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FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS FMU Mércia Alves de Souza Freitas RA 2964934 Turma 3108A04 Atividade Prática Supervisionada – APS Parecer Jurídico São Paulo 2022 PARECER JURÍDICO Assunto: medicina e segurança do trabalho; assédio moral; relação de emprego dos representantes comerciais autônomos; contrato de estagiários; conduta criminosa contra a empresa; pagamento das comissões. 01. Dos questionamentos O que fazer em relação aos riscos nas atividades desenvolvidas na empresa? Os tratamentos vexatórios a que são submetidos os funcionários pelos seus superiores geram ações de indenizações? E quando não são pela empresa considerados ofensivos? Representantes comerciais autônomos possuem relação de emprego? Qual o procedimento para contratação de estagiários? Denuncia por roubo a funcionário com licença de acidente de trabalho, não pode demitir por justa causa? Parcela salarial fixa paga aos empregados desonera a empresa de qualquer reflexo no pagamento de comissões? 02. Da fundamentação A empresa possui quadro de empregados diretos os quais são um diretor, um gerente, quatro assistentes e quatro auxiliares da área administrativa; um diretor, oito supervisores (um deles exerce atribuições de gerência), vinte e oito vendedores, além de 80 representantes comercias autônomos e 20 estagiários, todos subordinados a diretoria comercial. Foram muitos os problemas apontados para a realização do presente parecer. Por questões didáticas vamos separar a análise de cada apontamento em tópicos, que segue: A) Medicina e segurança do trabalho Segundo a Consolidação das Leis Trabalhistas em seu artigo 162, todas as empresas estão obrigadas a manter serviços especializados em medicina e segurança do trabalho de acordo com normas a serem expedidas pelo Ministério do Trabalho. O objetivo da medicina e segurança do trabalho é prevenir acidentes e doenças relacionados à atividade laboral. Sendo, portanto, os empregadores responsáveis por garantir ambientes de trabalho seguros e condições que preservam a saúde dos colaboradores. Cabe à empresa informar aos trabalhadores sobre os riscos presentes em sua atividade, bem como ações para a segurança coletiva e, quando necessário, o fornecimento de Equipamentos de Proteção Individual (EPI). Para o controle e prevenção de acidentes foi criada pela Norma Regulamentadora 05 a CIPA – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes, onde um grupo formado por colaboradores indicados pela empresa e pelos trabalhadores é responsável pelo cumprimento das ações de medicina e segurança do trabalho nas empresas, além de promoção de boa prática. B) Do assédio moral Entende por assédio moral aquele em que se submete, sem descanso, uma pessoa a pequenos ataques repetitivos, sendo considerado assédio pela sua insistência. E definição de moral seria o bem e o mal, aquilo que se faz e o que não se faz o que é aceitável ou não na sociedade. Em seu livro, a autora Marie France Hirigoyen, traz uma definição de assédio moral no trabalho que traduz sobre sua definição, segundo ela: o assédio moral no trabalho é definido como qualquer conduta abusiva (gesto, palavra, comportamento, atitude...) que atente, por sua repetição ou sistematização, contra a dignidade ou integridade psíquica ou física de uma pessoa, ameaçando seu emprego ou degradando o clima de trabalho. (HIRIGOYEN,2017) A proteção do ambiente de trabalho encontra respaldo na Constituição federal em seu artigo 6º e, como o assédio moral prejudica a saúde física e mental do trabalhador, o empregador que expuser seus empregados a situações vexatórias, humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas estará cometendo assedio moral, implicando em ações indenizatórias, denegrindo a imagem da empresa perante o mercado e a sociedade. Punições também são aplicadas a funcionários que cometerem assédio moral contra outros funcionários da empresa, cabendo o que dispõe o artigo 482, “j” da CLT, demissão por justa causa. C) Dos representantes comerciais autônomos A Lei 4886/65 em seu artigo 1º define por representante comercial autônomo aquele que “exerce a representação comercial autônoma a pessoa jurídica ou a pessoa física, sem relação de emprego, que desempenha, em caráter não eventual por conta de uma ou mais pessoas, a mediação para a realização de negócios mercantis, agenciando propostas ou pedidos, para, transmiti-los aos representados, praticando ou não atos relacionados com a execução dos negócios.” Devem-se seguir requisitos obrigatórios para que não haja vínculo entre os profissionais e a empresa, como elaborar um contrato de prestações de serviços e exigir do contratado o seu registro no Conselho Regional dos Representantes Comerciais. D) Dos estagiários Para contratar um estagiário é preciso recorrer à Lei 11788/2008, para que siga procedimentos necessários na contratação, a qual não caracteriza vínculo empregatício. No caso a formalização é feita por um Termo de Compromisso de Estágio (TCE), onde consta principalmente a carga horária permitida, que é de no máximo 6 (seis) horas diárias ou 30 (trinta) horas semanais, as funções estipuladas ao estagiário, a duração do estágio, entre outras. A contratação não envolve encargos trabalhistas e apesar da limitação da carga horária prevista na lei, nada impede que seja contratado mais de um estagiário, desde que a cada dez contratados haja um supervisor. E) Da demissão por justa causa no caso de furto Alguns princípios regem a extinção do contrato de trabalho por justa causa, tais como a gravidade da causa; sua causa determinante; a atualidade da falta; a proporcionalidade entre a falta e a punição e que a falta esteja prevista em lei. Aponto alguns requisitos importantes para a demissão por justa causa: A tipicidade da conduta; A gravidade do ato faltoso; A proporcionalidade; A ausência de dupla punição e A imediatidade da punição. No caso de furto comprovado, o artigo 482, “a” da CLT o ato de improbidade gera a justa causa. F) Das comissões A legislação trabalhista contempla várias formas de remuneração ao empregado, entre elas a comissão. Veja o que demonstra o artigo 457, §1º da CLT: Art. 487: Compreendem-se na remuneração do empregado para todos os efeitos legais, além do salário devido e pago diretamente pelo empregador, como contraprestação do serviço, as gorjetas que receber. § 1º - Integram o salário não só a importância fixa estipulada, como também as comissões, percentagens, gratificações ajustadas, diárias para viagens e abonos pagos pelo empregador. Os valores pagos aos empregados, como comissão, possuem natureza salarial, portanto geram reflexos, os pagamentos bem como sua incidência no repouso semanal remunerado devem ser registrados em folha de pagamento, não sendo feito seu registro gera prejuízo ao empregado no que refere ao FGTS; férias remuneradas; 13º salário; seguro desemprego; horas extras e aviso prévio. Não existe lei que reconheça ou autorize o pagamento por parte do empregador ao empregado da verba “comissão”, sem os devidos registros e retenções de tributos e encargos legais. 03. Da conclusão Conclui-se, portanto que a empresa deve tomar algumas medidas importantes, sendo elas: a- A constituição de Comissão Interna de Prevenção de Acidentes – CIPA- prevista no artigo 164 da CLT, onde será composta por representantes da empresa e dos empregados de acordo com os critérios que vierem a ser adotados na regulamentação do Ministério do Trabalho. b- Convém destacar a importância do compliance trabalhista, isto é, um programa de integridade adotado pelas empresas, cujo escopo é formado por condutas e políticas que visam mitigar riscos e prejuízos e evitar a responsabilização por condutas ilegais,por meio da adequação e respeito às leis, acordos e convenções coletivas de trabalho. Importante um código de ética e conduta com treinamentos para os gerentes, além da orientação que esse tipo de comportamento, seja qual for a condição hierárquica do empregado, acarreta demissão por justa causa, estando presentes essa entre outras condições nas alíneas do artigo 482 da CLT; c- Decidir se o quadro de representantes comerciais será mantido de forma autônoma ou regularizado nos termos da CLT, para que não haja descontos indevidos ou ações pertinentes para o ressarcimento desses descontos; d- Regularizar a contratação dos estagiários conforme determina a Lei dos estagiários; e- A conduta de qualquer funcionário, seja ele de qualquer setor, estando dentro do estabelecido no artigo 482 da CLT, incide em justa causa, portanto deverá ser atribuída ao funcionário que cometeu assédio moral a extinção do contrato por justa causa, como exemplo aos demais funcionários não incorrerem no mesmo erro; f- Incluir a comissão na folha de pagamento integralizada ao salário, para que haja os reflexos obrigatórios contidos na legislação. É o parecer. São Paulo, 28 de abril de 2022. Advogado... OAB nº... Referências BRASIL. Decreto-lei nº 5452 de 1º de maio de 1943. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm. Acesso em 28 abr. 2022; BRASIL. Lei nº 4886 de 9 de dezembro de 1965. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4886.htm. Acesso em 28 abr. 2022; BRASIL. Lei nº 11.788 de 25 de setembro de 2008. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11788.htm. Acesso em 28 abr. 2022; HIRIGOY, Marie France. Mal estar no trabalho: redefinindo o assédio moral. 9 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2017. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4886.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11788.htm