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1Adriana - Violencia Obstretrica (3)

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FACULDADE DE SANTO ANTÔNIO DA PLATINA
CURSO DE DIREITO
ADRIANA SALES DA COSTA
	
	
VIOLÊNCIA OBSTÈTRICA: O GRITO SEM VOZ
SANTO ANTONIO DA PLATINA
2021
ADRIANA SALES DA COSTA
	
VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: O GRITO SEM VOZ
Trabalho de Curso apresentado à FANORPI – Faculdade de Santo Antônio da Platina, como requisito parcial para obtenção de grau de bacharel em Direito.
Orientador: Professor Paulo Takayuki Tamura. 
SANTO ANTONIO DA PLATINA
2021
C8341v COSTA, Adriana Sales da. 1986 – Violência 
 Violência obstétrica: O grito sem voz/ Adriana Sales da Costa. – 2021.
 47 f.; 30 cm.
Orientador. Prof. Paulo Takayuki Tamura.
Trabalho de conclusão de curso em Direito – Faculdade de Santo Antônio da Platina, Direito, 2021.
1. Assistência médica. 2. Direito da Mulher. 3. Humanização. 4. Violência contra a mulher
 CDU- 340
 
ADRIANA SALES DA COSTA
VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: O GRITO SEM VOZ
Trabalho de Conclusão de Curso (TC) em Direito apresentado à FANORPI - Faculdade de Santo Antônio da Platina, no ramo de direitos humanos e constitucional e conferido pela Banca Examinadora composta pelos professores (as):
ORIENTADOR
Nome: Paulo Takayuki Tamura
Titulação/função: _____________________________________________________ ___________________________________________________________________
Instituição que representa: ______________________________________________ ___________________________________________________________________
AVALIADORES (AS)
Nome: ______________________________________________________________
Titulação/função: _____________________________________________________ ___________________________________________________________________
Instituição que representa: ______________________________________________ ___________________________________________________________________
Nome: ______________________________________________________________
Titulação/função: _____________________________________________________ ___________________________________________________________________
Instituição que representa: ______________________________________________ ___________________________________________________________________
Santo Antônio da Platina, ______ de ______________________ de 20_____.
Dedico esse trabalho a minha família.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por ter dado saúde, força e sabedoria para superar as dificuldades encontradas no decorrer do curso.
A esta universidade e seu corpo docente.
Ao meu orientador Paulo Takayuki Tamura pelo suporte, orientação, correção e incentivo.
A minha família e amigos que direta ou indiretamente fizeram parte da minha formação, em especial meus amigos de classe Cristina, Denise, Marcia, Marco Antônio, que em todos os momentos de dificuldades e alegrias estiveram comigo, e nunca me deixaram desistir.
Meu muito obrigada!
 “Pela maior parte da História, ‘anônimo’ foi uma mulher.”Virginia Woolf
COSTA, Adriana Sales da. Violência obstétrica: o grito sem voz. Orientador: Paulo Takayuki Tamura. 2021. 46 f. Monografia (Graduação em Direito). FANORPI - Faculdade de Santo Antônio da Platina. Santo Antônio da Platina – PR, 2021. 
RESUMO
A presente monografia teve como objetivo realizar uma revisão narrativa de estudos sobre violência obstétrica. Buscou-se sanar dúvidas sobre a violência obstétrica que versam sobre o desrespeito à autonomia da vontade, tipificação penal que serão aplicadas ao abuso, leis no que tangem à ética profissional e leis que resguardam direito da mulher e da criança. Nesta pesquisa demonstraremos a fragilidade da mulher e do nascituro no momento pré-parto, parto e pós-parto. Destarte apresentar a violência obstétrica, a violação do direito de personalidade humana fundamental, princípios que resguardam os direitos da mulher, responsabilização civil, penal e direitos humanos. Dessa maneira pressupõe-se que a mulher deve ser protagonista e tomar decisões quanto ao seu corpo. Após a revisão das pesquisas realizadas sobre o assunto, constatou-se que não há dispositivos legais que aparam a mulher diante de tal violência. Com isso as mulheres ficam a mercê de procedimentos que podem causar danos físicos e psicológicos. Os dados apontam para a necessidade de uma conceituação de violência obstétrica e o desenvolvimento de dispositivos legais que a criminalizem e que corroborem com interversões desnecessárias que fere o Direito da Mulher. 
Palavras-chave: Assistência médica. Direito da Mulher. Humanização. Violência contra a mulher.	
COSTA, Adriana Sales da. Obstetric Violence: the voiceless scream. Advisor: Paulo Takayuki Tamura. 2021. 46 s. Monography (Law Graduation). FANORPI - College of Santo Antônio da Platina. Santo Antônio da Platina - PR, 2021.
ABSTRACT
This monograph aimed to carry out a narrative review of studies on obstetric violence. We sought to resolve doubts about obstetric violence that deal with disrespect for the autonomy of the will, criminal classification that will be applied to abuse, laws regarding professional ethics and laws that protect the rights of women and children. In this research, we will demonstrate the fragility of the woman and the unborn child in the pre-partum, delivery and post-partum moment. Thus, presenting obstetric violence, violation of the fundamental human personality right, principles that protect women's rights, civil and criminal liability and human rights. Thus, it is assumed that the woman must be the protagonist and make decisions regarding her body. After reviewing the research carried out on the subject, it was found that there are no legal provisions that limit women in the face of such violence. With this, women are at the mercy of procedures that can cause physical and psychological damage. The data point to the need for a conceptualization of obstetric violence and the development of legal provisions that criminalize it and that corroborate with unnecessary interventions that violate Women's Rights.
Key-Words: Medical Care. Women's Right. Humanization. Violence Against Women.
	
SUMÁRIO
1	INTRODUÇÃO………....................................................................................9
2	BREVE HISTÓRICO DA MULHER NA SOCIEDADE E SUAS CONQUISTAS SOCIAIS ...........................................................................12
2.1	MULHER NO BRASIL.......................................................................................13 
2.2	FEMINISMO.......................................................................................................14
2.3	FEMINISTAS DO DIREITO................................................................................16
2.4	DIREITO DA MULHER......................................................................................17
2.5	VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER....................................................................20
3	PRINCÍPIO DA DIGNIDADE HUMANA..................................................23
4	BREVE HISTÓRICO DO PARTO.............................................................25
4.1	OBSTETRÍCIA...................................................................................................26 
4.1.1	Conceito............................................................................................................26
4.1.2	Manobras Obstétricas: Manobra de Kristeller..............................................27
5	LEIS, PRINCÍPIOS E RESPONSABILIZAÇÃO....................................29
6	VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA........................................................................33
7	ASPECTOS JURÍDICOS DA VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA................367.1	PRINCÍPIO DA DIGNIDADE HUMANA.............................................................36 
7.2	RESPONSABILIDADE CIVIL SUBJETIVA.......................................................38
7.3	RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA.........................................................39
7.3.1 Conduta............................................................................................................39
 Dano..................................................................................................................40
8	CONSIDERAÇÕES FINAIS………............................................................44
	REFERÊNCIAS.............................................................................................46
1 INTRODUÇÃO
Desde os primórdios vivemos em uma sociedade marcada pelas diferenças e desigualdades. Algumas com marcas que se estendeu ao longo dos anos e dificilmente são apagadas. Uma dessas desigualdades enfrentadas refere-se à mulher na sociedade. Debates sobre a desigualdade feminina vêm sendo discorrida ai longo dos anos, mediante os debates e manifestações para que sua voz seja ouvida. 
A mulher perante a sociedade sempre foi vista como a parte mais frágil, subordinada a regras masculinas, tornando-se impotente e inferiores. Diante desse senário, houve a necessidade de chamar a atenção para as injustiças sofridas pelas mulheres. Devido a essa condição, o homem se viu e ainda se vê no direito de agir com violência contra a mulher. Configura-se violência um fenômeno social em todas as suas formas e se faz presente em todas as sociedades em diferentes dimensões seja, social, racial, religiosa, entre outras. 
Compreendendo que a violência contra a mulher se faz presente em diferentes ambientes, a presente pesquisa tem por objetivo discorrer sobre a Violência Obstétrica.
 A violência obstétrica é vivenciada por inúmeras mulheres de maneira silenciosa e omissa. Tal violência ocorre antes mesmo do parto, tendo inicio no pré-natal, por meio de maus tratos, de agressões físicas, verbais, psicológica e muita vez até mesmo sexual. Tais práticas ocorrem mediante a discriminação de gênero, classe e etnia, corroborando com o desenvolvimento de doenças psicologias e sofrimento emocional.
Atualmente a violência obstétrica tem se tornado objeto de estudo de muitos pesquisadores que buscam compreender a importância de desenvolver partos humanizados.
A presente pesquisa objetiva sanar dúvidas sobre a violência obstétrica que versam sobre o desrespeito à autonomia da vontade, tipificação penal que serão aplicadas ao abuso, leis no que tangem à ética profissional e leis que resguardam direito da mulher e da criança.
A presente pesquisa sobre Violência Obstétrica explana-se através de leituras bibliográficas que lhe dão base para o conhecimento da problemática em análise. Trata-se de estudo baseado na historiografia publicada pelos autores, em que será explicado o porquê da importância de desenvolver estudos referentes à temática, visto que se trata de algo que fere os Direitos Humanos da Mulher e mesmo assim o número de violência obstétrica se encontra em constante crescimento. Nesse sentido, busca-se alcançar informações mais aprofundadas que permitam, consequentemente, gerar novos conhecimentos sobre esta temática que é tão pouco discutida e analisada.
O foco qualitativo preocupa-se com o aprofundamento da compreensão sobre a temática em um determinado grupo social, visto que, a compreensão muda de acordo com o caráter cultural e as organizações que as apresentam. Os pesquisadores citados mudam de foco derivando suas linhas de pesquisa que vão do processo exploratório até a psicanálise. 
Os procedimentos técnicos utilizados nesta pesquisa bibliográfica utilizam-se de vários autores, permitindo um aprofundamento necessário na busca do conhecimento no que se refere sobre violência obstétrica. As bibliografias utilizadas forneceram um esclarecimento maior sobre o tema.
O método monográfico foi utilizado, pois se encaixa perfeitamente com as exigências do curso de Direto, abrangendo uma caracterização para designar uma diversidade de pesquisa e coleta de dados de casos particulares, um a um, organizando um relatório crítico e ordenado, investigando radicalmente um tema sejam com suas especificidades coletivas ou particulares.
A elaboração da presente pesquisa desenvolve sua estruturação com os objetivos que serão alcançados analisando e discutindo a temática, apresentando fundamentação teórica divisionada em seis capítulos distintas, cada uma com suas singularidades e especificações. 
O primeiro Capítulo discorre brevemente sobre a mulher na sociedade, bem como suas conquistas sociais. Em seguida, o segundo Capítulo apresentará a violência contra a mulher. 	O terceiro capítulo abordará brevemente sobre o parto, a obstetrícia, conceito e a manobra de Kristeller. O quarto Capítulo discorrerá sobre as Leis princípios e responsabilização. O quinto Capítulo irá abordar questões pertinentes a Violência obstétrica. O sexto e ultimo Capítulo irá abordar questões referentes aos aspectos jurídicos da violência obstétrica. 
Com o aprofundamento de todo o material pesquisado sobre a temática, objetiva-se compreender a temática mais aprofundada, objetivando sanar as lacunas e as dificuldades encontradas em discorres e desenvolver estudos pertinentes ao tema escolhido. 
2	BREVE HISTÓRICO DA MULHER NA SOCIEDADE E SUAS CONQUISTAS SOCIAIS 
Compreender a temática significa compreender tudo que a envolve. Consiste em compreender o objeto de estudo e seu processo histórico na sociedade. Em como seu papel, seus direitos, para que assim possa ter uma visão mais abrangente da temática, seus fatores e impactos na vida da mulher.
A princípio serão levantadas reflexões acerca dos papeis desenvolvidos pelo homem e pela mulher de acordo com o contexto histórico. Bem como, discorrer sobre as conquistas sociais feministas e suas influências no exercício da cidadania da mulher. A história mostra que a mulher sempre foi submetida à dominação homem, seja pelo o pai e após o casamento pelo marido. A mulher sempre foi configurada como um ser inferior. 
Ao longo do processo histórico, foram impostos as mulheres modelos de conservação da subordinação ao homem, modelos que refletem na sociedade atual. Os estereótipos sobre o papel da mulher se modifica de acordo com a cultura e a sociedade a qual ela pertence, contudo a subordinação e a dominação se faz presente em praticamente as culturas. 
Em uma sociedade predominada pelo poder patriarcal, a mulher tinha suas vontades submetidas às vontades masculinas. Nesse cenário a mulher não tinha direito de fala ou manifestação de vontades e desejos. Segundo Scott (1995), 
O patriarcado é uma forma de organização social, onde suas relações são regradas por dois princípios basilares: as mulheres são hierarquicamente submetidas aos homens, e os jovens são hierarquicamente estão submetidos aos homens mais velhos, patriarcas da comunidade.
Nesse sentido, a mulher era não somente submissa, mas também considerada objeto pertencentes aos seus cônjuges ou pais. O que limitava a mulher a um ser sem vontade própria. 
De acordo com Marx e Engels (2001, p. 25) “para o burguês, a mulher nada mais é do que um instrumento de produção”, ou seja, a mulher servia apenas para procriação e representação numérica quando a necessidade de realizar manobras sociais. Mulheres que ousavam manifestar suas opiniões e vontades passavam a ser consideradas loucas ou sem razão. Diante desse cenário, a liberdade tinha como significado de ser homem, muitas vezes a mulher era comparada a escravas. Suas funções eram limitadas a reprodução e criação dos filhos e deveres domésticos.
Outro fato é que a mulher sempre foi compreendida como o sexo frágil, por apresentar características físicas e biológicas inferiores ao do homem como explica Beauvoir(1970, p. 54): 
A mulher é mais fraca que o homem, ela possui menos massa muscular, menos glóbulos vermelhos, menos capacidade respiratório, corremenos depressa, ergue pesos menos pesados, não há nenhum esporte em que possa competir com ele, não pode enfrentar o macho na luta. 
Vale ressaltar que essa visão é de uma época muito distante, que atualmente não é exatamente assim que se pensa sobre a mulher. 
Diante o exposto, esse cenário era facilitador para a dominação da mulher, sendo submetida à submissão masculina, devendo obediência irrestrita, sendo desprovida de direitos sobre tudo, até mesmo de seu corpo e sua sexualidade.
Segundo Hanna et al (2019) a mulher era vista como “ o vaso mais frágil”, essa visão era fortemente defendida pela igreja católica, que acreditava nessa visão devido as escrituras bíblicas que afirmam que a mulher foi criada da costela a Adão.
2.1	MULHER NO BRASIL
No Brasil, desde a colonização, as condições de submissão e dominação dos homens sobre as mulheres não eram diferentes. As funções eram limitadas ao exótico, muitas vezes desumanas. 
Segundo Figueiró (2010), a igreja sempre exerceu forte influencia na sexualidade das pessoas, o comportamento sexual era compreendido como objeto de preocupação moral. Acreditava-se que ao tentar expressar-se sexualmente havia a presença do diabo. E ainda depois de muitos séculos há uma preocupação e dificuldade de muitas mulheres em expressar-se sexualmente devido as ideias atreladas que foram passadas pelas gerações, ainda que inconscientemente. A ideia de pecado original originados da fragilidade moral do sexo feminino facilitou o poder social masculino.
Até o século XVII havia um modelo único de sexo, o masculino. A mulher era compreendida como um sujeito inferior, menos desenvolvido. O Brasil recente apresentava diferenças nítidas entre homens e mulheres, sempre relacionadas a sua estrutura física e biológica.
No século XIX, dar-se-á inicio as discussões referentes a gênero, diminuindo as diferenças entre macho e fêmea. Iniciando discussões referentes a gênero, ou seja, a uma construção cultural com características masculinas e femininas. Segundo Lerner (1990, p. 339)
O gênero é a definição cultural da conduta entendida como apropriada aos sexos numa sociedade dada e numa época especifica. (...) É um disfarce, uma máscara, uma camisa de força na quais homens e mulheres dançam a sua desigual dança. 
Grandes acontecimentos importantes marcaram o século XX e com isso inúmeros questionamentos as estruturas politicas, econômicas, sociais e culturais vigentes. Contudo, a exclusão da mulher ainda se fazia presente, diante disso houve a necessidade da formação de um espaço feminino dentro dos movimentos que ocorriam nessa época, para que dessa maneira a fala da mulher fosse assegurada. Nesse sentido, o século XX é marcado pelo debate acerca da igualdade entre homens e mulheres. Porém somente no âmbito político, não havia amparo legal. 
Atualmente as mulheres avançaram significativamente, em todas as áreas. Ela tem ocupado cada vez mais espaço na sociedade, com diretos e liberdades. Ainda há um longo caminho a ser percorrido, contudo as lutas e conquistas até aqui são importantes e significativas para o desenvolvimento histórico da mulher. 
2.2	FEMINISMO
Nota-se que a mulher desde os primórdios era reconhecida como um ser frágil, livre de desejos e vontades. Existiam apenas para serem subordinadas as vontades de seus cônjuges. Não havia liberdade, vontade ou diretos que as resguardassem. No século XIX, com a Revolução Francesa, ocorreram diversos movimentos que modificaram a sociedade, entre eles surgiu o Movimento Feminista que tinha por objetivo reconhecer e superar as relações assimétricas entre os gêneros. Tornando-se assim uma luta pela igualdade entre os sexos, a liberdade de expressão, de pensamentos e especialmente pelo direito a cidadania. 
Segundo Alves e Pitanguy (1985, p. 9, grifo nosso),
o Feminismo busca repensar e recriar a identidade de sexo sob uma ótica em que o indivíduo, seja ele homem ou mulher, não tenha que adaptar-se a modelos hierarquizados, e onde as qualidades “femininas” ou “masculinas” sejam atributos do ser humano em sua globalidade.
Nesse sentido, o Movimento Feminista buscou dar visibilidade a mulher, permitindo que tivesse um lugar na historia por elas mesmas e não a sombra de homens.
O movimento feminista teve inicio nos Estados Unidos na década de 60, após alastrou-se para o restante do mundo. As mulheres se posicionavam acerca da liberdade e emancipação. Ou seja, a mulher não queria apenas liberdade, mas sim desfrutar dos direitos civis, apresentando suas ideias e posicionamentos. Betto (2001, p. 20) discorre que: 
Emancipar-se é equiparar-se ao homem em direitos jurídicos, políticos e econômicos. Libertar-se é querer ir mais adiante, [...] realçar as condições que regem a alteridade nas relações de gênero, de modo a afirmar a mulher como indivíduo autônomo, independente [...] 
Atualmente as mulheres discorrem abertamente sobre a desigualdade enfrentada por conta de sexo. A mulher é livre para dialogar, expressar suas ideias e vontades, escolher se irá ou não casar e formar família, ou se irá ou não trabalhar fora, entre outros. Sendo assim denominadas feministas. 
Essa terminologia surgiu no ano de 1837, sendo utilizado por Charles Fouri. O termo foi utilizado para descrever o movimento que tinha por objetivo conquistar igualdade social, econômica e legal entre os sexos e terminar com o sexíssimo e a opressão das mulheres pelos homens.
Como discorrido anteriormente, a dominação masculina enraizada se dá ao sistema patriarcal. Tal sistema desenvolveram regras impostas em todas as áreas da sociedade, fazendo com que a mulher fosse tratada inferiormente. No final do século XVII inicio do século XVIII, os adventos do Iluminismo deram ênfase a intelectualidade e liberdade da mulher e destacaram as desigualdades e injustiças sofridas até então. As revoluções ocorridas nos Estados Unidos (1775 – 1783) e na França (1787 – 1799) foram essenciais para que muitas mulheres lutassem por novas liberdades. Tais revoluções deram inicio a luta desguiada ao direto ao voto acessa a educação de qualidade e direito a igualdade no casamento. Vale ressaltar, que tais movimentos eram realizados por mulheres da classe media que tinham acesso a educação. 
Em meio às barreiras e a dominação dos homens, mulheres desafiadoras escreviam sobre a visão de inferioridade da mulher. Margaret Cavendish fez uma critica a posição das mulheres, ela afirmava que as mulheres eram mantidas presas em gaiolas, despojadas de poder e desdenhadas pelos homens. Tal posição fez com que recebesse inúmeras criticas dos homens.
2.3	FEMINISTAS DO DIREITO
Os avanços e estudos sobre a mulher resultaram em temas feministas ao Direito. O Direito feminista tem por objetivo aperfeiçoar a qualidade de vida das mulheres, eliminando de fato as desvantagens em relação ao homem. Silveira (2008) afirma que:
Com evidente crescimento desde os anos 70, mas com momentos marcantes em épocas anteriores, como foi o caso, v.g; da Revolução Francesa ou das sufragistas inglesas e americanas do século XIX, pode ser considerado feminismo o movimento encarado genericamente, como a critica contraposta as teses de separação existentes entre homens e mulheres. [...] procurando e almejando a quebra da estrutura consagrada, já que as mulheres são vistas como reais perdedoras do jogo social (SILVEIRA, 2008, p.66). 
Nesse sentindo, as inúmeras lutas são pelo direito de igualdade, e não segregação entre os gêneros. É a busca pelo reconhecimento de indivíduo, de ser humano, visto que a mulher sempre ficou a mercê da sociedade, sendo considerada alguém sem valor.
Smart (1992) afirma que existem três maneiras de se pensar sobre o feminismo jurídico: o direito é sexista, nesse sentido, compreende-se que o Direito pode ser utilizado como objeto de descriminação podendo ser corrigido por reformas de leis; o direito é intrinsecamente masculino, nesse sentido o Direito foi criado para manter a dominação masculina, o que aparentemente deveria ser neutro está vinculado ao modelo social patriarcado que oprimi as mulherese pessoas que se identificam com elas; o direito é sexuado, conforme Smart (1992) o feminismo buscava um Direto que deveria ir além do gênero, posteriormente constatou-se que há direitos para os dois gêneros, e após buscou-se compreender a maneira de como o gênero opera no Direito e ajuda a construí-lo.
Atualmente há uma postura critica a aparência neutra formal, abstrata e assexuada do Direito, que enxerga que os problemas discriminatórios a mulheres estão relacionados ao patriarcado. Acredita-se que o Direito cumpriu e ainda cumpre um papel opressor entorno da mulher.
Feministas liberais acreditam que a desigualdade esta relacionada a inferioridade de tratamento designado a mulher, tanto no político-social quanto no jurídico e tais desigualdades e descriminações só podem ser solucionadas com a igualdade formal de leis e politicas. 
O feminismo marxista discorre que a causa da desigualdade se relaciona ao sistema econômico que está presente na sociedade, nesse sentido, a solução seria modificações na economia e no trabalho.
O feminismo radical por sua vez, tem por objetivo a busca da raiz discriminatória. Acredita-se que está ligado ao modelo patriarcado que desde os primórdios supervalorizou o homem e menosprezou a mulher.
Destarte, o movimento feminista surge com objetivo de construir uma sociedade democrata, com igualdade entre homens e mulheres, reduzindo assim as desigualdades classistas. 
2.4	DIREITO DA MULHER
Como discorrido anteriormente o século XX foi marcado por movimentos que fizeram com que as mulheres buscassem um espaço para que suas falas fossem legitimadas. 
A Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988 dispõe no Título II direitos e garantias fundamentais. Sarlet (2003) afirma que os direitos fundamentais originaram das reivindicações ocorridas mediante as situações injustas ao ser humano. Tais direitos são inalienáveis, imprescritíveis e irrenunciáveis. 
O artigo 5º descreve os direitos e deveres individuais e coletivos. Em seu caput discorre que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza” (BRASIL, 1988). O inciso I retrata a igualdade de gênero quando destaca que “homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos dessa constituição” (BRASIL, 1988). Contudo, ainda com leis e garantias de igualdade na pratica isso não ocorre, pois nos dias atuais ainda nos deparamos com a desigualdade de gênero. Diante disso, o artigo 7º da Constituição Federal assegura a proteção da mulher no mercado do trabalho assegurando a licença – paternidade, assegurando assim a participação da mulher no âmbito publica e assegurando que o cuidado com os filhos não é obrigação somente da mulher, mas do homem também. 
A Lei nº 11.340 de 2006, mais conhecida como a Lei Maria da Penha, assegura à proteção a mulher mediante a violência doméstica e familiar, seja física, psicológica, patrimonial e moral. Segundo Pitta (2012, p.32), essa lei representa “a construção de uma nova cultura desvinculada da opressão da mulher no ambiente doméstico e, consequentemente, no seio da sociedade”. 
A Lei Nº 13. 239 de 2015 assegura a realização de cirurgias plásticas para reparação de lesões graves, consequências mediante a violência. Tal reparação é ofertada gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). 
No âmbito civil, a Lei Nº 13.112 de 2015 garantiu a mulher o direito de registro de nascimento dos filhos. Mesmo com inúmeras leis benéficas a mulher, seus direitos são ameaçados constantemente, há uma busca incansável em diminuir e reduzir a autonomia da mulher, buscando diminuí-la.
Desde 1824 a mulher era proibida de votar no Brasil, o direito ao voto era apenas para homens. Com a proclamação da republica, os movimentos feministas cresceram, havia a esperança de mudanças significativas. Contudo, houve apenas a abolição do voto censitário, contribuindo para que a mulher se tornasse ainda subordinada ao machismo. Segundo Barbosa (2003, p. 136), o senador Justo Chermont apresentou um projeto de lei legitimando o voto da mulher, contudo seus companheiros não aprovaram. Em 1927 o voto da mulher foi conquistado no Rio Grande do Norte. Porém, a votação em 1927 para o Senado cassou os votos das mulheres alegando que elas só poderiam votar em eleições municipais. 
O Movimento feminista Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (FBPF) foi contra e demonstrou força, fazendo com que Rui Barbosa passasse a defender o direto constitucional da mulher ao voto. 
Em 1962 o Estatuto da Mulher Casada rompeu a supremacia masculina sobre a mulher. É retirada a imagem de incapaz. Pois ainda que houvesse a conquista do direito ao voto, a mulher ainda era vista como incapaz, não havia uma condição jurídica de fato, causando inseguranças jurídicas a mulher. 
Após muitos debates e lutas, o Estatuto da Mulher Casada é aprovado, assegurando igualdade jurídica aos cônjuges, nesse sentido a mulher passa a ter capacidade plena de suas ações, sem a interferência de outros e sem a necessidade de autorização do homem. Mas, ainda havia muitas limitações conforme Cunha (2015, p. 46):
Ao final da tramitação do Estatuto da Mulher Casada, em 1962, as mulheres conseguem ser retiradas do rol de incapazes, mas ganham outra limitação. A esposa perde o acesso à renda do marido devido à escolha da comunhão de bens parciais, o que representa mais uma barreira econômica, visto que a maioria das mulheres não trabalhava. Sob o trabalho da esposa, o marido continua com a possibilidade legal de proibi-la, embora esse não fosse mais a regra.
A dissolução conjugal encontra-se presente nos artigos 315 e 328 do Código Civil de 1916, o inciso II expressa que a sociedade conjugal tem término amigável ou judicial. O parágrafo único, afirma que o casamento só se dissolveria mediante a morte de um dos cônjuges. 
 No ano de 1977, o Brasil adotava a regra de indissolubilidade do vinculo matrimonial, mudando somente com a Lei 6.551/1977, conhecida como a Lei do Divórcio. Por intermédio dessa lei pode-se observar a liberdade a mulher, algo simples, porém significativo.
A Constituição Federal foi promulgada em 1988, é um marco jurídico com novas concepções e igualdade entre homens e mulheres. A Constituição apresenta mudanças expressivas na esfera dos direitos e dos deveres. O artigo 5º discorre que todos são iguais perante a lei, “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País, a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”. O inciso primeiro afirma que homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição.
O Código Civil promulgou a Lei 10.406/2002 que garantia a igualdade entre homem e mulher. Houve uma preocupação em equiparar os direitos aos ambos os sexos. O novo código civil procurou responder anseios em uma sociedade que vive em constante transformação. 
O inciso I do artigo 5º a menor idade passa a ser cessada pela concessão dos pais ou por um deles. Quanto ao direito ao nome de família, ele passa a ser de escolha. O artigo 1.567 a colaboração conjugal é exercida por ambos, visando os interesses dos filhos.
O Código Civil apresentou avanços significativos para as mulheres. Foi uma mudança inovadora e necessária com cunho igualitário, ainda que com algumas imperfeiçoes que permanecem discriminatórias. 
Destarte, ao analisar a jurisdição para mulheres, é perceptível que houve mudanças significativas. Ainda há um caminho a ser percorrido, pois há marcas enraizadas de uma sociedade extremamente machista e patriarcal.
2.5	VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER
Devido à condição de submissão da mulher, o homem passou a desfrutar de uma posição de poder sobre ela, com isso, casos de violência se tornaram frequentes. Diante de uma posição fragilizada e sem voz, a mulher se submete a violência e maus tratos, pois em muitos casos não há denuncias por conta de medo, condições sociais precárias, filhos. Outra questão remete ao governo e sua posição diante doscasos contra a violência da mulher.
Desde os primórdios a violência doméstica se faz presente na sociedade. A história nos mostra que a mulher era considerada patrimônio da família, e não um indivíduo. O uso de chibatadas pelo cônjuge, por exemplo, era considerado normal.
Diante o exposto, visando conter a violência contra a mulher, foi criada a Lei Mario da Penha, a Lei nº 11.340.
A Lei Maria da Penha, no artigo 7º, elenca cinco formas de violência doméstica contra a mulher. A primeira remete a agressão física, que pode ou não deixar marcas evidentes no corpo: “Art. 7º, inciso I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal”. 
Agressão psicológica, quando a vitima é afetada emocionalmente, prejudicando sua autoestima e o direito de fazer as suas próprias escolhas:
Art. 7º, inciso II – a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, violação de sua intimidade, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação (BRASIL,2006).
 	 Agressão sexual, que ocorre quando as condutas levam a vítima a presenciar, participar ou manter relações sexuais indesejada, por meio de intimidação, ameaça, ou uso da força, constrangimento físico ou moral:
Art. 7º, inciso III – a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos. (BRASIL,2006)
Agressão Patrimonial, que esta relacionada a materiais ou objetos pessoas da vitima. Ocorre quando há a destruição de instrumentos de trabalho, impedindo assim que a mulher trabalhe: 
Art. 7º, inciso IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades (BRASIL,2006).
Agressão moral, quando o agressor deprecia a imagem e a honra da vítima por meio de calunia, difamação ou injúria: “7º inciso V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria”.
Mesmo com o avanço de leis e normas que regem o direito brasileiro e com os avanços das conquistas das mulheres, infelizmente ainda há inúmeros casos de violência contra a mulher. Segundo o Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública o ano de 2020 registrou 3.913 homicídios de mulheres, sendo 1.350 registrados como feminicídio, sendo assassinadas por contra da condição de gênero, ou seja, morreram por serem mulheres.
A mulher a muito vem sofrendo com diversas agressões, sendo constantemente inferiorizada por homens, a legislação vem tentando mudar esse paradigma vem buscando maneiras de igualizar o homem e a mulher e promover a proteção. Vivemos em uma sociedade na qual o patriarcado esta enraizado, o machismo ainda se faz presente em quase todas as sociedades e mesmo com todas as conquistas ainda há conquistas a serem alcançadas, pois a desigualdade entre os gêneros ainda se faz presente. 
3	PRINCÍPIO DA DIGNIDADE HUMANA
Uma das características fundamentais nos Direitos Humanos Fundamentais se refere a da dignidade a pessoa humana, sendo à base da vida em sociedade. Vale ressaltar, que o fato de integral o gênero humano já faz do indivíduo detentor da dignidade. Sarlet (2001) discorre que: “mesmo aquele que já perdeu a consciência da própria dignidade merece tê-la (sua dignidade) considerada e respeitada.”. 
Para Perez (1979), a definição completa sobre os direitos fundamentais do indivíduo é um conjunto de instituições que se modifica de acordo com as exigências estabelecidas em um determinado período histórico, caracterizando-se pelas exigências da dignidade, da liberdade, que devem ser devidamente respeitadas pelo ordenamento jurídico.
Segundo Moraes (2002, p.50), a dignidade humana: 
É um valor espiritual e moral inerente à pessoa, que se manifesta singularmente na autodeterminação consciente e responsável da própria vida e que traz consigo a pretensão ao respeito por parte das demais pessoas, constituindo-se um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve assegurar, de modo que, somente excepcionalmente, possam ser feitas limitações ao exercício dos direitos fundamentais, mas sempre sem menosprezar a necessária estima que merecem todas as pessoas enquanto seres humanos.
As principais características dos direitos humanam fundamentais é a imprescritibilidade, inalienabilidade, irrenunciabilidade, inviolabilidade, universalidade, efetividade, interdependência e a complementariedade. São classificados em direitos de primeira geração; que são as liberdades públicas, os direitos políticos básicos, apresentados na Carta Magna de 1215 do Rei João Sem Terra, os direitos de segunda geração; que advém de movimentos sociais posterior a revolução industrial; os direitos de terceira geração; que são aqueles pós-segunda guerra mundial que direcionaram a preservação da qualidade de vida com direitos difusos e coletivos, os direitos de quarta geração, que discorrem sobre os direitos de preservação do ser humano e os direitos de quinta geração que promulga a paz permanente entre os povos. 
Por ser o princípio mais importante do ordenamento jurídico brasileiro, o princípio da dignidade humana se encontra no artigo 1º da Constituição Federal, em seu inciso III:
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I – a soberania; II – a cidadania; III – a dignidade da pessoa humana; IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V – o pluralismo político. (BRASIL,1988).
Nesse sentido, compreende-se a dignidade humana como parte da democracia de uma sociedade, na qual todos tem o direito de dispor de seus benefícios independentemente de raça, cor, sexo, religião, ideologia, entre outros.
Para Immanuel Kant, em sua obra “Fundamentos da Metafísica dos Costumes”, o conceito de dignidade de pessoa humana se relaciona a questões de valor, pois segundo Kant a dignidade é algo que não tem preço, que não pode ser trocado, mas é algo de valor que se tem em si mesmo. Kant (2011, p.82) discorre que:
No reino dos fins tudo tem ou um preço ou uma dignidade. Quando uma coisa tem um preço, pode-se pôr em vez dela qualquer outra como equivalente; mas quando uma coisa está acima de todo o preço, e, portanto não permite equivalente, então ela tem dignidade.
 	 Nesse sentido, a dignidade humana está relacionada com a capacidade do indivíduo em ser um fim para si mesmo e não para alguma coisa.
3.1 CULPABILIDADE
Assim como o crime, a culpabilidade não se encontra definida no Código Penal se tornando polêmica na teoria do delito, gerando inúmeras discussões e posições. Deriva da noção de censura pessoal. Considera-se a possibilidade de alguém ser considerado responsável por práticas e suas consequências.
Atualmente os conceitos normativos referentes a culpabilidade compreende ser um juízo de reprovação pessoal pela prática de um fato lesivo a um interesse penalmente protegido.
O Código Penal Brasileiro discorre em diversos dispositivos sobre culpabilidade comdiferentes significados, que cumpre três funções; fundamentos da pena, limite da pena e fatos de graduação. 
Segundo Nucci (2014, p.247),
Trata-se de um juízo de reprovação social, incidente sobre o fato e seu autor, devendo o agente ser imputável, atuar com consciência potencial de ilicitude, bem como ter a possibilidade e a exigibilidade de atuar de outro modo, seguindo as regras impostas pelo Direito (teoria normativa pura, proveniente do finalismo).
Nesse sentido, apresenta-se a ideia sobre o que é considerado culpado ou responsável por algo. São estudos referentes ao delito praticado, ou seja, se refere ao ato praticado e não a personalidade do indivíduo que praticou a ação. 
Segundo Baumann (1972, p. 28),
O conceito de culpabilidade é um conceito social e jurídico, pois a sua construção se dá conforme os requisitos da vida social, dependendo, muitas vezes, da situação econômica, dos fundamentos socioeconômicos, enfim, das mínimas exigências sociais de cada época. Se há transformações, certamente o conteúdo da culpabilidade sofrerá alterações, denominando-se a medida do juízo de culpabilidade. 
Nesse sentido, a culpabilidade se apresenta como uma exigência da sociedade. Não busca satisfazer questões individuais, mas sim questões sociais. Na prática, pode-se aplicar como principio de medição de pena que venha corrigir o agente através da pena aplicada.
Segundo Mir Puig (1998, p. 97), o princípio da culpabilidade está fundado no principio da dignidade humana, que vem ser o resultado de uma sociedade democrática, que tem como principio o respeito à pessoa humana. Nesse sentido, o princípio da culpabilidade refere-se a uma exigência a dignidade humana, sendo o valor mais alto e o bem mais digno de proteção de toda a ordem jurídica. 
Nesse sentido, compreende-se que deve haver coerência entre o conceito do ser humano, visto que este é o inspirador da Constituição Federal, que apresenta em sua Carta a concepção do individuo como pessoa. Tavares (1998, p. 151) discorre que,
O Estado democrático, voltado à proteção da dignidade humana e orientado no sentido da proteção ao pluralismo político, deve ser entendido juridicamente como um Estado garantidor e incrementador tanto das liberdades individuais e das características diversificadas de cada um de seus cidadãos, quanto da realização integral das potencialidades humanas e de sua concreta execução dentro de uma política de integração e de participação.
Nessa perspectiva, a Culpabilidade consiste na totalidade de pressupostos subjetivos da punibilidade e responsabilidade do agente sobre seu comportamento prévio e posterior a ação. A culpabilidade refere-se a segurança de uma pena justa e proporcional a culpabilidade do individuo frente às leis penais, desproporcionando a gravidade da ação ou a reprovação moral.
Nesse sentido o individuo se torna o centro do direito penal, estabelecendo uma segurança social e as garantias individuais. Assegurando limites à aplicação da pena e interversão da violência estatal. 
3.2 CONCEITO DE CRIME
Não há uma definição finda sobre o que é crime no Código Penal Brasileiro, tudo o que se conhece sobre a natureza do delito se encontra em doutrinas. Sua definição completa se apresenta de maneira complexa e com consequências diversas tais como apresentadas posteriormente.
3.3 CRITÉRIO MATERIAL
No sentido formal, se refere a condutas que afronte as leis penais vigentes. Para Fabbrini; Mirabete (2014, p. 79): “A contradição do fato a uma norma de direito, ou seja, sua ilegalidade como fato contrário à norma penal. Não penetram, contudo, em sua essência, em seu conteúdo, em sua matéria”. 
O critério material se refere a toda ação a omissão que venha a lesionar ou expor a perigos de lesões bens jurídicos penalmente tutelados. Porém, o sentido material é insuficiente para classificar o que de fato é o crime, Masson (2013, p. 176), afirma que: 
Não basta uma lei para qualquer conduta ser considerada penalmente ilícita. Imagine um tipo penal com o seguinte conteúdo: Sorrir por mais de 10 minutos, ininterruptamente. Pena: reclusão, de 2 a 8 anos, e multa. Nesta situação, o princípio da reserva legal ou estrita legalidade seria obedecido. Contudo, somente se legitima o crime quando a conduta proibida apresentar relevância jurídico-penal, mediante a provocação de dano ou ao menos exposição à situação de perigo em relação a bens jurídicos penalmente relevantes.
Nesse sentido, o que se leva em consideração é a relevância do mal produzido. Só se legitima crime quando a conduta apresenta relevância jurídica penal, mediante as provocações de dano ou ameaça de dano. 
3.4 CRITÉRIO LEGAL
O Código Penal não apresenta um conceito referente ao crime, é apresentado mediante a Lei de Introdução ao Código Penal:
Considera-se crime a infração penal a que a Lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou de ambas, alternativa ou cumulativamente.
3.5 CRITÉRIO ANALÍTICO
 	Ante a incapacidade de definir materialmente o que de fato seja crime, se desenvolveu um novo conceito, o critério analítico. O critério analítico apresenta varias classificações que variam de acordo com diferentes autores e estudiosos. Segundo Basileu Garcia o crime apresenta quatro elementos, fato típico, ilicitude, culpabilidade e punibilidade. Autores como Nelson Hungria, Aníbal bruno, entre outros, adotam uma posição tripartida, ou seja, fato típico, ilicitude e culpabilidade. Damásio, Mirabete e outros compreendem que o crime é fato típico e ilícito excluindo a culpabilidade. 
4	BREVE HISTÓRICO DO PARTO
O nascimento é um evento natural que faz parte da humanidade desde seu surgimento. Esse acontecimento agrega significados culturais que se modificaram no decorrer dos anos.
Antigamente o parto acontecia mediante ao instinto da mulher, sem assistência ou ajuda, pois era considerado um fenômeno natural e fisiológico.
O acumulo de conhecimentos referentes à parturição surgiram mediante a ajuda a outras mulheres. A mulher com mais experiência era procurada pela comunidade para auxiliar no parto, denominada como parteira. Seus conhecimentos eram baseados na prática e acumulo de experiências, não era um conhecimento cientifico. 
As mulheres eram assistidas por parteiras ou comadres, as mulheres outrora eram acompanhadas na gestação, parto e pós-parto, as parteiras eram pessoas de extrema confiança da família e de vasto saber, davam respaldo tanto físico, psicológico e espiritual, pois muitas se denominavam benzedeiras. Por meio de rezas e cuidados diferenciados a cada parturiente, acolhiam não só a mãe como a família. O parto era feito na própria casa da gestante o que tornava o mais humanizado possível, quase que um ritual onde a mulher era protagonista de seu parto.
O trabalho das parteiras fruto de uma prática de solidariedade feminina foi desenvolvido durante um longo período à margem do saber médico, sendo conduzido como um evento natural e fisiológico dentro das unidades, uma experiência corporal e emocional que levava as mulheres a subjetivarem-se e significava poder, prestígio e competência as parteiras (SEIBERT, et al. 2005, on-line).
Não havia médicos especialistas, apenas as parteiras, visto que se refere a algo natural da mulher. A parteira era considerada a única a ter competência para acompanhar a mulher no processo de parto. 
Segundo Barbosa e Motta (2016, p.121), “o trabalho das parteiras era de extrema importância pois elas tratavam da mulher tanto no seu físico e psicológico, o que trazia acalento e suporte no momento de seus partos”.
Pode-se salientar que os companheiros não tinham participação no parto, pois tratava- se de assunto exclusivo das mulheres na cultura da época do século XII. O papel do homem era simplesmente esperar em um cômodo à parte e com a felicidade de ocorrer tudo em ordem, o pai distribuía charutos a familiares e amigos em comemoraçãoa chegada do bebê. Esse era um ritual difundido na Europa e ainda utilizado por alguns na atualidade.
De acordo com Seibert, et al., (2005, on-line),
	
A assistência à parturiente era considerada assunto de mulheres, em que as parteiras criavam um clima emocional favorável, com suas crenças, talismãs, orações e receitas mágicas para aliviar a dor das contrações, e os homens apenas realizavam assistência a parto de animais. 
Desta maneira os autores corroboravam com o ritual praticado pelas parteiras, como a forma mais humana e acolhedora, transmitiam seus ensinamentos e rituais para um melhor parto.
Em meados do século XVIII e XIX houve a introdução dos cirurgiões na assistência ao parto. A medicina passa a incorporar a prática, substituindo os rituais humanizados para um controle especialmente médico, o que era assunto de mulher para mulher passou para assunto médico e paciente, o que tirou da mulher o seu protagonismo no parto e passou a ser considerada apenas como paciente, conforme Rattiner (2009) ficou consagrado no século XX, a institucionalização do parto quase que em 90% realizados em hospitais. 
4.1	OBSTETRÍCIA
Obstetrícia refere-se a um braço da Medicina que tem por objetivo cuidar da saúde da mulher que se encontra grávida e após o parto. Para compreender melhor sobre o que se trata e suas principais caracterizas será discorrido o conceito a seguir.
4.1.1	Conceito
Obstetrícia é um braço da Medicina que remete aos cuidados durante e pós-gestação. A palavra obstetrícia vem do latim “obstretrix” que significa “ficar ao lado”, nesse sentido o obstetra é aquele que permanece ao lado da mulher gravida durante o parto e após fornecendo assistência necessária na hora do nascimento.
A obstetrícia teve inicio quando o trabalho de parto deixou de ser realizado somente pela mulher e passou ter a colaboração de uma pessoa. Como discorrido anteriormente, eram as parteiras que realizavam os partos. Com a evolução da ciência e da medicina que passou a ter especialidades, a obstétrica passou a ser uma especialidade médica responsável pelo cuidado da gestação, do parto e do sistema reprodutor da mulher.
4.1.2	Manobras Obstétricas: Manobra de Kristeller
A manobra de Kristeller foi descrita pelo Alemão Samuel Kristeller em 1867, refere-se a uma compressão do fundo uterino durante o trabalho de parto para induzi-lo rapidamente. Por mais que seja uma técnica utilizada constantemente, não há evidencias sobre seu beneficio, pois expõe a mãe e o bebê a riscos. Sua realização só pode ocorrer caso seja o desejo da mãe.
A técnica consiste em pressionar com força a parte superior do útero para agilizar a saída do bebê. 
Segundo Rezende (2017), não é um procedimento recomendado pela literatura médica por estar relacionada a lesões maternas e neonatais.
Como discorrido, a manobra de Kristeller não é recomendada por apresentar riscos à saúde da mãe e do bebê, além disso, é uma manobra ineficaz e dolorosa que poderá consequentemente desenvolver traumas.
 A manobra é utilizada com intuito de acelerar o parto, contudo não há respeito à fisiologia do parto, que necessita de um período adequado. Segundo Pereira (2016) geralmente a manobra de Kristeller é utilizada por médicos impacientes. 
A Organização Mundial da Saúde (OMS) discorre que a assistência ao parto deve ocorrer objetivando resultados positivos para a mãe e para o bebê, para que esse venha nascer com saúde, com o mínimo de interversão e com segurança. O que não ocorre na manobra de Kristeller, visto que, pode causar lesões graves na mãe, como a fratura de costelas e o deslocamento da placenta. O bebê também pode ter lesões em casos mais graves traumatismo craniano. 
Devido os riscos e a ineficácia do procedimento a Organização Mundial da Saúde (OMS) proibiu a manobra em diversos países com diretrizes e leis. Segundo o Conselho de Ética em Ginecologia e Obstetrícia( DORSI et al., 2005).
É o guardião da vida, bem maior assegurado ao ser humano. Do médico, exige-se correção, dedicação, respeito pela vida, devendo, em razão de seu mister, agir sempre com cautela, diligência, evitando que seu paciente seja conduzido à dor, à angustia e a perdas irreparáveis. 
Nesse sentido, o obstetra deve sempre preservar a saúde tanto da mãe quanto do bebê. Deve agir com responsabilidade e coesão.
O aumento das cesarianas por vezes sem necessidade expõe a mulher e o bebê a um risco de morte três vezes maior, o crescimento em demasia e sem a necessidade indica a violência obstétrica. 
O uso da Ocitocina, medicamento utilizado para estimular e acelerar o parto, muitas vezes ministrados sem o consentimento da mulher, a ocitocina aumenta as dores do parto e seu uso sem a necessidade, além de estar em desacordo com as práticas de nascimento.
Conforme a Recomendação nº 24, de 16 de maio de 2019, do Conselho Nacional de Saúde: 
 [...] considerando que a realização de cesarianas desnecessárias expõe a mulher a três vezes mais o risco de morte por parto; considerando dados do Ministério da Saúde, segundo os quais muitas mulheres ainda são submetidas ao procedimento irrestrito denominado “Manobra de Kristelle” (36%) e do uso do soro de ocitocina (Ocitocina 1º e 2º estágios – 36,5%) para acelerar o trabalho de parto, em desacordo com as Boas Práticas de Atenção ao Parto e ao Nascimento, estabelecidas desde 1996 pela Organização Mundial de Saúde (BRASIL, 2019, grifo do autor). 
	Deste modo pode se ressaltar que o aumento exponencial das cesarianas sem necessidade, tem causado um risco de morte maior tanto para a mãe quanto ao bebê, e que as manobras sem fundo científico não estão em acordo com as praticas e métodos estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde.
A Epstosomia, é um procedimento invasivo que ocorre durante o parto, chamanda pelo meio médico como pique, é realizada para a aceleração do parto, porém é considerado um procedimento invasivo e perigoso.
 O corte é feito na vulva, utiliza se tesoura ou bisturi, com o risco de afetar os músculos, nervos e perínio no qual sustenta orgãos como a bexiga.
Este tipo de procedimento poucas vezes tem a auutorização da mulher, portanto a sua indicação e o consentimento da parturiente não são comentados durante o parto.
A estimativa é que a epstosomia é praticada em 94% dos partos normais no Brasil (BRASIL; CEBRAP, 2006).
Na ocasião do parto a mulher pode não ter a necessidade médica do procedimento, e, assim manter o períneo íntegro, isso, se o parto for fisiológico e no seu tempo.
	Algumas complicações da epsiotomia são: infecções, desconforto, sangramento, danos estéticos, dor nas relações sexuais, hematomas, etc.
Num determinado momento da sutura, ele disse que ia dar dois pontos que iam doer um pouco mais, de, pois comentou que era o “ponto do marido”. Perguntei a ele o que era isso e ele disse q ue era um ponto que era dado para que “as coisas voltassem a ser parecidas com o que era antes” e que, se eles não fizessem i sso, depois o marido voltava para reclamar. Como a referência ao marido é uma constante, perguntamos se eles já viram u m marido reclamar, ao que responderam que não, uma ve z que esse ponto era sempre feito. (DINIZ 2006, p. 80),
E o médico, depois de ter cortado a minha vagina, e depois do bebê ter nascido, ele foi me costurar. E disse: ‘Pode ficar tranquila que vou costurar a senhora para ficar igual a uma mocinha!’. Agora sinto dores insuportáveis para ter relação sexual. J. Atendida através de plano de saúde em São Paulo-SP
 	O ponto do marido: no momento da sutura da epsotomia é realizado um ponto a mais com a finalidade de deixar a vagina mais apertada para salvaguardar o desejo do parceiro depois do parto.
5	LEIS, PRINCÍPIOS E RESPONSABILIZAÇÃO
Desde os primórdios da humanidade, o homem tem uma necessidade incansável de se relacionar com os outros membros de sua sociedade. Essa necessidade, quase que instintiva, vem criando através dos tempos diversas maneiras e possibilidades de relacionamento. Comoconsequência dessa intensa interação social, alavancada contemporaneamente pela globalização mundial, as atitudes dos indivíduos sociais podem causar danos a outros, e é para evitar que esse injusto prejuízo se prolifere nos meios sociais que o ordenamento jurídico criou a figura da responsabilidade, seja ela civil ou criminal.
Interessa para o presente trabalho o conceito jurídico de responsabilidade civil que, grosso modo, seria o dever que o indivíduo causador de injusto mal tem de indenizar o que sofre tal agressão.
A responsabilidade civil está intimamente ligada ao princípio neminem laedere, ou seja, a ninguém se deve lesar, e nesse sentido, se alguém lesar outrem injustamente, deverá reparar os danos causados.
Juridicamente, pode-se definir responsabilidade civil através da obra de Silvio Rodrigues como sendo “a obrigação que pode incumbir uma pessoa a reparar o prejuízo causado a outra, por fato próprio ou por fato de pessoa ou coisas que dela dependam” (RODRIGUES, 2003, p. 6).
Ainda nesse sentido, Pereira (2018, p.11), leciona que responsabilidade civil:
[...] consiste na efetivação da reparabilidade abstrata em relação a um sujeito passivo da relação jurídica que se forma. Reparação e sujeito passivo compõem o binômio da responsabilidade civil, que então se enuncia como o princípio que subordina a reparação a sua incidência na pessoa do causador do dano. 
Desta forma, é possível afirmar que responsabilidade civil é a obrigação de indenizar que decorre da ação ou omissão do agente, seja ela culposa ou dolosa. Tal ação deverá produzir um efeito, a saber: o dano, gerando assim, a pretensão a uma compensação que possa reparar o prejuízo, pois indenizar é tornar indene, ou seja, sem dano.
Devido à carência de leis específicas, por vezes fica impossível punir os autores destas condutas abusivas, como não possui norma exclusiva e que aplique penalidade aos profissionais que praticam tal violência, no entanto podemos identificar princípios, leis e jurisprudência que podem ser aplicados no que tange a violência obstétrica.
A Constituição Federal, em seu artigo 6º, institui a saúde no rol dos direitos fundamentais. O artigo 196 da Constituição Federal dispõe que “a saúde é direito de todos e dever do Estado” (BRASIL, 1988). Corrigi e veja em todo o texto, quando se refere à CF.
No que tange a violência obstétrica deve haver a responsabilidade civil, a obrigatoriedade de ressarcir o dano ou o descumprimento de qualquer direito do indivíduo. A responsabilidade civil tem como base a culpabilidade como requisito para caracterização de determinado caso concreto, portanto, cabe provar se houve a culpa do agente público em se tratando de dano fomentado pelo Estado. Mello (2011, p. 1000-1001) expressa que a responsabilidade do Estado “caracteriza-se pelo dever deste indenizar os danos patrimoniais causados a terceiros por atos da administração pública, seja por atos omissivos ou comissivos”.
A responsabilidade patrimonial extracontratual do Estado é caracterizada pela reparação econômica pelos danos sofridos por comportamentos unilaterais lícitos ou não, comissivos ou omissivos, materiais ou jurídicos.
Dessa forma o contrato sucede conjuntamente ao atendimento com participação do Estado, configura responsabilidade objetiva para a instituição e responsabilidade extracontratual para o profissional (GIOSTRI, 2005, p.61).
Independente da responsabilidade civil, a responsabilidade criminal na violência obstétrica versa sobre crimes como: lesão corporal, homicídio, constrangimento ilegal, calúnia, difamação, injúria e ameaça que localiza se no Código Penal suas penas e sanções.
O princípio da autonomia destaca que todo indivíduo tem direito a suas escolhas e deverão ser respeitados pela sua decisão, tanto sobre questões que versam sobre seu corpo como no tocante a sua vida. 
	
Sob a ótica da bioética, a autonomia é a habilidade de uma pessoa em buscar do que ela julga ser o melhor para si. Mas, para exercer sua autonomia, é preciso o preenchimento de dois requisitos; a) capacidade de compreender e deliberar para decidir entre alternativas apresentadas; e b) liberdade para decidir, portanto, ausência de imposição capaz de influir na tomada de decisão (MACHADO; ZAGANELLI; PAZÓ, 2017, on-line).
A autonomia é um princípio em questão que deve tratar o paciente com capacidade de decisão com o devido respeito e que a autonomia no que tange aos cuidados médicos deverão ser discutidos entre médico e paciente.
Os Princípios Constitucionais são aqueles que dão respaldo as normas jurídicas. O princípio da dignidade da pessoa humana tem como critério a conjunção de todos os diretos fundamentais, que torna todo ser humano sujeito de direitos e deveres, é a garantia do direito a existência, integridade físico, moral e religiosa. Encontra se no art. 1º, inciso III, da Constituição Federal. Desta forma pode se salientar que algumas práticas utilizadas no âmbito hospitalar fere a dignidade da mulher no tocante a atos humilhantes como o exame de toque reiteradas vezes, e em alguns casos assistido por estudantes da área, o que torna um desconforto e um ato vergonhoso para gestante, ou até mesmo o impedimento de movimentação pela gestante, pois é amarrada nos membros inferiores e superiores, o que torna a mulher vulnerável a qualquer pratica. 
 A lei nº 11.108/2005, em seu artigo 19-j no parágrafo 1° salienta que toda grávida terá direito a um acompanhante de sua escolha no pré-parto, parto e pós-parto:
Art. 19-J. Os serviços de saúde do Sistema Único de Saúde – SUS, da rede própria ou conveniada, ficam obrigados a permitir a presença, junto à parturiente, de 1 (um) acompanhante durante todo o período de trabalho de parto, parto e pós-parto imediato. (BRASIL,2005)
Nesse sentido, é assegurada a presença de um acompanhante no período de trabalho de parto. Essa companhia é fundamental para que a paciente se sinta segura no decorrer dos processos cirúrgicos. 
	Segundo o artigo 19-j, os institutos hospitalares como maternidades estão obrigados a permitir a presença de um acompanhante assistindo as gravidas tanto no trabalho de parto, parto e pós-parto.
A lei concede as mulheres grávidas o direito, porém, muitos hospitais com a situação da pandemia impedem os acompanhantes de assistir a gestante na instituição hospitalar. O Judiciário diverge sobre o assunto, com a análise de caso a caso trata de restabelecer esse direito ou não.
Desta forma no entendimento do Juiz Bruno Machado de Mogi das Cruzes São Paulo, que obrigou um hospital a garantir um acompanhante a uma gestante em trabalho de parto e conforme a sentença do juiz A lei 13.079/2020 (lei que versa sobre cuidados e enfrentamento ao Covid 19) não suspende a lei 11.108/2005 (lei do acompanhante).
A Lei 13.079/20 que dispõe sobre as medidas para enfrentamento à Covid-19], podendo, não suspendeu a eficácia da Lei 11.108/05, que alterou a Lei do SUS (Lei 8080/90), ao estabelecer o direito ao acompanhante antes, durante e depois do parto”, afirmou. O magistrado destacou que o acompanhante continua garantido, desde que se submeta aos procedimentos da nota técnica da Secretaria de Atenção Primária à Saúde, referente às medidas de prevenção para os partos durante a epidemia. Hospital deve permitir acompanhante em todos os partos durante epidemia (VIAPIANA, 2020, on-line).
O Juiz destacou que desde que cumprido os métodos para os cuidados contra a Covid, no que alude as medidas de prevenção, este direito será resguardado.
A partir desta premissa identifica-se o quão necessário é abordar este assunto no âmbito jurídico e acadêmico já que não consta de leis específicas e sim de entendimentos no tocante a princípios e a leis esparsas.
6	VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA
No Brasil, a Violência Obstétrica ainda é um assunto com pouca visibilidade e atual, mesmo com o conhecimento prévio há questões polemicas em torno da temática. Não há um entendimento amplo, e não há leis especificamente voltadas para o tema. Como discorrido anteriormente a sua prática ainda é constante, mesmo comtodos os riscos que apresenta. Configura-se violência obstétrica toda ação praticada pelo profissional da saúde que retira a autonomia da mulher sob seu corpo durante a gestação, no pré-natal, no momento do parto, nascimento e pós-nascimento. Seja por informações ilaqueadas ou por procedimentos desnecessários. A violência obstétrica pode ser configurada por ações agressivas, sejam elas psicológicas físicas ou verbais. Vale ressaltar, que o conceito abrange todos os prestadores de serviço de saúde e não apenas a médicos.
A violência obstétrica apresenta diversas característica, pois não envolve apenas agressões físicas, mas também psicológicas e verbais. Tal violência fere os direitos humanos da mulher, visto que em um período de vulnerabilidade necessita de cuidado e proteção. Infelizmente o Brasil não possui uma legislação especifica acerca da violência obstétrica, contudo é possível encontrar leis estaduais, municipais, projetos de leis não aprovadas, mas que fornecessem subsídios para discussão referente à temática. 
Visto que se refere a um tema complexo e novo, em casos de violência obstétrica há um desfalque significativo na legislação, às condutas então passam a serem caracterizadas como erro médico. Sendo necessária a utilização de provas documentais e testemunhais. 
Num primeiro momento, entende-se por erro médico como sendo uma falha no exercício da profissão, da qual advém um mal resultado ou um resultado adverso, efetivando-se através da ação ou da omissão do profissional.
Nesse sentido, o Manual de Orientação Ética Disciplinar do Conselho Regional de Medicina do estado de Santa Catarina define erro médico como:
[...] a falha do médico no exercício da profissão. É o mau resultado ou resultado adverso decorrente da ação ou da omissão do médico, por inobservância de conduta técnica, estando o profissional no pleno exercício de suas faculdades mentais. Excluem-se as limitações impostas pela própria natureza da doença, bem como as lesões produzidas deliberadamente pelo médico para tratar um mal maior. Observa-se que todos os casos de erro médico julgados nos Conselhos de Medicina ou na Justiça em que o médico foi condenado, o foi por erro culposo (GRISARD et al., p.110).
Quanto à configuração do erro médico, é possível encontrar na doutrina pertinente que: 
O erro médico pode se verificar por três vias principais. A primeira delas é o caminho da imperícia decorrente da “falta de observação das normas técnicas”, “por despreparo prático” ou “insuficiência de reconhecimento” como aponta o autor Genivaldo Veloso de França. É mais frequente na iniciativa privada por motivação mercantilista. O segundo caminho é o da imprudência e daí nasce o erro quando o médico por ação ou omissão assume, sobretudo, sem esclarecimentos à parte interessada. O terceiro é o caminho da negligência, a forma mais frequente de erro médico no serviço público, quando o profissional negligencia, trata com descaso ou pouco interesse os deveres e compromissos éticos com o paciente e até com a instituição. O erro médico pode também se realizar por vias esconsas quando decorre do resultado adverso da ação médica, do conjunto de ações coletivas de planejamento para prevenção ou combater ás doenças (MEDEIROS, 2010, p. 203, grifo nosso).
O Código de Ética Médica na Resolução nº 1,931 de 2009 – Conselho Federal de Medicina dispõe diversos deveres com objetivo de garantir os Direitos Humanos dos pacientes, que são eles: 
Art. 23. Tratar o ser humano sem civilidade ou consideração, desrespeitar sua dignidade ou discriminá-lo de qualquer forma ou sob qualquer pretexto. Art. 24. Deixar de garantir ao paciente o exercício do direito de decidir livremente sobre sua pessoa ou seu bem-estar, bem como exercer sua autoridade para limitá-lo. Art. 25. Deixar de denunciar prática de tortura ou de procedimentos degradantes, desumanos ou cruéis, praticá-las, bem como ser conivente com quem as realize ou fornecer meios, instrumentos, substâncias ou conhecimentos que as facilitem. Art. 27. Desrespeitar a integridade física e mental do paciente ou utilizar-se de meio que possa alterar sua personalidade ou sua consciência em investigação policial ou de qualquer outra natureza. Art. 28. Desrespeitar o interesse e a integridade do paciente em qualquer instituição na qual esteja recolhido, independentemente da própria vontade. (BRASIL, 2009)
Pode-se concluir que ainda que não seja especificamente para obstetras, a resolução nº 1,931 do código de ética Médica, apresenta subsídios suficientes para que haja a aplicabilidade aos profissionais dessa área.
7	ASPECTOS JURÍDICOS DA VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA
Conforme discorrido anteriormente, no Brasil não há uma legislação especifica para a violência obstétrica, contudo há países em que há leis especificas que caracteriza como ato de violência punível com lei. A Venezuela, por exemplo, em 2007 promulgou uma lei que estabelece formas de violência contra a mulher. 
Ainda que não haja leis especificas, Brasil possui leis esparsas que protege a mulher contra agressões durante o parto, como por exemplo, o Código Penal que criminaliza condutas em geral que venha causar lesões corporais, homicídio, omissão de socorro, entre outros. Há também o código de ética que prevê punições, como a cassação do direito de exercer a medicina.
É sabido que a leis no direito penal que prevê a responsabilidade penal, seja por conduta culposa ou dolosa. O artigo 18, I e II do código penal discorre que crime é doloso quando “o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo”. Já a conduta culposa ocorre quando “o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia”.
A Constituição Federal de 1988 dispõe sobre o direito a plena assistência medica. O artigo 5º dispõe o seguinte:
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (BRASIL, 1988).
Em relação à responsabilidade Civil se pode classificar em duas vertentes: responsabilidade civil objetiva e responsabilidade civil subjetiva. 
7.1	PRINCÍPIO DA DIGNIDADE HUMANA
Uma das características fundamentais nos Direitos Humanos Fundamentais se refere a da dignidade a pessoa humana, sendo à base da vida em sociedade. Vale ressaltar, que o fato de integral o gênero humano já faz do indivíduo detentor da dignidade. 
Segundo Moraes (2003) a dignidade humana,
É um valor espiritual e moral inerente à pessoa, que se manifesta singularmente na autodeterminação consciente e responsável da própria vida e que traz consigo a pretensão ao respeito por parte das demais pessoas, constituindo-se um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve assegurar, de modo que, somente excepcionalmente, possam ser feitas limitações ao exercício dos direitos fundamentais, mas sempre sem menosprezar a necessária estima que merecem todas as pessoas enquanto seres humanos.(MORAES, 2003, p.50).
As principais características dos direitos humanos fundamentais é a imprescritibilidade, inalienabilidade, irrenunciabilidade, inviolabilidade, universalidade, efetividade, interdependência e a complementariedade. São classificados em direitos de primeira geração; que são as liberdades públicas, os direitos políticos básicos, apresentados na Carta Magna de 1215 do Rei João Sem Terra, os direitos de segunda geração; que advém de movimentos sociais posteriores a revolução industrial; os direitos de terceira geração; que são aqueles pós-segunda guerra mundial que direcionaram a preservação da qualidade de vida com direitos difusos e coletivos, os direitos de quarta geração, que discorrem sobre os direitos de preservação do ser humano e os direitos de quinta geração que promulga a paz permanente entre os povos. 
Por ser o princípio mais importante do ordenamento jurídico brasileiro, o princípio da dignidade humana se encontra no artigo 1º da Constituição Federal, em seu inciso III:
Art. 1º A República Federativado Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I – a soberania; II – a cidadania; III – a dignidade da pessoa humana; IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V – o pluralismo político (BRASIL, 1988).
Nesse sentido, se verifica que a Dignidade Humana é essencial na vida humana. Corroborando com a temática, nota-se que é fundamental estabelecer Princípios da Dignidade Humana no momento do parto. 
 
7.2	RESPONSABILIDADE CIVIL SUBJETIVA
A teoria da responsabilidade subjetiva está ligada diretamente a culpabilidade do agente. Por esta teoria, o agente causador do dano, para ser responsabilizado deverá agir com culpa (em sentido amplo, seja ela culpa stricto sensu ou dolo), sendo de responsabilidade da vítima comprovar, além do nexo de causa entre a ação do suposto agressor e o dano sofrido, também a culpabilidade deste.
Quanto a teoria supracitada, mister aludir as palavras de Coelho (2003, p. 10), que define como subjetiva a teoria:
[...] fundada na culpa, deve o lesado comprovar a ação ou omissão que deu início ao dano. Consiste na inobservância, ainda que não intencional de um dever, estabelecido por um contrato, ou genericamente pela lei. E a incumbência imposta à vítima de demonstrar a culpa do agente é o maior problema que surge nos casos concretos. Em regra, esse ônus da prova redunda em dificuldades tais, que a vítima termina por não conseguir a efetiva reparação.
Caracteriza-se quando o agente causador do dano praticar o ato com negligencia ou imprudência, ou seja, quando não há consciência do ato ilícito ou do dano. 
Partilha deste mesmo entendimento Diniz (2003, p. 34), quando aduz que a responsabilidade civil está relacionada com:
[...] a aplicação de medidas que obriguem alguém a reparar dano moral ou patrimonial causado por terceiros, em razão de ato próprio imputado, de pessoas por quem ele responde, ou de fato de coisa ou animal sob sua guarda (responsabilidade subjetiva).
Assim sendo, é notório observar que a responsabilidade civil subjetiva carece de elemento culpa para que o agente possa ser responsabilizado pelo dano ocorrido de sua ação, ou seja, ela só se perfaz se o agente infringir as normas de boa conduta (prudência, perícia e atenção) ou tiver intenção de causar o dano (agir com dolo).
7.3	RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA
Quanto à responsabilidade civil objetiva, esta teoria diferencia-se da anterior substancialmente, levando em conta que seus requisitos básicos estão pautados apenas na união de três fatores (e não quatro como vistos anteriormente), a saber: a conduta do indivíduo, seja ela pela ação ou omissão, o dano causado à bem jurídico tutelado de outrem e finalmente no nexo causal.
Importante ressaltar que na responsabilização objetiva inexiste a figura da culpabilidade do agente, portanto, é necessária apenas a configuração do dano através de uma ação, pois tal teoria prescinde de comprovação da culpa para a ocorrência do dano indenizável. Basta haver o dano e o nexo da causalidade para justificar a responsabilidade civil do agente. Em alguns casos presume-se a culpa (responsabilidade objetiva imprópria), no outro a prova da culpa é totalmente prescindível (responsabilidade civil objetiva propriamente dita). 
Nessa vertente, tratando da distinção entre a responsabilidade subjetiva e objetiva, Dias (1997) com absoluta precisão, escreveram: “no sistema da culpa, sem ela, real ou artificialmente criada, não há responsabilidade; no sistema objetivo, responde-se sem culpa, ou melhor, esta indagação, não tem lugar” (DIAS, 1997, p. 84).
7.3.2 Conduta
Para que ocorra o ato ilícito que gere a responsabilidade civil, se deve ocorrer a conduta, ou seja, todo comportamento humano voluntário. Para Diniz (2005, p. 43):
A ação, elemento constitutivo da responsabilidade, vem a ser o ato humano, comissivo ou omissivo, ilícito ou licito, voluntario e objetivamente imputável do próprio agente ou de terceiro, ou o fato de animal ou coisa inanimada, que cause dano a outrem, gerando o dever de satisfazer os direitos do lesado.
O ato ilícito se baseia na ideia de culpa, e a responsabilidade na ideia de risco. Nesse sentido, o ato de vontade deve ser contrario ao ordenamento jurídico. Ou seja, os atos devem ir contra as normas e leis impostas.
7,3.3 Dano
Não há responsabilidade civil quando não há dono, pois não há como falar de indenização ou ressarcimento se não há existência de dano. A existência de dano é requisito essencial para a responsabilidade civil. Não seria possível se falar em indenização, nem em ressarcimento se não existisse o dano. Diniz afirma que “o dano pode ser definido como a lesão (diminuição ou destruição) que, devido a certo evento, sofre uma pessoa, contra a sua vontade, em qualquer bem ou interesse jurídico, patrimonial ou moral” (DINIZ, 2006, p. 34). Nesse sentido, pode-se compreender que dano vem a ser tudo o que prejudica de alguma maneira outrem. 
Cavalieri ( 2008, p. 71) discorre que: 
O ato ilícito nunca será aquilo que os penalistas chamam de crime de mera conduta; será sempre um delito material, com resultado de dano. Sem dano pode haver responsabilidade penal, mas não há responsabilidade civil. Indenização sem dano importaria enriquecimento ilícito; enriquecimento sem causa para quem a recebesse e pena para quem a pagasse, porquanto os objetivos da indenização sabem todos, é reparar o prejuízo sofrido pela vítima, reintegrá-la ao estado em que se encontrava antes da prática do ato ilícito. E, se a vítima não sofreu nenhum prejuízo, a toda evidência, não haverá o que ressarcir. Daí a afirmação, comum a praticamente todos os autores, de que o dano é não somente o fato constitutivo, mas, também, determinante do dever de indenizar.
Nesse sentido, para que ocorra o dano é necessária à violação do interesse jurídico. 
8	CONSIDERAÇÕES FINAIS
As transformações sociais ocorridas no século XX fizeram com que a autoridade patriarcal e machista fosse revista e modificada. 
As normas jurídicas passaram a reconhecer o direito da mulher, possibilitando mudanças reais e significativas de extrema importância para a vida social da mulher. A mulher que anteriormente não possuía voz e nem visibilidade, passou a ter voz ativa na sociedade, com deveres e direitos. A mulher passou a ser considerada como ser pensante por si só e deixou de ser vista como louca ou histérica ao discorrer sobre suas opiniões. 
A conquista de direitos demonstra a sociedade que a mulher não é propriedade do homem. O ordenamento jurídico contribui de forma significativa para que a realidade da mulher fosse modificada. 
Nota-se que ainda vencíamos uma opressão, apesar das inúmeras conquistas. Infelizmente vivemos em uma sociedade que se desenvolveu diante do machismo, aonde somente o homem tem vez e voz, contudo ainda há mudanças possíveis. 
Diante o exposto, a violência contra a mulher se fez presente em todos os ambientes. Fazendo com que ficasse vulnerável a situações de humilhações, a mercê de consequências psicológicas e violências físicas e verbais. No âmbito da saúde, especificamente na obstetrícia nota-se que o crescimento ocorre de maneira significativa. E sem um resguardo de leis especificas fazem com mulheres fiquem expostas a situações de dores e procedimentos que apresentam risco a própria vida e a vida do bebê.
Como discorrido no trabalho, à violência contra a mulher se encontra enraizada na sociedade, ainda que haja conquistas significativas é uma das formas de violência mais difícil de ser combatida. Ainda que pouco divulgada e com poucas informações, a violência obstétrica é a violência que mais causa vitima no Brasil. 
Há uma necessidade urgente de discorrer e desenvolver estudos referentes à temática para que assim possam-se desenvolver leis especificas que visem proteger o Direito da Mulher, para que essa disponha de um parto mais humanizado, com dignidade, respeito, proteção, uma assistência que garanta segurança durante e após o parto.

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