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Objetivos 1. Compreender as alterações fisiológicas da menopausa 2. Listar os fatores de risco que influenciam na menopausa precoce e tardia 3. Identificar os sinais e sintomas da menopausa 4. Discorrer sobre os critérios diagnósticos e manejo da menopausa Definição O climatério é definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como o período de vida da mulher compreendido entre o final do período reprodutivo até a senilidade, considerado o período não reprodutivo. Apresenta duração variável, mas em geral, ocorre entre 40 a 65 anos. Dentro deste período de climatério ocorre a menopausa, que é um marco dessa fase e corresponde ao último ciclo menstrual espontâneo da mulher, reconhecida após 12 meses consecutivos de amenorreia. Se dá em média aos 51 anos de idade, sendo considerada como menopausa precoce quando se estabelece antes dos 40 anos de idade, e tardia após os 55 anos. o Sendo assim: climatério é um período e a menopausa é uma data. Fisiopatologia As alterações na dinâmica hormonal que se iniciam na transição menopausal, se manifestam por diversas mudanças fisiológicas que podem acarretar em comprometimento na qualidade de vida dessas mulheres. Essas manifestações clínicas podem ser muito variáveis entre as pacientes. Alterações precoces: Alterações do ciclo menstrual: irregularidade. Tende a se iniciar com encurtamento dos ciclos e progredir para períodos de amenorreia cada vez mais longos até a parada total dos ciclos. O padrão de fluxo menstrual pode variar, sendo comum ocorrer sangramento aumentado. Sintomas vasomotores: fogacho. É o sintoma mais comum da transição menopausal e pós-menopausa inicial, sendo referido por mais de 80% dessas mulheres. Aquelas com maior índice de massa corporal e as tabagistas apresentam sintomas vasomotores com maior frequência, além de mais intensos. Manifesta-se como uma súbita sensação de calor intenso que se inicia na face, pescoço, parte superior dos troncos e braços, depois se generaliza e é seguida por enrubecimento da pele e subsequente sudorese profusa. Observa-se aumento do fluxo sanguíneo cutâneo, taquicardia e pode ser acompanhado de palpitações e sensação de ansiedade. Isso se dá devido a uma instabilidade do centro termorregulador hipotalâmico, e seu mecanismo exato ainda é desconhecido. Cada episódio dura aproximadamente de dois a quatro minutos e ocorre diversas vezes no decorrer do dia. É particularmente comum à noite, prejudicando a qualidade do sono e contribuindo para irritabilidade e cansaço durante o dia, além de diminuição na capacidade de concentração. Em recente estudo, evidenciou-se que os sintomas vasomotores duram em média 7,4 anos, sendo 4,5 anos no período pósmenopáusico. A persistência dos fogachos nas mulheres negras é maior se comparada à das mulheres de outras e, chegando a 10 anos. O melhor preditor para a persistência dos fogachos é o início dos sintomas em fase precoce da transição menopausal. Entre outros fatores relacionados à maior duração dos sintomas vasomotores, estão a percepção do estresse, ansiedade e sintomas depressivos no início dos sintomas e a maior sensibilidade aos fogachos. Distúrbios do sono: menor duração, episódios de despertar noturno e menor eficácia do sono, estão entre os sintomas mais referidos pelas mulheres na pós-menopausa, presentes em até metade delas. A menor duração do sono é responsável por sequelas orgânicas como aumento da prevalência de hipertensão e diabetes melito, além de alterações psicológicas como cansaço, depressão e ansiedade. Alterações do humor: a mais comum é a depressão, que parece acumular riscos para seu desenvolvimento a partir da perimenopausa inicial, perimenopausa tardia e pós- menopausa. O mecanismo pelo qual as mulheres climatéricas apresentam esse aumento de risco ainda é menopausa fisiologia da desconhecido. A variação dos níveis séricos de estrogênio parece estar mais associada com efeitos depressivos do que com a própria concentração hormonal absoluta. Dados recentes apontam para relação do aumento nos níveis de testosterona com depressão, independentemente do estágio menopausal. Alguns fatores como a presença de sintomas vasomotores, a falta de suporte social, os eventos estressantes no decorrer da vida, a perda da capacidade reprodutiva e o próprio envelhecimento propiciam transtornos psicológicos associados que também podem contribuir para o quadro depressivo ou ansiolítico. Alterações do eixo hipotálamo-hipófise-ovários • Durante a vida reprodutiva da mulher, o hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH) é liberado de forma pulsátil pelo hipotálamo e se liga aos seus receptores na hipófise para estimular a liberação cíclica das gonadotrofinas: LH e FSH. Essas gonadotrofinas, por sua vez, estimulam a produção de estrogênio e progesterona, e também do peptídeo hormonal inibina. • Durante o ciclo reprodutivo da mulher, o estrogênio e a progesterona exercem feedback positivo e negativo sobre a produção das gonadotrofinas hipofisárias e sobre a amplitude e a frequência da liberação de GnRH. Já a inibina exerce uma importante influência no feedback negativo sobre a secreção de FSH pela adeno- hipófise. • Durante a vida produtiva da mulher, o eixo hipotálamo- hipofisário sofre alterações no metabolismo dopaminérgico e diminuição dos receptores estrogênicos. No final da transição menopáusica, a mulher passa a apresentar redução da foliculogênese e maior incidência de ciclos anovulatórios. • Além disso, nesse período, os folículos ovarianos sofrem uma taxa acelerada de perda até que, finalmente, ocorre um esgotamento no suprimento de folículos, reduzindo ainda mais a secreção de inibina. • Com a insuficiência ovariana na menopausa, a liberação de estrogênio cessa, ativando o feedback negativo. Como consequência, o GnRH é liberado com frequência e amplitude máximas, sendo assim, os níveis circulantes de FSH e LH aumentam e se tornam quatro vezes maiores que no ciclo reprodutivo. Alterações ovarianas • A senescência ovariana é um processo que se inicia efetivamente na vida intrauterina, no interior do ovário embrionário, em razão da atresia de oócitos programada. A partir do nascimento, os folículos primordiais são ativados continuamente, amadurecem parcialmente e, em seguida, regridem. Essa ativação folicular prossegue em um padrão constante, independente de estimulação hipofisária. • Uma depleção mais rápida dos folículos ovarianos se inicia no final da quarta e início da quinta décadas de vida e se mantém até o momento em que o ovário menopáusico é praticamente destituído de folículos. • Em média, uma mulher pode ter aproximadamente 400 eventos ovulatórios durante sua vida reprodutiva. Isso representa um percentual muito pequeno quando comparado aos 6 a 7 milhões de oócitos presentes na 20a semana de gestação, ou mesmo dos 400.000 oócitos presentes no nascimento. • O processo de atresia dos folículos não dominantes é o principal evento que leva, finalmente, à perda da atividade ovariana e à menopausa. Alterações nos esteroides suprarrenais • O sulfato de desidroepiandrosterona (SDHEA) é produzido quase exclusivamente pela suprarrenal. Com o avanço da idade, observa-se declínio na produção suprarrenal de SDHEA. Outros hormônios suprarrenais também são reduzidos com a idade. A androstenediona atinge seu ponto máximo entre 20 e 30 anos de idade, e caindo para 62% em relação a esse nível em mulheres com idade entre 50 e 60 anos. A pregnenolona diminui em 45% entre a vida reprodutiva e a menopausa. • Os ovários contribuem para a produção desses hormônios durante os anos reprodutivos, porém, após a menopausa, somente a glândula suprarrenal mantém essa síntese hormonal. Alterações no nível de globulina de ligação ao hormônio sexual • Os principais esteroides sexuais, estradiol e testosterona, circulam no sangue ligados a um transportador de glicoproteínasproduzido no fígado, conhecido como globulina de ligação ao hormônio sexual (SHBG). • A produção de SHBG declina após a menopausa, o que pode aumentar os níveis de estrogênio e testosterona livres ou não ligados. Alterações endometriais • As alterações microscópicas que ocorrem no endométrio refletem diretamente o nível sistêmico de estrogênio e de progesterona e, consequentemente, podem ser muito diferentes dependendo da fase da transição menopáusica. • Durante a fase inicial da transição menopáusica, o endométrio reflete ciclos ovulatórios que prevalecem nesse período. • Durante o estágio final da transição menopáusica, a anovulação é muito comum, e o endométrio refletirá o efeito do estrogênio atuando sem oposição à progesterona. Portanto, alterações proliferativas ou alterações proliferativas desordenadas são achados frequentes no exame patológico de amostras de biópsia endometrial. • Com a menopausa, o endométrio se torna atrófico em razão da ausência de estimulação estrogênica. Fatores influenciadores Inúmeras influências ambientais, genéticas e cirúrgicas podem acelerar o envelhecimento ovariano. Por exemplo, o tabagismo antecipa a idade da menopausa em aproximadamente dois anos (Gold, 2001; Wallace, 1979). Além disso, quimioterapia, radioterapia pélvica, cirurgias ovarianas e histerectomia também podem resultar em antecipação da menopausa. Sintomas do climatério • Embora o climatério e a menopausa sejam eventos fisiológicos na biologia da mulher, o aparecimento ou não de sintomas dependerá não somente de variações hormonais próprias desse período, mas também de fatores socioeconômicos. • No período do climatério ocorrem alterações na fisiologia da mulher, caracterizadas por alterações hormonais, modificações funcionais, como disfunções menstruais e sintomas vasomotores, modificações morfológicas, como atrofia mamária e urogenital, alterações da pele e mucosas, além de alterações em sistemas hormônio-dependentes, como o cardiovascular e esquelético. Tais mudanças repercutem na saúde geral da mulher, podendo alterar sua autoestima e qualidade de vida, e também na longevidade. Manifestações menstruais • No período da perimenopausa o intervalo entre as menstruações pode diminuir devido ao rápido amadurecimento dos folículos, o que ocorre pelos elevados níveis de gonadotrofinas ou os intervalos menstruais podem estar aumentados pela persistência dos níveis de estrógeno e ausência de progesterona. Quando ocorre a menstruação, como o endométrio está hiperplasiado por essas alterações hormonais, o sangramento pode ser abundante e com maior duração. Obs.: A anovulação é a causa mais comum de sangramentos erráticos durante a transição, no entanto é importante considerar outras causas como hiperplasia e carcinoma endometrial, neoplasias sensíveis ao estrogênio, como pólipos endometriais e leiomiomas uterinos, e episódios relacionados com gravidez. Manifestações neurogênicas/ vasomotoras • As manifestações neurogênicas compreendem os sintomas mais comuns da síndrome do climatério: ondas de calor, conhecidas como fogachos, sudorese, calafrios, palpitações, cefaleia, tonturas, parestesia, insônia, perda da memória e fadiga. • O fogacho é um sintoma muito frequente na perimenopausa. A sua frequência não segue um padrão, podendo ser diário, semanal ou mensal. Cessa, na maioria das vezes, sem que qualquer tratamento seja feito, entretanto, algumas mulheres irão experimentar estes desconfortos por vários anos após a menopausa. - A patogênese dos fogachos não é conhecida, mas é aparentemente originária no hipotálamo e pode estar relacionada com a queda estrogênica, levando à formação diminuída de catecolestrógenos no cérebro. - Outra hipótese é que a diminuição nos níveis estrogênicos levaria à queda nas concentrações dos receptores de β- endorfinas, resultando na perda da inibição da atividade noradrenérgica e, consequentemente, estimulação dos neurônios produtores de GnRH. • A maioria das mulheres que experimenta os fogachos descreve sensações de ondas de calor que ocorrem no tórax, pescoço e face, esse desconforto dispara a resposta termorreguladora normal para o calor, incluindo sudorese e vasodilatação cutânea, o que leva à ruborização da Manifestações psicogênicas • As limitações impostas e a insegurança proveniente do quadro clínico exacerbado, em decorrência de forte deficiência estrogênica, podem influir desfavoravelmente no estado emocional da mulher e interferir no relacionamento familiar, na adaptação sexual e na integração social. • Alguns sintomas psíquicos atribuídos a essa fase são: diminuição da autoestima, irritabilidade, labilidade afetiva, sintomas depressivos, dificuldade de concentração e memória, dificuldades sexuais e insônia. Manifestações no metabolismo ósseo • Sabe-se que a idade está associada com progressiva rarefação do esqueleto, dessa forma, a perda óssea e as fraturas osteoporóticas são bastante comuns nas mulheres na menopausa. Essa situação acontece devido à queda de estrogênio que diminui a atividade dos osteoblastos e aumenta a atividade dos osteoclastos. • Assim, não se forma osso e, o que é mais importante, há reabsorção; a matriz óssea se desfaz e libera cálcio, ocorrendo alta remodelação óssea e instalando-se progressivamente a osteopenia e a osteoporose. Manifestações no metabolismo lipídico • Os esteroides sexuais podem influenciar o metabolismo lipídico e induzir alterações nas apolipoproteínas que constituem a parte proteica do sistema de transporte dos lipídeos. Tanto a apolipoproteína A (apo-A) como a apolipoproteína B (apo-B) mostram aumento significativo como resultado do decréscimo dos estrógenos sanguíneos. • Antes da menopausa, os níveis de LDL são menores e os de HDL são maiores nas mulheres se comparados com homens da mesma idade. Após a menopausa, os níveis de LDL aumentam, com tendência para partículas menores, mais densas e potencialmente mais aterogênicas, enquanto os níveis de HDL diminuem. Obs.: A deficiência estrogênica da pós-menopausa é considerada como fator relevante na etiopatogenia da doença cardiovascular e das doenças cerebrovasculares isquêmicas. Manifestações urogenitais • Devido à origem embriológica comum, tanto a bexiga quanto a uretra e órgãos genitais têm respostas semelhantes às mudanças hormonais, especialmente ao estrógeno. Sendo assim, a deficiência estrogênica ocasiona atrofia epitelial de tais órgãos e dos tecidos de sustentação, manifestando-se com prolapsos genitais, sintomas vaginais como ressecamento, sangramento e dispareunia, e sintomas uretrais como disúria, frequência e urgência miccional. Manifestações tegumentares • No climatério ocorrem alterações em todas as camadas da pele, que variam com a vulnerabilidade individual, determinada geneticamente, e a influência de agentes externos e internos, que agem sobre ela durante a vida. • O hipoestrogenismo atua diminuindo a produção de colágeno pela alteração da polimerização dos mucopolissacarídeos. Consequentemente a derme diminui a síntese de ácido hialurônico resultando na diminuição do conteúdo de água. • Com o avançar da idade, a pele perde a elasticidade, os músculos enfraquecem e ficam frouxos, o coxim subcutâneo dissolve-se e a pele mais afinada perde o apoio, permitindo o aparecimento das rugas. • Dada à redução no número de melanócitos, podem aparecer manchas hipocrômicas ou formação de sardas e melanose nas áreas expostas ao sol, devido à hiperplasia de melanócitos da junção dermoepidérmica. Outras alterações • À medida que as mulheres evoluem para a menopausa, elas experimentam mudanças na função sexual que são multifatoriais e compreendem domínios biológicos, psicológicos e sociais. Os sintomas climatéricos, principalmente os fogachos e a dispareunia são fatores associados à disfunção sexual. • A histologia dasmamas após a menopausa é de progressiva involução de todos os tecidos componentes da glândula, exceto o adiposo, ficando mais pesadas, flácidas e pêndulas. Diagnostico De maneira geral, o diagnóstico de transição menopáusica pode ser feito com a comprovação de sintomas próprios da idade e exame físico completo. Entretanto, muitos sintomas característicos da menopausa também podem refletir condições patológicas e, em muitos casos, há indicação de exames para excluir essa possibilidade. É evidente que uma mulher de 50 anos com irregularidade menstrual, fogachos e ressecamento vaginal esteja na transição menopáusica. Outros testes, como dosagem de FSH e de estradiol, são necessários para comprovar insuficiência ovariana. Entretanto, no grupo de transição menopáusica, os níveis de FSH devem ser normais. A avaliação deve incluir dosagem de FSH, mesmo nos casos em que mulheres muito mais jovens se apresentem com sintomas semelhantes. Sempre que ocorrer insuficiência ovariana antes dos 40 anos, a condição geralmente é patológica. Portanto, é importante considerar a hipótese de investigar para verificar a presença de anormalidades cromossômicas, infecções, distúrbios autoimunes, ou causas iatrogênicas, como radiação ou quimioterapia. Exame físico Durante a consulta da paciente, é imprescindível fazer um exame físico completo para comprovar alterações associadas ao envelhecimento e à transição menopáusica. Exame constitucional É importante registrar variáveis, como estatura, peso e IMC, que podem ser usadas para orientar as pacientes sobre exercício físico, perda ou ganho de peso. Além disso, a avaliação da distribuição do peso e da circunferência abdominal permite identificar a presença de obesidade truncal, que representa fator de risco importante de comorbidade. A perda de estatura pode estar relacionada com osteoporose e com fraturas vertebrais por compressão. Portanto, é prudente medir a estatura precocemente. O monitoramento da pressão arterial é uma medida bastante efetiva de rastreamento para hipertensão arterial, uma condição muito comum nessa população. Exame de cognição O declínio cognitivo não é comum em mulheres na transição menopáusica, embora queixas de esquecimento ou de pensamentos esparsos possam fazer parte do processo normal de envelhecimento. Nas pacientes preocupadas com a possibilidade de declínio cognitivo pode-se realizar testes de rastreamento. Exame psicossocial A investigação sobre bem-estar psicossocial faz parte da avaliação da transição. Os médicos devem fazer perguntas diretas sobre depressão, ansiedade e funcionamento sexual ou, se preferirem, podem apresentar questionários específicos para rastreamento de problemas psicossociais Exame dermatológico Alterações na pele associadas com deficiência estrogênica incluem afinamento e enrugamento. Além disso, várias lesões da pele estão comumente associadas ao envelhecimento e ao foto envelhecimento. A inspeção cuidadosa para verificar a presença de nevos anormais ou de exposição solar excessiva é importante para encaminhar a paciente, se necessário, para um dermatologista para investigação de câncer de pele. Exame das mamas Durante a transição menopáusica, os níveis estrogênicos diminuem e o tecido glandular das mamas é substituído gradualmente por tecido adiposo. O tecido mamário e as axilas devem ser inspecionados e palpados cuidadosamente. É extremamente importante documentar e avaliar sinais como descarga papilar, alterações na pele, inversão dos mamilos e massas. Exame da pelve O exame da vulva pode revelar perda de tecido conectivo que resulta em contração dos lábios maiores. Os lábios menores podem desaparecer completamente, e, com frequência, há estreitamento do introito vaginal. O exame da vulva permite verificar a presença de hiperemia, atrofia ou fibrose. Nas mulheres que tiverem queixa de dor, é importante verificar se há cicatriz de laceração, episiotomia ou de alguma cirurgia. Com o exame metódico da vulva, é possível encontrar áreas específicas com maior sensibilidade. Com o exame de toque usando uma extensão com algodão é possível localizar e reproduzir a dor da paciente. Caracteristicamente, o exame vaginal revela canal vaginal estreito e epitélio vaginal fino. A aparência clássica da vagina atrófica inclui ausência de rugas e mucosa vaginal pálida e seca. Com frequência, os tecidos epiteliais são friáveis e pode-se observar a presença de petéquias na submucosa. Os marcadores de atrofia vaginal incluem pH vaginal acima de 5,0 e alteração no índice de maturação da parede vaginal, com predominância de células basais. A cultura vaginal pode revelar a presença de bactérias patogênicas normalmente não encontradas na vagina. Além da avaliação ginecológica-padrão – ou seja, exame bimanual e especular –, a inspeção externa e interna deve se focalizar na musculatura da pelve e na força e no tônus musculares vaginais e pélvicos, assim como na mobilidade e na integridade da fáscia e dos tecidos conectivos. É importante determinar o grau de flexibilidade do introito e de secura ou atrofia da mucosa. o Não menos importante é a avaliação da integridade dos órgãos pélvicos e da possibilidade de prolapso de bexiga, útero e reto, solicitando à paciente que realize a manobra de Valsalva para observar se há cistocele, retocele ou prolapso de colo uterino ou de vagina. Exames laboratoriais Dosagem de gonadotrofinas É possível identificar alterações bioquímicas antes de evidências de irregularidade nos ciclos menstruais. Por exemplo, em muitas mulheres com mais de 35 anos, no início da fase folicular do ciclo menstrual, os níveis de FSH podem aumentar sem elevação concomitante do LH. Esse achado está associado a prognóstico reservado para fertilidade. Níveis de FSH acima de 40 mUI/mL têm sido usados para documentar insuficiência ovariana associada à menopausa. Dosagem de estrogênio Os níveis estrogênicos podem estar normais, elevados ou baixos dependendo do estágio da transição menopáusica. Somente na menopausa, esses níveis são extremamente baixos ou indetectáveis. Além disso, os níveis estrogênicos são usados para avaliar a resposta das mulheres ao tratamento hormonal. A maior parte dos médicos prefere manter o estradiol sérico em níveis fisiológicos entre 50 e 100 pg/mL enquanto selecionam e ajustam a terapia de reposição. Índice de maturação estrogênica O índice de maturação é um meio de baixo custo para avaliar as influências hormonais nas mulheres. As amostras para medir o índice de maturação podem ser coletadas durante o exame especular da vagina, simultaneamente com o esfregaço de Papanicolaou. Na prática diária, a importância do índice de maturação na avaliação da paciente tem sido reduzida pelo uso crescente de ensaios mais simples para dosagem sérica de FSH e estradiol. Entretanto, o índice de maturação ainda é muito usado atualmente em pesquisas para avaliar a eficácia de agentes utilizados nos tratamentos de sintomas da menopausa. Marcadores urinários e séricos de reabsorção e formação óssea A remodelagem é um processo natural normal que mantém a resistência esquelética, possibilita reparos em microestruturas e permite a homeostase de cálcio. Durante a remodelagem, os osteoblastos sintetizam inúmeras citocinas, peptídeos e fatores de crescimento que são liberados na circulação. Sua concentração reflete a taxa de formação óssea. Os marcadores da formação e da reabsorção ósseas são muito úteis para estimar a taxa de remodelamento ósseo. Esses marcadores bioquímicos são utilizados para identificar perda óssea acelerada. Vários estudos transversais mostraram que a taxa de remodelamento ósseo, avaliada pelos marcadores, aumenta na menopausa e se mantém elevada. Os marcadores de reabsorção óssea podem ser preditores úteis de risco de fraturas e de perda óssea. Qualquer elevação nesses marcadores pode estarassociada a aumento no risco de fratura em mulheres de mais idade, embora os dados não sejam uniformes. Tratamento O tratamento é focado no alivio de sintomas climatéricos, sendo os principais sintomas tratados os fogachos e a secura vaginal. A terapia de reposição hormonal (TRH) continua sendo uma possibilidade terapêutica importante para mulheres no climatério, devendo-se sempre lembrar que quando bem indicada, ela deve fazer parte de uma estratégia global que inclua recomendações concernentes a atividade física, alimentação saudável, combate ao tabagismo e ao excesso de peso, entre outros. A orientação é tratar as sintomáticas com menopausa menor que 10 anos ou abaixo dos 60 anos. Contraindicação: nos casos de câncer de mama, doença hepática ativa, Ca de mama e endométrio, porfiria, sangramento vaginal de causa desconhecida, doenças coronarianas ou cerebrovascular, LES, meningioma, histórico de trombose venosa profunda, tromboembolismo pulmonar, infarto agudo do miocárdio ou acidente vascular cerebral. O principal hormônio utilizado na terapêutica é o estrogênio, que é o melhor para minimizar os fogachos. A reposição hormonal pode ser por esquema puro estrogênico ou combinado a progesterona. • Em pacientes histerectomizadas a reposição deve-se apenas por estrogênio, em contra partida, mulheres com útero a terapêutica é combinação do estrogênio e da progesterona, já que a progesterona é usada para proteção endometrial. Ao se indicar e escolher a forma apropriada de reposição hormonal a cada caso deve-se levar em conta os seguintes parâmetros fundamentais: • Janela de oportunidade para início da terapia de reposição hormonal • Vias de Administração da terapia de reposição hormonal • Esquemas de terapia de reposição hormonal propriamente ditos Janela de oportunidade A Associação Brasileira de Climatério (SOBRAC) cunhou em 2004 o termo “janela de oportunidade”, indicando que haveria um momento propício para o início da terapia de reposição hormonal após a menopausa. Dessa forma, a terapia de reposição hormonal deveria ser iniciada nos primeiros meses ou anos após a menopausa para que se pudesse pensar em ausência de risco cardiovascular. Enquanto isso, a International Menopause Society (IMS) publicou recomendações em 2007 que consideraram a existência de tal “janela de oportunidade”. Segundo a posição oficial da IMS, não há evidência de benefício da terapia de reposição hormonal em doença cardiovascular instalada, mas existe potencial para prevenção se iniciada na transição menopáusica, no entanto, não se recomenda a indicação da terapêutica apenas com a finalidade de proteção cardiovascular. Vias de administração da terapia de reposição hormonal Os hormônios da terapia de reposição hormonal podem ser administrados por via oral ou parenteral. A via oral é mais difundida pela facilidade de administração e a via parenteral é representada no Brasil principalmente por via transdérmica, via percutânea, implante subdérmico, via vaginal e via intramuscular. Dentre estes, os mais utilizados são os transdérmicos e os percutâneos. Via oral Quando o hormônio é administrado por via oral, ele é absorvido no tubo digestivo, atinge o sistema porta chegando ao fígado, no qual os esteroides são parcialmente metabolizados e também exercem influências no metabolismo. Apenas após essa passagem hepática é que os hormônios da terapia de reposição hormonal chegarão à circulação sistêmica que os levará aos diversos órgãos e tecidos onde seus efeitos são desejados. Com isso, a “primeira passagem hepática” favorece mudanças enzimáticas impactando na cascata de coagulação e, portanto, aumentando o risco de doença tromboembólica venosa. Além disso, o elevado nível do estrogênio no fígado na administração por via oral também interfere nos processos hepáticos do metabolismo dos lipídeos e das lipoproteínas. É por este motivo que o estrogênio por via oral eleva os níveis séricos de HDL e diminuiu os de LDL. Todavia, faz também com que os níveis de triglicerídeos sejam aumentados. Via parenteral Com a administração parenteral, o estradiol administrado atinge primeiramente a circulação sistêmica e apenas depois chega ao fígado onde será metabolizado. Isso é mais próximo de como o ovário entrega o estradiol endógeno na circulação, ou seja, via circulação sistêmica. Sendo assim, a dose administrada pode ser menor, adquirindo o mesmo efeito, não apresentando os efeitos da primeira passagem hepática. Observando então os efeitos da via de administração do estrogênio, pode- se fazer uma escolha mais adequada a cada caso. Obs.: Para mulheres as quais haja maior preocupação com o risco de doença tromboembólica venosa, deve-se evitar a via oral e, caso indicada a terapia de reposição hormonal, deve- se escolher a via transdérmica. Com relação ao perfil lipídico, o estrogênio por via oral é mais eficaz para melhorar o padrão das frações do colesterol, já que diminui LDL e aumenta HDL. Todavia, é necessário observar que a via oral aumenta os níveis de triglicerídeos, assim para mulheres que os apresentem elevados, deve-se escolher a via não oral. Esquemas de terapia hormonal Os esquemas podem ser estrogênicos puros, estroprogestagênicos/terapia hormonal combinada e outras opções terapêuticas, como: tibolona, anticonvulsivantes ou inibidores seletivos da recaptação da serotonina. Esquemas de estrogênios puros Esse esquema apresenta indicação exclusivamente para mulheres histerectomizadas. Pela via oral, podem ser utilizados o estradiol ou os estrogênios conjugados, enquanto pela via transdérmica, percutânea ou subdérmica, o estradiol é o esteroide disponível. O estrogênio deve ser administrado de forma contínua, uma vez que podem ocorrer sintomas climatéricos nos intervalos de esquemas cíclicos. Os esquemas com dose baixa são os preferidos para iniciar o tratamento, pois apresentam grande eficácia no controle dos sintomas, e é recomendado que seja utilizada a menor dose para atingir o efeito desejado. Esquemas estroprogestativos /combinados Podem ser realizados em esquemas contínuos ou cíclicos, sendo recomendado um mínimo de 12 ou 14 dias de administração de progestagênio por ciclo, a fim de se reduzir o risco de hiperplasia e de carcinoma endometrial. No entanto, o esquema cíclico vem sendo questionado, por ter a possibilidade de não evitar as alterações endometriais neste esquema. Em geral, os progestagênios são administrados por via oral, com exceção do acetato de norestisterona que também está disponível em associação com estradiol por via transdérmica. O dispositivo intrauterino liberador de levonorgestrel é uma alternativa a fim de se obter redução dos eventos adversos associados ao progestagênio sistêmico. Um terceiro esquema estroprogestativo é o de progestagênio intermitente, no qual há alternância de períodos de três dias só de estrogênio seguidos por três dias com estrogênio e progestagênio e assim, sucessivamente. O produto disponível no mercado traz estradiol associado ao norgestimato. As doses de progestagênios empregadas são extremamente variáveis a depender do tipo de progestagênio, do esquema escolhido, da dose de estrogênio cujo efeito endometrial deve ser contraposto pelo progestagênio e da via de administração. Referencias HOFFMAN, Barbara L. et al. Ginecologia de WILLIAMS. 2 ed. Porto Alegre. Artmed. 2014.
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