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Platão e o Mundo das Ideias (Parte 2)

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PLATÃO E O MUNDO DAS IDEIAS (PARTE 2) 
 
3. C. Alegoria da Caverna e seu(s) significado(s): a famosa Alegoria da Caverna de 
Platão está presente no Livro VII da República. 
 A Alegoria - começa com algumas pessoas no interior de uma caverna, 
acorrentadas desde a infância. Acorrentadas no pescoço e nos pés, elas não conseguem 
ver a saída da caverna, apenas sombras de figuras humanas que estão do lado de fora. 
Como essas pessoas vivem na caverna desde que nasceram, acham que as sombras são 
a única coisa que existe. Porém, em determinado momento, um habitante da caverna se 
livra das correntes. Nesse instante, começa a indagar de onde vêm as sombras e, assim, 
sai da caverna. Ao sair da caverna, a luz do sol, de início, ofusca seus olhos e o assusta. Em 
seguida, entretanto, seus olhos adéquam-se à luz do sol, e ele vê o mundo, e percebe que 
as sombras da caverna são apenas imitações baratas do verdadeiro mundo. Feliz, o 
homem, lamentando a sorte de seus companheiros presos, volta à caverna e conta o que 
viu. Os habitantes da caverna não acreditam no homem, dizem que tudo que existe são as 
sombras, e, por fim, matam-no. 
 Seu significado: vamos, agora, interpretar a alegoria, como sempre nos 
pedem os vestibulares. 
A caverna - é uma alegoria ao modo que os homens permanecem antes da filosofia: 
homem comum, prisioneiro de hábitos, preconceitos, costumes e práticas que adquiriu 
desde a infância é um homem que está na caverna, e só consegue enxergaras coisas de 
maneira parcial, limitada, incompleta. A caverna representa, portanto, o domínio da opinião 
(doxa). Políticos e falsos filósofos (sofistas) teriam o interesse de manter os homens na 
caverna. 
Libertação - A partir da filosofia, o homem buscaria compreender o mundo, se 
libertaria das correntes e sairia da escuridão da caverna, tomando contato com a luz do sol. 
Por que o homem iria querer sair das sombras? No diálogo Fedro, Platão nos lembra que 
há, na alma humana, um conflito entre a força do hábito, que faz com que o prisioneiro se 
sinta confortável em sua situação familiar, e a força do eros, quer dizer, a curiosidade, o 
impulso, que o estimula para fora, para buscar algo além de si mesmo. 
 
 
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O Sol e o Bem - O sol representa o Bem. Para Platão, assim como o sol é causa de 
nossas percepções graças à luz que emite, a Ideia do Bem é a fonte da verdade e da razão 
nos seres humanos, de onde derivam todas as demais ideias. O dever da filosofia era 
ensinar a usar a razão de maneira apropriada. “Não posso falar do Bem, posso falar apenas 
do filho do Bem (...) O que o sol é para o mundo sensível, o bem é para o mundo inteligível” 
– Bem: dá unidade e inteligibilidade às ideias 
Tarefa do Filósofo: Porém, os homens preferem ficar na escuridão, e, não 
compreendendo o filósofo, matam-no. Aquele que alcança o Bem e a Verdade, 
frequentemente, é visto pelos outros como um insensato. Sócrates, então, teria saído da 
caverna, e, ao contar aos homens o que viu, foi condenado à morte. A condenação de 
Sócrates representa a condenação da própria filosofia – a democracia, que acha que a 
vontade da maioria é a verdade (ou seja, que a opinião é a verdade) condena e mata 
homens como Sócrates!. De qualquer forma, compete ao filósofo a tarefa de mostrar aos 
homens a verdade, libertando-os das amarras da ignorância. Para Platão o filosofo, 
podemos dizer, tem uma função social político-pedagógica, de ajudar os homens. Veja, 
portanto, como não é correta a ideia de que ser "platônico" é ser alguém contemplativo. 
 Platão e as Artes? Platão define as belas-artes como instâncias da imitação 
e como o inverso do verdadeiro saber. Como assim? Ao copiar o mundo empírico, que já é 
uma cópia do Mundo Ideal, a arte é, semelhante à opinião sensível. Assim, as belas-artes 
estão “a uma distância de três graus da verdade” (República 602c). 
4. A REPÚBLICA (POLITEIA) 
 Estado: Em A República, Platão admite que o Estado é necessário, pois nós 
somos incapazes de garantir uma existência feliz individualmente; da necessidade de 
cooperação entre os homens para a felicidade, a autopreservação e a existência, surge o 
Estado. 
 Tipos falhos de governo: Em A República, no livro 8, Platão, classifica os tipos 
de governo em cinco, quatro falhos e um justo. O sistema mais justo seria a aristocracia, 
na qual os governantes seriam os "melhores", e os "melhores" seriam os "mais sábios"; 
 
 
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Degeneração: Timocracia – oligarquia – democracia – democracia - A timocracia, 
governo militar, dos mais ambiciosos ou honrados, marcado pela disciplina, seria negativa, 
pois coloca a honra e a ambição acima da sabedoria e da razão e, por consequência, coloca 
os feitos militares acima dos intelectuais – o que é muito reprimido e disciplinado se 
degenera em ambição. Daí, a degeneração da timocracia é a oligarquia, que Platão 
identificava como governo dos mais "ricos", é negativa, pois os governantes são dominados 
pelo desejo de riqueza, e não pela razão. Então, a oligarquia se degenera em democracia, 
reino da liberdade absoluta, também como um governo falho, uma vez que o povo não 
estaria apto a selecionar os melhores governantes, e acabaria vítima da demagogia. Na 
democracia, o pai teme o filho e o professor teme o aluno. A democracia, portanto, valoriza 
as paixões, a opinião, o interesse e não o conhecimento1. A anarquia se instaura e, então, a 
democracia se degenera em tirania, uma vez que aparece um salvador da pátria, um líder 
popular, inicialmente, faz tudo o que o povo deseja, e depois, por meio de conspirações, 
roubo e manipulação, faz o que ele próprio quer. O tirano é aquele que é dominado pelas 
próprias paixões (é tirano de si, é um tipo psicológico que realiza todos os desejos) e faz 
acordado o que os outros só podem fazer sonhando. 
 O Governo Ideal: assim, no seu livro A República, Platão idealizou a forma ideal 
de governo, uma aristocracia na qual os mais sábios deveriam governar: "enquanto os 
filósofos não forem reis, ou os reis não tiverem o poder da filosofia, as cidades jamais 
deixarão de sofrer". 
 O Estado ideal não possui famílias divididas, mas uma Grande Família, de 
modo que todas as crianças ao crescerem, chamam-se de "irmãos", ao passo que todos os 
adultos são chamados pelas crianças de “pai” e “mãe”. Não há na República platônica, 
portanto, a propriedade privada; toda propriedade é comum, sendo o Estado uma grande 
família, e os cidadãos irmãos. O Estado ideal deveria ser justo e racional, dividido em três: 
 
 
 
1 Pense você: como rebateria esses argumentos? qual seus argumentos para defender a Democracia? Para pensar nesse assunto, deixo a famosa sentença 
de Norberto Bobbio: “A única solução para os males da democracia é mais democracia". 
 
 
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1) governantes ou guardiões (função política), composto pelos filósofos, ou seja, 
aqueles com a qualidade da sabedoria e virtude, únicos capazes de governar por serem os 
conhecedores da realidade imutável. Os governantes não devem ter nem propriedade, nem 
família. 
2) soldados (função militar), composto por aqueles com coragem. Coragem é definida 
como a força de preservar, em todas as circunstâncias, a verdadeiras opiniões 
3) trabalhadores (função produtiva), ou seja, comerciantes, médicos, artesãos, 
camponeses. Um Estado justo é caracterizado pelo equilíbrio entre as três partes, estando 
o governo na parte filosófica. 
 
"Ora, estabelecemos, e repetimos muitas vezes, se bem te recordas, que cada um 
deve ocupar-se na cidade de uma única tarefa, aquela para a qual é melhor dotado por 
natureza" 
Platão,"A República". Livro IV, 432 d - 433 b. 
 
A divisão do Estado em três partes corresponde à divisão da alma humana, que, para 
Platão, possui: 
1) Uma região racional ou calculadora, que reside na cabeça (ouro) 
2) Uma região, que reside no peito, a região irascível, e gera o ímpeto, a emoção (prata) 
3) E, por fim, uma região concupiscível ou apetitiva, que correspondente ao desejo, ao 
apetite, e reside no abdome (bronze)2 
O homem justo é aquele cuja razão sobrepõe-se às outras duas partes da alma, 
balanceando-as, coodenando-as, residindo aí a harmonia entre as partes (boa vida = 
prazer + reflexão). Tanto em nós quanto no governo, a justiça (dikê) corresponde à 
harmonia; a injustiça, à desarmonia. A Justiça é aqui entendida não como uma distribuição 
 
 
2 Quando a razão domina a região concupiscível surge a temperança, e quando domina a irascível, a fortaleza. As quatro virtudes naturais, chamadas depois 
cardeais são: prudência, fortaleza, temperança e justiça. 
 
 
 
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equânime da igualdade, mas como a necessidade de que cada um reconheça o seu lugar 
na sociedade segundo a natureza das coisas e não tente ocupar o espaço que pertence ao 
outro. 
Como seriam escolhidos aqueles que iriam pertencer a cada classe? No Estado ideal, 
todos, homens ou mulheres, deveriam estudar desde a infância, e fazerem diversos testes. 
Seriam feitos, ao longo da vida, vários testes, junto com o estudo de matemática, literatura, 
música, guerra, treinamento físico e dialética. Aqueles que fossem deixados para trás no 
teste, iam sendo agricultores, comerciantes, militares, e assim por diante. Os homens que 
passassem em todos os testes, aos 50 anos, estariam prontos para governar, 
automaticamente, sem qualquer eleição. Era uma aristocracia, portanto, composta pelos 
“mais sábios no governo”. Não basta ser rico, militar ou popular; para governar era preciso 
ter uma perfeita formação ética e intelectual. Não poderia, portanto, ser dominado, por suas 
paixões, desejos ou ambições pessoais. Note como, para Platão, o filósofo não é 
simplesmente um intelectual, mas alguém com sabedoria, bondade, moderação, coragem 
e, principalmente, justiça. Homens e mulheres, igualmente, podem estudar e governar. “As 
cidades não serão justas enquanto os reis não forem filósofos, nem os filósofos reis.” 
 
COMPLEMENTO: 
O AMOR EM O BANQUETE 
"De fato, é desde então que o amor mútuo é inato aos homens, que recompõe a sua 
natureza primitiva, procura restituir a um a partir do dois e curar essa natureza humana 
ferida. Cada um de nós é, portanto, como um sinal de reconhecimento, a metade de uma 
peça, visto que nos cortaram com as solhas, em duas partes; e cada um vai procurando 
a outra metade de sua peça: então, todos aqueles homens que provinham da espécie 
total, daquilo a que se chamava o andrógeno, amam as mulheres (...) quanto às mulheres 
que saíram da divisão de uma mulher primitiva, não prestam espontaneamente atenção 
aos homens, antes se voltam para as outras mulheres Finalmente, todos os que provêm 
da divisão de um homem puro, esses perseguem o homem (...) Assim, quando os 
amantes - e descobriram precisamente a metade que é a sua, é admirável como são 
empolgados pela ternura, o sentimento de parentesco e o amor (..) E estes são os que 
 
 
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ficam juntos até ao fim da vida e que nem sequer conseguiram definir o que espera um 
do outro!" (Platão, O Banquete, Livro de Bolso Europa-América, 1977, p.50-52) 
No mesmo texto, Sócrates apresenta outra questão acerca do amor: só se ama 
aquilo que lhe falta, que não se possui. O objeto de amor, sempre ausente, é sempre 
solicitado. Mesmo o amor por aquilo que supostamente lhe é seu, na verdade é o amor 
que deseja a permanência do objeto amado no futuro. O amor aparece aqui como uma 
espécie de inquietação, de procura. O amor (philia) pelo saber (sophia), isto é, a filosofia, 
implica exatamente nisso: é o amor pera pela busca da verdade, ainda que, quando 
acreditamos ter alcançando-a, ela escape por entre nossos dedos.

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