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1 NICOLE MALHEIROS – MEDICINA - 2022.1 NASCIMENTO, CRESCIMENTO E SAÚDE DA MULHER PROBLEMA 1 - Fechamento 1 - Objetivos: 1. Compreender as recomendações para alta hospitalar do RN potencialmente saudável. 2. Caracterizar o processo de triagem neonatal que comumente ocorre nos primeiros dias do neonato e analisar sua importância para o rastreamento de doenças, diagnóstico e possibilidade de tratamento precoce. 3. Descrever a importância e o manejo clínico da amamentação bem-sucedida (lactogênese, técnica de aleitamento materno), principais dificuldades maternas na amamentação e condições especiais que pode contra indica-las. 4. Citar as recomendações do aleitamento materno e dos cuidados do RN em tempos de pandemia por covid- 19. 5. Explicar o metabolismo da bilirrubina, a expressão clínica da hiperbil irrubinemia indireta, a ocorrência de processos fis iológicos e patológicos, habilidade para avaliação (diagnóstico laboratorial) e as principais intervenções. 1. ALTA HOSPITALAR DO RN Aspectos fisiológicos fundamentais precisam ser assegurados como monitoramento da amamentação para a prevenção de perda excessiva de peso acompanhada de desidratação, hiperbilirrubinemia e desmame precoce; abordagem de fatores de risco maternos para a sepse neonatal precoce em RN assintomáticos; triagem de distúrbios metabólicos na presença de fatores de risco maternos e ou neonatais; revisão da história gestacional e das sorologias para infecções congênitas; realização de testes universais de triagem neonatal e revisão do exame físico e clinico evolutivo do RN. ALTA PRECOCE: ocorre nas primeiras 48hrs de vida do bebê. ALTA MUITO PRECOCE: ocorre nas primeiras 24hrs de vida. No Brasil, a Portaria Ministerial GM Nº 2068, de 21 de outubro de 2016, em seu artigo 9º, normatiza a permanência mínima da mãe e do RN em AC, pelo período de 24 horas. A partir daí a alta pode ser considerada, desde que preenchidos 10 critérios mínimos, relacionados à garantia da assistência à saúde da mãe e da criança e da vinculação do cuidado hospitalar ao nível ambulatorial. Critérios de ALTA HOSPITALAR DE RECÉM-NASCIDOS TERMO, POTENCIALMENTE SAUDÁVEIS: 01. Garantir práticas de cuidado perinatal hospitalar efetivas, fundamentadas em protocolos clínicos adequados, de acordo com a história clínica e evolução perinatal da mãe e do RN, resultados de testes de triagem universal e, avaliação de fatores de risco para condições assintomáticas; 02. Monitorar e registrar, as condições da mãe e do RN no parto e nascimento, e evolução e definições clínicas no período pós- parto; 03. Garantir a administração da Vitamina K e prevenção da oftalmia neonatal ao nascimento, e vacina anti-hepatite B e aplicação do BCG ID; 04. Avaliar e documentar a presença de diurese e eliminação de mecônio, junto ao monitoramento clínico durante a permanência hospitalar e antes da alta; 05. Assegurar as triagens neonatais universais durante a permanência hospitalar: teste da oximetria de pulso, teste do reflexo vermelho, triagem auditiva e triagem biológica, todas regulamentadas em Portarias Ministeriais; 06. Verificar o aleitamento materno, por meio da observação das mamadas e aplicação do protocolo de Bristol para avaliar o frênulo lingual; 07. Definir o monitoramento clínico e/ou laboratorial do RN com risco para desenvolvimento de sepse neonatal precoce. RN termo assintomáticos, com fatores de risco maternos para sepse precoce precisam ser observados ou serem submetidos a exames laboratoriais, de triagem ou diagnósticos, antes da alta hospitalar. 2 NICOLE MALHEIROS – MEDICINA - 2022.1 08. Verificar o cartão de vacinas da mãe e os resultados de exames sorológicos para infecções crônicas perinatais, do grupo TORSCH. A sífilis precisa ser excluída antes da alta hospitalar, a partir dos exames sorológicos da gestante. A inclusão da IgM para toxoplasmose no teste do pezinho não dispensa a sorologia durante a gestação; 09. Observar a coordenação da sucção, deglutição e respiração enquanto o RN é amamentado, pelo menos por duas vezes, com sucesso. Verificar a “saciedade” do RN, pela presença de estado de alerta calmo e/ou sono após a mamada, sem sinais de exaustão ou esforço. O relato materno de dor ou fissura na mama aponta para técnica incorreta e demanda correção envolvendo principalmente posição da mãe e do RN. A presença de fissura mamilar acarreta postergar alta para prevenir desmame precoce. A orientação e o apoio à amamentação, é essencial para prevenir desmame precoce, hiperbilirrubinemia, desnutrição e infeções. 10. Documentar os sinais vitais da criança nos intervalos das mamadas, com variações dentro da normalidade e estáveis durante as 12 horas que antecedem a alta. Esses incluem temperatura axilar de 36,5°C a 37,4°C; frequência respiratória abaixo de 60 rpm por minuto e ausência de sinal de esforço respiratório; e FC de 100 a 160 bpm com o RN acordado. Frequências cardíacas mais baixas são aceitáveis se o neonato estiver dormindo, sem sinais de comprometimento circulatório e respondendo ativamente a estímulos, com pulsos centrais palpáveis e simétricos e perfusão vascular periférica adequada. Frequências cardíacas sustentadas próximas ao limite superior ou inferior exigem avaliação acurada e precisa; 11. Avaliar a adequação nutricional ao nascimento e durante a evolução nos primeiros dias de vida: peso ao nascer, comprimento e perímetro craniano precisam ser acurados para possibilitar o monitoramento do crescimento. O RN perde peso nos primeiros dias de vida, como parte do processo fisiológico pós-nascimento, e sua avaliação precisa ser abrangente, para prevenção do desmame precoce; . ANTROPOMETRIA: • PESO: 1ª semana: perda fisiológica de 10% com recuperação em até 10 dias. 1 ano: Primeiro trimestre - 700 g / mês (25 g/dia). Segundo trimestre - 600 g / mês (20 g/dia) Terceiro trimestre - 500 g / mês (15 g/dia). Quarto trimestre - 400 g / mês (10 g/dia). 2 anos: Primeiro semestre - 200 g/mês. Segundo semestre - 180 g /mês. Peso ao nascimento: duplica com 5m, triplica com 12m, quadruplica com 2,5a. Peso 1 ano: duplica 5a, triplica 10a, quadruplica 14a. • COMPRIMENTO/ESTATURA: 1 ano: 25 cm -> Primeiro trimestre (10 cm) -> Segundo trimestre (7 cm) -> Terceiro trimestre (5 cm) -> Quarto trimestre (3 cm). 1 a 2 anos: 12 – 13 cm/ano. 2 a 3 anos: 8 cm/ano. 3 a 4 anos: 7 cm/ano. Maiores de 4 anos: 4 – 6 cm/ano . Duplica estatura do nascimento de 04 a 05a. Triplica estatura do nascimento de 12 a 13a. 1º estirão: 0 a 2a. 2º estirão: adolescência • PERÍMETRO CEFÁLICO: Nascimento = 33 cm a 35 cm. Primeiro ano = 12 cm 1 -> Trimestre: 2 cm/mês -> 2 Trimestre: 1 cm/mês -> 2 Semestre: 0,5 cm / mês 2 anos = 47,5 cm 2cm/ano 3 anos = 49 cm 5 anos = 51cm 12 anos = 53 a 54 cm (tamanho adulto) Avaliação do PC pelos gráficos de percentil: escores Z 12. Identificar os riscos e monitorar condições clínicas que demandam abordagem hospitalar da hiperbilirrubinemia, de acordo com a história perinatal (história clínica e familiar), exames laboratoriais (tipagem sanguínea, teste de Coombs, dosagem de bilirrubinas), gráficos de indicação de fototerapia e excepcionalmente exsanguineotransfusão, e o nomograma de Buthani para predição da evolução da icterícia na pré-alta. No plano de alta, é preciso especificar os sinais de alerta a serem monitorados na assistência ambulatorial. Hiperbilirrubinemia precisa ser acompanhada pelo pediatra até seu de- Departamento Científico de Neonatologia (2019-2021); 13. Garantir a coleta de sangue capilar em papel filtro para a realização do teste de triagem neonatal biológica (teste do pezinho) entre 48 horas a cinco dias de vida - após, no mínimo, duas alimentações plenas, em nível hospitalar ou ambulatorial17;Nota: Durante o período da pandemia por COVID-19, a recomendação é que a coleta seja realizada ainda na maternidade antes da alta hospitalar e a partir de 48 horas de vida; 14. Construir o plano de cuidados à alta a partir da avaliação abrangente das condições de vulnerabilidade biopsicossocial da criança, mãe e família; 15. Garantir a continuidade e abrangência do cuidado neonatal centrado na família com apoio da comunidade; 16. Registrar a informação perinatal, nos módulos correspondentes, na Caderneta da Criança-MS-Brasil; 17. Avaliar a família, o ambiente e os fatores de risco social, como abuso de drogas ilícitas, alcoolismo, fumo, antecedentes de negligência com irmãos, violência doméstica e doença mental, doenças transmissíveis, suporte social e econômico 3 NICOLE MALHEIROS – MEDICINA - 2022.1 insuficiente, ausência de residência fixa. Como para outros riscos, retardar a alta quando esses fatores estiverem presentes, com apoio do serviço social e psicologia, até definir estratégias de integração com APS e serviços de apoio comunitário comunidade; 18. Orientar a prevenção de onfalite nos cuidados com o cordão umbilical, de outras infeções no cuidado com a pele e região genital na troca das fraldas; 19. Orientar a mãe, pais e família sobre a importância da imunização na prevenção de infecções como uma das estratégias da puericultura; 20. Orientar o posicionamento supino para dormir “barriga para cima”, mantendo o RN em um ambiente livre de fumo, na prevenção de síndrome de morte súbita. O RN deve dormir próximo dos pais, mas não compartilhando a mesma cama; 21. Orientar aspectos de segurança infantil, como o uso de assento apropriado para o carro, que atenda ao padrão federal de segurança de veículo motorizado e que deverá estar disponível na saída do hospital; 22. Devem ser feitos todos os esforços para que a mãe e o filho tenham alta simultaneamente; 23. Agendar consulta ambulatorial com pediatra em 48 a 72 horas, após a alta, para reavaliação das condições clínicas e de saúde do RN e da mãe, e dar continuidade ao plano de cuidados na consulta do 5° dia. A equipe assistencial da maternidade deve participar da transição do cuidado, durante o período neonatal, no modelo de atenção em rede. 2. TRIAGEM NEONATAL TRIAGEM AUDITIVA – TESTE DA ORELHINHA Há a obrigatoriedade de detecção da perda dentro dos primeiros 3 meses de vida, para atendimento apropriado antes dos 6 meses. Pelo que vimos até agora, a triagem deve ser feita antes dos três meses, para atendimento aos seis, pelo menos. A triagem deve ser universal, contemplando todos os nascidos vivos, precocemente. 1) a triagem deve ser universal, obrigatória até os três meses 2) método deve ser o EOA – Emissões Otoacústicas Evocadas (mais fácil, rápido e barato): registros da energia sonora gerada pelas células da cóclea, em resposta a sons emitidos no conduto auditivo externo do RN. A resposta desaparece quando existe qualquer anormalidade funcional no ouvido interno. 3) devem ser repetidos todos os testes alterados, com atendimento clínico e audiológico, para confirmação, antes dos três meses 4) deve ser organizado um programa nacional para atendimento interdisciplinar aos seis meses de todos os deficientes 5) devem ser respeitados os direitos individuais e familiares (sigilo), sem prejuízo do atendimento 6) deve ser feita avaliação contínua da eficácia e do custo 7) todas as etapas devem iniciar ao mesmo tempo sob pena de fracasso 8) O PROGRAMA DE TRIAGEM AUDITIVA E ATENDIMENTO DEVE SER CONSIDERADO COMO META PRIORITÁRIA DE SAÚDE PÚBLICA, SOB RESPONSABILIDADE DO MINISTÉRIO DE SAÚDE, QUE DEVE FINANCIÁ-LO. Os neonatos e lactentes com indicadores de risco que obtiveram respostas satisfatórias na triagem devem realizar o monitoramento mensal do desenvolvimento da audição e da linguagem na atenção básica. Sugere-se utilizar como referência os marcos para acompanhamento do desenvolvimento de audição e linguagem (OMS, 2006) e registrá-los na Caderneta de Saúde da Criança. APGAR 4 NICOLE MALHEIROS – MEDICINA - 2022.1 TESTE DO OLHINHO 1. Identificação de situações de risco . História familiar, gestacional . Fatores hereditários: catarata, retinoblastoma, glaucoma e outros problemas oculares . Infecções: doenças TORCH (toxoplasmose, outras (sífilis, HIV), rubéolas e herpes) . Exposição a drogas: álcool e drogas ilícitas (cocaína, crack, outras) . Medicações: talidomida, misoprostol, benzodiazepínicos . Fatores nutricionais e metabólicos . Radiação 2. Local do parto . Inspeção ocular e anexos – inspeção das pálpebras, córnea e conjuntiva, íris e pupila 3. Profilaxia da oftalmia neonatal . Recomenda-se o uso da povidona a 2,5% considerando sua menor toxicidade em relação ao uso do nitrato de prata a 1%(37- 40). 4. Alojamento conjunto 4.1 Malformação congênita e síndromes 4.2 Inspeção ocular e anexos – inspeção das pálpebras, córnea e conjuntiva, íris e pupila 4.3 Teste do reflexo vermelho (TRV) - é uma ferramenta de rastreamento de alterações que possam comprometer a transparência dos meios oculares, tais como catarata (alteração da transparência do cristalino), glaucoma (alteração da transparência da córnea), toxoplasmose (alteração da transparência do vítreo pela inflamação), retinoblastoma (alteração da transparência do vítreo pelo tumor intraocular), descolamentos de retina tardios. Todos os nascidos devem ser submetidos ao TRV antes da alta da maternidade e, pelo menos, duas a três vezes ao ano, nos três primeiros anos de vida. Uma vez detectada qualquer alteração, o neonato precisa ser encaminhado para esclarecimento diagnóstico e conduta precoce em unidade especializada. *Opacidades pupilares: A leucocoria, ou pupila branca, é uma condição geralmente associada à baixa visão. A investigação de sua causa é importante e urgente. História clínica e exame sob 5 NICOLE MALHEIROS – MEDICINA - 2022.1 midríase são fundamentais para o diagnóstico. A catarata congênita corresponde à existência de opacidades no cristalino presentes ao nascimento. Pode ser causada por infecções congênitas (rubéola) ou anomalias genéticas. A catarata congênita deve ser removida o mais rápido possível, pois sua presença impede que a luz chegue até a retina, desse modo o olho não aprende a ver, determinando a chamada ambliopia. Retinopatia da Prematuridade: A persistência do vítreo primário hiperplásico é uma malformação congênita. Geralmente é unilateral, o vítreo não é formado, persistindo a estrutura original, que é opaca. Pode estar associada a outras malformações oculares. O prognóstico visual é muito pobre. Em alguns casos selecionados, a cirurgia do vítreo pode trazer algum benefício. A vitreorretinopatia exsudativa familiar é uma doença genética autossômica dominante. O quadro clínico é semelhante ao da retinopatia da prematuridade, sem história de prematuridade e oxigenioterapia. O retinoblastoma é um tumor maligno raro da infância, fatal se não for tratado. Dificilmente surge após o terceiro ano de vida. É bilateral em 30% dos casos. A transmissão pode ser hereditária (apresentação multifocal) ou esporádica (uniocular). O diagnóstico precoce é fundamental para o resultado terapêutico. Inicia-se como nódulo na retina, que aumenta, acomete o vítreo, o nervo óptico e o sistema nervoso central. Metástases hematogênicas atingem a medula óssea e outros órgãos. Casos iniciais são tratados com quimioterapia sistêmica associada a tratamentos locais (hipertermia, fotocoagulação, crioterapia, braquiterapia). Casos avançados têm indicação de enucleação (retirada do globo ocular), e se houver metástases associa-se quimioterapia sistêmica e radioterapia. Várias outras anomalias da retina podem determirar leucocoria: coloboma,displasia da retina, fibras mielinizadas, miopia elevada, prega falciforme. TESTE DO CORAÇÃOZINHO O teste é feito com um aparelho chamado oxímetro de pulso. Os sensores são colocados na mão direita e em um dos pés do bebê para medir a concentração de oxigênio no sangue arterial da criança. Aquelas que apresentarem alterações são encaminhadas para exame mais específico, o ecocardiograma, em até 24 horas, no próprio hospital, para diagnóstico e tratamento. O exame é indicado para ser realizado em todos os recém- nascidos com mais de 34 semanas de idade gestacional. Além disso, é importante que seja feito entre 24 e 48 horas após o nascimento. Isso porque, no primeiro dia de vida, algumas alterações no organismo do recém-nascido podem atrapalhar o resultado. Após as primeiras 24 horas e até o segundo dia de vida, o risco de erro diminui de forma significativa, mas o período ainda é considerado seguro para o diagnóstico das cardiopatias críticas. A médica explica, ainda, que o exame que dá alterado, após uma hora é repetido para confirmar o resultado. A médica ressalta que a especificidade do Teste do Coraçãozinho é de 99%, o que significa que, quando dá negativo, praticamente descarta a possibilidade de doenças cardíacas graves. TESTE DO PEZINHO Exame feito a partir do sangue coletado do calcanhar do bebê e que permite identificar doenças graves, como: o hipotireoidismo congênito (glândula tireóide do recém-nascido não é capaz de produzir quantidades adequadas de hormônios), a fenilcetonúria (doença do metabolismo) e as hemoglobinopatias (doenças que afetam o sangue – traço falcêmico e doença falciforme). O teste deve ser feito porque essas doenças não apresentam sintomas no nascimento e, se não forem diagnosticadas e tratadas cedo, podem causar sérios danos à saúde, inclusive retardo mental grave e irreversível. Todas as crianças recém-nascidas devem fazer o teste. A data ideal para a coleta de sangue é entre o 3º e 5º dia de vida do recém-nascido. O teste pode ser feito em diversas maternidades já fazem o teste rotineiramente, antes da alta hospitalar, após o parto. Procure saber se isto é feito na maternidade onde nasceu o seu filho. Caso o teste ainda não tenha sido feito, você poderá procurar Postos de Saúde do seu município. Hoje em dia, o teste é obrigatório por lei em todo o território nacional. Alguns municípios, inclusive, não permitem que a criança seja registrada em cartório se não tiver feito o Teste do Pezinho anteriormente. O procedimento deve ser feito corretamente para evitar erros: 1. Coleta correta e em tempo adequado da amostra sanguínea. 2. Rápido envio da amostra para o laboratório. 3. Realização correta do exame pelo laboratório. 4. Rápida comunicação dos resultados dos exames. 5. Um centro de referência no qual exista (m) médico (s) treinado (s) para estabelecer o diagnóstico correto e onde o seguimento das crianças afetadas possa ser realizado. O teste do pezinho como triagem biológica do PNTN está divido em quatro fases: • fase I: fenilcetonúria – hipotireoidismo congênito; • fase II: doença falciforme; • fase III: fibrose cística; 6 NICOLE MALHEIROS – MEDICINA - 2022.1 • fase IV: hiperplasia adrenal congênita – deficiência de biotinidase. A fase IV do teste do pezinho ampliou o teste, agora denominado teste do pezinho ampliado. Fenilcetonúria: doença herdada dos pais onde as crianças não conseguem metabolizar a fenilalanina, uma substância existente no sangue. Assim, esta substância se acumula no organismo, especialmente no cérebro, levando à deficiência mental O diagnóstico e o tratamento precoce podem evitar totalmente o retardo mental. Hipotireoidismo Congênito: causado pela ausência ou pela reduzida produção do hormônio da tireoide. Este hormônio é importante para o amadurecimento e funcionamento de vários órgãos, em especial o Sistema Nervoso Central. A falta do hormônio provoca retardo neuropsicomotor acompanhado de lesões neurológicas irreversíveis, além de outras alterações corporais. O diagnóstico e o tratamento precoce podem prevenir o retardo mental. Doença Falciforme (Hemoglobinopatias): prevalente na população negra, é transmitida pelos pais, em que os glóbulos vermelhos diante de certas condições alteram sua forma tornando-se parecidos com uma foice, daí o nome falciforme. Estes glóbulos alterados grudam-se uns nos outros, dificultando a passagem do sangue nos pequenos vasos do corpo, levando ao aparecimento de: dor e inchaço nas juntas, anemia, icterícia e infecções. O portador da doença falciforme, desde que diagnosticado precocemente e acompanhado periodicamente pela equipe de saúde, pode ter uma vida normal. Fibrose Cística: é uma desordem genética (autossômica recessiva) caracterizada por infecções crônicas das vias aéreas, que leva ao desenvolvimento de bronquiectasias, insuficiência pancreática exócrina e disfunções intestinais, anormalidades das glândulas sudoríparas e disfunção geniturinária. Apresenta morbimortalidade muito elevada, com apenas 34% dos pacientes chegando à idade adulta e menos de 10% ultrapassando os 30 anos de idade – a sobrevida média é de 28 anos. Em 2014 foi implantada a fase IV do Teste do Pezinho, com a pesquisa da deficiência de Biotinidase e Hiperplasia congênita da Suprarrenal. Deficiência de biotinidase: também conhecida como "deficiência múltipla de carboxilases - início tardio". A deficiência de biotinidase é um distúrbio herdado de modo autossômico recessivo, causado por mutações no gene que codifica a enzima que libera dos alimentos e de proteínas orgânicas a biotina (ou vitamina H). Os sintomas podem aparecer de 1 semana a 2 anos, com média em geral ao redor dos 5 meses. A principal complicação da deficiência de biotinidase não tratada é o retardo mental. Estes pacientes também podem apresentar uma função imunológica anormal, que leva a infecções de repetição. Também já foram descritos pacientes com perda da visão, e outros que evoluíram para paraparesia espástica. Hiperplasia Adrenal Congênita: causa a diminuição da produção de um hormônio essencial à vida, o cortisol ou cortisona, naturalmente produzido pelas glândulas adrenais. Os recémnascidos com esta doença apresentam uma grave desidratação nas primeiras semanas de vida e sem tratamento específico a maioria deles evolui para choque e óbito. Para os que sobrevivem à crise, é frequente a ocorrência de déficits intelectuais, alterações neurológicas e, em casos extremos, até a paralisia cerebral. Junto com a falta da produção de cortisona, existe um desequilíbrio na produção de testosterona, o que resulta em malformações da genitália externa em recém- nascidos do sexo feminino. Esta malformação, que é passível de cirurgia corretiva e de vida normal, pode causar erros de identificação de sexo civil ao nascimento. Os médicos observaram também que os bebês de sexo masculino, pelo fato de não apresentarem a malformação genital, não chamam a atenção para o seu diagnóstico e possuem maior frequência de óbito em relação ao sexo feminino. “A triagem neonatal permite a identificação precoce dos erros de registro de sexo ao nascimento nas meninas e o tratamento adequado lhes garantirá adequada qualidade de vida, inclusive com fertilidade normal”. Vale à pena ressaltar que as medicações utilizadas possuem baixo custo e também que muitos dos estados brasileiros possuem centros de referência em tratamento para a Hiperplasia Adrenal Congênita. TESTE DA BOCHECHINHA O Teste da Bochechinha é um exame genético que investiga doenças que podem se manifestar na infância, todas com tratamento já disponível no Brasil. Para isso, a amostra do bebê é analisada com uma técnica chamada de Sequenciamento de Nova Geração, a mais moderna técnica de Genética. Essa abordagem inovadorarastreia simultaneamente várias regiões do genoma do bebê para identificar mais de 320 doenças. A análise feita direta no DNA apresenta uma grande vantagem, pois identifica o risco da doença antes mesmo de qualquer sinal clínico ou sintoma. 7 NICOLE MALHEIROS – MEDICINA - 2022.1 A demora no diagnóstico afeta o início do tratamento, impactando a qualidade de vida da criança. O diagnóstico precoce acompanhado do tratamento imediato e direcionado interfere o curso TESTE DA BOLINHA Realizado nos primeiros anos de vida do bebê, pode evitar que homens adultos enfrentem problemas de infertilidade, já que ele detecta precocemente a criptorquidia (Posição anômala do testículo). O teste deve ser feito nos primeiros dias de vida para verificar se os testículos já estão na bolsa testicular. Se não estiverem e a migração não ocorrer em poucos meses, a correção deverá ser feita de forma cirúrgica após o 4º ou 5º mês, não devendo ultrapassar o 2º ano de vida da criança. A criptorquidia é um fator importante da infertilidade masculina e também pode causar tumor. TESTE DA LINGUINHA O teste da linguinha é um exame padronizado que possibilita diagnosticar e indicar o tratamento precoce da “língua presa”. A limitação dos movimentos da língua pode comprometer as funções de sugar, engolir, mastigar e falar. O teste é fundamental para diagnosticar precocemente deformidades no frênulo lingual. O teste da linguinha é um procedimento não invasivo e rápido realizado por meio de manobra para visualizar o frênulo lingual (freio da língua) e avaliar a funcionalidade durante a amamentação. Caso tenha alteração no frênulo, pode acarretar desmame precoce por conta de fissuras mamilares (rupturas no tecido do mamilo). Também pode haver prejuízo da fala para produção de alguns fonemas e na transição alimentar, pois a criança pode ter dificuldade na mastigação de alimentos sólidos. O teste é simples, basta elevar a língua do bebê para verificar o frênulo. E deve ser feito o mais precoce possível. Caso o teste não tenha sido feito no hospital você poderá fazer na APS. O teste da linguinha é realizado por meio da aplicação do Protocolo de avaliação do frênulo lingual com escores para bebês. Este protocolo é dividido em história clínica, avaliação anatomofuncional e avaliação da sucção não nutritiva e nutritiva. O protocolo tem pontuações independentes e pode ser aplicado por partes, até o 6 o mês de vida. Para a triagem neonatal, nas primeiras 48 horas após o nascimento é realizada somente a avaliação anatomofuncional do bebê, considerando que a bebê demora de 15 a 20 dias para se adaptar às novas condições de vida. Esta avaliação inicial permite diagnosticar os casos mais severos e indicar a frenotomia lingual (pique na língua) já na maternidade. Se a soma total dos escores da avaliação anatomofuncional do protocolo for igual ou maior que 7, pode-se considerar a interferência do frênulo nos movimentos da língua e orientar a família sobre a necessidade da cirurgia. A única parte do protocolo que pode ser aplicada, e os seus escores considerados de forma isolada, é a avaliação anatomofuncional. Nos casos onde houver dúvida, normalmente quando o escore total da avaliação anatomofuncional for entre 5 e 6, ou não for possível visualizar o frênulo lingual, o bebê é encaminhado para reteste com 30 dias de vida, sendo que os pais devem ser orientados sobre possíveis dificuldades na amamentação, para que não ocorra o desmame precoce nesse período. No reteste é aplicado o protocolo completo. Para o reteste é necessário que o bebê esteja bem acordado e com fome, próximo à hora da mamada, para que possa ser realizada a avaliação da sucção nutritiva. Quando a soma das avaliações do Exame Clínico for maior que 9, pode-se considerar a interferência do frênulo nos movimentos da língua. Na avaliação geral do protocolo, quando a soma da história clínica e do exame clínico (escore de 0 a 25) for maior ou igual a 13, pode- se considerar a interferência do frênulo nos movimentos da língua. 3. MANEJO CLÍNICO E AMAMENTAÇÃO A Organização Mundial da Saúde (OMS), o Ministério da Saúde do Brasil (MS) e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomendam AM por 2 anos ou mais, sendo de forma exclusiva nos primeiros 6 meses. O padrão de Aleitamento Materno (AM) pode ser assim classificado: • AM exclusivo (AME): quando a criança recebe somente leite materno, direto da mama ou ordenhado, ou leite humano de outra fonte, sem outros líquidos ou sólidos; • AM predominante: quando a criança recebe, além do leite materno, água ou bebidas à base de água (água adocicada, chás, infusões) e sucos de frutas; • AM complementado: quando a criança recebe, além do leite materno, alimentos complementares, definidos como qualquer alimento sólido ou semissólido com a finalidade de complementar o leite materno. O termo “suplemento” tem sido utilizado para água, chás e/ou leite de outras espécies; • AM misto ou parcial: quando a criança recebe, além do leite materno, outros tipos de leite. 8 NICOLE MALHEIROS – MEDICINA - 2022.1 COMO O LEITE É PRODUZIDO? – LACTOGÊNESE Na gravidez, a mama é preparada para a lactação sob a ação de diferentes hormônios. Os mais importantes são o estrogênio, responsável pela ramificação dos ductos lactíferos, e o progestogênio, pela formação dos lóbulos. Outros hormônios também estão envolvidos na aceleração do crescimento mamário, como lactogênio placentário, prolactina e gonadotrofina coriônica. Apesar de a secreção de prolactina estar muito aumentada na gestação, a mama não secreta leite durante a gravidez, graças à inibição pelo lactogênio placentário. Fase II: O início da secreção do leite, ocorre graças à queda acentuada nos níveis sanguíneos maternos de progestogênio após o nascimento da criança e a expulsão da placenta, com consequente liberação de prolactina pela pituitária anterior. A “descida do leite”, que costuma ocorrer até o 3º ou 4º dia após o parto, ocorre mesmo sem a sucção da criança ao seio. Fase III: também denominada galactopoese. Essa fase, que persiste por toda a lactação, é de controle autócrino e depende da sucção do bebê e do esvaziamento da mama. Qualquer fator materno ou da criança que limite o esvaziamento das mamas pode causar diminuição na síntese do leite, por inibição mecânica e química. A remoção contínua de peptídios supressores da lactação (feedback inibitor of lactation – FIL) do leite garante a reposição total do leite removido. Outro mecanismo local que regula a produção do leite, envolve os receptores de prolactina na membrana basal do alvéolo. À medida que o leite se acumula nos alvéolos, a forma das células alveolares fica distorcida e a prolactina não consegue se ligar aos seus receptores, criando assim um efeito inibidor da síntese de leite Grande parte do leite é produzido enquanto a criança mama, sob o estímulo da prolactina, que é liberada graças à inibição da liberação de dopamina, que é um fator inibidor da prolactina. A liberação de prolactina e ocitocina é regulada pelos reflexos da produção e ejeção do leite, respectivamente, ativados pela estimulação dos mamilos, sobretudo pela sucção da criança. A liberação da ocitocina também ocorre em resposta a estímulos condicionados, como visão, olfato e audição (ouvir o choro da criança), e a fatores de ordem emocional, como motivação, autoconfiança e tranquilidade. Por outro lado, a dor, o desconforto, o estresse, a ansiedade, o medo, a insegurança e a falta de autoconfiança podem inibir o reflexo de ejeção do leite, prejudicando a lactação. TÉCNICA CORRETA DE AMAMENTAÇÃO: A técnica de amamentação, em especial o posicionamento da dupla mãe-bebê e a pega/sucção do bebê, são importantes para a retirada efetiva do leite pela criança e proteção dos mamilos.UMA MÁ PEGA PODE GERAR: - Diminuição da produção de leite e do ganho de peso insuficiente do bebê, mesmo que ele passe muito tempo no peito. - Muitas vezes, o bebê com pega inadequada é capaz de obter o leite anterior, mas tem dificuldade de retirar o leite posterior, mais nutritivo e rico em gorduras. - Favorece traumas mamilares. - Favorece o desmame precoce. OS SEGUINTES SINAIS SÃO INDICATIVOS DE TÉCNICA INADEQUADA DE AMAMENTAÇÃO: bochechas do bebê encovadas a cada sucção, ruídos da língua, mama aparentando estar esticada ou deformada durante a mamada, mamilos com estrias vermelhas ou áreas esbranquiçadas ou achatadas quando o bebê solta a mama e dor durante a amamentação. 9 NICOLE MALHEIROS – MEDICINA - 2022.1 ORIENTAÇÕES QUE DEVEM SER REPASSADAS ÀS MÃES/FAMÍLIAS: Início da amamentação: A amamentação deve ser iniciada o quanto antes. A OMS e o MS recomendam contato pele a pele na primeira hora de vida. A maioria dos bebês suga na primeira hora de vida, se lhe for dada oportunidade. A sucção precoce da mama reduz o risco de hemorragia pós-parto, ao liberar ocitocina, e de icterícia no recém-nascido, por aumentar a motilidade gastrointestinal. Frequência das mamadas: Habitualmente, o recém-nascido mama com frequência, sem regularidade quanto a horários. É comum um bebê em AME sob livre demanda mamar de 8 a 12 vezes ao dia. Toda criança experimenta períodos de aceleração do crescimento, o que se manifesta por um aumento da demanda por leite. Esse período, que dura de 2 a 3 dias, pode ser equivocadamente interpretado como incapacidade da mãe em produzir leite suficiente, induzindo à suplementação com outros leites. Em geral, ocorrem três episódios de aceleração do crescimento antes dos 4 meses: o primeiro entre 10 e 14 dias de vida, outro entre 4 e 6 semanas e um terceiro em torno dos 3 meses. Bebês prematuros podem experimentar vários períodos de aceleração do crescimento nos primeiros meses. Duração das mamadas: O tempo de permanência na mama em cada mamada não deve ser preestabelecido, pois o tempo necessário para esvaziar uma mama varia muito entre os bebês. Independentemente do tempo necessário, é importante que a criança esvazie a mama, pois o leite do final da mamada – leite posterior – contém mais calorias e sacia a criança. Uso de suplementos: Água, chás e, sobretudo, outros leites devem ser evitados, pois há evidências de que o seu uso está associado com desmame precoce e aumento da morbimortalidade infantil. A mamadeira, além de ser importante fonte de contaminação, pode ter efeito negativo sobre o AM, pois algumas crianças desenvolvem preferência por bicos de mamadeira, a chamada “confusão de bicos”. Uso de chupeta: Além de interferir com o AM, o uso de chupeta afeta negativamente a formação do palato. A comparação de crânios de pessoas que viveram antes do advento dos bicos de borracha com crânios mais modernos sugere o impacto negativo dos bicos na formação da cavidade oral. Desmame: No desmame natural, a criança autodesmama-se gradualmente, o que pode ocorrer em diferentes idades, em média entre 2 e 4 anos, e, raramente, antes de 1 ano. A mãe tem participação ativa no processo, sugerindo passos quando a criança estiver pronta para aceitá-los e impondo limites adequados à idade. Deve-se estar atento para não confundir autodesmame natural com a chamada “greve de amamentação” do bebê, que ocorre principalmente em crianças menores de 1 ano. De início súbito e inesperado, a criança parece insatisfeita e, em geral, é possível identificar uma causa: doença, dentição, diminuição do volume ou sabor do leite, estresse e excesso de mamadeira ou chupeta. Essa condição usualmente não dura mais que 2 a 4 dias. Cabe a cada dupla mãe-bebê e sua família a decisão de manter a amamentação até o desmame natural ou interrompê-la em um determinado momento. Muitos são os fatores envolvidos nessa decisão: circunstanciais, sociais, econômicos e culturais. A decisão, principalmente da mãe, deve ser respeitada e apoiada. 4. ALEITAMENTO E COVID Assistência em sala de parto, alojamento conjunto e UTI: Segundo disposto na NOTA TÉCNICA Nº 10/2020- COCAM/CGCIVI/DAPES/SAPS/ MS8, em casos de parturientes assintomáticas e que não tenham contato domiciliar com pessoa com síndrome gripal ou infecção respiratória comprovada por SARS-CoV-2, “... orienta-se a manutenção do clampeamento em tempo oportuno do cordão umbilical ao nascimento, bem como o contato pele a pele e o aleitamento materno na primeira hora de vida. Se a parturiente for sintomática ou teve contato domiciliar com pessoa com síndrome gripal ou infecção respiratória comprovada por SARS-CoV-2 os últimos 14 dias, “... o clampeamento oportuno do cordão umbilical deve ser mantido, e o contato pele a pele deve ser suspenso. O recém-nascido pode ser secado com o cordão intacto, não sendo necessário banho. A amamentação deverá ser adiada para momento em que os cuidados de higiene e as medidas de prevenção da contaminação do recém-nascido, como limpeza da parturiente (banho no leito), troca de máscara, touca, camisola e lençóis, tiverem sido adotados. Já para mães com sintomas de síndrome gripal, as recomendações focam “... na manutenção de distância mínima de dois metros entre o leito materno e o berço do recém- - nascido (RN), uso de máscara pela mãe sintomática durante o contato para cuidados e durante toda a amamentação, 10 NICOLE MALHEIROS – MEDICINA - 2022.1 precedida pela higienização adequada das mãos antes e após o contato com a criança. Vale ressaltar ainda que, sobre a doação de leite humano “... é contraindicada a doação por mulheres com sintomas compatíveis com síndrome gripal, infecção respiratória ou confirmação de caso de SARS-Cov-2. A contraindicação é estendida a mulheres contatos domiciliares de casos com síndrome gripal ou caso confirmado de SARS-Cov-2. Após a alta e retorno ao convívio familiar: Assim, o Ministério da Saúde recomenda15 “... que a amamentação seja mantida em caso de infecção pela SARS-CoV- 2, desde que a mãe deseje amamentar e esteja em condições clínicas adequadas para fazê-lo. ” É fundamental, que em tempos de COVID-19, pela disseminação do vírus através das gotículas respiratórias, os seguintes cuidados gerais sejam tomados: 1. Lavar as mãos com água e sabão por pelo menos 20 segundos antes e depois de tocar o bebê; 2. Usar máscara facial de pano (cobrindo completamente nariz e boca) durante as mamadas e evitar falar ou tossir durante a amamentação; 3. A máscara deve ser imediatamente trocada em caso de tosse ou espirro ou a cada nova mamada; 4. Evitar que o bebê toque o rosto da mãe, especialmente boca, nariz, olhos e cabelos; 5. Após a mamada, em caso de mães suspeitas ou confirmadas de COVID-19, os cuidados com o bebê (banhos, sono) devem ser realizados por outra pessoa na casa que não tenha sintomas ou que não seja também confirmado de COVID-19. Em caso de troca de fraldas, o uso de luvas cirúrgicas ou de procedimento descartáveis é recomendado 5. METABOLISMO DA BILIRRUBINA ICTERÍCIA FISIOLÓGICA: A icterícia é um dos sinais mais frequentes no período neonatal e apresenta-se como a coloração amarelada da pele, esclera e membranas mucosas, indicando aumento da bilirrubina sérica com acúmulo de bilirrubina nos tecidos. A bilirrubina é formada a partir do metabolismo do heme pigmento, resultante da remoção de hemácias envelhecidas (75%) e do catabolismo da mioglobina, proteínas e enzimas hepáticas. Esse pigmento sob ação da enzima heme oxigenase produz uma molécula de CO excretada pelos pulmões, uma molécula de biliverdina e uma molécula de ferro incorporada às reservas do organismo. A biliverdina por sua vez, já no sistema retículo-endotelial, sofre a ação da biliverdina redutase e se transforma em bilirrubina nativaque por sua vez se liga à albumina plasmática. O conjunto bilirrubina-albumina atinge o fígado, sendo que apenas a bilirrubina atravessa a membrana dos hepatócitos ligando-se a uma proteína denominada ligandina. No retículo endoplasmático liso do hepatócito a bilirrubina é conjugada com o ácido glicurônico pela ação da enzima UDP-glicuronil-transferase, em 2 passos, formando primeiro monoglicuronato, depois diglicuronato, que é a forma predominante. Esse processo deixa a bilirrubina, agora conjugada, hidrossolúvel, podendo ser excretada para os canalículos biliares. Através das vias biliares, atinge a luz intestinal e, sob a ação das bactérias da flora local, é transformada em urobilinogênio, o qual ou é reabsorvido e excretado pelas vias urinárias ou é transformado em estercobilinogênio e eliminado pelas fezes. Uma pequena parcela dos glucurônides de bilirrubina que atingem a luz intestinal pode ser hidrolisada pela -glucuronidase e retorna à forma de bilirrubina nativa e ácido glucurônico. Essa bilirrubina, novamente não conjugada, atravessa a mucosa intestinal, retorna à circulação constituindo-se no chamado ciclo entero- hepático. Na prática, 98% dos RN apresentam níveis séricos de BI acima de 1mg/dL durante a primeira semana de vida, o que, na maioria das vezes, reflete a adaptação neonatal ao metabolismo da bilirrubina. É a chamada hiperbilirrubinemia fisiológica Em circunstâncias normais, o nível de bilirrubina indireta no soro do cordão umbilical é de 1-3 mg/dL e aumenta em uma taxa de menos de 5 mg/dL/24 h; por conseguinte, a icterícia torna-se visível no 2° ou no 3° dia de vida, alcança habitualmente o seu valor máximo entre o 2° e o 4° dia, com 5-6 mg/dL, e diminui para menos de 2 mg/dL entre o 5° e o 7° dia de vida. A icterícia associada a essas alterações é denominada fisiológica e acredita-se que seja o resultado da produção aumentada de bilirrubina em consequência da degradação dos eritrócitos fetais, em associação com limitação transitória da conjugação da bilirrubina pelo fígado neonatal imaturo. 11 NICOLE MALHEIROS – MEDICINA - 2022.1 ICTERÍCIA PATOLÓGICA: Hiperbilirrubinemia não conjugada: bilirrubina indireta (BI) na concentração igual ou superior a 2mg/dL; A icterícia e a hiperbilirrubinemia subjacente são consideradas patológicas se o momento de aparecimento, a duração ou o padrão exibirem uma variação significativa em comparação com a icterícia fisiológica, ou se a evolução for compatível com icterícia fisiológica, porém houver outras razões para suspeitar de que o recém-nascido esteja correndo risco especial de neurotoxicidade. Pode não ser possível definir a causa precisa de uma elevação anormal da bilirrubina não conjugada, porém muitos recémnascidos com esse achado apresentam fatores de risco associados, como raça asiática, prematuridade, aleitamento materno e perda de peso. Com frequência, os termos icterícia fisiológica exagerada e hiperbilirrubinemia do recém-nascido são empregados para descrever recém-nascidos cujo principal problema é, provavelmente, uma deficiência ou falta de atividade da bilirrubina glicuronil transferase (síndrome de Gilbert) e não uma carga excessiva de bilirrubina para excreção. A combinação de deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PD) e de mutação da região promotora da UDP-glicuronil transferase-1 produz hiperbilirrubinemia indireta na ausência de sinais de hemólise. A hiperbilirrubinemia não fisiológica também pode ser causada por mutações no gene da bilirrubina UDP- glicuronil transferase. O maior risco associado à hiperbilirrubinemia indireta é o desenvolvimento de disfunção neurológica induzida por bilirrubina, que tipicamente ocorre com níveis elevados de bilirrubina indireta. Pode ocorrer lesão neurológica, incluindo kernicterus, com níveis mais baixos de bilirrubina em recém- nascidos prematuros e na presença de asfixia, hemorragia intraventricular, hemólise ou fármacos que desloquem a bilirrubina da albumina. As causas de hiperbilirrubinemia indireta podem ser devidas à sobrecarga de bilirrubina ao hepatócito ou as decorrentes da conjugação hepática deficiente. Pode ser causada ou intensificada por qualquer fator que: (a) aumente a carga de bilirrubina a ser metabolizada pelo fígado (anemias hemolíticas, policitemia, equimoses ou hemorragia interna, tempo de sobrevida reduzido dos eritrócitos em consequência de imaturidade ou transfusão de células, aumento da circulação ênterohepática, infecção); (b) provoque lesão ou reduza a atividade da enzima transferase ou de outras enzimas relacionadas (deficiência genética, hipóxia, infecção, deficiência da tireoide); (c) seja competitivo ou provoque bloqueio da enzima transferase (fármacos e outras substâncias que exijam conjugação com ácido glicurônico); ou (d) leve à ausência ou a uma diminuição na quantidade da enzima ou redução da captação de bilirrubina pelas células hepáticas (defeito genético e prematuridade). Hiperbilirrubinemia conjugada: bilirrubina direta (BD) foi superior a 1 mg/dL. A icterícia aparece em cerca de 60% dos recém-nascidos (RN) termos e 80% dos RN pré- termos na primeira semana de vida. Quanto maior o nível sérico de bilirrubina indireta, maior a chance do RN evoluir para encefalopatia bilirrubínica aguda, que se apresenta em RN de 35 semanas ou mais de idade gestacional (IG), inicialmente, com hipotonia e sucção débil, progredindo em três a quatro dias para hipertonia, opistótono hipertermia, convulsões e choro agudo. Nos sobreviventes, ocorre melhora aparente até que, em período variável, aparecem as sequelas neurológicas: paralisia cerebral espástica, movimentos atetoides, distúrbios de deglutição e fonação, deficiência auditiva grave e mental leve a moderada. - KERNICTERUS: O kernicterus ou encefalopatia bilirrubínica é uma síndrome neurológica que resulta do depósito de bilirrubina não conjugada (indireta) nos núcleos da base e nos núcleos do tronco encefálico. A patogênese do kernicterus é multifatorial e envolve uma interação entre os níveis de bilirrubina não conjugada, os níveis de bilirrubina ligada à albumina e não ligada, a passagem através da barreira hematoencefálica e a suscetibilidade neuronal à lesão. A ruptura da barreira hematoencefálica por doença, asfixia e outros fatores e as alterações de maturação na permeabilidade da barreira hematoencefálica afetam o risco. O nível sanguíneo preciso acima do qual a bilirrubina indireta ou a bilirrubina livre será tóxica para cada lactente é imprevisível; todavia, em uma grande série, o kernicterus só ocorreu em lactentes com nível de bilirrubina >20 mg/dL. Noventa por cento dos recém-nascidos nos quais ocorreu desenvolvimento de kernicterus eram previamente saudáveis, em sua maioria recémnascidos a termo e quase termo amamentados ao peito. Quanto mais imaturo for o recém-nascido, maior será a suscetibilidade ao kernicterus. - MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: A icterícia aparece habitualmente durante o período neonatal inicial, dependendo da etiologia. A digitopressão sobre a pele pode revelar a progressão anatômica da icterícia, porém não se pode depender do exame clínico para estimar os níveis séricos. A icterícia até a parte média do abdome, a presença de sinais e sintomas, fatores de alto risco que sugiram icterícia não fisiológica ou a ocorrência de hemólise exigem maior avaliação. Podem-se utilizar técnicas não invasivas de determinação transcutânea da bilirrubina que se correlacionam com os níveis séricos para a triagem dos recém- nascidos, porém a determinação do nível sérico de bilirrubina 12 NICOLE MALHEIROS – MEDICINA - 2022.1 está indicada em pacientes com medição elevada da bilirrubina transcutânea específica para a idade, icterícia progressiva ou com fator de risco tanto para hemólise quanto para sepse.Enquanto a icterícia por depósitos de bilirrubina indireta na pele tende a exibir um aspecto amarelo brilhante ou alaranjado, a icterícia do tipo obstrutivo (bilirrubina direta) tem uma tonalidade esverdeada ou amarelo acastanhada. Os lactentes com hiperbilirrubinemia grave podem apresentar letargia e sucção débil e, sem tratamento, podem evoluir para a encefalopatia bilirrubínica aguda (kernicterus). - DIAGNOSTICO DIFERENCIAL: A icterícia, consistindo de bilirrubina indireta ou direta, que está presente por ocasião do nascimento ou que aparece nas primeiras 24 horas de vida exige atenção imediata e pode ser causada por eritroblastose fetal, hemorragia oculta, sepse ou infecções congênitas, incluindo sífilis, citomegalovírus, rubéola e toxoplasmose. A hemólise é sugerida por uma rápida elevação da concentração sérica de bilirrubina (>0,5 mg/dL/h), anemia, palidez, reticulocitose, hepatoesplenomegalia e história familiar positiva. Uma proporção inusitadamente alta de bilirrubina de reação direta pode caracterizar a icterícia em recém-nascidos que foram submetidos a transfusões intrauterinas para eritroblastose fetal. A icterícia que aparece pela primeira vez no 2° ou 3° dia é habitualmente fisiológica, mas pode representar uma forma mais grave. A icterícia familiar não hemolítica (síndrome de CriglerNajjar) e a icterícia do aleitamento materno de início precoce também são observadas inicialmente no segundo ou no terceiro dia. A icterícia que aparece depois do 3° dia e dentro da 1° semana sugere sepse bacteriana ou infecção do trato urinário; pode ser também causada por outras infecções, notavelmente sífilis, toxoplasmose, citomegalovírus ou enterovírus. A icterícia secundária à equimose extensa ou ao extravasamento sanguíneo pode ocorrer durante o 1° dia ou depois, particularmente nos recémnascidos prematuros. A policitemia também pode resultar em icterícia precoce O diagnóstico diferencial da icterícia persistente durante o 1° mês de vida inclui colestase associada à hiperalimentação, hepatite, doença de inclusão citomegálica (infecção por citomegalovírus), sífilis, toxoplasmose, icterícia familiar não hemolítica, atresia congênita dos ductos biliares, galactosemia e síndrome da bile espessa após doença hemolítica do recém-nascido. Raramente, a icterícia fisiológica pode se prolongar por várias semanas, conforme observado em lactentes com hipotireoidismo ou estenose do piloro. Os recém-nascidos a termo, assintomáticos e de baixo risco com icterícia podem ser avaliados por meio de monitoramento dos níveis de bilirrubina sérica total. Independentemente do tempo de gestação ou do momento de aparecimento da icterícia, os pacientes com hiperbilirrubinemia significativa ou aqueles com sinais ou sintomas exigem uma avaliação diagnóstica completa, incluindo determinações das frações de bilirrubina direta e indireta, hemoglobina, contagem de reticulócitos, tipo sanguíneo, teste de Coombs e avaliação de esfregaço de sangue periférico. A hiperbilirrubinemia indireta, a reticulocitose e um esfregaço com evidências de destruição dos eritrócitos sugerem hemólise. Na ausência de incompatibilidade de grupo sanguíneo, deve-se considerar a possibilidade de hemólise não imunologicamente induzida. Se a contagem de reticulócitos, o resultado do teste de Coombs e o nível de bilirrubina direta estiverem normais, pode haver hiperbilirrubinemia indireta fisiológica ou patológica. Na presença de hiperbilirrubinemia direta, as possibilidades diagnósticas incluem hepatite, distúrbios congênitos dos ductos biliares (atresia biliar, escassez de ductos biliares, doença de Byler), colestase, erros inatos do metabolismo, FC e sepse - DIAGNÓSTICO: Do ponto de vista laboratorial para a elucidação diagnóstica devem-se obter: Bilirrubina total e frações indireta e direta Hemoglobina, hematócrito, morfologia de hemácias, reticulócitos e esferócitos Tipagem sanguínea da mãe e RN – sistemas ABO e Rh (antígeno D) Coombs direto no sangue de cordão ou do RN Pesquisa de anticorpos anti-D (Coombs indireto) se mãe Rh (D ou Du) negativo Pesquisa de anticorpos maternos para antígenos irregulares (anti-c, anti-e, anti-E, anti-Kell, outros) se mãe multigesta/transfusão sanguínea anterior e RN com Coombs direto positivo Dosagem sanguínea quantitativa de glicose-6- fosfato desidrogenase Dosagem sanguínea de hormônio tireoidiano e TSH (teste do pezinho). Em cerca de 50% dos casos o diagnóstico etiológico pode não ser bem estabelecido. De qualquer forma há necessidade de se tentar estabelecer o mais rapidamente possível o diagnóstico das doenças hemolíticas que determinam rápido aumento de bilirrubina e podem, se não tratadas adequadamente, colocar em risco a integridade do recém-nascido. De forma geral sempre que se observar icterícia com aparecimento antes de 24 horas de vida, ou história pregressa que sugira tal diagnóstico, devem-se realizar determinação de grupo sanguíneo, fator Rh, Coombs direto, contagem de reticulócitos e esfregaço de sangue periférico. Doenças como Síndrome de Gilbert e deficiência de G-6-PD necessitam de exames mais elaborados e que ainda não constam da rotina da maioria dos serviços de neonatologia. - AVALIAÇÃO DA ICTÉRICA: A icterícia por hiperbilirrubinemia indireta apresenta progressão cefalocaudal. Uma das formas de se avaliar a icterícia é por meio das zonas de Kramer 13 NICOLE MALHEIROS – MEDICINA - 2022.1 Essa ampla variabilidade de valores encontrada em cada zona demonstra que não existe boa concordância entre avaliação clínica da icterícia por médicos e/ou enfermeiros e valores de bilirrubina sérica. A visualização da icterícia depende, além da experiência do profissional, da pigmentação da pele do RN e da luminosidade, sendo subestimada em peles mais pigmentadas e em ambientes muito claros, e prejudicada em locais com pouca luz. Desta forma, a dosagem da bilirrubina pode ser necessária. - TRATAMENTOS: . Exsanguineotransfusão: Foi o primeiro tratamento proposto e que se mostrou eficiente no combate à hiperbilirrubinemia do neonato porque: - promove rápida redução dos níveis sanguíneos de bilirrubina; - remove grande parte das hemácias ligadas a anticorpos e prestes a sofre hemólise; - substitui a albumina ligada a bilirrubina circulante do RN por albumina de adulto, passível de ligar-se à bilirrubina livre formada. -Repõe as hemácias removidas por outras livres da ação dos anticorpos maternos. A escolha do tipo de sangue para a exsanguineotransfusão depende da etiologia da icterícia. Para a doença hemolítica por incompatibilidade Rh, utiliza-se o tipo sanguíneo do RN, Rh (antígeno D e variante Du) negativo, ou tipo O Rh negativo. No caso de incompatibilidade ABO, as hemácias transfundidas podem ser as do tipo sanguíneo da mãe (O) e o plasma Rh compatível com o do RN ou hemácias tipo O com plasma AB Rh compatível. Quando a etiologia não for a hemólise por anticorpos, pode-se utilizar o tipo sanguíneo do RN. A exsanguineotransfusão deve ser realizada em ambiente asséptico, com o RN sob calor radiante, em monitorização contínua da temperatura e das frequências cardíaca e respiratória. As trocas devem ser lentas com duração preconizada de 60– 90 minutos. Ao final do procedimento, o RN deve ser mantido em fototerapia com infusão contínua de glicose (4– 6mg/kg/min), gluconato de cálcio 10% (2mL/kg/dia) e sulfato de magnésio 10% (1mL/kg/dia). Devem ser monitorizados: glicemia, eletrólitos (Na, K, Ca e Mg), pH e HCO3, bilirrubinas, hemoglobina, leucograma, contagem plaquetária. A realização de exsanguineotransfusão acompanha-se de elevada morbidade, que inclui complicações metabólicas, hemodinâmicas, infecciosas, vasculares, hematológicas, além das reações pós-transfusional e enxertohospedeiro. Portanto, esse tipode procedimento deve ser indicado com precisão e praticado exclusivamente por equipe habilitada em cuidados intensivos neonatais. Com os progressos havidos no emprego da fototerapia, a utilização da exsanguineotransfusão tem se tornado cada vez mais rara. Sua indicação se restringe aos casos onde a BT>25, após terem sido utilizadas as fototerapias de alta intensidade ou em casos suspeitos de encefalopatia bilirrubínica. . Fototerapia: A ação da fototerapia sobre a bilirrubina ocorre por dois mecanismos: 1-Foto-oxidação: que transforma a bilirrubina em produtos de degradação incolores, não tóxicos e que são excretados na urina. Este processo tem papel pouco importante na redução dos níveis sanguíneos. 2-Fotoisomerização: que transforma a bilirrubina em isômeros mais polares, hidrossolúveis, passíveis de serem excretados na bile sem a necessidade de glucuronização. Dois tipos de isômeros são formados: um configuracional, com vida média bastante longa e que, uma vez chegando à luz intestinal, reverte em grande parte à configuração anterior, perde sua hidrossolubilidade, atravessa a mucosa intestinal e reentra na circulação; uma pequena fração é excretada, sendo pouco importante na queda dos níveis de bilirrubinemia; outro, estrutural, tem vida média bastante curta e, ao chegar ao intestino, é completamente eliminado, sendo o principal responsável pela redução dos níveis plasmáticos de bilirrubina. A eficácia da fototerapia é influenciada por três características: 1) o comprimento de onda da energia emitida que deve estar na faixa entre 425 e 475 nm na qual a bilirrubina é absorvida. 2) a irradiância, isto é, a energia emitida pela fonte. Sabe-se que, quanto maior, melhores os resultados em reduzir os valores de bilirrubina. 3) área irradiada, sendo que quanto maior a área irradiada, melhores serão os resultados. Atualmente, os equipamentos de fototerapia mais eficazes utilizam como fonte irradiante as lâmpadas fluorescentes que podem apresentar diferentes faixas de emissão. Apresentam a grande vantagem de irradiar áreas significativamente grandes de pele. A irradiância apresenta uma distribuição muito mais uniforme na área irradiada. As lâmpadas mais usadas são: as do tipo luz do dia, que apresentam irradiação numa ampla faixa do espectro, porém com valores entre 425 e 475 nm, muito próximos aos limites inferiores da efetividade; as azuis comuns com emissão semelhante às luz do dia, porém com emissão mais significativa na faixa de 425 a 475 nm; as azuis especiais são equipamentos de emissão quase que exclusiva na faixa desejada de 425 a 475 nm e com efetividade muito maior que as anteriores, e, finalmente, as lâmpadas verdes emitem em faixa não específica de absorção da bilirrubina e de eficácia não consensual. Os 14 NICOLE MALHEIROS – MEDICINA - 2022.1 equipamentos que utilizam lâmpadas halógenas estão em desuso pois apresentam irradiância média com valores muito mais baixos e a área irradiada é muito reduzida quando comparada com a das lâmpadas fluorescentes. Alguns cuidados são necessários durante o uso de fototerapia: - Verificar a temperatura corporal frequentemente, para detectar hipotermia ou hipertermia. - Verificar o peso diariamente. - Aumentar a oferta hídrica, pois a fototerapia pode provocar elevação da temperatura, da frequência respiratória e do fluxo sanguíneo na pele, com maior perda insensível de água. - Proteger os olhos com cobertura radiopaca. - Não utilizar ou suspender a fototerapia se os níveis de BD estiverem elevados ou se houver colestase, para evitar o aparecimento da síndrome do bebê bronzeado (Síndrome do bebê bronze é raro e ocorre na icterícia colestática. O mecanismo é desconhecido e caracteriza- se por cor escura e cinza-acastanhada da pele, soro e urina. Usualmente resolve-se em semanas, sem sequelas após suspender a fototerapia). - Cobrir a solução parenteral e o equipo com papel alumínio ou usar extensores impermeáveis à luz, pois a exposição de soluções de aminoácidos ou multivitamínicas ao comprimento de luz azul reduz suas quantidades. Adicionalmente, a solução de lipídeos é altamente susceptível à oxidação quando exposta à luz, originando hidroperóxidos de triglicérides citotóxicos. As indicações para fototerapia são: - Recém-nascido pré-termo < 34 semanas. Pela ausência de definição dos valores de bilirrubina total (BT) que podem ser lesivos para RN prematuros internados em unidades neonatais, introduz-se a fototerapia assim que houver expressão clínica de icterícia. Se BT continuar ascendendo investigar hemólise e introduzir fototerapia de alta intensidade. Caso contrário, manter fototerapia por no mínimo 96 horas e propor suspensão quando a BT < 10mg/dl associado ao tempo de vida do RN de menor probabilidade de rebote importante (pelo menos após o 3º-4º dia no RN a termo e 5º-6º no RN prematuro) e ausência ou presença de doença hemolítica. Na indicação precoce de fototerapia é obrigatória a avaliação do rebote da BT 24 horas após suspensão da terapêutica, sobretudo quando se confirmar a presença de doença hemolítica e nos RN prematuros. - RN com idade gestacional > 34 semanas e icterícia após 24 horas de vida A Academia Americana de Pediatria utiliza fototerapia com valores de BT que variam com o tempo de vida e com a presença de fatores de risco para impregnação de sistema nervoso central. Indica-se fototerapia de alta intensidade. Realizar controle de BT 6 horas após o início da fototerapia e, se níveis claramente decrescentes, controlar a BT a cada 12 ou 24 horas. Manter em fototerapia por pelo menos 24 horas e suspender quando BT < 10 mg/dL. Após 24 horas de suspensão da fototerapia pode-se colher BT para avaliar possível rebote (menos frequente que nas indicações precoces de fototerapia). PROGNÓSTICO: A consequência mais importante da hiperbilirrubinemia é a encefalopatia bilirrubínica (kernicterus). Apresenta uma fase mais aguda com letargia, hipotonia e sucção débil. Evolui para hipertonia com hipertermia e choro agudo de alta intensidade. A hipertonia manifesta-se com retroarqueamento do pescoço e do tronco, progredindo para apneia, coma, convulsões e morte. A encefalopatia bilirrubínica na fase aguda em RN a termo pode, ocasionalmente, ser reversível, desde que haja intervenção terapêutica imediata e agressiva. A forma crônica da doença é conhecida pela tétrade: paralisia cerebral atetoide grave, neuropatia auditiva, paresia vertical do olhar e displasia dentária, e, ocasionalmente, deficiência mental. Na ressonância magnética cerebral podem ser observados sinais bilaterais e simétricos de alta intensidade no globo pálido. A identificação da perda auditiva deve ser realizada precoce e seriadamente com o potencial evocado auditivo de tronco cerebral (PEATE. A prevenção de encefalopatia bilirrubínica engloba várias intervenções, desde a assistência pré-natal às gestantes Rh (D) negativo, até o acompanhamento da icterícia após a alta hospitalar. Quanto à prevenção da doença hemolítica perinatal por incompatibilidade Rh, as diretrizes do Ministério da Saúde indicam a administração de imunoglobulina humana anti-D dentro das primeiras 72 horas nas seguintes situações: • Mães Rh (D negativo) não sensibilizadas (Coombs indireto anti- D negativo) com partos de RN Rh (D positivo) e Coombs direto negativo. • Pós-abortamento, gravidez ectópica ou mola. • Pós-amniocentese, cordocentese ou biópsia de vilosidade corial. • Pós-sangramento durante a gestação. • Durante a gestação em mulheres Rh (D negativo) e com Coombs indireto negativo com o pai do bebê Rh (D positivo) entre a 28ª e a 34ª semanas. ACOMPANHAMENTO APÓS ALTA HOSPITALAR: Todo recém- nascido no momento da alta deverá ter sua bilirrubina avaliada por meio de medida transcutânea ou sérica se o valor daavaliação transcutânea for maior que 14 mg/dL. A seguir esses valores devem ser plotados em um normograma. O mais utilizado é o de Bhutani et al., baseado nos percentis 40, 75 e 95 da primeira BT sérica obtida entre 18 e 72 horas de vida de 13.000 RN norte-americanos com idade gestacional de 35 15 NICOLE MALHEIROS – MEDICINA - 2022.1 semanas ou mais e peso ao nascer superior a 2.000g. Pelo nomograma, o RN é classificado de acordo com o risco em: Zona de alto risco: valores acima do percentil 95; Zona de risco intermediário alto: valores entre os percentis 75 e 95. Zona de risco intermediário baixo: valores entre os percentis 40 e 75. Zona de baixo risco: valores abaixo do percentil 40 Baseado nesses valores propõem-se os seguintes encaminhamentos: REFERÊNCIAS: 1. PRODEST ; SESA, Teste do coraçãozinho ajuda a detectar doenças cardíacas congênitas, SESA, disponível em: <https://saude.es.gov.br/teste-do-coracaozinho-ajuda-a- detectar-doenca>, acesso em: 10 Feb. 2022.: 2. Triagem Neonatal, Secretaria da Saúde, disponível em: <https://www.saude.pr.gov.br/Pagina/Triagem-Neonatal>, acesso em: 10 Feb. 2022. 3. MINISTÉRIO DA SAÚDE. [s.l.: s.n., s.d.]. Disponível em: <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_atenc ao_saude_ocular_infancia.pdf>. 4. MINISTÉRIO, D et al, Diretrizes de Atenção da Triagem Auditiva Neonatal 1 da Triagem Auditiva Neonatal Diretrizes de Atenção, [s.l.: s.n., s.d.]. 5. OMS, Teste do pezinho | Biblioteca Virtual em Saúde MS, Saude.gov.br, disponível em: <https://bvsms.saude.gov.br/teste-do-pezinho/>, acesso em: 10 Feb. 2022. 6. PASSAPORTE DA CIDADANIA, 2a edição, Brasília, DF, 2020. MINISTÉRIO DA SAÚDE - CADERNETA DA CRIANÇA, [s.l.: s.n., s. 7. tratado de pediatria – 4° ed. Da Sociedade brasileira de pediatria Fechamento 2 – Objetivos 1. Reconhecer a puericultura como função básica a prevenção e promoção à saúde, enfatizando o intuito de reduzir a morbimortalidade infantil. 2. Analisar o processo de crescimento normal e desenvolvimento neuropsicomotor (0 -2 anos) que devem ser avaliados em uma consulta de puericultura. 3. Reconhecer e interpretar as curvas e gráficas para avaliação do crescimento na infância. 4. Explicar o calendário vacinal proposto pelo ministério da saúde, sbp e sbim. (Vias de aplicação, contraindicações, efeitos adversos) 5. Discutir a importância da higiene do sono. 6. Identificar os fatores de risco de acidentes domiciliares na infância, conforme a faixa etária e sua prevenção. 7. Analisar possíveis repercussões da pandemia covid - 19 para as crianças e as famílias. (Em relação ao desenvolvimento, imunização, rotina, acidentes domésticos, saúde mental 1. PUERICULTURA Puericultura é o acompanhamento periódico visando a promoção e proteção da saúde das crianças e adolescentes, por meio dela acompanha-se integralmente o ser humano de 0 a 19 anos, sendo possível identificar precocemente qualquer distúrbio de crescimento, desenvolvimento físico e mental, nutricional, dentre outros, compreendendo a criança e ao adolescente como um ser em desenvolvimento com suas particularidades. Além disso, é papel da puericultura observar fatores de risco e vulnerabilidades que cercam as diferentes fases do processo de crescimento e desenvolvimento da criança. Nos primeiros 2 anos de vida as consultas são mais frequentes, por isso, no 1° ano de vida é recomendado um mínimo de 7 consultas de rotina, na 1°/2°/4°/6°/9° e 12° mês. https://saude.es.gov.br/teste-do-coracaozinho-ajuda-a-detectar-doenca https://saude.es.gov.br/teste-do-coracaozinho-ajuda-a-detectar-doenca https://www.saude.pr.gov.br/Pagina/Triagem-Neonatal https://bvsms.saude.gov.br/teste-do-pezinho/ 16 NICOLE MALHEIROS – MEDICINA - 2022.1 No 2° ano de vida, deve se ter um mínimo de 2 consultas de rotina: no 18°e 24° mês. A partir dos 2 anos de idade as consultas podem se tornar anuais. Além da oportunidade de avaliar o desenvolvimento da criança, tal organização da frequência de consultas adotada pelo Ministério da Saúde toma como base o calendário de vacinação, permitindo a verificação do cartão vacinal em meses oportunos: ao nascimento, com 1, 2, 3, 4, 5, 6, 12 e 15 meses. Além da anamnese completa, durante a consulta deve-se avaliar o desenvolvimento neuropsicomotor da criança e seus hábitos atuais, como: alimentação, rotina intestinal, hávitos urinários, sono, higiene corporal e bucal, lazer, relacionamento com adultos e outras crianças e atividade física. Na Puericultura nem sempre será possível realizar o exame físico na sequência crânio-caudal e a 1° consulta de toda criança deve ser ainda na sua 1° semana de vida, examinando-se todas as áreas e características corporais, incluindo valores antropométricos. - Dados antropométricos: Nesta etapa do exame físico deve-se realizar as medidas de: peso, comprimento/altura, índice de massa corpórea (IMC), perímetro cefálico, perímetro torácico (até os 3 anos de idade) e circunferência abdominal. As informações do peso, altura, IMC e perímetro cefálico devem ser transpostas para Caderneta de Saúde da Criança. • PESO: - 1ª Semana - Perda fisiológica de 10% com recuperação em até 10 dias. - 1 Ano - Primeiro trimestre: 700 g/mês (25 g/dia). Segundo trimestre: 600 g/mês (20 g/dia) Terceiro trimestre - 500 g/mês (15 g/dia) Quarto trimestre - 400 g/mês (10 g/dia) - 2 Anos - Primeiro semestre: 200 g/mês. Segundo semestre: 180 g/mês Peso ao nascimento: duplica com 5m, triplica com 12m, quadruplica com 2,5a. Peso 1 ano: duplica 5a, triplica 10a, quadruplica 14a. • COMPRIMENTO/ESTATURA: - 1 Ano ganha cerca de 25 cm - - Primeiro trimestre (10 cm) - Segundo trimestre (7 cm) - Terceiro trimestre (5 cm) - Quarto trimestre (3 cm) 17 NICOLE MALHEIROS – MEDICINA - 2022.1 - 1 a 2 anos ganha 12 – 13 Cm/ano - - 2 a 3 anos ganha 8 cm/ano - - 3 a 4 anos ganha 7 cm/ano - Maiores de 4 anos: 4 – 6 cm/ano. Duplica estatura do nascimento de 04 a 05a. Triplica estatura do nascimento de 12 a 13a 1º estirão: 0 a 2a 2º estirão: adolescência • PERÍMETRO CEFÁLICO: Nascimento = 33 cm a 35 cm - Primeiro ano = 12 cm - - 1 Trimestre: 2 cm/mês - 2 Trimestre: 1 cm/mês - 2 Semestre: 0,5 cm/mês 2 anos = 47,5 cm 2cm/ano 3 anos = 49 cm 5 anos = 51cm 12 anos = 53 a 54 cm (tamanho adulto) Avaliação do PC pelos gráficos de percentil: escores Z • Perímetro torácico • Circunferência abdominal • Dobras cutâneas - Rastreamento para displasia evolutiva do quadril: Duas manobras devem ser realizadas logo nas primeiras consultas até os 2 meses, testando um membro de cada vez a partir das manobras de Barlow (provocativa do deslocamento) e Ortolani (sua redução). Manobra de Barlow é um teste provocativo realizado com quadris e joelhos do recém-nascido fletidos. Seguram-se as pernas gentilmente, com a coxa em adução (A), e o examinador aplica uma força no sentido posterior. A manobra é positiva (B) se o quadril é deslocável (luxável) (Fonte: PORTO, 2014). A manobra de Ortolani é o reverso de Barlow. O examinador segura as coxas do recém-nascido e gentilmente realiza a abdução do quadril enquanto move anteriormente o trocanter com os dois dedos (A). A manobra é positiva (B) quando a cabeça do fêmur luxada retorna ao acetábulo com um “clunk” palpável quando o quadril é abduzido (Fonte: PORTO, 2014). - Ausculta cardíaca: Assim como em todo atendimento médico, a ausculta da frequência cardíaca (FC) deve ser realizada. Logo, é importante saber as faixas de FC, bem como a FC média em cada etapa da infância, podendo em caso de discrepâncias pensar em possibilidades diagnósticas. 18 NICOLE MALHEIROS – MEDICINA - 2022.1 - Frequência Respiratória: observar frequência, amplitude dos movimentos,facilidade ou dificuldade para realizar os movimentos. - Aferição da pressão arterial: deve ser aferida rotineiramente nas crianças com mais de 3 anos. *Quanto mais nova a criança, maior é a FC e FR e menor é a PA. Ao final de toda consulta de Puericultura devem ser elaborados no mínimo 6 diagnósticos (havendo outros diagnósticos estes devem ser elencados após). Podemos usar o mnemônico “CEVADA” para memorizar estes diagnósticos. - IMPORTÂNCIA DA PUERICULTURA NA REDUÇÃO DA MORTALIDADE INFANTIL - A identificação dos recém-nascidos com baixo peso ao nascer torna-se fundamental para a prevenção da morbimortalidade infantil, pois aponta para a necessidade de intensificar os cuidados tanto à mãe quanto ao filho, de realizar a visita domiciliar na primeira semana após o parto e de aumentar a frequência das consultas de puericultura, priorizando ações preventivas que contribuam para a redução da incidência das doenças prevalentes nesse grupo etário. Além disso, a puericultura contribui para a identificação de patogenias de maneira precoce, trazendo mais segurança para a criança e para a família. 2. DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR Avaliar: • Comportamento geral • Consciência • Memória • Orientação • Comunicabilidade 19 NICOLE MALHEIROS – MEDICINA - 2022.1 • Compreensão • Fala • Escrita • Atividade motora • Sinais de irritação meníngea → REFLEXOS PRIMITIVOS NO RN: são respostas automáticas e estereotipadas a um determinado estímulo externo, que estão presentes ao nascimento, mas são inibidos ao longo dos primeiros meses. Avalia a integridade do SNC e sua persistência demonstra disfunção neurológica. . Reflexo de Moro: após extensão dos membros superiores, ocorre o fechamento simétrico e bilateral dos mesmos seguido por choro. . Sucção reflexa: sucção vigorosa ao estimular os lábios. Reflexo de busca: o RN se vira para o lado em que os lábios foram tocados . Reflexo tônico-cervical assimétrico: após rotação da cabeça, observa-se extensão do membro superior ipsilateral à rotação e flexão do membro superior contralateral. Preensão palmoplantar: após tocar palma das mãos e pés do RN ocorrerá o fechamento dos mesmos. . Apoio plantar: após apoio do pé do RN sobre superfície dura, observa-se extensão das pernas. Marcha reflexa: ao inclinar o tronco do RN seguro pelas axilas, observa-se cruzamento das pernas, uma à frente da outra. . Reflexo de Galant: após estímulo tátil na região dorso lateral, observa-se encurvamento do tronco ipsilateral ao estímulo. Reflexo da escada: após estimulo tátil do dorso do pé estando o bebê seguro pelas axilas, observa-se elevação do pé como se estivesse subindo um degrau de escada. MARCOS DO DESENVOLVIMENTO: . 01 m: segue com os olhos . 02 mm: sorriso social . 03 mm: sustenta a cabeça . 04 mm: segura objetos . 05 mm: gira sobre o abdome . 06 mm: senta com apoio . 07 mm: preensão palmar . 08 mm: pinça digital . 09 mm: fica sentado sem apoio . 10 mm: engatinha . 11 mm: fica de pé e anda com apoio . 12 a 14 mm: anda sem apoio (deambular). 20 NICOLE MALHEIROS – MEDICINA - 2022.1 É importante orientar aos pais a respeito dos estímulos que devem ser oferecidos à criança constantemente para que a mesma desenvolva suas habilidades na idade adequada. - SITUAÇÕES ESPECIAIS – Nos casos confirmados de deficiência, ofereça apoio psicossocial e emocional às famílias e informe sobre os direitos das pessoas com deficiência, tais como: passe livre de transporte, benefício do INSS e educação inclusiva. Quanto mais cedo a família tem informações sobre as dificuldades e as necessidades da criança, maior a chance de criar alternativas e obter respostas mais favoráveis. 1. Acompanhamento da criança com síndrome de Down: As crianças com síndrome de Down geralmente apresentam várias comorbidades, como malformações cardíacas, alterações visuais e auditivas, anormalidades gastrointestinais, apneia obstrutiva do sono, otites, infecções respiratórias, distúrbios da tireoide, obesidade, luxação atlantoaxial, entre outras, que precisam de diagnóstico e de tratamento precoces. Se as condições clínicas permitirem, essas crianças devem ser encaminhadas para estimulação precoce já nos primeiros dias, mesmo antes do resultado do cariótipo. Para o acompanhamento do crescimento e do desenvolvimento, existem curvas e tabelas específicas (tabela encontrada na caderneta da criança). 2. Autismo: A detecção precoce do autismo é fundamental para a imediata intervenção. Até o momento, inexistem exames laboratoriais ou marcadores biológicos para a identificação do autismo, a qual se dá pela avaliação do quadro clínico e pela observação do comportamento. Tipicamente aparece antes dos 3 anos de idade e caracteriza-se por desvios qualitativos na comunicação, na interação social e no uso da imaginação. As crianças com autismo, quando crescem, desenvolvem habilidades sociais em extensão variada. No caso de suspeita, é importante orientar os pais/cuidadores e encaminhá-los para locais que possam fazer o diagnóstico e o tratamento 3. CRESCIMENTO NA INFÂNCIA - INTERPRETANDO OS GRÁFICOS DA CADERNETA DA CRIANÇA – • A linha verde corresponde ao escore z 0. As outras linhas indicam distância da mediana. • Um ponto ou desvio que esteja fora da área compreendida entre as duas linhas vermelhas indica um problema de crescimento. • A curva de crescimento de uma criança que está crescendo adequadamente tende a seguir um traçado paralelo à linha verde, acima ou abaixo dela. • Qualquer mudança rápida nessa tendência (desvio da curva da criança para cima ou para baixo do seu traçado normal) deve ser investigada para determinar a causa e orientar a conduta. • Um traçado horizontal indica que a criança não está crescendo, o que necessita ser investigado. 21 NICOLE MALHEIROS – MEDICINA - 2022.1 • Um traçado que cruza uma linha de escore z pode indicar risco. O profissional de saúde deve interpretar o risco baseado na localização do ponto (relativo à mediana) e na velocidade dessa mudança. • Com relação às curvas de perímetro cefálico, é importante lembrar que as alterações do desenvolvimento infantil são mais sensíveis e precoces do que o crescimento da cabeça. As crianças menores de 2 anos devem ser medidas deitadas (comprimento). Crianças com 2 anos ou mais devem ser medidas de pé (altura). Existe uma diferença de 0,7cm entre a estatura da criança medida deitada e em pé. Assim, se uma criança de 2 ou mais anos tiver sua estatura aferida deitada, o valor encontrado dever ser diminuído de 0,7 antes de ser registrado no gráfico de 2 – 5 anos e, do mesmo modo, se uma criança menor que 2 anos for medida de pé, o valor encontrado deve ser acrescido de 0,7 antes de ser registrado no gráfico de zero – 2 anos Exemplo do escore z relacionado ao peso: 4. CALENDÁRIO VACINAL BCG ID: o mais precocemente possível, em RN com peso > ou = a 2.000 g. Em casos de histórico familiar, suspeita de imunodeficiência ou RNs cujas mães fizeram uso de biológicos durante a gestação, a vacinação poderá ser postergada ou contraindicada. A revacinação com BCG não é recomendada mesmo para crianças que não desenvolveram cicatriz vacinal, pela ausência de evidências de que a repetição traga benefício adicional. HEPATITE B: a) Aplicar a 1ª dose nas primeiras 12 horas de vida IM. b) O esquema de 4 doses pode ser adotado quando é utilizada uma vacina combinada que inclua a vacina hepatite B, ou seja, a 1ª dose ao nascer, com a vacina isolada, e aos 2, 4 e 6 meses de idade com DTPw-HB-Hib ou DTPa-HB-VIP-Hib. c) Se mãe HBsAg+, administrar vacina nas primeiras 12 horas de vida e HBIG o mais precocemente possível (até sete dias após o parto). Crianças
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