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1 METODOLOGIA DO ENSINO 1 Sumário A METODOLOGIA DO ENSINO DE HISTÓRIA ........................................................ 4 O Ensino da História .................................................................................................. 4 APORTES TEÓRICOS DE PIAGET E O ENSINO DA HISTÓRIA ............................ 8 ELEMENTOS DO PROCESSO DE APRENDIZAGEM ............................................ 10 AS POLÍTICAS CONTEMPORÂNEAS PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL E ANOS INICIAIS ................................................................................................................... 12 O DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES SOCIAIS............................................ 20 DESENVOLVIMENTO DE CONCEITOS DE TEMPO, MEMÓRIA E RELAÇÕES SOCIAIS ................................................................................................................... 21 O ENSINO DA HISTÓRIA EM SALA DE AULA ....................................................... 24 ABORDAGENS SOBRE MATERIAL DIDÁTICO ....................................... 24 Modelos e Práticas ..................................................................................... 26 Materiais e Métodos de Ensino .................................................................. 28 Algumas possibilidades de como e o que ensinar ..................................... 28 O livro didático ..................................................................................... 29 As imagens ........................................................................................... 30 O museu ................................................................................................ 30 A televisão ............................................................................................. 31 A memória ............................................................................................. 32 Documentos .......................................................................................... 33 Filmes e Documentários ...................................................................... 34 Representações Teatrais ..................................................................... 35 Museus Virtuais .................................................................................... 36 OS DESAFIOS DA INTER E DA TRANSDISCIPLINARIDADE ............................... 37 COMPETÊNCIAS E HABILIDADES......................................................................... 38 COMPETÊNCIAS ...................................................................................... 38 HABILIDADES ........................................................................................... 39 ELEMENTOS E CONTRIBUTOS DO PLANEJAMENTO ESCOLAR....................... 40 2 REPENSANDO A METODOLOGIA DE HISTÓRIA ................................................. 43 REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 46 3 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 4 A METODOLOGIA DO ENSINO DE HISTÓRIA Antes de iniciar a leitura do conteúdo da apostila, assista o vídeo descrito abaixo, sobre a importância da disciplina Metodologia para o processo ensino aprendizagem da História. O Ensino da História Historiador e professor de História, hoje, deixaram de olhar para a diversidade da vida humana a partir do olho europeu e iluminista. A África deixou de ser apenas matéria da Antropologia e se tornou um tema de estudo da História. O continente e o povo africano passam a ter uma história original e singular, antes e depois da conquista europeia e não apenas ligada ou referida a esta. Historiador e professor de História, hoje, deixaram de olhar para a diversidade da vida humana a partir do olho europeu e iluminista. Como exemplo, temos o continente e o povo africano, que passam a ter história original e singular, antes e depois da conquista europeia e não ligada ou referida a esta. Novos temas e abordagens estão levando o ensino de História a abandonar o tom cristalizaddo, naturalizado, de determinados objetos, evidenciando que até nossas mais fortes crenças, que pareciam ter nascido conosco, têm uma história, um começo, às vezes perverso, de violência, de dizimação e de aculturação. O professor de História preocupa-se, então, em ensinar um acúmulo de originalidades, de modos de vida que, por vezes, se encontram, se estranham, se combinam e criam novos modos, novas crenças. Nesse sentido, os estudantes são levados a contemplar o espetáculo da diferença alheia. Conhecer o outro ensina muito Vídeo de apoio: “Metodologia do Ensino de História” Disponível em:< https://www.youtube.com/watch?v=QU_oOflhduc> Aula Ministrada pela professora Érica Ramos Moimaz, Graduada em Historia e Mestre em História Social pela Universidade Estadual de Londrina-PR, referente ao Curso de Licenciatura em História EAD pela Unopar. Abril/2019. https://www.youtube.com/watch?v=QU_oOflhduc 5 sobre nós mesmos. Aprender a história dos outros é entender um pouco sobre o que somos e, sobretudo, acumular experiências diversas. O ensino de História deixou de ser um julgamento do passado, pois a sala de aula não é mais um tribunal que julga as experiências do Outro a partir das suas próprias referências. Os pressupostos que acabamos de explicitar impõem aos professores de História um importante problema: como levar os estudantes a perceberem os vínculos entre a História que lhes é ensinada, sua realidade histórica e/ ou sua situação no tempo presente, considerando o tempo histórico como um acúmulo de diferenças? Esse problema decorre de uma inquietação que tem sido recorrente na atividade de professores e pesquisadores, que se resume na discussão dos objetivos sociais do ensino de História. Ou seja, na consecução dos objetivos históricos do ensino dessa disciplina, qual seja o de fazer do ensino um espaço de construção de uma subjetividade cidadã. Desde as fartas discussões dos anos 1980 até os dias atuais, professores e pesquisadores da área do ensino têm colocado repetidamente a necessidade de construir na sala de aula de História, desde os anos finais do Ensino Fundamental, um espaço no qual a História possa ser o instrumento da ação social; um instrumento capaz de equipar as novas gerações com as ferramentas para ler as representações que circulam na sociedade do momento presente e que circularam no passado. Em uma palavra, fazer do ensino de História um campo de constituição de subjetividades capazes de pensar historicamente as coisas do mundo e de pensar o Outro sem aprisioná-lo no interior de nossas referências. Escrever e ensinar Históriaé mergulhar todas as nossas crenças, todos os objetos de que nos ocupamos, todos os tipos de governo, todas as ideias políticas, no campo volátil e conflituoso da cultura. Pois bem, a partir de agora queremos dar solução a pelo menos metade do problema proposto, ou seja o de levar às novas gerações a pensar historicamente. Esse engenho supõe pensar os vínculos entre a História ensinada, a realidade histórica e/ou as urgências do presente. Nesse sentido, gostaríamos de argumentar sobre o papel que a abordagem temática do ensino de História pode exercer na tentativa de dar luz ao problema. Apontamos, entre tantas, a título de exemplo, algumas investigações suscitadas a partir de propostas curriculares de ensino de História por eixos temáticos entre os anos 1990-2000. Fonseca considera o ensino por eixos temáticos umas das propostas mais renovadoras para o ensino da História na Educação Básica, inicialmente, com 6 experiências pontuais em Minas Gerais e São Paulo, desenvolvidas por professores e/ou por projetos em universidades e escolas isoladas. Como programa curricular, São Paulo foi o primeiro Estado a propor a adoção da História Temática (anos 1980). A adoção desse programa causou dúvidas entre os professores, os quais precisavam abandonar a História linear, balizada por meio de marcos cronológicos Oliva afirma que apesar da experiência paulista dos anos 1980, é a partir de 1995 que encontramos uma presença mais marcante dos referenciais da História Nova nos livros didáticos e nas salas de aula, chamada aí de História Temática. Não se pode negar os efeitos positivos dessas influências. Uma série de atividades pedagógicas, envolvendo abordagens diversificadas da História, associadas à escrita de novos manuais e reedições dos que já circulavam por algum tempo, informavam os novos rumos tomados pelo ensino da disciplina. Porém, e apesar dos esforços, existem lacunas e problemas de certa relevância no debate que se montou acerca da adoção do ensino temático no Brasil. Apesar de experiências exitosas, da reflexão, discussão e pesquisas nos cursos de formação de professores de História, da multiplicação de ofertas de formação continuada e da literatura disponível, ainda persiste a resistência de boa parte dos docentes à História Temática. Ensinar a partir da abordagem da História Temática significa principalmente pensar o ensino de História como decorrência das urgências do presente. O tema selecionado para o ensino é o efeito de um problema que se apresenta na atualidade do estudante, que faz irromper o drama de decifrar, através do “ofício do historiador”, as questões que se apresentam na vida vivida dos alunos. Escolher temas para ensinar História significa selecionar problemas no presente e pensar o passado a partir das fronteiras temáticas estabelecidas, pensadas e exigidas pelas urgências do tempo presente. Há muito que os historiadores nesse sentido o trabalho de Michel Foucault teve um papel importante abandonaram a ideia de que os temas de que se ocupam decorrem de uma necessidade imposta pelo passado; ou de uma disposição que preexiste ao trabalho do historiador. É o presente que estabelece o que deve ser ensinado sobre o passado. Nesse sentido, a História Temática se volta sobre o presente para compreender o passado e, ao mesmo tempo, se utiliza do passado para dar novos contornos aos problemas do presente. 7 A História Temática não propõe que os problemas da atualidade do estudante na sala de aula implique abandonar o passado como objetivo privilegiado da disciplina História, mas supõe que o estudante poderá olhar para o seu tempo como resultado das injunções políticas que se deram no passado e como uma das alternativas que, em função de um intrincado jogo de forças, superou outras possibilidades, estabelecendo-se como o solo predominante a partir do qual hoje produzimos nossos modos de vida. A escrita e o ensino da História são formas de política, na medida em que o objetivo de quem escreve e de quem ensina o passado diz respeito às lutas políticas das sociedades do seu tempo. Do ponto de vista do ensino de História, ensinar a ler e a escrever é instrumentalizar os estudantes a participarem das interações políticas do seu tempo. Assim, um dos pressupostos fundamentais que estamos argumentando desde o início é o de que a História como narrativa não pretende reviver os eventos que narra; não se trata de reencontrar o passado desde um método seguro de investigação histórica, nem mesmo quer dizer oferecer aos estudantes da Educação Básica uma representação aproximada do que ocorreu no tempo anterior. Nosso pressuposto é o de que passado e História possuem naturezas diversas, enquanto o primeiro não é senão o objeto de estudo dos historiadores, visível por vestígios, rastros deixados pelas gerações anteriores; o segundo é um discurso construído no interior das fronteiras das lutas sociais e políticas do presente, fazendo com que a seleção de temas se dê no interior das disputas políticas do presente. O relato histórico é aquele que da presente pergunta e interpreta o passado, distante e intocável, senão através do discurso. Ensinar História é problematizar, através de temas, o presente e o passado, e isso quer dizer escrever o passado, de modo que este seja também diferença em relação ao presente. Na perspectiva a partir da qual escrevemos e pensamos, o estudo das experiências dos homens do passado pode bem permitir marcar sua diferença em relação ao que somos hoje, deixando de mostrar o passado na linha evolutiva que lhe faz ser menos verdadeiro do que as disposições da atualidade. Desse modo, o presente tanto se mostra como diferença e nesse sentido ele é objeto de interesse dos historiadores e dos professores de História quanto como produto das injunções políticas de determinada temporalidade que passou. Essa dupla visão do presente permite aos estudantes compreender como se constrói o conhecimento 8 histórico e quais as circunstâncias que limitam a sua experiência da realidade atual, o que tem como consequência o pensar historicamente. A História é, assim, “a arte de inventar o passado”, isto é, tematizar o passado, seguindo os passos das urgências do presente. A partir dessa perspectiva, ensinar História a partir de temas quer dizer recortar conceitos, selecionar problemas e traçar o jogo das continuidades e descontinuidades. Pensar o presente como História permite aos estudantes pensar sua realidade historicamente. Isso significa desenvolver um olhar genealógico para o tempo atual. Conseguir ver os jogos de forças que no passado deram lugar às questões que se apresentam no presente. Pensar historicamente, então, significa ler as urgências do presente nas suas conecções com o passado. Mas é mais do que isso. Quer dizer também pensar o presente a partir da diferença do passado. Pois que é isso o que permite considerar os problemas e as soluções do passado como exemplos de experiências que ajudam a criar novas soluções para as problemáticas do nosso tempo. Logo, a experiência alheia se torna estímulo para pensar, ela leva os alunos a provarem um pouco de experiências estranhas, pouco plausíveis e, inclusive, incompreensíveis aos padrões da sua própria experiência. É desse modo que, em primeiro lugar, permitiremos que o estudante consiga revelar níveis cada vez mais altos de abstração em termos de noções temporais e espaciais; em segundo, lhe oferecemos um mundo diverso, plural e, por que não, caótico, pronto para ser um conjunto infinito de experiências de vida a serem partilhadas num espaço sem limites. Enfim, pensar historicamente quer dizer transformar o “presente vivido” em reflexão histórica, tal como ensinou Marc Bloch. O objetivo central da História Temática é levar a cabo essa transformação. APORTES TEÓRICOS DE PIAGET E O ENSINO DA HISTÓRIAO epistemólogo Jean Piaget, ao abordar a questão do desenvolvimento, fala sobre a interação entre sujeito e objeto, ou seja, que a aprendizagem, o conhecimento deriva de momentos em que o indivíduo se depara com situações que possam instigá- lo a pensar, a questionar, assim se desenvolve e aproveita experiências anteriores para construir novas aprendizagens. O conhecimento social constitui-se em normas, convenções, hábitos, meios de vida de uma sociedade. Para adquirir o conhecimento social a criança necessita conviver, 9 aprender com os demais. Questiona para que servem as coisas, do que os objetos são feitos, que nome possuem. Então, ao interagir com o outro, por meio de uma explicação, um diálogo, uma orientação, a criança vai construindo seu conhecimento social, o qual poderá ser ampliado na medida em que novas situações semelhantes ou diferentes possam ocorrer, mas a criança sempre poderá utilizar-se de um conhecimento já construído. O trabalho de Jean Piaget sobre a noção de tempo na criança, baseado nas etapas do desenvolvimento, tem servido de referência para se trabalhar o conceito de tempo no ensino de História para as séries iniciais do Ensino Fundamental. Pela contribuição de Piaget e seus seguidores, percebe-se que a criança constrói progressivamente a noção de tempo, do concreto ao abstrato. Essa construção inicia- se no período sensório motor, aproximadamente do nascimento até os dois anos e vai ser concluída no período das operações operatório-abstratas, após os 11 anos. A abordagem cognitiva de Piaget tem sido de grande utilidade para a fonl1ação do conceito de tempo, na Educação Infantil e nos ciclos iniciais do Ensino Fundamental, mas não o bastante. O trabalho com as noções de ordem, sucessão, duração e simultaneidade e de quantificação do tempo não é suficiente para assegurar, que o adolescente domine mais tarde o conceito de tempo histórico. Somente depois de ultrapassar o tempo pessoal, subjetivo e dominar um tempo contínuo, objetivado, social, é que o aluno poderá perceber as dimensões do tempo em História e pensar historicamente. A formação do conceito de tempo, assim como a de outros conceitos, é também uma aquisição pessoal. Cada um irá construí-lo de acordo com a sua vida social e cultural. Os significados que o indivíduo atribui a um vocábulo, objeto, acontecimento ou fenômeno vai depender de sua experiência, dos conhecimentos que ele adquiriu a partir de suas vivências nas relações socioculturais e da mediação do processo de ensino e aprendizagem. A construção do conceito de tempo histórico e abstrato representa o ponto final da descontextualização dos instrumentos de mediação, quando a mente do adolescente opera com total independência do contexto concreto. Portanto, é necessário que haja antes todo um trabalho de aprendizagem, caminhando para esse entendimento altamente generalizado. É preciso que as atividades escolares favoreçam a compreensão da noção de tempo em suas variadas dimensões, ou seja, 10 o tempo natural cíclico, o tempo biológico, o tempo psicológico, o tempo cronológico, etc. É necessário que o aluno perceba que há um tempo vivido que se relaciona com um tempo social e com um tempo bem mais complexo que é esse tempo histórico, das estruturas de longa, média ou curta duração, produto das ações e relações humanas, no qual coexistem as transformações e permanências e as perspectivas de futuro. O estudo do tempo pode e deve ser iniciado partindo do individual para o coletivo, das vivências pessoais do aluno para o grupo social, buscando por meio da história do grupo fazer relações com outros grupos em tempos e espaços diferentes. Assim a história da vida do aluno vai aos poucos integrando uma história maior que inclui sua coletividade, seu povo e a humanidade. Como diz Siman: "na medida em que oferecemos às crianças oportunidades de tomada de consciência da historicidade de sua própria vida , e da de seu grupo de vivência, é que ela estará se iniciando no desenvolvimento do pensamento histórico e no desenvolvimento da formação da sua identidade sociocultural". (SIMAN, 2003, P. 125). O aluno precisa também de referências, não basta só conhecer a história de sua vida e da vida de sua coletividade. É necessário saber onde e quando as mesmas histórias aconteceram ou seja, ter noção de tempo e espaço. ELEMENTOS DO PROCESSO DE APRENDIZAGEM No que diz respeito aos processos de aprendizagem, o estudioso do desenvolvimento cognitivo Jean Piaget (1896-1980) pode favorecer o entendimento quando defende que as estruturas cognitivas dos indivíduos são adquiridas ao longo da vida em estágios delimitados pela maturidade biológica, mediadas pelo meio, associadas às estruturas internas orgânicas. Piaget explica que um indivíduo, ao entrar em contato com um objeto, o compreende, incorpora-o e lhe atribui sentido em condições já existentes, em determinados esquemas mentais e estruturas internas, fazendo com que se dê a ampliação da capacidade cognitiva (PIAGET & GRECO, 1974). Piaget apresenta ainda que o indivíduo quando se depara com desafios e desequilíbrios exteriores responde por meio de compensações ativas que tendem a restabelecer o reequilíbrio, o que por sua vez demanda de maturação física do sistema nervoso e interferência de fatores sociais. 11 A partir das teses de Piaget, foi possível justificar os estágios de apropriação de saberes concretos e abstratos, e em especial precisar que estudantes em primeiros anos de escolarização eram incapazes de dominarem conceitos abstratos, como os de tempo históricos. Também ficou compreendido que os conhecimentos espontâneos, provenientes da experiência de vida e do senso comum, e os conhecimentos científicos encontravam-se numa relação de conflito; no sentido de que o primeiro desfavorecia o aprendizado do segundo, e por sua vez passou a ser combatido em favorecimento e substituição pelo segundo. L. S. Vygotsky (1896-1934) defendeu teorias que se distanciavam das teorias de Piaget, no sentido de que as condições, não apenas a maturidade biológica, imperam na aquisição de conceitos, mas também as dimensões históricas e culturais que participaram do processo de formação e desenvolvimento do indivíduo. E reconhece na linguagem humana um sistema que possibilita a socialização, a mediação entre o sujeito e o objeto de conhecimento, e o intercâmbio social e a formação conceitual, que consegue abarcar as dimensões da abstração e da generalização. Diferente da posição de Piaget, o estudioso russo propõe que na relação entre conhecimento espontâneo e conhecimento científico existem modificações e interferências mútuas entre estes saberes, e que não há necessidade de desaparecimento do primeiro e para a consolidação do segundo. A compreensão profunda e segura diante dos processos de aprendizagem representa uma das noções que exigem maior maturidade, habilidade e competência por parte dos profissionais da educação. Nesse sentido, Bittencourt (2008) reflete que atividades que abordam noções de tempo passado, por exemplo, representam um dos desafios mais complexos de se realizar; estas podem ganhar alcançar melhores resultados quando se parte da experiência concreta dos estudantes e com uma abordagem atemporal e/ou contemporaneizada. Há de se tomar cuidado, porém, no sentido de que não se leve em consideração somente a dimensão do pensamento operatório piagetiano, que preocupada em obter resultados objetivos e imediatos acaba por promover uma história cujos maiores valores envolvidos são os morais e cívicos, por meio de heróis e nomes que foram responsáveis por grandes feitos na história, e que por sua vez se 12 encontram destituídos de crítica e reflexão; assim como podem estar descontextualizados historicamente, o que acaba por revelar somente a dimensão vencedora e triunfante dos indivíduos,semelhante aos heróis de desenhos animados. As implicações das noções piagetianas são indicadas como responsáveis também por fazer com que a História, enquanto conhecimento e saber, fosse desprestigiada e entendida como um saber secundário diante dos demais saberes que possuem teor e especificidade mais prática e concreta. Nesta concepção, a História passa a ser uma espécie de invenção do mundo adulto, resultando de múltiplas interferências e por não compreender uma racionalidade que pode ser captada de forma objetiva, acaba não sendo assimilada como conhecimento verdadeiro. Assim, “a História seria apenas uma matéria escolar criadora de valores morais e cívicos que não exige por parte dos estudantes qualquer tipo de operação intelectual”. (BITTENCOURT, 2008, p. 198). AS POLÍTICAS CONTEMPORÂNEAS PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL E ANOS INICIAIS Durante a década de 1990, diversas iniciativas curriculares foram instituídas no Brasil tendo a criança como foco. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN´s) para o primeiro e segundo ciclo de ensino fundamental foram os primeiros a serem definidos pelo MEC e apresentados ao Conselho Nacional de Educação em 1996. Em 1998 foram divulgadas e aprovadas as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental e as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. No início de 1999, instituíram-se os Referenciais Curriculares para a Educação Infantil. Uma década depois foi aprovada uma nova Diretriz Curricular para a Educação Infantil. A Lei de Diretrizes e Bases, nº 9394/96, prevê que educação básica – composta pela Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio - tem por finalidade desenvolver o educando, assegurando-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecendo-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2003). Como primeira etapa da educação básica, a educação infantil tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até 5 anos de idade em seus aspectos físico(motor), psicológico, intelectual(cognitivo) e social, complementando a ação da 13 família e da comunidade. Já as séries iniciais (ou anos iniciais) são consideradas a primeira etapa do Ensino Fundamental, portanto, é obrigatória e tem como objetivo a formação básica do cidadão. Assim, afirma-se o sentido de escola básica como escola para todos. Básica no sentido de base para a formação do sujeito, como elemento fundamental da vida social e da cultura. Valemo-nos de Kramer (1998) que, ao discutir o que é básico na escola básica analisa os desafios da mesma tomando os temas da cidadania (ou de lutar contra a desigualdade assegurando o reconhecimento das diferenças); da cultura (espaço da singularidade e da pluralidade); o conhecimento (o seu compromisso com a dimensão de humanidade e universalidade) e, a formação que para a autora é a ação, núcleo onde perpassa as perspectivas anteriormente destacadas. No Brasil o direito à educação para crianças de zero aos seis anos, bem como a declaração do binômio educar e cuidar como funções articuladas e, portanto, inseparáveis, foram previstas na legislação pela Constituição Federal de 1988. Em seguida, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9394/96 regulamentou o funcionamento desta etapa da educação básica e anunciou uma base comum para todos os níveis de ensino e o fim do currículo mínimo. Com base nos novos pressupostos apontados pela LDB 9394/96, o Conselho Nacional de Educação (CNE) definiu as primeiras Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (1999). Essas DCN´s foram um marco na Educação Infantil, pois estabeleceram as novas exigências para as instituições de educação infantil, particularmente quanto às orientações curriculares e processos de elaboração de seus projetos pedagógicos. Pressupõe-se que as Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil sintetizam concepções e práticas educativas que já vinham sendo historicamente formuladas na literatura, posto que tomam por referência a associação entre educação e cuidado, no atendimento de crianças dos zero aos seis anos. Após a aprovação da primeira diretriz, novas questões foram sendo elaboradas e em dezembro de 2009 (Res. nº 5 de 2009, MEC/CNE/CEB) foi aprovada a segunda Diretriz Curricular para Educação Infantil. Essa traz novos elementos para a prática 14 educativa da criança pequena. Em especial, a diversidade, a brincadeira, a socialização e a interação com a comunidade local: • Concepção de currículo como um conjunto de práticas que buscam articular as experiências e saberes das crianças com os conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, ambiental, científico e tecnológico; • A garantia da brincadeira e da convivência e interação com outras crianças e a indivisibilidade das dimensões expressivo motora, afetiva, cognitiva, lingüística, ética, estética e sociocultural da criança; • A participação, o diálogo e a escuta cotidiana das famílias e uma relação com a comunidade local; • O campo do multiculturalismo, com suas múltiplas formas de expressão (questões de gênero, sexualidade, etnia, identidade, etc.) também ocupam um lugar privilegiado nesta nova diretriz; • Avaliação do desenvolvimento das crianças, sem objetivo de seleção, promoção e classificação. Também, os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil trazem alguns eixos para organizar a prática educativa, embora restrito, esse documento tornou-se importante pelo fato de direcionar a proposta curricular da educação infantil (de caráter alternativo e flexível). Restrito porque não abrange todas as linguagens necessárias, por exemplo, a arte restringe-se a arte visual. Os demais eixos são: movimento, música, linguagem oral e escrita, natureza e sociedade, matemática. A proposta para criança pequena precisa contemplar: o faz de conta, os jogos, pois estes influenciam muito no desenvolvimento da criatividade e da personalidade da criança. O lúdico deve ser o eixo articulador das atividades na Educação Infantil e a livre expressão, pois todas as formas de expressão da criança refletem e produz a cultura infantil, as artes, o teatro, a música, a dança, o desenho, são essenciais para que a criança aprenda a explorar o mundo à sua volta, por meio de distintos materiais, ela aprende a expressar-se, compreendendo a si mesma e aos demais – é a noção de ser no mundo. 15 Nesse contexto, a organização do espaço, a disposição de materiais pedagógicos e o planejamento das atividades educativas, assim como a organização do tempo nas atividades permanentes e as atitudes do professor com a criança pequena são salutares, pois revelam uma concepção de infância, criança, educação e prática pedagógica. Diante das questões postas para a prática educativa da educação infantil é necessário, conforme Faria (2007), construir um currículo para a pedagogia na infância para criança de zero a dez anos. Para tanto, a formação para a docência deveria estar calcada em três eixos: a cultura lúdica, a cultura da escrita e a formação em Arte. Para a autora, é urgente alicerçar a prática educativa em pedagogias que estejam atentas para as especificidades vividas pela criança. O Documento “Orientações pedagógicas para o ensino fundamental de 9 anos” afirma que a entrada na escola não pode representar uma ruptura com o processo anterior, vivido pelas crianças em casa ou na instituição de educação infantil, mas sim uma forma de dar continuidade às suas experiências anteriores, para que as mesmas, gradativamente, sistematizem os conhecimentos sobre a língua escrita. Para tanto, é essencial a organização da escola que inclui as crianças de seis anos no Ensino Fundamental. O ensino fundamental é a etapa obrigatória da educação básica. Como dever doEstado, o acesso a esse ensino é direito público subjetivo, quer dizer, não exige regulamentação para ser cumprido. Seu não-oferecimento, ou sua oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente (LIBÂNEO, 2007). As Diretrizes do Ensino Fundamental de 1998 estabelecem como princípio da prática educativa desta etapa: a autonomia, a responsabilidade, a solidariedade, o respeito ao bem comum, os direitos e deveres da cidadania, os exercícios da criticidade e, também, os princípios estéticos, tais como a sensibilidade, a criatividade e a diversidade de manifestações artísticas e culturais. Também apontam para a necessidade de acolhida democrática pela escola das diversidades e peculiaridades de gênero, étnicas, etárias, regionais, socioeconômicas, culturais, psicológicas e físicas das pessoas implicadas diretamente com a educação escolar. Nesse sentido, no documento “Orientações pedagógicas para o ensino de 9 anos” a idade cronológica não pode ser o aspecto principal para definir a maneira de 16 ser e agir da criança e sua entrada no Ensino Fundamental. Porém, com base em alguns estudos construiu-se uma “representação” com base em algumas características das crianças de seis anos que as distinguem das de outras faixas etárias, por exemplo: a capacidade de simbolizar, a ampliação da linguagem, e a capacidade de participar de jogos e brincadeiras que envolvem regras. Outro aspecto importante é que a Diretriz do Ensino Fundamental, apoiada no que está previsto na LDB nº 9394/96, estabelece conteúdos curriculares mínimos para a chamada Base Nacional Comum e uma parte diversificada que articule cidadania e conhecimento, de acordo com as características de cada localidade. A base comum e a parte diversificada deverão relacionar-se, nesta etapa de ensino, a “vida cidadã”, nos seus vários aspectos: saúde, sexualidade, vida familiar e social, meio ambiente, trabalho, ciência e tecnologia, cultura e linguagens. Já as áreas do conhecimento referem-se a: Língua Portuguesa, Língua Materna (para populações indígenas e migrantes), Matemática, Ciências, Geografia, História, Língua Estrangeira, Educação Artística, Educação Física e Educação Religiosa (BRASIL, 1998). Por último, definem que as instituições devem através de suas propostas e de seus regimentos em clima de cooperação, proporcionar condições de funcionamento das estratégias educacionais, do espaço físico, do horário e do calendário, que possibilitem a adoção, a execução, a avaliação e o aperfeiçoamento das demais diretrizes. Todavia, no texto do parecer do ensino fundamental essa diretriz diz respeito, assim, às condições de possibilidades da interdisciplinaridade e trandisciplinaridade, do sistema seriado ou por ciclos. A interdisciplinaridade para Santomé (1998) é uma nova concepção de divisão do saber que frisa a interdependência, a interação, a comunicação existente entre as disciplinas e busca a integração do conhecimento num todo harmônico e significativo. Essa forma de organização do conhecimento surge como alternativa a crítica do código disciplinar e a fragmentação e isolamento do conhecimento. Não é senão a interação entre duas ou mais disciplinas ou o reconhecimento de outras identidades disciplinares, com graus distintos de inter-relação, transferência e integração. A partir da base legal explicitada quanto às etapas da educação infantil e séries iniciais do ensino fundamental, tem-se como premissa para uma prática 17 pedagógica condizente às necessidades das crianças que, esta prática parta do princípio que o direito que a criança possui de conhecer seja respeitado, para tanto, partir da realidade da mesma é essencial. Partir da realidade não é ficar estagnado à ela, mas transcender (FREIRE, 1996). Desta forma, as práticas podem ter, mesmo nas séries iniciais, o lúdico como eixo, a busca do trabalho a partir de diferentes formas de expressão, a avaliação contínua e progressiva, bem como o foco no conhecimento, sem um esvaziamento, lembrando que, para uma ação organizada e refletida, o planejamento é o ponto inicial. As políticas contemporâneas para o ensino da História O ensino de História é construído a partir de conceitos e interação humana, sendo que na escola o ensino de História deve se basear na liberdade de expressão, no ensino-aprendizagem ativo, democrático, coletivo, construtivo, verdadeiro e intencional nas relações entre alunos, educadores e das demais pessoas na sociedade. De acordo com Nemi (2009). O conhecimento é construído a partir da internalização dos conceitos aprendidos culturalmente por intermédio da interação com o outro. Por isso, a escola deve criar situações de aprendizagem em que as crianças troquem experiências e, em seguida, com a coordenação do professor, sistematizem as trocas realizadas. (NEMI, 2009, p. 41). Os Parâmetros Curriculares Nacionais para o ensino de História (2000) acrescentam que os alunos ao longo do Ensino Fundamental deverão ser capazes de: • Identificar o próprio grupo de convívio e as relações que estabelecem com outros tempos e espaços. Antes de iniciar a leitura deste tópico veja o vídeo: Políticas públicas e ensino de história: ações e reações, disponível em:< https://www.youtube.com/watch?v=LSwqC5uxyr0> Sinopse: Diálogos Contemporâneos - Políticas públicas e ensino de história: ações e reações. Gravado e publicado em 20 de julho de 2021. Promovido pela Assiciação Nacional de História – Anpuh Brasil https://www.youtube.com/watch?v=LSwqC5uxyr0 18 • Organizar alguns repertórios histórico-culturais que lhes permitam localizar acontecimentos numa multiplicidade de tempo, de modo a formular explicações para algumas questões do presente e do passado. • Conhecer e respeitar o modo de vida de diferentes grupos sociais, em diversos tempos e espaços, em suas manifestações culturais, econômicas, políticas e sociais, reconhecendo semelhanças e diferenças entre eles. • Reconhecer mudanças e permanências nas vivencias humanas, presentes na sua realidade e em outras comunidades, próximas ou distantes no tempo e no espaço. • Questionar sua realidade, identificando alguns de seus problemas e refletindo sobre algumas de suas possíveis soluções, reconhecendo formas de atuação política institucional e organização coletivas da sociedade civil. • Utilizar métodos de pesquisa e produção de textos de conteúdos históricos, aprendendo a ler diferentes registros escritos, iconográficos, sonoros. • Valorizar o patrimônio sociocultural e respeitar a diversidade, reconhecendo-a como um direito dos povos indígenas e como um elemento de fortalecimento da democracia. Como analisado, os Parâmetros Curriculares Nacionais para o ensino de História (2000), destacam o que os alunos ao longo do ensino fundamental, devem ser capazes de obter um bom desenvolvimento e um entendimento concreto sobre a sociedade na qual vivem, sendo que, para o aluno efetuar de fato esse bom desenvolvimento, é preciso que o professor/educador seja capaz de atribuir aos discentes um ensino-aprendizagem qualitativo e jamais quantitativo, pois o ensino deve ter um caráter crítico, reflexivo, autônomo, aberto ao diálogo e a socialização, na busca de uma aprendizagem significativa no ensino de História. Conforme Catão (1995). A garantia da humanização histórica, que não se verifica senão na comunidade, pois na história o ser humano não se pode realizar sozinho, mas só se realiza como membro da comunidade, trazendo para a comunidade, especialmente para os mais jovens, as gerações futuras, a contribuição de sua própria humanização. 19 Atualmente, é possível verificar em muitas escolas, professores despreparados para desenvolver um trabalho concreto com os alunos no ensino de História. Sendo que, a má formação do professor historiador, reflete negativamente no ensino- aprendizagem dosestudantes, e no conhecimento do patrimônio cultural da humanidade. Em relação a isso, Pinsky; Pinsky, (2005, p. 22-23) defende que o professor precisa ter conhecimento, cultura e até mesmo um pouco de erudição não faz mal algum. Em outras palavras, cada professor precisa, necessariamente, ter um conhecimento sólido do patrimônio cultural da humanidade. Por outro lado, isso não terá nenhum valor operacional se ele não conhecer o universo sociocultural específico do seu educando, sua maneira de falar, seus valores, suas aspirações. A partir desses dois universos culturais é que o professor realiza o seu trabalho, em linguagem acessível aos alunos. Deve-se pensar o ensino de História como um dos usos possíveis que foram formulados para aqueles que se ocuparam de escrever sobre o passado articula-se a um tempo e ás formas próprias desse tempo de conceber a escrita da história. Implica, também, pensar o ensino da história em sua dimensão particular e específica de uso do passado, o que implica igualmente pensar a dimensão política subjacente a essa forma de uso social do passado. Finalmente, impõe-nos refletir acerca da memória e dos mecanismos de sua reprodução, muitas vezes a cargo das estratégias pedagógicas do ensino de História (GUIMARÃES, 2009, p. 38). O ensino de História abrange uma diversidade de fatos (culturais, educacionais, políticos, sociais, econômicos, entre outros), sendo que o ensino tradicional, não leva em conta essa diversidade no ensino de História. A aprendizagem de História deve ser concretizada com base em objetivos claros e específicos, que indicam ações significativas para o desenvolvimento e para o ensino- aprendizagem qualitativo de todos os estudantes. […] ensino de História possui objetivos específicos, sendo um dos mais relevantes que se relaciona à constituição da noção de identidade. Assim, é primordial que o ensino de História estabeleça relações entre identidades individuais, sociais e coletivas, entre as quais as que se constituem como nacionais (BRASIL, 1997, p. 26). A releitura do passado se faz necessária para o reconhecimento da História, das marcas do passado, e da compreensão de quem somos enquanto pessoas 20 humanas. A História é uma disciplina, ou campo de conhecimento, que permite inúmeras abordagens, pois sabemos que não existe apenas uma História na face da terra, mas sim, múltiplas histórias. O DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES SOCIAIS Por habilidades sociais ou competências, pode-se entender o conjunto de comportamentos que possui uma pessoa ou grupo de pessoas para agir ou interagir com outras pessoas em situações normais ou diante daquelas de comprovada violação dos direitos individuais e coletivos que, lhe exija solução ou resposta imediata, de forma a apresentar resultados apaziguadores ou de cooperação na busca da justiça social, tendo como meio mais eficiente a educação ou a reeducação daqueles que se mostrem mais refratários. O ser humano é por excelência um ser global, ou seja, dotado de capacidade de exercitar um conjunto vasto de habilidades em todos os campos do comportamento ou da intelectualidade. Com o desenvolvimento/evolução da sociedade - o que pode ser visto neste aspecto como um bom exemplo de evolução humana, está sendo exigido o exercício de certo aprimoramento da participação humana voltada para o coletivo, extrapolando, portanto as fronteiras da individualidade, direcionado para as pessoas portadoras de necessidades especiais, quer estejam na escola ou fora dela. Assim sendo, vai-se ao encontro dos objetivos do MEC traduzidos no "Programa Educação Inclusiva: direito à diversidade", conforme divulgado em seu sítio eletrônico, www.mec.br/seesp que visa: disseminar a política de educação inclusiva nos municípios brasileiros e apoiar a formação de gestores e educadores para atuar como multiplicadores no processo de transformação dos sistemas educacionais em sistemas educacionais inclusivos. Ressalta-se que a educação inclusiva não deve estar circunscrita somente ao ambiente escolar. É um comportamento a ser praticado em todos os ambientes e para personagens das mais variadas naturezas, estejam no local de trabalho, de lazer ou outro qualquer. As necessidades especiais ocorrem pelos seguintes motivos: por questões de natureza genética (congênita) natal ou pós-natal; decorrentes de acidentes; 21 decorrentes de envelhecimento ou por alguma disfunção orgânica. Essas necessidades especiais podem ser de natureza cognitiva, física e/ou emocional. DESENVOLVIMENTO DE CONCEITOS DE TEMPO, MEMÓRIA E RELAÇÕES SOCIAIS Tempo Palavra originada do latim "tempu", significa unidade de medida de duração da vida e das coisas. Para a interpretação de "tempo", requer situar o conceito conforme a cultura que, por sua vez, está determinada por fatores geográficos, forma de quantificação, bem como de sua identificação. O tempo pode designar a medida que contém a observação do dia e da noite representados pelo sol e pela lua que, derivará na contagem e identificação das estações, que por sua vez possibilitará a contagem de períodos que derivarão os anos e todos os seus múltiplos. Embora possam conviver em um mesmo contexto social e geográfico várias culturas, cada uma delas poderá conter um modo diferente de contagem do tempo. Essa forma diferente de contagem do tempo é sempre construída conforme seus modelos míticos que, neste caso estão ligados à religião. Independente do modelo de religião que inspira o espírito de mensuração do tempo há sempre na amplitude de seu contexto, a história de uma civilização, seu passado, seu presente e seu futuro. Funciona como um marco regulador de todas as formas de pensar e agir no seio daquela cultura. É, portanto um exercício das relações que se pode traçar entre cronologia, convivência social e história. Nada mais importante como referência dos acontecimentos e criações humanos do que o tempo. Cada sociedade constroi o seu entendimento de tempo conforme seus desejos e suas necessidades, porém, não se pode esquecer que a natureza possui a sua dimensão de tempo funcionando a revelia do tempo da humanidade. A natureza é na verdade que deveria ser o relógio de todos, a medida de todas as coisas, contudo não é. Na construção do conceito 'tempo' é necessário estabelecer uma relação entre o tempo cronológico, o tempo social (vivido) e o tempo histórico. Conhecer o conceito 'tempo' demarcado em sequência linear, dia, meses e anos é fundamental para o entendimento buscado. 22 O tempo, o espaço e a humanidade são partes indissociáveis e é a partir destes três elementos que se verifica a história. Durante uma boa parte da Idade Média, a Europa viveu sob a forte dominação material e espiritual da igreja Católica, esse período era chamado "Tempo de Deus". O Tempo de Deus era o período compreendido entre o término das atividades humanas no fim do dia e o início de suas atividades na manhã seguinte, ou seja, era a parte noturna do dia. Nesse tempo destinado ao senhor era proibido o exercício de qualquer atividade lucrativa como, por exemplo, a especulação financeira, ganhar dinheiro aplicando juros pelo período de vinte e quatro horas por dia. Outro acontecimento importante na história da contagem do tempo foi o do surgimento do relógio tal qual conhecemos hoje, em que os donos das fábricas adiantavam o relógio próximo a hora de entrada dos funcionários e o atrasava na saída, manipulação do tempo, como forma de ganhar maior produtividade de seus funcionários por aumento absoluto na jornada de trabalho, sem a equivalente remuneração. E isso foi possível porque naquele tempo o relógio era um objeto muito caro e somente poucos o possuíam. O relógio revolucionou os costumes e fez com que a métrica temporal tomasse outra dimensão. Todas as demais tecnologias desenvolvidas pela humanidadeno século XX e neste início de XXI, impuseram uma nova compreensão de tempo que até então não se tinha vivenciado. As distâncias entre as pessoas ficaram menores e ao invés de produzir mais conforto, produziu mais exigências em função de se não querer "perder tempo". Memória Para esse contexto será tomada como o conjunto de lembranças das pessoas, que remete ao acontecido, ao que já foi construído, por onde já houve a intervenção da humanidade ou de maneira mais complexa, vestígios da própria natureza. É, portanto, a eternização da passagem do tempo, verificando-se a produção humana e sua paisagem. Tudo que existe é resultado de ações passadas e, portanto, o exercício de identificação por mais individual que seja, é no fundo, uma ação de valor plural. A atividade de memória está nos mais simples gestos no cotidiano das pessoas. A memória, que tem sua fundação no indivíduo, num fato analisado de forma isolado, extrapola essa possibilidade principalmente em função da condição 23 fundamental de que, todos os acontecimentos estão intimamente conectados de alguma forma. A humanidade construiu a eternização de sua passagem pelos lugares através das mais variadas formas. Encontramos essa memória nas inscrições rupestres, nas pirâmides, nos templos, nos livros e em infinitas outras formas, das mais simples às mais avançadas. Mais que um ritual, é uma cultura que está na gênese de todos os seres, portanto, tem fundo voluntário ou não. Relações Sociais É o conjunto de atitudes e comportamentos adotados individual ou coletivamente para o estabelecimento de canais de comunicação entre as pessoas. Esses comportamentos podem estar normatizados segundo critérios específicos impostos pelos ambientes de trabalho, de religião, de família, de escola, de entretenimento ou outros, com a destinação precípua de servirem como instrumento de regulação do comportamento de seus componentes. Os seres humanos por excelência têm sua natureza voltada à socialização, à vida em grupo, a viverem em sociedade. É, portanto, em um contexto de intercâmbio que se criam as possibilidades do estabelecimento de estatutos, regras de convivência social. A soma de todos esses ambientes e seus regimentos define os hábitos, tradições e costumes, dotando o grupo de uma cultura que lhe caracteriza diante de outros. Estão, portanto, as relações sociais estruturadas dentro de um conjunto de outras relações, sendo que dentre todas, as de poder tem presença determinante. Quando se refere às relações sociais em um contexto cultural, está implícito que é uma estrutura de extrema dinamicidade sofrendo a influência do tempo e do espaço, que por sua vez será influenciada pela erupção das ideias das pessoas, e, dentre essas formas em eterna movimentação, estão as tecnologias da informação e comunicação que, interagem com essas estruturas de modo tão profundo que, permitem o surgimento de outras formas de relações sociais dignas de atenção e estudo. Atualmente em que o computador e sua conexão com a rede mundial de comunicação, a internet, estão muito presentes na vida das pessoas, a humanidade experimenta relações sociais muito diferenciadas das formas até então vividas. São pessoas que exercem sua sociabilidade através dessa ferramenta, e em muitos casos esquecem-se das outras formas de expressão e comunicação, podendo desenvolver patologias importantes. 24 Sendo assim, argumenta-se que a construção da História se dá no dia a dia, na relação com o ontem, com o hoje e em função do que a natureza nos proporciona. Acredita-se aqui que a História deve propiciar uma melhor compreensão das relações sociais passadas, presentes e também futuras. O ENSINO DA HISTÓRIA EM SALA DE AULA ABORDAGENS SOBRE MATERIAL DIDÁTICO Bittencourt (2008) discute que alguns materiais didáticos acabam por produzir uma história ficcional criada para despertar nos estudantes o interesse pelo passado, apresentando enredos com personagens principais e coadjuvantes, remontando tramas e séries de novelas. Neste quadro, os acontecimentos são apresentados de forma mais amena e motiva, romanceada, com personagens bons e ruins, heróis, vítimas, carrascos, vilões, que compõem uma história maniqueísta, com linguagem para facilitar a memorização do conteúdo, mas que falha no aspecto de se tornar objeto de interpretação, questionamentos e indagações sobre os sujeitos e suas ações. Por outro lado o conhecimento ocorre também que tais conteúdos, acabam não Vídeo de apoio: “Ensino de história” Disponível em:< https://www.youtube.com/watch?v=TVLlm_1f2vg> Sinopse: O vídeo promovido pelo SinproTV coloca em foco a importância da História no campo da educação, a partir da opinião de professores(as) e estudantes. Vídeo de apoio: “O ensino de história: experiências em sala de aula” Disponível em:< https://www.youtube.com/watch?v=vpwSC_zTO-g> Sinopse: O ensino de história: experiências em sala de aula, com a Prof. Dra. Daniela Casoni Moscato, Prof. Dr. Fábio Luiz da Silva e Vinícius Marcondes de Araújo (mestrando UEM) https://www.youtube.com/watch?v=TVLlm_1f2vg https://www.youtube.com/watch?v=vpwSC_zTO-g 25 apresentando elementos suficientes em termos de relevância e coerência histórica e social, caráter e teor científico. Existe vasta produção de materiais didáticos que apresentam o conteúdo centrado apenas no viés da história das sociedades do mundo ocidental, na formação econômica, nos processos produtivos, nos modos de produção e nas lutas de classe, ou seja nas teorias marxistas de compreensão dos processos históricos e das experiências sociais. Bittencourt (2008) aborda que os movimentos sociais, tais como o movimento feminino, ambientalista, etnicorraciais e os religiosos, bem como seus confrontos e lutas diante de descriminações e preconceitos, promoveram uma forte valorização da história social no interior da produção do conhecimento histórico e dos espaços escolares. No decorrer dos anos de 1980, passou a acorrer a preocupação da história com outras áreas, como a antropologia, o que favoreceu a temática da história cultural, história social, da história do cotidiano, história das mentalidades, a micro- história e a nova história cultural. A partir destas tendências historiográficas outros sujeitos e indivíduos foram incluídos ao rol do conhecimento histórico; até então representavam as minorias e haviam sido excluídos das grandes narrativas oficiais da história; eis que agora mulheres, operários, prisioneiros, doentes, loucos, andarilhos, leprosos, inválidos, crianças, idosos, artesãos, curandeiras, parteiras, homossexuais, judeus, estrangeiros, ciganos, negros, índios/nativos entre outros, ganham espaços na historiografia. Outra mudança que ocorreu, pode ser observada no campo do ensino e aprendizagem, quando o contexto social e histórico dos estudantes passa a ser considerado como temas e conteúdos de estudo. Zamboni (1993) afirma que a matéria/disciplina de História quando leva em consideração o momento e contexto sócio-histórico dos estudantes desempenha um papel fundamental na construção das noções de identidade e pertencimento dos mesmos. O contexto e momento sócio-histórico do estudante passa a ser utilizado de forma articulada com as relações situadas em contextos mais amplos de 26 representação social e histórica (local, regional, nacional e global). No momento de colocar em prática esta estratégia há de se tomar o cuidado de que a dimensão local e regional ou nacional seja estudada e abordada de uma forma fragmentada, ou seja, que a história da comunidade, bairro, cidade, ou estado seja percebida como desarticulada da história de seu país ou do mundo e vice-versa. Modelos e Práticas Para que um ensino de qualidade se efetive, é necessário buscar no referencial teórico as bases cientificasque orientam a ciência que se quer ministrar e que norteiam sua aplicação como disciplina escolar nos diferentes níveis de ensino, pois será a partir da clareza teórico-metodológica que o professor terá subsídios para construir uma prática pedagógica significativa para o aluno. Reconsiderar o papel da educação como ferramenta da construção social é um ideal de sociedade e uma luta constante. É necessário definir metodologias de aprendizagem vinculadas à dimensão sociopolítica da educação, questionando sempre a respeito de que sociedade está se ajudando a construir. Nesse caso, os educadores em História podem definir o referencial sociopolítico historicamente correto, de acordo com o momento que atravessa. Partindo daí, a proposição se torna diferente das outras, pois as práticas do dia a dia de professores e alunos os ajudam a construir coletivamente, inserindo-os no contexto sociocultural. Uma das maiores dificuldades que os professores de História enfrentam é estimular o interesse do aluno por conteúdos que não parecem ter utilidade imediata na sua vida. Muitas vezes observa aluno que estuda por estudar, para ser aprovado, fica desestimulado e, consequentemente, sem criatividade. Para desenvolver seus conhecimentos e capacidades que lhe darão maior liberdade de escolha e satisfação em sua vida, é necessário que o educador use a imaginação e evidencie a aplicabilidade do conteúdo de forma imediata e simples no ambiente em sala de aula, utilizando para isso materiais e métodos que despertem o interesse dos alunos em aprender. O modelo de aula a ser oferecido, nas mais variadas disciplinas, é uma preocupação central do professor interessado em tornar sua própria disciplina mais interessante. No que tange ao ensino de História, muitos professores se preocupam em romper com as aulas centradas em sua capacidade de narrar a história. Neste 27 tipo de aula, a capacidade de interpretar o passado se transforma em um exercício próprio ao professor e estranho à figura do aluno. Ainda hoje, em diferentes instituições de ensino, percebe-se que os professores capazes de dominar quarenta ou cinquenta minutos de sua aula e com a capacidade de narrar o passado são visivelmente prestigiados. Estes são vistos como grandes detentores de saber e, ao mesmo tempo, como discursantes bem articulados capazes de repassar de forma fácil e pronta aquilo que se faz necessário saber sobre o passado. Contudo, mesmo não negando a importância da capacidade de narrar, devemos perceber que este modelo de aula impede o contato do aluno com os elementos que permitem a construção das narrativas históricas. Em uma perspectiva ainda mais problemática, nota-se que esse tipo de aula muitas vezes faz com que o aluno veja a História como um tipo de saber livresco, onde não há reflexões sobre a necessidade de se saber História e como ela se constitui. Há poucos anos, percebe-se que as normas curriculares e os próprios especialistas nas áreas de ensino se preocupam em rever esse tipo de História a ser ensinada. Nessa mesma época recente, dada as várias revoluções vivenciadas na própria historiografia, vemos que este modelo tradicional de aula vem perdendo lugar para outras propostas. Não raro, esse esforço de renovação pretende protagonizar o aluno na construção do conhecimento histórico. Entre essas propostas, devemos destacar a chamada aula-oficina, que rompe de forma rica com os moldes passivos e tradicionais de ensino. Tal modelo, pesquisado pela historiadora Isabel Barca, privilegia a construção de uma aula incialmente organizada por um tema e um conjunto de objetivos a serem atingidos com o debate em sala de aula. Feitas essas primeiras definições, a aula-oficina prossegue com a organização de questões onde o professor, por meio das respostas oferecidas, detecta as noções e ideias que seus alunos possuem sobre o tema. Mediante a análise das informações coletadas, o professor então detecta quais seriam os recursos e fontes documentais mais eficientes para dialogar com as ideias apresentadas pelos alunos. 28 Por meio de tal ação, o professor molda a investigação do passado por meio das demandas apresentadas pelos seus alunos. Sem dúvida, notamos aqui que a aula-oficina visa claramente romper com as situações em que o ensino de história se mostra distante do aluno ou radicalmente centrado na figura do professor. Cumprida a investigação do tema por meio dos documentos selecionados, o professor ainda pode finalizar a experiência de compreensão do passado realizando um novo levantamento de questões. Nessa última etapa, o professor questiona os alunos sobre como a aula oferecida na oficina reorientou suas noções anteriores sobre o tema investigado. De tal forma, tanto professores como alunos conseguem perceber o ganho histórico-cognitivo oferecido pela oficina. Materiais e Métodos de Ensino Algumas possibilidades de como e o que ensinar A LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394/96) apresenta-se como uma forte aliada no processo de ensino-aprendizagem, uma vez que determina a formulação de novos modelos e diretrizes. É nesse momento que os professores assumem a sua responsabilidade na formulação de uma nova proposta de ensino como protagonistas do processo de construção, que orienta o educando para o verdadeiro caminho da cidadania. A meta da escola é contribuir para a formação de cidadãos críticos e engajados na transformação social. O desejo e o prazer de compreender, de explicar a realidade, de questionar para procurar alternativas, de conhecer para agir conscientemente são sem dúvida fatores poderosos na formação de indivíduos responsáveis e intervenientes. Não foi decerto por acaso que os regimes totalitários declaram morte à cultura e reduziram drasticamente o tempo de escolaridade e o acesso ao saber (Roldâo, apud Proença, 1999, p. 25-26). Segundo Proença (1999), o ensino de História pode contribuir para o desenvolvimento pessoal e social do indivíduo não apenas pelo conteúdo formativo do saber histórico, mas também pela metodologia adotada. Práticas educativas apoiadas em metodologias implicativas que apelem à participação ativa do aluno como sujeito que aprende, tais como o ensino pela descoberta a partir da análise e 29 crítica de fontes, o trabalho de projeto centrado em problemas, o estudo independente e outras práticas autorreguladoras de aprendizagem contribuem para o desenvolvimento do raciocínio crítico e da autonomia pessoal do aluno, que são componentes essenciais da educação cívica. O ensino de História, nos dias atuais, não pode se restringido ao chamado “giz e lousa”. O aluno é fruto da sociedade midiática, convive com a informação rápida da Internet e o bombardeio de imagens oriundos da TV. Não se trata de “aposentar” o livro ou a exposição oral, mas, sim, de atualizar os instrumentos e a linguagem para que se possa, de fato, estabelecer um vínculo de comunicação com os educandos. Nesta prespectiva serão apresentados cinco diferentes materiais, a partir dos quais muitos professores instrumentalizam o seu trabalho com o ensino de História, afim de tornar o conteúdo mais apreciativo e convidativo à aquisição do conhecimento. O livro didático Passando do método mnemônico, ou seja, de memorização, para o método intuitivo, que é a de observação/conclusão, os livros começam a deixar a estrutura apenas textual para adotarem gravuras e mapas; tendência dominante e que se intensifica aceleradamente. Perguntando-se então para que serviria o livro didático, te-se que, antes de mais nada, este deve ser compreendido como mercadoria, e que, portanto, estaria submetido às regras do mercado, agradabilidade/receptividade do produto; é ainda um depositário de informações, pois difunde o saber oriundo da academia; elabora grande parte das técnicas de aprendizagem,sugestões de trabalho, exercícios. Sabe-se, ainda, que o livro didático é um importante veículo portador de sistema de valores, de uma ideologia e de uma cultura; é o portador e difusor de uma ideologia e será a forma de selecionar e utilizar esse material determinante para o destino do trabalho do professor. Da mesma forma, as ilustrações também serão escolhidas em função dos elementos que determinam a existência do livro didático. A escolha de determinadas imagens concretizariam o projeto mercadológico e ideológico de um material didático. A utilização do livro didático de forma crítica e geradora de reflexão, é o da comparação e do questionamento do conteúdo. Como e por quem este material foi produzido? Para que e para quem se fez esta produção? Quando foi realizada? Por 30 que foram selecionados estes tópicos? Por que outros tais foram excluídos? O exercício questionador liberta o aluno das amarras do discurso preparado e concluído pelo conteúdo; ele vai além, tendo o documento, o livro, como sujeito de sua pesquisa, compreendendo as relações que envolvem não apenas o fato mais a sua construção/reconstrução e difusão. As imagens A pintura pode ser vista como fonte não apenas da pesquisa acadêmica, mas também do ensino de História, pois compõe um discurso sobre o seu tempo; a obra dialoga com questões, temas, critica-os, apresenta-os, satiriza-os, denuncia-os. Não é só o conteúdo que faz uma obra, mas fundamentalmente a forma como o autor reconstroi o conteúdo e o seu enunciado, impingindo-lhe os múltiplos diálogos travados com outros autores, com sua época e, principalmente, a sua originalidade. A partir dos detalhes, das cores, dos lugares, das roupas, das expressões faciais, da composição da paisagem, da investigação sobre a vida e as ideias do autor e de seu público-alvo, uma série de novas situações e conclusões irão ser apresentadas. A busca do desvendamento dos diálogos que as obras de arte mantém com as diferentes dimensões socioculturais do seu tempo possibilita conhecer melhores contextos culturais complexos, escapa-se, portanto, das leituras lineares, dando força a estas vozes do passado, que ressoam ainda no presente, permitindo aos alunos que se dispuserem a realizar esse exercício, esse diálogo, construir um novo enunciado, uma nova obra. O museu Na maioria das vezes, os professores vão aos museus com seus alunos com o intuito de que tomem contato com preciosidades do nosso patrimônio histórico. É a concepção do objeto material como objeto testemunho. Desta forma, equivocada, o acervo museológico é compreendido como coisa estática e definida, pois a sua razão de ser, de “estar lá” resume-se à sua antiguidade e à sua “preciosidade”. O potencial educativo do acervo estaria, porém, na sua compreensão enquanto objeto diálogo. O conjunto exposto, bem como o conjunto geral do acervo comporia um discurso sobre o que aqueles pesquisadores, museólogos, ou mesmo o que a nossa sociedade pensa sobre um determinado tema ou aspecto do passado. 31 Por que o pesquisador selecionou estas e não outras peças da reserva técnica do museu para compor uma exposição? O que ele quis dizer com esta composição de peças? Que ideia está contida, que discurso está contido nesta disposição do acervo? A visita ao museu deveria deixar de ser ilustrativa e passar a ser fonte de questionamento, assim, toda visita deveria ser organizada a partir de um roteiro que contemplaria os pontos principais para o planejamento de uma ação com os alunos. Cita-se, a título de direcionamento: • definir os objetivos da visita; • selecionar o museu mais apropriado para o estudo do tema escolhido ou parte de uma exposição ou um conjunto de museus; • visitar a exposição antecipadamente; • verificar as atividades educativas oferecidas pelo museu; • preparar os alunos para a visita: conteúdos, conceitos, etc.; • coordenar a visita de acordo com os objetivos da pesquisa feita; • dar continuidade à discussão na sala de aula; • avaliar o processo que envolveu a visita para futuro replanejamento. A televisão A mídia, principalmente a televisiva, não destroi de todo as representações e as expressões das sociedades sobre si e sobre o mundo; apresenta-nos, como resultado do processo de globalização, o comportamento cada vez mais passivo do espectador, que impotente e estático, assimila as informações e definições da televisão como verdades definitivas. A imagem, portanto, não ilustra e nem reproduz a realidade, mas, sim, a constroi a partir de uma linguagem própria ligada a um determinado contexto histórico. Vive-se atualmente um momento em que o acontecimento transformou-se em imagem; dessa forma, é a informação que vem fazendo o acontecimento, e não o inverso. Portanto, para a mídia, o que constroi o acontecimento não é o fato, mas a divulgação. Ao entrar na sala de aula, o professor terá diante de si pessoas, como todos nós, impregnadas por definições, valores e representações sociais, imagens, símbolos, originárias da divulgação dos meios de comunicação de massa, uma forma de transformar essas informações em objeto de reflexão e, juntamente com seus alunos, executar o questionamento, a desconstrução das notícias, averiguando o porquê de sua existência e de sua veiculação. 32 Ao escolher o trabalho com a televisão, no caso brasileiro, o professor terá ao seu alcance uma gama variada de material em teledramaturgia e telejornalismo; caso queira trabalhar com material das décadas de 60 e 70, encontrará problemas, portanto, que o professor trabalhe com material mais recente. Para realizar esse trabalho, é necessário que o professor atualize suas leituras sobre as teorias dos meios de comunicação de massas, bem como tenha claro para si que televisão e cinema diferenciam-se não apenas nas formas de produção, mas também na perspectiva de tempo de exibição: o cinema é feito para ser visto por vários anos, o programa de televisão responde ao apelo do momento. Existem alguns pontos a serem levados em consideração na análise da TV: • Intenções do remetente; • O meio e o código da mensagem; • As reações do receptor. Quanto ao trabalho específico em sala de aula, delimita alguns passos que devem ser seguidos para que o trabalho com a programação televisiva não seja visto pelos alunos e pais como o popular “matar aula”. Para que o trabalho se torne pedagogicamente proveitoso, o professor deverá ter para si muito claro o seu objetivo. É possível, por exemplo, analisar um mesmo gênero em vários programas diferentes ou um mesmo tema em programas distintos. Os passos básicos seriam: • Assistência do material: impressões primárias do grupo, observação de temas e códigos básicos presentes; • Análise semântica: o grupo deve buscar o sentido explícito e implícito dos discursos, opiniões ideológicas, representações sociais, valores; • Crítica ideológica: o grupo deve posicionar-se quanto ao conteúdo dos discursos e sua linguagem, explicação de conceitos e sistematização de contradições; • Síntese das fases anteriores: sistematização dos valores e opiniões surgidos durante o trabalho e articulação com o conteúdo estudado em sala de aula. A memória A palavra-chave para a reflexão sobre memória e História é construção. Durante as décadas de 70 e 80, muitos grupos das chamadas minorias lutaram pela preservação de suas memórias. A sociedade como um todo, em diferentes regiões 33 do país, organizam-se pela preservação da memória cultural de suas regiões, do patrimônio cultural. Por muito tempo, no Brasil, associou-se patrimônio a monumento, desde sua criação em 1937, o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional tombou centenas de bens imóveis ligados às classes dominantes: casarões, fortes, igrejas barrocas, construindo um discurso sobre o passado a partir da fala dessas classes, construindouma memória de nosso passado a partir dos seus valores. Hoje, em função da ação de órgãos como o Instituto de Arquitetos Brasileiros, a Associação dos Geógrafos do Brasil e a Associação Nacional de História, o conceito de “patrimônio histórico e cultural” foi substituído pelo de “patrimônio cultural”, constituído de unidades designadas “bem culturais”, subdivididos em três tipos de elementos: • 1º relativos a natureza e ao meio ambiente; • 2º relativos ao conhecimento e às técnicas; • 3º relativos aos bens culturais, toda a sorte de objetos, obras e artefatos produzidos pelos homens. Portanto, a ideia de patrimônio histórico não está mais restrita a patrimônio edificado, como a pedra e cal, mas também ao patrimônio documental, arquivístico, bibliográfico, hemerográfico, iconográfico, oral, visual, museológico, enfim, todo o conjunto de bens que nos falam sobre a História de uma sociedade. Documentos Os PCN (1999) enfatizam que o ensino da História da época contemporânea ultrapasse o uso exclusivo de fontes escritas, e que é possível incluir outras fontes documentais, outras referências, para tanto basta pensar nas mais diversas formas que o homem se utilizou para se expressar e registrar sua experiência. Observe o texto que segue: O estudo de novos temas, considerando a pluralidade de sujeitos em seus confrontos, alterando concepções calcadas apenas nos “grandes eventos” ou nas formas estruturalistas baseadas nos modos de produção, por intermédio dos quais desaparecem de cena homens e mulheres de “carne e osso”, tem redefinido igualmente o tratamento metodológico da pesquisa. A investigação histórica passou a considerar a importância da utilização de outras fontes documentais, além da escrita, o aperfeiçoando métodos de interpretação que abrangem os vários registros produzidos. A comunicação entre os homens, além de escrita, é oral, gestual, sonora e pictórica (BRASIL, 1999, p. 21). Não significa também que se deva abandonar definitivamente as fontes documentais, tais como arquivos públicos (instituição do governo) e privados 34 (empresas e famílias); censos populacionais; mapas, plantas, testamentos, legados, inventários, perícias, sentenças, sindicâncias; livro de registros, livro de presenças/visitas; salvo condutos, títulos, documentos familiares: cartas, diários, certidões, passaportes, carteiras de trabalho, habilitação, registros gerais, títulos eleitorais; relatos e depoimentos pessoais; livros de batismo, casamento e morte; jornais e revistas diversos. É o momento de atribuir-lhe novas perguntas e abordagens, não somente fazer uso ilustrativo e confirmador de conteúdos que são estudados. Significa indagá-los sobre as relações de procedência, validação e circulação; os trâmites hierárquicos e legais a que obedecia, a normalidade/regularidade, a periodicidade, a validade, as alterações/adulterações, anotações; contextualizações históricas. Filmes e Documentários No caso especial de filmes, Cardoso e Mauad (1997) destacam que, ao se utilizar o cinema e as fontes cinematográficas, é preciso que se revele e decodifique o que diz respeito às matrizes ideológicas que se encontram latentes na produção. Compreendê-los como imagem-objeto, cujas significações não são somente e meramente cinematográficas; integrá-los ao mundo social, ao contexto em que surgiram, abordar inclusive os elementos não cinematográficos, como os autores, as produções, os públicos, regimes políticos a que estiveram vinculados. Deve-se compreender um filme como: Uma mensagem de mensagens, de considerável complexidade, reunindo e combinando diversas modalidades e graus de incidência: imagens/fotografia, textos escritos, falas gravadas e incorporadas ao filme, música/trilha, e os ruídos pretensamente naturais: trata-se de uma mista e complexa narrativa e trama. (CARDOSO; MAUAD, 1997, p. 413). Diante destes pressupostos, faz-se necessário decodificar os aspectos e elementos explícitos e implícitos na obra, como a imagem, a palavra/fala/ linguagem, o som, o gênero, bem como os anos de produção, a montagem e as movimentações de câmera, as tecnologias disponíveis, os roteiros de forma contextualizada e problematizada; as mensagens subliminares e sutis tanto em termos de fotografia, figurino, trilha sonora, além dos conteúdos dos diálogos. Burke (2004) discute que tanto o cinema como a fotografia e os cartões postais devem ser tratados como documentos históricos. As imagens são importantes meios de interpretação de fatos históricos, através delas pode-se perceber como as pessoas 35 se portavam, se apresentavam, reagiam em determinados momentos. Em resumo, imagens nos permitem “imaginar” o passado de forma mais vívida e próxima do que ela realmente existiu. Procure assistir aos filmes antes de projetá-los. Quando for projetá-los aos estudantes, elabore uma espécie de roteiro mínimo de observação que evidencie os temas relacionados aos conteúdos históricos em questão, presentes no filme, para que os estudantes avancem para além das tramas, dos suspenses e romances que se apresentam. Para alcançar e obter resultados mais pontuais e que por sua vez até podem lhe servir como instrumento orientador da atividade com filmes e documentários, do qual poderá ser obtido nota para compor médias de seus estudantes, procure orientar a resolução de um roteiro, que pode ser preenchido em dupla ou individual após a projeção dele, ou como tarefa de casa. Procure organizar uma sessão de cinema. Se houver possibilidade e conforme as normas de conduta da escola, sugira que os estudantes tragam alguma coisa para comer e beber ao longo da projeção, assim o ambiente ficará mais convidativo e divertido. Representações Teatrais A prática da representação teatral remonta aos tempos mais longínquos da existência humana. Mas foi em solo da Grécia antiga que ganhou projeção e ênfase no plano cultural e até político, e foi muito praticado tanto nas formas de tragédia como de comédia. Isso se deu quando as autoridades gregas procuraram fazer a transição de uma cultura que se encontrava centrada nas crenças politeístas, na qual os deuses do Monte Olimpo eram entendidos como os provedores da ordem social e política; para o modo de vida regido pela polis e pela democracia, que estabelecia direitos e deveres aos cidadãos, bem previa que a racionalidade fosse utilizada na compreensão dos fatos sociais e dos fenômenos naturais. Outra experiência semelhante de uso do teatro foi a dos padres das Missões Jesuítas. Quando procuravam converter as populações indígenas utilizavamse do teatro para sensibilizar seu público e assim promover a desestabilização das antigas 36 tradições e crenças antigas e assim introduzir novos valores e comportamentos aos indivíduos. Reverbel (1997) apresenta o teatro como sendo fundamental nos processos de ensino-aprendizagem, pois, em meio aos jogos de imitação e criação, o estudante é estimulado e provocado a descobrir-se a si próprio, ao outro e ao mundo que a rodeia. Ao longo da experiência teatral os estudantes mobilizam e lançam mão de competências e habilidades múltiplas; aprendizagens para as mais diversas expressões artísticas. Porém reside no professor o papel de fomentador de situações teatrais e lúdicas com intencionalidade de aprendizagem. O PCN (1997) defendem que a presença do teatro no processo de formação dos estudantes cumpre não só a função integradora, mas dá oportunidade para que ela se aproprie crítica, criativa e construtivamente dos conteúdos sociais e culturais. Neste contexto é plasmado em meio ao dinamismo da experimentação, da influência criativa que exercita e experimenta as dimensões da liberdade e segurança, favorecendo a emergência e a sensibilização interna da imaginação, da percepção, da emoção, da intuição, da memória e do raciocínio. A preparação de um número teatral se utiliza
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