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EM_V07_FILOSOFIA PROFESSOR

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Livro do Professor
Filosofia
Volume 7
© Editora Positivo Ltda., 2015
Dados Internacionais para Catalogação na Publicação (CIP)
(Maria Teresa A. Gonzati / CRB 9-1584 / Curitiba, PR, Brasil)
Presidente: Ruben Formighieri
Diretor-Geral: Emerson Walter dos Santos
Diretor Editorial: Joseph Razouk Junior
Gerente Editorial: Júlio Röcker Neto
Gerente de Arte e Iconografia: Cláudio Espósito Godoy
Autoria: Alexandre Martins; reformulação dos originais de Michele Czaikoski Silva
Supervisão Editorial: Jeferson Freitas
Edição de Conteúdo: Lysvania Villela Cordeiro (Coord.) e Michele Czaikoski Silva
Edição de Texto: Kathia Gavinho Paris
Revisão: Chisato Watanabe e Priscila Rando Bolcato
Supervisão de Arte: Elvira Fogaça Cilka 
Edição de Arte: Cassiano Darela
Projeto Gráfico: YAN Comunicação
Ícones: ©Shutterstock/ericlefrancais, ©ShutterStock/Myvector, ©Shutterstock/Macrovector, 
©Shutterstock/Goritza, ©ShutterStock/style-photography e ©Shutterstock/Chalermpol
Imagens de abertura: ©Shutterstock/Arthimedes e ©Shutterstock/Stokkete
Editoração: Rosana da Silva Cunha
Ilustrações: DKO Estúdio
Pesquisa Iconográfica: Janine Perucci (Supervisão) e Júnior Guilherme Madalosso 
Engenharia de Produto: Solange Szabelski Druszcz
Produção
Editora Positivo Ltda.
Rua Major Heitor Guimarães, 174 – Seminário
80440-120 – Curitiba – PR
Tel.: (0xx41) 3312-3500
Site: www.editorapositivo.com.br
Impressão e acabamento
Gráfica e Editora Posigraf Ltda.
Rua Senador Accioly Filho, 431/500 – CIC
81310-000 – Curitiba – PR
Tel.: (0xx41) 3212-5451
E-mail: posigraf@positivo.com.br
2018
Contato 
editora.spe@positivo.com.br
Todos os direitos reservados à Editora Positivo Ltda.
M386 Martins, Alexandre.
 Filosofia : ensino médio / Alexandre Martins ; reformulação dos
originais de: Michele Czaikoski Silva ; DKO Estúdio. – Curitiba : Positivo, 2016.
 v. 7 : il.
 Sistema Positivo de Ensino
 ISBN 978-85-467-0392-0 (Livro do aluno)
 ISBN 978-85-467-0393-7 (Livro do professor)
 1. Filosofia. 2. Ensino médio – Currículos. I. Silva, Michele Czaikoski. II. DKO Estúdio. III. 
Título.
 CDD 373.33
07
Sumário
Filosofia Política: da Antiguidade ao
Renascimento ............................................. 4
Pólis ideal ....................................................................................................... 7
Animal político ............................................................................................... 11
Cidade de Deus e Cidade dos Homens ............................................................. 16
Direito divino de governar .............................................................................. 20
Ética x política ................................................................................................ 23
Acesse o livro digital e 
conheça os objetos digitais 
e slides deste volume.
Filosofia Política: 
da Antiguidade ao
 
Renascimento
Ponto de partida 
07
1. Levando em conta a imensidade territorial e populacional do Brasil, seria possível viver aqui sem nenhum tipo de 
governo, autoridade ou poder organizado?
2. Grupos sociais menores podem conviver sem esses elementos?
3. O que você entende por política?
4. É possível viver em sociedade, sem política?
5. Que modelo de política seria ideal para promover uma sociedade justa?
1
 De acordo com o Censo de 2015 do IBGE, o Brasil é o 5.° maior 
país do mundo, com um território de 8 515 767,049 km² e 
205 971 359 habitantes. ©Shutterstock/michal812; ©Shutterstock/Blvdone
4
A Filosofia Política reflete sobre a vida humana em sociedade e as melhores formas de go-
verno. Além disso, aborda questões como a justiça social e a garantia dos direitos humanos, 
que são fatores fundamentais para um bom convívio social.
Nesta unidade, você conhecerá um pouco da obra de pensadores que investigaram temas 
relacionados à política, desde a Antiguidade até o Renascimento. 
a humana em sociedade e as melhores formas de go-
mo a justiça social e a garantia dos direitos humanos,
A palavra “política” pode ser utilizada com vários sentidos, aplicados a diversos contextos, mas, por definição, 
ela remete a ideias como poder e organização. Ela deriva do termo grego “pólis”, que em geral é traduzido como 
“cidade” (conjunto dos cidadãos e sua forma de organização social). No entanto, é importante percebermos que o 
modelo grego de cidade se parece mais com o que atualmente chamamos de Estado, ou seja, o conjunto dos po-
deres políticos de uma nação. Por isso, a pólis grega costuma ser definida como Cidade-Estado. 
No âmbito da Filosofia Política, a palavra “política” tem os sentidos de governo e de ação coletiva de grupos so-
ciais organizados, que estabelecem leis e obedecem a elas. Essa compreensão surgiu com base em ideias e práticas 
greco-romanas. Por exemplo, na Grécia, o governo de Sólon sobre Atenas foi o primeiro a descentralizar o poder, até 
então concentrado nas mãos dos aristocratas (famílias nobres), organizando os cidadãos para a chamada ta politika, 
isto é, a participação ativa na pólis. Esse processo deu origem à democracia (demos: muitos; kracia: poder), na qual os 
cidadãos participavam diretamente do poder, sem a necessidade de representantes. Esse modelo de democracia ficou 
conhecido como democracia direta.
Em Roma, por sua vez, a política recebeu o nome de res publica, expressão que significa “coisa pública”. Nesse 
contexto, a civitas (similar romana da pólis) era entendida como o conjunto de instituições públicas e sua corres-
pondente administração pelos cidadãos – excluindo, das decisões políticas, as mulheres, as pessoas escravizadas 
e os estrangeiros, assim como ocorria em Atenas. Porém, diferentemente do modelo político ateniense, em Roma 
a democracia era indireta, ou seja, havia eleição de representantes para o Senado, e eles governavam em nome 
da população – modelo mais próximo ao dos regimes democráticos da atualidade.
Para ler e refletir
Os modelos governamentais e de organização coletiva podem variar entre as sociedades, mas a política é conside-
rada uma condição necessária para a vida social. Sendo assim, diversos pensadores refletiram, e ainda refletem, sobre 
essa necessidade, indagando qual o modelo político capaz de garantir o bem comum. 
Essa reflexão sobre as relações entre a política e a forma como 
vivemos também está presente na literatura e inspirou o conto 
A sereníssima República, de Machado de Assis. Nele, o narrador 
cria uma nova sociedade, bastante peculiar. Para isso, julgou ne-
cessário fundar um sistema político, ou restaurar um antigo, já 
em desuso, em vez de utilizar algum sistema vigente, para evitar 
comparações e conflitos. Entre esses dois caminhos possíveis, 
escolheu restaurar o sistema político da República de Veneza, 
conhecida ainda como “A sereníssima”. 
A República de Veneza, ou República Se
reníssima, 
existiu do século IX ao XVIII. Sua Justiça 
era consi-
derada exemplar, pois todo acusado tinh
a direito à 
defesa, o rigor dos julgamentos era o me
smo para 
qualquer classe social e os governantes ta
mbém se 
submetiam às leis, podendo ser executad
os se não 
governassem com honestidade.
2 Encaminhamento metodológico.
5
A sereníssima República
(Conferência do cônego Vargas)
[...] Senhores, vou assombrar-vos, como teria assombrado a Aristóteles, se lhe perguntasse: 
Credes que se possa dar um regime social às aranhas? Aristóteles responderia negativamente, como 
vós todos, porque é impossível crer que jamais se chegasse a organizar socialmente esse articulado arisco, 
solitário, apenas disposto ao trabalho, e dificilmente ao amor. Pois bem, esse impossível fi-lo eu. [...]
Sim, senhores, descobri uma espécie araneídea que dispõe do uso da fala; coligi alguns, depois muitos 
dos novos articulados, e organizei-os socialmente. O primeiro exemplar dessa aranha maravilhosa apare-
ceu-me no dia 15 de dezembro de 1876. Era tão vasta, tão colorida, dorso rubro, com listras azuis, trans-
versais,tão rápida nos movimentos, e às vezes tão alegre, que de todo me cativou a atenção. No dia seguinte 
vieram mais três, e as quatro tomaram posse de um recanto de minha chácara. Estudei-as longamente; 
achei-as admiráveis. [...] 
Dentro de um mês tinha comigo vinte aranhas; no mês seguinte cinquenta e cinco; em março de 1877 
contava quatrocentas e noventa. Duas forças serviram principalmente à empresa de as congregar: o emprego 
da língua delas, desde que pude discerni-la um pouco, e o sentimento de terror que lhes infundi. A minha 
estatura, as vestes talares, o uso do mesmo idioma, fizeram-lhes crer que era eu o deus das aranhas, e desde 
então adoraram-me. E vede o benefício desta ilusão. Como as acompanhasse com muita atenção e miudeza, 
lançando em um livro as observações que fazia, cuidaram que o livro era o registro dos seus pecados, e fortale-
ceram-se ainda mais na prática das virtudes. A flauta também foi um grande auxiliar. Como sabeis, ou deveis 
saber, elas são doidas por música.
Não bastava associá-las; era preciso, dar-lhes um governo idôneo. Hesitei na escolha; muitos dos 
atuais pareciam-me bons, alguns excelentes, mas todos tinham contra si o existirem. Explico-me. Uma 
forma vigente de governo ficava exposta a comparações que poderiam amesquinhá-la. Era-me preciso, 
ou achar uma forma nova, ou restaurar alguma outra abandonada. Naturalmente adotei o segundo alvi-
tre, e nada me pareceu mais acertado do que uma república, à maneira de Veneza, o mesmo molde, e até 
o mesmo epíteto. [...] Entre os diferentes modos eleitorais da antiga Veneza, figurava o do saco e bolas, 
iniciação dos filhos da nobreza no serviço do Estado. Metiam-se as bolas com os nomes dos candidatos 
no saco, e extraía-se anualmente um certo número, ficando os eleitos desde logo aptos para as carreiras 
públicas. Este sistema fará rir aos doutores do sufrágio; a mim não. Ele exclui os desvarios da paixão, 
os desazos da inépcia, o congresso da corrupção e da cobiça. Mas não foi só por isso que o aceitei; tra-
tando-se de um povo tão exímio na fiação de suas teias, o uso do saco eleitoral era de fácil adaptação, 
quase uma planta indígena. [...]
A proposta foi aceita. Sereníssima República pareceu-lhes um título magnífico, roça-
gante, expansivo, próprio a engrandecer a obra popular. [...]
Com efeito, desde que compreenderam que 
no ato eleitoral estava a base da vida pública, 
trataram de o exercer com a maior atenção. 
ASSIS, Machado de. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. v. II. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/
DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=1947>. Acesso em: 21 jul. 2015.
3 Encaminhamento metodológico.
4 Encaminhamento metodológico.
5 Orientação didática.
A sereníssima República
(Conferência do cônego Vargas)
[...] Senhores, vou assombrar-vos, como teria assombrado a Aristóteles, se lhe pererrrrggguntasse: 
Credes que se possa dar um regime social às aranhas? Aristóteles responderia negativamente, como 
vós todos, porque é impossível crer que jamais se chegasse a organizar socialmente esse articuladoaarrttiicucuullaadodo arisco, 
solitário, apenas disposto ao trabalho, e dificilmente ao amor. Pois bem, esse impossível fi-lo eu. [...]
Sim, senhores, descobri uma espécie araneídea que dispõe do uso da fala; coligiccoolligiigigi alguns, depois muitos 
dos novos articulados, e organizei-os socialmente. O primeiro exemplar dessa aranha maravilhosa apare-
ceu-me no dia 15 de dezembro de 1876. Era tão vasta, tão colorida, dorso rubrorrubroubbroro, com listras azuis, trans-
versais, tão rápida nos movimentos, e às vezes tão alegre, que de todo me cativou a atenção. No dia seguinte 
vieram mais três, e as quatro tomaram posse de um recanto de minha chácara. Estudei-as longamente; 
achei-as admiráveis. [...] 
Dentro de um mês tinha comigo vinte aranhas; no mês seguinte cinquenta e cinco; em março de 1877 
contava quatrocentas e noventa. Duas forças serviram principalmente à empresa de as congregar: o emprego
da língua delas, desde que pude discerni-la um pouco, e o sentimento de terror que lhes infundi. A minha 
estatura, as vestveestesveessteetees talarestataallaareerees, o uso do mesmo idioma, fizeram-lhes crer que era eu o deus das aranhas, e desde 
então adoraram-me. E vede o benefício desta ilusão. Como as acompanhasse com muita atenção e miudeza, 
lançando em um livro as observações que fazia, cuidaram que o livro era o registro dos seus pecados, e fortale-
ceram-se ainda mais na prática das virtudes. A flauta também foi um grande auxiliar. Como sabeis, ou deveis 
saber, elas são doidas por música.
Não bastava associá-las; era preciso, dar-lhes um governo idôneo. Hesitei na escolha; muitos dos 
atuais pareciam-me bons, alguns excelentes, mas todos tinham contra si o existirem. Explico-me. Uma 
forma vigente de governo ficava exposta a comparações que poderiam amesquinhá-la. Era-me preciso, 
ou achar uma forma nova, ou restaurar alguma outra abandonada. Naturalmente adotei o segundo alviaalvilvvii-
trtrrtreere, e nada me pareceu mais acertado do que uma república, à maneira de Veneza, o mesmo molde, e até 
o mesmo epítetoeeppítíteteetooto. [...] Entre os diferentes modos eleitorais da antiga Veneza, figurava o do saco e bolas, 
iniciação dos filhos da nobreza no serviço do Estado. Metiam-se as bolas com os nomes dos candidatos 
no saco, e extraía-se anualmente um certo número, ficando os eleitos desde logo aptos para as carreiras 
públicas. Este sistema fará rir aos doutores do sufrágiosusuufrfrárággioágigiooio; a mim não. Ele exclui os desvariodde variosesvsvavaarrioioos da paixão,
os desazos ddeessaazoozoos da inépciaiinénééppcciaia, o congresso da corrupção e da cobiça. Mas não foi só por isso que o aceitei; tra, -
tando-se de um povo tão exímio na fiação de suas teias, o uso do saco eleitoral era de fácil adaptação,
quase uma planta indígena. [...]
A proposta foi aceita. Sereníssima República pareceu-lhes um título magnífico, roçaroroçaoççaa-
ganteganteganantnteete, expansivo, próprio a engrandecer a obra popular. , [...]
Com efeito, desde que compreenderam que 
no ato eleitoral estava a base da vida pública,
trataram de o exercer com a maior atenção. 
ASSIS, Machado de. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. v. II. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquiisa/
DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=1947>. Acesso em: 21 jul. 2015.
3 Encaminhamento metodológico.
4 Encaminhamento metodológico.
5 Orientação didática.
articulado: espécime dotado de articulações.
coligir: agrupar, reunir.
rubro: cor vermelha de tonalidade bastante acentuada.
vestes talares: roupas características dos sacerdotes, cuja origem 
remonta aos trajes dos religiosos da Roma Antiga.
alvitre: conselho, recomendação, sugestão.
epíteto: expressão acrescentada a um nome para qualificá-lo.
sufrágio: votação.
desvario: loucura, desregramento.
desazo: falta de jeito, inaptidão. 
inépcia: falta absoluta de aptidão.
roçagante: que passa levemente.
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6 Volume 7
1. O conto narra a criação de uma sociedade politicamente organizada, cujos membros eram aranhas. A organização 
política é uma exclusividade humana ou existe entre outras espécies de seres vivos? Explique e justifique seu ponto 
de vista.
2. No conto, o personagem criado por Machado de Assis optou pela retomada de um sistema político antigo para fundar 
uma sociedade fictícia. Exercite sua imaginação percorrendo o caminho contrário: imagine-se com a oportunidade de 
instituir e governar uma sociedade. Então, crie e descreva um sistema político para organizar a convivência de seus 
membros. 6 Orientações para as respostas.
Pólis ideal
Platão viveu em Atenas, no período clássico, mar-
cado pela democracia. Pertencendo a uma família da 
aristocracia da cidade, estava destinado ao exercício 
da política. Cedo, porém, tendo como referência o 
episódio da execução de Sócrates, ele sedecepcio-
nou com a democracia ateniense, julgando-a cor-
rupta e injusta. Além disso, Platão denunciou o fato 
de que, nesse regime, havia grande espaço para a 
retórica, por meio da qual os cidadãos tentavam in-
fluenciar uns aos outros nas decisões tomadas em 
praça pública, utilizando-se de discursos para defen-
der opiniões nem sempre justas ou verdadeiras. Desse 
modo, a aparência e a persuasão contavam mais do 
que a verdade. Por isso, em oposição à retórica, esse 
filósofo defendia a dialética, um método de raciocí-
nio e discurso que confrontava os conceitos apresentados num diálogo a fim de 
estabelecer significados rigorosos e verdadeiros. Ele via na dialética o fundamento 
necessário para a política ideal que descreveu no diálogo A República.
Segundo Platão, o modelo ideal de pólis (a Politeia ou República) deveria 
oferecer lugares fixos aos cidadãos, de acordo com a natureza de cada um. Ele 
acreditava que essa natureza seria revelada pelos indivíduos no decorrer de um 
processo educativo, a paideia, que se dividiria em três etapas: 
DAVID, Jacques-Louis. A morte de Sócrates. 1787. 1 óleo sobre tela, color., 
130 cm × 196 cm. Museu Metropolitano de Arte, Nova Iorque.
 Para Platão, a morte de Sócrates, sob a acusação de corromper a juventude, 
foi a prova de que a democracia não era o sistema político mais correto e 
justo, porque abria a possibilidade de se agir a favor de interesses pessoais.
7 Orientação didática.
Inicialmente, a palavra paideia (de paidos: 
criança) significava “criação de menino
s”. 
Na obra de Platão, passou a definir u
m 
modelo de educação capaz de preparar 
os 
cidadãos para viver na pólis ideal.
Na primeira etapa, o aprendizado deveria acontecer em locais de trabalho, com uma perspectiva técnica, basea-
da na repetição de atividades produtivas. Os indivíduos que não demonstrassem aptidão para progredir a outros 
estágios seriam incluídos na classe dos produtores.
Na segunda etapa, o aprendizado teria como princípios a coragem e a moderação. Ela é conhecida como edu-
cação musaica, sendo composta de ginástica, poesia e música, sem utilizar discursos falsos, como Platão julgava 
serem os poemas de Homero e as peças teatrais de sua época. Nessa etapa, o êxito na ginástica demonstraria 
potencial para viver com simplicidade, além de preparar os indivíduos para a guerra. Os que se destacassem 
nesse contexto, mas não demonstrassem interesse em se aprofundar nos estudos, passariam a compor a classe 
dos guardiões ou guerreiros.
Na terceira etapa, os estudos incluiriam Matemática, Aritmética, Geometria e Astronomia. Os que se mostrassem 
mais aptos nessas ciências seriam encaminhados ao estudo da dialética, para desenvolver uma visão racional da 
realidade, guiada pela ideia do Bem. Quem se destacasse também nesse novo estudo formaria a classe dos magis-
trados e os melhores entre eles poderiam se tornar governantes. Logo, o governante ideal platônico seria o filósofo.
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m
Filosofia 7
indolente: ocioso, preguiçoso. passional: que age movido pelas paixões.
Um aspecto relevante do pensamento político de Platão é a comparação que ele estabeleceu entre o governo ideal 
da Politeia e o autogoverno, ou seja, aquele que os indivíduos deveriam exercer sobre si mesmos. Assim, as três classes 
sociais formadas nas diferentes etapas da educação corresponderiam às três partes da alma humana:
Platão afirmava a necessidade do respeito à hierarquia, que julgava natural, entre as partes da alma: a racional 
– sábia, corajosa e moderada – deveria conduzir a irascível, e ambas deveriam controlar a apetitiva. Assim, os indiví-
duos poderiam manter sob controle os desejos ligados à vida sensível e seus impulsos emotivos, subordinando-se 
inteiramente à razão. 
Da mesma forma, o filósofo defendia o respeito à hierarquia entre as classes sociais: os governantes deveriam 
orientar a atividade dos guardiões e ambos, a dos produtores. Disso dependeria o estabelecimento da política ideal, 
fundamentada no bem comum e na justiça, cuja meta seria alcançar o bem supremo. Sendo assim, Platão afirmava 
ainda que a Politeia deveria evitar a propriedade individual de riquezas, a poesia imitativa e outras artes que desper-
tassem as paixões humanas. Além disso, deveria submeter os prazeres a rígidas normas, para que estes não corrom-
pessem os indivíduos e as classes sociais, tornando-os indolentes e passionais. 
Por pensar dessa maneira, Platão entendia que o governo poderia ser monárquico (exercido por um rei) ou aris-
tocrático (exercido por uma elite). Porém, somente os filósofos seriam capazes de governar, por serem os únicos 
dotados de disciplina moral e intelectual suficiente para administrar a pólis e a si próprios, pelo bom uso da razão. 
Isso porque, em seu entendimento, apenas os filósofos poderiam ir além das aparências e alcançar as essências, como 
as ideias de bem e justiça. 
Nessa perspectiva, a justiça era considerada a correta organização entre as partes da alma, para o indivíduo, e en-
tre as classes sociais, para a cidade ideal. Isso abria a possibilidade do recurso à mentira, da parte do governante filóso-
fo, pelo bem dos cidadãos, uma vez que ele representava o prisioneiro da alegoria (ou mito) da caverna que conheceu 
a verdade e, portanto, deveria educar os demais prisioneiros. Porém, tal como na alegoria, os vícios e as ilusões de seus 
companheiros certamente dificultariam sua tarefa, assim como os desejos e a impetuosidade não dominados dificul-
tavam a busca da alma racional pela sabedoria. Portanto, a fim de ser justo e bom, esse governante singular deveria 
estar acima de qualquer lei escrita e fixa, agindo com discernimento e de acordo com as necessidades em cada caso.
Alma racional (representada pelos 
governantes) – Capaz de conhecer a verdade 
e alcançar as essências no mundo inteligível.
Alma irascível (representada pelos 
guerreiros) – Responsável pela defesa do 
indivíduo, que deveria manter a coragem, 
mas também moderar a agressividade.
Alma apetitiva ou concupiscível 
(representada pelos produtores) – Sede 
dos desejos, capazes de promover a 
sobrevivência do corpo, mas que deveriam 
ser atendidos com moderação.
Questione as diferenças que os alunos percebem entre o Estado ideal platônico e o atual 
Estado brasileiro, considerando: a hierarquia social, a propriedade individual de riquezas 
e a presença de formas de entretenimento capazes de despertar as paixões humanas.
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8 Volume 7
Para ler e refletir
 Você acredita que as pessoas já nascem com destinos e papéis sociais definidos ou têm escolha nesse sentido? 
Reflita sobre isso e registre as conclusões a que chegou.
Leia, a seguir, um trecho da obra A República, de Platão. Trata-se de um diálogo entre os personagens Sócrates e 
Glauco. Nele, Sócrates propõe o uso de um mito para garantir que, no Estado ideal platônico, os indivíduos ocupassem 
apenas os cargos adequados à sua suposta natureza.
 Com o propósito de justificar a distinção entre as classes sociais na Politeia, Platão 
valeu-se de um mito. Segundo ele, um deus havia colocado ouro na alma dos 
filósofos, prata na alma dos guerreiros, bronze e ferro na alma dos agricultores e 
outros artesãos.
– Então, no caso das mentiras necessárias de que falamos agora, que jeito teríamos de dizer uma mentira, 
única e genuína, com ela persuadindo principalmente os próprios chefes e, se não, o resto da cidade?
– Que mentira? disse.
– Não se trata de nada de novo, disse eu, mas de uma história fenícia que, já em tempos passados, ocorreu 
em muitos lugares, como nos dizem e fazem crer os poetas, mas não aconteceu em nossos dias nem nunca 
mais aconteceu nem sei se aconteceria... Mas persuadir-nos disso exigiria um longo processo de persuasão...
– Estás com jeito, disse,de quem hesita em falar!
– Acharás, disse, quando eu falar, que é muito natural que hesite.
– Fala, disse, e não tenhas medo!
– Falo sim... Embora não saiba que ousadia nem que palavras eu vou usar, falarei tentando, em primeiro 
lugar, convencer os próprios chefes e os soldados, em seguida, também o resto da cidade, de que aquilo com 
que os nutrimos e educamos, tudo isso, como se fossem sonhos, eles acreditavam que se dera com eles e a eles 
dizia respeito, mas, na verdade, tinham sido plasmados e nutridos sob a terra, eles próprios, as suas armas e 
o restante de seu equipamento; e, quando estavam completamente formados, mãe que era, a terra os trouxe 
à luz, e agora é preciso que deliberem sobre a terra que habitam e a defendam como se ela fosse sua mãe e 
nutriz, se alguém a atacar, e também que pensem nos outros cidadãos como irmãos seus, nascidos da terra.
– Não admira, disse, que há pouco tenhas relutado em dizer essa mentira!
– É bem natural, disse eu. Mas, mesmo assim, ouve o resto do mito. Todos vós que estais na cidade sois ir-
mãos, como diremos ao fazer o relato, mas, ao plasmar-vos, o deus, no momento da geração, em todos os que 
eram capazes de comandar misturou ouro, e por isso são valiosos, e em todos os que eram auxiliares daqueles 
misturou prata, mas ferro e bronze nos agricultores e outros artesãos. Já que todos vós sois da mesma estirpe, 
no mais das vezes, geraríeis filhos muito semelhantes a vós mesmos, mas, às vezes, do ouro seria gerado um 
filho de prata, e, da prata, um de ouro, e assim com todas as combinações de um metal com outro. Aos chefes, 
como exigência primeira e maior, ordenou o deus que de nada mais fossem tão bons guardiões quanto de 
sua prole, nem nada guardassem com tanto rigor, procurando saber que mistura havia na alma deles e que, 
se um filho tivesse dentro de si um pouco de bronze ou de ferro, de forma alguma se compadecesse dele, 
mas que o relegasse, atribuindo-lhe o 
valor adequado à natureza, ao grupo 
dos artífices e agricultores. Mas, em 
compensação, se um deles tivesse em 
si um pouco de ouro ou prata, reco-
nhecendo-lhe o valor, fizesse que uns 
ascendessem à função de guardião e 
outros à de auxiliares, porque havia 
um oráculo que previa que a cidade 
pereceria quando um guardião de fer-
ro ou bronze estivesse em função. [...]
PLATÃO. A República. São Paulo: Martins Fontes, 2006. p. 128-129.
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8 Orientações para a resposta.
Filosofia 9
1. De acordo com Platão, quem reunia as condições necessárias para governar a pólis ideal e que condições eram essas? 
Para Platão, somente o filósofo teria condições de governar a pólis ideal, por suas virtudes e por conhecer as essências, inclusive a da 
justiça e a do bem. 
2. Em sua opinião, que critérios devem ser utilizados para escolher um bom governante? Justifique sua resposta.
Pessoal. Podem ser considerados valores como honestidade e justiça, além de habilidades administrativas ou de comunicação, entre outros
critérios. A justificativa é parte importante da resposta. Podem-se aproveitar as reflexões que os alunos sistematizarem nesta questão 
para discutir se eles acreditam que esses critérios foram atendidos na escolha dos governantes da cidade, do estado ou mesmo do país 
em que vivem e, caso não tenham sido, questionar o(s) porquê(s).
3. Posicione-se criticamente em relação ao modelo de Estado idealizado por Platão. Cite os aspectos que você considera 
positivos e negativos, justificando essas opiniões.
Pessoal. Os alunos devem elencar alguns aspectos que considerem positivos e negativos na proposta política de Platão, explicando o 
motivo dessas escolhas. A atividade deve envolver uma retomada do conteúdo da unidade, mas também pode abarcar a pesquisa de 
novos trechos da obra A República, possibilitando uma maior fundamentação das opiniões. 
Reflexão em ação
ConexõesConexões 9 Orientações para as respostas.
1. Para manter a harmonia na cidade, Platão sugeria que o governante recorresse a um mito. Atualmente, o Estado 
utiliza “mitos” para manter a ordem social? Justifique sua resposta. 
2. Leia a notícia e realize a atividade proposta a seguir.
W3 Norte: também chamada de Avenid
a Norte, 
é uma via secundária que se localiza na A
sa Norte, 
bairro da região administrativa de Brasília
, Distrito 
Federal.
De lixeiro a médico: brasiliense vence pobreza e se forma em medicina
[...]
Das latas de lixo, o brasiliense Cícero Batista Pereira, 33 anos, recolhia as verduras e os livros. Com o que os 
outros descartavam, ele se alimentava e também cursou o ensino fundamental e desenvolveu o interesse pela 
ciência. Na adolescência, fez curso técnico em enfermagem e teve a 
certeza de que a área de saúde era o caminho dele. Para chegar até o di-
ploma de medicina [...], Cícero cruzou a W3 Norte incontáveis vezes. 
A cada parada de ônibus, vasculhou as prateleiras do projeto Biblioteca 
Popular, do Açougue Cultural, em busca de títulos que o ajudassem na 
preparação para o vestibular. O hábito se manteve na graduação.
10 Volume 7
O ex-catador, nove irmãos e a mãe moravam na Nova QNL, o 
Chaparral, entre Taguatinga e Ceilândia. Eles percorriam os con-
têineres de supermercados e verdurarias da cidade para abastecer a 
casa. No horário contrário ao das aulas, Cícero também vigiava carros 
em busca de trocados para colaborar com o sustento. “Se a gente não 
comia, não tinha como estudar”, lembra. [...]
[Depois de muito batalhar e en-
frentar toda sorte de problemas e dificuldades, sobretudo, por não aceitar 
seu destino,] Cícero se formou na Faculdades Integradas da União Edu-
cacional do Planalto Central (Faciplac). Hoje, com registro no Conselho 
Regional de Medicina (CRM) e planos de se especializar em psiquiatria, 
Cícero ainda se surpreende com a trajetória dele. “O doutor Cícero ainda 
soa diferente, não caiu a ficha. Sinto muito orgulho de ter chegado até 
aqui e entendo que tenho a obrigação de ser um bom médico, em consi-
deração a todos os que acreditaram em mim”, afirma, com um sorriso de 
agradecimento.
Nova QNL, o Chaparral, entre Taguati
nga 
e Ceilândia: uma parte do Setor L Nort
e de 
Taguatinga, formada pelas quadras pare
s de 
14 a 30. Localiza-se na divisa de Tagua
tinga 
com Ceilândia, no Distrito Federal.
 Platão acreditava que filósofos, guerreiros e artesãos eram diferentes entre si por natureza. Então, concebia uma 
sociedade com lugares sociais predeterminados e fixos. Tomando como referência o caso de Cícero, aponte seme-
lhanças e diferenças entre o modelo platônico de sociedade e a realidade brasileira. 
 “Sinto muito orgulho de ter chegado até 
aqui”. 
DE LIXEIRO a médico: brasiliense vence a pobreza e se forma em medicina. Correio Braziliense. Disponível em: <http://www.diariodepernambuco.
com.br/app/noticia/brasil/2014/06/09/interna_brasil,509006/de-lixeiro-a-medico-brasiliense-vence-pobreza-e-se-forma-em-medicina.shtml>. 
Acesso em: 21 jul. 2015.
Animal político
Aristóteles foi aluno de Platão em sua Academia, mas, apesar de existirem algumas semelhanças entre os pensamen-
tos de ambos, construiu uma filosofia original e crítica em relação às teorias de seu mestre. Ele manteve, por exemplo, a 
ideia de que o bem comum e a justiça constituíam os fundamentos da política. Contudo, questionou alguns aspectos da 
teoria platônica, tais como: a falta de uma descrição mais clara sobre a forma de vida da classe produtora e a ausência 
de propriedade privada na Politeia – ainda que Aristóteles também defendesse a moderação das riquezas. Além disso, 
enquanto Platão comparava o Estado à alma do indivíduo, Aristóteles comparava-o a uma família, na qual o chefe exercia 
seu poder sobre as mulheres, as crianças e as pessoas escravizadas a seu serviço. Porém, o filósofo ressaltava que esta não 
era uma comparação totalmente precisa, pois havia uma diferença de espécie entre a autoridade política e a familiar. 
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nec
ess
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es.
Justiça participativa 
– organização do poder 
político, de modo que os 
cidadãos (os iguais) 
tivessem a oportunidade 
de participar 
igualmente do governo.
No exercício da autoridade política, Aristóteles 
atribuía grande valor às leis escritas, propondo que 
o governante se submetesse a elas, por meio de 
uma constituição, ou seja, de uma organização 
prévia e hierárquica das autoridades presentes na 
pólis. Assim, a concepção aristotélica de Estado re-
feria-se a um conjunto formado pelos cidadãos e 
pelos atos de governo, sendo ambos regidos por 
uma constituição capaz de promover a virtude e o 
bem comum, aspectos relacionados ao conceito 
de justiça. Este, por sua vez, o filósofo dividia em 
justiça participativa e justiça distributiva.
Filosofia 11
Quanto às formas de governo, diferentemente de Platão, que não concordava com a democracia por considerá-la 
refém da retórica, Aristóteles aceitava o governo constitucional de muitos (poli ou demos). Para ele, em vez de esperar 
a virtude perfeita encarnada pelo governante filósofo, era preferível contar com a soma das virtudes parciais dos 
cidadãos, aos quais definia como “os iguais”. Afinal, segundo esse pensador, o exercício da cidadania estava ligado à 
busca do bem comum, que deveria estar sempre acima do individual, já que uma cidade poderia ser autossuficiente, 
mas os indivíduos isolados, não.
Nesse aspecto, porém, vale lembrar que a concepção aristotélica de cidadania não contemplava todos os membros da 
cidade. Ela excluía mulheres, estrangeiros, pessoas escravizadas ou economicamente pobres, o que o filósofo procurava 
justificar afirmando haver diferenças naturais entre os seres humanos. Segundo ele, a igualdade entre os cidadãos se dava 
em razão de suas qualidades superiores, conforme você pode observar no texto a seguir.
“A pretensão ao exercício de altas funções deve fundar-se necessariamen-
te em superioridade nas qualidades essenciais à existência da cidade; logo, 
é razoável a pretensão dos homens bem nascidos, livres e ricos, a honrarias 
inerentes ao exercício de altas funções, pois deve haver homens livres e deve 
haver contribuintes para o tesouro público, já que não poderia haver uma ci-
dade inteiramente constituída de homens pobres e escravos. Admitindo-se, 
então, que isto seja necessário, evidentemente há também necessidade de 
justiça e talento político, igualmente indispensáveis à administração de uma 
cidade, com a diferença de que riqueza e liberdade são indispensáveis à 
própria existência da cidade, enquanto a justiça e o talento político são in-
dispensáveis à sua boa administração”.
ARISTÓTELES. Política. Tradução de Mário de Gama Kury. Brasília: Editora Universidade de 
Brasília, 1985. Capítulo VII, 1283a.
Aristóteles não acreditava em uma forma de 
 Estado perfeita em si mesma. Ele analisou minucio-
samente as constituições de sua época e a proposta 
platônica para um governo ideal. Assim, avaliando 
as vantagens e as deficiências de cada uma, concluiu 
que poderia haver bons governos com o poder nas 
mãos de apenas uma pessoa, mas também de al-
gumas pessoas ou de muitas. Afinal, seu valor seria 
determinado pela constituição utilizada, a qual, por 
sua vez, poderia e deveria se modificar no decorrer 
do tempo, caso isso se mostrasse necessário.
Destaca-se, ainda, nas obras aristotélicas, a no-
ção de política natural, ou seja, da política como 
parte da natureza (essência) humana, considerada, 
ao mesmo tempo, racional e sociável. Aristóteles 
chegou a definir o ser humano como um animal 
político (zoon politikon), naturalmente voltado à 
justiça, ao bem comum e à felicidade. Segundo ele, 
essa condição é que teria levado a humanidade a 
fundar o Estado. 
LAPLANTE, Charles. Aristóteles e seu pupilo, Alexandre. 1866. 1 gravura, 
color. Biblioteca Pública de Nova Iorque, Nova Iorque.
 Aristóteles concebia o ser humano como um animal político. 
Atuando como tutor, ele transmitiu seus ensinamentos a Alexandre, 
da Macedônia, também conhecido como Alexandre, o Grande, que se 
tornou o governante de um dos maiores impérios do mundo antigo.
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12 Volume 7
Para ler e refletir
Para Aristóteles, a pólis correspondia a uma associação de homens livres, capaz de garantir-lhes a sobrevivência 
e a vida digna, ou seja, uma vida ética e feliz. Tais concepções aparecem, de forma explícita, no texto do filósofo, 
apresentado a seguir. 
A observação nos mostra que cada Estado é uma comunidade estabelecida com alguma boa finalidade, 
uma vez que todos sempre agem de modo a obter o que acham bom. Mas, se todas as comunidades almejam 
o bem, o Estado ou comunidade política, que é a forma mais elevada de comunidade e engloba tudo o mais, 
objetiva o bem das maiores proporções e excelência possíveis. [...]
Por conseguinte, é evidente que o Estado é uma criação da natureza e que o homem é, por natureza, 
um animal político. E aquele que por natureza, e não por um mero acidente, não tem cidade, nem Estado, 
ou é muito mau ou muito bom, ou subumano ou super-humano – subumano como o guerreiro insano 
condenado, nas palavras de Homero, como “alguém sem família, sem lei, sem lar”; porque uma pessoa 
assim, por natureza amante da guerra, é um não colaborador, como uma peça isolada num jogo de damas. 
É evidente que o homem é um animal mais político do que as abelhas ou qualquer outro ser gregário. A 
natureza, como se afirma frequentemente, não faz nada em vão, e o homem é o único animal que tem o dom 
da palavra. E mesmo que a mera voz sirva para nada mais do que uma indicação de prazer ou de dor, e seja 
encontrada em outros animais (uma vez que a natureza deles inclui apenas a percepção de prazer e de dor, 
a relação entre elas e não mais que isso), o poder da palavra tende a expor o conveniente e o inconveniente, 
assim como o justo e o injusto. Essa é uma característica do ser humano, o único a ter noção do bem e do 
mal, da justiça e da injustiça. E é a associação de seres que têm uma opinião comum acerca desses assuntos 
que faz uma família ou uma cidade.
O Estado tem, por natureza, mais importância do que a família e o indivíduo, uma vez que o conjunto é 
necessariamente mais importante do que as partes. Separem-se do corpo os pés e as mãos e eles não serão mais 
nem pés nem mãos (a não ser nominalmente, o que seria o mesmo que falar em pés ou mãos esculpidos em 
pedra); destruídos, não terão mais o poder e as funções que os tornavam o que eram. Assim, embora usemos 
as mesmas palavras, não estamos falando das mesmas coisas. A prova de que o Estado é uma criação da natu-
reza e tem prioridade sobre o indivíduo é que o indivíduo, quando isolado, não é autossuficiente; no entanto, 
ele o é como parte relacionada com o conjunto. Mas aquele que for incapaz de viver em sociedade, ou que não 
tiver necessidade disso por ser autossuficiente, será uma besta 
ou um deus, não uma parte do Estado. Um instinto social é 
implantado pela natureza em todos os homens, e aquele que 
primeiro fundou o Estado foi o maior dos benfeitores. Isso 
porque o homem, quando perfeito, é o melhor dos animais; 
porém, quando apartado da lei e da justiça, é o pior de todos; 
uma vez que a injustiça armada é a mais perigosa, e ele é natu-
ralmente equipado com braços, pode usá-los com inteligência 
e bondade, mas também para os piores objetivos. É por isso 
que, se o ser humano não for excelente, será o mais perverso 
e selvagem dos animais, o mais repleto de luxúria e de gula. 
Mas a justiça é o vínculo dos homens, nos Estados;porque a 
administração da justiça, que é a determinação daquilo que é 
justo, é o princípio da ordem numa sociedade política.
ARISTÓTELES. Política. In: ______. Aristóteles. São Paulo: Nova Cultural, 2004. p. 143, 146-147. (Os pensadores).
 Para Aristóteles, o dom da palavra, exclusivo da 
espécie humana, fazia do homem um animal 
essencialmente político, capaz de expressar 
opiniões sobre o bem e o mal, a justiça e a injustiça. 
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Filosofia 13
Reflexão em ação
Leia os textos e observe a caricatura.
Texto 1
[...] estabelecemos que, por natureza, o homem é um animal político. Os homens têm um desejo natural 
pela vida em sociedade, até mesmo quando não sentem necessidade de procurar ajuda. Todavia, o interesse 
comum os mantém unidos, desde que o interesse de todos contribua para a vida virtuosa de cada um. [...]
ARISTÓTELES. Política. In: ______. Aristóteles. São Paulo: Nova 
Cultural, 2004. p. 222. (Os pensadores).
Texto 2
[...] Claro está, então, que as constituições que 
objetivam o bem comum estão certas, de acordo 
com a justiça absoluta, enquanto as que objeti-
vam somente o bem dos governantes estão erra-
das. São desvios, divergências do padrão correto. 
São como o governo do senhor sobre o escravo, 
quando o interesse do senhor é supremo. Mas o 
Estado é uma associação de homens livres.
ARISTÓTELES. Política. In: ______. Aristóteles. São Paulo: Nova 
Cultural, 2004. p. 223. (Os pensadores).
1. Com base nos textos e em seus conhecimentos 
sobre o pensamento de Aristóteles, posicione-se 
criticamente em relação às seguintes teses do filó-
sofo:
a) O homem é um animal político. 
Os alunos devem responder se concordam ou não com a tese de que a política é natural, ou seja, decorre diretamente da natureza 
racional, própria do ser humano. A resposta deve incluir uma justificativa para a opinião apresentada.
b) O governante deve submeter-se a uma constituição. 
Para posicionar-se, os alunos precisam valer-se do significado de “constituição” para Aristóteles: organização prévia das leis e 
autoridades, às quais o governante também deveria se submeter. É importante justificar a opinião apresentada.
2. Com base no texto 1 e na obra A política: a grande porca, disserte sobre a política com base em duas ideias centrais: 
a) o fato de ser extremamente importante para a vida em sociedade;
b) a eventual presença da corrupção, que prejudica todos.
PINHEIRO, Rafael Bordalo. A política: a grande porca. Caricatura 
utilizada em uma capa da revista A paródia (1900), de França Amado, 
A Nova Geração: Coimbra, 1911, p. 3. 
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10 Orientações para a resposta.
14 Volume 7
3. Leia a notícia e responda à questão a seguir.
 Aponte semelhanças e diferenças entre a situação relatada (o critério de distinção entre profissionais adotado por algu-
mas empresas da atualidade) e a concepção aristotélica de distinção entre os cidadãos e os outros membros da pólis.
A semelhança consiste na valorização de critérios independentes do mérito pessoal – a beleza, no caso das empresas da atualidade, e 
o ser “bem-nascido”, no caso do pensamento aristotélico. A diferença consiste na importância do talento político para Aristóteles, em 
contraposição à atitude das empresas que deixam de valorizar as habilidades dos profissionais relacionadas à função que vão exercer.
[...]
Ao organizar um evento sobre igualdade entre os sexos no trabalho, a advogada Deborah Rhode, pro-
fessora da Universidade Stanford, sofreu pressão das amigas para comprar uma roupa nova para a ocasião: 
não poderia aparecer mal no telão. Deborah cedeu, não sem notar a ironia que ela mesma – que pesquisa a 
influência dos padrões de beleza no mundo do trabalho – não conseguia escapar das exigências da aparência. 
Em seu livro The beauty bias (numa tradução livre, O preconceito da beleza), recém-lançado nos Estados 
Unidos, Deborah analisa como a aparência prejudica carreiras e defende 
a aprovação de uma lei para impedir esse tipo de discriminação, que ela 
acredita ser tão intolerável quanto o preconceito de raça ou gênero. [...]
Qual é o prejuízo causado pelo preconceito baseado na aparência?
Deborah – Não existe um cálculo simples, porque, além do finan-
ceiro, existe o custo psicológico para as pessoas estigmatizadas. Elas 
sofrem assédio, perdem empregos e promoções. Mas um número re-
levante é o dinheiro gasto no mundo todo com produtos de beleza e 
emagrecimento – US$ 200 bilhões por ano. Os economistas também 
calculam que o prêmio – ou castigo, se preferirmos – por causa da 
aparência pode chegar a US$ 16 mil por ano para um trabalhador ame-
ricano. A cultura da beleza viola o sistema de mérito porque ela acaba 
substituindo a habilidade. [...]
SORG, Letícia. Deborah Rhode: “A cultura da beleza viola a do mérito”. Época, 20 ago. 2010. Disponível em: <http://revistaepoca.globo.com/Revista/
Epoca/0,,EMI164573-15228,00-DEBORAH+RHODE+A+CULTURA+DA+BELEZA+VIOLA+A+DO+MERITO.html>. Acesso em: 18 mar. 2015.
 Deborah Rhode analisa o fato de que, em 
vez de habilidades, algumas empresas 
adotam a beleza como critério para 
contratar e promover seus profissionais.
Mundo do trabalho
A política tem a função de promover a organização social, garantindo a cidadania e o respeito aos direitos 
humanos. No entanto, essa é uma questão complexa que envolve também a participação de alguns profissionais. 
Entre eles, o assistente social, cuja atuação deve contribuir para que a função da política se realize de fato, a fim de 
promover o bem-estar físico, psicológico e social da população.
Graduado em Serviço Social, esse profissional atua no amparo a pessoas que não têm total acesso à cidadania, 
ajudando-as a resolver problemas ligados a direitos fundamentais, como habitação, emprego, saúde e educação. 
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Filosofia 15
concupiscência: desejo intenso por bens ou prazeres materiais.
Cidade de Deus e Cidade dos Homens 
De acordo com o que você já estudou, é possível perceber que, nos pensamentos dos gregos Platão e Aristóteles, 
Ética e Política se interligavam pelos mesmos fins: a justiça e o bem comum. Isso também ocorria entre antigos pensa-
dores romanos, como Cícero e Sêneca, que tomavam como base para o bom governo o ideal platônico do governante 
filósofo, cuja conduta deveria servir de exemplo para a comunidade política. Eles afirmavam que o bom governante, ou 
seja, o príncipe virtuoso, deveria agir sempre de forma racional, sem a “violência do leão”, nem a “astúcia da raposa”, a 
fim de conquistar o amor e o respeito dos súditos. Portanto, esperavam-se do governante as seguintes características: 
Virtudes cardeais – sabedoria, justiça, coragem e temperança (moderação).
Objetivos nobres – honra, glória e fama.
Virtudes principescas – honradez (sempre manter seus princípios); magnanimidade (punir com justiça e cle-
mência); liberalidade (pôr suas riquezas a serviço do povo).
O cristianismo herdou de Roma a teoria do bom governo e alguns modelos de instituições políticas. Além disso, 
apropriou-se da concepção hebraica de poder teocrático. Assim, na Idade Média, o vínculo entre a autoridade política e a 
religiosa trouxe uma nova imagem de príncipe virtuoso que, além das virtu-
des romanas, deveria apresentar as virtudes cristãs: fé, esperança e caridade.
Nesse contexto de cristianização dos ideais políticos, Agostinho de 
Hipona, que viveu entre os séculos IV e V, apresentou uma nova concepção 
filosófica sobre a política e o bom governo, a qual teve grande influência 
sobre o pensamento medieval. 
Agostinho concebia a história da humanidade como o palco de uma luta acirrada entre o reino de Deus e o reino 
do mundo, marcado pelo mal. Essa longa batalha teria começado com a queda dos anjos maus, no início dos tem-
pos, e duraria até o fim dos tempos, quando o juízo final destinaria os bons à vidaeterna, em comunhão com Deus, 
cabendo aos maus o castigo eterno pelos seus atos.
No pensamento agostiniano, a virtude indivi-
dual era entendida como a correta ordenação do 
amor, o que significava adequar a medida desse 
sentimento em relação ao valor de cada objeto 
digno dele. Nessa ordenação, o grau ínfimo do 
amor deveria destinar-se aos elementos mate-
riais, necessários à sobrevivência. Acima deles, 
estariam os seres humanos, nossos semelhantes, 
merecedores de uma medida maior desse senti-
mento. Finalmente, acima de tudo, estaria Deus, 
a quem os indivíduos deveriam se consagrar in-
teiramente, amando-o com todo o seu ser. 
Sendo assim, Agostinho manteve os anti-
gos laços entre a Ética e a Política, concebendo 
o amor como fundamento da comunidade so-
cial perfeita, o Estado ou Cidade de Deus, em 
oposição à concupiscência da comunidade ter-
rena, o Estado ou Cidade dos Homens. 
Teocracia (theos: Deus; kracia: poder): sistema 
político em que o governo aponta a von
tade de 
Deus como fundamento para se estabele
cer.
MAÎTRE François. A Cidade de Deus rodeada por demônios. [ca. 1474-1480]. 
Iluminura do livro de Santo Agostinho, A Cidade de Deus – Livro de Horas, I-X, 
Paris. Biblioteca Nacional da França, Paris.
 Para Agostinho, o mundo era o palco de uma constante batalha entre o bem e 
o mal, o que fazia da política uma atividade essencialmente ética, devendo ser 
exercida de acordo com a vontade divina, para que o bem triunfasse.
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16 Volume 7
Para ler e refletir
Agostinho caracterizava essas duas “cidades” de acordo com o posicionamento espiritual, a finalidade e a forma 
de uso dos bens temporais em cada uma delas, como você pode observar a seguir.
 Cidade de Deus: Jerusalém (significa visão da paz)
 • Representada pela Igreja.
 • Associação de pessoas voltadas aos fins divinos, tendo em vista o amor e a glória de Deus, até chegar ao 
desprezo de si.
 • Seus membros desejavam a paz eterna, celestial. Por isso, deveriam utilizar os bens terrenos com tempe-
rança, como peregrinos em direção ao melhor dos destinos.
Cidade dos Homens: Babilônia (significa confusão)
 • Representada pelos reinados terrenos.
 • Associação de pessoas voltadas aos fins terrenos, ao amor a si, desprezando Deus.
 • Seus membros desejavam a paz terrena para usufruírem dos bens desse mundo, aos quais seriam 
apegados, valorizando-os ao máximo.
Agostinho afirmava ainda que essas duas cidades, tão distintas espiritualmente, se confundiam no plano material 
em razão da íntima convivência entre seus membros. Portanto, as sociedades terrenas seriam formadas pelos cidadãos 
de ambas. Mas, ainda que eles se reunissem em torno dos mesmos bens terrenos, seus objetivos seriam opostos.
Leia o texto a seguir, no qual Agostinho revela as características do Estado terreno e do Estado divino. Ele foi 
extraído de uma de suas obras, A Cidade de Deus.
Mas a família dos homens que não vivem da fé busca a paz terrena nos bens e comodidades desta vida. Por 
sua vez, a família dos homens que vivem da fé espera nos bens futuros e eternos, segundo a promessa. Usam 
dos bens terrenos e temporais como viajantes. Não os prendem nem desviam do caminho que leva a Deus, 
mas os sustentam a fim de que suportem com mais facilidade e não aumentem o fardo do corpo corruptível, 
que oprime a alma. O uso dos bens necessários a esta vida mortal é, portanto, comum a ambas as classes de 
homens e a ambas as casas, mas no uso cada qual tem fim próprio e modo de pensar muito diverso do outro. 
Assim, a cidade terrena, que não vive da fé, apetece também a paz, porém, firma a concórdia entre os cida-
dãos que mandam e os que obedecem, para haver, quanto aos interesses da vida mortal, certo concerto das 
vontades humanas. Mas a cidade celeste, ou melhor, a parte que peregrina neste vale e vive da fé, usa dessa 
paz por necessidade, até passar a mortalidade, que precisa de tal paz. Por isso, enquanto está como viajante 
cativa na cidade terrena, onde recebeu a promessa de sua redenção e como penhor dela o dom espiritual, não 
duvida em obedecer às leis regulamentadoras das coisas necessárias e do mantenimento da vida mortal. Como 
a mortalidade lhes é comum, entre ambas as cidades há concórdia com relação a tais coisas. Acontece, porém, 
que a cidade terrena teve certos sábios condenados pela doutrina de Deus, sábios que, por conjeturas ou por 
artifícios dos demônios, disseram que deviam amistar muitos deuses com as coisas humanas. Encomendaram-
-lhes à tutela diversos seres, a este o corpo, àquele a alma e, no mesmo corpo, a um a cabeça, a outro a cerviz; 
amistar: conciliar, congraçar, harmonizar. cerviz: parte posterior do pescoço, nuca.
Filosofia 17
Reflexão em ação
dissentir: discordar, divergir. viajora: que viaja, viajante. supeditar: fornecer, ministrar, administrar.
quanto às demais partes, a cada um deles a sua. De igual modo na alma. A este encomendaram o espírito, 
àquele a ciência, a um a cólera, a outro a concupiscência e, quanto às coisas necessárias à vida, a um o gado, 
a outro o trigo, a outro o vinho, a outro o azeite, a outro as selvas, a outro o dinheiro, a outro a navegação, a 
outro as guerras e as vitórias, a outro os matrimônios, a outro os partos e a fecundidade, a outro os seres. A ci-
dade celeste, ao contrário, conhece um só Deus, único, a quem se deve o culto e a servidão, em grego chamada 
latreia, e pensa com piedade fiel não ser devido senão a Deus. Tais diferenças deram motivo a que essa cidade e 
a cidade terrena não possam ter em comum as leis religiosas. Por causa delas a cidade celeste se vê na precisão 
de dissentir da cidade terrestre, ser carga para os que tinham opinião contrária e suportar-lhes a cólera, o ódio 
e as violentas perseguições, a menos que algumas vezes refreie a animosidade dos inimigos com a multidão de 
fiéis e sempre com o auxílio de Deus. Enquanto peregrina, a cidade celeste vai chamando cidadãos por todas as 
nações e formando de todas as línguas, verdadeira cidade viajora. Não se preocupa com a diversidade de leis, 
de costumes nem de institutos, que destroem ou mantêm a paz terrena. Nada lhes suprime nem destrói, antes 
os conserva e aceita; esse conjunto, embora diverso nas diferentes nações, encaminha-se a um só e mesmo fim, 
a paz terrena, se não impede que a religião ensine deva ser adorado o Deus único, verdadeiro e sumo. Em sua 
viagem a cidade celeste usa também da paz terrena e das coisas necessariamente relacionadas com a condição 
atual dos homens. Protege e deseja o acordo de vontades entre os homens, quanto possível, deixando a salvo a 
piedade e a religião, e supedita a paz terrena à paz celeste, verdadeira paz, única digna de ser e de dizer-se paz 
da criatura racional, a saber, a ordenadíssima e concordíssima união para gozar de Deus e, ao mesmo tempo, em 
Deus. Em chegando a essa meta, a vida já não será mortal, mas plenamente vital. E o corpo já não será animal, 
que, enquanto se corrompe, oprime a alma, mas espiritual, sem necessidade alguma, plenamente submetido à 
alma. Possui essa paz aqui pela fé, de que vive justamente, quando à consecução da verdadeira paz refere todas 
as boas obras que faz para com Deus e com o próximo, porque a vida da cidade é vida social. 
1. Posicione-se criticamente em relação à tese de Agostinho, segundo a qual a história da humanidade seria o palco da 
luta entre os vícios e as virtudes, representados pelos cidadãos terrenos e os celestes, respectivamente.
2. Leia os versos a seguir, de uma canção sobre um mundo melhor.
11 Orientações para as respostas e encaminhamento metodológico.
Canta uma canção bonita falando da vida em ré maior 
Canta uma canção daquelas de filosofia e mundo bem melhor 
[...]
MONTENEGRO, Oswaldo; MACHADO, Ulisses. Intuição. Intérprete: Oswaldo Montenegro. In: Oswaldo 
Montenegro. Rio de Janeiro: Transamérica, 1980. 1disco (30 min): 331/3 rpm, microssulco, estéreo. Faixa 7.
a) Considerando o pensamento de Agostinho e o sonho humano de um mundo melhor, associado à Filosofia nos ver-
sos de Oswaldo Montenegro, discuta com os colegas a seguinte questão: É possível constituir um Estado terreno 
cujos fundamentos sejam o amor, a virtude e a busca de uma paz desinteressada? Por quê?
b) Em forma de texto argumentativo, registre as conclusões a que você chegou sobre a questão discutida no item 
anterior. 
AGOSTINHO. A Cidade de Deus. São Paulo: Edameris, 1964. v. III (Biblioteca de Cultura Cristã). p. 176-177. (Livro 19, cap. 17).
18 Volume 7
ConexõesConexões
 Observe estas obras de arte.
Para o escultor paquistanês Khalil Chishtee, as sacolas plásticas podem se transformar em uma bela metá-
fora para a vida. Isso porque, segundo o artista, tanto elas quanto as pessoas precisam de reciclagem. Inspirado 
nessa ideia, Chishtee utiliza o material para criar esculturas em tamanho real de pessoas e animais. 
Nas obras, o artista aborda os dramas da vida cotidiana e explora a capacidade de superação do ser huma-
no. Suas esculturas tentam levantar o questionamento sobre a necessidade de reciclarmos nossas identidades 
e ideias para a resolução dos problemas que aparecem pelo caminho.
ARTISTA utiliza sacolas plásticas para criar esculturas sobre os dramas humanos. Pequenas Empresas & Grandes Negócios. Disponível em: <http://
revistapegn.globo.com/Revista/Common/0,,EMI292820-17180,00-ARTISTA+UTILIZA+SACOLAS+PLASTICAS+PARA+CRIAR+ESCULTURAS+S
OBRE+OS+DRAMAS+HUM.html>. Acesso em: 11 maio 2015.
CHISHTEE, Khalil. A 
insustentável leveza do 
ser II. 2010. Sacolas 
de lixo brancas, 
167,64 cm × 
71,12 cm × 40,64 cm. 
Coleção particular, 
Nova Déli.
CHISHTEE, Khalil. 
Escada. 2010. Sacolas 
de lixo brancas, 
238,76 cm × 35,56 cm 
× 30,48 cm. Coleção 
particular, Nova Déli.
 As obras de Chishtee alertam as pessoas sobre a necessidade de “reciclarem suas identidades” para superar limitações. 
Considerando esse princípio, reflita e discuta sobre as questões a seguir. Registre as conclusões a que chegar e justifique-as.
a) No nível individual, em quais aspectos uma pessoa pode “se reciclar” para se superar e resolver seus problemas? 
Pessoal. Podem-se contemplar diferentes aspectos das identidades individuais, tais como: as formas de uma pessoa encarar a si mesma, 
aos outros, ao mundo; as atitudes de um indivíduo na convivência social e em relação ao ambiente; seus hábitos e vícios; etc.
b) No âmbito da política, quais os aspectos mais importantes a serem “reciclados” nos governantes e nos governados 
de nossa sociedade? 
A obra de Chishtee baseia-se na analogia entre a reciclagem de elementos usuais do cotidiano e a de identidades individuais. É 
possível estabelecer uma nova analogia, com base em uma reflexão sobre a política atual, considerando os elementos que precisam 
de “reciclagem” em nossa formação cidadã. Nesse sentido, é válido pensar sobre a participação política, o exercício efetivo da 
cidadania, o cumprimento das leis e o combate à corrupção, entre outros.
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Filosofia 19
Direito divino de governar
Durante a Idade Média, o governante (conhecido como príncipe ou rei) era considerado um representante de 
Deus. Portanto, esperava-se que ele zelasse pelo bem-estar de seus súditos na vida terrena, mas também pela sal-
vação espiritual e eterna destes. 
Acreditava-se que o próprio Deus lhe concedia o direito divino de governar, o qual seria transmitido heredita-
riamente. Sendo assim, o príncipe era considerado inviolável. Os tiranos ou déspotas, por sua vez, eram vistos como 
castigos de Deus para punir os pecados humanos, devendo, portanto, ser obedecidos. 
Nas sociedades europeias medievais, a hierarquia social deveria ser rigidamente respeitada, sendo a comunidade 
política comparada a um corpo, conhecido como o corpo místico-político do rei. Ele representava as funções de cada 
classe social, da seguinte maneira:
Essa hierarquia era considerada natural e estabelecida por Deus: assim como, na natureza, havia submissão dos 
seres inferiores aos superiores, os membros da comunidade deviam obediência às autoridades legítimas, a fim de que 
a salvação eterna fosse garantida. O príncipe, por sua vez, teria de responder perante Deus por ter promovido, ou não, 
com base em seu exemplo e em suas virtudes, a salvação de seus súditos. 
Porém, no século XIII, o filósofo e teólogo Tomás de Aquino reconheceu como natural e legítimo o direito de resistir 
aos governantes despóticos e de levá-los a abdicar do trono, por meios legais. Afinal, a tirania implicava desrespeito 
aos direitos dos súditos e às leis que o príncipe deveria seguir para o bem de todos. 
Sob a influência das obras de Aristóteles, Tomás de Aquino defendia ainda a participação dos cidadãos para o êxito do 
governo e previa a necessidade de que o próprio governo se conformasse à virtude. Ele entendia esta como inclinação e 
hábito de agir conforme a razão, ressaltando a importância das virtudes cardeais, as quais deveriam regular a vida interna 
das pessoas, guiando suas intenções, enquanto as leis regulavam-lhes a vida externa, conduzindo suas ações.
Segundo o filósofo, uma “lei” que não se conformasse à razão não passaria de iniquidade. Já as verdadeiras leis, 
estabelecidas de acordo com a razão, conduziriam os seres humanos à sua finalidade comum, a beatitude, além de 
proporcionar o bem da coletividade. Tomás de Aquino também destacava uma hierarquia entre as leis, como você 
pode observar a seguir.
A cabeça representava o direito divino de 
governar, que pertencia ao rei.
O peito representava as leis, guardadas 
por magistrados e conselheiros.
Os membros superiores representavam a 
defesa, a cargo do exército dos nobres.
Os membros inferiores representavam o 
sustento, garantido pelos trabalhadores, 
camponeses e artesãos.
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20 Volume 7
 • Lei divina – a principal, já que todas as demais deveriam partir dela. Guiaria o ser humano à salvação.
 • Lei natural – voltada à conservação da vida, à geração e à educação dos filhos, ao desejo da verdade – ligada a 
inclinações comuns, regidas pelos princípios da moralidade; por exemplo, fazer o bem e evitar o mal.
 • Leis humanas – estabelecidas pelos seres humanos com base na lei natural e dirigida à utilidade comum. De-
veriam emanar da própria comunidade ou de seu representante legítimo.
No pensamento tomista, as punições e as recompensas eram consideradas naturais. Afinal, na natureza, o afas-
tamento da ordem regular necessária, constituída pelos instintos, acarretaria o mal e a destruição de qualquer cria-
tura não racional. No caso do ser humano, como criatura livre para optar pela observância ou pela transgressão da 
reta ordem, haveria recompensas ou castigos, de acordo com suas ações. Por isso, Tomás afirmava que o Estado não 
deveria se subordinar necessariamente à Igreja, por terem ambos diferentes origens: o Estado seria uma instituição 
natural, voltada para o bem comum, e a Igreja, uma instituição sobrenatural. Contudo, caberia ao Estado espelhar-se 
na Igreja para aperfeiçoar-se.
Sendo assim, a tirania, considerada como degeneração do melhor regime de governo – a monarquia de um go-
vernante justo –, não deveria ser aceita incondicionalmente. O ideal seria evitar que ela se instalasse, observando as 
características do indivíduo indicado para o trono e ordenando o poder de modo que não se criassem oportunidades 
para um governo despótico. Mas, uma vez que o despotismo se instalasse, por usurpação ou degeneração do governo, 
seria o caso de avaliar sua gravidade. Quando a tirania fosse moderada, seria melhor suportá-la, para proteger-se dos 
perigos de fazer-lhe oposição. Porém, nos casos de grande abuso do poder, caberia à autoridade públicaque designou 
o governante levá-lo a abdicar. Sendo assim, o povo apenas poderia fazê-lo diretamente nos locais em que ele próprio 
elegesse seu governante, o que não era comum. Além disso, nos casos em que não houvesse solução humana, restaria 
apenas recorrer a Deus, para que ele pusesse fim a essa condição infeliz.
Como se pode observar, o pensamento tomista, que procurou conciliar razão e fé, Filosofia e Teologia, no campo 
da política caracteriza-se também pela busca de harmonização entre o poder temporal e o espiritual, apesar do reco-
nhecimento de distinções entre ambos.
Para ler e refletir
No texto a seguir, Tomás de Aquino apresenta sua concepção sobre a obediência às leis e autoridades.
A vontade divina é a regra primeira a que estão sujeitas todas as vontades racionais, da qual uma destas se 
aproxima mais que outra, segundo a ordem instituída por Deus. Por onde, a vontade de quem manda pode 
ser como que segunda regra à vontade de quem obedece. [...]
A fé do cristão é o princípio e a causa da justiça, segundo as palavras do Apóstolo: “A justiça de Deus é 
infundida pela fé de Jesus Cristo”. Por isso, a fé de Jesus Cristo, longe de destruir a ordem da justiça, a confir-
ma. Ora, a ordem da justiça exige que os inferiores obedeçam aos superiores, pois, do contrário, a sociedade 
humana não poderia subsistir. Por onde, a fé de Cristo não dispensa os Cristãos de obedecerem ao poder 
secular. [...]
Estamos obrigados a obedecer ao poder secular na medida em que a ordem da justiça o exige. Portanto, aos 
que o detêm injustamente ou usurpado, ou mandam o que é injusto, não estamos, como súditos, obrigados a 
lhes obedecer; a não ser talvez por acidente, para evitar escândalo ou perigo. [...]
poder secular: poder laico, ou seja, independente do poder da Igreja. usurpar: alcançar sem direito, adquirir por fraude.
Filosofia 21
potestade: aquele que manda, que tem autoridade. denegar: ato de negar, não conceder. 
Pecado mortal é o que contraria a caridade, fundamento da vida espiritual. Ora, a caridade é a que nos faz 
amar a Deus e ao próximo, mas a caridade para com Deus exige que lhe observemos os mandamentos, como 
dissemos. Logo, ser desobediente aos mandamentos divinos é pecado mortal, por ser contra o amor divino. 
Ora, nos preceitos divinos está incluído também o de obediência aos superiores. Por onde, também, a deso-
bediência pela qual desobedecemos aos preceitos dos superiores é pecado mortal, por ser contrária ao amor 
divino, segundo aquilo do apóstolo: “Aquele que resiste à potestade resiste à ordenação de Deus”. E além 
disso, contraria o amor devido ao próximo, enquanto lhe denega a obediência a que tem direito, na qualidade 
de superior. [...] 
Nem toda desobediência constitui igualmente pecado. Pois, uma pode ser mais grave que outra, de dois 
modos. – Primeiro, relativamente a quem manda. Pois, embora todos devamos cuidar de obedecer aos nossos 
superiores, contudo, devemos obedecer antes a uma autoridade superior que a uma inferior; e a prova está em 
que devemos desobedecer à ordem do inferior quando contrária à do superior. Por onde e consequentemente, 
quanto maior for a autoridade do superior que nos manda, tanto mais grave será desobedecer-lhe. E assim, 
é mais grave desobedecer a Deus que ao homem. – Segundo, relativamente ao que é mandado. Pois quem 
manda não quer que se lhe cumpram todas as ordens igualmente; pois, quer mais o fim e o que lhe está mais 
próximo. Por onde, a desobediência será tanto mais grave quanto mais estiver na intenção de quem manda a 
ordem preterida. E quanto aos preceitos de Deus, é claro que quanto mais importante for a matéria sobre que 
eles versam, tanto mais grave será a desobediência. Porque, a vontade de Deus, tendo essencialmente por obje-
to o bem, quanto melhor for um ato tanto mais Deus quer que ele seja praticado. Por onde, quem desobedecer 
ao mandamento de amar a Deus peca mais gravemente que quem desobedecer ao de amar ao próximo. Mas, 
a vontade do homem nem sempre busca de preferência o melhor. Por isso, quando estamos obrigados apenas 
por uma ordem humana, a maior gravidade do pecado não está em preterirmos um maior bem, mas, aquilo 
que está mais na intenção de quem manda.
Reflexão em ação
1. Tomás de Aquino foi pioneiro entre os pensadores 
cristãos ao propor o princípio do direito de resistência 
ao poder tirânico. Tendo em vista o que você estudou 
sobre as concepções políticas tomistas, produza um 
texto relacionando esse princípio aos versos a seguir, 
da canção Pra não dizer que não falei das flores, com-
posta por Geraldo Vandré durante o período da Dita-
dura Militar no Brasil.
12 Sugestões de respostas.
[...]
Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.
Há soldados armados, amados ou não
Quase todos perdidos de armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição
De morrer pela pátria e viver sem razão
[...]
VANDRÉ, Geraldo. Pra não dizer que não falei das flores. Intérprete: 
Geraldo Vandré. In: Geraldo Vandré. São Paulo: Discos RGE-Fermata, 
p1979. 1 LP.
2. Pesquise os mecanismos previstos na Constituição 
brasileira para afastar um mau governante de seu 
mandato e registre-os.
3. Em que ocasiões você considera que o direito à deso-
bediência política deveria ser assegurado? Justifique 
sua resposta.
AQUINO, Tomás de. Suma teológica. 2. ed. Porto Alegre: Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brindes, Livraria Sulina; Caxias do Sul: 
Universidade de Caxias do Sul, 1980. p. 2.836, 2.845-48. v. 11.
22 Volume 7
Ética x política
Durante o Renascimento, aproximadamente do século XIV ao XVII, embora a população europeia em geral ainda 
se mantivesse bastante ligada à concepção medieval da religião cristã, intelectuais humanistas defenderam uma nova 
mentalidade, que teve impacto sobre a concepção de política. Para isso, retomaram o estudo de obras da Antiguidade 
Clássica, em vez de recorrer a obras posteriores a elas que as interpretavam segundo a perspectiva cristã. Nesse con-
texto, surgiram críticas ao modelo político medieval, em que o papa e o imperador eram os elementos centralizadores 
do poder, o que contribuiria para a futura criação de Estados monárquicos unificados, organizados como instituições 
laicas e autônomas.
No início desse processo, ainda que diversos pensadores políticos recusassem a concepção de que os governantes eram 
predestinados por Deus, a ideia de que os governos deviam se adequar às leis divinas ainda preponderava: o príncipe virtuo-
so e justo continuava representando um ideal a ser buscado. Sendo assim, os laços entre a ética e a política permaneciam 
sólidos na visão dos representantes da nova mentalidade, muitos dos quais escreveram obras de aconselhamento para os 
príncipes, nas quais discorriam sobre a postura que eles deviam adotar em relação aos súditos e ao poder. Todavia, em 
1513, a obra O príncipe, de Nicolau Maquiavel, abalou alguns desses pilares da tradição ocidental: a concepção de política 
entrelaçada à ética e o modelo do príncipe virtuoso, responsável pelo bom governo. Como outras publicações renascentis-
tas, ela aconselhava o príncipe sobre a melhor conduta para governar, mas inovando muito nos conselhos. 
Com base nos estudos da História e de sua experiência como diplomata – em uma Itália dividida, sob disputas e inva-
sões –, Maquiavel propôs-se a falar da política real e não da ideal. De acordo com essa intenção, ele negava que a origem 
dos Estados efetivos estivesse na vontade divina ou em uma natureza humana voltada à justiça e ao bem comum. Dizia, 
ao contrário, que os Estados nasciam da oposição entre os grandes, que desejavam dominar, e o povo, que desejava não 
ser dominado. Afirmava, ainda, que, mesmo diante dessa oposição, a unidade social poderia ser estabelecida por meio de 
um poder maior que administrasse o conflito sem, no entanto, eliminá-lo. Nesse contexto, toda ação do príncipe tenderia 
a contrariarum dos lados da disputa, o que exigiria o uso da força e um novo tipo de virtude, propriamente política, a virtù.
Maquiavel caracterizava a virtù como a capacidade de bem aproveitar a fortuna (sorte), ou seja, de perceber e utilizar, ou 
mesmo de criar, a ocasião favorável à realização dos verdadeiros fins políticos: a conquista e a manutenção do poder. Esse 
pensador não via contradição entre a virtude política e a fraude ou a mentira. Afinal, segundo ele, a história mostrava que os 
príncipes realizadores dos maiores feitos foram aqueles que usaram a palavra com ligeireza, sabendo enganar e triunfar sobre 
os que se pautavam pela honestidade. Além disso, Maquiavel não se ateve ao princípio do direito divino de governar. Segun-
do ele, qualquer tipo de governo que estivesse a serviço do povo seria legítimo, ao contrário daqueles em que os grandes 
conseguissem esmagar o povo com um poder maior que o do governante. Sendo assim, ele aceitava a formação de novos 
principados, por meio da conquista de quem soubesse fazer 
bom uso da virtù e da fortuna, as quais também seriam ne-
cessárias para saber mantê-los. 
A RODA da fortuna. Século XII. Iluminura da obra: LANDSBERG, 
Herrade de. Hortus deliciarum. Biblioteca Nacional da França, Paris.
 A roda da deusa Fortuna é uma representação clássica para as 
mudanças da sorte humana. A imagem mostra seu movimento, no 
qual o indivíduo se eleva e cai novamente. No lado esquerdo da roda, 
perto da Fortuna, que a move, encontram-se dois personagens em 
ascensão, que representam o estágio: “eu devo reinar”. O que aparece 
no alto da roda, com a coroa que simboliza o reinado, representa 
o estágio seguinte: “eu reino”. O próximo personagem, iniciando a 
queda, representa o estágio: “eu reinei”, sendo sucedido pelos que, 
sem a coroa, na parte inferior (à direita e ao centro), representam 
o estágio: “eu não tenho reino”. Sua queda simboliza a condição 
daqueles que perderam completamente os favores da Fortuna. 
laico: não eclesiástico, não pertencente à Igreja.
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Filosofia 23
Para ler e refletir
No pensamento de Maquiavel, o príncipe não precisava ser amado para manter o governo: precisava ser temido, 
mas sempre evitando ser odiado. Afinal, ele governaria entre conflitos, exercendo poder sobre pessoas reais, cuja 
natureza não se mostrava boa e virtuosa como descrevia a tradição. Nesse contexto, as virtudes pessoais e cristãs 
poderiam enfraquecer o príncipe e, portanto, a ordem social. Por esse motivo, o governante 
deveria aprender a não ser bom, quando isso fosse necessário, mas deveria aprender tam-
bém a simular virtudes não políticas (as virtudes éticas) e a dissimular seus atos detestá-
veis, evitando assim o ódio popular. Somente dessa maneira, agindo com a “força do leão” 
e a “astúcia da raposa”, ele realmente protegeria o poder da influência de interesses 
dos grandes (os poderosos locais) e dos estrangeiros.
De acordo com Maquiavel, o governo representava a ordem social e o bem 
político do povo. Isso tornava o governo um fim supremo, justificando o uso 
de todos os meios que se fizessem necessários para mantê-lo. Esse princípio 
ficou conhecido pela frase “os fins justificam os meios” e resultou no uso do 
termo “maquiavélico” para descrever atitudes dissimuladas e antiéticas. 
O texto a seguir revela o contraste entre as concepções políticas de Maquiavel e a tradição que o antecedeu. Os 
conselhos apresentados ao governante podem esclarecer por que a obra O príncipe causou tanto escândalo entre os 
contemporâneos do autor.
Resta analisar agora como um príncipe deve comportar-se com seus súditos e com seus amigos. Como 
muita gente já escreveu a respeito, duvido que não me considerem presunção tal exame, ainda mais porque, 
ao tratar desse tema, não me afastarei demasiado dos princípios que outros estabeleceram. Como, porém, 
minha intenção não é escrever sobre assuntos de que todos os interessados tirem proveito, julguei adequado 
procurar a verdade pelo resultado das coisas, mais do que por aquilo que delas se possa imaginar. E mui-
tos imaginaram repúblicas e principados nunca vistos ou reconhecidos como reais. Tamanha diferença se 
encontra entre o modo como se vive e o modo como se deveria viver que aqueles que se ocuparem do que 
deveria ser feito, em vez do que na realidade se faz, aprendem antes a própria derrota do que sua preserva-
ção; e, quando um homem deseja professar a bondade, natural é que vá à ruína, entre tantos maus.
Assim, é preciso que, para se conservar, um príncipe aprenda a ser mau, e que se sirva ou não disso de 
acordo com a necessidade. 
Assim, pondo de lado as coisas que se ignoram em relação aos príncipes, e falando sobre as que são 
reais, digo que todos os homens, em particular os príncipes, por se encontrarem mais no alto, ganham no-
tabilidade pelas qualidades que lhes proporcionam reprovação ou louvor. Ou seja, alguns são tidos como 
liberais, outros como miseráveis [...]; alguns são tidos como pródigos, outros como rapaces, alguns como 
cruéis, outros piedosos; perjuros ou leais; efeminados e covardes ou truculentos e corajosos; humanitários 
ou arrogantes; lascivos ou castos; estúpidos ou astutos; enérgicos ou fracos; sérios ou levianos; religiosos 
pródigo: aquele que esbanja suas propriedades.
rapace: que rouba, que é ávido por lucro.
perjuro: que jura com falsidade.
lascivo: aquele que se inclina e se entrega aos prazeres.
BUSTO de Maquiavel. Palazzo Vecchio, Florença.
 A obra de Maquiavel “desatou o nó” que unia a política 
(pública) e a ética (individual) na mentalidade dos 
pensadores que o antecederam.
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24 Volume 7
pérfido: desleal, em que há traição. írrita: sem efeito, sem validade, nula.
Neste novo trecho de O príncipe, Maquiavel fala sobre a importância da simulação e da dissimulação para o êxito 
do governante. Nesse contexto, cita o leão e a raposa como metáforas para a força e a astúcia, características que o 
governante deveria apresentar para manter-se temido, sem ser odiado pelo povo.
 Segundo Maquiavel, o príncipe deveria agir como o 
leão e a raposa, sendo importante simular virtudes 
não políticas e dissimular seus atos detestáveis. 
Afinal, para garantir um bom governo, ele deveria 
ser temido, mas não odiado pelos súditos.
“VOTE
 
EM 
MIM”
ou incrédulos, e assim por diante. E sei que qualquer um reconhecerá ser digno de louvor o fato de um 
príncipe possuir, entre todas as qualidades mencionadas, as consideradas boas; mas a condição humana é 
tal que não permite a posse total de todas elas, nem mesmo a sua prática consistente; é mister que seja o 
príncipe prudente a ponto de evitar os defeitos que lhe poderiam tirar o governo e praticar as qualidades 
que lhe garantam a posse, se possível; se não puder, com menor preocupação, deixe que as coisas sigam 
seu curso natural. E não se importe ele sujeitar-se à fama de ter certos defeitos, sem os quais lhe seria difícil 
salvar o governo, porque, levando em conta tudo, encontrar-se-ão coisas que parecem virtudes e que, se 
praticadas, conduzi-lo-iam à ruína, e outras que podem se assemelhar a vícios e que, observadas, trazem 
bem-estar e segurança ao governante.
MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. In: ______. Maquiavel. São Paulo: Nova Cultural, 2004. p. 99-100. (Os pensadores). cap. XV.
Deveis saber, assim, que dois modos há de combater: um pelas leis; outro, pela força. O primeiro é na-
tural do homem; o segundo, dos animais. Todavia, como em muitas ocasiões o primeiro não é suficiente, 
mister se faz recorrer ao segundo. O príncipe, contudo, deve saber empregar adequadamente o animal e 
o homem. [...]

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