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LINGUAGEM E LÍNGUA Antes de iniciar os estudos acerca do texto, seus tipos e gêneros, é necessário entender o processo de comunicação humana, que ocorre por meio da linguagem. Sobre isso, observe a tirinha a seguir. Disponível em: <http://bichinhosdejardim.com/nova- comunicacao/>. Acesso em: 01 jul. 2019. De que decorre o humor da tirinha? Qual reflexão é possível fazer sobre os processos de comunicação humana e sua evolução? De uma forma irônica e bem-humorada, a tirinha mostra como a linguagem é produto de uma cultura, pois contém as marcas de fatores históricos, sociais e ideológicos e, por isso, pode ser transmitida por gerações. Ela é considerada uma atividade humana por sermos dotados da capacidade de representar e expressar simbolicamente nossas experiências de vida e, também, adquirir, processar, produzir e transmitir conhecimento. Em outras palavras, essa linguagem é a manifestação da abstração humana. Ela pode ocorrer de modo verbal e não verbal, como expressão dos sentimentos (gestos, olhares, posturas, entonação de voz), realizações simbólicas determinadas (cores, sinais gráficos, sons, desenhos, imagens) e uso do signo (a palavra oral ou escrita). A língua, por sua vez, é a forma verbal da linguagem de determinada comunidade e um dos instrumentos de interação sociocomunicativa, já que se vincula diretamente às práticas e aos papéis sociais. Ela se manifesta por meio de estruturas sintáticas, como frases, orações, períodos, e morfológicas (estrutura das palavras). Todavia, muito mais que isso, a língua traz consigo raízes históricas e culturais, varia no tempo, no espaço, nas diferenças sociais e se constrói e reconstrói pela ação dos seus falantes. O que é língua? Nessa videoaula, vamos discutir os diferentes conceitos de língua. C la ra G om es - w w w .b ic hi nh os de ja rd im .c om A Língua Brasileira de Sinais (Libras), uma língua natural que surgiu espontaneamente da interação entre as pessoas, é utilizada por surdos brasileiros e por aqueles com quem eles se comunicam. Em 2002, ela foi oficializada como segundo idioma nacional e, em 2017, foi tema da redação do Enem. Confira, a seguir, o alfabeto da Libras: a b c d e f G h i j k l m n o p q r s t u v w x y z A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S T U V W Z X Y Acesse o QR Code para saber como cada letra é representada: Essa língua caracteriza-se por ser gestual-visual-espacial, com estrutura e regras gramaticais próprias, apresentando inclusive variação regional, graus de formalidade e informalidade, como gírias, da mesma forma que a variação linguística da Língua Portuguesa. Alguns gestos podem representar expressões gestuais com sentidos similares aos usados no cotidiano pelos falantes do português. MÓDULO 01 FRENTE A 3Bernoulli Sistema de Ensino PORTUGUESA LÍNGUA Gêneros e Tipos Textuais Dentre outras, “doido” é uma gíria em comum da Libras e da comunicação gestual da Língua Portuguesa. Acesse, no QR Code a seguir, um aplicativo que traduz mensagens de texto e áudio para a língua de sinais. No processo de comunicação, vários elementos contribuem para que haja entendimento entre as partes envolvidas. Muitas vezes, para que o sentido pretendido pelo enunciador, falante de uma língua, seja alcançado, é necessária a combinação das linguagens verbal e não verbal, como é o caso do exemplo a seguir. Nessa tirinha da Mafalda, personagem criada pelo quadrinista argentino Quino, as linguagens verbal e não verbal se complementam. O leitor cria uma pequena narrativa enquanto “lê” as imagens. Nos três primeiros quadrinhos, a personagem aparece medindo a própria cabeça, e não há nenhuma indicação verbal do que ela esteja fazendo: a imagem é que deve gerar os sentidos. No último quadrinho, em que há a presença de linguagem verbal, Mafalda se questiona a respeito da própria capacidade de apreender as informações que serão transmitidas a ela durante a vida. Se esse quadrinho fosse retirado, certamente o leitor teria dificuldade em compreender o sentido pretendido, já que o desfecho e a crítica sobre o excesso e a superficialidade das informações estão na fala da menina. Essa articulação de linguagens verbal e não verbal é uma estratégia típica dos quadrinhos, das charges, dos cartuns e da publicidade de maneira geral, como será visto nos exemplos a seguir. © Jo aq ui m S . La va do T ej ón ( Q U IN O ), TO D A M A FA LD A /F ot oa re na /Q ui no Div ul ga çã o A imagem anterior é o anúncio de uma campanha que tem como objetivo conscientizar a população sobre a importância da doação de órgãos. Se no anúncio houvesse apenas a linguagem verbal, certamente o leitor compreenderia o sentido pretendido pela instituição. Contudo, a imagem de pulmões humanos, formados de roupas e brinquedos usados e descartados causa, no interlocutor um impacto muito maior, pois a relação de sentido com a frase “Você sempre doou o que não lhe servia” é construída e reafirmada. Dessa forma, há, nessa campanha, o apelo emocional, uma vez que a doação dos órgãos humanos é comparada à de objetos sem uso para alguns, mas que podem ser úteis para outros – tanto que as pessoas já estão habituadas a doá-los. Nesse sentido, está implícito que, após a morte, os órgãos não “servem” mais a quem os possuía e, por isso, podem ser doados. Div ul ga çã o Texto: “Agora você vê.” / “Agora não.” Já o exemplo anterior apresenta uma campanha, patrocinada por uma marca de automóveis, contra o consumo de álcool por quem dirige. Para compreender essa propaganda, o leitor precisa mobilizar vários conhecimentos, a fim de construir os sentidos pretendidos. Nela, há a imagem de duas latas de cerveja, que representam os retrovisores de um carro. No primeiro quadro, lata / retrovisor reflete a imagem de uma bicicleta, que estaria atrás do veículo cujo retrovisor é representado. No segundo, a lata aberta indica que o motorista consumiu a bebida contida ali. Nesse momento, a imagem da bicicleta não aparece mais, indicando que, ao ingerir uma bebida alcoólica, os sentidos do motorista ficam comprometidos e ele passa a não mais enxergar os veículos que transitam ao seu redor, podendo provocar, por isso, algum acidente. Frente A Módulo 01 4 Coleção 6V No plano verbal, os dizeres “agora você vê” e “agora não” indicam essa alteração causada pela bebida e reforçam a mensagem transmitida pela imagem. Tais inferências permitem ao leitor apreender o sentido pretendido. O processo de comunicação ocorre por alguma razão, algum objetivo, porque alguém tem algo a dizer a alguém e espera ser compreendido. Dessa maneira, para que a comunicação se efetive, é necessário que a mensagem faça sentido, não só para quem produz, mas também para quem recebe. Sobre isso, leia a tirinha do Calvin. A ideia de língua como instrumento de interação social pode ser reconhecida na tirinha, em que o garoto Calvin diz para o seu pai que qualquer palavra pode ter qualquer significado, dependendo de quem a usa. Logo, como o pai não entenderá o significado das palavras que ele inventou, não poderão mais se comunicar. É importante lembrar que os significados das palavras estão relacionados a uma convenção, a um acordo coletivo que permite às pessoas reconhecerem esses significados e se comunicarem. Por outro lado, o garoto não sabe que o pai também é detentor de um conhecimento linguístico que ele não compreende (gírias antigas, por exemplo). Isso mostra como a língua é mutável, adaptável, e como a sua apreensão é fundamental na interação sociocomunicativa. Assim, fatores como faixa etária, classe social, gênero, entres outros, podem interferir na interação entre os interlocutores, facilitando ou dificultando a comunicação. Essa flexibilidade da língua, isto é, sua adaptação às situações sociocomunicativas nas quais ela se realiza, relaciona-se com a função exercida pela linguagem na construção de sentidosno mundo. No poema a seguir, de Manoel de Barros, o tema da atribuição de sentidos pela língua é abordado de maneira poética, por meio de metáforas. Leia-o. Canção do ver Por viver muitos anos dentro do mato moda ave O menino pegou um olhar de pássaro – Contraiu visão fontana. Por forma que ele enxergava as coisas por igual como os pássaros enxergam. As coisas todas inominadas. Água não era ainda a palavra água. Pedra não era ainda a palavra pedra. E tal. As palavras eram livres de gramáticas e podiam ficar em qualquer posição. Por forma que o menino podia inaugurar. Podia dar às pedras costumes de flor. Podia dar ao canto formato de sol. C al vi n & H ob be s, B ill W at te rs on © 19 92 W at te rs on / D is t. b y A nd re w s M cM ee l S yn di ca tio n E, se quisesse caber em uma abelha, era só abrir a palavra abelha e entrar dentro dela. Como se fosse infância da língua. CANÇÃO DO VER – In: Poesia Completa, de Manoel de Barros, Leya, São Paulo © by herdeiros de Manoel de Barros. Nos versos de Manoel de Barros, a língua é utilizada por um menino que, por ter visão de ave, consegue absorver as coisas em sua essência, seus significados primeiros, ou seja, ter o olhar original, desprovido de associações prévias. A partir daí, ele cria seus próprios sentidos de mundo (“Pedra não era ainda a palavra pedra. / [...] Por forma que o menino podia inaugurar. / Podia dar às pedras costumes de flor.”), da mesma forma que Calvin se propõe a fazer na tirinha analisada, porém com objetivos diferentes. Na tirinha, há a intenção de prejudicar a comunicação, ao passo que, no poema, o ato de atribuir novos sentidos às coisas do mundo remete à ideia de “infância da língua”, que retoma exatamente o seu caráter maleável e as diversas possibilidades enunciativas proporcionadas pela linguagem nas situações sociocomunicativas. O QUE É TEXTO? O texto configura-se como o lugar em que se constitui um jogo interativo, e sua compreensão pode ser vista como uma atividade complexa de construção de sentidos, pois, para sua produção, são ativadas as estruturas linguísticas adequadas, a organização e a forma selecionadas, além dos conhecimentos (do autor e do leitor) construídos, ou reconstruídos, a partir de e para o processo comunicativo. Para que o sentido seja estabelecido nesse processo, algumas peças são fundamentais: • o locutor (enunciador / autor): aquele que diz, produz o texto, adotando estratégias que possam conduzir o interlocutor à construção dos sentidos pretendidos; • o interlocutor (ouvinte / leitor): aquele a quem se dirige o locutor e que, a partir das pistas presentes no texto, dos seus conhecimentos e do contexto, constrói os sentidos que possibilitam a comunicação; • o texto propriamente dito, seus aspectos composicionais e sua forma de organização. Diante disso, pode-se afirmar que usar a língua é uma forma de interagir com o outro, de agir socialmente, e isso só acontece por meio de textos; estes apresentam um conjunto de princípios, valores, significados e ideologias, ou seja, um discurso. Nesse sentido, todo discurso é socialmente posicionado, pois a identidade do locutor nunca é irrelevante; mulheres e homens, empregados e empregadores, entre outras categorias socialmente construídas, vão manifestar visões diferentes de mundo. Considerar esse aspecto é importante para produzir uma leitura menos ingênua e mais informada dos discursos que circulam na sociedade. Um discurso pode se concretizar em forma de texto oral, escrito e multimodal. Observe a seguinte capa do jornal Meia Hora, publicação impressa que circula na cidade do Rio de Janeiro, a qual mescla linguagem verbal e não verbal. Gêneros e Tipos Textuais LÍ N G U A P O R TU G U ES A 5Bernoulli Sistema de Ensino Div ul ga çã o A capa faz uma intertextualidade com o filme Liga da Justiça, cujos personagens (super-heróis) serviram como signos para uma crítica social e política acerca das dificuldades enfrentadas pela população no cotidiano da cidade do Rio de Janeiro. O discurso jornalístico incorporou o discurso do entretenimento para construir essa perspectiva crítica, ideologicamente marcada por um tom irônico, debochado, com o uso da linguagem informal, que reafirma o teor da publicação, de característica mais popular e sensacionalista. Para facilitar ao leitor do jornal a apreensão dos efeitos de sentido pretendidos, foram feitas legendas para identificar as qualidades de super-heróis, necessárias aos cidadãos para superarem os problemas da cidade, por exemplo, balas perdidas, vias fechadas, UPA, assédios no transporte público, queda de túnel e enchentes. Com base nisso, é possível afirmar que um texto é o resultado de um processo em que os sujeitos interagem por meio da linguagem. Nele são realizadas várias atividades linguísticas, cognitivas e sociais, que devem estar adequadas ao contexto sócio-histórico-cultural- -comunicativo, à posição social dos interlocutores, à formalidade (ou não) da situação, ao meio de circulação e, por fim, à forma que esse texto terá. Fatores de textualidade Para que um texto não seja um conjunto aleatório de frases dispostas em uma sequência qualquer, ele deve obedecer a alguns critérios. Assim, denominam-se fatores de textualidade o conjunto de características que permitem que o texto seja um texto, e não um amontoado de frases. Cada texto abrange uma série de recursos, estratégias, relações e princípios para e em sua produção. Um desses fatores é o princípio interacional, que, como já foi visto, é o diálogo, a reciprocidade comunicativa. O outro é o da intencionalidade, ou seja, sempre que falamos ou escrevemos, fazemos isso para alguém e por algum motivo e esperamos que o outro entenda e aceite o que propomos (aceitabilidade). Para que isso aconteça, é necessário que a situação de interação comunicativa seja adequada aos seus contextos e aos seus interlocutores (situacionalidade); que o outro tenha as informações ou conhecimentos de outros textos que o façam entender a mensagem enviada (intertextualidade); e que a mensagem acrescente informações e conhecimento ao interlocutor (informatividade). É importante, também, que o que for dito esteja interligado, com elementos que se relacionam de forma compreensível (coesão) e os sentidos e as ideias sejam lógicos e claros (coerência). Observe os exemplos: Ro dr ig o A lv es A imagem anterior compõe a mensagem estabelecida por meio da palavra “Pare”, que, muito mais que um verbo no modo imperativo afirmativo ou uma palavra que signifique “detenha” ou “interrompa”, é um aviso ao motorista de que ele deve fazer uma parada obrigatória por alguns instantes, a fim de observar se algum outro veículo se aproxima ou deixar um pedestre passar. Nessa mensagem, estão operando os princípios de interação, intencionalidade (respectivamente, para quem e para que o texto se destina) e, até mesmo, intertextualidade, já que são usados símbolos verbal (palavra “Pare”) e não verbal (placa de sinalização indicando via de mão única e as faixas para passagem de pedestres) de normas do trânsito na composição da imagem. Contudo, seria aceitável esse aviso no chão apenas se não houvesse outra placa com uma seta, indicando a mão única da rua, conforme se vê na imagem. Nesse caso, o texto está correto, é socialmente compreendido, mas a sua função e seu sentido na situação comunicativa são inadequados, e a sinalização pode provocar acidentes, em vez de preveni-los. Percebe-se, assim, um problema na coerência do texto. Veja este outro exemplo: Lesão Desafio, máquina, tempo, banco, gente, milhas, mundo, momentos, flocos, reportagem. Turbulência, início, passeio, caminho, verdade, luz, orgulho, missão, jovem, dinheiro, sabor, sol, rede, qualidade, notícia, desconto, receitas. Proteção, barraco, ideia, concorrência, perda, promoção, amigos, história, excesso, mês, grupo, aluguel, máquina, assunto,claro, saberes. [...] ANTUNES, Irandé. Textualidades: noções básicas e implicações pedagógicas. 1. ed. São Paulo: Parábola, 2017. p. 43-44. [Fragmento] No exemplo anterior, por sua vez, há um amontoado de palavras sem organização sintática ou semântica que possa fazer sentido, mesmo com o título. Não é possível identificar um tema, fazer um resumo do conjunto de palavras, pois elas são aleatórias. Como um texto não é construído apenas das suas estruturas linguísticas, mas também das relações cognitivas, Frente A Módulo 01 6 Coleção 6V sociais e interacionais mediadas por ele, não podemos, classificá-lo como texto, pois não há o que ser dito; não há relação entre seus constituintes; ele não é interpretável, ou seja, não preenche as condições para que possa funcionar como texto. Em textos de natureza mais artística e criativa, como os literários e os publicitários, é comum a subversão ou a desconstrução de um ou mais fatores de textualidade quando há a intenção de criar significados que instiguem, ou mesmo desafiem, o interlocutor de um texto. O trecho da crônica a seguir, de Carlos Drummond de Andrade, é exemplificativo desse caráter subversivo dos textos literários. Leia-o. O que se diz Que frio! Que vento! Que calor! Que caro! Que absurdo! Que bacana! Que tristeza! Que tarde! Que amor! Que besteira! Que esperança! Que modos! Que noite! Que graça! Que horror! Que doçura! Que novidade! Que susto! Que pão! Que vexame! Que mentira! Que confusão! Que vida! Que talento! Que alívio! Que nada... Assim, em plena floresta de exclamações, vai se tocando pra frente. Ou para o lado. Ou para trás. Ou não se toca. Parado. Encostado. Sentado. Deitado. De cócoras. Olhando. Sofrendo. Amando. Calculando. Dormindo. Roncando. Pesadelando. Fungando. Bocejando. Perregando. Adiando. Morrendo. Em redor, não cessam explosões interjetivas. Coitado! Tadinho... Canalha! Cachorro! Pilantra! Dedo-duro! Bandido! Querido! Amoreco! Peste! Boneco! Flor! E vêm outras vozes breves, no vão do vaivém: [...] ANDRADE, Carlos Drummond de. O que se diz. In: ANDRADE, Carlos Drummond de. O poder ultrajovem. Rio de Janeiro: José Olympio, 1973. p. 99. [Fragmento] A enumeração aparentemente desordenada de expressões em cada um dos parágrafos, sem termos que estabeleçam entre elas e o todo relações de sentido, contraria os princípios da informatividade e da coesão. Isso colabora para a crítica ao discursos vazios e à banalização da linguagem já apresentada no título. Fatores de textualidade Essa videoaula trata dos fatores que possibilitam a textualidade, ou seja, as características que um texto deve ter para ser eficiente e cumprir seu objetivo de comunicação. OS GÊNEROS TEXTUAIS Conforme estudado até agora, a língua é produto das ações e interações sociais e históricas e materializa-se por meio de textos, os quais nem sempre são os mesmos para cada situação sociocomunicativa. Assim, há uma organização textual diferente, tendo em vista a adequação à circunstância de uso, ao propósito comunicativo, aos interlocutores, ao suporte (lugar físico ou virtual em que os gêneros são produzidos e publicados), ao contexto em que os textos são produzidos. A essas produções, ilimitadas, como são as práticas sociais, e consideradas “relativamente estáveis”, dá-se o nome de gêneros textuais. Na prática, porém, o que são os gêneros? Como funcionam? Por que são “ilimitados” e “relativamente estáveis”? Nossa vida é permeada por situações comunicativas e, para cada uma delas, há uma intenção, um sujeito a quem nos direcionamos, uma situação na qual nos inserimos e uma maneira como transmitimos a mensagem. Então, sempre que ocorre uma comunicação verbal, oral, escrita ou multimodal, ela se enquadra em um gênero. Gêneros textuais orais Gêneros textuais escritos Gêneros textuais multimodais palestra, aula, sermão, discurso político falado, reportagens de telejornais, programa de rádio, conversas telefônicas e outros que utilizem a forma oral de interação. carta, aviso, relatório, bula de remédio, receita médica, extrato bancário, mapa, infográfico, certidão de nascimento, enfim, uma quantidade ilimitada de possibilidades discursivas. chats, posts, tweets, blogs, vlogs, ciberpoemas, infográficos, entre outros textos em que imagens, sons, textos verbais escritos e falados se articulam. Os gêneros se constituem pela necessidade da coletividade, são maleáveis, adaptáveis, dinâmicos, situacionais, históricos e se materializam em instâncias ou domínios discursivos. Veja um exemplo de duas das inúmeras instâncias sociais (ou domínios discursivos) e os gêneros que nelas são produzidos, caracterizando-se principalmente por seus aspectos sociocomunicativos e funcionais, o que os fazem reconhecidos e nomeados, compreendidos e aceitos na comunidade discursiva. prova exercício apresentação resumo redação Instância educacional Instância jornalística anúncio notícia reportagem propaganda crônica artigo resenha Existem, nessas instâncias, gêneros em comum, como o artigo e a resenha. Eles podem aparecer tanto no contexto educacional quanto no jornalístico, entretanto, possivelmente vão apresentar características diferentes e, já que estarão circulando em meios distintos, podem ter um propósito comunicativo diferente ou talvez precisem adequar o estilo de linguagem ao público e à situação sociocomunicativa. Essa adaptação à situação em que são produzidos é o que faz os gêneros textuais serem “relativamente” estáveis. Afinal, mesmo adaptados a outras condições, eles ainda serão reconhecidos e aceitos como um gênero textual determinado. Observe os dois textos a seguir: Gêneros e Tipos Textuais LÍ N G U A P O R TU G U ES A 7Bernoulli Sistema de Ensino Texto I Para: caio.sousa@mtptecnologias.com.br; sofia.pereira@mtptecnologias.com.br; maria.clara@mtptecnologias.com.br sandra.albuquerque@mtptecnologias.com.br; gustavo.vaz@mtptecnologias.com.br Assunto: Cc: enviar apagarX salvar Reunião de planejamento primeiro semestre 2018 Prezados analistas, A reunião marcada para quinta-feira, dia 19/10, foi adiada para a próxima quarta-feira, dia 25/10, pois a Coordenação estará participando de um treinamento para gestores em São Paulo. Seguem, ainda, novo local e horário: Sala de Reuniões IV (terceiro andar) Das 14:00 às 16:00 Atenciosamente, Fabrícia Borges Coordenadora de Marketing MTP Tecnologias Texto II Para: marine@provedor.com.br; tati@provedor.com.br; joana@provedor.com.br Assunto: Cc: enviar apagarX salvar Trabalho de literatura Anexo: Trabalho_de_literatura_parte_Luana.docx Meninas! Tudo bem com vcs? Tô enviando minha parte no trabalho de literatura, tá? N consegui escrever grandes coisas pq esse livro é complicado demais :p Mas sei q vcs vao fazer coisas lindas <3 e salvar nossa apresentação q já é quinta :O n se esqueçam!!! Bjs! Luh Os dois textos representam o gênero textual digital / virtual e-mail. O que possibilita esse reconhecimento são os atributos próprios desse gênero e que o caracterizam: a forma composicional, ou seja, a recorrência de estruturas semelhantes, como o endereço dos destinatários, o uso de vocativo e assinatura, a delimitação de um assunto. Contudo, os textos se distanciam quanto ao estilo, o qual é a linguagem adequada à situação de produção, que, no primeiro caso, é formal, por se tratar de um contexto institucional, e, no segundo, é informal e apresenta traços da linguagem comumente utilizada na Internet, como as abreviações, o uso de emoticons e a proximidade com o registro oral nos usos de “tô” e do marcador “tá”. Nota-se, com isso, que a forma composicional desempenha a função de modelar o gênero, enquanto o contexto de produção guiará as escolhas relacionadas à linguagem, ao estilo. Por exemplo, os gêneros presentes em documentos públicos, cartoriais, de registros, como os escolares, matrículas, lista de presença, boletins e certidões,têm características mais fixas, o que quer dizer que sofrem menos interferências de quem os produz. Outros gêneros, por sua vez, têm características mais flexíveis – principalmente as de estilo – e podem sofrer interferências do seu autor, como a crônica, o conto, a piada, o bilhete e o próprio e-mail. Hibridização dos gêneros textuais Outra propriedade dos gêneros textuais é a sua capacidade de hibridização. Como eles normalmente não são puros e sofrem influência do contexto em que são produzidos, do sentido que querem provocar e do seu propósito comunicativo, podem apresentar uma “aparência” diferente daquela esperada. Por isso, muitas vezes, surgem alguns textos com aspectos de outros. Essa nova forma de apresentar um gênero, misturando-o a outro(s), pode ser relativa ao estilo, à composição ou ao suporte. Um exemplo disso é o poema “Prece”, que compõe a segunda parte do livro Mensagem, de Fernando Pessoa, em que o poeta escreve um poema-oração. Essa obra enfoca um movimento de valorização e de saudosismo em relação ao passado grandioso de Portugal. Perceba como o autor articula os elementos do discurso religioso de uma oração com a estrutura de um poema. Prece Senhor, a noite veio e a alma é vil. Tanta foi a tormenta e a vontade! Restam-nos hoje, no silêncio hostil, O mar universal e a saudade. Mas a chama, que a vida em nós criou, Se ainda há vida ainda não é finda. O frio morto em cinzas a ocultou: A mão do vento pode erguê-la ainda. Dá o sopro, a aragem – ou desgraça ou ânsia – Com que a chama do esforço se remoça, E outra vez conquistaremos a Distância – Do mar ou outra, mas que seja nossa! PESSOA, Fernando. Prece. In: PESSOA, Fernando. Mensagem. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/ download/texto/pe000004.pdf>. Acesso em: 01 abr. 2019. O texto é um poema, estruturado em estrofes de quatro versos, mas é intitulado “Prece”, um gênero textual do domínio discursivo religioso, com o qual as pessoas se dirigem a uma entidade divina para suplicar por algum benefício, agradecer ou adorar. No poema, há uma súplica, um chamamento a essa entidade superior, na forma do vocativo “Senhor”. Essa invocação é feita por um sujeito plural – “nós” (restam-nos; em nós criou; conquistemos; nossa) –, que representa o povo português. Na primeira estrofe, ao dizer “Senhor, a noite veio e a alma é vil”, o eu lírico deixa implícita a ideia de que, se o dia foi de grandeza, a noite chegou como tempo de tristeza e destruição, daí a necessidade de implorar a um ente divino que interceda por Portugal. Em função desse estado de decadência do país, o eu lírico roga ao Senhor que devolva à Pátria a “chama” (metáfora para esperança), oculta debaixo das “cinzas” (imagem metafórica de ruína). Suplica, como quem reza, para que esse ser superior resgate a grandiosidade da nação portuguesa, como evidenciado nos versos da última estrofe: “Dá o sopro, a aragem – ou desgraça ou ânsia – / Com que a chama do esforço se remoça”. O verbo no imperativo “Dá” estabelece a interlocução com essa força divina. Frente A Módulo 01 8 Coleção 6V Desse modo, percebe-se, no texto, a utilização das formas composicionais de dois gêneros, poema e prece, para produzir os efeitos de sentido desejados pelo poeta. Entretanto, não é só na literatura que encontramos a subversão composicional. Nos gêneros do nosso cotidiano também ocorre essa constituição híbrida com a intenção de provocar efeitos de humor, de surpresa, de criatividade ou, ainda, para chamar a atenção do leitor, como no exemplo a seguir. O texto da campanha antitabagismo, feita pelo Governo Federal, incorpora o gênero tirinha para compor o anúncio. Com essa estratégia, o anunciante ilustra o comportamento que pretende promover, ao mesmo tempo em que dá um tom de humor crítico a um tema socialmente relevante. Apesar de ser comum e aceito, o hábito de fumar é um problema de saúde pública e, para convencer da necessidade de mudar essa situação, usou-se a mistura de linguagens de gêneros dos domínios publicitário e jornalístico (no caso, a tirinha). Desse modo, ao explorar o humor da tirinha, incentiva-se a adesão do leitor ao propósito comunicativo do texto (desestimular o ato de fumar), de uma forma mais didática e persuasiva. OS TIPOS TEXTUAIS A maioria dos falantes de uma língua, pertencentes a determinado grupo social, sabe como é uma consulta e como será redigida uma receita médica; a estrutura de uma carta, de uma conta de luz; sabe como cumprimentar alguém; iniciar uma conversa; ou “contar um caso”. Sendo assim, cada redator ou produtor de um gênero textual, por conhecer sua estrutura básica, sabe utilizá-lo e adaptá-lo – se for necessário. Para quem recebe esses gêneros, normalmente, sua estrutura também é conhecida e facilmente identificável. Observe o exemplo. D iv ul ga çã o Arq ui vo B er no ul li. F ot o: I st oc kp ho to Diante de um texto como o receituário anterior, em que foi utilizada uma linguagem diferente da qual é comum para o gênero “receita médica”, com a presença de elementos não verbais, como as imagens de ícones e de comprimidos, não há dificuldade para identificar rapidamente o gênero. As estruturas inerentes a ele estão presentes, como o papel com a logomarca e a identificação do centro de saúde, os medicamentos, as dosagens e os horários em que devem ser tomados. A adaptação feita pelo profissional foi em relação ao estilo, ou seja, à linguagem mais apropriada à situação de produção e ao interlocutor, um idoso que possivelmente teria dificuldades de assimilar e memorizar a quantidade de remédios a ser tomada em diferentes períodos do dia. Assim, para a elaboração de cada um dos gêneros textuais, é utilizada uma forma composicional. Essa estrutura é formada pelos tipos textuais. Cada gênero pode ser composto por várias sequências tipológicas, e, normalmente, há a predominância de uma delas. Em uma carta, por exemplo, pode-se encontrar sequências narrativas, descritivas, expositivas, argumentativas e até injuntivas. Uma notícia, por sua vez, tem uma tipologia predominantemente narrativa, mas pode conter sequências descritivas, expositivas ou argumentativas. As tipologias, diferentemente dos gêneros textuais, ocorrem em número limitado e são constituídas por marcas linguísticas: escolhas lexicais, aspectos sintáticos, tempos verbais e relações lógicas. Estudaremos cada uma em particular, observando suas características. Tipo narrativo Esse tipo de texto tem como característica as sequências que indicam ações e eventos presentes, passados e futuros, privilegiando os verbos no pretérito perfeito e imperfeito do indicativo, que relatam situações reais ou ficcionais, o uso de expressões que apresentem decorrência de tempo (o antes, o durante e o depois), assim como a localização dos espaços e ambientes, a referência aos seres (personagens concretos ou abstratos) e a presença de um sujeito do enunciado (narrador). Gêneros e Tipos Textuais LÍ N G U A P O R TU G U ES A 9Bernoulli Sistema de Ensino Estes são os critérios que definem a sequência narrativa: situação inicial, complicação, clímax, resolução, situação final (e moral, no caso da fábula). Para exemplificar esses critérios, analise o conto “Sábado de Aleluia”, da escritora Lilia Guerra. Sábado de Aleluia Era uma tarde comportada, que passeava vestidinha num pulôver cinzento do lado de fora da minha janela. Em sábado de aleluia a gente não sabe bem o que fazer. Calmaria doida. Vovó estava em seu quarto, envolvida na colcha de tricô, olhos fixos no teto. Saudade de ouvir a voz dela, de conversar um pouquinho, mas há muito tempo, se tornara inacessível, como um objeto antigo que a gente não sabe manusear. Em busca de distração, escolhi a vítima: a estante. Gavetas e prateleiras empesteadas de existência. Ela suspeitou que seria defraudada e suspirou paciente. Escancarei a parte inferior e senti o peso da boa madeira,outrora encantadora cerejeira, plantada sabe Deus onde. O que é a vida? Alcancei um envelope e espalhei o conteúdo no tapete. Um manual de liquidificador, uma conta antiga de energia, telegramas, postais, um rótulo de Neocid. Numa fotografia em preto e branco uma mulher carregava um garoto gordo com traje de batizado. Bula de analgésico, receita de pavê bicolor, cartões de natal, santinhos de missa de sétimo dia, um pente desdentado. Velharias inúteis que vovó sempre fez questão de conservar. Apanhei um saco de lixo. A estante tremeu indefesa, mas digníssima. Em outro compartimento, dormiam tranquilos uns volumes grisalhos. Acordei todos eles e foram também para o tapete. Atordoados, defenderam-se espalhando poeira. Vesti a capa da justiça. No quem vai quem fica dos meus critérios, formei duas pilhas. Parti para a prateleira superior. Grandes xícaras sonhadoras temiam ser notadas. Implacável, retirei cada uma delas e esmiucei o interior. [...] Ao lado, paralisada, a coleção de discos. Capas plastificadas de um Alzheimer evidente clamavam comiseração. Frank Sinatra e Ray Conniff, seguidos por uma fila de sinfonias. Começaram a vir trilhas sonoras e coletâneas. Álbuns coloridos sorriam abobalhados, como se sentissem cócegas ao meu toque descuidado. Busquei uma caixa grande. Muitas capas traziam dedicatórias, datas, declarações. Numa delas, em caligrafia ordinária lia-se: Eterno amor, sempre teu, Ivo. Um disco de Cartola. Ivo... Ivo... nada. A vitrola envelhecia sossegada no canto. Como é que se liga esse troço mesmo? Um adaptador, tomada antiga. Puxei pela memória. Soprei bem de leve a agulha. Movi o frágil bracinho, cautelosa. Chiado. Chegou a primeira nota. Minha... quem disse que ela foi minha? Se fosse, seria a rainha, que sempre vinha aos sonhos meus... Ouvi passos vindos do corredor. Vovó se levantou. Abobalhada, veio f loreando em movimentos plastificados, mão no ventre, seu cavalheiro. Balançava sonhadora, o corpo enferrujado e magro de caniço, já sem valor, escancarada, empesteada de existência. S it u aç ão in ic ia l C om p lic aç ão C lím ax Hepática e obsoleta, rodopiava no tapete, num Alzheimer evidente. Outrora encantadora, agora, grisalha de esmiuçado interior, defraudada. Me tirou pra dançar, sorrindo desdentada, como se sentisse cócegas ao meu toque descuidado. Movi o frágil bracinho, cautelosa, trouxe-a leve feito pluma. Então é assim que se liga esse troço? Ao fim da canção, suspirou paciente e retirou-se. Voltou a envelhecer em preto e branco, sossegada em seu canto, temendo ser notada. Clamava comiseração, de novo paralisada, indefesa, mas digníssima. Retirei a capa da justiça e recoloquei os objetos na estante, que seguiu muito nobre em seu silêncio solene. Fui à janela admirar a tarde de pulôver. O que é vida? GUERRA, Lilian. Sábado de Aleluia. In: GUERRA, Lilian. Perifobia. São Paulo: Patuá, 2018. [Fragmento] O conto “Sábado de Aleluia” é uma narrativa que se concentra em um dia na vida do narrador-personagem, ambientado na casa da avó, que sofre de Alzheimer. A situação inicial (em azul) apresenta o narrador relatando a calmaria de um sábado encoberto e frio, deixando perceber certa melancolia pela condição da avó. A complicação (em vermelho) apresenta a ação que altera a rotina ou o equilíbrio inicial: o narrador-personagem, para passar o tempo, mexe nos objetos da estante, descobrindo neles partes da rotina da avó, como se espelhassem uma existência que vai se tornando desnecessária e precisa ser ordenada. Ele, então, decide testar a antiga vitrola e ouvir uma música antiga. Essa sequência dá início ao clímax (em laranja), ponto máximo da tensão narrativa, em que, ao resgatar uma antiga canção, o narrador-personagem é surpreendido pela avó, que sai do quarto e, num resquício da memória de um amor, baila ao som da música que toca na velha vitrola. A resolução (em verde) diz respeito ao fim desse breve lampejo de lucidez e vibração da avó (o “Sábado de Aleluia”), que volta ao seu estado inacessível, provocado pela doença. Na sequência (em roxo), tem-se a situação final: o narrador reflete sobre a experiência, retomando o questionamento existencial que é o fio condutor do conto – O que é vida?. Tipo descritivo O tipo descritivo é a apresentação das características de um lugar, uma pessoa (suas características físicas e psicológicas), uma situação ou um objeto, em que não há uma progressão temporal. As referências são estáticas e os verbos normalmente estão no presente ou no pretérito imperfeito do indicativo. Leia os exemplos a seguir, tentando reconhecer neles os elementos da tipologia descritiva. C lím ax R es ol u çã o Situação final Frente A Módulo 01 10 Coleção 6V Exemplo 1: Clarice Lispector: o segredo mais popular da literatura brasileira A biblioteca Clarice Lispector, em São Paulo, é um edifício público de concreto localizado na Lapa, um bairro de classe média relativamente próximo ao centro da cidade. Tem portas amarelas e azuis por fora; por dentro, principalmente pessoas idosas sentadas em meia dúzia de mesas redondas. Quase todo mundo sabe que a tal Lispector que dá o nome ao prédio era alguém importante, embora nem todos consigam identificá-la como a escritora brasileira mais traduzida e aclamada em décadas. AVENDAÑO, Tom C. Clarice Lispector: o segredo mais popular da literatura brasileira. El País. Disponível em: <https://brasil. elpais.com/brasil/2017/09/20/cultura/1505923237_969591. html>. Acesso em: 17 set. 2019. [Fragmento] Exemplo 2: Estágio em Marketing Digital Descrição: Estagiário ficará responsável pela curadoria de conteúdo das redes sociais de uma empresa de automóveis. Desejamos alguém com familiaridade no uso da Internet e das redes sociais Twitter, Facebook e Instagram, espírito criativo e boa escrita para criação de textos também para o blog da empresa. Desejável conhecimento dos programas Photoshop e Illustrator, além do Pacote Office. Boa comunicação, agilidade no cumprimento de prazos e metas, organização e autogerenciamento. Desejável conhecimento em inglês. Requisitos: Estar cursando entre o 2º e o 6º período dos cursos de Design Gráfico, Jornalismo ou Publicidade e Propaganda. Disponibilidade para trabalhar das 13:00 às 17:00. Salário: R$ 800,00 (+ vale transporte) Os textos anteriores são característicos do tipo descritivo por apresentarem um ente descrito (um local, biblioteca Clarice Lispector; e uma pessoa, Estagiário em Marketing Digital) e as características e propriedades desse ente referencial. No exemplo 1, são descritas as características físicas da biblioteca: feita de concreto, com portas amarelas e azuis, meia dúzia de mesas redondas; a sua localização: bairro da Lapa, em São Paulo; e o perfil dos visitantes do local: principalmente pessoas idosas. No exemplo 2, por sua vez, são apresentadas as características esperadas de um futuro estagiário de uma empresa de automóveis: familiaridade com a Internet e as redes sociais, espírito criativo, boa escrita, conhecimento de programas específicos da área, agilidade, organização, autogerenciamento e conhecimento de inglês; além disso, a própria vaga oferecida é descrita: horário de trabalho, salário e benefícios, função principal – curadoria de conteúdo. Percebe-se que não há, nos textos, relação temporal, e, se há, ela está em uma sequência narrativa, como no último período do exemplo 1. Às vezes, essa tipologia pode apresentar também uma sequência relacional, em que se compara o ente referencial com o outro. Em textos literários, a descrição é comumente utilizada para a contextualização do enredo da obra, dos lugares e das personagens que o compõem, além de contribuir para a construção de sentidos na medida em que deixa transparecer questões psicológicas e sociais abordadas pelo autor. No exemplo a seguir, retirado do romance O cortiço, de Aluísio Azevedo, é possível, por meio, por meio da descriçãodo amanhecer no cortiço, principal cenário da obra, reconhecer características do estilo e da época do texto. Leia-o. Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas. Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada sete horas de chumbo. Como que se sentiam ainda na indolência de neblina as derradeiras notas da última guitarra da noite antecedente, dissolvendo-se à luz loura e tenra da aurora, que nem um suspiro de saudade perdido em terra alheia. A roupa lavada, que ficara de véspera nos coradouros, umedecia o ar e punha-lhe um farto acre de sabão ordinário. As pedras do chão, esbranquiçadas no lugar da lavagem e em alguns pontos azuladas pelo anil, mostravam uma palidez grisalha e triste, feita de acumulações de espumas secas. Entretanto, das portas surgiam cabeças congestionadas de sono; ouviam-se amplos bocejos, fortes como o marulhar das ondas; pigarreava-se grosso por toda a parte; começavam as xícaras a tilintar; o cheiro quente do café aquecia, suplantando todos os outros; trocavam-se de janela para janela as primeiras palavras, os bons-dias; reatavam-se conversas interrompidas à noite; a pequenada cá fora traquinava já, e lá dentro das casas vinham choros abafados de crianças que ainda não andam. No confuso rumor que se formava, destacavam-se risos, sons de vozes que altercavam, sem se saber onde, grasnar de marrecos, cantar de galos, cacarejar de galinhas. De alguns quartos saíam mulheres que vinham pendurar cá fora, na parede, a gaiola do papagaio, e os louros, à semelhança dos donos, cumprimentavam-se ruidosamente, espanejando-se à luz nova do dia. AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. 30. ed. São Paulo: Ática, 1997. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/ download/texto/bv000015.pdf>. Acesso em: 17 set. 2019. [Fragmento] No fragmento, a descrição do amanhecer é feita por meio da personificação do cortiço e dos elementos que o compõem. São utilizados, principalmente, verbos no pretérito, os quais, apesar de indicarem o tempo da narrativa, desenham para o leitor cenas e situações. As características dos elementos que formam o acordar do cortiço apontam, ainda, para as características do estilo de época denominado Naturalismo, que tinha como objetivo a reflexão acerca da vida em sociedade e da constituição do ser humano. Nesse sentido, os autores desse período disseminavam a ideia de determinismo, segundo o qual, as características e o caráter dos indivíduos eram determinados, como o próprio nome sugere, pelo ambiente no qual eles estavam inseridos. Esses aspectos são identificáveis nas descrições, por exemplo, do sabão com que eram lavadas as roupas, das pedras de “uma palidez grisalha e triste” e dos louros que, como os donos, se cumprimentavam, exemplo da zoomorfização do ser humano, recurso bastante utilizado pelos autores naturalistas. Gêneros e Tipos Textuais LÍ N G U A P O R TU G U ES A 11Bernoulli Sistema de Ensino Tipo injuntivo No tipo injuntivo, prevalecem as formas verbais imperativas, que estão presentes nos gêneros instrucionais, ou seja, aqueles que indicam como executar uma ação ou seguir determinada norma ou programa. Observe o exemplo. Div ul ga çã o O texto anterior faz parte de uma campanha educativa do governo para conscientizar a população acerca do uso de bebida alcoólica por quem dirige. O próprio título do anúncio já sugere o tipo textual, “Manual do Pegador”, que, com verbos no imperativo, ensina como “pegar”. O texto brinca com o uso da gíria e a polissemia do verbo, que, no sentido conotativo, quer dizer “ficar”, “paquerar”, mas que, nesse contexto, refere-se às alternativas de transporte para alguém que decidiu beber e não deve dirigir. Tipo dissertativo / expositivo O tipo dissertativo / expositivo é de natureza temática. Ele expõe, explica, analisa, classifica, avalia determinado tema ou assunto, fazendo referência ao mundo por meio de considerações amplas, exemplos comuns, muitas vezes separados do tempo e do espaço. Embora apareçam nele mudanças de situação, não são importantes as relações de posterioridade e anterioridade entre os enunciados, mas as relações lógicas estabelecidas entre eles: causalidade, pertinência, finalidade, etc. Assim, a progressão dos enunciados obedece a uma relação lógica, e não cronológica (como é o caso dos textos narrativos). Por isso, quando há a presença de sequências narrativas ou descritivas em um texto dissertativo, elas ocorrem apenas para ilustrar afirmações gerais ou para esclarecê-las, explicá-las. O objetivo desse tipo textual é expor definições, ideias e conceitos, fazer com que o leitor / ouvinte tome conhecimento de informações ou interpretações dos fatos, sem necessidade de um forte convencimento. Por isso, predominam as estratégias de transmissão de um saber já estabelecido ou a explicação de um fenômeno, em geral amparado por dados reais, que são apresentados pelo locutor da forma mais clara possível. Os tempos verbais mais comuns são o presente e o futuro do presente do indicativo, uma vez que, como já foi dito, não há progressão de tempo entre os enunciados e eles transmitem a ideia de atemporalidade, além de exprimirem certeza em relação ao que está sendo exposto. No universo dos gêneros textuais, estão entre aqueles em que predominam os tipos dissertativos (expositivos ou explicativos): os artigos científicos, os ensaios, os relatórios e os infográficos, como o exemplo a seguir. Idosos: Segurança contra quedas O PORQUÊ das quedas As consequências 30% dos idosos caem uma vez por ano 40% dos idosos com mais de 80 anos caem uma vez por ano 70% das quedas acontecem em casa Variações bruscas da pressão arterial Fraturas ósseas, principalmente de fêmur e de quadril Fraturas ósseas, principalmente de fêmur e de quadril Traumas de crânio Traumas de crânio Depressão e ansiedade Maior número de internações em hospitais ou instituições de longa permanência Medo de novos episódios de quedas Diminuição de reflexos Jejum prolongado que leva à hipoglicemia Diminuição da visão Tonturas ou vertigens Uso de medicamentos sem orientação Dr. Alberto Macedo Soares, geriatra. Nesse infográfico, que trata de acidentes com idosos, há dados estatísticos – que expõem o quão grave é o problema das quedas –, além de explicações das causas desses acidentes e a exposição das consequências. Em gêneros textuais dessa natureza, e nesse caso especificamente, vale ressaltar que não há sequências argumentativas, uma vez que a problematização do tema por si só apresenta uma alegação favorável a que se tenha cuidados preventivos com a segurança dos idosos. Uma das principais características desse gênero é a utilização de elementos gráfico-visuais integrados ao texto verbal, os quais contribuem para apresentar de forma simples e didática as informações ao leitor. Frente A Módulo 01 12 Coleção 6V Tipo argumentativo A tipologia argumentativa ocorre no texto cujo objetivo é discutir ideias e mudar um modo de pensar. Um texto argumentativo estrutura-se da seguinte maneira: introdução com apresentação de uma tese e do tema que será discutido, o que ocorre por meio da inserção de dados ou premissas que serão utilizados na defesa do ponto de vista. A partir daí, desenvolvem-se os argumentos relacionados à tese que será defendida. A conclusão refere-se à parte em que se chega a uma dedução lógica sobre o que foi discutido, muitas vezes por meio da retomada da abordagem inicial, como forma de “fechar” as ideias desenvolvidas. Um bom texto argumentativo deve apresentar uma tese clara, facilmente relacionável ao tema abordado; argumentos diversificados para sustentá-la, os quais podem ser fatos quantitativos, dados científicos, premissas ideológicas e / ou universais, desde que não sejam de senso comum. Deve, ainda, mostrar ao leitor os efeitos positivos advindos da tese, sendo possível,paralelamente, apresentar pontos contrários a ela, para desconstruí-los ou negá-los. Esse tipo textual é organizado no tempo presente, por meio de articuladores textuais que indicam as relações entre os argumentos e as ideias desenvolvidas no texto, as quais podem ser de causa, consequência, finalidade, etc. Como buscam convencer o leitor, os textos argumentativos podem apresentar citações, exemplos, dados, comparações, tudo para fundamentar a argumentação. O texto a seguir é formado por várias sequências argumentativas. Leia-o analisando as características dessa tipologia e avaliando os modos como elas foram empregadas. Pensar hábitos por meio da filosofia ajuda a entender quem somos Fazemos centenas de coisas – repetidamente, rotineiramente – todos os dias. Acordamos, checamos nossos telefones, comemos nossas refeições, escovamos nossos dentes, fazemos nossos trabalhos, satisfazemos nossos vícios. Nos últimos anos, essas ações habituais tornaram-se uma plataforma para o aperfeiçoamento individual: estantes de livros estão saturadas de best- -sellers sobre “life hacks” (truques para a vida),”life design” (design de vida) e como “gamificar” nossos projetos de longo prazo, prometendo de produtividade realçada a uma dieta mais saudável e grandes fortunas. Esses guias variam em precisão científica, mas tendem a descrever os hábitos como rotinas que seguem uma sequência repetitiva de comportamentos e nos quais podemos intervir com o propósito de encontrar um caminho melhor. O problema é que essa abordagem ignora grande parte da sua riqueza histórica. Os livros de autoajuda de hoje herdaram na verdade uma versão muito particular do hábito – especificamente, uma que surge no trabalho de psicólogos do início do século 20, como B.F. Skinner, Clark Hull, John B Watson e Ivan Pavlov. Esses pensadores são associados ao behaviorismo, uma abordagem da psicologia que prioriza reações observáveis de estímulo-resposta em vez dos sentimentos ou pensamentos internos. Os behavioristas definiam os hábitos em um sentido estreito e individualista; eles acreditavam que as pessoas estavam condicionadas a responder automaticamente a certos sinais, que produziam repetidos ciclos de ação e recompensa. A imagem behaviorista do hábito foi atualizada desde então à luz da neurociência contemporânea. Por exemplo, o fato de o cérebro ser plástico e mutável permite que os hábitos se inscrevam em nossa fiação neural ao longo do tempo, formando conexões privilegiadas entre as regiões cerebrais. A influência do behaviorismo permitiu que pesquisadores estudassem hábitos de forma quantitativa e rigorosa. Mas também legou uma noção rasa de hábito, que negligencia as implicações filosóficas mais amplas do conceito. Os filósofos costumavam encarar os hábitos como formas de contemplar quem somos, o que significa ter fé e por que nossas rotinas diárias revelam algo sobre o mundo em geral. Em sua Ética a Nicômaco, Aristóteles usou os termos héxis e éthos – ambos traduzidos hoje como “hábito” – para estudar qualidades estáveis em pessoas e coisas, especialmente em relação a sua moral e intelecto. Héxis denota as características duradouras de uma pessoa ou coisa [...] que podem guiar nossas ações e emoções. Um héxis é uma característica, capacidade ou disposição que alguém “possui”; sua etimologia é a palavra grega “ekhein”, o termo para propriedade. Para Aristóteles, o caráter de uma pessoa é, em última análise, a soma de suas “hexeis” (plural). Um éthos, por outro lado, é o que permite o desenvolvimento de hexeis. É tanto um modo de vida quanto o calibre básico da personalidade de uma pessoa. O éthos é onde se originam os princípios essenciais que ajudam a guiar o desenvolvimento moral e intelectual. [...] Esta versão do hábito está em sintonia com o sentido da antiga filosofia grega, que muitas vezes enfatizava o cultivo da virtude como um caminho para a vida ética. Milênios depois, na Europa cristã medieval, o héxis de Aristóteles foi latinizado para “habitus”. A tradução acompanha uma mudança que se afasta da ética da virtude dos antigos na direção da moralidade cristã, pela qual o hábito adquiriu conotações distintamente divinas. Na Idade Média, a ética cristã afastou-se da ideia de apenas moldar as disposições morais de uma pessoa e, em vez disso, partiu da crença de que o caráter ético era transmitido por Deus. [...]. O grande teólogo Tomás de Aquino viu o hábito como um componente vital da vida espiritual. De acordo com sua Summa Theologica (1265-1274), o “habitus” envolvia uma escolha racional e levava o verdadeiro crente a um senso de liberdade fiel. Em contraste, Tomás de Aquino utilizava “consuetudo” para se referir aos hábitos que adquirimos que inibem essa liberdade: as rotinas cotidianas e irreligiosas que não se relacionam ativamente com a fé. Consuetudo significa mera associação e regularidade, enquanto o “habitus” transmite sincera reflexão e consciência de Deus. Consuetudo é também de onde derivamos os termos “costume” (no sentido de prática frequente) e “costume” (no sentido de indumentária) – uma linhagem que sugere que, para os medievais, o hábito se estendia para muito além de cada indivíduo. In tr od u çã o D es en vo lv im en to 1 º d is cu rs o d e au to ri d ad e In tr od u çã o Fu n d am en ta çã o Gêneros e Tipos Textuais LÍ N G U A P O R TU G U ES A 13Bernoulli Sistema de Ensino Para o filósofo do Iluminismo David Hume, essas interpretações antigas e medievais do hábito eram limitantes demais. Hume pensou no hábito pelo que ele nos permite e capacita a fazer como seres humanos. Ele chegou à conclusão de que o hábito é o “cimento do universo”, do qual “todas as operações da mente… dependem”. Por exemplo, podemos jogar uma bola no ar e vê-la subir e descer à Terra. Por hábito, passamos a associar essas ações e percepções – o movimento do nosso membro, a trajetória da bola – de uma maneira que eventualmente nos permite apreender a relação entre causa e efeito. A causalidade, para Hume, é pouco mais que uma associação habitual. Da mesma forma, linguagem, música, relacionamentos – qualquer habilidade que usamos para transformar experiências em algo útil é construída a partir de hábitos, ele acreditava. Os hábitos são, portanto, instrumentos cruciais que nos permitem navegar o mundo e compreender os princípios pelos quais ele opera. Para Hume, o hábito nada mais é do que o “grande guia da vida humana”. É claro que devemos enxergar os hábitos como mais do que meras rotinas, tendências e tiques. Eles abrangem nossas identidades e ética; nos ensinam a praticar nossas crenças; se levarmos Hume em conta, eles conseguem nada menos do que manter o mundo unido. Enxergar hábitos dessa nova-porém- -velha maneira requer uma certa reviravolta conceitual e histórica, mas essa guinada proporciona muito mais que autoajuda superficial. Ela deveria nos mostrar que as coisas que fazemos todos os dias não são apenas rotinas que podem sofrer intervenções, mas janelas através das quais possamos talvez vislumbrar quem realmente somos. ANTILLA, Elias. Pensar hábitos por meio da filosofia ajuda a entender quem somos. Trad. Camilo Rocha. Nexo. Disponível em: <https://www.nexojornal.com.br/externo/2019/03/30/ Pensar-h%C3%A1bitos-por-meio-da-filosofia-ajuda-a-entender- quem-somos>. Acesso em: 30 mar. 2019. [Fragmento] No primeiro parágrafo, o autor introduz o tema – a discussão sobre o conceito de hábito –, contextualizando-o na relação que estabelece entre situações corriqueiras, ou ações habituais, e a oferta de livros de autoajuda que pregam o aperfeiçoamento individual a partir da intervenção nos hábitos. Ainda nesse parágrafo, é feita referência à premissa a partir da qual tais livros baseiam suas promessas. No segundo parágrafo, ainda compondo a introdução do texto, o autor apresenta a sua tese (em negrito) sobre o conceito de hábito, fazendouma contraposição ao que ele considera “uma versão particular”, portanto, restrita, sobre esse tema. Ele complementa a tese, ao localizar numa das correntes da psicologia comportamental – o behaviorismo – a base científica que orientaria tal visão limitada e, implicitamente, defende que o conceito de hábito deve incluir as reflexões filosóficas, pois ele vai além de uma mera questão comportamental. C on cl u sã o A partir do terceiro parágrafo, o autor desenvolve seu raciocínio, fundamentando a sua tese de pensar filosoficamente o conceito de hábito para se contrapor à perspectiva behaviorista, que ele considera simplista, como reafirmado na frase em negrito no terceiro parágrafo (em verde). No quarto parágrafo, a primeira frase (em negrito) é o primeiro argumento do autor (trecho também em verde) para sustentar sua tese; ele o comprova por meio da citação de um discurso de autoridade: os conceitos “héxis” (modo de vida / personalidade) e “éthos” (origem dos princípios morais e intelectuais) de Aristóteles, os quais foram traduzidos na palavra “hábito”. O autor busca fundamentar filosófica e historicamente a sua tese de que o hábito é muito mais do que a ideia de comportamentos condicionados. Continuando e ampliando o desenvolvimento do argumento anterior, para sustentar a sua tese, o autor apresenta outros valores (trecho em laranja) a que o termo “hábito” foi associado, sempre na perspectiva de não pensá-lo como mera atitude rotineira. Na Idade Média, o conceito de hábito ganha uma dimensão cristã (informação em negrito). Ainda mantendo a fundamentação filosófica, historicamente situada, o autor recorre a um discurso de autoridade (em roxo), ao apresentar as reflexões de Tomás de Aquino sobre o que implicaria o conceito de hábito. Por fim, para convencer o leitor acerca da tese de que esse conceito deve ultrapassar a visão comportamental (portanto, “programável”), o articulista arremata sua argumentação citando o filósofo David Hume, para quem o hábito nos definiria como humanos. E é esse conjunto de reflexões filosóficas, construídas ao longo da história, que leva o autor a reafirmar a sua tese de que o conceito de hábito deve ser pensado além da concepção de rotina, do tique; ele seria, na verdade, um componente de nossa identidade. Ao construir sua argumentação por meio de um percurso histórico pelas correntes filosóficas, fundamentada no discurso de autoridade (as teorias de pensadores reconhecidos), o autor faz um contraponto à visão (bastante difundida e aceita) de que o hábito seria mero aspecto comportamental, portanto, “reprogramável”. Ele rompe, assim, com o senso comum e demonstra uma forte marca de autoria, sustentando com consistência e fundamentação o seu ponto de vista. Tipos e gêneros textuais Você sabe diferenciar tipo textual de gênero textual? Essa é uma questão que deixa muitos alunos confusos. Esta videoaula trabalha ambos os conceitos e a relação entre eles, mostrando vários exemplos. 2 º d is cu rs o d e au to ri d ad e Frente A Módulo 01 14 Coleção 6V EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM 01. (PUC-Campinas-SP–2017) Atente para a seguinte situação: Mal o ônibus em que você viaja alcançou a estrada e uma velha senhora, sentada ao lado de um adolescente que usava o celular, pediu a ele: − Gostaria muito de aprender a usar isso. Você não quer me ensinar? O rapaz ia tentar escapar da tarefa, mas um senhor de terno e uma mocinha sentados perto, ouvindo o pedido da senhora, entraram na conversa. Desenvolva uma narrativa a partir da situação anterior. O narrador é você, mas você pode ser também uma personagem que entra na conversa. 02. (UFES) Imagine que você faça parte de um grupo de trabalho que, para fazer do lugar em que você mora melhor do que é, tenha proposto a construção de um espaço cultural. Faça uma descrição, em prosa, de como poderia ser esse espaço. 03. (UFPR) Leia o trecho de Jr. Bellé (Revista Cultura, 02 jun. 2014) e escreva um parágrafo que dê continuidade à ideia explorada pelo autor, mantendo as características do gênero. O parágrafo deve ter no mínimo 5 e no máximo 7 linhas. Você já se perguntou o que é brasilidade? Inúmeros cientistas sociais, historiadores, escritores e pensadores dedicaram-se a escavar esse termo, desmembrá-lo a fim de mapear e entender o que nos constitui como brasileiros. Nascer em solo nacional é a resposta mais óbvia, mas também a mais rasa. Afinal, todo território é volátil. O Acre nem sempre foi brasileiro, o Uruguai já foi nossa Província Cisplatina, o Mato Grosso do Sul ganhou uns tantos hectares com a vitória da Tríplice Aliança na Guerra do Paraguai. Além do mais, alguma vez passou por suas ideias o porquê de a América Portuguesa, ou seja, nós, não termos nos dividido, nos recortado em pequenas nações, como aconteceu com a porção espanhola? Há motivações para além do processo civilizatório e da falta de unidade administrativa por parte dos Hermanos. Para construir a identidade de um povo, . 04. (Unesp–2017) Texto I A distribuição da riqueza é uma das questões mais vivas e polêmicas da atualidade. Será que a dinâmica da acumulação do capital privado conduz de modo inevitável a uma concentração cada vez maior da riqueza e do poder em poucas mãos, como acreditava Karl Marx no século XIX? Ou será que as forças equilibradoras do crescimento, da concorrência e do progresso tecnológico levam espontaneamente a uma redução da desigualdade e a uma organização harmoniosa da sociedade, como pensava Simon Kuznets no século XX? PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. 2014 (Adaptação). Texto II Já se tornou argumento comum a ideia de que a melhor maneira de ajudar os pobres a sair da miséria é permitir que os ricos fiquem cada vez mais ricos. No entanto, à medida que novos dados sobre distribuição de renda são divulgados*, constata-se um desequilíbrio assustador: a distância entre aqueles que estão no topo da hierarquia social e aqueles que estão na base cresce cada vez mais. A obstinada persistência da pobreza no planeta que vive os espasmos de um fundamentalismo do crescimento econômico é bastante para levar as pessoas atentas a fazer uma pausa e refletir sobre as perdas diretas, bem como sobre os efeitos colaterais dessa distribuição da riqueza. Uma das justificativas morais básicas para a economia de livre mercado, isto é, que a busca de lucro individual também fornece o melhor mecanismo para a busca do bem comum, se vê assim questionada e quase desmentida. *Um estudo recente do World Institute for Development Economics Research da Universidade das Nações Unidas relata que o 1% mais rico de adultos possuía 40% dos bens globais em 2000, e que os 10% mais ricos respondiam por 85% do total da riqueza do mundo. A metade situada na parte mais baixa da população mundial adulta possuía 1% da riqueza global. BAUMAN, Zygmunt. A riqueza de poucos beneficia todos nós?. 2015 (Adaptação). Texto III Um certo espírito rousseauniano parece ter se apoderado de nossa época, que agora vê a propriedade privada e a economia de mercado como responsáveis por todos os nossos males. É verdade que elas favorecem a concentração de riqueza, notadamente de renda e patrimônio. Gêneros e Tipos Textuais LÍ N G U A P O R TU G U ES A 15Bernoulli Sistema de Ensino Essa, porém, é só parte da história. Os mesmos mecanismos de mercado que promovem a disparidade – eles exigem certo nível de desigualdade estrutural para funcionar – são também os responsáveis pelo mais extraordinário processo de melhora das condições materiais de vida que a humanidade já experimentou. Se o capitalismo exibe o viés elitista da concentração de renda, ele também apresenta a vocação mais democrática de tornar praticamente todos os bens mais acessíveis, pelo aprimoramento dos processos produtivos. Não tenho nada contra perseguirideias de justiça, mas é importante não perder a perspectiva das coisas. SCHWARTSMAN, Hélio. Uma defesa da desigualdade. Folha de S.Paulo, 14 jun. 2015 (Adaptação). Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva uma dissertação, empregando a norma-padrão da Língua Portuguesa, sobre o tema: A riqueza de poucos beneficia a sociedade inteira? EXERCÍCIOS PROPOSTOS Instrução: Para responder às questões de 01 a 04, leia a crônica “Seu Afredo”, de Vinicius de Moraes (1913-1980), publicada originalmente em setembro de 1953. Seu Afredo (ele sempre subtraía o “l” do nome, ao se apresentar com uma ligeira curvatura: “Afredo Paiva, um seu criado...”) tornou-se inesquecível à minha infância porque tratava-se muito mais de um linguista que de um encerador. Como encerador, não ia muito lá das pernas. Lembro-me que, sempre depois de seu trabalho, minha mãe ficava passeando pela sala com uma flanelinha debaixo de cada pé, para melhorar o lustro. Mas, como linguista, cultor do vernáculo1 e aplicador de sutilezas gramaticais, seu Afredo estava sozinho. Tratava-se de um mulato quarentão, ultrarrespeitador, mas em quem a preocupação linguística perturbava às vezes a colocação pronominal. Um dia, numa fila de ônibus, minha mãe ficou ligeiramente ressabiada2 quando seu Afredo, casualmente de passagem, parou junto a ela e perguntou-lhe à queima-roupa, na segunda do singular: – Onde vais assim tão elegante? Nós lhe dávamos uma bruta corda. Ele falava horas a fio, no ritmo do trabalho, fazendo os mais deliciosos pedantismos que já me foi dado ouvir. Uma vez, minha mãe, em meio à lide3 caseira, queixou-se do fatigante ramerrão4 do trabalho doméstico. Seu Afredo virou-se para ela e disse: – Dona Lídia, o que a senhora precisa fazer é ir a um médico e tomar a sua quilometragem. Diz que é muito bão. De outra feita, minha tia Graziela, recém-chegada de fora, cantarolava ao piano enquanto seu Afredo, acocorado perto dela, esfregava cera no soalho. Seu Afredo nunca tinha visto minha tia mais gorda. Pois bem: chegou-se a ela e perguntou-lhe: – Cantas? Minha tia, meio surpresa, respondeu com um riso amarelo: – É, canto às vezes, de brincadeira... Mas, um tanto formalizada, foi queixar-se a minha mãe, que lhe explicou o temperamento do nosso encerador: – Não, ele é assim mesmo. Isso não é falta de respeito, não. É excesso de... gramática. Conta ela que seu Afredo, mal viu minha tia sair, chegou-se a ela com ar disfarçado e falou: – Olhe aqui, dona Lídia, não leve a mal, mas essa menina, sua irmã, se ela pensa que pode cantar no rádio com essa voz, ‘tá redondamente enganada. Nem em programa de calouro! E, a seguir, ponderou: – Agora, piano é diferente. Pianista ela é! E acrescentou: – Eximinista pianista! Para uma menina com uma flor. 2009. 1vernáculo: a língua própria de um país; língua nacional. 2ressabiado: desconfiado. 3lide: trabalho penoso, labuta. 4ramerrão: rotina. 01. (Unesp–2017) Na crônica, o personagem seu Afredo é descrito como uma pessoa A) pedante e cansativa. B) intrometida e desconfiada. C) expansiva e divertida. D) discreta e preguiçosa. E) temperamental e bajuladora. 02. (Unesp–2017) Em “Mas, como linguista, cultor do vernáculo e aplicador de sutilezas gramaticais, seu Afredo estava sozinho.” (1º parágrafo), o cronista sugere que seu Afredo A) mostrava-se incomodado por não ter com quem conversar sobre questões gramaticais. B) revelava orgulho ao ostentar conhecimentos linguísticos pouco usuais. Frente A Módulo 01 16 Coleção 6V C) sentia-se solitário por ser um dos poucos a dispor de sólidos conhecimentos gramaticais. D) sentia-se amargurado por notar que seus conhecimentos linguísticos não eram reconhecidos. E) revelava originalidade no modo como empregava seus conhecimentos linguísticos. 03. (Unesp–2017) Um traço característico do gênero crônica, visível no texto de Vinicius de Moraes, é A) o tom coloquial. B) a sintaxe rebuscada. C) o vocabulário opulento. D) a finalidade pedagógica. E) a crítica política. 04. (Unesp–2017) Em “Conta ela que seu Afredo, mal viu minha tia sair, chegou-se a ela com ar disfarçado e falou [...]” (12º parágrafo), a conjunção destacada pode ser substituída, sem prejuízo para o sentido do texto, por A) assim como. B) logo que. C) enquanto. D) porque. E) ainda que. Instrução: Leia os textos a seguir para responder às questões de 05 a 07. Texto I Doze anos depois da implantação de ações afirmativas para o acesso de jovens negros e brancos pobres ao ensino superior, os dados falam por si: os alunos cotistas apresentam o mesmo desempenho de seus colegas; as universidades ganharam em criatividade e desempenho e não há registro de incidente mais sério, a não ser velhas manifestações de intolerância que datam desde a chegada de Cabral. No mais, há dez documentos públicos nos quais os brasileiros são classificados racialmente desde tempos imemoriais, funcionando muito bem obrigado até a classificação racial ser invocada para a fruição – e não a violação – de direitos. SILVA JR., Hédio. Disponível em: <http://politica.estadao. com.br/ blogs/roldao-arruda/>. Acesso em: 04 ago. 2015. Texto II Pesquisa divulgada no Rio de Janeiro, em 2008, atestava: 63% dos afro-brasileiros são contra a segregação de direitos raciais. Política racial, mesmo de boa-fé, é terapia estatal para uma doença inexistente: não temos identidade racial. A questão em julgamento não são as políticas públicas de inclusão de afro-brasileiros nas universidades públicas, o que poderá ser contemplado pelo critério de cotas sociais ampliando as oportunidades aos mais pobres, dos quais 70% são pretos e pardos. O que se disputa é a possibilidade da segregação de direitos raciais pelo Estado. Os defensores falam em diversidade racial. Nós contrapomos o império do pensamento da diversidade humana. A diversidade racial significa o Estado conferindo validade à tese racista da classificação racial, que nós repudiamos. MILITÃO, José R. Ferreira. Disponível em: <http://politica.estadao.com.br/blogs/roldao-arruda/>. Acesso em: 04 ago. 2015. 05. (PUC Minas–2016) No texto I, a expressão “os dados falam por si” é empregada com a intenção de A) justificar o sistema de cotas. B) questionar as ações afirmativas. C) atribuir méritos aos alunos beneficiados. D) equiparar o desempenho de negros e brancos. 06. (PUC Minas–2016) No texto II, o trecho que apresenta marcas linguísticas que explicitam uma opinião do autor é: A) “Os defensores falam em diversidade racial.” B) “O que se disputa é a possibilidade da segregação de direitos raciais pelo Estado.” C) “A diversidade racial significa o Estado conferindo validade à tese racista da classificação racial, que nós repudiamos.” D) “A questão em julgamento não são as políticas públicas de inclusão de afro-brasileiros nas universidades públicas.” 07. (PUC Minas–2016) Em relação às cotas raciais nas universidades, os textos defendem posições A) opostas. B) ambíguas. C) conservadoras. D) complementares. SEÇÃO ENEM 01. (Enem–2016) O humor e a língua Há algum tempo, venho estudando as piadas, com ênfase em sua constituição linguística. Por isso, embora a afirmação a seguir possa parecer surpreendente, creio que posso garantir que se trata de uma verdade quase banal: as piadas fornecem simultaneamente um dos melhores retratos dos valores e problemas de uma sociedade, por um lado, e uma coleção de fatos e dados impressionantes para quem quer saber o que é e como funciona uma língua, por outro. Se se quiser descobrir os problemas com os quais uma sociedade se debate, uma coleção de piadas fornecerá excelente pista: sexualidade, etnia / raça e outras diferenças, instituições (igreja, escola, casamento, política), morte, tudo isso está sempre presente nas piadas que circulam anonimamente e que são ouvidas e contadas por todo mundo em todo o mundo. Os antropólogos ainda não prestaram adevida atenção a esse material, que poderia substituir com vantagem muitas entrevistas e pesquisas participantes. Saberemos mais a quantas andam o machismo e o racismo, por exemplo, se pesquisarmos uma coleção de piadas do que qualquer outro corpus. POSSENTI, S. Ciência Hoje, n. 176, out. 2001 (Adaptação). Gêneros e Tipos Textuais LÍ N G U A P O R TU G U ES A 17Bernoulli Sistema de Ensino A piada é um gênero textual que figura entre os mais recorrentes na cultura brasileira, sobretudo na tradição oral. Nessa reflexão, a piada é enfatizada por A) sua função humorística. B) sua ocorrência universal. C) sua diversidade temática. D) seu papel como veículo de preconceitos. E) seu potencial como objeto de investigação. 02. (Enem–2016) Receita Tome-se um poeta não cansado, Uma nuvem de sonho e uma flor, Três gotas de tristeza, um tom dourado, Uma veia sangrando de pavor. Quando a massa já ferve e se retorce Deita-se a luz dum corpo de mulher, Duma pitada de morte se reforce, Que um amor de poeta assim requer. SARAMAGO, J. Os poemas possíveis. Alfragide: Caminho, 1997. Os gêneros textuais caracterizam-se por serem relativamente estáveis e podem reconfigurar-se em função do propósito comunicativo. Esse texto constitui uma mescla de gêneros, pois A) introduz procedimentos prescritivos na composição do poema. B) explicita as etapas essenciais à preparação de uma receita. C) explora elementos temáticos presentes em uma receita. D) apresenta organização estrutural típica de um poema. E) utiliza linguagem figurada na construção do poema. 03. (Enem) Embalagens usadas e resíduos devem ser descartados adequadamente Todos os meses são recolhidas das rodovias brasileiras centenas de milhares de toneladas de lixo. Só nos 22,9 mil quilômetros das rodovias paulistas são 41,5 mil toneladas. O hábito de descartar embalagens, garrafas, papéis e bitucas de cigarro pelas rodovias persiste e tem aumentado nos últimos anos. O problema é que o lixo acumulado na rodovia, além de prejudicar o meio ambiente, pode impedir o escoamento da água, contribuir para as enchentes, provocar incêndios, atrapalhar o trânsito e até causar acidentes. Além dos perigos que o lixo representa para os motoristas, o material descartado poderia ser devolvido para a cadeia produtiva. Ou seja, o papel que está sobrando nas rodovias poderia ter melhor destino. Isso também vale para os plásticos inservíveis, que poderiam se transformar em sacos de lixo, baldes, cabides e até acessórios para os carros. Disponível em: <www.girodasestradas.com.br>. Acesso em: 31 jul. 2012. Os gêneros textuais correspondem a certos padrões de composição de texto, determinados pelo contexto em que são produzidos, pelo público a que eles se destinam, por sua finalidade. Pela leitura do texto apresentado, reconhece-se que sua função é A) apresentar dados estatísticos sobre a reciclagem no país. B) alertar sobre os riscos da falta de sustentabilidade do mercado de recicláveis. C) divulgar a quantidade de produtos reciclados retirados das rodovias brasileiras. D) revelar os altos índices de acidentes nas rodovias brasileiras poluídas nos últimos anos. E) conscientizar sobre a necessidade de preservação ambiental e de segurança nas rodovias. 04. (Enem) João Antônio de Barros (Jota Barros) nasceu aos 24 de junho de 1935, em Glória de Goitá (PE). Marceneiro, entalhador, xilógrafo, poeta repentista e escritor de literatura de cordel, já publicou 33 folhetos e ainda tem vários inéditos. Reside em São Paulo desde 1973, vivendo exclusivamente da venda de livretos de cordel e das cantigas de improviso, ao som da viola. Grande divulgador da poesia popular nordestina no Sul, tem dado frequentemente entrevistas à imprensa paulista sobre o assunto. EVARISTO. M. C. O cordel em sala de aula. In: BRANDÃO. H. N. (Coord.). Gêneros do discurso na escola: mito, conto, cordel, discurso político, divulgação científica. São Paulo: Cortez, 2000. A biografia é um gênero textual que descreve a trajetória de determinado indivíduo, evidenciando sua singularidade. No caso específico de uma biografia como a de João Antônio de Barros, um dos principais elementos que a constitui é A) a estilização dos eventos reais de sua vida, para que o relato biográfico surta os efeitos desejados. B) o relato de eventos de sua vida em perspectiva histórica, que valorize seu percurso artístico. C) a narração de eventos de sua vida que demonstrem a qualidade de sua obra. D) uma retórica que enfatize alguns eventos da vida exemplar da pessoa biografada. E) uma exposição de eventos de sua vida que mescle objetividade e construção ficcional. Frente A Módulo 01 18 Coleção 6V 05. (Enem) Linotipos O Museu da Imprensa exibe duas linotipos. Trata-se de um tipo de máquina de composição de tipos de chumbo, inventada em 1884 em Baltimore, nos Estados Unidos, pelo alemão Ottmar Mergenthaler. O invento foi de grande importância por ter significado um novo e fundamental avanço na história das artes gráficas. A linotipia provocou, na verdade, uma revolução porque venceu a lentidão da composição dos textos executada na tipografia tradicional, em que o texto era composto à mão, juntando tipos móveis um por um. Constituía-se, assim, no principal meio de composição tipográfica até 1950. A linotipo, a partir do final do século XIX, passou a produzir impressos a baixo custo, o que levou informação às massas, democratizou a informação. Promoveu uma revolução na educação. Antes da linotipo, os jornais e revistas eram escassos, com poucas páginas e caros. Os livros didáticos eram também caros, pouco acessíveis. Disponível em: <http://portal.in.gov.br>. Acesso em: 23 fev. 2013 (Adaptação). O texto apresenta um histórico da linotipo, uma máquina tipográfica inventada no século XIX e responsável pela dinamização da imprensa. Em termos sociais, a contribuição da linotipo teve impacto direto na A) produção vagarosa de materiais didáticos. B) composição aprimorada de tipos de chumbo. C) montagem acelerada de textos para impressão. D) produção acessível de materiais informacionais. E) impressão dinamizada de imagens em revistas. 06. Texto I Deslocando-se através das fronteiras A Convenção de Refugiados de 1951, que estabeleceu o ACNUR, determina que um refugiado é alguém que “temendo ser perseguida por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas, se encontra fora do país de sua nacionalidade e que não pode ou, em virtude desse temor, não quer valer-se da proteção desse país”. Desde então, o ACNUR tem oferecido proteção e assistência para dezenas de milhões de refugiados, encontrando soluções duradouras para muitos deles. Os padrões da migração se tornaram cada vez mais complexos nos tempos modernos, envolvendo não apenas refugiados, mas também milhões de migrantes econômicos. Mas refugiados e migrantes, mesmo que viajem da mesma forma com frequência, são fundamentalmente distintos, e por esta razão são tratados de maneira muito diferente perante o direito internacional moderno. Migrantes, especialmente migrantes econômicos, decidem deslocar-se para melhorar as perspectivas para si mesmos e para suas famílias. Já os refugiados necessitam deslocar-se para salvar suas vidas ou preservar sua liberdade. Eles não possuem proteção de seu próprio Estado e de fato muitas vezes é seu próprio governo que ameaça persegui-los. Se outros países não os aceitarem em seus territórios, e não os auxiliarem uma vez acolhidos, poderão estar condenando estas pessoas à morte ou a uma vida insuportável nas sombras, sem sustento e sem direitos. AGÊNCIA DA ONU para Refugiados. Disponível em: <http:// www.acnur.org/portugues/quem-ajudamos/refugiados/>. Acesso em: 28 set. 2017. [Fragmento] Texto II Conflitos locais, guerra civil e fome fizeram com que o número de refugiados e deslocados no mundo
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