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Todos direitos reservados www.seliganessahistoria.com.br Página 1 PLATÃO E O MUNDO DAS IDEIAS (PARTE 2) 3. C. Alegoria da Caverna e seu(s) significado(s): a famosa Alegoria da Caverna de Platão está presente no Livro VII da República. A Alegoria - começa com algumas pessoas no interior de uma caverna, acorrentadas desde a infância. Acorrentadas no pescoço e nos pés, elas não conseguem ver a saída da caverna, apenas sombras de figuras humanas que estão do lado de fora. Como essas pessoas vivem na caverna desde que nasceram, acham que as sombras são a única coisa que existe. Porém, em determinado momento, um habitante da caverna se livra das correntes. Nesse instante, começa a indagar de onde vêm as sombras e, assim, sai da caverna. Ao sair da caverna, a luz do sol, de início, ofusca seus olhos e o assusta. Em seguida, entretanto, seus olhos adéquam-se à luz do sol, e ele vê o mundo, e percebe que as sombras da caverna são apenas imitações baratas do verdadeiro mundo. Feliz, o homem, lamentando a sorte de seus companheiros presos, volta à caverna e conta o que viu. Os habitantes da caverna não acreditam no homem, dizem que tudo que existe são as sombras, e, por fim, matam-no. Seu significado: vamos, agora, interpretar a alegoria, como sempre nos pedem os vestibulares. A caverna - é uma alegoria ao modo que os homens permanecem antes da filosofia: homem comum, prisioneiro de hábitos, preconceitos, costumes e práticas que adquiriu desde a infância é um homem que está na caverna, e só consegue enxergaras coisas de maneira parcial, limitada, incompleta. A caverna representa, portanto, o domínio da opinião (doxa). Políticos e falsos filósofos (sofistas) teriam o interesse de manter os homens na caverna. Libertação - A partir da filosofia, o homem buscaria compreender o mundo, se libertaria das correntes e sairia da escuridão da caverna, tomando contato com a luz do sol. Por que o homem iria querer sair das sombras? No diálogo Fedro, Platão nos lembra que há, na alma humana, um conflito entre a força do hábito, que faz com que o prisioneiro se sinta confortável em sua situação familiar, e a força do eros, quer dizer, a curiosidade, o impulso, que o estimula para fora, para buscar algo além de si mesmo. Todos direitos reservados www.seliganessahistoria.com.br Página 2 O Sol e o Bem - O sol representa o Bem. Para Platão, assim como o sol é causa de nossas percepções graças à luz que emite, a Ideia do Bem é a fonte da verdade e da razão nos seres humanos, de onde derivam todas as demais ideias. O dever da filosofia era ensinar a usar a razão de maneira apropriada. “Não posso falar do Bem, posso falar apenas do filho do Bem (...) O que o sol é para o mundo sensível, o bem é para o mundo inteligível” – Bem: dá unidade e inteligibilidade às ideias Tarefa do Filósofo: Porém, os homens preferem ficar na escuridão, e, não compreendendo o filósofo, matam-no. Aquele que alcança o Bem e a Verdade, frequentemente, é visto pelos outros como um insensato. Sócrates, então, teria saído da caverna, e, ao contar aos homens o que viu, foi condenado à morte. A condenação de Sócrates representa a condenação da própria filosofia – a democracia, que acha que a vontade da maioria é a verdade (ou seja, que a opinião é a verdade) condena e mata homens como Sócrates!. De qualquer forma, compete ao filósofo a tarefa de mostrar aos homens a verdade, libertando-os das amarras da ignorância. Para Platão o filosofo, podemos dizer, tem uma função social político-pedagógica, de ajudar os homens. Veja, portanto, como não é correta a ideia de que ser "platônico" é ser alguém contemplativo. Platão e as Artes? Platão define as belas-artes como instâncias da imitação e como o inverso do verdadeiro saber. Como assim? Ao copiar o mundo empírico, que já é uma cópia do Mundo Ideal, a arte é, semelhante à opinião sensível. Assim, as belas-artes estão “a uma distância de três graus da verdade” (República 602c). 4. A REPÚBLICA (POLITEIA) Estado: Em A República, Platão admite que o Estado é necessário, pois nós somos incapazes de garantir uma existência feliz individualmente; da necessidade de cooperação entre os homens para a felicidade, a autopreservação e a existência, surge o Estado. Tipos falhos de governo: Em A República, no livro 8, Platão, classifica os tipos de governo em cinco, quatro falhos e um justo. O sistema mais justo seria a aristocracia, na qual os governantes seriam os "melhores", e os "melhores" seriam os "mais sábios"; Todos direitos reservados www.seliganessahistoria.com.br Página 3 Degeneração: Timocracia – oligarquia – democracia – democracia - A timocracia, governo militar, dos mais ambiciosos ou honrados, marcado pela disciplina, seria negativa, pois coloca a honra e a ambição acima da sabedoria e da razão e, por consequência, coloca os feitos militares acima dos intelectuais – o que é muito reprimido e disciplinado se degenera em ambição. Daí, a degeneração da timocracia é a oligarquia, que Platão identificava como governo dos mais "ricos", é negativa, pois os governantes são dominados pelo desejo de riqueza, e não pela razão. Então, a oligarquia se degenera em democracia, reino da liberdade absoluta, também como um governo falho, uma vez que o povo não estaria apto a selecionar os melhores governantes, e acabaria vítima da demagogia. Na democracia, o pai teme o filho e o professor teme o aluno. A democracia, portanto, valoriza as paixões, a opinião, o interesse e não o conhecimento1. A anarquia se instaura e, então, a democracia se degenera em tirania, uma vez que aparece um salvador da pátria, um líder popular, inicialmente, faz tudo o que o povo deseja, e depois, por meio de conspirações, roubo e manipulação, faz o que ele próprio quer. O tirano é aquele que é dominado pelas próprias paixões (é tirano de si, é um tipo psicológico que realiza todos os desejos) e faz acordado o que os outros só podem fazer sonhando. O Governo Ideal: assim, no seu livro A República, Platão idealizou a forma ideal de governo, uma aristocracia na qual os mais sábios deveriam governar: "enquanto os filósofos não forem reis, ou os reis não tiverem o poder da filosofia, as cidades jamais deixarão de sofrer". O Estado ideal não possui famílias divididas, mas uma Grande Família, de modo que todas as crianças ao crescerem, chamam-se de "irmãos", ao passo que todos os adultos são chamados pelas crianças de “pai” e “mãe”. Não há na República platônica, portanto, a propriedade privada; toda propriedade é comum, sendo o Estado uma grande família, e os cidadãos irmãos. O Estado ideal deveria ser justo e racional, dividido em três: 1 Pense você: como rebateria esses argumentos? qual seus argumentos para defender a Democracia? Para pensar nesse assunto, deixo a famosa sentença de Norberto Bobbio: “A única solução para os males da democracia é mais democracia". Todos direitos reservados www.seliganessahistoria.com.br Página 4 1) governantes ou guardiões (função política), composto pelos filósofos, ou seja, aqueles com a qualidade da sabedoria e virtude, únicos capazes de governar por serem os conhecedores da realidade imutável. Os governantes não devem ter nem propriedade, nem família. 2) soldados (função militar), composto por aqueles com coragem. Coragem é definida como a força de preservar, em todas as circunstâncias, a verdadeiras opiniões 3) trabalhadores (função produtiva), ou seja, comerciantes, médicos, artesãos, camponeses. Um Estado justo é caracterizado pelo equilíbrio entre as três partes, estando o governo na parte filosófica. "Ora, estabelecemos, e repetimos muitas vezes, se bem te recordas, que cada um deve ocupar-se na cidade de uma única tarefa, aquela para a qual é melhor dotado por natureza" Platão,"A República". Livro IV, 432 d - 433 b. A divisão do Estado em três partes corresponde à divisão da alma humana, que, para Platão, possui: 1) Uma região racional ou calculadora, que reside na cabeça (ouro) 2) Uma região, que reside no peito, a região irascível, e gera o ímpeto, a emoção (prata) 3) E, por fim, uma região concupiscível ou apetitiva, que correspondente ao desejo, ao apetite, e reside no abdome (bronze)2 O homem justo é aquele cuja razão sobrepõe-se às outras duas partes da alma, balanceando-as, coodenando-as, residindo aí a harmonia entre as partes (boa vida = prazer + reflexão). Tanto em nós quanto no governo, a justiça (dikê) corresponde à harmonia; a injustiça, à desarmonia. A Justiça é aqui entendida não como uma distribuição 2 Quando a razão domina a região concupiscível surge a temperança, e quando domina a irascível, a fortaleza. As quatro virtudes naturais, chamadas depois cardeais são: prudência, fortaleza, temperança e justiça. Todos direitos reservados www.seliganessahistoria.com.br Página 5 equânime da igualdade, mas como a necessidade de que cada um reconheça o seu lugar na sociedade segundo a natureza das coisas e não tente ocupar o espaço que pertence ao outro. Como seriam escolhidos aqueles que iriam pertencer a cada classe? No Estado ideal, todos, homens ou mulheres, deveriam estudar desde a infância, e fazerem diversos testes. Seriam feitos, ao longo da vida, vários testes, junto com o estudo de matemática, literatura, música, guerra, treinamento físico e dialética. Aqueles que fossem deixados para trás no teste, iam sendo agricultores, comerciantes, militares, e assim por diante. Os homens que passassem em todos os testes, aos 50 anos, estariam prontos para governar, automaticamente, sem qualquer eleição. Era uma aristocracia, portanto, composta pelos “mais sábios no governo”. Não basta ser rico, militar ou popular; para governar era preciso ter uma perfeita formação ética e intelectual. Não poderia, portanto, ser dominado, por suas paixões, desejos ou ambições pessoais. Note como, para Platão, o filósofo não é simplesmente um intelectual, mas alguém com sabedoria, bondade, moderação, coragem e, principalmente, justiça. Homens e mulheres, igualmente, podem estudar e governar. “As cidades não serão justas enquanto os reis não forem filósofos, nem os filósofos reis.” COMPLEMENTO: O AMOR EM O BANQUETE "De fato, é desde então que o amor mútuo é inato aos homens, que recompõe a sua natureza primitiva, procura restituir a um a partir do dois e curar essa natureza humana ferida. Cada um de nós é, portanto, como um sinal de reconhecimento, a metade de uma peça, visto que nos cortaram com as solhas, em duas partes; e cada um vai procurando a outra metade de sua peça: então, todos aqueles homens que provinham da espécie total, daquilo a que se chamava o andrógeno, amam as mulheres (...) quanto às mulheres que saíram da divisão de uma mulher primitiva, não prestam espontaneamente atenção aos homens, antes se voltam para as outras mulheres Finalmente, todos os que provêm da divisão de um homem puro, esses perseguem o homem (...) Assim, quando os amantes - e descobriram precisamente a metade que é a sua, é admirável como são empolgados pela ternura, o sentimento de parentesco e o amor (..) E estes são os que Todos direitos reservados www.seliganessahistoria.com.br Página 6 ficam juntos até ao fim da vida e que nem sequer conseguiram definir o que espera um do outro!" (Platão, O Banquete, Livro de Bolso Europa-América, 1977, p.50-52) No mesmo texto, Sócrates apresenta outra questão acerca do amor: só se ama aquilo que lhe falta, que não se possui. O objeto de amor, sempre ausente, é sempre solicitado. Mesmo o amor por aquilo que supostamente lhe é seu, na verdade é o amor que deseja a permanência do objeto amado no futuro. O amor aparece aqui como uma espécie de inquietação, de procura. O amor (philia) pelo saber (sophia), isto é, a filosofia, implica exatamente nisso: é o amor pera pela busca da verdade, ainda que, quando acreditamos ter alcançando-a, ela escape por entre nossos dedos.
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