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CASO PEQUENO HANS ARTIGO

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Prévia do material em texto

CASO PEQUENO HANS 
Amanda Rodrigues de Aquino¹; 
Carla Danielle Silva Rodrigues¹; 
Jézica da Silva Lima¹; 
João Victor Tadeu Martins¹; 
Larissa Farias Rodrigues¹; 
Sarah Cristina Nascimento Moreira Durães¹; 
Vitória Xavier Borges¹; 
Iara Wanderley Biondi² 
 
RESUMO: O presente artigo procura abordar e discutir o caso clínico do Pequeno Hans – 
comunicado por Freud em 1909, um caso de uma fobia de um menino de 5 anos. A discussão 
sobre o caso, sob a perspectiva da psicanálise, conforme a matéria de Clínica Psicanalítica, 
ministrada pela professora Iara Wanderley Biondi. Iremos identificar onde se encontra a 
transferência dentro do caso, o papel do analista, sujeito suposto saber, e os outros textos 
discutidos em sala e a importância do caso Hans para psicanálise. 
 
Palavras-chave: Caso Pequeno Hans. Clínica Psicanalítica. Psicanálise. 
 
 
 
 
 
 
 
 
¹ Acadêmicas do 6º período do curso de Psicologia da Faculdades Integradas do Norte de Minas – FUNORTE 
² Professora da Disciplina de Clínica Psicanalítica no curso de Psicologia da Faculdades Integradas do Norte de 
Minas – FUNORTE 
O CASO DO PEQUENO HANS 
 O caso clínico de Freud, o Caso do Pequeno Hans, datado de 1909, é um caso de clínica 
com criança e não foi propriamente atendido por Freud. O pai de Hans, que era amigo de Freud 
e interessado em psicanálise e escrevia relatórios a Freud sobre a sexualidade de seu filho, até 
que houve um momento em que essas cartas se transformaram em um pedido de ajuda – Hans, 
com a idade de pouco mais de 4 anos, estava com um medo intenso de ser mordido por cavalos. 
Os relatórios do pai de Hans se transformaram, então, em um dispositivo de análise por 
carta. Semanalmente o pai de Hans escrevia a Freud e, numa jogada astuta, disse ao menino 
que o professor o ajudaria a se curar de sua “bobagem”. Bobagem era como Hans e seus pais 
chamavam o seu medo de cavalos. Com a idade de quase três anos, Hans demonstrava interesse 
em saber mais sobre o que chamava de pipi, forma infantil de se referir ao pênis. Hans perguntou 
à sua mãe se ela também tinha um pipi e recebeu uma resposta afirmativa da mesma. Hans 
demonstrava uma curiosidade sexual aguçada e não só expressava seu interesse quando via 
animais, como também procurava saber se objetos inanimados possuíam pipi. Hans tinha 
observado que os animais grandes tinham pipis que eram correspondentemente maiores que o 
seu, e suspeitou de que o mesmo procedia quanto a seus pais, e ficou ansioso para ter certeza 
disso. Seu interesse, contudo, não era puramente teórico: aos três anos e meio sua mãe o viu 
tocar em seu pipi, cena que resultou em uma ameaça: cortar fora o pipi de Hans caso ele o 
tocasse de novo. Com a mesma idade ocorreu o nascimento da irmã Hanna, acontecimento que 
impulsionou Hans na busca de entender qual a relação existente entre os elementos mãe, 
cegonha, pipi, o sangue visto na cena do pós-parto e o bebê. 
Com a intensificação do medo de cavalos, Freud combinou com seu pai que ele diria a 
Hans que era bobagem tudo aquilo relacionado a cavalos e que, na realidade, Hans gostava 
muito de sua mãe e queria que ela o levasse para sua cama. A partir daí, bobagem foi a palavra 
utilizada por todos ao se referir ao medo de cavalos. Freud reparou que a fobia de cavalos era 
um obstáculo para o menino ir à rua, pois, dessa maneira, ficaria em casa com sua mãe. 
Seguindo os conselhos de Freud, o pai de Hans dá esclarecimentos ao filho sobre os pipis, 
incluindo os pipis da mãe e da irmã de Hans. Ainda assim, Hans continuou confuso. Segundo 
Freud, a confusão se dava por ele ainda lembrar-se da ameaça de sua mãe de cortar seu pipi 
fora caso ele colocasse a mão nele, ação que ele continuava a fazer durante as noites. Hans 
juntava as informações sobre os pipis de Hanna e de sua mãe, mesmo sem acreditar totalmente 
nelas, com a ameaça de cortar o seu fora, resultando, segundo Freud, em seu complexo de 
castração. De acordo com Freud (1909), Hans era realmente um pequeno Édipo que queria ter 
seu pai “fora do caminho”, queria livrar-se dele, para que pudesse ficar sozinho com sua linda 
mãe e dormir com ela. Esse desejo tinha-se originado durante suas férias de verão, quando a 
presença e a ausência alternativa de seu pai tinha atraído a atenção de Hans para a condição da 
qual dependia a intimidade com sua mãe, que ele desejava tanto. Hans gostaria de ficar a sós 
com sua mãe, por outro, essa possibilidade era assustadora. Com o decorrer do tempo, o medo 
de ser mordido por cavalos se transfigurou em medo de os cavalos caírem, quando as carroças 
fizessem curvas, pois viu isso acontecer na sua frente. Seu pai salientou para ele que, quando 
viu o cavalo cair, deve ter pensado nele, seu pai, e ter desejado que ele caísse da mesma maneira 
e morresse. Hans não discutiu essa interpretação: um pouco mais tarde fez uma brincadeira que 
consistia em morder seu pai, e assim mostrou que aceitava a teoria de ter identificado seu pai 
com o cavalo de que ele tinha medo. 
Freud anuncia que a análise tinha chegado a um ponto obscuro, Hans fazia poucos 
progressos e começou a manifestar sua questão com o que chamava de lumf (palavra que criou 
para denominar o ato de evacuar os intestinos ou o próprio cocô). Hans sentia nojo ao ver as 
calcinhas de sua mãe e exclamava “hum”, seguido, algumas vezes, de cuspe. Ao ser questionado 
sobre o motivo de ter exclamado “hum” e se ele havia sentido nojo, Hans responde que sim, 
porque ele via aquilo e Pensava que teria que fazer “lumf’”. Seu interesse estava centralizado 
em “lumf” e pipi. Pouco tempo depois, numa época em que Hans ia ao quarto dos pais mas era 
mandado embora, o menino narra uma fantasia que teve a respeito da banheira, que ele estava 
no banho e então veio um bombeiro e desaparafusou a banheira. Depois ele pegou uma grande 
broca e bateu no estômago de Hans. A interpretação dada pelo pai de Hans foi a de que o menino 
tinha medo de cair dentro da banheira. A mãe era quem dava banho em Hans, que confirmou 
que seu medo era o de que a mãe o deixasse cair e ele afundasse sua cabeça na água. Hans havia 
visto sua mãe dar banho em Hanna, e seu pai perguntou-lhe se ele gostaria que sua mãe deixasse 
Hanna cair na banheira durante o banho. Hans afirmou que sim, levando tanto Freud quanto o 
pai de Hans, a dar mais atenção aos sentimentos de Hans sobre sua irmã menor. Sobre essa 
fantasia, Freud (1909) interpreta que: A grande banheira de água, na qual Hans se imaginou, 
era o ventre de sua mãe; a “broca‟, que seu pai tinha reconhecido desde a primeira vez como 
um pênis, deveu sua menção à sua conexão com “estar nascendo‟. A interpretação que somos 
obrigados a dar à fantasia soará, é claro, muito curiosa: „Com seu grande pênis você me 
“molestou” ‟(isto é, “me deu origem‟) “e colocou-me na barriga de minha mãe.‟ No momento, 
no entanto, a fantasia iludiu a interpretação, e só serviu a Hans como ponto de partida de onde 
continuar a dar informação. (FREUD, 1909, p. 79) 
Depois de um tempo Hans passa a brincar com os filhos imaginários que havia criado. 
Há uma passagem, pois assim que começou a brincar com eles, ele assumia-se como a mãe das 
crianças, mudando, em seguida, para a posição de pai das crianças. Hans estava caminhando 
para a conclusão de sua análise. Em uma de suas falas, disse que gostaria de ser casado com 
sua mãe e colocou seu pai casado com a mãe dele, a avó paterna de Hans. Dessa forma, incluiu 
o pai em sua arrumação da história. A última fantasia de Hans consistiu na seguinte narrativa: 
O bombeiro veio; e primeiro ele retirou o seu traseiro com um par de pinças, e depois lhe deu 
outro, e depois fez o mesmo com o seu pipi. Essa fantasia recebeu a interpretação de que o 
bombeiro deu um pipi maior e um traseiro maior a Hans. Segundo Freud concluiu, o doutor – 
o bombeiro – veio e, de fato, levou o pênis de Hans apenas para lhe dar um maior em troca. 
Com essa fantasia,Freud afirma que Hans havia superado seu medo da castração. 
A FOBIA DE HANS 
Hans tem o desejo de possuir a mãe, mas vê o seu pai como um empecilho para a 
realização do seu desejo. O vê como um rival e por isso sente desejo de afastá-lo de sua mãe, 
eliminá-lo, chegando até a sentir desejo que seu pai morresse, mas por um outro lado ele ama 
o pai, e essa ideia de eliminá-lo é inaceitável à consciência, e por isso a ideia é recalcada e o 
afeto se liga a um outro representante (FREUD, 1996), que é o cavalo. É possível perceber a 
relação que Hans faz do seu pai com os cavalos, ao dizer que o cabalo tem uma coisa preta na 
boca, já que seu pai tinha um bigode grande e preto: 
‘Hans: “Tenho mais medo dos cavalos que têm uma coisa na boca.” 
‘Eu: “O que você quer dizer? O pedaço de ferro que eles têm na boca?” 
‘Hans: “Não. Eles têm uma coisa preta na boca.” (E cobriu a boca com 
a mão.) 
‘Eu: “O quê? Talvez um bigode?” 
‘Hans: (rindo): “Oh não!” 
‘Eu: “Eles todos têm essa coisa?” 
‘Hans: “Não, só alguns deles.” 
’Eu: “O que é que eles têm na boca?” 
‘Hans: “Uma coisa preta.” (p. 29). 
E também ao afirmar que cavalos brancos mordem e ele tinha medo de que os mordesse: 
Eu estava tentando explicar-lhe de novo que os cavalos não mordem. 
Ele: “Mas os cavalos brancos mordem. Em Gmunden há um cavalo 
branco que morde. Se você apontar o dedo para ele, ele morde” (p. 18). 
Nesse dialogo é possível perceber que o pai era branco como um cavalo 
e tinha algo preto na boca (o bigode): 
Hans veio ver-me, enquanto eu me lavava e estava nu até a cintura. 
‘Hans: “Papai, você é lindo! Você é tão branco.” 
’Eu: “Sim. Como um cavalo branco.” 
‘Hans: “A única coisa preta é o seu bigode.” (continuando:) “Ou talvez 
seja um focinho preto?” (p. 33). 
Com o tempo, o elemento fóbico, passa a ser também carroças que transportam pessoas, 
carroças de mudança, de ônibus ou cavalos que começavam a se mover, cavalos que sao grandes 
e pesados, e de cavalos que andavam depressa. “O significado dessas especificações foi 
explicado pelo próprio Hans: ele tinha medo de cavalos caindo, e consequentemente incorporou 
na sua fobia tudo que parecesse provavelmente facilitar a queda destes” (p. 77): 
“Também fico com muito medo das carroças de mudanças.” 
‘Eu: “Por quê?” 
‘Hans: “Eu acho que, quando os cavalos estão puxando uma carroça de 
mudanças muito pesada, eles podem cair.” 
 
[...] ‘Hans: “É porque uma vez um cavalo do ônibus caiu.” 
‘Eu: “Quando?” 
‘Hans: “Uma vez que saí com mamãe, mesmo com a minha ‘bobagem’, 
foi quando comprei o colete.” (Isso foi, depois, confirmado por sua 
mãe.) 
‘Eu: “O que você pensou, quando o cavalo caiu?” 
‘Hans: “Agora vai ser sempre assim. Todos os cavalos dos ônibus vão 
cair” (p. 30). 
Através do diálogo a seguir, é possível perceber que Hans tinha desejos que seu pai 
caísse e morresse, da mesma forma que aconteceu com o cavalo, como forma de afastá-lo de 
seu objeto de desejo: 
‘Eu: “O cavalo estava morto quando caiu?” 
‘Hans: “Sim.” 
‘Eu: “E como você sabia disso?” 
‘Hans: “Porque eu vi.” (Riu.) “Não, não estava nada morto.” 
‘Eu: “Talvez você achasse que estivesse morto…” 
‘Hans: “Não, de jeito nenhum. Eu só disse isso de brincadeira.” (Sua 
expressão no momento, porém, tinha sido de seriedade.) 
[...] ‘Eu: “Quando o cavalo caiu você pensou no seu papai?” 
‘Hans: “Pode ser. Sim, é possível” (p. 31). 
Ele também, deseja que a sua irmã morresse pelo mesmo motivo, afastá-la de seu objeto 
de desejo, que poderia ser visto no elemento fóbico através do medo de carroças e outros meios 
de transporte, pois a carroça, que esta acoplada ao cavalo, da mesma forma que sua mãe está 
junto do pai, e que essa carrega a Hanna, sua irmã, como uma carga, e associa a queda do 
cavalo, da carroça e tudo o que está dentro. 
A fobia de Hans era produto de uma deformação, um deslocamento do medo de ser 
castrado. Na fobia a angústia vai fazendo deslocamentos, e quando encontra um objeto que 
tenha representação psíquica ela foca o medo para esse objeto (no caso os cavalos) fantasiando 
,assim controla o medo. O medo de cavalos impunha uma restrição da liberdade que impedia 
ele de sair às ruas mais ele obtinha um lucro secundário da doença que era ficar mais perto da 
mãe. 
O recalque acontece porque para a consciência é menos perturbador viver com todos 
esses sentimentos para com os cavalos do que os senti-los em relação ao pai ou a irmã. 
 
DISCURSSÃO SOBRE O CASO DENTRO DA MATÉRIA 
TRANSFERÊNCIA 
A transferência é um mecanismo onde coloca o analista no mesmo lugar do objeto, onde o 
analisando investe no analista como investe nos objetos de satisfação libidinal. A transferência 
é a maior resistência do tratamento, e também sem ela, não se tem a análise. No caso Hans, se 
vê a transferência do pai de Hans com o “professor” Freud. Essa transferência inaugurou esse 
campo analítico, foi essa transferência que possibilitou o tratamento de Hans, a confiança dos 
pais em relação ao saber em que Freud foi colocado. Pode-se notar a transferência do pai de 
Hans com Freud e de Hans com Freud um dia depois que Freud ver Hans e conversar com ele, 
quando seu pai escreve para Freud afirmando que ouve uma melhora real de Hans, já que o 
menino ficou na porta da rua durante uma hora. 
Há também a transferência de Hans com o seu pai, onde o menino se abre aos poucos ao 
pai. No início Hans tinha grande resistência de responder as questões do seu pai : 
Eu: “Mas por que você entrou no nosso quarto, de noite?” 
’Ele: “Eu não sei.” 
‘Eu: “Pois me conte depressa o que é que você está pensando.” 
‘Ele: (brincando): “Geléia de framboesa.” 
 Mas depois da transferência estabelecida, e do manejo do pai de Hans, Hans começou a 
expressar seus pensamentos: 
Eu: “Então por que você sempre chora toda vez que a mamãe me dá um 
beijo? É porque você está com ciúmes.” 
Hans: “Com ciúmes, é mesmo.” 
Eu: “Você gostaria de ser o papai.” 
Hans: “Oh, gostaria.” 
 Ocorre também a transferência entre Hans e Freud, como se pode perceber por uma 
transcrições da fala da criança para seu pai: 
‘Hans: “Oh, não! Posso sempre voltar para mamãe, na carroça ou num 
carro. Posso dar o número da nossa casa.” 
‘Eu: “Então por que você fica com medo?” 
‘Hans: “Não sei. Mas o Professor deve saber. Você não acha que ele 
vai saber?” 
Em outra passagem também mostra a transferência de Hans para com Freud: 
“Estou tão contente, sabe? Fico sempre contente quando posso 
escrever para o Professor.” 
A TÉCNICA DA TRANSFERÊNCIA E PAPEL DO ANALISTA 
 No caso do Pequeno Hans, seu pai foi seu analista, e em um momento Freud critica a 
maneira como o pai conduz a análise; 
“O pai de Hans estava fazendo perguntas demais, e estava pressionando 
o inquérito através de suas próprias linhas, em vez de permitir ao 
garotinho que expressasse seus pensamentos. Por essa razão a análise 
começou a ficar obscura e incerta.” (FREUD, 1909, p. 40) 
“Falando com o ar de superioridade que é tão facilmente adquirido 
depois do acontecimento, podemos corrigir o pai de Hans, e explicar 
que o desejo do menino de “importunar” o cavalo tinha dois 
constituintes; era composto de um desejo sádico obscuro por sua mãe e 
de um claro impulso de vingança contra seu pai.” (FREUD, 1909) 
Freud fala no texto Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise (1912), que 
“o sentimento mais perigoso para um psicanalista é a ambição terapêutica de alcançar, mediante 
este método novo e muito discutido, algo que produza efeito convincente sobre outras pessoas. 
Isso não apenas o colocará num estado de espírito desfavorável para o trabalho, mas torna-lo-á 
impotente contra certas resistências do paciente, cujo restabelecimento, como sabemos, 
depende primordialmente da ação recíproca de forças nele.” (FREUD, 1912) 
Há também, dentro do caso, elogios ao pai de Hans sobre como conduz o tratamento: 
“Hans estava, agora, começando a trazer combustível paraa análise, 
sob forma de pronunciamentos espontâneos seus... Seu pai inferiu 
corretamente da última que Hans tinha alguma aversão a Gmunden.” 
(FREUD, 1909, p. 41) 
“O pai de Hans, não podemos deixar de pensar, tinha feito uma ótima 
conjectura.” (FREUD, 1909, p. 42) 
 Freud fala no seu texto “Sobre o início do tratamento (Novas recomendações sobre a 
técnica da Psicanálise)” de 1924, que no início do tratamento deve-se deixar que o paciente fale 
e ele deve ser livre para escolher em que ponde começara, e diga tudo que lhe passa pela mente. 
Vemos que o pai de Hans no início de tratamento puxa o diálogo com Hans, faz perguntas para 
entender o que se passa com Hans e sua fobia de cavalos, com o decorrer da análise, Hans se 
abriu mais e começou a trazer elementos para a análise. 
SUJEITO SUPOSTO SABER 
 O conceito de Sujeito suposto saber é quando o paciente supõe que o analista sabe 
alguma coisa sobre o inconsciente dele analisante. No caso do Pequeno Hans, vemos partes 
onde Hans acredita que o professor conversasse com Deus, pois sabe muitas coisas sobre ele: 
“No caminho de casa, Hans perguntou ao pai: “O professor conversa 
com Deus? Parece que sabe de tudo, de antemão!” 
Em outro momento, Hans acredita que o professor deve saber, já que o próprio Hans não sabe: 
Hans: “Não sei. Mas o Professor deve saber. Você não acha que ele vai 
saber?” 
Hans acredita que o professor tem as respostas e a cura para sua “bobagem”: 
“Se eu escrever tudo para o professor, minha bobagem vai acabar logo, 
não vai?” 
 
RECORDAR, REPETIR E ELABORAR 
Recordar, repetir e elaborar, é um dos textos escritos por Freud, no livro “Escritos sobre a 
técnica”, de 1914. Nesse texto Freud vai sintetizar o que se faz na análise. Na análise a gente 
lembra, recorda, rememora, retorna a origem dos sintomas, retorna aos desejos esquecidos. 
Retornamos isso para reinventar um outro futuro, por essa razão o texto é recordar, que é trazer 
a memória, repetir, que é fazer de novo e elaborar, que é juntar alguns elementos e cria então 
uma conexão entre eles, elaborando e criando um novo saber. 
Recordar, repetir e elaborar constituem a base do pensamento psicanalítico. Para Freud, o 
paciente não necessariamente recorda de algo, mas repete inconscientemente e expressa através 
da fala na figura do analista, ou seja, não é algo lembrado, é repetido, assim como os afetos, 
sentimentos e até comportamentos do início da vida. À medida que a análise avança, permite 
que o paciente rememore fantasias e pensamentos inconscientes que são transferidos para o 
analista através das repetições, permitindo a criação de novos significados. 
No caso Hans, a todo momento seu pai o faz recordar de situações que vivera, e o questiona 
sobre essas situações, e faz repeti-las para sua compreensão e entendimento. 
Então lhe perguntei: “Você sabe por que está com medo dos animais 
grandes? Os animais têm pipis grandes, e na verdade você tem medo de 
pipis grandes.” 
Hans: “Mas eu ainda não vi até agora os pipis dos animais grandes.” 
Eu: “Mas você viu o do cavalo, e o cavalo é um animal grande.” 
Hans: “Do cavalo, sim, muitas vezes. Uma vez em Gmunden, quando a 
carroça estava parada à porta, e uma vez em frente à Agência Central 
da Alfândega.” (Hans aqui recorda quando viu o pipi do cavalo) 
 
A momentos em que o pai de Hans pede que ele repita a história, tanto de como começou 
sua fobia de cavalos, e repetir seus sonhos: 
“Eu o fiz repetir toda essa história.” (Hans falava que Hanna sua irmã 
viajara com eles dentro de uma caixa, mas na época que Hans se refere, 
Hanna ainda não tinha nascido e sua mãe estava grávida dela.) 
A elaboração ocorreu no decorrer da análise, onde aos poucos Hans suas questões, e consegue 
chegar a novos significados: 
 Eu: “Bom, como é um lumf?” 
Hans: “Preto. Você sabe” (apontando para as minhas sobrancelhas e 
meu bigode), “como isso e como isso.” 
Eu: “E que mais? Redondo como um Saffaladi?” 
Hans: “Sim.” 
Eu: “Quando você sentava no urinol e vinha um “lumf”, você pensava 
para si mesmo que você estava tendo um bebê?” 
Hans (rindo): “Pensava. Não só na Rua..., mas também aqui.” 
Eu: “Você sabe quando os cavalos preto caiu era exatamente 
como...” 
Hans (atalhando-me): “... como ter um bebê.” 
 
Em outro momento, já no final da análise, Hans veio até seu pai, e criou um novo 
significado ao pensamento do bombeiro (que antes desaparafusava a banheira e batia no 
estomago de Hans), agora o bombeiro retirava seu traseiro, e lhe dava outro bem maior, retirava 
seu pipi e lhe dava outro bem maior, nesse momento seu pai indaga a Hans: 
Eu: “Como os do papai; porque você gostaria de ser o papai.” 
Hans: “Sim, e eu gostaria de ter um bigode como o seu e cabelos como 
os seus.” 
 
 
INIBIÇÃO, SINTOMA E ANGUSTIA 
Hans era um menino cheio de questionamentos sobre órgãos sexuais, as diferenças entre 
homens e mulheres, o nascimento de bebês e envolvido por uma série de fantasias ligadas a 
masturbação, ao Édipo e ao sentimento de castração. Sua vivência da sexualidade infantil 
despertou em Hans o temor de castração e sua intensa ansiedade fora deslocada para um objeto 
(o cavalo) e desencadeou o desenvolvimento de uma fobia. 
Hans chamava seu órgão sexual de pipi, e gostava de ser olhado urinando, e queria ver o 
pipi de sua mãe e amigas. Quando sua mãe ameaçou de cortar fora seu pipi quando o viu se 
masturbando, ele temeu a castração. Quando sua irmã nasceu, Hans teve um grande 
desconforto, uma situação de angustia do ato do nascimento da irmã, e da separação da mãe ao 
cuidar da irmã com a situação de angústia de castração. 
Casualmente Hans dormia na cama com seus pais, o que intensificava o amor edipiano pela 
sua mãe e a hostilidade com o pai. Na fase fálica, a libido, por estar direcionada aos genitais, 
gera uma necessidade de descarga do acúmulo da tensão, assim, torna-se necessária a busca do 
objeto que permitirá a obtenção do prazer. Hans procura na figura feminina mais próxima seu 
objeto de atração sexual: sua mãe. Isso é consequência natural do processo, visto que o menino 
tentar obter a satisfação na relação homem-mulher, sente que essa ligação será prazerosa, já que 
sua mãe foi o suporte afetivo inicial e é a mulher de quem ele mais gosta. No entanto, a relação 
incestuosa é algo proibido e está fantasia deve ser recalcada: inicia-se o Complexo de Édipo. O 
pai entra na relação mãe-filho enquanto figura repressora, interventor do incesto que deve ser 
combatido no plano da fantasia. Ele torna-se uma figura ambivalente para o filho, pois ele ainda 
é uma imagem de amor e modelo. Assim, o pequeno Hans desejava que seu pai caísse e 
morresse como um cavalo que ele viu cair, todavia também sentia culpa pela agressividade para 
com o pai. 
A afeição erótica reprimida pela mãe se transformou em ansiedade que foi deslocada para 
medo de cavalos e a hostilidade para com o pai posteriormente se transformou em medo do 
cavalo mordê-lo. Em “Inibição, sintoma e angústia” (1926), Freud explica que o sintoma é algo 
que aparece no lugar do verdadeiro problema o qual é, por sua vez, excluído da consciência. 
Deste modo, o sintoma fóbico surge para diminuir a angústia de castração. O pequeno Hans 
tem o desejo de ficar com a mãe, entretanto, pelo medo da castração, ele recalca os impulsos 
hostis contra o pai, dando início à formação do sintoma. Por ter esses impulsos a criança teme 
que o pai vá castigá-la. Esse medo foi deslocado para o cavalo, por quem ele temia ser mordido. 
Então, ele restringe a situação de angústia ao encontro com o cavalo que pode ser evitado ao 
contrário do contato com o pai. A fobia permite que o sujeito contorne a castração e possa evitar 
o confronto com ela e também é uma defesa, porque através da escolha de um objeto (cavalo) 
dá-se uma significação para a irrupção de angústia. 
 O primeiro momento da fobia de Hans é o sintoma, a substituição do pai parao cavalo, 
onde é branco, tem bigode e tem um pipi grande, nessa representação pré-fóbica. Ele controla 
sua angústia, evitando a visão do cavalo. O segundo momento da fobia, é a inibição, é uma 
inibição secundária, onde faz força para o sintoma, dá suporte ao recalque, Freud relata que a 
incapacidade de Hans sair às ruas é uma manifestação da inibição. 
 
CONCLUSÃO 
 
 O caso clínico do Pequeno Hans se tornou um marco importante como a primeira análise 
realizada com uma criança, representando um paradigma para a psicanálise infantil. O 
desenvolvimento de sua fobia, os conflitos frente aos sentimentos para com os pais, de querer 
esta perto de sua mãe, deitar ao seu lado na cama, questionar seu pai, as mudanças a partir do 
nascimento de Hanna, o medo da castração, o complexo de édipo, a forma como Hans relatava 
suas vivências, serviram como base para o entendimento da análise infantil. 
 Vimos nesse artigo a importância da transferência para a análise de Hans, os 
apontamentos de Freud sobre os erros e acertos do pai de Hans, os momentos que Hans vê 
Freud como a resposta de sua “bobagem”, o trabalho do pai de Hans para trazer a memória de 
Hans suas fantasias, e a elaboração da análise, a inibição e o sintomas da fobia de Hans, seu 
medo da castração e a forma que Hans supera a castração, graças a análise e tudo ligado a 
matéria dada, o que mostra a importância do dos conceitos da clínica para um bom 
entendimento de um caso clínico. A riqueza do caso Hans possibilita leituras a respeito de 
diversos temas fundamentais para temas fundamentais à psicanálise. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
 FREUD, S. 1909. Obras completas, volume 8: O delírio e os sonhos na Gradiva, 
Análise da fobia de um garoto de cinco anos e outros textos (1906-1909). Tradução 
e notas de Paulo César de Souza. 1. ed. São Paulo: Companhia das letras, 2015. 
 HENCKEL, Marciela; BERLINCK, Manoel Tosta. Considerações sobre inibição e 
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