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Direitos Humanos
 
Profa. Regina Celia Martinez
 
Direito do homem = direito à vida; é inerente.
 
Direitos humanos = direitos do homem positivados na
esfera internacional em tratados ou convenções que é
muito amplo; visa a proteção da pessoa humana.
 
Direitos fundamentais = são os direitos humanos
positivados na CF de um estado. Estão incorporados
dentro do ordenamento de um Estado.
Historicidade: os direitos humanos surgiram ao longo do
tempo e não de uma única vez.
 
Os Direitos Humanos são um conjunto de direitos,
positivados ou não, cuja finalidade é assegurar o
respeito à dignidade da pessoa humana, por meio da
limitação do arbítrio estatal e do estabelecimento da
igualdade nos pontos de partida dos indivíduos, em um
dado momento histórico.
 
Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH)
Esse documento não tem caráter vinculante, ou seja, não
tem natureza jurídica de um tratado internacional porque
foi feita através de uma resolução. Essa resolução é
dividida em direitos civis e políticos (primeira geração) e
outra estrutura que é de segunda geração direitos sociais,
econômicos e culturais.
 
Os Direitos Humanos possuem, entre outras
características: universalidade; indisponibilidade,
inalienabilidade e irrenunciabilidade; imprescritibilidade;
indivisibilidade, interdependência e complementaridade;
historicidade e proibição do retrocesso; aplicabilidade
imediata e caráter declaratório (3.6).
 
Universalidade
 
Tal princípio foi consagrado no art. 1º da Declaração
Universal dos Direitos Humanos de
1948 . Nesta Declaração fica estabelecido que todos os
seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e
direitos. Os direitos humanos são pra todos e válidas
para qualquer Estado;
Uma característica que decorre diretamente da
universalidade é a inerência. Por ela, temos que não é
preciso depender de concessões dos Estados ou de
qualquer ente público ou privado para que sejam
assegurados os direitos e garantias fundamentais.
Irrenunciáveis
 
Os direitos humanos são irrenunciáveis. Direito à sua vida
privada, à sua vida privada. Eu não renuncio ao direito eu
apenas deixo de exercer (caso do BBB).
 
Direito ao Asilo
 
Indivíduo vítima de perseguição pode pedir a outro Estado
soberano proteção. Esse direito é previsto na DUDH e não
poderá ser invocado quando da violação de
 
Direito Comum por esse indivíduo.
 
Princípio da Dignidade da Pessoa Humana = é o mínimo
que um indivíduo precisa ter para a sua existência.
A DUDH foi aprovada por 48 Estados à exceção de 8 :
Bielo Russia, URSS, tchecoslováquia, etc
A Constituição de Weimar foi o marco do movimento
constitucionalista que consagrou
direitos sociais, de 2ª geração/dimensão e reorganizou o
Estado em função da Sociedade e não mais do indivíduo.
Tribunal de Nuremberg - acordo firmado em Londres
pelos países aliados ( Inglaterra,
França, USA e URSS) com a intenção de julgar os crimes
de guerra no ambito do direito internacional. Foram 13
julgamentos entre 1945 e 49.
- intenção de legitimar o julgamento dos acusados pelas
atrocidades, afastando a possibilidade de impunidade.
Honrou-se um verdadeiro pedido da humanidade por
justiça. Três categorias de crimes pelas quais os acusados
seriam julgados: crimes contra a paz (planejamento e
engajamento em atividades de guerra que descumprissem
acordos internacionais), crimes de guerra (como
tratamento impróprio a civis e prisioneiros de guerra) e
crimes contra a humanidade (assassinato, escravização,
deportação e perseguição a civis com base em motivos
políticos, religiosos ou raciais). Ficou ainda decidido que
tanto militares quanto civis poderiam ser acusados de tais
crimes.
Foram 24 indiciados, dos quais um não foi a julgamento
por motivos de saúde e outro por ter cometido suicídio
antes do início do mesmo. O principal argumento utilizado
pelos advogados de defesa foi o de que os crimes de que
os réus estavam sendo acusados não eram ainda
considerados crimes quando aconteceram, o que é
chamado de juízo ex post facto. Dos 22 réus, 3 foram
absolvidos; 12 condenados à morte; 3 condenados à prisão
perpétua; e 4 condenados a cumprir entre 10 e 20 anos de
prisão.
 
A partir do tribunal surgiu o crime do genocídio, essa
concepção de crime contra humanidade não existia
antes.
 
Campo de concentração: ausência de um caráter utilitário
dos campos de concentração. Os Judeus eram a maior
parte da mão de obra da Alemanha.
 
 
DIREITOS HUMANOS E O ORDENAMENTO
JURÍDICO
 
contexto de Estado liberal, a Revolução Americana
foi a primeira a tratar de direitos
humanos na famosa Declaração da Virgínia (1776)
 
 
QUESTIONÁRIO (ORIENTAÇÃO DE ESTUDOS) DIREITOS HUMANOS
Prof.ª Dra. Regina Célia Martinez
DIREITOS HUMANOS E DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
1. Conceitue direitos humanos e dignidade da pessoa humana.
Os Direitos Humanos Fundamentais colocam-se como uma das previsões
absolutamente necessárias a todas as Constituições, no sentido de consagrar o respeito à
dignidade humana, garantir a limitação do poder e visar o pleno desenvolvimento da
personalidade humana. Podem ser definidos como os princípios jurídica e positivamente
vigentes em uma ordem constitucional que traduzem a concepção de dignidade humana
de uma sociedade e que legitimam o sistema jurídico estatal; são, portanto, direitos
indispensáveis à condição humana.
A dignidade é um valor essencial e intrínseco ao ser humano e o seu respeito é
uma forma extrínseca de reconhecimento a esse direito. Acresce-se à sua integridade
física e psíquica, o respeito ao seu pensamento, comportamento, imagem, intimidade,
consciência e ações.
São exemplos de direitos humanos: direito à vida - sadia qualidade de vida; direito
à saúde; direito ao lazer; direito ao trabalho, entre outros.
 
2. O que você entende por Direitos do homem, direitos humanos, direitos
fundamentais e cidadania? Explicar e exemplificar.
Os direitos humanos consistem em um conjunto de direitos considerados
indispensáveis para uma vida humana, pautado na liberdade, igualdade e dignidade. Os
direitos humanos são os direitos essenciais e fundamentais. Exemplos: direito à vida,
direito ao lazer.
 
3. Fundamentos dos Direitos Humanos: teoria jus naturalista, teoria positivista e
teoria moralista.
 
EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS HUMANOS
4. Escreva sobre os direitos humanos na Antiguidade, idade Média e Moderna.
 
5. Comentar destacando a importância da Declaração de Direitos do Homem e do
Cidadão (França, 1789).
A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão é um documento culminante
da Revolução Francesa, que define os direitos individuais e coletivos dos homens
(tomada a palavra na acepção de "seres humanos") como universais. Influenciada pela
doutrina dos "direitos naturais", os direitos dos homens são tidos como universais:
válidos e exigíveis a qualquer tempo e em qualquer lugar, pois permitem à própria
natureza humana. Na imagem da Declaração, o "Olho da Providência" brilhando no
topo representa uma homologação divina às normas ali presentes, mas também alimenta
teorias da conspiração no sentido de que a Revolução Francesa foi motivada por grupos
ocultos.
Inspirada nos pensamentos dos iluministas, bem como na Revolução Americana
(1776), a Assembléia Nacional Constituinte da França revolucionária aprovou em 26 de
agosto de 1789 e votou definitivamente a 2 de outubro a Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão, sintetizado em dezessete artigos e um preâmbulo dos ideais
libertários e liberais da primeira fase da Revolução Francesa (1789-1799). Pela
primeira vez são proclamados as liberdades e os direitos fundamentais do homem de
forma econômica, visando abarcar toda a humanidade. Ela foi reformulada no contexto
do processo revolucionário numa segunda versão, de 1793. Serviu de inspiração para as
constituições francesas de 1848 (Segunda República Francesa) e para a atual, e também
foi a base da Declaração Universal dos Direitos Humanos, promulgada pelas Nações
Unidas.
 
6. Escreva sobre o conteúdo e a importância do Tribunal de Nuremberg.
Foi a formação inédita de um tribunal militarinternacional para julgar o alto
escalão nazista por crimes de guerra e contra a humanidade durante a 2 guerra mundial.
Os procedimentos duraram 315 dias de novembro 1945 a outubro 1946 e
aconteceram no Palácio da Alemanha. Pode-se dizer que dois motivos levaram à
escolha de Nuremberg, no estado da Bavária, para a realização dos julgamentos.
Anualmente, durante o Terceiro Reich, comícios e passeatas de Propaganda Nazista
eram realizados na cidade. Assim, a instalação do Tribunal tinha um caráter simbólico
de marcar o fim do nazismo e as consequências das políticas adotadas pelo Partido
Nacional-socialista e seus adeptos.
As leis e procedimentos a serem adotados em Nuremberg foram estabelecidas
pelos aliados na carta de Londres, lançada em 8 agosto de 1945.
1 - Crimes contra a paz: planejamento e engajamento em atividades de guerra que
descumprissem acordos internacionais.
2 - Crimes de guerra: como tratamento impróprio a civis e prisioneiros de guerra.
3 - Crimes contra a humanidade: assassinato, escravização, deportação e
perseguição a civis com base em motivos políticos, religiosos ou raciais.
O argumento da defesa era que os crimes que estavam sendo acusados não eram
ainda considerados crimes quando aconteceram, chamados ex post facto.
Dos 22 réus ,3 foram absolvidos, 12 condenados a morte, 3 a prisão perpetua ,4
penas de 10 a 20 anos de prisão. As execuções ocorreram em 16 de outubro de 1946.
Polêmicos na época, os julgamentos de Nuremberg são hoje compreendidos como
um marco no direito internacional e no estabelecimento de uma Corte Internacional
permanente. Desde de 1946 existe, no âmbito da Organização das Nações Unidas
(ONU), a Corte Internacional de Justiça (também conhecida como Corte de Haia ou
Tribunal de Haia), que tem por função julgar Estados. Em 2002, criou-se a Corte Penal
Internacional (ou Tribunal Penal Internacional), que, como os julgamentos de
Nuremberg, tem como objetivo julgar indivíduos por crimes de guerra, crimes contra a
humanidade, genocídio e os crimes de agressão.
 
CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS
 
7. Classificar as gerações (dimensões) dos direitos humanos, exemplificando.
Cada dimensão representa a evolução da sociedade.
1. Dimensão rep. civis e político:
• Liberdades públicas 
• Direito a vida, direito de ir e vir, não poderá o Estado impor o que devemos fazer.
• Associação de voto
 * Independência dos EUA, revolução Francesa, paz de Westfália, Bill of Rights, habeas
corpus.
 
 2. Dimensão, sociais, culturais e econômicas:
• Direito de igualdade 
• Exigir atuação positiva
• Direito ao trabalho de proteção contra despedida arbitrária, repouso remunerado,
acesso à educação, saúde pública, etc.
* Movimento cartista, movimento coluna em Paris; 
 
 
 3. Dimensão: Difusos coletivo
• Direitos ambientais 
• Direito do consumidor 
• Direito a paz
*Surgimento da robótica, viagens espaciais, fim da 2 guerra mundial;
 
 
 4. Dimensão: Norberto Bobbio 
• Pesquisas biológicas e patrimônio genético
• Democracia, direito à informação e o pluralismo político.
• Direitos da minoria
• Direito a ter direito, atribuído homossexuais, crianças, idosos, deficientes, índios e
outros. 
* 11 de setembro, lei de bio segurança.
 
 5. Dimensão 
• Direito a paz permanente. 
8. O que você entende por direitos e garantia fundamentais? Comentar e
exemplificar.
Direito é o justo para todos, fundamental é a base, o mínimo que o ser-humano
precisa para sobreviver e ter uma vida digna.
Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade
Partindo do artigo 5° da constituição, onde prega os direitos fundamentais,
qualquer ser-humano tem o direito garantido a liberdade, a vida, a igualdade, a
segurança, o lazer, etc.
Exemplo: todos temos o direito a segurança, o direito de ir e vir, de se sentir
seguro dentro de casa, de não sofrer qualquer tipo de agressão física ou moral.
 
CARACTERISTICAS DOS DIREITOS HUMANOS
 
9. Escrever, comentar e exemplificar as características dos direitos humanos.
1. Universalidade; 2. Indivisibilidade; 3. Interdependência; 4.
Interrelacionaridade; 5. Imprescritibilidade; 6. Inalienabilidade; 7. Historicidade; 8.
Irrenunciabilidade; 9. Vedação ao Retrocesso; 10. Efetividade; 11. Limitabilidade; 12.
Inviolabilidade; 13. Complementariedade; 14. Concorrência e 15. Aplicabilidade
Imediata. 
 
 Os Direitos humanos são os direitos fundamentais, surgindo a muito tempo,
conforme a evolução da sociedade. Os direitos humanos são universais para todos seres
humanos é um direito essencial, um direito não alienável, com exceção do direito à
propriedade, visando a proteção da pessoa humana. Toda sociedade tem um rol
determinado de condições e direitos. Podem ser ampliados expandidos e a qualquer
tempo surgir novos direitos. São também inerentes ao ser humano, tendo por base
valores supremos do homem e sua dignidade, tais direitos não se perdem com o tempo,
não pode haver renúncia e nem violados, sujeitos a pena de responsabilidade civil, penal
e criminal. 
 A administração pública cria mecanismo para sua efetivação, não são absolutos,
sofrendo restrições, e são observados de forma conjunta. Liberdade de informação,
comunicação e opinião estão agregados a tais direitos, e jamais podem ser reduzidos. 
 Todavia os Direitos Humanos visam garantir o respeito e seu direito a vida, a
liberdade, igualdade e dignidade, e seu pleno desenvolvimento. 
 
 
 
 
 
DIREITOS HUMANOS NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO
10. Direitos humanos na Constituição Federal (Destaque para Preâmbulo, art. 1°,
3°, 4°, 5° a 17 da Constituição Federal).
 
11. Dissertação. Direitos Humanos no Ordenamento Jurídico Brasileiro. Teoria e
prática.
 
TRATADOS INTERNACIONAIS SOBRE DIREITOS HUMANOS
12. Dissertação. Tratados Internacionais sobre Direitos Humanos. Teoria e prática.
 
SISTEMA GLOBAL DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS
 
13. Dissertação. Sistema global de proteção dos direitos humanos. Teoria e prática.
 
TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL
14. Dissertação. Tribunal Penal internacional.
 
SISTEMA INTERAMERICANO DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS
15. Dissertação. Sistema Interamericano de proteção dos direitos humanos.
 
16 Escreva sobre a Convenção Interamericana de Direitos Humanos (Pacto de São
José da Costa Rica, 1969).
- A Convenção Americana de Direitos Humanos, popularmente conhecida
como Pacto de São José da Costa Rica é um tratado celebrado pelos integrantes
da Organização de Estados Americanos (OEA), adotada e aberta à assinatura durante a
Conferência Especializada Interamericana sobre Direitos Humanos. O documento tem
um total de 81 artigos, incluindo as disposições transitórias, e tem como objetivo
estabelecer os direitos fundamentais da pessoa humana, como o direito à vida, à
liberdade, à dignidade, à integridade pessoal e moral, à educação, entre outros similares.
A convenção proíbe ainda a escravidão e a servidão humana, o objetivo da constituição
deste tratado internacional é a busca da consolidação entre os países americanos de um
regime de liberdade pessoal e de justiça social, fundado no respeito aos direitos
humanos essenciais.
Considerando que a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São
José da Costa Rica) entrou em vigor, para o Brasil, em 25 de setembro de 1992, de
conformidade com o disposto no segundo parágrafo de seu art. 74;
DECRETA:
Art. 1° A Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da
Costa Rica), celebrada em São José da Costa Rica, em 22 de novembro de 1969, apensa
por cópia ao presente decreto, deverá ser cumprida tão inteiramente como nela se
contém.
Art. 2° Ao depositar a carta de adesão a esse ato internacional, em 25 de setembro
de 1992, o Governo brasileiro fez a seguinte declaração interpretativa: "O Governo do
Brasil entende que os arts. 43 e 48, alínea d, não incluemo direito automático de visitas
e inspeções in loco da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, as quais
dependerão da anuência expressa do Estado".
 Art. 3° O presente decreto entra em vigor na data de sua publicação.
 
17. Qual a importância da Comissão Interamericana de Direitos humanos?
Comentar e exemplificar.
R. Comissão Interamericana de Direitos Humanos Criada em 1959 como órgão
especializado na promoção e proteção de direitos humanos no âmbito da OEA. Pela
proposta aprovada, a Comissão funcionária provisoriamente até a adoção de uma
“Convenção Interamericana de Direitos Humanos.” Após a edição do Protocolo de
Buenos Aires em 1967 (entrou em vigor em 1970), como emenda da Carta da OEA, que
a Comissão passaria a ser órgão Principal da própria Organização dos Estados
Americanos, superando a debilidade inicial de ter sido criada por mera resolução
adotada em reunião de Ministros. Assim, a Comissão incorporou-se à estrutura
permanente da OEA, tendo os Estados a obrigação de responder aos seus pedidos de
informação, bem como cumprir, em boa-fé, com suas recomendações, pois essas eram
fundadas na própria Carta da
OEA, agora reformada.
A Comissão é composta de sete comissários, que são pessoas de alta autoridade moral e
notório saber na área de direitos humanos, indicados por Estados da OEA e eleitos em
escrutínio secreto pela Assembleia da organização, para mandato de quatro anos, com a
possibilidade de uma recondução. 
Incumbe à Comissão Interamericana de Direitos Humanos a tarefa principal de
responsabilização dos Estados por descumprimento dos direitos civis e políticos
expressos na Carta e na Declaração Americana.
A partir da entrada em vigor a Convenção Americana de Direitos Humanos em São
José, Costa Rica, em 1969, a Comissão passou a ter papel dúplice. Em primeiro lugar,
continuou a ser um órgão principal da OEA, encarregado de zelar pelos direitos
humanos, incumbido até do processamento de petições individuais retratando violações
de direitos humanos protegidos pela Carta da OEA e pela Declaração Americana.
Em segundo lugar, a Comissão passou a ser também órgão da Convenção Americana de
Direitos Humanos, analisando petições individuais e interpondo ação de
responsabilidade internacional contra um Estado perante a Corte. Caso o Estado não
tenha ratificado ainda a Convenção (como os Estados Unidos) ou caso tenha ratificado,
mas não tenha reconhecido a jurisdição obrigatória da Corte, a Comissão, pode apenas
acionar a Assembleia Geral da OEA.
• De acordo com as competências previstas na Carta da OEA e estatuto
da Comissão
– promover estudos e capacitação em direitos humanos;
– criar relatorias especiais de direitos humanos em temas ou países;
– receber petições de vítimas de violação de direitos humanos e
recomendar reparação;
• De acordo com as competências previstas na Convenção Americana
de Direitos Humanos;
– receber petições de vítimas, recomendar reparação de danos aos
Estados e, caso (i) não cumprida a reparação e (ii) caso o Estado
infrator tenha reconhecido a jurisdição da Corte IDH, encaminhar o
caso à Corte;
– solicitar opiniões consultivas;
– atuar nos processos perante a Corte IDH como custos legis.
 
Exemplo de medidas Cautelares da Comissão:
Em março de 2011, a Comissão adotou medida cautelar requerendo a suspensão da
construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, a principal obra de fornecimento de
energia do Brasil nos últimos anos, por ofensa a diversos direitos dos povos indígenas.
Após veemente recusa do Estado brasileiro em cumprir tal deliberação, a Comissão
modificou sua
posição e decidiu que a obra poderia continuar desde que fossem tomadas cautelas na
preservação dos direitos até deliberação final da Comissão. O episódio mostrou que a
ausência de previsão expressa das medidas cautelares da Comissão na Convenção
Americana de Direitos Humanos faz com que os Estados Partes da
Convenção não aceitem sua força vinculante. Por outro lado, a Comissão pode requerer
medidas provisórias à Corte IDH, que possuem – de modo expresso – previsão na
Convenção.
 
Exemplo de Conciliação perante a Comissão
O primeiro caso brasileiro que foi objeto de
conciliação foi o Caso dos Meninos Emasculados do Maranhão em 2005.
RELATÓRIO Nº 43/06
CASOS 12.426 e 12.427
SOLUÇÃO AMISTOSA
MENINOS EMASCULADOS DO MARANHÃO
BRASIL
15 de março de 2006
​
 
I. ​RESUMO
 
1. ​Em 27 de julho de 2001, as organizações não-governamentais Centro
de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente Padre Marcos Passerini e o Centro
de Justiça Global (CJG) apresentaram uma petição à Comissão Interamericana de
Direitos Humanos (doravante denominada “Comissão” ou “Comissão Interamericana”),
contra a República Federativa do Brasil (doravante denominada “Estado”, “Brasil”, ou
“Estado brasileiro”), na qual denunciaram o homicídio da criança Raniê Silva Cruz em
setembro de 1991, no Município de Paço do Lumiar, Estado do Maranhão. Em 31 de
outubro de 2001, as peticionárias apresentaram uma segunda petição denunciando o
homicídio das crianças Eduardo Rocha da Silva e Raimundo Nonato da Conceição
Filho, em junho de 1997, novamente em Paço do Lumiar, Maranhão.
 
2. ​Com base nos fatos denunciados, as peticionárias alegaram que o Brasil
violou os artigos I (Direito à Vida), VI (Direito à Constituição e Proteção à Família),
VII (Direito de Proteção à Maternidade e à Infância) e XVIII (Direito à Justiça), da
Declaração Americana sobre Direitos e Obrigações do Homem (doravante denominada
“a Declaração”), e os artigos 4 (Direito à Vida), 8 (Garantias Judiciais), 19 (Direito à
Proteção da Criança) e 25 (Direito à Proteção Judicial) da Convenção Americana sobre
Direitos Humanos (doravante denominada “a Convenção”).
 
3. ​O Estado brasileiro respondeu a ambas as petições no sentido de que a
Polícia Civil do Estado do Maranhão vinha adotando as providências cabíveis e que
uma força tarefa da Polícia Federal havia sido designada para colaborar com as
autoridades locais na agilização da persecução criminal dos fatos.
 
​4. ​Em 15 de dezembro de 2005, as peticionárias e o Brasil assinaram um
acordo de solução amistosa no qual o Estado reconheceu a responsabilidade
internacional nos casos em comento e estabeleceu uma série de compromissos
relacionados ao julgamento e punição dos responsáveis pelo homicídio e emasculação
de crianças no Estado do Maranhão, medidas de reparação pecuniária aos seus
familiares e medidas de prevenção à violência sexual contra crianças e adolescentes. O
mencionado acordo abrange os casos 12.426 (Raniê Silva Cruz) e 12.427 (Eduardo
Rocha Silva e Raimundo Nonato da Conceição), em tramitação na Comissão
Interamericana, bem como o homicídio e mutilação de outras 27 crianças mortas em
circunstâncias similares entre 1992 e 2002 em São Luis do Maranhão.
 
​5. ​No presente relatório de solução amistosa, e conforme o estipulado no
artigo 49 da Convenção e o artigo 41(5) do Regulamento da Comissão, a CIDH
apresenta um resumo dos fatos alegados pelas peticionárias, indica a solução amistosa
alcançada e decide pela publicação do relatório.
 
II. ​TRÂMITE PERANTE A COMISSÃO
 
6. ​A primeira denúncia foi recebida pela Comissão no dia 27 de julho de
2001 e encaminhada ao Estado em 6 de setembro do mesmo ano, dando origem ao caso
12.426 (Raniê Silva Cruz). A segunda denúncia foi recebida aos 31 de outubro de 2001
e encaminhada ao Estado em 27 de novembro do mesmo ano, dando origem ao caso
12.427 (Eduardo Rocha Silva e Raimundo Nonato da Conceição).
 
7. ​No curso da tramitação dos dois casos perante a Comissão, as
peticionárias enviaram notas sobre o assassinato e emasculação de outras crianças no
Estado do Maranhão. Em atenção a estas notas, a Comissão notificou o Estado para que
prestasse informações sobre as providências adotadas.
 
8. ​A CIDH convocou audiências e reuniões de trabalho sobre os casos,
celebradas em distintas oportunidades na sede da Comissão. Em 1 de março de 2004
iniciou-se um procedimento formal de solução amistosa e, após várias reuniões, as
partes firmaram umacordo final na cidade de São Luis do Maranhão no dia 15 de
dezembro de 2005, cujos termos estão doravante detalhados. O acordo foi assinado em
ato público, por altas autoridades do Governo Federal do Brasil e do Governo do Estado
do Maranhão, por representantes dos peticionários e representantes da Comissão
Interamericana de Direitos Humanos, na presença dos familiares das vítimas.
 
III. ​OS FATOS
 
9. ​Em ambas as denúncias as peticionárias alegaram que o Estado
brasileiro violou suas obrigações à luz da Convenção Americana sobre Direitos
Humanos e da Declaração Americana, por não adotar medidas eficazes para conter as
práticas de tortura e homicídio de diversas crianças no Estado do Maranhão e pela
omissão na investigação dos fatos.
 
10. ​As peticionárias relataram, especificamente, o desaparecimento das
crianças Raniê Silva Cruz, Eduardo Rocha da Silva e Raimundo Nonato da Conceição
Filho, na cidade de Paço do Lumiar, sendo seus corpos encontrados com marcas de
tortura e emasculação nos órgãos genitais. Alegaram que houve um atraso injustificado
por parte das autoridades locais na busca pelas crianças e que os inquéritos policiais
sobre a responsabilidade pelos crimes foram demasiado morosos e ineficazes.
Destacaram que tal fato se deveu à imperícia da polícia do Estado do Maranhão e à
omissão da Polícia Federal ao intervir de forma extemporânea nas investigações.
 
11. ​As peticionárias alegaram que os dois casos denunciados são parte de
um repertório de casos de crianças mutiladas e assassinadas no Estado do Maranhão,
divulgados pela imprensa brasileira como “Caso dos Meninos Emasculados do
Maranhão”. Salientaram que somente em abril de 2003, doze anos após o primeiro
crime, designou-se uma Força Tarefa composta por autoridades da Policia Civil, Polícia
Federal e Ministério Público para investigar os fatos. Em março de 2004, a Força Tarefa
apresentou o provável autor dos crimes, o qual confessou ter assassinado 30 crianças em
São Luis do Maranhão e outras 12 em Altamira, no Estado do Pará.
 
12. ​Com relação ao fenômeno em geral, as peticionárias destacaram que
os índices de desenvolvimento humano no Estado do Maranhão são significativamente
baixos, notadamente entre a população infanto-juvenil, a qual se encontra sujeita a um
universo de problemas como exploração do trabalho infantil, altos índices de evasão
escolar e elevada taxa de analfabetismo. Aduziram que a população de crianças e
adolescentes da região da Grande São Luis (capital do Estado do Maranhão) se encontra
privada dos seus direitos básicos relativos à educação, saúde, moradia, lazer e
alimentação.
 
13. ​Por derradeiro, face à resposta do Estado brasileiro em relação ao
andamento das investigações, as peticionárias questionaram as medidas concretas para
identificar os responsáveis pelos crimes, prevenir a ocorrência de novos assassinatos de
crianças, reparar os familiares das vítimas e melhorar as condições de vida das crianças
e adolescentes no Estado do Maranhão.
 
​IV. ​SOLUÇÃO AMISTOSA ALCANÇADA
 
​14. ​O acordo de solução amistosa assinado entre ambas as partes em 15 de
dezembro de 2005 contempla o seguinte:
 
1. ​O Estado brasileiro, por meio da Secretaria Especial dos
Direitos Humanos da Presidência da República e do Governo do Estado
do Maranhão, e os peticionários, representados pelas organizações não-
governamentais Justiça Global e Centro de Defesa dos Direitos da
Criança e do Adolescente Padre Marcos Passerini, celebram o presente
Acordo de Solução Amistosa, com vistas ao encerramento dos casos nº
12.426 e nº 12. 427, em tramitação perante a Comissão Interamericana
de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos
(CIDH/OEA).
 
2. ​Os casos nº 12.426 (Raniê Silva Cruz) e nº 12.427 (Eduardo
Rocha da Silva e Raimundo Nonato da Conceição) referem-se a meninos
emasculados e mortos na região da Grande São Luís, Estado do
Maranhão. O presente Acordo abrange os referidos casos em tramitação
perante a CIDH e outros meninos emasculados, conforme lista
homologada em reunião conjunta do Conselho Estadual de Defesa dos
Direitos Humanos e Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do
Adolescente do Maranhão, realizada no dia 03 de novembro de 2005.
 
3. ​O presente Acordo de Solução Amistosa visa à reparação dos
danos causados aos familiares dos meninos Raniê Silva Cruz, Eduardo
Rocha da Silva e Raimundo Nonato da Conceição, bem como de
Alexandre de Lemos Pereira, Antônio Reis Silva, Bernardo da Silva
Modesto, Bernardo Rodrigues Costa, Carlos Wagner dos Santos Sousa,
Daniel Ferreira Ribeiro, Diego Gomes Araújo, Edivan Pinto Lobato,
Evanilson Castanhede Costa, Hermógenes Colares, Ivanildo Povoas
Ferreira, Jailson Alves Viana, Jonnathan Silva Vieira, Josemar de Jesus
Batista, Julio César Pereira Melo, Laércio Silva Martins, Nerivaldo dos
Santos Pereira, Nonato Alves da Silva, Rafael Carvalho Carneiro,
Raimundo Luiz Sousa Cordeiro, Welson Frazão Serra, Alexandre dos
Santos Gonçalves, Sebastião Ribeiro Borges, Jondelvanes Macedo
Escócio, Emanuel Diego de Jesus Silva, doravante denominados famílias
beneficiárias, em virtude das violações sofridas, com vistas ao
encerramento dos casos nº 12.426 e nº 12. 427 mediante o cumprimento
integral dos termos deste Acordo.
 
I. ​Reconhecimento de Responsabilidade
 
4. ​O Estado brasileiro reconhece sua responsabilidade
internacional com relação aos casos nº 12.426 e nº 12. 427 nos seguintes
termos: o Estado do Maranhão reconhece a insuficiência de resultados
positivos de anteriores linhas de investigação em comparação com o
atual estado de apuração, admitindo equívocos e dificuldades na
necessária solução imediata dos casos, pelas deficiências estruturais do
sistema de segurança até então existentes, a complexidade dos fatos e seu
modus operandi, além da própria geografia dos crimes e impropriedade
técnica de alguns procedimentos investigatórios, o que demanda especial
esforço para a responsabilização dos agentes vitimizadores e para a
prevenção de circunstâncias de vulnerabilidade de crianças e
adolescentes.
 
5. ​O reconhecimento público da responsabilidade do Estado
brasileiro em relação à violação de direitos humanos acima mencionada
dar-se-á em cerimônia pública, na cidade de São Luís, Maranhão, por
ocasião da inauguração do Complexo Integrado de Proteção à Criança e
ao Adolescente, em 15 de dezembro de 2005, com a presença de
autoridades federais, estaduais, dos peticionários e das famílias
beneficiárias.
 
II. ​Julgamento e Punição dos responsáveis
 
6. ​O Estado brasileiro compromete-se a apurar a responsabilização
do réu confesso hoje preso, dentro do marco do devido processo legal e
do respeito aos direitos humanos, e assume o compromisso de persistir
em eventuais investigações e sanção de outros possíveis responsáveis.
 
III. ​Medidas de Reparação
 
III.1 Da reparação simbólica
 
7. ​O Estado do Maranhão instalará placa em homenagem
simbólica às crianças vitimadas no Complexo Integrado de Proteção à
Criança e ao Adolescente, a ser inaugurado durante cerimônia pública de
reconhecimento de responsabilidade descrita no item 5.
 
III.2 Das reparações materiais
 
8. ​A União Federal, por meio do Ministério das Cidades, e o
Estado do Maranhão, por meio da Secretaria das Cidades, incluirão as
famílias beneficiárias, no prazo de 12 (doze) meses, nos programas de
Habitação de Interesse Social, sob gestão do Ministério das Cidades, de
forma não onerosa, nas áreas de suas presentes residências;
 
8.1 Na impossibilidade de manutenção das famílias nas áreas das
presentes residências, em respeito ao princípio da isonomia
entre as famílias beneficiárias, os moradores receberão
condições habitacionais equivalentes, em consulta a cada
família nesta situação.
 
8.2 Para efeitos de inclusão das famílias beneficiárias nos
referidos programas, e em referência a eventuais
condicionamentos técnicos pré-existentes, não será
considerada a pensão especial a ser concedida às famílias
beneficiárias pelo Estado do Maranhão conforme cláusula
10 deste Acordo.9. ​A União Federal, por meio do Ministério do Desenvolvimento
Social, e o Estado do Maranhão, por meio da Secretaria de
Desenvolvimento Social, incluirão as famílias beneficiárias em seus
respectivos programas sociais, inclusive em seus programas de
transferência de renda, de acordo com os critérios de elegibilidade
específicos de cada programa.
 
9.1 ​Com vistas à inclusão das famílias beneficiárias nos
referidos programas, não será considerada, para efeitos de
renda, a pensão especial a ser concedida às famílias
beneficiárias pelo Estado do Maranhão conforme cláusula
10 deste Acordo.
 
10. ​O Estado do Maranhão, mediante autorização legislativa,
realizará pagamento de pensão especial mensal, de cunho indenizatório,
no valor de R$ 500,00 (quinhentos reais) para cada uma das famílias
beneficiárias, por um prazo de 15 (quinze) anos.
 
10.1. ​O reajuste desta pensão mensal será efetuado
conforme índice de revisão dos servidores públicos
estaduais.
 
11. ​O cumprimento integral das cláusulas de nº 8, 9 e 10 exime o
Estado brasileiro, seja a União Federal ou o Estado do Maranhão, de
efetuar qualquer outro ressarcimento às famílias beneficiárias pelo
presente Acordo.
 
11.1 ​As famílias beneficiárias deverão assinar termo de
adesão ao presente Acordo, por meio do qual se
comprometem com a renúncia a seu direito de ação em
face da União Federal e do Estado do Maranhão. Esta
renúncia fica condicionada ao cumprimento integral das
cláusulas de nº 8, 9 e 10.
 
IV. ​ Medidas de não-repetição
 
12. ​A União Federal compromete-se a incluir, ainda no ano de
2006, o Estado do Maranhão no Programa de Ações Integradas
Referenciais de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e
Adolescentes no Território brasileiro (PAIR), coordenado pela Secretaria
Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; em
conjunto com o Ministério do Desenvolvimento Social, Ministério da
Saúde, Ministério da Educação, Ministério dos Esportes; Ministério da
Justiça, Ministério do Turismo; e em parceria com a Organização
Internacional do Trabalho (OIT), USAID e Partners of the America.
 
13. ​O Estado do Maranhão compromete-se a dar continuidade à
implementação do Sistema Estadual de Enfrentamento à Violência
Sexual contra a Criança e o Adolescente e do Sistema Interinstitucional
de Ações Antidrogras – SIAD no âmbito do Estado do Maranhão, tal
como definidos pelos respectivos decretos estaduais.
 
14. ​Com o objetivo de atender crianças e adolescentes vítimas de
violência sexual, assim como suas famílias, o Estado do Maranhão, por
meio da Secretaria de Desenvolvimento Social, compromete-se a incluir,
no prazo de 06 (seis) meses, os municípios de São José de Ribamar, Paço
do Lumiar e Raposa no Programa Sentinela.
 
15. ​Tendo em vista a especialidade do atendimento aos casos de
violência cometida contra criança e adolescente, o Estado do Maranhão,
por meio da Secretaria de Estado de Segurança Pública, compromete-se
a:
 
15.1 ​realizar, durante o prazo mínimo de 03 (três) anos,
cursos de capacitação de policiais civis e militares para o
atendimento a ocorrências de crimes que envolvam
crianças e adolescentes;
 
15.2 ​incluir o tema violência contra crianças e adolescentes
na grade curricular do Curso de Formação de Policiais
Civis e Militares, concursados a partir de então;
 
15.3 ​regulamentar e adotar, no prazo de 06 (seis) meses,
procedimentos especiais de atendimento às ocorrências
que envolvam crianças e adolescentes vitimizados, de
modo a evitar constrangimento no atendimento inicial às
vitimas;
 
15.4 ​regulamentar o encaminhamento de ocorrências de
maior complexidade que envolvam crianças e
adolescentes registradas nas Delegacias da chamada
Região da Grande São Luís à Delegacia de Proteção à
Criança e ao Adolescente – DPCA;
 
15.5 ​reestruturar e equipar a delegacia de polícia do
município de Raposa-MA, de modo a propiciar o
adequado atendimento às ocorrências envolvendo crianças
e adolescentes vitimizados;
 
15.6 ​inaugurar e manter em funcionamento, com
profissionais efetivos, o Centro de Perícias Oficiais em
casos de violência sexual contra crianças e adolescentes.
 
16. ​Com vistas à melhoria do atendimento escolar destinado às
crianças e adolescentes da Grande São Luís e à utilização do ambiente
escolar para atividades desportivas e culturais, o Estado do Maranhão,
por meio da Secretaria de Estado da Educação, compromete-se a:
 
16.1. ​viabilizar, a partir do mês de fevereiro de 2006,
atividades desportivas e culturais nos finais de semana em
todas as escolas da rede estadual de ensino existentes nos
municípios da Região da Grande São Luís;
 
16.2. ​articular, com a União Nacional dos Dirigentes
Municipais de Educação-UNDIME, a viabilização de
atividades desportivas e culturais nos finais de semana nas
escolas da rede municipal de ensino dos municípios da
Grande São Luís;
 
16.3. ​Construir, até o final do ano de 2006, uma Escola de
ensino médio com pelo menos 06 (seis) salas, na área da
Maiobinha, em Paço do Lumiar; e
 
16.4. ​Concluir, no prazo de 06 (seis) meses, a construção
de uma escola de ensino médio, com 15 salas, e uma
escola de ensino fundamental, com 12 salas, localizadas
no bairro Cidade Operária, em São Luís.
 
17. ​Com o intuito de incrementar a assistência jurídica prestada
pela Defensoria Pública, o Estado do Maranhão compromete-se ainda a
reativar, no prazo de 06 (seis) meses, o núcleo de Paço do Lumiar, com a
designação de defensor público concursado.
 
V. ​Mecanismo de Seguimento
 
18. ​O Conselho Estadual de Direitos Humanos, o Conselho
Estadual de Direitos da Criança e do Adolescente do Estado do
Maranhão e representantes dos peticionários reunir-se-ão a cada 04
(quatro) meses, em sessão conjunta, para o monitoramento do
cumprimento do presente Acordo.
 
19. ​O Estado brasileiro e os peticionários comprometem-se a
encaminhar à CIDH, no ano de 2006, relatórios semestrais e
posteriormente, relatórios anuais sobre o cumprimento dos termos do
Acordo.
 
20. ​A CIDH facilitará audiências para receber informações e
viabilizará os pedidos de visitas in situ, caso avalie necessário.
 
21. ​Por fim, as partes solicitam à CIDH a homologação do
presente Acordo e a elaboração do respectivo Relatório de Solução
Amistosa.
 
V. ​DETERMINAÇÃO DE COMPATIBILIDADE E
CUMPRIMENTO ​ 
 
15. ​A Comissão Interamericana reitera que, de acordo com os artigos
48(1)(f) e 49 da Convenção, este procedimento tem como finalidade “chegar a uma
solução amistosa do assunto baseada no respeito aos direitos humanos reconhecidos na
Convenção”. A aceitação de levar a cabo este trâmite expressa a boa-fé do Estado para
cumprir com os propósitos e objetivos da Convenção em virtude do princípio pacta sunt
servanda, pelo qual os Estados devem cumprir de boa-fé as obrigações assumidas nos
tratados. Também deseja reiterar que o procedimento de solução amistosa contemplado
na Convenção permite a conclusão dos casos individuais de forma não-contenciosa, e
demonstra, em casos relativos a diversos países, um veículo importante de solução, que
pode ser utilizado por ambas partes.
 
16. ​A Comissão Interamericana acompanhou de perto o desdobramento
da solução amistosa alcançada no presente caso, e valoriza os esforços efetuados por
ambas as partes para atingir esta solução. Considera que os termos do acordo antes
transcritos são compatíveis com as obrigações advindas da Convenção Americana e, de
tal forma, decide homologá-lo. A Comissão destaca que a inclusão, no presente acordo,
de outros beneficiários que não foram mencionados nas petições originais é compatível
com o objeto e finalidade da Convenção Americana e com o processo de solução
amistosa.
 
17. ​Enfim, a Comissão ressalta a importância da participação das
autoridades do Estado do Maranhão e do governo federal neste processo, e recorda que,
nos Estados federais, as obrigações emergentes da Convenção alcançam tanto o governo
federal quanto os governos estaduais.
 
VI. ​CONCLUSÕES
 
18. ​Com base nas considerações precedentese em virtude do
procedimento previsto nos artigos 48(1)(f) e 49 da Convenção Americana, a Comissão
deseja reiterar seu profundo apreço pelos esforços realizados pelas partes e sua
satisfação pela finalização do acordo de solução amistosa no presente caso baseado no
objeto e na finalidade da Convenção Americana.
 
19. ​Em virtude das considerações e conclusões expostas neste relatório,
 
A COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS,
 
DECIDE:
 
1. Aprovar os termos do acordo de solução amistosa assinado pelas partes no
dia 15 de dezembro de 2005.
 
2. Continuar com o seguimento e a supervisão dos pontos do acordo amistoso,
cujo cumprimento ainda está pendente e, neste contexto, recordar as partes seu
compromisso de informar a Comissão Interamericana sobre o cumprimento do presente
acordo amistoso.
 
3. Publicar o presente relatório e incluí-lo em seu relatório anual à Assembléia
Geral da OEA.
 
Passado e assinado na sede da Comissão Interamericana de Direitos Humanos,
na cidade de Washington, D.C., aos 15 dias de março do ano de 2006. (Assinado):
Evelio Fernández Arévalos, Presidente, Florentín Meléndez, Segundo Vicepresidente,
Comissionados: Clare K. Roberts, Freddy Gutiérrez, Paolo G. Garozza, y Víctor E.
Abramovich.
 
18. Corte Interamericana de Direitos Humanos. Competência e Importância.
A Corte Interamericana de Direitos Humanos, sediada em São José da Costa Rica,
é um órgão judicial internacional autônomo do sistema da OEA, criado pela Convenção
Americana dos Direitos do Homem, que tem competência de caráter contencioso e
consultivo. Trata-se de tribunal composto por sete juízes nacionais dos Estados-
membros da OEA, eleitos a título pessoal dentre juristas da mais alta autoridade moral,
de reconhecida competência em matéria de direitos humanos, que reúnam as condições
requeridas para o exercício das mais elevadas funções judiciais, de acordo com a lei do
Estado do qual sejam nacionais (art. 52 da Convenção Interamericana).
A Corte Interamericana de Direitos Humanos tem competência para conhecer de
qualquer caso relativo à interpretação e aplicação das disposições da Convenção
Americana sobre Direitos humanos, desde que os Estados-Partes no caso tenham
reconhecido a sua competência. Somente a Comissão Interamericana e os Estados
Partes da Convenção Americana sobre Direitos Humanos podem submeter um caso à
decisão desse Tribunal.
No exercício de sua competência consultiva, a Corte Interamericana tem desenvolvido
análises elucidativas a respeito do alcance e do impacto dos dispositivos da Convenção
Americana, emitindo opiniões que têm facilitado a compreensão de aspectos
substanciais da Convenção, contribuindo para a construção e evolução do Direito
Internacional dos Direitos Humanos no âmbito da America Latina.
No plano contencioso, sua competência para o julgamento de casos, limitada aos
Estados Partes da Convenção que tenham expressamente reconhecido sua jurisdição,
consiste na apreciação de questões envolvendo denúncia de violação, por qualquer
Estado Parte, de direito protegido pela Convenção. Caso reconheça que efetivamente
ocorreu a violação à Convenção, determinará a adoção de medidas que se façam
necessárias à restauração do direito então violado, podendo condenar o Estado,
inclusive, ao pagamento de uma justa compensação à vítima.
Note-se que, diversamente do sistema europeu, não é reconhecido o direito postulatório
das supostas vítimas, seus familiares ou organizações não-governamentais diante da
Corte Interamericana. Somente a Comissão e os Estados-parte da OEA têm legitimidade
para a apresentação de demandas ante Corte. Desse modo, qualquer indivíduo que
pretenda submeter denúncia à apreciação da Corte, deve, necessariamente, apresentá-la
à Comissão Interamericana.
A partir do ano de 1996, todavia, inovação trazida pelo III Regulamento da Corte
Interamericana de Direitos Humanos ampliou a possibilidade de participação do
indivíduo no processo, autorizando que os representantes ou familiares das vítimas
apresentassem, de forma autônoma, suas próprias alegações e provas durante a etapa de
discussão sobre as reparações devidas.
Além disso, hoje, com as alterações trazidas pelo IV Regulamento, também é possível
que as vítimas, seus representantes e familiares não só ofereçam suas próprias peças de
argumentação e provas em todas as etapas do procedimento, como também fazer uso da
palavra durante as audiências públicas celebradas, ostentando, assim, a condição de
verdadeiras partes no processo.
Com diversos casos pelas américas ficou famoso o do Jose Pereira, um marco
para a defesa dos direitos humanos no Brasil, visto que pela primeira vez o Estado
brasileiro assumiu, perante o sistema interamericano de proteção aos direitos humanos,
ser responsável por atos praticados por particulares.
Em 1989, quando da tentativa de fuga da Fazenda Espírito Santo, no Estado do
Pará, José Pereira, à época com 17 anos, foi gravemente ferido, sofrendo lesões
permanentes na mão e no olho direito, e outro trabalhador rural foi morto. O jovem fora
atraído por falsas promessas acerca das condições de trabalho, mas restou por trabalhar
forçadamente, sem liberdade para sair e sob condições desumanas e ilegais, situação
está que também afligia outros 60 trabalhadores rurais da fazenda.
O caso foi objeto de petição apresentada pelo CEJIL e pela Comissão Pastoral da
Terra perante a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, em face da República
Federativa do Brasil, no ano de 1994.
Em setembro de 2003 as peticionárias e o Estado subscreveram um acordo de
solução amistosa, o primeiro acordo desta natureza celebrado pelo país no sistema
interamericano de proteção dos direitos humanos, em que o Estado brasileiro, conforme
supramencionado, reconheceu sua responsabilidade internacional pela violação de
direitos humanos protegidos pela normativa Interamericana.
O acordo firmado entre as partes foi homologado pela CIDH em 24 de outubro de
2003. A Comissão permanece supervisionando os pontos do acordo amistoso cujo
cumprimento ainda se encontra pendente.

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