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Parto humanizado (2)

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Parto humanizado: direito da mulher
“O renascimento do parto”, documentário brasileiro veiculado pela Netflix, causa reflexões acerca do aumento, no último século, de métodos invasivos e prejudiciais na hora do nascimento, principalmente para a mulher. Nesse viés, vê-se que é uma tendência de mercado “facilitar” o parto ao torná-lo mecânico e, cada vez mais, distante da humanização, tal realidade se concretiza tanto pelo tangenciamento do direito de fala da mulher, quanto pela lógica capitalista atual. Dito isso, medidas governamentais de proteção e cuidado à parturiente são necessárias para contornar esse óbice hodierno. 
Nesse sentido, em primeira instância, vale ressaltar o processo histórico de submissão feminina aos interesses masculinos, fato que trás consigo um passado opressor do papel da mulher nas relações sociais. Assim, o direito às decisões é renegado, como ocorre também com o parto, o qual se torna um fardo feminino pela imposição de opiniões alheias acima dos interesses da própria mulher. Isso porque, muitas vezes, a mãe não tem voz e, tampouco, orientação, desconhecendo os benefícios do parto mais humano e opta, sem ter espaço de fala, por caminhos mais convenientes aos hospitais, a exemplo da cesárea tradicional. Destarte, não errou a feminista Simone de Beauvoir ao falar da necessidade de autonomia do sexo feminino na sociedade, tornando-se, por fim, um ato de libertação, especialmente em sua gravidez. 
	Outrossim, o início da vida, diferente do que se prega, já é uma ação mecânica e comercial, haja vista que o retorno financeiro acontece a cada parto, é imprescindível que isso aconteça de forma rápida, ou seja, por meio de cirurgia sem nenhum suporte psicológico ou preparação física da mãe. Sob essa ótica, o filósofo frankfurtiano Theodor Adorno, em seu livro “Minima moralia”, retrata como a dominação capitalista saiu das fábricas e adentrou os corpos. De fato, tal análise condiz com a mercantilização da vida, não restando lugar para o humanismo na contemporaneidade. Logo, consequentemente, é comum que processos naturais sejam considerados ultrapassados, como o simples ato de dar à luz, sendo necessário intervir em prol do direito da mulher de ter uma equipe médica humana e responsável. 
	Partindo dos pressupostos anteriores, portanto, nota-se que é preciso mudar esse enrijecimento do parto no último século. Para isso, cabe ao Ministério da Saúde, em conjunto com as secretarias municipais de saúde, ampliar o projeto “HumanizaSUS”, por intermédio de investimentos obrigatórios – em congressos de especialização na saúde da mulher pelos profissionais da área –, a fim de proporcionar maior comprometimento médico com os direitos femininos. Além disso, urge à sociedade civil se mobilizar nas redes sociais frente à mercantilização nociva do homem, por meio da hashtag “#DorHumana”, com o intuito de resgatar a saudável naturalidade do parto. Enfim, poder-se-á pensar o nascer com maior humanidade e empatia.

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