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FORMAO DO MUNDO CONTEMPORANEO

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1.1. O tempo da ética, da história e da razão
Tudo o que conhecemos da actual sociedade ocidental, da ciên-
cia à arte, da economia à política, da técnica à indústria, entre mui-
tos outros aspectos, tem as suas origens nas profundas mudanças ope-
radas na sociedade, na economia e nos meios de produção a partir de
meados do século XVIII. Podemos afirmar que o acontecimento que
marca o fim do e inaugura uma nova era é a Revolu-
ção Francesa. 
Os antecedentes que proporcionaram este ambiente revolucioná-
rio e as consequentes transformações na Europa, foram o 
e a (1773-1783). Pois,
se por um lado os acontecimentos além-Atlân-
tico estimularam a Revolução Francesa, com a
Tomada da Bastilha e a posterior Declaração
dos Direitos do Homem em 1789, por outro
lado devemos reconhecer a influência determi-
nante do pensamento iluminista na sociedade
burguesa em ascensão. 
Sem dúvida, o crescimento demográfico e o
desenvolvimento técnico e científico verificados
na Europa desde o início de Setecentos, favore-
ceram esta ruptura social e cultural e a imple-
mentação dos novos valores. Enaltecendo a
Razão, o Progresso e a fé no Homem, os filóso-
fos iluministas criticaram as injustiças sociais, o
absolutismo tirânico e a intolerância religiosa,
defendendo um novo mundo fundado no pro-
gresso técnico e científico, na moralização dos
costumes, no liberalismo político e na educação
do povo. Era o tempo dos homens “ilumina-
dos”, cultos e informados; o tempo da ,
do conhecimento e da razão.
Pretendendo aplicar estes princípios em
todas as vertentes da sociedade (cultural, social
e política), os iluministas encontraram no lema
da Revolução Francesa – “liberdade, igualdade,
fraternidade” – o fundamento da sua interven-
ção. Daqui nasceria um estado republicano,
democrático, laico e burguês, ideais e valores
que viriam a estender-se por toda a Europa e
Estados Unidos, com a progressiva implantação
do . Consolidava-se uma sociedade
dividida em classes – capitalistas, burgueses e
trabalhadores –, num fenómeno a que não era
alheia uma outra grande revolução: a Revolução
Industrial, ocorrida nos finais do séc. XVIII.
liberalismo
ética
AmericanaRevolução
Iluminismo
Antigo Regime
6 I CAPÍTULONeoclassicismo e Romantismo 1. A formação do mundo contemporâneo
Antigo Regime. O Ancien
Régime foi a expressão
máxima das monarquias
absolutistas europeias,
atingida em França sob o
reinado de Luís XIV, le Roi
Soleil. Representou, 
por isso, um tipo 
de poder centrado 
no clero e na nobreza,
pelos quais distribuía 
os privilégios 
e a riqueza, enquanto
mantinha uma sociedade
de raízes feudais e uma
economia rural.
Iluminismo. Movimento
filosófico que se
desenvolveu no 
século XVIII e que 
defendeu o pensamento
racional, a liberdade 
e o progresso científico,
como único caminho 
para o bem-estar 
e a felicidade do homem.
Surgido em Inglaterra 
com Locke, teve forte
expressão em França, 
com Voltaire, Diderot,
Montesquieu e Rousseau, 
e na Alemanha com Kant 
e Lessing.
Revolução Americana.
Iniciadas as hostilidades
contra o domínio inglês 
em 1773, a Independência
da América foi declarada
em 1776, e a Constituição
promulgada no ano
seguinte. Em 1783, a
Inglaterra reconhecia a
América como Estado
autónomo.
Ética. Ciência da moral.
Liberalismo. Doutrina
política que defende os
direitos e as liberdades
individuais, a livre-
-concorrência (a valorização
pela formação intelectual 
e pelo trabalho) 
e a igualdade dos
indivíduos perante 
a lei.
1 Sir Isaac Newton,
Louis-François Roubiliac, 1755.
Isaac Newton (1642-1721) foi um
ilustre matemático, físico,
astrónomo e filósofo inglês que,
entre outras contribuições para a
ciência moderna, enunciou as leis da
gravitação universal, publicadas em
1687. 
Fundamentando-se em princípios
racionais e matemáticos, o
pensamento de Newton influenciou
os cientistas setecentistas da Idade
da Razão e do Iluminismo, para
quem o conhecimento do mundo e
das coisas devia resultar da
observação científica, da explicação
empírica e da demonstração através
da experimentação.
Na origem de um mundo novo,
estava uma fé ilimitada no potencial
“iluminado” da razão humana.
7I CAPÍTULONeoclassicismo e Romantismo
PERÍODOS
1700-1750
HISTÓRIA ARTE
1751-1800
1801-1850
Período do Primeiro Império em França (Napoleão),
1804-1815
Invasões Napoleónicas de Espanha e Portugal 
(Guerras Peninsulares), 1807-1813
Estadias de Lord Byron em Espanha e Portugal 
(Sintra), 1809-1811
Revolução Liberal em Portugal, 1820
Constituição Liberal em Portugal, 1822
Construção do primeiro caminho-de-ferro em 
Inglaterra, por Stephenson, 1822-1825
Circulação do primeiro comboio de passageiros entre
Liverpool e Manchester, 1830
Invenção do motor eléctrico, 1831
Invenção do telégrafo eléctrico, 1833
Proudhon publica O Que É a Propriedade?, 1840
Revolução Popular em França; implantação 
da Segunda República, 1848
Karl Marx publica A Luta de Classes em França, 1848
1.a Exposição Universal de Londres, 1851
Início do Segundo Império em França 
(Napoleão III), 1852
2.a Exposição Universal de Paris, 1855
Os Pestíferos de Jafa, Gros, 1804
3.a Sinfonia (Heróica), Beethoven, 1804
A Coroação de Josefina, David, 1805-1807
Arco do Triunfo, Chalgrin, Paris, 1805-1837
Paulina Borghese, Canova, c. 1807
A Banhista de Valpinçon, Ingres, 1808
O 2 de Maio de 1808, Goya, c. 1814
Os Fuzilamentos de 3 de Maio de 1808, Goya, 1814
Caminhante sobre Um Mar de Névoa, Friedrich, 1818
A Jangada de Medusa, Géricault, 1818-1819
Pavilhão Real, John Nash, Brighton, 1818
O Mar Polar, Friedrich, 1824
A Liberdade Guiando o Povo, Delacroix, 1830
Curso de Filosofia Positiva, A. Comte, 1830-1842
A Marselhesa, François Rude, 1833-1836
Casas do Parlamento, Barry e Pugin, 1835
Lições de Estética, Hegel, 1835-1838
Invenção da fotografia, 1839
A Lei do Contraste Simultâneo, Chevreul, 1839
Palácio da Pena, D. Fernando II e Barão de Eschwege, 
Sintra, 1840-1847
Produção de tubos de tinta de óleo, 1841-1842
Vapor numa Tempestade, Turner, 1842
As Sete Lâmpadas da Arquitectura, J. Ruskin, 1849
Palácio de Cristal, Paxton, Londres, 1851
Jardins de Stourhead, Henry Hoare, c. 1720
Chiswick House, Lord Burlington, 1725
Diderot e D’Alembert publicam a Enciclopédia,
1751-1777
Ensaio sobre Arquitectura, Laugier, 1753
Igreja de Santa Genoveva (Panteão), Soufflot, Paris,
1755-1790
Reflexões sobre a Imitação das Obras de Arte Gregas,
Winckelmann, 1756
Salinas de Chaux, Ledoux, Arc-et-Sans, 1775-1779
Cenotáfio de Isaac Newton, Boullée, 1784
O Juramento dos Horácios, David, 1784
Don Giovanni, Mozart, 1787
As Antiguidades de Atenas, Stuart e Revett, Londres, 1787
Cupido e Psique, Canova, 1787-1793
A Crítica da Faculdade do Juízo, Kant, 1790
Marat Assassinado, David, 1793
Casa de Thomas Jefferson, Thomas Jefferson, 
Monticello (Virginia), 1796-1806
A Maja Vestida e A Maja Desnuda, Goya, 1800
Declaração da Independência dos Estados Unidos 
da América e Promulgação da Constituição,
1776-1777
Primeira ponte em ferro, em Coalbrookdale, 
Inglaterra, 1777-1779
Reconhecimento dos Estados Unidos como nação 
independente por parte da Inglaterra, 1783
Máquina a vapor por James Watt, 1788
Revolução Francesa – Tomada da Bastilha e 
Declaração dos Direitos Humanos, 1789
Promulgação da Constituição Francesa, 1791
Abertura ao público de museus, galerias e colecções
reais, 1792-1795
Período do Directório em França, 1795-1799
Campanhas Napoleónicas em Itália e no Egipto, 
1798-1799
Exposição de obras saqueadas nas campanhas 
de Itália e do Egipto, 1798
Guerras Napoleónicas na Europa, 1799-1815
Máquina a vapor por Thomas Newcomen, 1712
Vulgarização das viagens e interesse pelas 
antiguidades, 1730-1760Escavações arqueológicas nas cidades romanas 
de Herculanum e Pompeia, 1738-1748
QUADRO CRONOLÓGICO – PERÍODO 1750-1850
A Revolução Industrial, mais do que causa, é uma consequência
de todo este processo de transformação social e cultural. Para além da
explosão demográfica – com a duplicação da população europeia, maio-
ritariamente rural, entre 1750 e 1850 –, a invenção da máquina a vapor
(por James Watt, em 1788) foi o grande “motor” de transformação eco-
nómica e social. Enquadrando-se no espírito iluminista que preconi-
zava o progresso, o desenvolvimento e a construção do novo mundo, a
Revolução Industrial provocou uma alteração profunda na sociedade.
As fábricas multiplicaram-se junto às fontes de recursos e de comuni-
cações, atraindo a população rural às cidades em busca de trabalho e
de melhor forma de vida. Primeiro em Inglaterra, devido às suas reser-
vas de carvão e ferro, depois em toda a Europa, a Revolução Industrial
expandiu-se por toda a Europa graças ao desenvolvimento dos cami-
nhos-de-ferro, um dos efeitos mais imediatos da máquina a vapor.
Porém, a utilização de máquinas para fabricar outras máquinas,
em substituição da mão-de-obra humana, foi o que mais revolucionou
a indústria. O emprego de máquinas para realizar tarefas simples mas
repetitivas, permitiu a criação da produção em série e a dispensa do tra-
balho humano, tendo como consequência imediata a redução dos cus-
tos e o aumento da produção. Os produtos estavam, assim, acessíveis
tanto à classe média como aos próprios trabalhadores. Pelo menos aos
que sobreviviam às condições desumanas em que trabalhavam nas fábri-
cas, aos prolongados horários de trabalho e às precárias situações de
habitação, de manutenção das famílias ou de educação dos filhos.
Enfim, assim era todo um quadro de vida reservado a uma classe ope-
rária impotente para reagir a uma burguesia cada vez mais rica. Quanto
à arte, reflexo e condição das conjunturas sociais e culturais, não dei-
xaria de traduzir este cenário pelos meios que lhe são próprios.
Quem primeiro se manifestou pela renova-
ção das artes foi Denis Diderot (1713-1784). Nos
célebres Salons, escritos que podemos considerar
os primeiros testemunhos da moderna crítica de
arte, Diderot expôs o que considerava dever ser o
objectivo da arte: representar os valores sociais
da época, exprimir os grandes ideais do indiví-
duo e, portanto, ter uma finalidade moral. Os
seus comentários, que inauguraram um novo
género literário – a crítica de arte –, mais do que
formular opinião acerca dos da Academia
(fig. 4), tiveram o mérito de alargar um espaço de
debate até então reservado a uma elite cultural.
Foi neste contexto que criou, juntamente com
d’Alembert (1717-1783), a Encyclopédie
, uma obra de referência onde se
afirmam os valores da experiência e da razão, e
se rejeita a tradição em nome do progresso e do
desenvolvimento social.
(Enciclopédia)
Salões
8 I CAPÍTULONeoclassicismo e Romantismo
3 Enciclopédia, frontispício da primeira
edição, Denis Diderot e Jean le Rond
d’Alembert, 1751-1777.
Inspirado pelo Dicionário das Artes
e das Ciências de Chambers
(Londres, 1728), Diderot criou uma
monumental publicação que
constituiu um poderoso instrumento
ao serviço das doutrinas filosóficas
do séc. XVIII. 
Porventura, o seu maior mérito foi
reunir à sua volta todos os eruditos,
cientistas, literatos e livres-
-pensadores, interessados em
modificar a sociedade.
Salões. Eram exposições
organizadas
periodicamente pela
Academia de Belas-Artes de
Paris, para mostrar os
trabalhos dos seus alunos e
dos seus membros. Os
prémios concedidos eram,
habitualmente, pensões de
estudo em Roma.
Enciclopédia. Com o título
original de “Enciclopédia, ou
dicionário racional das
ciências, das artes e dos
ofícios”, Diderot publicou,
entre 1751 e 1777, sete
volumes luxuosamente
ilustrados com as
conquistas
contemporâneas nas áreas
das ciências, da técnica e
das indústrias. Editaram-se
16 000 exemplares que
desempenharam um
enorme papel na difusão
do ideário progressista.
2 Busto de Denis Diderot,
Jean-Antoine Houdon, c. 1771.
Filósofo, escritor, crítico de arte e
erudito francês, Diderot foi um dos
mais ardentes impulsionadores do
ideário iluminista do séc. XVIII e,
sem dúvida, a personalidade mais
notável do seu tempo. 
A Enciclopédia, que foi a sua obra
de referência, não deixou de
adquirir uma função ideológica,
representando os valores da ciência
e do progresso social, em
detrimento da tradição e da cultura
do Antigo Regime.
9I CAPÍTULONeoclassicismo e Romantismo
4 Distribuição de Condecorações no
Salão de 1824, François-Joseph Heim,
1825.
Os Salões da Academia de Paris,
realizados anualmente, constituíram
a legitimação dos artistas que se
enquadravam nos parâmetros da
“arte oficial”. Destinados a exibir
os trabalhos finais dos alunos da
Academia, acabavam por ser o
pretexto para reunir artistas,
coleccionadores, críticos de arte e
toda a elite cultural da época que
perfilhavam dos mesmos valores e
conceitos estéticos segundo os
padrões do Classicismo. Daí que o
reconhecimento de um artista (e a
possibilidade de vender as suas
obras) passasse obrigatoriamente
pela exposição dos seus trabalhos
nos Salons.
5 A Galeria de Charles Towneley em Park
Street, Johann Zoffany, 1783.
A paixão antiquária que despertou
na aristocracia europeia,
especialmente a britânica, durante o
séc. XVIII, resultou tanto de um
genuíno interesse científico, como de
interesses comerciais, diplomáticos
e, também, de uma questão de
moda.
O gosto pela arte clássica associava-
-se, neste caso, a uma reacção ao
Barroco europeu e ao sistema social
e político que ele representava. Em
consequência das expedições à
Grécia e ao Próximo Oriente,
muitas obras foram trasladadas dos
seus lugares de origem para
colecções particulares e para
museus.
É este o tema de A Galeria de
Charles Towneley, que surge
sentado à direita, enquanto
antiquários e connaisseurs debatem
o seu refinado gosto clássico.
1.2. Fundamentos do Neoclassicismo
Uma das consequências mais imediatas do Iluminismo foi o inte-
resse pelo passado histórico, que motivou, entre outros fenómenos, a
redescoberta das civilizações da Antiguidade Clássica e Pré-Clássica.
Foi neste contexto que Napoleão, na sua fúria conquistadora e com
a aceitação da sociedade de então, empreendeu as célebres campanhas
ao Egipto (1798-1799), durante as quais recolheu o importante espó-
lio artístico e arqueológico que, ainda hoje, se encontra distribuído
pelos museus de Paris, Londres e Berlim. Este é, de resto, o pano de
fundo em que nasce a Arqueologia, uma ciência que se estrutura no
séc. XIX mas que tem os seus antecedentes na actividade dos artistas,
eruditos, coleccionadores e viajantes do século anterior.
Roma era, já desde o séc. XVI, o grande repositório arqueoló-
gico e lugar de eleição para curiosos e estudiosos da Antiguidade
investigarem as ruínas da cidade e as colecções particulares, em espe-
cial as do Vaticano. Foi a partir do estudo destas colecções que Johann
Joachim Winckelmann (1717-1768) elaborou a “História da Arte na
Antiguidade” em 1764. Neste texto, que inaugura a moderna Histó-
ria da Arte, este antiquário alemão rompeu com a antiga historiogra-
fia estabelecida por Vasari no séc. XVI, baseada na biografia de artis-
tas, bem como nas correntes que se limitavam ao estudo das fontes
escritas. Winckelmann aplicou ao estudo da arte clássica um sistema
de análise formal que lhe permitiu determinar a sua evolução histó-
rica e estabelecer os princípios estéticos que a regeram.
Igualmente importante foram as descobertas arqueológicas de
Herculanum (1738) e Pompeia (1748), duas cidades romanas do
século I, cujas escavações Winckelmann e o pintor seu compatriota A.
R. Mengs (1728-1779) acompanharam de perto, o que muito contri-
buiu para acentuar e divulgar o gostopelo clás-
sico (fig. 6). Aliás, neste capítulo da divulgação
distinguiu-se Giovanni Battista Piranesi (1720-
-1778), autor de inúmeras gravuras de grande
formato reproduzindo os principais monumen-
tos de Roma. As suas ilustrações, que enalteciam
a imponência da arquitectura romana, eram não
só testemunhos de uma civilização passada que
servia de modelo para o presente, como também
importantes fontes de informação e elementos
de estudo para o ensino nas .
Estavam lançadas as bases do Neoclassi-
cismo. Mais do que uma reacção à retórica do
Barroco ou às excentricidades do Rococó, este
foi um período artístico em que a arte se conci-
liou com a revolução, com as mudanças sociais
e culturais, reencontrando na estética clássica a
grande herança e principal fonte de inspiração.
Academias
10 I CAPÍTULONeoclassicismo e Romantismo
6 Auto-Retrato,
Anton Raphael Mengs, 1774.
Pintor alemão totalmente devotado
à cultura clássica, Mengs teve
juntamente com Winckelmann um
importante papel na revisão das
linguagens artísticas e na difusão da
cultura clássica. Tal como neste
auto-retrato, as suas obras reflectem
o espírito heróico, pragmático e
racional que marcou o
Neoclassicismo.
7 “Capriccio” arquitectónico,
Canaletto, 1765.
Nascido no impulso arqueológico
de meados do séc. XVIII, o
“capriccio” é um tratamento
pictórico, fantasioso e lírico das
ruínas antigas da cidade de Roma.
Para além do seu aspecto pitoresco,
essas construções são testemunho de
uma civilização distante, mas uma
referência a imitar. Por outro lado,
o seu estado fragmentário convidava
a reconstruir no imaginário o que o
tempo destruíra.
Academia. Herdando a
designação e o método da
antiga escola filosófica
fundada por Platão nos
jardins de Academo, em
Atenas, as Academias de
letras, artes e ciências
proliferam por toda a
Europa durante o
Setecentos, inscrevendo-se
na dinâmica iluminista e
progressista da época. 
Primeiro em Paris, depois
em Londres, as Academias
de Belas-Artes visavam o
ensino artístico, tendo por
método o estudo por
observação directa das
obras-primas da
Antiguidade Clássica.
Estudavam-se as ordens
arquitectónicas, os modelos
clássicos e os cânones,
através da cópia de
estampas, gravuras ou
modelos naturais.
11I CAPÍTULONeoclassicismo e Romantismo
8 Paisagem com Um Sacrifício a Apolo,
Claude Lorrain, 1662.
As cenas pastorais e as visões
poéticas de Lorrain, fruto das suas
longas estadias em Roma,
constituíram uma fonte de
inspiração para os paisagistas
neoclássicos dos sécs. XVIII e XIX.
Ainda no séc. XVII, Lorrain
desenvolve uma obra já
profundamente clássica, tanto no
tema como na plástica: a
representação de uma cena da
mitologia clássica – o pai de Psique
pede ajuda a Apolo para encontrar
um marido para a filha –, não é
senão um pretexto para o pintor
captar toda a eloquência da
paisagem romana na delicadeza da
sua atmosfera.
9 Pórtico de Uma Casa de Campo, 
Hubert Robert, 1773.
Na sequência da revalorização do
Classicismo, as ruínas antigas
constituem uma fonte de inspiração
privilegiada pelos pintores
setecentistas.
Mas, o fascínio provocado pelas
ruínas devia-se, também, a um certo
efeito de catarse provocado pelos
estados extremos da natureza:
perante a supremacia das forças
naturais, a destruição imperfeita da
obra humana era uma manifestação
da sua própria fragilidade. Neste
aspecto, e pela nostalgia que sugere,
a “poética das ruínas” anunciava a
aproximação ao Romantismo.
Os “caprichos” de ruínas tiveram
um dos seus maiores expoentes na
obra de Hubert Robert. As “suas”
ruínas, captadas a partir da
observação directa em Itália, são de
tal modo enaltecidas plasticamente,
que parecem ganhar um renovado
valor estético.
Ao limite, podemos afirmar que
esses monumentos são belos porque
são ruínas.
12 I CAPÍTULONeoclassicismo e Romantismo
1. O autor refere que “o Neoclassicismo não
consiste unicamente numa moda deco-
rativa antiquizante […]. A sua natureza
revela-se mais profunda.” Como explica
o autor a verdadeira essência do Neoclas-
sicismo? 
2. No texto podemos ler que “o regresso ao
antigo não passa de um meio de alcançar
este ideal.” A que ideal, ou ideais, se refere
o autor?
3. Que obra de Winckelmann é considerada
pelo autor como pioneira na elaboração
desta nova doutrina? E quais são as gran-
des ideias nela presentes?
O NEOCLASSICISMO E A EMERGÊNCIA DO MUNDO MODERNO
«As noções de Neoclassicismo, de Romantismo e de Realismo correspondem a
uma classificação tradicional e cómoda. Mas, se estas correntes se sucedem, também
coexistem e parcialmente se sobrepõem. O primeiro período (c. 1750-1815) com-
preende o final do reinado de Luís XV, o de Luís XVI (1774-1792), a Revolução e o pri-
meiro Império. É complexo, cruzado por correntes contrárias: o regresso ao antigo
é uma delas; mas, desde o princípio, o Neoclassicismo comporta fortes elementos
românticos e acontece os mesmos artistas inspirarem-se nas mesmas correntes. [...]
O Neoclassicismo não consiste unicamente numa moda decorativa antiquizante,
apenas com um efeito superficial. A sua natureza revela-se mais profunda. Trata-se
de uma reacção contra a frivolidade da arte e dos costumes da primeira metade do
século XVIII e contra as complicações do estilo “rocaille” ou “rococó”, condenado por
razões morais e estéticas. Os filósofos da “Luzes”, os autores da Enciclopédia, esfor-
çam-se por transformar a sociedade, quer pelo progresso científico e técnico (no
qual a Inglaterra detém um grande avanço), quer por um regresso à simplicidade e
à pureza “primitivas”: sonha-se com um mundo melhor, com uma espécie de “idade
de ouro” governada pela razão natural e pela justiça. Este fervilhar de ideias gene-
rosas conduz às revoluções políticas e sociais, americana primeiro, francesa depois,
donde emergirá o mundo moderno.
Propõem-se à gente nova exemplos de virtude cívica, de dedicação ao bem
público e à pátria, de energia e ascese, que na arte se traduzem na força plástica, pela
simplicidade da composição, do desenho e da cor, e pelo empobrecimento volun-
tário da técnica. O regresso ao antigo não passa de um meio de alcançar este ideal:
pedem-se assuntos morais à história da Grécia e da República Romana e uma lingua-
gem formal à arte greco-romana.
A Itália constitui o centro deste renascimento clássico. As escavações de Roma
vêm enriquecer as colecções dos Papas e dos particulares. Nasce em Florença e na
Toscana a “etruscomania”. A redescoberta, na Campânia, das cidades sepultadas
pela erupção do Vesúvio em 79 d. C. – Herculanum a partir de 1738, Pompeia um
pouco mais tarde – revela a existência de uma pintura antiga e de objectos de uso
quotidiano, testemunhas de uma Antiguidade viva, espantosamente próxima. Colec-
ções de estampas gravadas dão a conhecer estas obras, assim como os templos
dóricos da Grande Grécia.
Mais do que nunca Roma se torna uma cidade cosmopolita. Poucos são os artis-
tas europeus que se dispensam de se deslocar até lá. Teóricos alemães (Winckel-
mann, Mengs), italianos (Milizia), franceses (Caylus, Quatrémère de Quincy) elabo-
ram a nova doutrina. As Reflexões sobre a Imitação da Arte Grega em Pintura e em
Escultura (1755) causam sensação: o seu autor, Winckelman, entende que a escul-
tura grega representa a forma de arte mais próxima do “belo ideal” e que os artis-
tas modernos nela se devem inspirar. Nove anos mais tarde publica a sua História
da Arte Antiga (1764), em que pela primeira vez traça a evolução da arte grega. [...]
Muitos elementos românticos ou pré-românticos misturam-se na corrente neo-
clássica: é o aspecto irracional e subjectivo desta época complexa. A palavra
“sublime” ocupa lugar de relevo na estética do tempo. Para Diderot, o sublime é
aquilo que escapa à razão e às regras clássicas do belo,aquilo que exprime uma
grandiosidade sobre-humana. Confunde-se com o “génio”, ao qual a Enciclopédia
consagra um artigo antes de os românticos de 1830 dela se apoderarem: o génio de
Shakespeare opõe-se à beleza de Virgílio.»
Albert Châtelet e Bernard Philippe Groslier. História da Arte Larousse, vol. 2. 
Lisboa: Civilização, 1985, p. 450.
LeiturasLeituras
10 Cárceres, G. B. Piranesi, 1761.
A série de gravuras dos Cárceres
revela a obsessão de Piranesi pela
magnificência da arquitectura
romana, cujas dimensões ainda não
tinham sido alcançadas pela
arquitectura moderna.
O aspecto pitoresco destas
construções, complexas articulações
inspiradas nas ruínas antigas, é
superado pelo seu carácter visionário
e delirante. 
13I CAPÍTULONeoclassicismo e Romantismo
11 Galeria de Vistas da Roma Antiga, 
Giovanni Paolo Pannini, 1758.
Contagiado pelo fascínio que os
monumentos e as esculturas da
Antiguidade exerciam sobre a
sociedade da época, Pannini
representa nesta obra uma galeria
de pintura que, idealmente, pudesse
integrar as esculturas e as gravuras
mais famosas de Roma, centro das
artes e referência cultural e
espiritual daquele tempo. 
À direita podemos ver o célebre
grupo do Laocoonte.
12 Um Capricho Arquitectónico,
Francesco Guardi, 1770-1780.
No contexto da revalorização
iluminista da técnica, isto é, no
enquadramento dos meios e dos
processos artísticos num espírito
científico, o género da veduta (vista)
populariza-se entre os artistas. 
Trata-se de captar a realidade
através de processos rigorosos e
exactos, utilizando um instrumento
equipado com lentes e espelhos que
reflectem as imagens e permitem
estabelecer os seus contornos com
exactidão.
Um dos grandes mestres da veduta
foi Guardi que, nas suas visões
fantásticas dos lugares – o capriccio
–, acrescenta uma enorme
espontaneidade à pincelada, criando
uma atmosfera idílica e romântica.
Obras como esta revelam-nos
quanto o Neoclassicismo e o
Romantismo se inspiraram em
referências semelhantes.

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