presente Acordo de Solução Amistosa, com vistas ao encerramento dos casos nº 12.426 e nº 12. 427, em tramitação perante a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (CIDH/OEA). 2. Os casos nº 12.426 (Raniê Silva Cruz) e nº 12.427 (Eduardo Rocha da Silva e Raimundo Nonato da Conceição) referem-se a meninos emasculados e mortos na região da Grande São Luís, Estado do Maranhão. O presente Acordo abrange os referidos casos em tramitação perante a CIDH e outros meninos emasculados, conforme lista homologada em reunião conjunta do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos e Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente do Maranhão, realizada no dia 03 de novembro de 2005. 3. O presente Acordo de Solução Amistosa visa à reparação dos danos causados aos familiares dos meninos Raniê Silva Cruz, Eduardo Rocha da Silva e Raimundo Nonato da Conceição, bem como de Alexandre de Lemos Pereira, Antônio Reis Silva, Bernardo da Silva Modesto, Bernardo Rodrigues Costa, Carlos Wagner dos Santos Sousa, Daniel Ferreira Ribeiro, Diego Gomes Araújo, Edivan Pinto Lobato, Evanilson Castanhede Costa, Hermógenes Colares, Ivanildo Povoas Ferreira, Jailson Alves Viana, Jonnathan Silva Vieira, Josemar de Jesus Batista, Julio César Pereira Melo, Laércio Silva Martins, Nerivaldo dos Santos Pereira, Nonato Alves da Silva, Rafael Carvalho Carneiro, Raimundo Luiz Sousa Cordeiro, Welson Frazão Serra, Alexandre dos Santos Gonçalves, Sebastião Ribeiro Borges, Jondelvanes Macedo Escócio, Emanuel Diego de Jesus Silva, doravante denominados famílias beneficiárias, em virtude das violações sofridas, com vistas ao encerramento dos casos nº 12.426 e nº 12. 427 mediante o cumprimento integral dos termos deste Acordo. I. Reconhecimento de Responsabilidade 4. O Estado brasileiro reconhece sua responsabilidade internacional com relação aos casos nº 12.426 e nº 12. 427 nos seguintes termos: o Estado do Maranhão reconhece a insuficiência de resultados positivos de anteriores linhas de investigação em comparação com o atual estado de apuração, admitindo equívocos e dificuldades na necessária solução imediata dos casos, pelas deficiências estruturais do sistema de segurança até então existentes, a complexidade dos fatos e seu modus operandi, além da própria geografia dos crimes e impropriedade técnica de alguns procedimentos investigatórios, o que demanda especial esforço para a responsabilização dos agentes vitimizadores e para a prevenção de circunstâncias de vulnerabilidade de crianças e adolescentes. 5. O reconhecimento público da responsabilidade do Estado brasileiro em relação à violação de direitos humanos acima mencionada dar-se-á em cerimônia pública, na cidade de São Luís, Maranhão, por ocasião da inauguração do Complexo Integrado de Proteção à Criança e ao Adolescente, em 15 de dezembro de 2005, com a presença de autoridades federais, estaduais, dos peticionários e das famílias beneficiárias. II. Julgamento e Punição dos responsáveis 6. O Estado brasileiro compromete-se a apurar a responsabilização do réu confesso hoje preso, dentro do marco do devido processo legal e do respeito aos direitos humanos, e assume o compromisso de persistir em eventuais investigações e sanção de outros possíveis responsáveis. III. Medidas de Reparação III.1 Da reparação simbólica 7. O Estado do Maranhão instalará placa em homenagem simbólica às crianças vitimadas no Complexo Integrado de Proteção à Criança e ao Adolescente, a ser inaugurado durante cerimônia pública de reconhecimento de responsabilidade descrita no item 5. III.2 Das reparações materiais 8. A União Federal, por meio do Ministério das Cidades, e o Estado do Maranhão, por meio da Secretaria das Cidades, incluirão as famílias beneficiárias, no prazo de 12 (doze) meses, nos programas de Habitação de Interesse Social, sob gestão do Ministério das Cidades, de forma não onerosa, nas áreas de suas presentes residências; 8.1 Na impossibilidade de manutenção das famílias nas áreas das presentes residências, em respeito ao princípio da isonomia entre as famílias beneficiárias, os moradores receberão condições habitacionais equivalentes, em consulta a cada família nesta situação. 8.2 Para efeitos de inclusão das famílias beneficiárias nos referidos programas, e em referência a eventuais condicionamentos técnicos pré-existentes, não será considerada a pensão especial a ser concedida às famílias beneficiárias pelo Estado do Maranhão conforme cláusula 10 deste Acordo.9. A União Federal, por meio do Ministério do Desenvolvimento Social, e o Estado do Maranhão, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Social, incluirão as famílias beneficiárias em seus respectivos programas sociais, inclusive em seus programas de transferência de renda, de acordo com os critérios de elegibilidade específicos de cada programa. 9.1 Com vistas à inclusão das famílias beneficiárias nos referidos programas, não será considerada, para efeitos de renda, a pensão especial a ser concedida às famílias beneficiárias pelo Estado do Maranhão conforme cláusula 10 deste Acordo. 10. O Estado do Maranhão, mediante autorização legislativa, realizará pagamento de pensão especial mensal, de cunho indenizatório, no valor de R$ 500,00 (quinhentos reais) para cada uma das famílias beneficiárias, por um prazo de 15 (quinze) anos. 10.1. O reajuste desta pensão mensal será efetuado conforme índice de revisão dos servidores públicos estaduais. 11. O cumprimento integral das cláusulas de nº 8, 9 e 10 exime o Estado brasileiro, seja a União Federal ou o Estado do Maranhão, de efetuar qualquer outro ressarcimento às famílias beneficiárias pelo presente Acordo. 11.1 As famílias beneficiárias deverão assinar termo de adesão ao presente Acordo, por meio do qual se comprometem com a renúncia a seu direito de ação em face da União Federal e do Estado do Maranhão. Esta renúncia fica condicionada ao cumprimento integral das cláusulas de nº 8, 9 e 10. IV. Medidas de não-repetição 12. A União Federal compromete-se a incluir, ainda no ano de 2006, o Estado do Maranhão no Programa de Ações Integradas Referenciais de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes no Território brasileiro (PAIR), coordenado pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; em conjunto com o Ministério do Desenvolvimento Social, Ministério da Saúde, Ministério da Educação, Ministério dos Esportes; Ministério da Justiça, Ministério do Turismo; e em parceria com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), USAID e Partners of the America. 13. O Estado do Maranhão compromete-se a dar continuidade à implementação do Sistema Estadual de Enfrentamento à Violência Sexual contra a Criança e o Adolescente e do Sistema Interinstitucional de Ações Antidrogras – SIAD no âmbito do Estado do Maranhão, tal como definidos pelos respectivos decretos estaduais. 14. Com o objetivo de atender crianças e adolescentes vítimas de violência sexual, assim como suas famílias, o Estado do Maranhão, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Social, compromete-se a incluir, no prazo de 06 (seis) meses, os municípios de São José de Ribamar, Paço do Lumiar e Raposa no Programa Sentinela. 15. Tendo em vista a especialidade do atendimento aos casos de violência cometida contra criança e adolescente, o Estado do Maranhão, por meio da Secretaria de Estado de Segurança Pública, compromete-se a: 15.1 realizar, durante o prazo mínimo de 03 (três) anos, cursos de capacitação de policiais civis e militares para o atendimento a ocorrências de crimes que envolvam crianças e adolescentes; 15.2 incluir o tema violência contra crianças e adolescentes na grade curricular do Curso de Formação de Policiais Civis e Militares, concursados a partir de então; 15.3 regulamentar e adotar, no prazo de 06 (seis) meses, procedimentos especiais de atendimento às ocorrências que envolvam crianças e adolescentes vitimizados, de modo a evitar constrangimento no atendimento inicial às vitimas; 15.4 regulamentar o encaminhamento de ocorrências de maior complexidade que envolvam crianças e adolescentes registradas nas Delegacias da chamada Região da Grande São Luís à Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente – DPCA; 15.5 reestruturar e equipar a delegacia de polícia do município de Raposa-MA, de modo a propiciar o adequado atendimento às ocorrências envolvendo crianças e adolescentes vitimizados; 15.6 inaugurar e manter em funcionamento, com profissionais efetivos, o Centro de Perícias Oficiais em casos de violência sexual contra crianças e adolescentes. 16. Com vistas à melhoria do atendimento escolar destinado às crianças e adolescentes da Grande São Luís e à utilização do ambiente escolar para atividades desportivas e culturais, o Estado do Maranhão, por meio da Secretaria de Estado da Educação, compromete-se a: 16.1. viabilizar, a partir do mês de fevereiro de 2006, atividades desportivas e culturais nos finais de semana em todas as escolas da rede estadual de ensino existentes nos municípios da Região da Grande São Luís; 16.2. articular, com a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação-UNDIME, a viabilização de atividades desportivas e culturais nos finais de semana nas escolas da rede municipal de ensino dos municípios da Grande São Luís; 16.3. Construir, até o final do ano de 2006, uma Escola de ensino médio com pelo menos 06 (seis) salas, na área da Maiobinha, em Paço do Lumiar; e 16.4. Concluir, no prazo de 06 (seis) meses, a construção de uma escola de ensino médio, com 15 salas, e uma escola de ensino fundamental, com 12 salas, localizadas no bairro Cidade Operária, em São Luís. 17. Com o intuito de incrementar a assistência jurídica prestada pela Defensoria Pública, o Estado do Maranhão compromete-se ainda a reativar, no prazo de 06 (seis) meses, o núcleo de Paço do Lumiar, com a designação de defensor público concursado. V. Mecanismo de Seguimento 18. O Conselho Estadual de Direitos Humanos, o Conselho Estadual de Direitos da Criança e do Adolescente do Estado do Maranhão e representantes dos peticionários reunir-se-ão a cada 04 (quatro) meses, em sessão conjunta, para o monitoramento do cumprimento do presente Acordo. 19. O Estado brasileiro e os peticionários comprometem-se a encaminhar à CIDH, no ano de 2006, relatórios semestrais e posteriormente, relatórios anuais sobre o cumprimento dos termos do Acordo. 20. A CIDH facilitará audiências para receber informações e viabilizará os pedidos de visitas in situ, caso avalie necessário. 21. Por fim, as partes solicitam à CIDH a homologação do presente Acordo e a elaboração do respectivo Relatório de Solução Amistosa. V. DETERMINAÇÃO DE COMPATIBILIDADE E CUMPRIMENTO 15. A Comissão Interamericana reitera que, de acordo com os artigos 48(1)(f) e 49 da Convenção, este procedimento tem como finalidade “chegar a uma solução amistosa do assunto baseada no respeito aos direitos humanos reconhecidos na Convenção”. A aceitação de levar a cabo este trâmite expressa a boa-fé do Estado para cumprir com os propósitos e objetivos da Convenção em virtude do princípio pacta sunt servanda, pelo qual os Estados devem cumprir de boa-fé as obrigações assumidas nos tratados. Também deseja reiterar que o procedimento de solução amistosa contemplado na Convenção permite a conclusão dos casos individuais de forma não-contenciosa, e demonstra, em casos relativos a diversos países, um veículo importante de solução, que pode ser utilizado por ambas partes. 16. A Comissão Interamericana acompanhou de perto o desdobramento da solução amistosa alcançada no presente caso, e valoriza os esforços efetuados por ambas as partes para atingir esta solução. Considera que os termos do acordo antes transcritos são compatíveis com as obrigações advindas da Convenção Americana e, de tal forma, decide homologá-lo. A Comissão destaca que a inclusão, no presente acordo, de outros beneficiários que não foram mencionados nas petições originais é compatível com o objeto e finalidade da Convenção Americana e com o processo de solução amistosa. 17. Enfim, a Comissão ressalta a importância da participação das autoridades do Estado do Maranhão e do governo federal neste processo, e recorda que, nos Estados federais, as obrigações emergentes da Convenção alcançam tanto o governo federal quanto os governos estaduais. VI. CONCLUSÕES 18. Com base nas considerações precedentese em virtude do procedimento previsto nos artigos 48(1)(f) e 49 da Convenção Americana, a Comissão deseja reiterar seu profundo apreço pelos esforços realizados pelas partes e sua satisfação pela finalização do acordo de solução amistosa no presente caso baseado no objeto e na finalidade da Convenção Americana. 19. Em virtude das considerações e conclusões expostas neste relatório, A COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS, DECIDE: 1. Aprovar os termos do acordo de solução amistosa assinado pelas partes no dia 15 de dezembro de 2005. 2. Continuar com o seguimento e a supervisão dos pontos do acordo amistoso, cujo cumprimento ainda está pendente e, neste contexto, recordar as partes seu compromisso de informar a Comissão Interamericana sobre o cumprimento do presente acordo amistoso. 3. Publicar o presente relatório e incluí-lo em seu relatório anual à Assembléia Geral da OEA. Passado e assinado na sede da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, na cidade de Washington, D.C., aos 15 dias de março do ano de 2006. (Assinado): Evelio Fernández Arévalos, Presidente, Florentín Meléndez, Segundo Vicepresidente, Comissionados: Clare K. Roberts, Freddy Gutiérrez, Paolo G. Garozza, y Víctor E. Abramovich. 18. Corte Interamericana de Direitos Humanos. Competência e Importância. A Corte Interamericana de Direitos Humanos, sediada em São José da Costa Rica, é um órgão judicial internacional autônomo do sistema da OEA, criado pela Convenção Americana dos Direitos do Homem, que tem competência de caráter contencioso e consultivo. Trata-se de tribunal composto por sete juízes nacionais dos Estados- membros da OEA, eleitos a título pessoal dentre juristas da mais alta autoridade moral, de reconhecida competência em matéria de direitos humanos, que reúnam as condições requeridas para o exercício das mais elevadas funções judiciais, de acordo com a lei do Estado do qual sejam nacionais (art. 52 da Convenção Interamericana). A Corte Interamericana de Direitos Humanos tem competência para conhecer de qualquer caso relativo à interpretação e aplicação das disposições da Convenção Americana sobre Direitos humanos, desde que os Estados-Partes no caso tenham reconhecido a sua competência. Somente a Comissão Interamericana e os Estados Partes da Convenção Americana sobre Direitos Humanos podem submeter um caso à decisão desse Tribunal. No exercício de sua competência consultiva, a Corte Interamericana tem desenvolvido análises elucidativas a respeito do alcance e do impacto dos dispositivos da Convenção Americana, emitindo opiniões que têm facilitado a compreensão de aspectos substanciais da Convenção, contribuindo para a construção e evolução do Direito Internacional dos Direitos Humanos no âmbito da America Latina. No plano contencioso, sua competência para o julgamento de casos, limitada aos Estados Partes da Convenção que tenham expressamente reconhecido sua jurisdição, consiste na apreciação de questões envolvendo denúncia de violação, por qualquer Estado Parte, de direito protegido pela Convenção. Caso reconheça que efetivamente ocorreu a violação à Convenção, determinará a adoção de medidas que se façam necessárias à restauração do direito então violado, podendo condenar o Estado, inclusive, ao pagamento de uma justa compensação à vítima. Note-se que, diversamente do sistema europeu, não é reconhecido o direito postulatório das supostas vítimas, seus familiares ou organizações não-governamentais diante da Corte Interamericana. Somente a Comissão e os Estados-parte da OEA têm legitimidade para a apresentação de demandas ante Corte. Desse modo, qualquer indivíduo que pretenda submeter denúncia à apreciação da Corte, deve, necessariamente, apresentá-la à Comissão Interamericana. A partir do ano de 1996, todavia, inovação trazida pelo III Regulamento da Corte Interamericana de Direitos Humanos ampliou a possibilidade de participação do indivíduo no processo, autorizando que os representantes ou familiares das vítimas apresentassem, de forma autônoma, suas próprias alegações e provas durante a etapa de discussão sobre as reparações devidas. Além disso, hoje, com as alterações trazidas pelo IV Regulamento, também é possível que as vítimas, seus representantes e familiares não só ofereçam suas próprias peças de argumentação e provas em todas as etapas do procedimento, como também fazer uso da palavra durante as audiências públicas celebradas, ostentando, assim, a condição de verdadeiras partes no processo. Com diversos casos pelas américas ficou famoso o do Jose Pereira, um marco para a defesa dos direitos humanos no Brasil, visto que pela primeira vez o Estado brasileiro assumiu, perante o sistema interamericano de proteção aos direitos humanos, ser responsável por atos praticados por particulares. Em 1989, quando da tentativa de fuga da Fazenda Espírito Santo, no Estado do Pará, José Pereira, à época com 17 anos, foi gravemente ferido, sofrendo lesões permanentes na mão e no olho direito, e outro trabalhador rural foi morto. O jovem fora atraído por falsas promessas acerca das condições de trabalho, mas restou por trabalhar forçadamente, sem liberdade para sair e sob condições desumanas e ilegais, situação está que também afligia outros 60 trabalhadores rurais da fazenda. O caso foi objeto de petição apresentada pelo CEJIL e pela Comissão Pastoral da Terra perante a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, em face da República Federativa do Brasil, no ano de 1994. Em setembro de 2003 as peticionárias e o Estado subscreveram um acordo de solução amistosa, o primeiro acordo desta natureza celebrado pelo país no sistema interamericano de proteção dos direitos humanos, em que o Estado brasileiro, conforme supramencionado, reconheceu sua responsabilidade internacional pela violação de direitos humanos protegidos pela normativa Interamericana. O acordo firmado entre as partes foi homologado pela CIDH em 24 de outubro de 2003. A Comissão permanece supervisionando os pontos do acordo amistoso cujo cumprimento ainda se encontra pendente.
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