Buscar

Apostila Bernoulli - Português livro 1

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 234 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 234 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 234 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

LINGUAGEM E LÍNGUA
Antes de iniciar os estudos acerca do texto, seus tipos e 
gêneros, é necessário entender o processo de comunicação 
humana, que ocorre por meio da linguagem. Sobre isso, 
observe a tirinha a seguir.
Disponível em: <http://bichinhosdejardim.com/nova-
comunicacao/>. Acesso em: 01 jul. 2019.
De que decorre o humor da tirinha? Qual reflexão é 
possível fazer sobre os processos de comunicação humana 
e sua evolução? De uma forma irônica e bem-humorada, 
a tirinha mostra como a linguagem é produto de uma 
cultura, pois contém as marcas de fatores históricos, sociais 
e ideológicos e, por isso, pode ser transmitida por gerações. 
Ela é considerada uma atividade humana por sermos dotados 
da capacidade de representar e expressar simbolicamente 
nossas experiências de vida e, também, adquirir, processar, 
produzir e transmitir conhecimento. 
Em outras palavras, essa linguagem é a manifestação 
da abstração humana. Ela pode ocorrer de modo verbal 
e não verbal, como expressão dos sentimentos (gestos, 
olhares, posturas, entonação de voz), realizações simbólicas 
determinadas (cores, sinais gráficos, sons, desenhos, 
imagens) e uso do signo (a palavra oral ou escrita).
A língua, por sua vez, é a forma verbal da linguagem 
de determinada comunidade e um dos instrumentos de 
interação sociocomunicativa, já que se vincula diretamente 
às práticas e aos papéis sociais. Ela se manifesta por meio 
de estruturas sintáticas, como frases, orações, períodos, 
e morfológicas (estrutura das palavras). Todavia, muito mais 
que isso, a língua traz consigo raízes históricas e culturais, 
varia no tempo, no espaço, nas diferenças sociais e se 
constrói e reconstrói pela ação dos seus falantes. 
O que é língua?
Nessa videoaula, vamos discutir os diferentes 
conceitos de língua.
C
la
ra
 G
om
es
 -
 
w
w
w
.b
ic
hi
nh
os
de
ja
rd
im
.c
om
A Língua Brasileira de Sinais (Libras), uma língua natural 
que surgiu espontaneamente da interação entre as pessoas, 
é utilizada por surdos brasileiros e por aqueles com quem eles se 
comunicam. Em 2002, ela foi oficializada como segundo idioma 
nacional e, em 2017, foi tema da redação do Enem.
Confira, a seguir, o alfabeto da Libras:
a b c d e
f G h i j
k l m n o
p q r s t 
u v w x y
z
A B C D E
F G H I J
K L M N O
P Q R S T
U V W
Z
X Y
Acesse o QR Code para saber como cada letra é representada: 
Essa língua caracteriza-se por ser gestual-visual-espacial, com 
estrutura e regras gramaticais próprias, apresentando inclusive 
variação regional, graus de formalidade e informalidade, como 
gírias, da mesma forma que a variação linguística da Língua 
Portuguesa. Alguns gestos podem representar expressões 
gestuais com sentidos similares aos usados no cotidiano pelos 
falantes do português. 
MÓDULO
01
FRENTE
A
3Bernoulli Sistema de Ensino
PORTUGUESA
LÍNGUA
Gêneros e Tipos Textuais 
Dentre outras, “doido” é uma gíria em comum da Libras e da 
comunicação gestual da Língua Portuguesa.
Acesse, no QR Code a seguir, um aplicativo que traduz 
mensagens de texto e áudio para a língua de sinais.
No processo de comunicação, vários elementos contribuem 
para que haja entendimento entre as partes envolvidas. 
Muitas vezes, para que o sentido pretendido pelo enunciador, 
falante de uma língua, seja alcançado, é necessária a 
combinação das linguagens verbal e não verbal, como é o 
caso do exemplo a seguir.
Nessa tirinha da Mafalda, personagem criada pelo 
quadrinista argentino Quino, as linguagens verbal e não 
verbal se complementam. O leitor cria uma pequena 
narrativa enquanto “lê” as imagens. Nos três primeiros 
quadrinhos, a personagem aparece medindo a própria 
cabeça, e não há nenhuma indicação verbal do que ela 
esteja fazendo: a imagem é que deve gerar os sentidos. 
No último quadrinho, em que há a presença de linguagem 
verbal, Mafalda se questiona a respeito da própria capacidade 
de apreender as informações que serão transmitidas a ela 
durante a vida. Se esse quadrinho fosse retirado, certamente 
o leitor teria dificuldade em compreender o sentido 
pretendido, já que o desfecho e a crítica sobre o excesso e 
a superficialidade das informações estão na fala da menina. 
Essa articulação de linguagens verbal e não verbal é uma 
estratégia típica dos quadrinhos, das charges, dos cartuns 
e da publicidade de maneira geral, como será visto nos 
exemplos a seguir.
©
Jo
aq
ui
m
 S
. 
La
va
do
 T
ej
ón
 (
Q
U
IN
O
),
 
TO
D
A
 M
A
FA
LD
A
/F
ot
oa
re
na
/Q
ui
no
 Div
ul
ga
çã
o
A imagem anterior é o anúncio de uma campanha que tem 
como objetivo conscientizar a população sobre a importância 
da doação de órgãos. Se no anúncio houvesse apenas a 
linguagem verbal, certamente o leitor compreenderia o 
sentido pretendido pela instituição. Contudo, a imagem 
de pulmões humanos, formados de roupas e brinquedos 
usados e descartados causa, no interlocutor um impacto 
muito maior, pois a relação de sentido com a frase “Você 
sempre doou o que não lhe servia” é construída e reafirmada. 
Dessa forma, há, nessa campanha, o apelo emocional, uma 
vez que a doação dos órgãos humanos é comparada à de 
objetos sem uso para alguns, mas que podem ser úteis 
para outros – tanto que as pessoas já estão habituadas a 
doá-los. Nesse sentido, está implícito que, após a morte, os 
órgãos não “servem” mais a quem os possuía e, por isso, 
podem ser doados.
 Div
ul
ga
çã
o
Texto: “Agora você vê.” / “Agora não.”
Já o exemplo anterior apresenta uma campanha, 
patrocinada por uma marca de automóveis, contra o 
consumo de álcool por quem dirige. Para compreender 
essa propaganda, o leitor precisa mobilizar vários 
conhecimentos, a fim de construir os sentidos pretendidos. 
Nela, há a imagem de duas latas de cerveja, que 
representam os retrovisores de um carro. No primeiro 
quadro, lata / retrovisor reflete a imagem de uma 
bicicleta, que estaria atrás do veículo cujo retrovisor 
é representado. No segundo, a lata aberta indica que 
o motorista consumiu a bebida contida ali. Nesse 
momento, a imagem da bicicleta não aparece mais, 
indicando que, ao ingerir uma bebida alcoólica, 
os sentidos do motorista ficam comprometidos e ele 
passa a não mais enxergar os veículos que transitam ao 
seu redor, podendo provocar, por isso, algum acidente. 
Frente A Módulo 01
4 Coleção 6V
No plano verbal, os dizeres “agora você vê” e “agora não” 
indicam essa alteração causada pela bebida e reforçam 
a mensagem transmitida pela imagem. Tais inferências 
permitem ao leitor apreender o sentido pretendido.
O processo de comunicação ocorre por alguma razão, 
algum objetivo, porque alguém tem algo a dizer a alguém 
e espera ser compreendido. Dessa maneira, para que a 
comunicação se efetive, é necessário que a mensagem faça 
sentido, não só para quem produz, mas também para quem 
recebe. Sobre isso, leia a tirinha do Calvin.
A ideia de língua como instrumento de interação social 
pode ser reconhecida na tirinha, em que o garoto Calvin 
diz para o seu pai que qualquer palavra pode ter qualquer 
significado, dependendo de quem a usa. Logo, como o pai 
não entenderá o significado das palavras que ele inventou, 
não poderão mais se comunicar. É importante lembrar 
que os significados das palavras estão relacionados a uma 
convenção, a um acordo coletivo que permite às pessoas 
reconhecerem esses significados e se comunicarem.
Por outro lado, o garoto não sabe que o pai também 
é detentor de um conhecimento linguístico que ele não 
compreende (gírias antigas, por exemplo). Isso mostra como 
a língua é mutável, adaptável, e como a sua apreensão é 
fundamental na interação sociocomunicativa. Assim, fatores 
como faixa etária, classe social, gênero, entres outros, 
podem interferir na interação entre os interlocutores, 
facilitando ou dificultando a comunicação.
Essa flexibilidade da língua, isto é, sua adaptação às 
situações sociocomunicativas nas quais ela se realiza, 
relaciona-se com a função exercida pela linguagem na 
construção de sentidosno mundo. No poema a seguir, 
de Manoel de Barros, o tema da atribuição de sentidos 
pela língua é abordado de maneira poética, por meio de 
metáforas. Leia-o.
Canção do ver
Por viver muitos anos dentro do mato moda ave
O menino pegou um olhar de pássaro –
Contraiu visão fontana.
Por forma que ele enxergava as coisas por igual
como os pássaros enxergam.
As coisas todas inominadas.
Água não era ainda a palavra água.
Pedra não era ainda a palavra pedra.
E tal.
As palavras eram livres de gramáticas e
podiam ficar em qualquer posição.
Por forma que o menino podia inaugurar.
Podia dar às pedras costumes de flor.
Podia dar ao canto formato de sol.
C
al
vi
n 
&
 H
ob
be
s,
 B
ill
 W
at
te
rs
on
 ©
 
19
92
 W
at
te
rs
on
 /
 D
is
t.
 b
y 
A
nd
re
w
s 
M
cM
ee
l S
yn
di
ca
tio
n
E, se quisesse caber em uma abelha, era
só abrir a palavra abelha e entrar dentro dela.
Como se fosse infância da língua.
CANÇÃO DO VER – In: Poesia Completa, 
de Manoel de Barros, Leya, São Paulo 
© by herdeiros de Manoel de Barros.
Nos versos de Manoel de Barros, a língua é utilizada por 
um menino que, por ter visão de ave, consegue absorver 
as coisas em sua essência, seus significados primeiros, 
ou seja, ter o olhar original, desprovido de associações 
prévias. A partir daí, ele cria seus próprios sentidos de 
mundo (“Pedra não era ainda a palavra pedra. / [...] 
Por forma que o menino podia inaugurar. / Podia dar às pedras 
costumes de flor.”), da mesma forma que Calvin se propõe a 
fazer na tirinha analisada, porém com objetivos diferentes. 
Na tirinha, há a intenção de prejudicar a comunicação, 
ao passo que, no poema, o ato de atribuir novos sentidos 
às coisas do mundo remete à ideia de “infância da língua”, 
que retoma exatamente o seu caráter maleável e as diversas 
possibilidades enunciativas proporcionadas pela linguagem 
nas situações sociocomunicativas.
O QUE É TEXTO?
O texto configura-se como o lugar em que se constitui 
um jogo interativo, e sua compreensão pode ser vista como 
uma atividade complexa de construção de sentidos, pois, 
para sua produção, são ativadas as estruturas linguísticas 
adequadas, a organização e a forma selecionadas, além 
dos conhecimentos (do autor e do leitor) construídos, 
ou reconstruídos, a partir de e para o processo comunicativo.
Para que o sentido seja estabelecido nesse processo, 
algumas peças são fundamentais:
• o locutor (enunciador / autor): aquele que diz, produz 
o texto, adotando estratégias que possam conduzir o 
interlocutor à construção dos sentidos pretendidos;
• o interlocutor (ouvinte / leitor): aquele a quem se 
dirige o locutor e que, a partir das pistas presentes no 
texto, dos seus conhecimentos e do contexto, constrói 
os sentidos que possibilitam a comunicação; 
• o texto propriamente dito, seus aspectos composicionais 
e sua forma de organização.
Diante disso, pode-se afirmar que usar a língua é uma 
forma de interagir com o outro, de agir socialmente, e isso só 
acontece por meio de textos; estes apresentam um conjunto 
de princípios, valores, significados e ideologias, ou seja, 
um discurso. Nesse sentido, todo discurso é socialmente 
posicionado, pois a identidade do locutor nunca é irrelevante; 
mulheres e homens, empregados e empregadores, entre 
outras categorias socialmente construídas, vão manifestar 
visões diferentes de mundo. Considerar esse aspecto é 
importante para produzir uma leitura menos ingênua e mais 
informada dos discursos que circulam na sociedade.
Um discurso pode se concretizar em forma de texto oral, 
escrito e multimodal. Observe a seguinte capa do jornal 
Meia Hora, publicação impressa que circula na cidade do Rio 
de Janeiro, a qual mescla linguagem verbal e não verbal. 
Gêneros e Tipos Textuais
LÍ
N
G
U
A
 P
O
R
TU
G
U
ES
A
5Bernoulli Sistema de Ensino
 Div
ul
ga
çã
o
A capa faz uma intertextualidade com o filme Liga 
da Justiça, cujos personagens (super-heróis) serviram 
como signos para uma crítica social e política acerca das 
dificuldades enfrentadas pela população no cotidiano da 
cidade do Rio de Janeiro. O discurso jornalístico incorporou 
o discurso do entretenimento para construir essa perspectiva 
crítica, ideologicamente marcada por um tom irônico, 
debochado, com o uso da linguagem informal, que reafirma 
o teor da publicação, de característica mais popular e 
sensacionalista. Para facilitar ao leitor do jornal a apreensão 
dos efeitos de sentido pretendidos, foram feitas legendas 
para identificar as qualidades de super-heróis, necessárias 
aos cidadãos para superarem os problemas da cidade, por 
exemplo, balas perdidas, vias fechadas, UPA, assédios no 
transporte público, queda de túnel e enchentes. 
Com base nisso, é possível afirmar que um texto é o 
resultado de um processo em que os sujeitos interagem 
por meio da linguagem. Nele são realizadas várias 
atividades linguísticas, cognitivas e sociais, que devem 
estar adequadas ao contexto sócio-histórico-cultural-
-comunicativo, à posição social dos interlocutores, à 
formalidade (ou não) da situação, ao meio de circulação 
e, por fim, à forma que esse texto terá.
Fatores de textualidade
Para que um texto não seja um conjunto aleatório de 
frases dispostas em uma sequência qualquer, ele deve 
obedecer a alguns critérios. Assim, denominam-se fatores 
de textualidade o conjunto de características que 
permitem que o texto seja um texto, e não um amontoado 
de frases. Cada texto abrange uma série de recursos, 
estratégias, relações e princípios para e em sua produção.
Um desses fatores é o princípio interacional, que, como 
já foi visto, é o diálogo, a reciprocidade comunicativa. 
O outro é o da intencionalidade, ou seja, sempre que 
falamos ou escrevemos, fazemos isso para alguém e 
por algum motivo e esperamos que o outro entenda 
e aceite o que propomos (aceitabilidade). Para que 
isso aconteça, é necessário que a situação de interação 
comunicativa seja adequada aos seus contextos e aos 
seus interlocutores (situacionalidade); que o outro tenha 
as informações ou conhecimentos de outros textos que o 
façam entender a mensagem enviada (intertextualidade); 
e que a mensagem acrescente informações e conhecimento 
ao interlocutor (informatividade). É importante, também, 
que o que for dito esteja interligado, com elementos que se 
relacionam de forma compreensível (coesão) e os sentidos 
e as ideias sejam lógicos e claros (coerência).
Observe os exemplos:
 Ro
dr
ig
o 
A
lv
es
A imagem anterior compõe a mensagem estabelecida por 
meio da palavra “Pare”, que, muito mais que um verbo no 
modo imperativo afirmativo ou uma palavra que signifique 
“detenha” ou “interrompa”, é um aviso ao motorista de que 
ele deve fazer uma parada obrigatória por alguns instantes, 
a fim de observar se algum outro veículo se aproxima 
ou deixar um pedestre passar. Nessa mensagem, estão 
operando os princípios de interação, intencionalidade 
(respectivamente, para quem e para que o texto se destina) 
e, até mesmo, intertextualidade, já que são usados símbolos 
verbal (palavra “Pare”) e não verbal (placa de sinalização 
indicando via de mão única e as faixas para passagem de 
pedestres) de normas do trânsito na composição da imagem. 
Contudo, seria aceitável esse aviso no chão apenas se não 
houvesse outra placa com uma seta, indicando a mão única 
da rua, conforme se vê na imagem. Nesse caso, o texto está 
correto, é socialmente compreendido, mas a sua função e 
seu sentido na situação comunicativa são inadequados, e a 
sinalização pode provocar acidentes, em vez de preveni-los. 
Percebe-se, assim, um problema na coerência do texto. 
Veja este outro exemplo:
Lesão
Desafio, máquina, tempo, banco, gente, milhas, mundo, 
momentos, flocos, reportagem. 
Turbulência, início, passeio, caminho, verdade, luz, orgulho, 
missão, jovem, dinheiro, sabor, sol, rede, qualidade, notícia, 
desconto, receitas.
 Proteção, barraco, ideia, concorrência, perda, promoção, 
amigos, história, excesso, mês, grupo, aluguel, máquina, 
assunto,claro, saberes. [...]
ANTUNES, Irandé. Textualidades: noções 
básicas e implicações pedagógicas. 1. ed. São Paulo: 
Parábola, 2017. p. 43-44. [Fragmento]
No exemplo anterior, por sua vez, há um amontoado de 
palavras sem organização sintática ou semântica que possa 
fazer sentido, mesmo com o título. Não é possível identificar um 
tema, fazer um resumo do conjunto de palavras, pois elas são 
aleatórias. Como um texto não é construído apenas das suas 
estruturas linguísticas, mas também das relações cognitivas, 
Frente A Módulo 01
6 Coleção 6V
sociais e interacionais mediadas por ele, não podemos, 
classificá-lo como texto, pois não há o que ser dito; não há 
relação entre seus constituintes; ele não é interpretável, ou 
seja, não preenche as condições para que possa funcionar 
como texto. 
Em textos de natureza mais artística e criativa, como 
os literários e os publicitários, é comum a subversão ou a 
desconstrução de um ou mais fatores de textualidade quando 
há a intenção de criar significados que instiguem, ou mesmo 
desafiem, o interlocutor de um texto. O trecho da crônica a 
seguir, de Carlos Drummond de Andrade, é exemplificativo 
desse caráter subversivo dos textos literários. Leia-o.
O que se diz
Que frio! Que vento! Que calor! Que caro! Que absurdo! 
Que bacana! Que tristeza! Que tarde! Que amor! Que besteira! 
Que esperança! Que modos! Que noite! Que graça! Que 
horror! Que doçura! Que novidade! Que susto! Que pão! Que 
vexame! Que mentira! Que confusão! Que vida! Que talento! 
Que alívio! Que nada...
Assim, em plena floresta de exclamações, vai se tocando pra 
frente. Ou para o lado. Ou para trás. Ou não se toca. Parado. 
Encostado. Sentado. Deitado. De cócoras. Olhando. Sofrendo. 
Amando. Calculando. Dormindo. Roncando. Pesadelando. 
Fungando. Bocejando. Perregando. Adiando. Morrendo.
Em redor, não cessam explosões interjetivas. Coitado! 
Tadinho... Canalha! Cachorro! Pilantra! Dedo-duro! Bandido! 
Querido! Amoreco! Peste! Boneco! Flor! 
E vêm outras vozes breves, no vão do vaivém:
[...]
ANDRADE, Carlos Drummond de. O que se diz. 
In: ANDRADE, Carlos Drummond de. O poder ultrajovem. 
Rio de Janeiro: José Olympio, 1973. p. 99. [Fragmento]
A enumeração aparentemente desordenada de expressões 
em cada um dos parágrafos, sem termos que estabeleçam 
entre elas e o todo relações de sentido, contraria os princípios 
da informatividade e da coesão. Isso colabora para a 
crítica ao discursos vazios e à banalização da linguagem já 
apresentada no título.
Fatores de textualidade
Essa videoaula trata dos fatores que possibilitam a 
textualidade, ou seja, as características que um texto deve 
ter para ser eficiente e cumprir seu objetivo de comunicação.
OS GÊNEROS TEXTUAIS
Conforme estudado até agora, a língua é produto das 
ações e interações sociais e históricas e materializa-se por 
meio de textos, os quais nem sempre são os mesmos para 
cada situação sociocomunicativa. Assim, há uma organização 
textual diferente, tendo em vista a adequação à circunstância 
de uso, ao propósito comunicativo, aos interlocutores, 
ao suporte (lugar físico ou virtual em que os gêneros são 
produzidos e publicados), ao contexto em que os textos 
são produzidos. A essas produções, ilimitadas, como são 
as práticas sociais, e consideradas “relativamente estáveis”, 
dá-se o nome de gêneros textuais.
Na prática, porém, o que são os gêneros? Como funcionam? 
Por que são “ilimitados” e “relativamente estáveis”? Nossa 
vida é permeada por situações comunicativas e, para 
cada uma delas, há uma intenção, um sujeito a quem nos 
direcionamos, uma situação na qual nos inserimos e uma 
maneira como transmitimos a mensagem. Então, sempre que 
ocorre uma comunicação verbal, oral, escrita ou multimodal, 
ela se enquadra em um gênero.
Gêneros 
textuais orais
Gêneros 
textuais escritos
Gêneros textuais 
multimodais
palestra, aula, 
sermão, discurso 
político falado, 
reportagens 
de telejornais, 
programa de 
rádio, conversas 
telefônicas e 
outros que 
utilizem a forma 
oral de interação.
carta, aviso, 
relatório, bula de 
remédio, receita 
médica, extrato 
bancário, mapa, 
infográfico, 
certidão de 
nascimento, 
enfim, uma 
quantidade 
ilimitada de 
possibilidades 
discursivas.
chats, posts, 
tweets, 
blogs, vlogs, 
ciberpoemas, 
infográficos, entre 
outros textos em 
que imagens, 
sons, textos 
verbais escritos 
e falados se 
articulam.
Os gêneros se constituem pela necessidade da coletividade, 
são maleáveis, adaptáveis, dinâmicos, situacionais, históricos 
e se materializam em instâncias ou domínios discursivos. 
Veja um exemplo de duas das inúmeras instâncias 
sociais (ou domínios discursivos) e os gêneros que nelas 
são produzidos, caracterizando-se principalmente por seus 
aspectos sociocomunicativos e funcionais, o que os fazem 
reconhecidos e nomeados, compreendidos e aceitos na 
comunidade discursiva.
prova 
exercício
apresentação 
resumo 
redação
Instância educacional Instância jornalística
anúncio
notícia
reportagem
propaganda
crônica
artigo
resenha
Existem, nessas instâncias, gêneros em comum, como o 
artigo e a resenha. Eles podem aparecer tanto no contexto 
educacional quanto no jornalístico, entretanto, possivelmente 
vão apresentar características diferentes e, já que estarão 
circulando em meios distintos, podem ter um propósito 
comunicativo diferente ou talvez precisem adequar o estilo 
de linguagem ao público e à situação sociocomunicativa. Essa 
adaptação à situação em que são produzidos é o que faz 
os gêneros textuais serem “relativamente” estáveis. Afinal, 
mesmo adaptados a outras condições, eles ainda serão 
reconhecidos e aceitos como um gênero textual determinado. 
Observe os dois textos a seguir:
Gêneros e Tipos Textuais
LÍ
N
G
U
A
 P
O
R
TU
G
U
ES
A
7Bernoulli Sistema de Ensino
Texto I
Para: caio.sousa@mtptecnologias.com.br; sofia.pereira@mtptecnologias.com.br; 
maria.clara@mtptecnologias.com.br
sandra.albuquerque@mtptecnologias.com.br;
gustavo.vaz@mtptecnologias.com.br
Assunto:
Cc:
enviar apagarX salvar
Reunião de planejamento primeiro semestre 2018
Prezados analistas,
A reunião marcada para quinta-feira, dia 19/10, foi adiada para 
a próxima quarta-feira, dia 25/10, pois a Coordenação estará 
participando de um treinamento para gestores em São Paulo.
Seguem, ainda, novo local e horário:
Sala de Reuniões IV (terceiro andar)
Das 14:00 às 16:00
Atenciosamente,
Fabrícia Borges
Coordenadora de Marketing
MTP Tecnologias
Texto II
Para: marine@provedor.com.br; tati@provedor.com.br; joana@provedor.com.br
Assunto:
Cc:
enviar apagarX salvar
Trabalho de literatura
Anexo: Trabalho_de_literatura_parte_Luana.docx
Meninas! Tudo bem com vcs?
Tô enviando minha parte no trabalho 
de literatura, tá?
N consegui escrever grandes coisas pq esse 
livro é complicado demais :p
Mas sei q vcs vao fazer coisas lindas <3 e 
salvar nossa apresentação q já é quinta :O 
n se esqueçam!!!
Bjs!
Luh
Os dois textos representam o gênero textual digital / 
virtual e-mail. O que possibilita esse reconhecimento são 
os atributos próprios desse gênero e que o caracterizam: 
a forma composicional, ou seja, a recorrência de estruturas 
semelhantes, como o endereço dos destinatários, o uso de 
vocativo e assinatura, a delimitação de um assunto. 
Contudo, os textos se distanciam quanto ao estilo, o qual é a 
linguagem adequada à situação de produção, que, no primeiro 
caso, é formal, por se tratar de um contexto institucional, 
e, no segundo, é informal e apresenta traços da linguagem 
comumente utilizada na Internet, como as abreviações, o uso 
de emoticons e a proximidade com o registro oral nos usos de 
“tô” e do marcador “tá”.
Nota-se, com isso, que a forma composicional desempenha 
a função de modelar o gênero, enquanto o contexto de 
produção guiará as escolhas relacionadas à linguagem, 
ao estilo. Por exemplo, os gêneros presentes em documentos 
públicos, cartoriais, de registros, como os escolares, 
matrículas, lista de presença, boletins e certidões,têm 
características mais fixas, o que quer dizer que sofrem menos 
interferências de quem os produz. Outros gêneros, por sua 
vez, têm características mais flexíveis – principalmente as 
de estilo – e podem sofrer interferências do seu autor, como 
a crônica, o conto, a piada, o bilhete e o próprio e-mail.
Hibridização dos gêneros textuais
Outra propriedade dos gêneros textuais é a sua 
capacidade de hibridização. Como eles normalmente não 
são puros e sofrem influência do contexto em que são 
produzidos, do sentido que querem provocar e do seu 
propósito comunicativo, podem apresentar uma “aparência” 
diferente daquela esperada. Por isso, muitas vezes, surgem 
alguns textos com aspectos de outros. Essa nova forma de 
apresentar um gênero, misturando-o a outro(s), pode ser 
relativa ao estilo, à composição ou ao suporte.
Um exemplo disso é o poema “Prece”, que compõe a 
segunda parte do livro Mensagem, de Fernando Pessoa, em 
que o poeta escreve um poema-oração. Essa obra enfoca 
um movimento de valorização e de saudosismo em relação 
ao passado grandioso de Portugal. Perceba como o autor 
articula os elementos do discurso religioso de uma oração 
com a estrutura de um poema. 
Prece
Senhor, a noite veio e a alma é vil. 
Tanta foi a tormenta e a vontade! 
Restam-nos hoje, no silêncio hostil, 
O mar universal e a saudade.
Mas a chama, que a vida em nós criou,
Se ainda há vida ainda não é finda.
O frio morto em cinzas a ocultou: 
A mão do vento pode erguê-la ainda.
Dá o sopro, a aragem – ou desgraça ou ânsia – 
Com que a chama do esforço se remoça, 
E outra vez conquistaremos a Distância – 
Do mar ou outra, mas que seja nossa!
PESSOA, Fernando. Prece. In: PESSOA, Fernando. Mensagem. 
Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/
download/texto/pe000004.pdf>. Acesso em: 01 abr. 2019.
O texto é um poema, estruturado em estrofes de quatro 
versos, mas é intitulado “Prece”, um gênero textual do 
domínio discursivo religioso, com o qual as pessoas se 
dirigem a uma entidade divina para suplicar por algum 
benefício, agradecer ou adorar. No poema, há uma súplica, 
um chamamento a essa entidade superior, na forma do 
vocativo “Senhor”. Essa invocação é feita por um sujeito 
plural – “nós” (restam-nos; em nós criou; conquistemos; 
nossa) –, que representa o povo português. Na primeira 
estrofe, ao dizer “Senhor, a noite veio e a alma é vil”, o eu 
lírico deixa implícita a ideia de que, se o dia foi de grandeza, 
a noite chegou como tempo de tristeza e destruição, daí a 
necessidade de implorar a um ente divino que interceda 
por Portugal.
Em função desse estado de decadência do país, o eu 
lírico roga ao Senhor que devolva à Pátria a “chama” 
(metáfora para esperança), oculta debaixo das “cinzas” 
(imagem metafórica de ruína). Suplica, como quem reza, 
para que esse ser superior resgate a grandiosidade da 
nação portuguesa, como evidenciado nos versos da última 
estrofe: “Dá o sopro, a aragem – ou desgraça ou ânsia – / 
Com que a chama do esforço se remoça”. O verbo no imperativo 
“Dá” estabelece a interlocução com essa força divina. 
Frente A Módulo 01
8 Coleção 6V
Desse modo, percebe-se, no texto, a utilização das formas 
composicionais de dois gêneros, poema e prece, para 
produzir os efeitos de sentido desejados pelo poeta. 
Entretanto, não é só na literatura que encontramos a 
subversão composicional. Nos gêneros do nosso cotidiano 
também ocorre essa constituição híbrida com a intenção de 
provocar efeitos de humor, de surpresa, de criatividade ou, 
ainda, para chamar a atenção do leitor, como no exemplo 
a seguir.
O texto da campanha antitabagismo, feita pelo Governo 
Federal, incorpora o gênero tirinha para compor o anúncio. 
Com essa estratégia, o anunciante ilustra o comportamento 
que pretende promover, ao mesmo tempo em que dá um tom 
de humor crítico a um tema socialmente relevante. Apesar 
de ser comum e aceito, o hábito de fumar é um problema de 
saúde pública e, para convencer da necessidade de mudar 
essa situação, usou-se a mistura de linguagens de gêneros 
dos domínios publicitário e jornalístico (no caso, a tirinha). 
Desse modo, ao explorar o humor da tirinha, incentiva-se 
a adesão do leitor ao propósito comunicativo do texto 
(desestimular o ato de fumar), de uma forma mais didática 
e persuasiva.
OS TIPOS TEXTUAIS
A maioria dos falantes de uma língua, pertencentes a 
determinado grupo social, sabe como é uma consulta e como 
será redigida uma receita médica; a estrutura de uma carta, 
de uma conta de luz; sabe como cumprimentar alguém; 
iniciar uma conversa; ou “contar um caso”. Sendo assim, 
cada redator ou produtor de um gênero textual, por conhecer 
sua estrutura básica, sabe utilizá-lo e adaptá-lo – se for 
necessário. Para quem recebe esses gêneros, normalmente, 
sua estrutura também é conhecida e facilmente identificável. 
Observe o exemplo.
D
iv
ul
ga
çã
o
 Arq
ui
vo
 B
er
no
ul
li.
 F
ot
o:
 I
st
oc
kp
ho
to
Diante de um texto como o receituário anterior, em que 
foi utilizada uma linguagem diferente da qual é comum para 
o gênero “receita médica”, com a presença de elementos 
não verbais, como as imagens de ícones e de comprimidos, 
não há dificuldade para identificar rapidamente o gênero. 
As estruturas inerentes a ele estão presentes, como o papel 
com a logomarca e a identificação do centro de saúde, os 
medicamentos, as dosagens e os horários em que devem 
ser tomados. 
A adaptação feita pelo profissional foi em relação ao 
estilo, ou seja, à linguagem mais apropriada à situação de 
produção e ao interlocutor, um idoso que possivelmente 
teria dificuldades de assimilar e memorizar a quantidade 
de remédios a ser tomada em diferentes períodos do dia.
Assim, para a elaboração de cada um dos gêneros 
textuais, é utilizada uma forma composicional. Essa 
estrutura é formada pelos tipos textuais. Cada gênero 
pode ser composto por várias sequências tipológicas, 
e, normalmente, há a predominância de uma delas. 
Em uma carta, por exemplo, pode-se encontrar sequências 
narrativas, descritivas, expositivas, argumentativas e até 
injuntivas. Uma notícia, por sua vez, tem uma tipologia 
predominantemente narrativa, mas pode conter sequências 
descritivas, expositivas ou argumentativas.
As tipologias, diferentemente dos gêneros textuais, 
ocorrem em número limitado e são constituídas por marcas 
linguísticas: escolhas lexicais, aspectos sintáticos, tempos 
verbais e relações lógicas. Estudaremos cada uma em 
particular, observando suas características.
Tipo narrativo
Esse tipo de texto tem como característica as sequências 
que indicam ações e eventos presentes, passados e futuros, 
privilegiando os verbos no pretérito perfeito e imperfeito 
do indicativo, que relatam situações reais ou ficcionais, 
o uso de expressões que apresentem decorrência de tempo 
(o antes, o durante e o depois), assim como a localização dos 
espaços e ambientes, a referência aos seres (personagens 
concretos ou abstratos) e a presença de um sujeito do 
enunciado (narrador).
Gêneros e Tipos Textuais
LÍ
N
G
U
A
 P
O
R
TU
G
U
ES
A
9Bernoulli Sistema de Ensino
Estes são os critérios que definem a sequência narrativa: 
situação inicial, complicação, clímax, resolução, situação 
final (e moral, no caso da fábula). Para exemplificar esses 
critérios, analise o conto “Sábado de Aleluia”, da escritora 
Lilia Guerra.
Sábado de Aleluia
Era uma tarde comportada, que passeava vestidinha 
num pulôver cinzento do lado de fora da minha janela. 
Em sábado de aleluia a gente não sabe bem o que fazer. 
Calmaria doida. Vovó estava em seu quarto, envolvida 
na colcha de tricô, olhos fixos no teto. Saudade de ouvir 
a voz dela, de conversar um pouquinho, mas há muito 
tempo, se tornara inacessível, como um objeto antigo 
que a gente não sabe manusear.
Em busca de distração, escolhi a vítima: a estante. Gavetas 
e prateleiras empesteadas de existência. Ela suspeitou que 
seria defraudada e suspirou paciente. Escancarei a parte 
inferior e senti o peso da boa madeira,outrora encantadora 
cerejeira, plantada sabe Deus onde. O que é a vida? 
Alcancei um envelope e espalhei o conteúdo no tapete. 
Um manual de liquidificador, uma conta antiga de energia, 
telegramas, postais, um rótulo de Neocid. Numa fotografia 
em preto e branco uma mulher carregava um garoto 
gordo com traje de batizado. Bula de analgésico, receita 
de pavê bicolor, cartões de natal, santinhos de missa de 
sétimo dia, um pente desdentado. Velharias inúteis que 
vovó sempre fez questão de conservar. Apanhei um saco 
de lixo. A estante tremeu indefesa, mas digníssima.
Em outro compartimento, dormiam tranquilos uns 
volumes grisalhos. Acordei todos eles e foram também 
para o tapete. Atordoados, defenderam-se espalhando 
poeira. Vesti a capa da justiça. No quem vai quem fica 
dos meus critérios, formei duas pilhas. Parti para a 
prateleira superior. Grandes xícaras sonhadoras temiam 
ser notadas. Implacável, retirei cada uma delas e 
esmiucei o interior. [...] Ao lado, paralisada, a coleção 
de discos. Capas plastificadas de um Alzheimer evidente 
clamavam comiseração. Frank Sinatra e Ray Conniff, 
seguidos por uma fila de sinfonias. Começaram a vir 
trilhas sonoras e coletâneas. Álbuns coloridos sorriam 
abobalhados, como se sentissem cócegas ao meu toque 
descuidado. Busquei uma caixa grande. Muitas capas 
traziam dedicatórias, datas, declarações. Numa delas, 
em caligrafia ordinária lia-se: Eterno amor, sempre teu, 
Ivo. Um disco de Cartola. Ivo... Ivo... nada.
A vitrola envelhecia sossegada no canto. Como é 
que se liga esse troço mesmo? Um adaptador, tomada 
antiga. Puxei pela memória. Soprei bem de leve a 
agulha. Movi o frágil bracinho, cautelosa. Chiado. 
Chegou a primeira nota. Minha... quem disse que ela 
foi minha? Se fosse, seria a rainha, que sempre vinha 
aos sonhos meus...
Ouvi passos vindos do corredor. Vovó se levantou. 
Abobalhada, veio f loreando em movimentos 
plastificados, mão no ventre, seu cavalheiro. Balançava 
sonhadora, o corpo enferrujado e magro de caniço, já 
sem valor, escancarada, empesteada de existência. 
S
it
u
aç
ão
 in
ic
ia
l
C
om
p
lic
aç
ão
C
lím
ax
Hepática e obsoleta, rodopiava no tapete, num Alzheimer 
evidente. Outrora encantadora, agora, grisalha de 
esmiuçado interior, defraudada. Me tirou pra dançar, 
sorrindo desdentada, como se sentisse cócegas ao meu 
toque descuidado. Movi o frágil bracinho, cautelosa, 
trouxe-a leve feito pluma. Então é assim que se liga 
esse troço? 
Ao fim da canção, suspirou paciente e retirou-se. 
Voltou a envelhecer em preto e branco, sossegada em 
seu canto, temendo ser notada. Clamava comiseração, 
de novo paralisada, indefesa, mas digníssima. Retirei a 
capa da justiça e recoloquei os objetos na estante, que 
seguiu muito nobre em seu silêncio solene. Fui à janela 
admirar a tarde de pulôver.
O que é vida?
GUERRA, Lilian. Sábado de Aleluia. In: GUERRA, Lilian. 
Perifobia. São Paulo: Patuá, 2018. [Fragmento]
O conto “Sábado de Aleluia” é uma narrativa que se 
concentra em um dia na vida do narrador-personagem, 
ambientado na casa da avó, que sofre de Alzheimer. 
A situação inicial (em azul) apresenta o narrador relatando a 
calmaria de um sábado encoberto e frio, deixando perceber 
certa melancolia pela condição da avó. A complicação 
(em vermelho) apresenta a ação que altera a rotina ou 
o equilíbrio inicial: o narrador-personagem, para passar 
o tempo, mexe nos objetos da estante, descobrindo 
neles partes da rotina da avó, como se espelhassem uma 
existência que vai se tornando desnecessária e precisa ser 
ordenada. Ele, então, decide testar a antiga vitrola e ouvir 
uma música antiga. Essa sequência dá início ao clímax 
(em laranja), ponto máximo da tensão narrativa, em que, 
ao resgatar uma antiga canção, o narrador-personagem é 
surpreendido pela avó, que sai do quarto e, num resquício 
da memória de um amor, baila ao som da música que 
toca na velha vitrola. A resolução (em verde) diz respeito 
ao fim desse breve lampejo de lucidez e vibração da avó 
(o “Sábado de Aleluia”), que volta ao seu estado inacessível, 
provocado pela doença. Na sequência (em roxo), tem-se 
a situação final: o narrador reflete sobre a experiência, 
retomando o questionamento existencial que é o fio 
condutor do conto – O que é vida?.
Tipo descritivo
O tipo descritivo é a apresentação das características 
de um lugar, uma pessoa (suas características físicas 
e psicológicas), uma situação ou um objeto, em que 
não há uma progressão temporal. As referências são 
estáticas e os verbos normalmente estão no presente ou 
no pretérito imperfeito do indicativo. Leia os exemplos 
a seguir, tentando reconhecer neles os elementos da 
tipologia descritiva.
C
lím
ax
R
es
ol
u
çã
o
Situação final
Frente A Módulo 01
10 Coleção 6V
Exemplo 1:
Clarice Lispector: o segredo mais 
popular da literatura brasileira
A biblioteca Clarice Lispector, em São Paulo, é um edifício 
público de concreto localizado na Lapa, um bairro de 
classe média relativamente próximo ao centro da cidade. 
Tem portas amarelas e azuis por fora; por dentro, 
principalmente pessoas idosas sentadas em meia dúzia de 
mesas redondas. Quase todo mundo sabe que a tal Lispector 
que dá o nome ao prédio era alguém importante, embora 
nem todos consigam identificá-la como a escritora brasileira 
mais traduzida e aclamada em décadas.
AVENDAÑO, Tom C. Clarice Lispector: o segredo mais popular 
da literatura brasileira. El País. Disponível em: <https://brasil.
elpais.com/brasil/2017/09/20/cultura/1505923237_969591.
html>. Acesso em: 17 set. 2019. [Fragmento]
Exemplo 2:
Estágio em Marketing Digital
Descrição: Estagiário ficará responsável pela curadoria de 
conteúdo das redes sociais de uma empresa de automóveis. 
Desejamos alguém com familiaridade no uso da Internet e das 
redes sociais Twitter, Facebook e Instagram, espírito criativo 
e boa escrita para criação de textos também para o blog da 
empresa. Desejável conhecimento dos programas Photoshop 
e Illustrator, além do Pacote Office. Boa comunicação, 
agilidade no cumprimento de prazos e metas, organização 
e autogerenciamento. Desejável conhecimento em inglês.
Requisitos: Estar cursando entre o 2º e o 6º período 
dos cursos de Design Gráfico, Jornalismo ou Publicidade 
e Propaganda. Disponibilidade para trabalhar das 13:00 
às 17:00.
Salário: R$ 800,00 (+ vale transporte)
Os textos anteriores são característicos do tipo descritivo 
por apresentarem um ente descrito (um local, biblioteca 
Clarice Lispector; e uma pessoa, Estagiário em Marketing 
Digital) e as características e propriedades desse ente 
referencial. No exemplo 1, são descritas as características 
físicas da biblioteca: feita de concreto, com portas amarelas 
e azuis, meia dúzia de mesas redondas; a sua localização: 
bairro da Lapa, em São Paulo; e o perfil dos visitantes do 
local: principalmente pessoas idosas. 
No exemplo 2, por sua vez, são apresentadas as 
características esperadas de um futuro estagiário de uma 
empresa de automóveis: familiaridade com a Internet e as 
redes sociais, espírito criativo, boa escrita, conhecimento 
de programas específicos da área, agilidade, organização, 
autogerenciamento e conhecimento de inglês; além disso, 
a própria vaga oferecida é descrita: horário de trabalho, 
salário e benefícios, função principal – curadoria de conteúdo. 
Percebe-se que não há, nos textos, relação temporal, 
e, se há, ela está em uma sequência narrativa, como no 
último período do exemplo 1. Às vezes, essa tipologia pode 
apresentar também uma sequência relacional, em que se 
compara o ente referencial com o outro.
Em textos literários, a descrição é comumente utilizada 
para a contextualização do enredo da obra, dos lugares e 
das personagens que o compõem, além de contribuir para a 
construção de sentidos na medida em que deixa transparecer 
questões psicológicas e sociais abordadas pelo autor. 
No exemplo a seguir, retirado do romance O cortiço, 
de Aluísio Azevedo, é possível, por meio, por meio da 
descriçãodo amanhecer no cortiço, principal cenário da 
obra, reconhecer características do estilo e da época do 
texto. Leia-o.
Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, 
não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas 
alinhadas. 
Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma 
assentada sete horas de chumbo. Como que se sentiam 
ainda na indolência de neblina as derradeiras notas da última 
guitarra da noite antecedente, dissolvendo-se à luz loura e 
tenra da aurora, que nem um suspiro de saudade perdido 
em terra alheia.
A roupa lavada, que ficara de véspera nos coradouros, 
umedecia o ar e punha-lhe um farto acre de sabão 
ordinário. As pedras do chão, esbranquiçadas no lugar da 
lavagem e em alguns pontos azuladas pelo anil, mostravam 
uma palidez grisalha e triste, feita de acumulações de 
espumas secas.
Entretanto, das portas surgiam cabeças congestionadas 
de sono; ouviam-se amplos bocejos, fortes como o 
marulhar das ondas; pigarreava-se grosso por toda a 
parte; começavam as xícaras a tilintar; o cheiro quente do 
café aquecia, suplantando todos os outros; trocavam-se 
de janela para janela as primeiras palavras, os bons-dias; 
reatavam-se conversas interrompidas à noite; a pequenada 
cá fora traquinava já, e lá dentro das casas vinham choros 
abafados de crianças que ainda não andam. No confuso 
rumor que se formava, destacavam-se risos, sons de vozes 
que altercavam, sem se saber onde, grasnar de marrecos, 
cantar de galos, cacarejar de galinhas. De alguns quartos 
saíam mulheres que vinham pendurar cá fora, na parede, 
a gaiola do papagaio, e os louros, à semelhança dos donos, 
cumprimentavam-se ruidosamente, espanejando-se à luz 
nova do dia.
AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. 30. ed. São Paulo: Ática, 
1997. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/
download/texto/bv000015.pdf>. Acesso em: 17 set. 2019.
[Fragmento]
No fragmento, a descrição do amanhecer é feita por meio 
da personificação do cortiço e dos elementos que o compõem. 
São utilizados, principalmente, verbos no pretérito, os quais, 
apesar de indicarem o tempo da narrativa, desenham para 
o leitor cenas e situações. 
As características dos elementos que formam o acordar 
do cortiço apontam, ainda, para as características do estilo 
de época denominado Naturalismo, que tinha como objetivo 
a reflexão acerca da vida em sociedade e da constituição 
do ser humano. Nesse sentido, os autores desse período 
disseminavam a ideia de determinismo, segundo o qual, 
as características e o caráter dos indivíduos eram 
determinados, como o próprio nome sugere, pelo ambiente 
no qual eles estavam inseridos. 
Esses aspectos são identificáveis nas descrições, por 
exemplo, do sabão com que eram lavadas as roupas, das 
pedras de “uma palidez grisalha e triste” e dos louros 
que, como os donos, se cumprimentavam, exemplo da 
zoomorfização do ser humano, recurso bastante utilizado 
pelos autores naturalistas.
Gêneros e Tipos Textuais
LÍ
N
G
U
A
 P
O
R
TU
G
U
ES
A
11Bernoulli Sistema de Ensino
Tipo injuntivo
No tipo injuntivo, prevalecem as formas verbais 
imperativas, que estão presentes nos gêneros instrucionais, 
ou seja, aqueles que indicam como executar uma ação ou 
seguir determinada norma ou programa. Observe o exemplo.
 Div
ul
ga
çã
o
O texto anterior faz parte de uma campanha educativa 
do governo para conscientizar a população acerca do uso 
de bebida alcoólica por quem dirige. O próprio título do 
anúncio já sugere o tipo textual, “Manual do Pegador”, que, 
com verbos no imperativo, ensina como “pegar”. O texto 
brinca com o uso da gíria e a polissemia do verbo, que, 
no sentido conotativo, quer dizer “ficar”, “paquerar”, 
mas que, nesse contexto, refere-se às alternativas de 
transporte para alguém que decidiu beber e não deve dirigir.
Tipo dissertativo / expositivo
O tipo dissertativo / expositivo é de natureza temática. 
Ele expõe, explica, analisa, classifica, avalia determinado 
tema ou assunto, fazendo referência ao mundo por meio 
de considerações amplas, exemplos comuns, muitas vezes 
separados do tempo e do espaço. Embora apareçam nele 
mudanças de situação, não são importantes as relações 
de posterioridade e anterioridade entre os enunciados, 
mas as relações lógicas estabelecidas entre eles: causalidade, 
pertinência, finalidade, etc. 
Assim, a progressão dos enunciados obedece a uma 
relação lógica, e não cronológica (como é o caso dos textos 
narrativos). Por isso, quando há a presença de sequências 
narrativas ou descritivas em um texto dissertativo, elas 
ocorrem apenas para ilustrar afirmações gerais ou para 
esclarecê-las, explicá-las.
O objetivo desse tipo textual é expor definições, 
ideias e conceitos, fazer com que o leitor / ouvinte tome 
conhecimento de informações ou interpretações dos fatos, 
sem necessidade de um forte convencimento. Por isso, 
predominam as estratégias de transmissão de um saber 
já estabelecido ou a explicação de um fenômeno, em geral 
amparado por dados reais, que são apresentados pelo locutor 
da forma mais clara possível. 
Os tempos verbais mais comuns são o presente e o 
futuro do presente do indicativo, uma vez que, como já 
foi dito, não há progressão de tempo entre os enunciados 
e eles transmitem a ideia de atemporalidade, além de 
exprimirem certeza em relação ao que está sendo exposto. 
No universo dos gêneros textuais, estão entre aqueles em 
que predominam os tipos dissertativos (expositivos ou 
explicativos): os artigos científicos, os ensaios, os relatórios 
e os infográficos, como o exemplo a seguir.
Idosos:
Segurança contra quedas
O PORQUÊ das quedas
As consequências
30% dos idosos caem
uma vez por ano
40% dos idosos com mais de
80 anos caem uma vez
por ano
70% das quedas acontecem
em casa
Variações bruscas
da pressão arterial
Fraturas ósseas,
principalmente de
fêmur e de quadril
Fraturas ósseas,
principalmente de
fêmur e de quadril
Traumas
de crânio
Traumas
de crânio
Depressão
e ansiedade
Maior número de
internações em hospitais
ou instituições de
longa permanência
Medo de
novos episódios
de quedas
Diminuição
de reflexos
Jejum prolongado
que leva à hipoglicemia
Diminuição
da visão
Tonturas ou
vertigens
Uso de medicamentos
sem orientação
Dr. Alberto Macedo Soares, geriatra.
Nesse infográfico, que trata de acidentes com idosos, há 
dados estatísticos – que expõem o quão grave é o problema 
das quedas –, além de explicações das causas desses 
acidentes e a exposição das consequências. Em gêneros 
textuais dessa natureza, e nesse caso especificamente, vale 
ressaltar que não há sequências argumentativas, uma vez 
que a problematização do tema por si só apresenta uma 
alegação favorável a que se tenha cuidados preventivos com a 
segurança dos idosos. Uma das principais características desse 
gênero é a utilização de elementos gráfico-visuais integrados 
ao texto verbal, os quais contribuem para apresentar de forma 
simples e didática as informações ao leitor. 
Frente A Módulo 01
12 Coleção 6V
Tipo argumentativo
A tipologia argumentativa ocorre no texto cujo objetivo 
é discutir ideias e mudar um modo de pensar. Um texto 
argumentativo estrutura-se da seguinte maneira: introdução 
com apresentação de uma tese e do tema que será 
discutido, o que ocorre por meio da inserção de dados ou 
premissas que serão utilizados na defesa do ponto de vista. 
A partir daí, desenvolvem-se os argumentos relacionados 
à tese que será defendida. A conclusão refere-se à parte em 
que se chega a uma dedução lógica sobre o que foi discutido, 
muitas vezes por meio da retomada da abordagem inicial, 
como forma de “fechar” as ideias desenvolvidas.
Um bom texto argumentativo deve apresentar uma tese 
clara, facilmente relacionável ao tema abordado; argumentos 
diversificados para sustentá-la, os quais podem ser fatos 
quantitativos, dados científicos, premissas ideológicas e / ou 
universais, desde que não sejam de senso comum. Deve, 
ainda, mostrar ao leitor os efeitos positivos advindos da tese, 
sendo possível,paralelamente, apresentar pontos contrários 
a ela, para desconstruí-los ou negá-los. 
Esse tipo textual é organizado no tempo presente, por 
meio de articuladores textuais que indicam as relações entre 
os argumentos e as ideias desenvolvidas no texto, as quais 
podem ser de causa, consequência, finalidade, etc. Como 
buscam convencer o leitor, os textos argumentativos podem 
apresentar citações, exemplos, dados, comparações, tudo para 
fundamentar a argumentação. 
O texto a seguir é formado por várias sequências 
argumentativas. Leia-o analisando as características dessa 
tipologia e avaliando os modos como elas foram empregadas.
Pensar hábitos por meio da filosofia 
ajuda a entender quem somos
Fazemos centenas de coisas – repetidamente, 
rotineiramente – todos os dias. Acordamos, checamos 
nossos telefones, comemos nossas refeições, escovamos 
nossos dentes, fazemos nossos trabalhos, satisfazemos 
nossos vícios. Nos últimos anos, essas ações habituais 
tornaram-se uma plataforma para o aperfeiçoamento 
individual: estantes de livros estão saturadas de best- 
-sellers sobre “life hacks” (truques para a vida),”life design” 
(design de vida) e como “gamificar” nossos projetos de 
longo prazo, prometendo de produtividade realçada a 
uma dieta mais saudável e grandes fortunas. Esses guias 
variam em precisão científica, mas tendem a descrever 
os hábitos como rotinas que seguem uma sequência 
repetitiva de comportamentos e nos quais podemos 
intervir com o propósito de encontrar um caminho melhor. 
O problema é que essa abordagem ignora 
grande parte da sua riqueza histórica. Os livros 
de autoajuda de hoje herdaram na verdade uma 
versão muito particular do hábito – especificamente, 
uma que surge no trabalho de psicólogos do início 
do século 20, como B.F. Skinner, Clark Hull, John B 
Watson e Ivan Pavlov. Esses pensadores são associados 
ao behaviorismo, uma abordagem da psicologia que 
prioriza reações observáveis de estímulo-resposta 
em vez dos sentimentos ou pensamentos internos. 
Os behavioristas definiam os hábitos em um 
sentido estreito e individualista; eles acreditavam 
que as pessoas estavam condicionadas a 
responder automaticamente a certos sinais, que 
produziam repetidos ciclos de ação e recompensa. 
A imagem behaviorista do hábito foi atualizada desde 
então à luz da neurociência contemporânea. Por exemplo, 
o fato de o cérebro ser plástico e mutável permite que os 
hábitos se inscrevam em nossa fiação neural ao longo do 
tempo, formando conexões privilegiadas entre as regiões 
cerebrais. A influência do behaviorismo permitiu 
que pesquisadores estudassem hábitos de forma 
quantitativa e rigorosa. Mas também legou uma 
noção rasa de hábito, que negligencia as implicações 
filosóficas mais amplas do conceito. 
Os filósofos costumavam encarar os hábitos como 
formas de contemplar quem somos, o que significa 
ter fé e por que nossas rotinas diárias revelam algo 
sobre o mundo em geral. Em sua Ética a Nicômaco, 
Aristóteles usou os termos héxis e éthos – ambos 
traduzidos hoje como “hábito” – para estudar qualidades 
estáveis em pessoas e coisas, especialmente em relação 
a sua moral e intelecto. Héxis denota as características 
duradouras de uma pessoa ou coisa [...] que podem guiar 
nossas ações e emoções. Um héxis é uma característica, 
capacidade ou disposição que alguém “possui”; sua 
etimologia é a palavra grega “ekhein”, o termo para 
propriedade. Para Aristóteles, o caráter de uma pessoa 
é, em última análise, a soma de suas “hexeis” (plural). 
Um éthos, por outro lado, é o que permite o 
desenvolvimento de hexeis. É tanto um modo de vida 
quanto o calibre básico da personalidade de uma pessoa. 
O éthos é onde se originam os princípios essenciais que 
ajudam a guiar o desenvolvimento moral e intelectual. 
[...] Esta versão do hábito está em sintonia com o sentido 
da antiga filosofia grega, que muitas vezes enfatizava o 
cultivo da virtude como um caminho para a vida ética. 
Milênios depois, na Europa cristã medieval, o héxis 
de Aristóteles foi latinizado para “habitus”. A tradução 
acompanha uma mudança que se afasta da ética 
da virtude dos antigos na direção da moralidade 
cristã, pela qual o hábito adquiriu conotações 
distintamente divinas. Na Idade Média, a ética cristã 
afastou-se da ideia de apenas moldar as disposições 
morais de uma pessoa e, em vez disso, partiu da crença 
de que o caráter ético era transmitido por Deus. [...]. 
O grande teólogo Tomás de Aquino viu o hábito 
como um componente vital da vida espiritual. 
De acordo com sua Summa Theologica (1265-1274), 
o “habitus” envolvia uma escolha racional e levava o 
verdadeiro crente a um senso de liberdade fiel. Em 
contraste, Tomás de Aquino utilizava “consuetudo” para 
se referir aos hábitos que adquirimos que inibem essa 
liberdade: as rotinas cotidianas e irreligiosas que não se 
relacionam ativamente com a fé. Consuetudo significa 
mera associação e regularidade, enquanto o “habitus” 
transmite sincera reflexão e consciência de Deus. 
Consuetudo é também de onde derivamos os termos 
“costume” (no sentido de prática frequente) e “costume” 
(no sentido de indumentária) – uma linhagem que sugere 
que, para os medievais, o hábito se estendia para muito 
além de cada indivíduo. 
In
tr
od
u
çã
o
D
es
en
vo
lv
im
en
to
 1
º 
d
is
cu
rs
o 
d
e 
au
to
ri
d
ad
e
In
tr
od
u
çã
o
Fu
n
d
am
en
ta
çã
o
Gêneros e Tipos Textuais
LÍ
N
G
U
A
 P
O
R
TU
G
U
ES
A
13Bernoulli Sistema de Ensino
Para o filósofo do Iluminismo David Hume, essas 
interpretações antigas e medievais do hábito eram 
limitantes demais. Hume pensou no hábito pelo 
que ele nos permite e capacita a fazer como seres 
humanos. Ele chegou à conclusão de que o hábito é o 
“cimento do universo”, do qual “todas as operações da 
mente… dependem”. Por exemplo, podemos jogar uma 
bola no ar e vê-la subir e descer à Terra. Por hábito, 
passamos a associar essas ações e percepções – o 
movimento do nosso membro, a trajetória da bola – de 
uma maneira que eventualmente nos permite apreender 
a relação entre causa e efeito. A causalidade, para Hume, 
é pouco mais que uma associação habitual. Da mesma 
forma, linguagem, música, relacionamentos – qualquer 
habilidade que usamos para transformar experiências em 
algo útil é construída a partir de hábitos, ele acreditava. 
Os hábitos são, portanto, instrumentos cruciais que nos 
permitem navegar o mundo e compreender os princípios 
pelos quais ele opera. Para Hume, o hábito nada mais é 
do que o “grande guia da vida humana”. 
É claro que devemos enxergar os hábitos como 
mais do que meras rotinas, tendências e tiques. Eles 
abrangem nossas identidades e ética; nos ensinam 
a praticar nossas crenças; se levarmos Hume em 
conta, eles conseguem nada menos do que manter 
o mundo unido. Enxergar hábitos dessa nova-porém- 
-velha maneira requer uma certa reviravolta conceitual e 
histórica, mas essa guinada proporciona muito mais que 
autoajuda superficial. Ela deveria nos mostrar que as 
coisas que fazemos todos os dias não são apenas rotinas 
que podem sofrer intervenções, mas janelas através das 
quais possamos talvez vislumbrar quem realmente somos. 
ANTILLA, Elias. Pensar hábitos por meio da filosofia ajuda a 
entender quem somos. Trad. Camilo Rocha. Nexo. Disponível 
em: <https://www.nexojornal.com.br/externo/2019/03/30/
Pensar-h%C3%A1bitos-por-meio-da-filosofia-ajuda-a-entender-
quem-somos>. Acesso em: 30 mar. 2019. [Fragmento]
No primeiro parágrafo, o autor introduz o tema – a discussão 
sobre o conceito de hábito –, contextualizando-o na relação 
que estabelece entre situações corriqueiras, ou ações habituais, 
e a oferta de livros de autoajuda que pregam o aperfeiçoamento 
individual a partir da intervenção nos hábitos. Ainda nesse 
parágrafo, é feita referência à premissa a partir da qual tais 
livros baseiam suas promessas. 
No segundo parágrafo, ainda compondo a introdução do 
texto, o autor apresenta a sua tese (em negrito) sobre o 
conceito de hábito, fazendouma contraposição ao que ele 
considera “uma versão particular”, portanto, restrita, sobre 
esse tema. Ele complementa a tese, ao localizar numa das 
correntes da psicologia comportamental – o behaviorismo – 
a base científica que orientaria tal visão limitada e, 
implicitamente, defende que o conceito de hábito deve incluir 
as reflexões filosóficas, pois ele vai além de uma mera questão 
comportamental.
C
on
cl
u
sã
o
A partir do terceiro parágrafo, o autor desenvolve 
seu raciocínio, fundamentando a sua tese de pensar 
filosoficamente o conceito de hábito para se contrapor à 
perspectiva behaviorista, que ele considera simplista, como 
reafirmado na frase em negrito no terceiro parágrafo (em 
verde). No quarto parágrafo, a primeira frase (em negrito) 
é o primeiro argumento do autor (trecho também em verde) 
para sustentar sua tese; ele o comprova por meio da citação 
de um discurso de autoridade: os conceitos “héxis” (modo de 
vida / personalidade) e “éthos” (origem dos princípios morais 
e intelectuais) de Aristóteles, os quais foram traduzidos na 
palavra “hábito”. O autor busca fundamentar filosófica e 
historicamente a sua tese de que o hábito é muito mais do 
que a ideia de comportamentos condicionados.
Continuando e ampliando o desenvolvimento do argumento 
anterior, para sustentar a sua tese, o autor apresenta 
outros valores (trecho em laranja) a que o termo “hábito” 
foi associado, sempre na perspectiva de não pensá-lo 
como mera atitude rotineira. Na Idade Média, o conceito de 
hábito ganha uma dimensão cristã (informação em negrito). 
Ainda mantendo a fundamentação filosófica, historicamente 
situada, o autor recorre a um discurso de autoridade 
(em roxo), ao apresentar as reflexões de Tomás de Aquino 
sobre o que implicaria o conceito de hábito. 
Por fim, para convencer o leitor acerca da tese de que esse 
conceito deve ultrapassar a visão comportamental (portanto, 
“programável”), o articulista arremata sua argumentação 
citando o filósofo David Hume, para quem o hábito nos 
definiria como humanos. E é esse conjunto de reflexões 
filosóficas, construídas ao longo da história, que leva o autor 
a reafirmar a sua tese de que o conceito de hábito deve ser 
pensado além da concepção de rotina, do tique; ele seria, 
na verdade, um componente de nossa identidade. 
Ao construir sua argumentação por meio de um percurso 
histórico pelas correntes filosóficas, fundamentada 
no discurso de autoridade (as teorias de pensadores 
reconhecidos), o autor faz um contraponto à visão (bastante 
difundida e aceita) de que o hábito seria mero aspecto 
comportamental, portanto, “reprogramável”. Ele rompe, 
assim, com o senso comum e demonstra uma forte marca 
de autoria, sustentando com consistência e fundamentação 
o seu ponto de vista. 
Tipos e gêneros textuais
Você sabe diferenciar tipo textual de gênero 
textual? Essa é uma questão que deixa muitos 
alunos confusos. Esta videoaula trabalha ambos 
os conceitos e a relação entre eles, mostrando 
vários exemplos.
 2
º 
d
is
cu
rs
o 
d
e 
au
to
ri
d
ad
e
Frente A Módulo 01
14 Coleção 6V
EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM
01. (PUC-Campinas-SP–2017) Atente para a seguinte 
situação:
 Mal o ônibus em que você viaja alcançou a estrada e 
uma velha senhora, sentada ao lado de um adolescente 
que usava o celular, pediu a ele: − Gostaria muito de 
aprender a usar isso. Você não quer me ensinar?
 O rapaz ia tentar escapar da tarefa, mas um senhor de 
terno e uma mocinha sentados perto, ouvindo o pedido 
da senhora, entraram na conversa.
Desenvolva uma narrativa a partir da situação anterior. 
O narrador é você, mas você pode ser também uma 
personagem que entra na conversa.
02. (UFES) Imagine que você faça parte de um grupo de 
trabalho que, para fazer do lugar em que você mora 
melhor do que é, tenha proposto a construção de um 
espaço cultural.
Faça uma descrição, em prosa, de como poderia ser 
esse espaço.
03. (UFPR) Leia o trecho de Jr. Bellé (Revista Cultura, 02 jun. 
2014) e escreva um parágrafo que dê continuidade à 
ideia explorada pelo autor, mantendo as características do 
gênero. O parágrafo deve ter no mínimo 5 e no máximo 
7 linhas.
 Você já se perguntou o que é brasilidade? Inúmeros 
cientistas sociais, historiadores, escritores e pensadores 
dedicaram-se a escavar esse termo, desmembrá-lo a 
fim de mapear e entender o que nos constitui como 
brasileiros. Nascer em solo nacional é a resposta mais 
óbvia, mas também a mais rasa. Afinal, todo território é 
volátil. O Acre nem sempre foi brasileiro, o Uruguai já foi 
nossa Província Cisplatina, o Mato Grosso do Sul ganhou 
uns tantos hectares com a vitória da Tríplice Aliança na 
Guerra do Paraguai. 
 Além do mais, alguma vez passou por suas ideias 
o porquê de a América Portuguesa, ou seja, nós, não 
termos nos dividido, nos recortado em pequenas nações, 
como aconteceu com a porção espanhola? Há motivações 
para além do processo civilizatório e da falta de unidade 
administrativa por parte dos Hermanos.
 Para construir a identidade de um povo, 
 .
04. (Unesp–2017)
Texto I
 A distribuição da riqueza é uma das questões mais 
vivas e polêmicas da atualidade. Será que a dinâmica 
da acumulação do capital privado conduz de modo 
inevitável a uma concentração cada vez maior da riqueza 
e do poder em poucas mãos, como acreditava Karl Marx 
no século XIX? Ou será que as forças equilibradoras do 
crescimento, da concorrência e do progresso tecnológico 
levam espontaneamente a uma redução da desigualdade 
e a uma organização harmoniosa da sociedade, como 
pensava Simon Kuznets no século XX?
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. 
2014 (Adaptação).
Texto II
 Já se tornou argumento comum a ideia de que a melhor 
maneira de ajudar os pobres a sair da miséria é permitir 
que os ricos fiquem cada vez mais ricos. No entanto, 
à medida que novos dados sobre distribuição de renda 
são divulgados*, constata-se um desequilíbrio assustador: 
a distância entre aqueles que estão no topo da hierarquia 
social e aqueles que estão na base cresce cada vez mais. 
A obstinada persistência da pobreza no planeta que vive 
os espasmos de um fundamentalismo do crescimento 
econômico é bastante para levar as pessoas atentas a fazer 
uma pausa e refletir sobre as perdas diretas, bem como 
sobre os efeitos colaterais dessa distribuição da riqueza.
 Uma das justificativas morais básicas para a economia 
de livre mercado, isto é, que a busca de lucro individual 
também fornece o melhor mecanismo para a busca do bem 
comum, se vê assim questionada e quase desmentida.
 *Um estudo recente do World Institute for Development 
Economics Research da Universidade das Nações Unidas relata 
que o 1% mais rico de adultos possuía 40% dos bens globais 
em 2000, e que os 10% mais ricos respondiam por 85% do 
total da riqueza do mundo. A metade situada na parte mais 
baixa da população mundial adulta possuía 1% da riqueza 
global.
BAUMAN, Zygmunt. A riqueza de poucos 
beneficia todos nós?. 2015 (Adaptação).
Texto III
 Um certo espírito rousseauniano parece ter se apoderado 
de nossa época, que agora vê a propriedade privada e a 
economia de mercado como responsáveis por todos os 
nossos males. É verdade que elas favorecem a concentração 
de riqueza, notadamente de renda e patrimônio.
Gêneros e Tipos Textuais
LÍ
N
G
U
A
 P
O
R
TU
G
U
ES
A
15Bernoulli Sistema de Ensino
 Essa, porém, é só parte da história. Os mesmos 
mecanismos de mercado que promovem a disparidade – 
eles exigem certo nível de desigualdade estrutural 
para funcionar – são também os responsáveis pelo 
mais extraordinário processo de melhora das condições 
materiais de vida que a humanidade já experimentou.
 Se o capitalismo exibe o viés elitista da concentração de 
renda, ele também apresenta a vocação mais democrática 
de tornar praticamente todos os bens mais acessíveis, 
pelo aprimoramento dos processos produtivos. Não tenho 
nada contra perseguirideias de justiça, mas é importante 
não perder a perspectiva das coisas.
SCHWARTSMAN, Hélio. Uma defesa da desigualdade. 
Folha de S.Paulo, 14 jun. 2015 (Adaptação).
Com base nos textos apresentados e em seus próprios 
conhecimentos, escreva uma dissertação, empregando 
a norma-padrão da Língua Portuguesa, sobre o tema: 
A riqueza de poucos beneficia a sociedade inteira?
EXERCÍCIOS 
PROPOSTOS
Instrução: Para responder às questões de 01 a 04, 
leia a crônica “Seu Afredo”, de Vinicius de Moraes (1913-1980), 
publicada originalmente em setembro de 1953.
 Seu Afredo (ele sempre subtraía o “l” do nome, ao se 
apresentar com uma ligeira curvatura: “Afredo Paiva, um 
seu criado...”) tornou-se inesquecível à minha infância 
porque tratava-se muito mais de um linguista que de um 
encerador. Como encerador, não ia muito lá das pernas. 
Lembro-me que, sempre depois de seu trabalho, minha 
mãe ficava passeando pela sala com uma flanelinha 
debaixo de cada pé, para melhorar o lustro. Mas, como 
linguista, cultor do vernáculo1 e aplicador de sutilezas 
gramaticais, seu Afredo estava sozinho.
 Tratava-se de um mulato quarentão, ultrarrespeitador, 
mas em quem a preocupação linguística perturbava às 
vezes a colocação pronominal. Um dia, numa fila de 
ônibus, minha mãe ficou ligeiramente ressabiada2 quando 
seu Afredo, casualmente de passagem, parou junto a ela 
e perguntou-lhe à queima-roupa, na segunda do singular:
 – Onde vais assim tão elegante?
 Nós lhe dávamos uma bruta corda. Ele falava horas 
a fio, no ritmo do trabalho, fazendo os mais deliciosos 
pedantismos que já me foi dado ouvir. Uma vez, minha 
mãe, em meio à lide3 caseira, queixou-se do fatigante 
ramerrão4 do trabalho doméstico. Seu Afredo virou-se 
para ela e disse:
 – Dona Lídia, o que a senhora precisa fazer é ir a um 
médico e tomar a sua quilometragem. Diz que é muito bão.
 De outra feita, minha tia Graziela, recém-chegada 
de fora, cantarolava ao piano enquanto seu Afredo, 
acocorado perto dela, esfregava cera no soalho. Seu 
Afredo nunca tinha visto minha tia mais gorda. Pois bem: 
chegou-se a ela e perguntou-lhe:
 – Cantas?
 Minha tia, meio surpresa, respondeu com um riso 
amarelo:
 – É, canto às vezes, de brincadeira...
 Mas, um tanto formalizada, foi queixar-se a minha 
mãe, que lhe explicou o temperamento do nosso 
encerador:
 – Não, ele é assim mesmo. Isso não é falta de respeito, 
não. É excesso de... gramática.
 Conta ela que seu Afredo, mal viu minha tia sair, 
chegou-se a ela com ar disfarçado e falou:
 – Olhe aqui, dona Lídia, não leve a mal, mas essa 
menina, sua irmã, se ela pensa que pode cantar no rádio 
com essa voz, ‘tá redondamente enganada. Nem em 
programa de calouro!
 E, a seguir, ponderou:
 – Agora, piano é diferente. Pianista ela é! 
 E acrescentou:
 – Eximinista pianista!
Para uma menina com uma flor. 2009.
1vernáculo: a língua própria de um país; língua nacional.
2ressabiado: desconfiado.
3lide: trabalho penoso, labuta.
4ramerrão: rotina.
01. (Unesp–2017) Na crônica, o personagem seu Afredo é 
descrito como uma pessoa
A) pedante e cansativa.
B) intrometida e desconfiada.
C) expansiva e divertida.
D) discreta e preguiçosa.
E) temperamental e bajuladora.
02. (Unesp–2017) Em “Mas, como linguista, cultor do 
vernáculo e aplicador de sutilezas gramaticais, seu Afredo 
estava sozinho.” (1º parágrafo), o cronista sugere que 
seu Afredo
A) mostrava-se incomodado por não ter com quem 
conversar sobre questões gramaticais.
B) revelava orgulho ao ostentar conhecimentos linguísticos 
pouco usuais.
Frente A Módulo 01
16 Coleção 6V
C) sentia-se solitário por ser um dos poucos a dispor de 
sólidos conhecimentos gramaticais.
D) sentia-se amargurado por notar que seus conhecimentos 
linguísticos não eram reconhecidos. 
E) revelava originalidade no modo como empregava seus 
conhecimentos linguísticos.
03. (Unesp–2017) Um traço característico do gênero crônica, 
visível no texto de Vinicius de Moraes, é
A) o tom coloquial.
B) a sintaxe rebuscada.
C) o vocabulário opulento.
D) a finalidade pedagógica.
E) a crítica política.
04. (Unesp–2017) Em “Conta ela que seu Afredo, mal viu 
minha tia sair, chegou-se a ela com ar disfarçado e falou 
[...]” (12º parágrafo), a conjunção destacada pode ser 
substituída, sem prejuízo para o sentido do texto, por
A) assim como.
B) logo que.
C) enquanto.
D) porque.
E) ainda que.
 
Instrução: Leia os textos a seguir para responder às questões 
de 05 a 07.
Texto I
 Doze anos depois da implantação de ações afirmativas 
para o acesso de jovens negros e brancos pobres ao 
ensino superior, os dados falam por si: os alunos cotistas 
apresentam o mesmo desempenho de seus colegas; 
as universidades ganharam em criatividade e desempenho 
e não há registro de incidente mais sério, a não ser velhas 
manifestações de intolerância que datam desde a chegada 
de Cabral. No mais, há dez documentos públicos nos 
quais os brasileiros são classificados racialmente desde 
tempos imemoriais, funcionando muito bem obrigado até 
a classificação racial ser invocada para a fruição – e não 
a violação – de direitos.
SILVA JR., Hédio. Disponível em: <http://politica.estadao.
com.br/ blogs/roldao-arruda/>. Acesso em: 04 ago. 2015.
Texto II
 Pesquisa divulgada no Rio de Janeiro, em 2008, atestava: 
63% dos afro-brasileiros são contra a segregação de direitos 
raciais. Política racial, mesmo de boa-fé, é terapia estatal 
para uma doença inexistente: não temos identidade racial. 
A questão em julgamento não são as políticas públicas de 
inclusão de afro-brasileiros nas universidades públicas, 
o que poderá ser contemplado pelo critério de cotas 
sociais ampliando as oportunidades aos mais pobres, 
dos quais 70% são pretos e pardos. O que se disputa é a 
possibilidade da segregação de direitos raciais pelo Estado. 
Os defensores falam em diversidade racial. Nós contrapomos 
o império do pensamento da diversidade humana. 
A diversidade racial significa o Estado conferindo validade 
à tese racista da classificação racial, que nós repudiamos.
MILITÃO, José R. Ferreira. Disponível em: 
<http://politica.estadao.com.br/blogs/roldao-arruda/>. 
Acesso em: 04 ago. 2015.
05. (PUC Minas–2016) No texto I, a expressão “os dados 
falam por si” é empregada com a intenção de 
A) justificar o sistema de cotas.
B) questionar as ações afirmativas.
C) atribuir méritos aos alunos beneficiados.
D) equiparar o desempenho de negros e brancos.
06. (PUC Minas–2016) No texto II, o trecho que apresenta 
marcas linguísticas que explicitam uma opinião do autor é:
A) “Os defensores falam em diversidade racial.”
B) “O que se disputa é a possibilidade da segregação de 
direitos raciais pelo Estado.”
C) “A diversidade racial significa o Estado conferindo 
validade à tese racista da classificação racial, que nós 
repudiamos.”
D) “A questão em julgamento não são as políticas públicas 
de inclusão de afro-brasileiros nas universidades 
públicas.”
07. (PUC Minas–2016) Em relação às cotas raciais nas 
universidades, os textos defendem posições 
A) opostas.
B) ambíguas.
C) conservadoras.
D) complementares.
SEÇÃO ENEM
01. (Enem–2016)
O humor e a língua
 Há algum tempo, venho estudando as piadas, com 
ênfase em sua constituição linguística. Por isso, embora a 
afirmação a seguir possa parecer surpreendente, creio que 
posso garantir que se trata de uma verdade quase banal: 
as piadas fornecem simultaneamente um dos melhores 
retratos dos valores e problemas de uma sociedade, 
por um lado, e uma coleção de fatos e dados impressionantes 
para quem quer saber o que é e como funciona uma língua, 
por outro. Se se quiser descobrir os problemas com os 
quais uma sociedade se debate, uma coleção de piadas 
fornecerá excelente pista: sexualidade, etnia / raça e 
outras diferenças, instituições (igreja, escola, casamento, 
política), morte, tudo isso está sempre presente nas piadas 
que circulam anonimamente e que são ouvidas e contadas 
por todo mundo em todo o mundo. Os antropólogos ainda 
não prestaram adevida atenção a esse material, que 
poderia substituir com vantagem muitas entrevistas e 
pesquisas participantes. Saberemos mais a quantas andam 
o machismo e o racismo, por exemplo, se pesquisarmos 
uma coleção de piadas do que qualquer outro corpus.
POSSENTI, S. Ciência Hoje, n. 176, out. 2001 
(Adaptação).
Gêneros e Tipos Textuais
LÍ
N
G
U
A
 P
O
R
TU
G
U
ES
A
17Bernoulli Sistema de Ensino
A piada é um gênero textual que figura entre os mais 
recorrentes na cultura brasileira, sobretudo na tradição 
oral. Nessa reflexão, a piada é enfatizada por
A) sua função humorística.
B) sua ocorrência universal.
C) sua diversidade temática.
D) seu papel como veículo de preconceitos.
E) seu potencial como objeto de investigação.
02. (Enem–2016)
Receita
Tome-se um poeta não cansado,
Uma nuvem de sonho e uma flor,
Três gotas de tristeza, um tom dourado,
Uma veia sangrando de pavor.
Quando a massa já ferve e se retorce
Deita-se a luz dum corpo de mulher,
Duma pitada de morte se reforce,
Que um amor de poeta assim requer.
SARAMAGO, J. Os poemas possíveis. 
Alfragide: Caminho, 1997.
Os gêneros textuais caracterizam-se por serem relativamente 
estáveis e podem reconfigurar-se em função do propósito 
comunicativo. Esse texto constitui uma mescla de gêneros, 
pois
A) introduz procedimentos prescritivos na composição 
do poema.
B) explicita as etapas essenciais à preparação de uma 
receita.
C) explora elementos temáticos presentes em uma 
receita.
D) apresenta organização estrutural típica de um poema.
E) utiliza linguagem figurada na construção do poema.
03. (Enem)
Embalagens usadas e resíduos devem ser 
descartados adequadamente
 Todos os meses são recolhidas das rodovias brasileiras 
centenas de milhares de toneladas de lixo. Só nos 22,9 mil 
quilômetros das rodovias paulistas são 41,5 mil toneladas. 
O hábito de descartar embalagens, garrafas, papéis e 
bitucas de cigarro pelas rodovias persiste e tem aumentado 
nos últimos anos. O problema é que o lixo acumulado 
na rodovia, além de prejudicar o meio ambiente, pode 
impedir o escoamento da água, contribuir para as 
enchentes, provocar incêndios, atrapalhar o trânsito e até 
causar acidentes. Além dos perigos que o lixo representa 
para os motoristas, o material descartado poderia ser 
devolvido para a cadeia produtiva. Ou seja, o papel que 
está sobrando nas rodovias poderia ter melhor destino. 
Isso também vale para os plásticos inservíveis, que 
poderiam se transformar em sacos de lixo, baldes, cabides 
e até acessórios para os carros.
Disponível em: <www.girodasestradas.com.br>. 
Acesso em: 31 jul. 2012.
Os gêneros textuais correspondem a certos padrões de 
composição de texto, determinados pelo contexto em 
que são produzidos, pelo público a que eles se destinam, 
por sua finalidade. Pela leitura do texto apresentado, 
reconhece-se que sua função é
A) apresentar dados estatísticos sobre a reciclagem no 
país.
B) alertar sobre os riscos da falta de sustentabilidade do 
mercado de recicláveis.
C) divulgar a quantidade de produtos reciclados retirados 
das rodovias brasileiras.
D) revelar os altos índices de acidentes nas rodovias 
brasileiras poluídas nos últimos anos.
E) conscientizar sobre a necessidade de preservação 
ambiental e de segurança nas rodovias.
04. (Enem) João Antônio de Barros (Jota Barros) nasceu 
aos 24 de junho de 1935, em Glória de Goitá (PE). 
Marceneiro, entalhador, xilógrafo, poeta repentista e 
escritor de literatura de cordel, já publicou 33 folhetos 
e ainda tem vários inéditos. Reside em São Paulo desde 
1973, vivendo exclusivamente da venda de livretos de 
cordel e das cantigas de improviso, ao som da viola. 
Grande divulgador da poesia popular nordestina no Sul, 
tem dado frequentemente entrevistas à imprensa paulista 
sobre o assunto.
EVARISTO. M. C. O cordel em sala de aula. 
In: BRANDÃO. H. N. (Coord.). Gêneros do discurso na escola: 
mito, conto, cordel, discurso político, divulgação científica. 
São Paulo: Cortez, 2000.
A biografia é um gênero textual que descreve a trajetória 
de determinado indivíduo, evidenciando sua singularidade. 
No caso específico de uma biografia como a de João Antônio 
de Barros, um dos principais elementos que a constitui é
A) a estilização dos eventos reais de sua vida, para que 
o relato biográfico surta os efeitos desejados.
B) o relato de eventos de sua vida em perspectiva 
histórica, que valorize seu percurso artístico.
C) a narração de eventos de sua vida que demonstrem 
a qualidade de sua obra.
D) uma retórica que enfatize alguns eventos da vida 
exemplar da pessoa biografada.
E) uma exposição de eventos de sua vida que mescle 
objetividade e construção ficcional.
Frente A Módulo 01
18 Coleção 6V
05. (Enem)
Linotipos
 O Museu da Imprensa exibe duas linotipos. Trata-se 
de um tipo de máquina de composição de tipos de 
chumbo, inventada em 1884 em Baltimore, nos Estados 
Unidos, pelo alemão Ottmar Mergenthaler. O invento 
foi de grande importância por ter significado um novo 
e fundamental avanço na história das artes gráficas. 
A linotipia provocou, na verdade, uma revolução porque 
venceu a lentidão da composição dos textos executada 
na tipografia tradicional, em que o texto era composto à 
mão, juntando tipos móveis um por um. Constituía-se, 
assim, no principal meio de composição tipográfica até 
1950. A linotipo, a partir do final do século XIX, passou a 
produzir impressos a baixo custo, o que levou informação 
às massas, democratizou a informação. Promoveu uma 
revolução na educação. Antes da linotipo, os jornais e 
revistas eram escassos, com poucas páginas e caros. 
Os livros didáticos eram também caros, pouco acessíveis.
Disponível em: <http://portal.in.gov.br>. 
Acesso em: 23 fev. 2013 (Adaptação).
O texto apresenta um histórico da linotipo, uma máquina 
tipográfica inventada no século XIX e responsável 
pela dinamização da imprensa. Em termos sociais, 
a contribuição da linotipo teve impacto direto na
A) produção vagarosa de materiais didáticos.
B) composição aprimorada de tipos de chumbo.
C) montagem acelerada de textos para impressão.
D) produção acessível de materiais informacionais.
E) impressão dinamizada de imagens em revistas.
06.
Texto I
Deslocando-se através das fronteiras
 A Convenção de Refugiados de 1951, que estabeleceu 
o ACNUR, determina que um refugiado é alguém que 
“temendo ser perseguida por motivos de raça, religião, 
nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas, 
se encontra fora do país de sua nacionalidade e que não 
pode ou, em virtude desse temor, não quer valer-se da 
proteção desse país”. 
 Desde então, o ACNUR tem oferecido proteção e 
assistência para dezenas de milhões de refugiados, 
encontrando soluções duradouras para muitos deles. 
Os padrões da migração se tornaram cada vez mais 
complexos nos tempos modernos, envolvendo não apenas 
refugiados, mas também milhões de migrantes econômicos. 
Mas refugiados e migrantes, mesmo que viajem da 
mesma forma com frequência, são fundamentalmente 
distintos, e por esta razão são tratados de maneira muito 
diferente perante o direito internacional moderno.
 Migrantes, especialmente migrantes econômicos, 
decidem deslocar-se para melhorar as perspectivas 
para si mesmos e para suas famílias. Já os refugiados 
necessitam deslocar-se para salvar suas vidas ou 
preservar sua liberdade. Eles não possuem proteção de 
seu próprio Estado e de fato muitas vezes é seu próprio 
governo que ameaça persegui-los. Se outros países não 
os aceitarem em seus territórios, e não os auxiliarem uma 
vez acolhidos, poderão estar condenando estas pessoas 
à morte ou a uma vida insuportável nas sombras, sem 
sustento e sem direitos.
AGÊNCIA DA ONU para Refugiados. Disponível em: <http://
www.acnur.org/portugues/quem-ajudamos/refugiados/>. 
Acesso em: 28 set. 2017. [Fragmento]
Texto II
 Conflitos locais, guerra civil e fome fizeram com 
que o número de refugiados e deslocados no mundo

Continue navegando