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HISTORIA DA LINGUA E LITERATURA PORTUGUESA

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EAD
HISTÓRIA DA LÍNGUA E 
LITERATURA PORTUGUESA
Profª Me. Daniela Osório Palin de Moraes
 Prof. Dr. Rinaldo Guariglia
Prof. Djalma Rebelato
Prof. Julio Aragoni
HISTÓRIA DA LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESA 
 
APRESENTAÇÃO 
A realidade da noção de língua portuguesa, aquilo que lhe dá 
uma dimensão qualitativa para além de um mero estatuto de 
repositório de variantes, pertence, mais do que ao domínio 
linguístico, ao domínio da história, da cultura e, em última 
instância, da política. Na medida em que a percepção destas 
realidades for variando com o decorrer dos tempos e das 
gerações, será certamente de esperar, concomitantemente, que 
a extensão da noção de língua portuguesa varie também. 
Eduardo Paiva Raposo 
 
 
 
Olá 
Interagimos, agora, para percorrermos o caminho da História da Língua e Literatura 
Portuguesa. A proposta que norteará nossos encontros é propiciar a você, futuro 
professor de Língua Portuguesa, conhecimentos básicos, essenciais para um trabalho 
eficiente. 
 
O PORTUGUÊS é a língua que os lusitanos, os brasileiros, muitos africanos e alguns 
asiáticos estudam desde a sua origem, adotam como patrimônio nacional e usam 
como utensílio de comunicação, quer dentro da sua sociedade, quer no 
relacionamento com outras comunidades lusófonas. 
 
Esse idioma não dispõe de um território continuado (mas de vastas nações separadas, 
em vários continentes) e não é específica de uma comunidade (mas é sentida como 
sua, por igual, em sociedades distanciadas). Por isso, apresenta ampla diversidade 
interna, de acordo com as regiões e os grupos que a utilizam. Entretanto, também por 
isso, é uma das principais línguas do mundo. 
 
É possível apresentar percepções díspares quanto à unidade ou diversidade internas da 
língua portuguesa, segundo a perspectiva do observador. 
 
Quem se centralizar na língua dos escritores e da escola, adquirirá uma sensação de 
coesão. Quem comparar a língua oral de duas regiões (dialetos) ou de grupos sociais 
(socioletos) não resistirá a uma sensação de diversidade, até mesmo de separação. 
 
Uma língua de cultura como essa, portadora de extensa história, que serve de matéria-
prima e é produto de várias literaturas, instrumento de afirmação internacional de 
diversas sociedades, não se consome na descrição de seu sistema linguístico: uma 
língua como essa vive na história, na comunidade e no mundo. 
 
Ela mantém uma existência que é determinada e condicionada pelos amplos 
movimentos humanos e, prontamente, pela existência dos grupos que a falam. Isso 
significa que o idioma falado em Portugal, no Brasil e na África continua a ser sentido 
como uma única língua enquanto as comunidades dos vários países lusófonos sentirem 
necessidade de vínculos que os unam. A língua é, por acaso, o: mais importante desses 
laços. 
 
A disciplina resgatará alguns temas principais da literatura portuguesa. A literatura de 
Portugal, que começa a partir do século XII, é única na maneira com a qual mantém e 
recicla alguns temas de maneira cíclica, cultivando então uma memória preciosa de sua 
história. Como os temas são amplos, escolhemos alguns dos mais importantes, pois é 
impossível abarcar em uma única disciplina todos os momentos em que a memória de 
Portugal foi retrabalhada na literatura portuguesa. 
De qualquer modo, será possível, após a leitura da apostila e a devida leitura dos textos 
analisados, compreender de que maneira os principais temas portugueses são vividos e 
estudados. 
Caro aluno, esta disciplina tem como objetivo um panorama do lirismo lusitano ao 
longo do tempo, desde a formação do reino português até a atualidade. 
 
A abordagem será feita por meio dos autores mais representativos e fixando-se no 
verso ou poema. Para atingirmos nosso objetivo, é importante uma breve revisão da 
teoria dos gêneros e do gênero lírico em particular. Portanto vamos retomar esses 
conceitos. 
 
 
 
 
 
Profª Me. Daniela Osório Palin de Moraes 
 Prof. Dr. Rinaldo Guariglia 
Prof. Djalma Rebelato 
Prof. Julio Aragoni 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PROGRAMA DA DISCIPLINA 
 
EMENTA: A evolução histórica da Língua Portuguesa: formação vernácula do 
vocabulário do Português. Os fundamentos históricos e míticos do “ser português” e 
sua mediação estético-simbólica em diferentes épocas. A especificidade da obra 
ficcional e suas relações com a história. História, lusofonia e literatura no contexto pós-
colonial. A obra literária, seu tempo e a reatualização da obra pela leitura. 
 
OBJETIVOS: Os graduandos deverão adquirir noção básica dos principais pontos da 
gramática histórica da Língua Portuguesa, visando à sua compreensão e ao seu 
entendimento; Focalização da evolução histórica da Língua Portuguesa, originária do 
latim, assim como a das demais línguas neolatinas; O estudo da morfossintaxe da 
Língua Portuguesa; Visão ampla do funcionamento da Língua Portuguesa, 
privilegiando a relação desta com a Língua Latina. Conhecer a história dos principais 
mitos que definem a identidade lusitana e de que maneira eles se relacionam com sua 
história. 
 
CONTEÚDOS: História da língua portuguesa. Mudanças de som. Principais fenômenos. 
Analogia. Mudança gramatical. Mudança semântica. A Língua Portuguesa no mundo. O 
Império Português. O Sebastianismo. A atualização da história através da literatura. 
José Saramago 
 
METODOLOGIA: A disciplina deverá ser ministrada na modalidade a distância (EAD): 
embasamento teórico. Interação com o professor no sentido de dirimir dúvidas. Por 
meio de situações concretas de usos da língua e da fala, pretendemos conduzir os 
futuros alfabetizadores à reflexão da língua. 
 
AVALIAÇÃO: No sistema EAD, a legislação determina que haja avaliação presencial, 
sem, entretanto, se caracterizar como a única forma possível e recomendada. Na 
avaliação presencial, todos os alunos estão na mesma condição, em horário e espaço 
pré-determinados, diferentemente, a avaliação a distância permite que o aluno realize 
as atividades avaliativas no seu tempo, respeitando-se, obviamente, a necessidade de 
estabelecimento de prazos. A avaliação terá caráter processual e, portanto, contínuo, 
sendo os seguintes instrumentos utilizados para a verificação da aprendizagem: 
1) Trabalhos individuais desenvolvidos no AVA; 
2) Provas semestrais realizadas presencialmente; 
 
As estratégias de recuperação incluirão: 
1) retomada eventual dos conteúdos abordados nos módulos, quando não 
satisfatoriamente dominados pelo aluno; 
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 
Bibliografia Básica: 
CEREJA, William Roberto; MAGALHÃES, Thereza Cochar. Panorama da literatura 
portuguesa. São Paulo: Atual, s/d. 
COUTINHO, I. de L. Gramática Histórica. Rio de Janeiro: Acadêmica, s/d. 
MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa através dos textos. 27. ed. São Paulo: Cultrix, 
1997. 
MUSSALIN, F. & BENTES, A. C. Introdução à Linguística: domínios e fronteiras (v. 1). São 
Paulo: Cortez, 2001. 
TARALLO, F. Tempos Lingüísticos: itinerário histórico da Língua Portuguesa. São Paulo: 
Ática, 1990. 
 
 
Bibliografia Complementar: 
BASTOS, Neusa Barbosa (org.). Língua Portuguesa: uma visão em mosaico. São Paulo: 
EDUC, 2002. 
BOSI, Alfredo. Literatura e resistência. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. 
ELIA, Sílvio. A língua portuguesa no mundo. São Paulo: Ática, 2001. 
FARACO, C. A. Linguística Histórica: uma introdução aos estudos das línguas. São 
Paulo: Ática, 1991. 
GOULART, Audemaro Taranto & SILVA, Oscar Vieira da. Estudo dirigido de Gramática 
Histórica e Teoria da Literatura. São Paulo: Editora do Brasil, s/d. 
ILARI, R. Linguística Românica. São Paulo: Ática, 1999. 
IANNONE, Carlos Alberto; GOBBI, Márcia Valéria Zamboni; JUNQUEIRA, Renata Soares. 
(Org.). Sobre as naus da iniciação. São Paulo: UNESP, 1997. 
MOISÉS, Carlos Felipe. O desconcerto do mundo: do Renascimento ao Surrealismo. 
São Paulo: Escrituras Editora, 2001. 
PESSOA, Fernando.Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997. 
SARAMAGO, José. Memorial do convento. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. 
VIEIRA, Antônio. De profecia e Inquisição. Brasília: Senado Federal, 2001. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
UNIDADE 01 - INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS DA LÍNGUA PORTUGUESA ............ 8 
UNIDADE 02 - DOCUMENTOS EM LATIM VULGAR E EM LATIM CLÁSSICO .............................. 14 
UNIDADE 03 - A ORIGEM DAS LÍNGUAS ROMÂNICAS ............................................................... 17 
UNIDADE 04 - BREVE HISTÓRIA DA LÍNGUA PORTUGUESA E SEU DOMÍNIO MUNDIAL ATUAL
 .......................................................................................................................................................... 21 
UNIDADE 05 - PORTUGUÊS NO BRASIL ........................................................................................ 26 
UNIDADE 06- FONÉTICA HISTÓRICA ............................................................................................ 32 
UNIDADE 07 - FONOLOGIA HISTÓRICA ....................................................................................... 40 
UNIDADE 08 - MORFOLOGIA HISTÓRICA .................................................................................... 45 
UNIDADE 09 - SINTAXE HISTÓRICA .......................................................................................................... 51 
UNIDADE 10- SEMÂNTICA HISTÓRICA ......................................................................................... 60 
UNIDADE 11 - O PORTUGUÊS BRASILEIRO .................................................................................. 73 
UNIDADE 12 – O IMPÉRIO PORTUGUÊS: A HISTÓRIA E O MITO DO QUINTO IMPÉRIO .......... 83 
UNIDADE 13 - MITOLOGIA E OS LUSÍADAS ................................................................................. 87 
UNIDADE 14 – O SEBASTIANISMO ................................................................................................ 93 
UNIDADE 15 - O MITO SEBASTIANISTA ........................................................................................ 96 
UNIDADE 16- O SEBASTIANISMO EM MENSAGEM DE FERNANDO PESSOA. ........................... 99 
UNIDADE 17 – REINVENÇÃO DA HISTÓRIA ............................................................................... 106 
UNIDADE 18 - JOSÉ SARAMAGO E O MEMORIAL DO CONVENTO ........................................ 110 
UNIDADE 19 - TEORIA DOS GÊNEROS ....................................................................................... 114 
UNIDADE 20 - O LIRISMO MEDIEVAL – TROVADORISMO E HUMANISMO ............................. 120 
UNIDADE 21- RENASCIMENTO OU CLASSICISMO – LIRISMO CAMONIANO I ....................... 129 
UNIDADE 22 - LIRISMO CAMONIANO - A MEDIDA NOVA CLÁSSICA ..................................... 135 
UNIDADE 24 - O LIRISMO ROMÂNTICO– GARRETT E QUENTAL ............................................. 152 
UNIDADE 26 - LIRISMO MODERNISTA PORTUGUÊS – FERNANDO PESSOA – I ..................... 164 
UNIDADE 27- OS HETERÔNIMOS DE FERNANDO PESSOA ...................................................... 171 
UNIDADE 28 - O LIRISMO MODERNISTA E CONTEMPORÂNEO PORTUGUÊS ........................ 179 
 
UNIDADE 01 - INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS DA LÍNGUA PORTUGUESA 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivos: Explicitar a origem da Língua Portuguesa. O aparecimento da Língua 
Portuguesa está intensa e inseparavelmente ligado ao processo de constituição da 
Nação Portuguesa. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
Na região central da presente Itália, o Lácio, existia um povo que falava latim. Nessa 
terra, posteriormente foi fundada Roma. Esse povo foi crescendo e anexando novos 
territórios a seu domínio. Os romanos chegaram a ter um amplo império, o Império 
Romano. A cada conquista, fixavam aos vencidos seus costumes, suas instituições, os 
padrões de vida e o idioma. 
 
Havia duas modalidades de latim: o latim vulgar (sermo vulgaris, rusticus, plebeius) e o 
latim clássico (sermo litterarius, eruditus, urbanus). O latim vulgar foi apenas falado; a 
língua do dia-a-dia utilizada pelo povo analfabeto da Itália e das províncias: soldados, 
marinheiros, artesãos, agricultores, barbeiros, escravos, etc. Foi a língua coloquial, viva, 
sujeita a modificações frequentes. Oferecia diversas variações. O latim clássico foi a 
língua oralizada e escrita, asseada, artificial, rígida, era o utensílio literário usado pelos 
bons poetas, prosadores, filósofos, retóricos... A modalidade do latim aplicada aos 
povos vencidos foi a vulgar. Os povos vencidos foram muitos e falavam línguas 
distintas, por isso em cada região o latim vulgar sofreu alterações diferentes o que 
resultou no surgimento dos diferentes romanços e após, nas diferentes línguas 
neolatinas. 
 
No século III a.C., os romanos dominaram a região da Península Ibérica; principiou-se 
assim a ação de romanização da península. A dominação não foi apenas territorial, 
mas também cultural. Espaçaram estradas ligando a colônia à metrópole, edificaram 
escolas, organizaram o comércio, conduziram o cristianismo aos nativos. A ligação com 
a metrópole mantinha a unidade do idioma evitando a proliferação das tendências 
dialetais. Foram anexadas à língua latina palavras e expressões das línguas dos povos 
dominados. 
 
No quinto século da era cristã, a península sofreu a incursão de povos bárbaros. Como 
tinham cultura pouco desenvolvida, os novos conquistadores acolheram a cultura e fala 
peninsular. Influenciaram a língua local adicionando a ela novos termos e favorecendo 
sua dialetação, porque cada povo bárbaro usava o latim de uma forma distinta. 
 
Com o declínio do Império Romano, as escolas são fechadas e a nobreza é 
desbancada, não havia mais os elementos unificadores da língua. O latim ficou livre 
para modificar-se. 
 
As invasões não pararam. No século VIII, a Península Ibérica foi tomada pelos árabes. O 
domínio mouro foi mais relevante no sul. Compôs-se então a sociedade moçárabe, 
que serviu por muito tempo; no período intermediário entre o mundo cristão e o 
mundo muçulmano. Apesar de terem uma cultura plenamente desenvolvida; foi muito 
distinta da cultura peninsular, gerando resistência por parte do povo. Sua religião, 
língua e hábitos foram completamente diferentes. O árabe foi falado simultaneamente 
que o latim (romanço). As influências lingüísticas árabes limitam-se ao léxico, no qual 
os empréstimos são normalmente notados pela sílaba inicial al-, correspondente ao 
artigo árabe: alface, álcool, álgebra, Alcorão, alfândega... Outros exemplos: bairro, 
berinjela, xarope, califa, garrafa, quintal, café. 
 
Apesar de bárbaros e árabes terem permanecido longo tempo na península, a 
influência que desempenharam na língua foi acanhada; esteve restrita ao léxico, pois o 
procedimento de romanização foi muito intenso. 
Os cristãos, principalmente do norte, nunca abrigaram o domínio muçulmano. 
Prepararam um movimento de saída forçada dos árabes (a Reconquista). A batalha 
travada foi chamada de "santa" ou "cruzada". Isso aconteceu por volta do século XI. No 
século XV, os árabes estavam totalmente expulsos da península. 
 
Durante a Guerra Santa, muitos nobres lutaram para auxiliar D. Afonso VI, rei de Leão e 
Castela. Um deles, D. Henrique, conde de Borgonha, revelou-se pelos serviços 
prestados à coroa e por prêmio recebeu a mão de D. Tareja, filha do rei. Como dote 
ganhou o Condado Portucalense. Continuou a lutar contra os árabes, anexando nova 
região ao seu condado que foi ganhando o contorno do que hoje em dia é Portugal. 
 
D. Afonso Henriques, filho do casal, inicia a Nação Portuguesa que fica independente 
em 1143. A língua da oralidade na parte ocidental da Península era o galego-
português; com o tempo, foi diferenciando-se: no sul, português, e no norte, galego, 
que sofreu mais influência do castelhano. Em 1290, o rei D. Dinizinicia a Escola de 
Direitos Gerais e obriga, em decreto, a utilização oficial da Língua Portuguesa. 
 
Agora, que você teve uma breve apresentação da Língua Portuguesa, vamos estudar 
como tudo começou, o que nos remete a um estudo prévio do Latim. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
Os estudos de Gramática Histórica 
Antes de iniciarmos nossos estudos sobre os conteúdos específicos da Gramática 
Histórica, é importante sabermos para que estudá-la, visto que, segundo Ismael de 
Lima Coutinho, trata-se de uma ciência que estuda os fatos de uma língua, no seu 
desenvolvimento sucessivo, desde a origem até a época atual.1 Assim, poderemos 
perceber e compreender as transformações pelas quais a Língua Portuguesa passou e 
passa em sua trajetória espacial e temporal. 
 
Há de se esclarecer, também, o porquê de tais transformações, visto que elas ocorrem 
devido às necessidades naturais de todas as línguas, portanto há um fundamento para 
que haja tais mudanças. 
 
Para começarmos a desvendar a história de nossa língua, daremos voz ao poeta Olavo 
Bilac que cantou, em seus versos, a Língua Portuguesa: 
 
Língua portuguesa2 
Olavo Bilac 
Última flor do Lácio, inculta e bela, 
És, a um tempo, esplendor e sepultura: 
Ouro nativo, que na ganga impura 
A bruta mina entre os cascalhos vela... 
Amo-te assim, desconhecida e obscura. 
Tuba de alto clangor, lira singela, 
Que tens o trom e o silvo da procela, 
E o arrolo da saudade e da ternura! 
Amo o teu viço agreste e o teu aroma 
De virgens selvas e de oceano largo! 
Amo-te, ó rude e doloroso idioma, 
em que da voz materna ouvi: "meu filho!", 
E em que Camões chorou, no exílio amargo, 
O gênio sem ventura e o amor sem brilho! 
 
Em seu soneto, Bilac refere-se à Língua Portuguesa como Flor do Lácio, em latim 
Latium e em italiano Lazio, região da Itália, local em que, primeiramente, foi falado o 
latim, língua que deu origem à Língua Portuguesa. 
 
Observe o mapa da Itália, e veja a localização destacada da região do Lácio.3 
                                                            
1 COUTINHO, Ismael de Lima. Pontos de Gramática Histórica, p. 13. 
2 Os versos acima foram extraídos do livro "Poesias", Livraria Francisco Alves - Rio de Janeiro, 1964, pág. 262. 
3 Mapa retirado do site www.google.com.br 
O Latim foi falado, primeiramente, por primitivos 
habitantes de Roma, povos rústicos que praticavam 
trabalhos voltados à lavoura, portanto seu 
vocabulário caracterizava-se por vocábulos 
necessários aos seus afazeres. 
 
Com o passar do tempo, houve uma ampliação do 
vocabulário e seu inevitável enriquecimento, visto que ocorreu contato entre os povos 
do campo e os povos da cidade. Importante acontecimento no desenvolvimento 
natural de todas as línguas, visto que novas palavras e expressões são incorporadas, 
atendendo às necessidades de cada idioma. 
 
O Latim clássico e o Latim vulgar 
O Latim clássico e o Latim Vulgar não são considerados línguas diferentes, mas sim, 
modalidades diferentes da mesma língua. Vamos entender o porquê: 
 
O latim originariamente falado na região do Lácio tratava-se de uma língua 
estritamente falada4, ou seja, atendia às necessidades concernentes à comunicação 
entre as pessoas que dessa língua se utilizavam, porém, com o passar do tempo, esse 
idioma acaba por transformar-se, também, em um instrumento literário. 
 
Segundo Ismael de Lima Coutinho, ... com o correr do tempo, se tornam cada vez mais 
distintos: o clássico e o vulgar. Não eram duas línguas diferentes, mas dois aspectos da 
mesma língua. Um surgiu do outro, como a árvore da semente. Essas duas 
modalidades do latim, a literária e a popular, receberam dos romanos a denominação, 
respectivamente, de sermo urbanus e sermo vulgaris.”5 
                                                            
4 Veremos em aula posterior que há raros escritos em Latim Vulgar. 
5 COUTINHO, Ismael de Lima. Pontos de Gramática Histórica, p. 29. 
Assim, o Latim Vulgar caracterizava-se por ser uma modalidade da língua falada e o 
Latim Clássico, por ser uma modalidade da língua escrita. 
 
Veremos as diferenças entre ambas: 
 
Latim Vulgar: 
Falado primeiramente pelos povos rústicos da sociedade romana, caracterizando-se da 
seguinte forma: 
 Uso de arcaísmos, neologismos e estrangeirismos;6 
 Pouca importância para normas gramaticais; 
 Utilizado para a fala na comunicação direta entre pessoas. 
 
Latim Clássico: 
 Vocabulário sem a presença de arcaísmos, neologismos e estrangeirismos; 
 Muita importância dada para normas gramaticais; 
 Utilizado em obras literárias e documentos oficiais. 
 
O Latim clássico, língua escrita, encontra-se configurada nas obras literárias de 
escritores latinos; por ser uma língua utilizada para tal propósito, era imóvel, ou seja, 
não sofria mudanças. 
 
Situação contrária era a do Latim Vulgar falado por soldados, marinheiros, agricultores, 
pessoas consideradas como parte das camadas inferiores da sociedade romana que 
utilizavam o idioma para aquilo que lhes era prático. 
 
Há de se esclarecer que, embora fossem modalidades diferentes de uma mesma 
língua, havia expressões e palavras clássicas no Latim Vulgar, assim como expressões 
populares no Latim Clássico. 
                                                            
6 Arcaísmo: palavra, expressão ou construção arcaica. Modo de falar ou de escrever antiquado; Neologismo: palavra, frase ou 
expressão nova, ou palavra antiga com sentido novo; Estrangeirismo: emprego de palavra, frase ou construção sintática 
estrangeira. (Novo Dicionário básico da Língua Portuguesa – Folha/Aurélio – Editora Nova Fronteira – 1994/1995) 
UNIDADE 02 - DOCUMENTOS EM LATIM VULGAR E EM LATIM CLÁSSICO 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivos: Explicitar, por meio de textos, a diferença entre latim clássico e latim vulgar. 
 
Escassos são os documentos em Latim Vulgar, visto que era uma modalidade do latim 
quase que exclusivamente utilizada para a comunicação entre as pessoas, ou seja, a 
fala direta entre elas. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
Embora os documentos em Latim Vulgar sejam escassos, mesmo assim, há algumas 
raras fontes em que podemos estudar o Latim Vulgar. 
 
Um desses documentos são as inscrições, são os documentos escritos em Latim Vulgar 
em maior número. Segundo Ismael de Lima Coutinho, elas não retratam apenas o 
latim de uma fase, nem de uma região, mas de todas as fases e de todas as regiões. (p. 
35) 
 
Dessa forma, por meio das inscrições pode-se conhecer as diferenças regionais, seguir 
a evolução da língua. Deve-se atentar para o fato de que as inscrições oficiais não são 
fontes para o estudo do Latim Vulgar, visto que não eram escritas nessa modalidade 
da língua. 
 
Destacam-se as inscrições tumulares (epitáfios) que eram, geralmente, encomendadas 
por pessoas simples e confeccionadas por outras que não tinham o conhecimento do 
Latim Clássico. Veja um exemplo: 
 
“Hoc tetolo fecet Muntana conius sua Mauricio, qui visit com elo annus dodece et 
portavit annos quarranta. Trasit die VIII Kl. Iunias.” 
Tradução 
“Este epitáfio fez para Maurício a sua esposa Montana, que viveu em sua companhia 
doze anos, e tinha ele quarenta. Morreu no dia oitavo antes das calendas de junho (25 
de maio).”7 
 
Há, também, as inscrições contidas nas tábuas execratórias, feitas de bronze, chumbo, 
mármore, entre outros materiais. Elas continham fórmulas mágicas ou de maldição. 
Veja um exemplo: 
 
“Te rogo que infernales partes tenes, commendo tibi Iulia Faustilla, Marii filia, ut cam 
celerius abducas et ibi in numerum tu abias”. 
 
Tradução 
“A ti, que dominas as regiões infernais, peço e encomendo Júlia Faustila, filha de Mário, 
para que a leves mais rapidamente e a conserves aí no número (dos mortos).”8 
 
 Appendix Probi” (Apêndice à Gramática de Probo): caracteriza-se por ser um 
documento em Latim Vulgar que tinha como objetivo a correção de palavras 
erradasutilizadas pelas pessoas. Veja uns exemplos: 
Speculum (forma correta) – speclum (forma incorreta) 
Calida (forma correta) – calda (forma incorreta) 
Speculum – espelho; calida – quente. 
 
Observação: não se tem a autoria desse trabalho, ou seja, não se sabe quem foram as 
pessoas que o confeccionaram. 
 
 A Peregrinatio ad Loca Sancta” (Peregrinação à Terra Santa): obra escrita por uma 
monja que conta sua viagem à Terra Santa. Veja um fragmento: 
                                                            
7 COUTINHO, Ismael de Lima. Pontos de Gramática Histórica, p. 37. 
8 COUTINHO, Ismael de Lima. Pontos de Gramática histórica, p. 36. 
“In eo ergo loco est nunc ecclesia non grandis, quoniam et ipse lócus, id est summitas 
montis, non satis grandis est; quae tamen ecclesia habet de se gratiam grandem. Cum 
ergo, iubente Deo, persubissemus in ipsa summitate, et peruenissemus ad hostium 
ipsius ecclesiae, ecce et eccurrit presbyter ueniens de monasterio suo, qui ipsi ecclesiae 
deputabatur, senex integer et monachus a prima uita, et ut hic dicunt ascitis, et quid 
plura? qualis dignus est esse in eo loco”. 
 
Tradução 
“Nesse lugar há, pois, agora uma igreja não grande, porque também o mesmo lugar, 
isto é, o cimo do monte não é muito grande; contudo, a qual igreja tem por si grande 
renome. Como, pois, ordenando Deus, subíssemos a esse cimo e chegássemos à porta 
da igreja, eis que corre ao nosso encontro um presbítero vindo do seu mosteiro, que 
estava á testa da mesma igreja, o velho virtuoso e monge desde cedo, como aqui 
dizem ascitis e que mais? o qual é digno de estar nesse lugar”.9 
 
Observação: os documentos em Latim Clássico são encontrados mais facilmente e em 
maior número, pois essa modalidade do Latim era utilizada para a literatura, ou seja, 
pelos escritores e poetas latinos consagrados. 
 
Consta, também, que era utilizado em documentos oficiais. 
 
 
 
 
 
 
 
                                                            
9 Idem, p. 38 
UNIDADE 3- A ORIGEM DAS LÍNGUAS ROMÂNICAS 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivos: A partir do Latim Vulgar, explicitar a origem das línguas românicas. Agora, 
você já se encontra mais familiarizado (a) com o Latim Vulgar, pois aprendeu sua 
origem, seu uso corrente e as fontes disponíveis para seu estudo. 
 
Nesta etapa, você aprenderá que o Latim Vulgar, modalidade do Latim utilizada mais 
usualmente na fala e nem tanto na escrita, deu origem a diversas outras línguas, dentre 
elas, a nossa, ou seja, a Língua Portuguesa. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
O Latim disseminou-se por vários territórios por meio de conquistas políticas. No auge 
do Império Romano, essas conquistas se acentuaram ainda mais, e o Latim era levado 
para todos os países invadidos e conquistados por Roma. 
 
A língua latina, em cada um desses territórios, sob a influência de vários fatores, 
transformou-se, com o tempo, em diferentes idiomas, os quais são chamados de 
Línguas Românicas, Línguas Neolatinas, Línguas Novilatinas ou Línguas Latinas, 
consideradas uma extensão do Latim. Vamos entender de que forma esse processo se 
desenvolveu: 
 
O Latim levado por meio dos soldados, colonizadores, para os territórios conquistados, 
era o Latim Vulgar. Deve-se levar em conta que nesses territórios já havia uma ou mais 
línguas que eram faladas pelas pessoas que lá habitavam.10 
                                                            
10 Substrato é a língua de um povo que é abandonada e esquecida, em proveito de outra que a ela se impõe, em regra, como 
consequência de conquista política. Matoso Câmara, Dicionário de Filologia e Gramática, Rio, Ozon, 1964. 
Atenção: em estudos mais recentes sobre as 
línguas românicas, Bruno Fregni Basseto (As línguas 
românicas: perene herança latina), informa que de 
acordo com a União Latina, no início do ano de 
2000, 982 milhões de pessoas usavam uma 
variedade românica como língua materna, em 
todas as partes do mundo. 
Essa informação nos leva a crer que, hoje em dia, 
esse número de usuários aumentou, marcando a 
herança latina entre as diversas línguas existentes.1 
Ainda segundo Bruno, o sardo é um importante 
ponto de referência nos estudos das línguas 
românicas, visto o caráter bastante arcaico de sua 
estrutura, o que o torna a língua românica mais 
próxima do latim vulgar. 
Com a invasão do Império Romano por povos 
bárbaros novas mudanças na língua foram 
acontecendo, surgindo assim, um superstrato.1 
Com o passar do tempo, a língua falada pelos 
soldados romanos, o latim vulgar, já se encontrava 
bastante modificado, formando, assim, um 
romanço. 
Cada romanço deu origem a uma língua neolatina, 
sendo considerado uma evolução do latim. 
Atenção: O que é o Método Comparativo? Vamos 
esclarecer: 
O método comparativo é um processo utilizado 
para o estudo das línguas românicas, visto que ao 
compará-las percebe-se certa semelhança entre 
elas o que reforça a tese de que elas se originaram 
do Latim Vulgar. 
Segundo Rodolfo Ilari, as línguas românicas vistas 
em conjunto são a melhor fonte para o 
conhecimento de sua própria origem. (p. 22) 
Vejamos um exemplo da aplicação do método 
comparativo: 
Porta (latim); porta (português); puerta (espanhol); 
porte (francês); porta (italiano); 
Luna (latim); lua (português); luna (espanhol); lune 
(francês); luna (italiano). 
Percebe-se que o Método Comparativo é um 
grande aliados aos estudos das Línguas Românicas, 
visto que sua origem, o Latim Vulgar não deixou 
muitos documentos para o seu estudo. 
O povo conquistado começa a utilizar 
a nova língua oficial imposta a ele, ou 
seja, o Latim Vulgar, porém adapta a 
nova língua a seus hábitos fonéticos, 
além de fazer uso de vocábulos de 
seu próprio idioma. 
 
Determinar a época exata em que o 
latim vulgar deu origem às línguas 
românicas é algo inviável; o que 
podemos salientar é que entre o latim 
vulgar e as línguas românicas há um 
estágio intermediário, denominado 
romanço ou romance, considerado 
um dialeto formado pelo latim vulgar 
e pelas línguas já faladas nas regiões 
conquistadas. O romanço ou romance 
por ser um estágio intermediário não 
é mais o latim vulgar nem ainda a 
língua neolatina, trata-se de um 
dialeto de origem latina. 
 
Os povos vencidos pelos 
conquistadores romanos quase sempre aceitavam a nova língua, o latim vulgar, porém 
essa modalidade do latim não prevaleceu em todas as regiões invadidas. Por exemplo, 
na Britânia (atual Inglaterra), a língua latina não predominou, mas deixou suas marcas 
no vocabulário inglês. 
 
Há dez línguas neolatinas: 
 
 Português: falado em Portugal, no Brasil, em alguns lugares da África (Guiné-
Bissau, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Ilha da Madeira, São Tomé e 
Príncipe), da Ásia (Macau, Timor, Goa, Malaia). 
 Espanhol: falado na Espanha, em alguns países da América do Sul (exceto Brasil, 
Guiana, Suriname e Guiana Francesa) da América Central (exceto Haiti e 
Jamaica), do México, em algumas ilhas da Antilhas e das Filipinas; é ainda uma 
das duas línguas dos Estados bilíngües dos Estados Unidos: Flórida, Califórnia e 
Texas.11 
 Catalão: falado na Catalunha (sul da Espanha). 
 Francês: falado na França, em alguns lugares da África (Senegal, Madagascar), 
Guiana Francesa, em Quebec (Canadá), na América Central (Haiti), na Louisiana. 
 Provençal: falado em Provença (sul da França). 
 Italiano: falado na Itália. Foi levado, também à Eritréia, à Somália e à Líbia.12 
 Rético: Falado no Tirol, Friul e em uma parte da Suíça. 
 Romeno: falado na Romênia. 
 Sardo: falado na Sardenha. 
 Dalmático: falado na Dalmácia.13 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
Causas do aparecimento das Línguas românicas 
Todas as línguas neolatinas são originárias do latim vulgar, mas são diferentes entre si. 
As causas que apresentaremos abaixo justificam o porquê: 
 
                                                            
11 ILARI, Rodolfo. Linguística Românica,p.52. 
12 Idem, p. 52. 
13 O Dalmático, hoje, é uma língua morta, ou seja, sabemos que ele existiu como língua, pois há documentos que comprovam sua 
existência. As demais línguas neolatinas são vivas, ou seja, ainda são faladas e há outra denominação na classificação das línguas 
que são as extintas, ou seja, línguas que se supõe terem existido, mas não há documentos que comprovem sua existência, como 
por exemplo, o indo-europeu. 
Causa Histórica: as línguas neolatinas são diferentes entre si, pois as conquistas 
realizadas por Roma ocorreram durante, aproximadamente, 400 anos. 
 
A Hispânia foi conquistada em 197 a. C.; a Sicília, em 241 a. C. 
 
O tempo causa modificações profundas em uma língua. Se lermos um romance do 
século XIX, perceberemos que a linguagem é muito diferente de uma romance escrito 
no século XX ou XXI. 
 
Causa Política: enquanto o Império Romano manteve-se no auge de suas conquistas, 
tudo foi feito para que a língua se mantivesse uniforme por todas as regiões 
conquistadas por Roma, porém com o declínio do Império Romano, essa situação se 
modificou, pois cada dialeto evoluiu conforme suas necessidades próprias. 
 
Com o passar do tempo, cada um desses dialetos se transformou em um romanço e, 
mais tarde, em uma língua neolatina. 
 
Causa etnológica: os territórios conquistados por Roma eram habitados por povos 
diferentes que falavam línguas diferentes. 
 
Assim houve uma interação entre o Latim Vulgar com cada uma das línguas faladas 
por esses povos, consequentemente cada romanço seria diferente, portanto cada uma 
das línguas românicas apresentaria suas diferenças. 
 
 
 
 
 
UNIDADE 04 - BREVE HISTÓRIA DA LÍNGUA PORTUGUESA E SEU DOMÍNIO MUNDIAL 
ATUAL 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivos: Propiciar conhecimentos sobre a história da Língua Portuguesa 
Você já aprendeu, em aulas anteriores, que a Língua Portuguesa e as demais línguas 
românicas originaram-se do Latim Vulgar; veremos, agora, algo mais específico sobre a 
nossa língua. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
A Língua Portuguesa foi levada à Península Ibérica por meio de conquistas romanas. 
Nesse lugar, havia primitivos habitantes, o povo ibero e também gregos e fenícios que 
nessa região se estabeleceram. 
 
Mais tardiamente, os celtas, de origem germânica, instalaram-se na Península, dando 
origem aos povos celtiberos. 
 
Por meio das Guerras Púnicas, os romanos venceram os cartagineses que dominavam 
a Península Ibérica, que passou a fazer parte do Império Romano em 197 a. C. 
 
Dessa forma, a língua dos romanos, a latina (o latim vulgar) fundiu-se com a língua dos 
celtiberos e, posteriormente, novos elementos advindos da língua de povos bárbaros 
(vândalos, suevos e visigodos) influenciaram a nova língua, ou seja, um latim já 
bastante modificado. 
 
Este latim já bastante dialetado sofreu também influência da língua árabe, porém de 
forma discreta, visto que tal língua foi assimilada apenas por uma pequena parcela da 
população da Península, ficando restrita, também, a apenas documentos. 
Guerreiros cristãos, mais tardiamente, lutaram pela posse da Península Ibérica, entre 
eles Dom Henrique de Borgonha que recebeu o pequeno reino denominado Condado 
Portucalense. 
 
Deve-se destacar que durante as batalhas dos cristãos contra os árabes, pequenos 
reinos foram formados. 
 
Mais tarde, o Condado Portucalense foi tomado por Dom Afonso Henriques, e já 
bastante ampliado em virtude das conquistas de Dom Afonso, tornou-se o reino de 
Portugal. 
 
A partir do século XV, o português apresenta-se como língua representativa de uma 
nação e de um povo, sendo levado a várias partes do mundo por meio de conquistas 
portuguesas. 
 
Assim, a Língua Portuguesa, disseminou-se por vários locais do mundo, chegando 
também ao Brasil. 
 
Segundo Leite de Vasconcelos14, a história da Língua Portuguesa pode ser dividida em 
três períodos: 
 
I- Pré-histórico: das origens ao século IX. Nesse período, surgem os 
primeiros documentos latino-portugueses; 
II- Proto-histórico: do século IX ao século XII. Os documentos existentes 
ainda são escritos em latim, tendo algumas palavras portuguesas. 
                                                            
14 GOULART, Audemaro Taranto e SILVA, Oscar Vieira da. Estudo dirigido de Gramática Histórica e Teoria da Literatura, p. 45. 
III- Histórico: do século XII em diante. Os textos já são grafados em 
português. Nesse período, surge a epopeia portuguesa Os Lusíadas 
de Luís Vaz de Camões. 
 
O período Histórico se divide em duas fases: 
I. Arcaica: do século XII ao XVI. 
II. Moderna: do século XVI em diante. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
A EXPANSÃO 
Portugal foi conhecido pelas amplas navegações. No século XV e XVI, por meio dos 
movimentos colonialistas e de proliferação do catolicismo, difundiu pelo mundo a 
língua portuguesa. O português é imposto às línguas autóctones como idioma oficial 
ou modificava-se, oferecendo origem aos dialetos crioulos. Assim foi que a língua 
chegou à América, África, Ásia e Oceania. 
 
O DOMÍNIO ATUAL 
Presentemente, o português é a língua oficial destes países (Portugal, arquipélago de 
Açores e ilha da Madeira, Brasil, Giné-Bissau, Angola, Moçambique, Ilha de São Tomé e 
Príncipe, arquipélago de Cabo Verde). Em outras regiões, é usado por parte do povo 
como um dialeto (Macau, Goa, Damão e Timor). 
 
Observe o mapa: 
 
Como você pode observar, 
as regiões que falam o 
português estão ligadas à 
colonização de Portugal. 
A Língua Portuguesa no mundo 
Você pôde perceber, nas aulas anteriores, que a Língua Portuguesa é falada em 
diversas partes do mundo. Vejamos, agora, mais detalhadamente esse assunto. 
 
Sílvio Elia, em seu estudo sobre o domínio da Língua Portuguesa no mundo, denomina 
Lusitânia a todo espaço geo-linguístico ocupado pela Língua Portuguesa, considerando 
a situação da língua após a Segunda Guerra Mundial. 
 
1- Lusitânia Antiga: Portugal, Ilha da Madeira e Açores. 
Sabemos que a origem da Língua Portuguesa como língua originária do Latim Vulgar 
ocorre em Portugal, conforme aprendemos na última aula, portanto Portugal faz parte 
da Lusitânia Antiga, porque é o berço da Língua Portuguesa. 
 
A Ilha da Madeira e Açores foram povoadas por colonizadores portugueses, visto que 
antes de sua chegada a essas terras, não havia habitantes, por isso foram incluídas na 
Lusitânia Antiga. 
 
Nesses territórios, a Língua Portuguesa é a língua oficial. 
 
2- Lusitânia Nova: Brasil. 
Diferente do que ocorreu na Ilha da Madeira e em Açores, no Brasil, os colonizadores 
encontraram o território povoado por indígenas que falavam suas próprias línguas que 
eram diversificadas. 
 
Temos no Brasil, portanto, o português como língua transplantada e não língua-berço. 
 
Trata-se também, no Brasil, de língua nacional, pois é falada em todos os lugares do 
território brasileiro e também é uma língua materna, pois é ensinada nas escolas e 
falada por toda a população brasileira, sendo também, a língua oficial do país. 
 
3- Lusitânia Novíssima: Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e 
Príncipe. 
O português é falado em todos esses territórios, embora “concorra” com algumas 
línguas nativas. 
 
4- Lusitânia Perdida: regiões da Ásia e da Oceania. 
Nesses territórios, o uso da língua portuguesa é restrito, mínimo. Exemplos: Índia, 
Macau e Timor. 
 
5- Lusitânia Dispersa: pequenas comunidades espalhadas pelo mundo que falam a 
língua portuguesa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE 05 - PORTUGUÊS NO BRASIL 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivos: Explicitar as influências na Língua Portuguesa falada no Brasil. 
No Brasil, a Língua Portuguesa foi trazida no século XVI quando do descobrimento. Os 
nativos apresentaram grande resistência à obrigação da língua pelos colonizadores. 
Além das várias línguas indígenas, combinaram também ao português o espanhol e ofrancês (invasões), as línguas africanas (por meio da vinda dos negros) e, 
posteriormente, com a imigração, mais línguas européias chegaram (italiano, alemão e 
espanhol). O idioma também sofreu influência de veículos de comunicação. Com isso, 
absorveram-se palavras japonesas, francesas e principalmente inglesas. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
Principais Influências na Língua Portuguesa Falada no Brasil 
INFLUÊNCIA EXEMPLOS 
Tupi 
Nomes de pessoas: Ubirajara, Iracema... 
Nomes de lugares: Ipanema, Copacabana... 
Nomes de animais e plantas: tatu, arara, caju, 
maracujá... 
Dialetos africanos Acarajé, dendê, fubá, quilombo, moleque, caçula... 
Alemão Níquel, gás... 
Espanhol Bolero, castanhola... 
Japonês Karaokê, camicase... 
Francês Paletó, boné, matinê, abat-jour (abajur), bâton 
(batom), cabaret (cabaré)... 
Italiano- geralmente termos relacionados às artes e 
à culinária 
Macarrão, piano, soneto, bandido, ária, camarim, 
partitura, lasanha... 
Inglês Show, software, hamburger... 
 
Crioulos de Base Portuguesa 
Um crioulo é uma língua natural, de formação rápida, criada pela necessidade de 
comunicação plena entre pessoas inseridas em sociedades multilingues relativamente 
estáveis. Procurando superar a pequena funcionalidade das suas línguas maternas, elas 
recorrem ao modelo imposto (porém pouco acessível) do idioma socialmente 
dominante e ao seu saber linguístico para instituir uma forma de linguagem veicular 
simples, de caráter restrito, mas eficaz, o pidgin, que é gramaticalmente complexo e 
lexicalmente expandido, em particular, pelas novas gerações que o adquirem como 
língua materna, dando origem posteriormente a um crioulo. 
 
Chamam-se de base portuguesa os crioulos cujo léxico é predominantemente de 
origem portuguesa. No entanto, gramaticalmente, os crioulos são línguas diferenciadas 
e autônomas. Sendo a língua-base aquela que oferece o léxico, pode-se encontrar 
crioulos de diferentes bases: inglesa (o Krio da Serra Leoa), francesa (Seychelles), árabe 
(Kinubi do Uganda e do Quénia) ou outra. 
 
Os crioulos de base portuguesa são frequentemente classificados a partir de um 
critério de ordem fundamentalmente geográfica, apesar de, em muitos casos, existirem 
também correlação entre a localização geográfica e a tipologia de línguas de substrato 
no momento da formação. 
 
Na África, foram formados os Crioulos da Alta Guiné (Cabo Verde, Guiné-Bissau e 
Casamansa) e os do Golfo da Guiné (São Tomé, Príncipe e Ano Bom). 
 
Classificam-se como Indo-portugueses os crioulos da Índia (de Diu, Bombaim, Damão, 
Chaul, Korlai, Mangalor, Mahé, Cananor, Tellicherry, Cochim, Quilom e Vaipim e da 
Costa de Coromandel e de Bengala) e os crioulos de Sri-Lanka (Trincomalee e 
Batticaloa, Mannar e zona de Puttallam). Quanto a Goa (na Índia), é discutível se se 
teria formado um crioulo de base portuguesa. Na Ásia, surgiram crioulos de base 
portuguesa: Malásia (Kuala Lumpur, Malaca e Singapura) e nalgumas ilhas da Indonésia 
(Java, Ternate, Ambom, Flores, Macassar e Timor) conhecidos sob a designação de 
Malaio-portugueses. Os crioulos Sino-portugueses são estes: Macau e Hong-Kong. 
Na América, encontra-se um crioulo que se considera de base ibérica, já que o 
português compartilha com o castelhano a origem de grande parte do léxico (o 
Papiamento de Curaçau, Bonaire e Aruba, nas Antilhas) e mais um crioulo no 
Suriname: o Saramacano, que, sendo de base inglesa, manifesta, no seu léxico, uma 
grande influência portuguesa. 
 
A época da colonização portuguesa foi adequada ao contacto linguístico e à formação 
de crioulos. Os primeiros contatos propiciaram a formação de pidgins, para efeito de 
comunicação imediata, principalmente quando as línguas veiculares normalmente 
usadas para esse fim, como o árabe, por exemplo, deixavam de ser funcionais. Esses 
pidgins se estabeleceram como línguas de comércio na África e na Ásia até o século 
XVIII. 
 
A partir desses primeiros contatos — em que a língua portuguesa conseguiu impor-se, 
apoiada por um grande número de falantes (como no Brasil) ou por uma política de 
ensino e propagação sistemática (como em Goa, local-sede do poder militar e 
administrativo de Portugal desde 1512) — os pidgins foram plenamente adquiridos 
pelos povos que a eles tiveram acesso; mantiveram-se, assim, com vitalidade. 
 
Contrariamente, a formação das línguas crioulas ocorreu em comunidades multilingues 
em que existiu fraco acesso ao modelo da língua portuguesa (número de portugueses, 
proporcionalmente inferior ao dos outros grupos); houve perda parcial (ou mesmo 
total) de aplicação de outras línguas maternas, e forte miscigenação. Essas situações 
ocorriam em regiões de concentração e de isolamento de povos miscigenados (como 
em Korlai, na Índia), longe das suas propriedades e culturas de origem, particularmente 
em plantações e em ilhas como Cabo Verde e S. Tomé, e nas fortificações costeiras 
construídas pelos portugueses nos séculos XV e XVI (como Cananor e Cochim). 
Os crioulos portugueses surgiram de três maneiras distintas: por origem in loco ou por 
difusão (neste caso, migrado com seus falantes para diversas partes do mundo; às 
vezes, tão longínquas, como as Antilhas), ou também pela convergência das duas 
formas. Os crioulos de base portuguesa que presumidamente existiram em algumas 
regiões do Brasil, no Nordeste, teriam sido o resultado dessa convergência: ao 
contexto multilíngüe em função das plantações de cana-de-açúcar associa-se à 
importação de escravos de regiões africanas, onde já se utilizava um crioulo 
comprovadamente, como em São Tomé. 
 
Ao contrário dos pidgins, os crioulos, uma vez formados, passaram a ser símbolos de 
identidade de um grupo. Isso explica, em grande parte, a sua resistência às investidas 
dos idiomas de poder e de maior prestígio sócio-cultural. 
 
Essa resistência foi maior e mais eficaz à medida que o isolamento se constituía (como 
em Tugu) e quanto menor o poder e a investida das línguas em contato 
(principalmente através da instrução). Ademais, à língua crioula se associou a 
identificação com a religião cristã, em oposição às crenças circundantes (Casamansa e 
Malaca). Em situações em que os povos falantes de crioulos tornaram-se 
independentes (Cabo Verde, Guiné-Bissau...) houve uma revitalização do crioulo, 
fortalecida nos episódios de oficialização (Papiamento). 
 
Ainda assim, esses focos de resistência cederam e permitiram uma descrioulização; às 
vezes paulatina; outras vezes, acelerada; acarretando, em alguns casos, a morte, 
particularmente quando os crioulos perderam a funcionalidade em detrimento de 
outras línguas social e politicamente prevalentes (como crioulos da Ásia). 
 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
A origem lexical dos crioulos de base portuguesa é, nalguns casos, facilmente 
reconhecível, conforme se pode verificar na seguinte expressão em Crioulo de Cabo 
Verde: 
 E meste pa nho ben li 
 Ele (haver) mister (de) para senhor vem ali 
 Ele precisa (de) que o senhor/você venha cá 
 
Já em Forro, um dos crioulos de São Tomé, a identificação torna-se mais difícil, 
conforme revela o seguinte dito popular (que corresponde o ditado português: Cada 
um serve-se das armas que tem): 
 Mina pikina ka pidji ku bóka 
 Menina pequena ficar pedir com boca 
 A criança pede com a boca 
 
 Ngê tamé ka pidji ku uê 
 Alguém tamanho ficar pedir com olho 
 O adulto pede com os olhos 
 
Nesse crioulo, as intensas mudanças fonológicas tornam mais evidente a desarmonia 
em relação ao português. A ausência dos fonemas representados por –r- e –rr- na 
grafia portuguesa, torna extremamente difícil, por exemplo, a identificação destas 
palavras: tela e lenha, que se traduzem, respectivamente,por terra e rainha. O mesmo 
acontece no crioulo do Príncipe, ou Lunguyé, em que esses fonemas submergem: 
Tetúga kodá na súnu, e wé buká kágu (A tartaruga despertou do (seu) sono, foi buscar 
a carga). 
 
A origem portuguesa da maior parte das unidades que compõem o léxico das novas 
línguas crioulas não sugere que tenha havido manutenção do sistema lexical 
português. Pelo contrário, as unidades do léxico foram reanalisadas e integradas em 
um sistema fonológico, morfológico, sintático e semântico novo; e, apesar das 
afinidades notórias, quase sempre foram divergentes. 
 
A convivência sincrônica de semelhanças e divergências — associada ao efeito do 
contato com outras línguas e ao efeito das diversas mudanças diacrônicas toleradas 
autonomamente, por cinco séculos, pela língua portuguesa e pelos crioulos que dela 
derivam — dá origem, por um lado, a problemas de reconhecimento do étimo 
português (como no santomense e no principense); por outro, a um fenômeno de 
aparente entendimento e consequentes mal–entendidos entre usuários das duas 
línguas: crioula e portuguesa. 
 
Pidgin 
Em ocasiões de contato entre usuários de línguas maternas diferentes que, por razões 
de ordem social, apresentam necessidade urgente de falar entre si, surge uma forma 
de língua veicular, empregada em circunstâncias restritas de comunicação. Trata-se de 
um pidgin. O pidgin obedece aos primeiros estágios de assimilação espontânea da 
língua do grupo socialmente dominante pelos usuários das outras línguas. O grupo 
dominante que, inicialmente, procura adequar e simplificar a sua língua para se fazer 
compreender, acaba por ter de aprender o pidgin. 
 
O pidgin é uma língua subsidiária, de expediente, com um léxico e uma morfologia 
reduzida, sem que possa funcionar como língua materna. A língua dominante, também 
chamada língua-base (ou língua sobrestrato), colabora fundamentalmente com o 
léxico para a sua formação. Diz-se, assim, de um pidgin cujo léxico deriva do 
português, que é um pidgin de base portuguesa. 
 
Foi a urgência de entrosamento mútuo entre europeus e africanos (e, em seguida, 
asiáticos), que criou as primeiras categorias de emergência de pidgins de base 
portuguesa, nos séculos XV e XVI. Esses, em alguns casos, por um processo de 
complexidade estrutural e expansão do léxico, deram origem a crioulos. 
 
 
 
 
UNIDADE 06- FONÉTICA HISTÓRICA 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivos: Propiciar conhecimentos sobre Fonética Histórica. 
As chamadas leis fonéticas, proclamadas pelos linguistas da escola Neo-Gramática do 
século XIX, são mudanças regulares que se observam na evolução de todas as línguas, 
motivadas pela configuração fonética das palavras. Não sendo, como se julgava 
inicialmente, maciças e inobserváveis, acabam, aos poucos, por afetar a quase 
totalidade do léxico de cada língua em determinada secção de tempo. São eventos 
históricos, sujeitos às mesmas contingências regionais, políticas, culturais e sociais dos 
outros eventos que atingem a vida de uma comunidade, o que significa que têm uma 
atuação limitada a um passo da história daquela mesma comunidade. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
Na evolução do latim falado, no início do Império, para o falado na România Ocidental 
(Norte de Itália, Gália, Récia e Hispânia) e desse para o romance galego-português, 
verificaram-se consideráveis mudanças regulares, determinadas pelo contexto fonético 
e que são, resumidamente, estas: 
 
Símbolos 
1. A mudança ocorrida entre duas formas separadas pelo tempo indica-se inscrevendo 
entre elas o parêntese angular >. 
2. As formas latinas, para imediato reconhecimento, escrevem-se em caracteres 
maiúsculos. 
3. Quando uma vogal acentuada latina é longa, a sua notação vem seguida do sinal: e, 
quando é breve, não é assinalada. 
4. Recorre-se aos parênteses retos para incluir, no seu interior, uma letra, ou letras que 
interessa considerar pelo seu valor fonético. Se estiver em causa o seu valor fonológico, 
ou seja, a entidade abstrata a que correspondem no sistema de uma língua, já se 
recorre às barras oblíquas. 
5. O hífen no final de uma forma latina indica que naquela posição esteve uma 
desinência (normalmente -m para os substantivos e adjetivos, -t para as formas 
verbais) que caiu muito cedo em latim vulgar e da qual não guardam memória as 
línguas românicas. 
 
Exemplificação: AMA:RE>amar PIRA->pêra 
 
À esquerda dos parênteses angulares, estão as formas latinas e à sua direita as formas 
portuguesas resultantes. No primeiro caso, a palavra latina tem [a] longo na sílaba 
tônica e, no segundo, um [i] breve. Estas vogais, na mente dos falantes são, 
respectivamente, /a:/ e /i/, ao passo que nas suas bocas são [a:] e [i]. 
 
Assimilação 
Por assimilação, entende-se a modificação de um som por influência do som vizinho 
que com ele passa a partilhar traços articulatórios (i.e. torna-o foneticamente parecido 
ou igual a ele). Esta é uma mudança sintagmática, assim chamada por ocorrer entre 
elementos de uma cadeia sintagmática (sons articulados sucessivamente na pronúncia 
das palavras). A assimilação de um som pode verificar-se por influência do som 
anterior (será uma assimilação progressiva), do som seguinte (uma assimilação 
regressiva), por influência simultânea dos sons anterior e seguinte (assimilação dupla) e 
por influência de um som não contíguo (assimilação à distância). Os contextos 
fonéticos (i.e. palavras concretas onde ocorrem as mudanças fonéticas) mais propícios 
à assimilação são os nasais, os anteriores e os intervocálicos. 
 
Contextos nasais: - Uma vogal vizinha de [m] e [n], sons que são consoantes nasais, 
tem tendência para deixar de ser vogal oral e passar a ser vogal nasal. Isto ocorre 
universalmente na história das línguas e, no caso do português, verificou-se na 
passagem do latim hispânico para o romance galego-português (séculos VI-VII), talvez 
por influência das línguas celtas que na Península se chegaram a falar. As vogais que 
antecediam o [n] passaram a ser vogais nasais (ex: PONTE->p[õ]te, LU:NA->l[ũ]a, 
NON>n[o~]), pelo que se diz que foram nasalizadas por assimilação regressiva. Na 
época contemporânea, observam-se nasalizações, já de sentido progressivo, sempre 
que os falantes pronunciam, na primeira sílaba da forma muito, um ditongo nasal e, na 
primeira sílaba de mesa, uma vogal nasal (esta última nasalização progressiva apenas 
ocorre dialetalmente, mas a primeira é geral em português europeu, brasileiro e 
africano, pelo que deve ser bastante antiga, mas não anterior ao século XVI, já que 
Camões rimava muito com fruito). 
 
Contextos anteriores ou palatais: - Outras assimilações podem dar-se junto de vogal 
anterior, tradicionalmente chamada palatal [i] ou [e], ou junto de semivogal anterior, ou 
palatal, [j]. Estas mudanças chamam-se palatalizações e podem também ser regressivas 
ou progressivas. Em latim vulgar, a língua falada no Império Romano do Ocidente 
entre os séculos III a.C. e V d.C., ter-se-á iniciado, no século I da era Cristã, uma 
palatalização regressiva que afetou as consoantes não contínuas, [-cont], 
tradicionalmente chamadas oclusivas, [k] e [t], antes de som anterior. Nos contextos 
[ke], [ki], [kj] e [tj] as consoantes evoluíram para uma sequência com iode (a semivogal 
anterior) [tj] e mais tarde, só na România Ocidental, para a africada dental [ts], forma 
antepassada daquelas consoantes que hoje em português se escrevem <c, ç,> ou 
então <z> (este último num contexto especial, intervocálico, que possibilitou a 
evolução [ts]> [dz]). Assim, temos: 
 
CENTU->[tj]ento>[ts]ento>cento 
FACERE>fa[tj]ere>fa[ts]er>fa[dz]er>fazer 
CISTA->[tj]esta>[ts]esta>cesta 
FACIE->fa[tj]e>fa[ts]e>face. 
 
Mais antiga, foi a evolução de [tj]: 
 
FORTIA->for[ts]a>força. 
 
Outras palatalizações regressivas, desencadeadas no latim vulgar da mesma época 
pela presença da semivogal anterior [j], afetaram consoantescontínuas (ou fricativas), 
líquidas e nasais: 
 
CASEU->queijo, VINEA->vinha, FILIU->filho. 
 
Mais tardias, foram as palatalizações regressivas típicas do romance galego-português, 
ocorridas pelo século VI, que modificaram a articulação das consoantes não contínuas, 
ou oclusivas, [p], [k] e [t], antes da líquida [l]; esta evoluiu para a semivogal anterior [j] 
e, a partir daí, palatalizou em africada [tS] a consoante precedente, a qual, a seu 
tempo, simplificou na consoante contínua anterior [S], sempre escrita com <ch>: 
 
PLORA:R(E)>[tS]orar>chorar, 
CLAMA:R(E)>[tS]amar> chamar; 
FLAGRA:R(E)>[tS]eirar>cheirar. 
 
Mas este tipo de assimilação também pode ser progressivo, o que se vê igualmente no 
latim, mas já só na Hispânia, pelo que terá ocorrido mais adentro da era Cristã: 
 
CAPSA->ca[j]sa>caixa, COXA- ou seja ['koksa]>co[i]sa>coixa>coxa, ACUC(U)LA-
>agu[j]la>agulha. 
 
Contextos intervocálicos: - Aqui já se observa a assimilação dupla. Por assimilação 
dupla entende-se aquele tipo de influência simultânea que as vogais exercem sobre 
uma consoante que ocorra entre elas na cadeia sintagmática. Este contexto, chamado 
intervocálico e simbolizado VCV (vogal+consoante+vogal), é extremamente debilitante 
para a consoante, a qual ora é fricatizada, se for uma consoante oclusiva (segundo 
uma terminologia mais moderna, passa de não contínua a contínua), ora é sonorizada 
se for surda (passa de não vozeada a vozeada), ora, se for já de si mais instável (uma 
contínua, uma líquida ou uma nasal), pode deixar totalmente de ser articulada 
(fenômeno que tem o nome de assimilação total). Esta é a tendência universal da 
mudança e, em galego-português, pelo século VII, ocorreu uma assimilação dupla que 
muito caracteriza esta língua medieval de origem latina (este romance). Com efeito, só 
em galego-português é que o [l] simples intervocálico latino deixou de ser articulado e 
só em galego-português (e gascão) é que o [n] simples, no mesmo contexto, deixou 
também de ser articulado: 
 
PALA->paa>pá, DOLO:RE->door>dor, BONU->bõo>bom, ANELLU->ãelo>elo 
 
(Repare-se que a assimilação dupla de [n] simples intervocálico foi precedida de uma 
assimilação regressiva, em que a mesma consoante nasalizou a vogal anterior; note-se 
também que o [l_G] de anel ainda persiste porque tem origem numa líquida latina 
geminada [ll]) 
 
Outras assimilações duplas, anteriores a estas, afetaram consoantes do latim vulgar a 
partir do início da era Cristã, mas raramente culminaram no respectivo 
desaparecimento porque foram travadas por fatores sistemáticos, neste caso, 
fonológicos. Entre os séculos I e V d. C., uma assimilação dupla provocou, na România 
Ocidental, aquilo a que tradicionalmente se chama sonorização, ou seja, vozeamento 
das consoantes não vozeadas intervocálicas. As vozeadas intervocálicas também foram 
atingidas por este processo de assimilação dupla, tendo começado por passar a 
consoantes contínuas, e acabando duas delas por deixarem de ser articuladas. Da 
mesma forma, as geminadas sofreram simplificação. O português conservou o 
resultado deste latim vulgar já evoluído: 
 
APICULA->abelha MUTU->mudo LACU->lago 
 
FABA->fava NU:DA->nua STRI:GA->estria 
 
CIPPU->cepo GUTTA->gota PECCA:RE>pecar 
 
ABBA:TE>abade ADDUCERE>aduzerarc 
 
O fato de o mesmo tipo de assimilação ter ocorrido entre vogal e consoante líquida /r/ 
conduz a uma reflexão sobre o estatuto particular das consoantes líquidas que, em 
certos aspectos, se aproximam dos segmentos vocálicos. Exemplos: PATRE->padre, 
MA:TRE->madre, LACRIMA>lágrima. 
 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
Dissimilação 
Por dissimilação, entende-se a modificação de um som por influência de um som 
vizinho, articulatoriamente próximo que, com ele, e por sua influência, deixa de 
partilhar traços articulatórios (i.e. torna-se foneticamente diferente). Esta é também, tal 
como a assimilação; uma mudança sintagmática, que envolve elementos da mesma 
cadeia sintagmática (i.e. sons da mesma palavra), mas é muito menos regular, 
ocorrendo apenas esporadicamente, pelo que é difícil também calcular uma data 
precisa para a sua ocorrência. 
Os sons que preferentemente sofrem dissimilação são os vocálicos, orais e nasais, e os 
consonânticos que constituam líquidas ou nasais. 
 
Dissimilação entre vogais: 
LOCUSTA->lagosta ROTUNDA->redonda 
 
VENTA:NA->ventãa>venta CAMPA:NA->campãa>campa 
 
Dissimilação entre consoantes: 
MEMORA:RE>nembrar>lembrar ANIMA->alma LOCA:LE->logar>lugar 
 
Metátese 
Tal como a dissimilação, a metátese, que é a transposição de sons dentro de uma 
mesma cadeia sintagmática, é irregular, de difícil datação e muito frequentemente 
envolve consoantes líquidas, aquelas que menos estabilidade têm. Também pode 
envolver semivogais postônicas que, por metátese, passam a ocorrer junto da vogal 
tônica. O padrão silábico parece aqui funcionar como um rastilho para este tipo de 
mudança. 
 
Metátese de semivogais: O latim vulgar sofreu em época bastante recuada, uma vez 
que a generalidade das línguas românicas a testemunha, a metátese de semivogal 
anterior nos sufixos -A:RIU>airo, -A:RIA>aira. Em português, as formas herdeiras desses 
sufixos revelam ainda uma assimilação para -eiro, -eira, que deverá ter ocorrido em 
latim hispânico, já que em castelhano as formas paralelas são -ero, -era. 
DIA:RIA->jeira PRIMA:RIU->primeiro 
 
Metátese de consoantes: Como se disse, são sobretudo as consoantes líquidas l e r 
que sofrem o processo da metátese. É uma tendência universal que pode 
testemunhar-se pelo destino de uma forma latina ARBORE-, a qual em português não 
deu origem a metátese (árvore), mas em italiano e castelhano provocou duas 
diferentes soluções de metátese envolvendo as mesmas consoantes, respectivamente, 
alberoit e árbolcast. Para exemplificar metáteses com líquidas portuguesas, podem 
observar-se as formas FLO:RE->frolmedieval ou TENEBRAS>teevras>trevas 
 
Epêntese 
Este é um fenômeno contrário ao da assimilação total, uma vez que consiste na adição 
de sons no interior da cadeia sintagmática. Tutelado pela estrutura da sílaba, que tende 
frequentemente para o padrão universal CV (consoante+vogal), o fenômeno da 
epêntese consonântica reestruturou notoriamente as sílabas do português medieval 
que continham o hiato (encontro de duas vogais) -i~o, -i~a e que, a partir dos séculos 
XIV-XV, passaram a terminar em -inho, -inha, com epêntese da consoante nasal [J]: 
VI:NU->vi~o>vinho GALLI:NA->gali~a>galinha 
 
Quando diz respeito à inserção de vogais, a epêntese tem o nome mais particular de 
anaptixe, e observa-se frequentemente no português do Brasil, que reestruturou 
sílabas com grupos consonânticos, sílabas CCV, em sucessões de sílabas obedecendo 
ao padrão universal CVCV: 
 
opção>opição ritmo>ritimo pneu>pineu~peneu 
 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE 07 - FONOLOGIA HISTÓRICA 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivos: Explicitar as regularidades na evolução do sistema fonológico. Tal como nas 
leis fonéticas, mas agora independentemente do contexto fonético, pode haver 
regularidade na evolução dos sistemas fonológicos das línguas, mas, também neste 
caso, desde que se considere apenas uma secção de tempo na história de uma 
comunidade precisa. Considerando o latim vulgar da România Ocidental, todo o seu 
vocalismo acentuado e parte do seu consonantismo sofreram mutações ao evoluírem 
para os romances ocidentais. Da mesma forma, mas séculos mais tarde, o português 
medieval viu o seu vocalismo átono final reduzir-se no caminho para o português 
clássico, e o vocalismo átono pretônico deste último teve uma ulterior evolução, já a 
meio da época Moderna. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
Vamos verificar os símbolos utilizados para a evolução fonológica. 
 
Símbolos 
1. A mudança ocorrida entre duas formas separadas pelo tempo indica-se inscrevendo 
entre elas o parêntese angular>. 
2. As formas latinas, para imediato reconhecimento, escrevem-se em caracteres 
maiúsculos. 
3. Quando uma vogal acentuada latina é longa, a sua notação vem seguida do sinal: e, 
quando é breve, não é assinalada. 
4. Recorre-se aos parênteses retos para incluir, no seu interior, uma letra, ou letras que 
interessa considerar pelo seu valor fonético. Se estiver em causa o seu valor fonológico, 
ou seja, a entidade abstrata a que correspondem no sistema de uma língua, já se 
recorre às barras oblíquas. 
5. O hífen no final de uma forma latina indica que naquela posição esteve uma 
desinência (normalmente -m para os substantivos e adjetivos, -t para as formas 
verbais) que caiu muito cedo em latim vulgar e da qual não guardam memória as 
línguas românicas. 
Exemplificação: AMA:RE>amar PIRA->pêra 
 
À esquerda dos parênteses angulares estão as formas latinas e à sua direita as formas 
portuguesas resultantes. No primeiro caso, a palavra latina tem [a] longo na sílaba 
tônica e, no segundo, um [i] breve. Estas vogais, na mente dos falantes são, 
respectivamente, /a:/ e /i/, ao passo que nas suas bocas são [a:] e [i]. 
 
Evolução do vocalismo tônico latino 
A partir do início da era Cristã, nas múltiplas situações de bilinguismo a que a expansão 
do Império Romano obrigava, o contacto linguístico forçou o sistema fonológico do 
latim vulgar a evoluir. Ao nível do vocalismo acentuado, deu-se uma notável redução 
das oposições fonológicas, deixando o sistema de conter dez diferentes segmentos 
vocálicos para passar a conter apenas sete. O rastilho para esta mudança consistiu 
numa modificação acústica que atingiu o acento das palavras: este deixou de se 
traduzir num aumento da frequência da vibração das cordas vocais (acento melódico, 
de altura ou tonal) para passar a resultar do aumento da intensidade dessa vibração 
(acento de intensidade). Ou seja, as vogais acentuadas deixaram de ser mais altas (de 
uma altura acústica, entenda-se) do que as átonas, e passaram a ser mais intensas. Esta 
mudança acústica veio provocar a alteração de todo o sistema vocálico tônico, 
desaparecendo a oposição fonológica entre vogais longas e breves, até aí possível, 
mas logo tornada impossível por o acento de intensidade alongar necessariamente a 
quantidade das vogais nele envolvidas. (i.e. apenas podia cair em vogais longas). 
 
Como resultado, a quantidade vocálica foi substituída pelo timbre enquanto traço 
pertinente na distinção de segmentos vocálicos: à exceção do que se passou com /a/ 
longo e /a/ breve, vogais que se fundiram num único /a/, as antigas vogais longas 
tenderam para manter o seu timbre e as antigas vogais breves para sofrer abertura 
tímbrica. Falando em termos de altura articulatória, as antigas vogais breves sofreram, 
à exceção do /a/, abaixamento de um grau, tornando-se mais baixas do que eram 
anteriormente, enquanto que as antigas vogais longas mantiveram a respectiva altura. 
O português manteve, no caso das vogais tônicas, o mesmo sistema fonológico. 
Vogais longas tônicas Vogais breves tônicas 
DI:CO>digo, com /i/ acentuad PIRA->pera, com /e/ acentuado 
NU:DU->nu, com /u/ acentuado LUTU->lodo, com /o/ acentuado 
ACE:TU->azedo, com /e/ acentuado PETRA->pedra, com /E/ acentuado 
FORMO:SU->formoso, com /o/ acentuado ROTA->roda, com /O/ acentuado 
MA:TRE->madre, com /a/ acentuado CADO>caio, com /a/ acentuado 
 
Fundiram-se em resultados únicos os antigos /u/ breve e /o/ longo, os antigos /i/ 
breve e /e/ longo, os antigos /a/ breve e /a/ longo. Desaparecem, assim, três 
oposições fonológicas, pelo que o sistema latino antigo de dez vogais acentuadas é 
rendido por um de sete. 
 
Não se tratando de mudança condicionada pelo contexto (ela ocorre em todas as 
formas da língua latina em que estas vogais ocupem a posição acentuada), 
presenciamos aqui uma mudança fonológica e já não fonética, livre de restrições 
associativas com sons vizinhos (restrições sintagmáticas), mas sujeita a restrições 
opositivas com sons alternativos (restrições paradigmáticas). 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
Evolução das consoantes latinas oclusivas intervocálicas 
No nível da fonética histórica do latim vulgar, observa-se que, por assimilação dupla, as 
consoantes oclusivas (não contínuas) intervocálicas do latim vulgar sofreram lenição 
(i.e. enfraquecimento), passando as geminadas a simples, as não vozeadas a vozeadas 
e as vozeadas a contínuas, podendo estas, depois, chegar a desaparecer, num 
processo que decorreu entre os séculos I e V da era Cristã (ver Fonética Histórica do 
Português - Contextos intervocálicos). O ímpeto assimilatório que desencadeou esta 
evolução latina, se não fora travado, acabaria num resultado único, que seria a 
assimilação total. Mas foi refreado por restrições do sistema (restrições paradigmáticas) 
que impediram as vogais de fazer desaparecer totalmente algumas consoantes que 
entre elas se encontravam (recorde-se que o contexto para este tipo de assimilação é o 
intervocálico). Assim, observaram-se diferentes graus de assimilação possíveis, 
mantendo-se quase intacta a sequência inicial de oposições fonológicas: 
 
 
 
 
APICULA->abelha MUTU->mudo LACU->lago 
FABA->fava NU:DA->nua STRI:GA->estria 
CIPPU->cepo GUTTA->gota PECCA:RE>pecar 
ABBA:TE>abade ADDUCERE>aduzerarc 
 
Evolução do vocalismo átono do português europeu 
O português europeu distingue-se das variantes brasileira e africanas desta língua por 
apresentar em estado avançado uma redução do vocalismo átono, quer final (i.e. em 
final de palavra), quer pretônico (i.e., em posição átona anterior à ocorrência da vogal 
tônica). Esta redução chegou às variantes não europeias no que às átonas finais diz 
respeito, e o português do Brasil, por exemplo, na maioria dos seus dialetos, revela a 
elevação /e/>/i/, /o/>/u/, dizendo os brasileiros pont[i] para "ponte" e coc[u] para 
"coco". Já não elevam contudo, o /a/ final para /6/, tal como não o fazem os falantes 
africanos de português. Esta elevação em posição final terá sido muito recuada na 
história para ter chegado a conhecer uma difusão tão extensa. Mais recente, por 
menos difundida, foi a elevação das átonas pretônicas, que só parcialmente é 
conhecida das variantes africanas e que é desconhecida no Brasil. Em posição 
pretônica, o português europeu tem as seguintes elevações: 
/e/ > /@/
/o / > /u/
/a/ > /6/
Posição acentuada Posição pretônica 
pele, com [E] tônico pelar, com [@] pretônico 
sebo, com [e] tônico seboso, com [@] pretônico 
posso, com [O] tônico possível, com [u] pretônico 
roxo, com [o] tônico arroxeado, com [u] pretônico 
casa, com [a] tônico casario, com [6] pretônico 
 
Este é um fenômeno do qual só há testemunhos diretos a partir do século XVII, altura 
em que os textos escritos por mãos pouco alfabetizadas muito hesitam na colocação 
do grafema <e>, por exemplo, usando-o até no interior de grupos consonânticos, o 
que prova que o "e mudo" já figurava no sistema vocálico átono. Exemplo: <teres> 
para <três>. 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE 08 - MORFOLOGIA HISTÓRICA 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivos: Desenvolver conhecimentos sobre a morfologia histórica. 
Do ponto de vista morfossintático, o latim era, ao contrário das línguas românicas, uma 
língua sintética, na qual as diferentes categorias semânticas e sintáticas se exprimiam 
preferencialmente pela flexão, nominal e verbal. As informações de gênero, número, 
pessoa, tempo, modo, aspecto, as categorias de sujeito, objeto, complemento eram 
traduzidas pelas terminações das formas verbais e dos nomes, adjetivos e pronomes. 
Em virtude de evoluções fonéticas que afetaram consoantes finais como o /-m/ e o /-
t/, e em virtude de evoluções fonológicas que modificaram a pertinência da 
quantidade vocálica enquanto traço distintivo, toda a arquitetura sintética da 
morfossintaxe latina deu lugar a aspectos analíticos que afloram sobretudo ao nível daordem de palavras e no enriquecimento de classes gramaticais como a das 
preposições. No português, manteve-se, contudo, majoritariamente sintética (flexional, 
portanto) a morfologia verbal, bem como o subsistema dos pronomes pessoais, o qual 
pode ser considerado bastante arcaizante. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
Um outro fator de mudança, que veio atuar nas categorias nominais e verbais 
portuguesas entre a Idade Média a época atual, foi a analogia. A analogia é um tipo de 
mudança universal (comum a todas as línguas do mundo) que não tem motivação 
fonética nem fonológica, tem sim uma motivação gramatical. A linguística 
neogramática do século XIX classificava a analogia enquanto mudança "psicológica", 
oposta à mudança fonética, que seria já "mecânica". Esta era caracterizada pela sua 
regularidade, se bem que tivesse como resultado criar paradigmas (grupos de formas 
flexionadas da mesma palavra) irregulares; aquela se via como imprevisível e irregular, 
mas o seu resultado tendia a criar paradigmas já regulares. Hoje a analogia é descrita 
em termos mais gramaticais, e faz-se decorrer a sua inevitabilidade daquela 
característica de todas as línguas do mundo que é a sua forte estruturação interna. 
Fruto da analogia, muitos substantivos, adjetivos, pronomes e verbos portugueses são 
hoje mais equilibrados na sua estrutura flexional do que o foram no passado, sendo 
também, por isso mesmo, mais simples de aprender. 
 
Da gramática sintética latina à analítica românica. O caso do desaparecimento das 
declinações 
Edwin Williams, na sua gramática Do latim ao português, menciona o caos da rica 
flexão latina no seu caminho para as línguas românicas (referindo o caso particular do 
português) numa formulação breve, mas explícita: 
 
Paradigmas nominais 
(substantivos, adjetivos e pronomes flexionados em caso, gênero e número) 
Pouco restou das declinações do latim clássico em latim vulgar. A quarta e a quinta 
declinações, o gênero neutro e todos os casos, exceto o nominativo e o acusativo, 
desapareceram. Com o desaparecimento do nominativo em português, a distinção casual 
terminou. Apenas a flexão de número permaneceu. A forma oriunda do acusativo latino 
passou a exercer a função de sujeito, de objeto de um verbo e de objeto de uma preposição. 
(Williams, 1975: p. 123) 
 
Quanto ao gênero, as formas nominais portuguesas podem ser femininas ou 
masculinas. Assim era também em latim vulgar, mas essa língua evoluíra de uma outra 
que tinha também o gênero neutro. As formas neutras dos substantivos e adjetivos 
latinos foram absorvidas quer pelas masculinas quer pelas femininas, e o português 
não tem hoje expressão gramatical para a categoria semântica neutra. Quanto ao caso, 
as formas nominais latinas também caminharam de um estado de flexão casual, para o 
seu quase total desaparecimento em português. O fator original desta mudança 
morfológica foi, como está dito acima, de natureza fonética e fonológica. As 
terminações de muitos casos e de diferentes gêneros tornaram-se idênticas pela queda 
de consoantes finais (apócope) e a prosódia nivelou, pelo desaparecimento do acento 
melódico, os radicais de muitas formas anteriormente distintas em termos de 
quantidade vocálica. 
 
Os casos nominativo, genitivo, dativo, acusativo e ablativo eram categorias a que 
pertenciam formas com distintas funções na frase, e essa função sintáticas aflorava 
numa terminação (desinência de caso) específica: 
Nominativo: caso da função sintática de sujeito 
Genitivo: caso possessivo e de outras relações entre formas nominais 
Dativo: caso do complemento indireto 
Acusativo: caso do complemento direto 
Ablativo: sem função específica, sendo sobretudo o caso do objeto de uma preposição 
(herdeiro da fusão de três casos indo-europeus, o instrumental, o locativo e o ablativo, 
inicialmente um caso de separação). 
As terminações da primeira, segunda e terceira conjugações latinas destoam, em 
variedade, dos seus sucedâneos portugueses: 
1ª declinação latina Singular Plural 
Nominativo -a -ae 
Genitivo -ae -a:rum 
Dativo -ae -i:s 
Acusativo -a-m -a:s 
Ablativo -a -i:s 
 
A essa declinação pertenciam nomes quase todos eles femininos (exceções: NAUTA 
"navegante", AGRICOLA "lavrador", ambos nomes masculinos). Para ela convergiram os 
nomes neutros plurais da segunda declinação (ex: ARMA>arma, UO:TA>boda, 
LIGNA>lenha, FOLIA>folha), dela desapareceram todos os casos, exceto o acusativo 
(que perdeu, no singular, o seu -m final) e, ao tempo do português medieval, tínhamos 
o seguinte estado herdado das terminações da primeira declinação latina: 
 
português singular português plural 
-a -as 
Da segunda declinação, restam em português algumas formas singulares com o -s final 
característico do nominativo latino. Mas são casos isolados, quase todos eles de nomes 
próprios (Deus, Jesus, Carlos, Domingos, Mateus). De resto, esta declinação, com a qual 
se fundiu a quarta, também se reduziu ao acusativo plural e singular (sem -m final e 
com abaixamento de -u para -o): 
 
2ª declinação latina Singular Plural 
Nominativo -us (masc) / -um (neut) -i: (masc) / -a (neut) 
Genitivo -i: -o:rum 
Dativo -o: -i:s 
Acusativo -u-m -o:s (masc) / -a (neut) 
Ablativo -o: -i:s 
 
português singular português plural 
-o -os 
 
Estas terminações das formas nominais portuguesas, oriundas da primeira e segunda 
declinações latinas, distribuíram-se num sistema em que as herdeiras da primeira 
declinação caracterizam substantivos, adjetivos e pronomes portugueses femininos, 
descendendo da segunda declinação as formas portuguesas masculinas. Quanto ao 
vocabulário português que descende da terceira declinação latina (que tinha nomes de 
tema em consoante e de tema em -i, e com os quais se fundiram os da quinta 
declinação), aí tanto encontramos formas nominais femininas como masculinas: 
 
3ª Declinação Singular Plural 
Nominativo -s (tema em consoante) 
-is (tema em -i) / -e (neut) 
-e:s (tema em consoante) 
-ia (tema em -I) / -a (neut) 
Genitivo -is -um 
Dativo -i: -ibus 
Acusativo -e-m -e:s (tema em consoante) 
-ia (tema em -i) / -a (neut) 
Ablativo -e / -i: -ibus 
 
português singular português plural 
-l / -r / -z / -e -es 
Com ascendência nesta declinação, em português temos ponte, que é feminino, 
árvore, também feminino, mas leite já é masculino, assim como mar. Passando para 
outras línguas românicas, assistimos à flutuação, quanto ao gênero, das formas 
cognatas (i. e. com a mesma origem remota): em francês temos os masculinos le pont, 
le lait, l'arbre e o feminino la mer. Em castelhano há el puente, el mar (mas Mar Bella, 
como arcaísmo), el árbol e, já como feminino, la leche. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
A mudança por analogia. O caso dos particípios portugueses em –udo 
Um aspecto exemplar da morfologia verbal portuguesa demonstra o poder da 
analogia na regularização de paradigmas. 
 
As três conjugações portuguesas, de tema em a (1ª), em e (2ª) e em i (3ª), provêm de 
quatro latinas. A 2ª e a 3ª latinas fundiram-se: por exemplo, RESPONDE:RE e VENDERE 
eram, em latim, de conjugações diferentes, da 2ª e da 3ª, respectivamente, mas em 
português têm descendentes da mesma conjugação (responder e vender, da 2ª 
conjugação). Isto sucedeu em todas as línguas românicas faladas na Península Ibérica, 
pelo que o fenômeno de fusão terá sido bem antigo, não fazendo parte, propriamente, 
da história do português. As formas do particípio passado dos verbos de tema em e, 
com aquela genealogia dupla, tinham, no português da Idade Média, a vogal /u/ em 
posição acentuada, ou seja, tinham terminação em -udo (exs: teúdo, perdudo, 
conhoçudo, creçudo usavam-se em vez de tido, perdido, conhecido e crescido). A 
variação entre -udo e -ido só começou a aparecer em textos de finais do século XIV, 
mas foi tão radical que não há hoje qualquer verbo da 2ª conjugação que tenha nas 
suas formas do particípio

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