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As relações entre produção e saúde dos trabalhadores

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DESCRIÇÃO
Compreensão das relações entre o trabalho, produção, saúde e doença.
PROPÓSITO
Os modos de produção interferem em todos os aspectos da vida em sociedade. Dessa forma, as relações entre produção, trabalho, saúde e
doença são fundamentais para definirmos as medidas de proteção aos trabalhadores.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Reconhecer os fundamentos do processo saúde-doença
MÓDULO 2
Reconhecer a importância dos estudos epidemiológicos aplicados à saúde
MÓDULO 3
Identificar as estratégias de promoção de saúde do trabalhador
INTRODUÇÃO
AS RELAÇÕES ENTRE SAÚDE E TRABALHO
MÓDULO 1
 Reconhecer os fundamentos do processo saúde-doença
LIGANDO OS PONTOS
Entender o processo saúde-doença é fundamental para identificarmos quais são as necessidades de intervenção bem como quais devem ser as
medidas de proteção. As atividades econômicas e formas de organização das sociedades e das empresas são fatores determinantes do
adoecimento.
O desenvolvimento científico e tecnológico tem exposto os trabalhadores a novos riscos ocupacionais até então desconhecidos. Detectar o nexo
causal das doenças ocupacionais é fundamental para reduzir os índices de adoecimento no ambiente de trabalho.
Vamos ver o caso da Teflon, baseado num fato real.
O politetrafluoretileno (PTFE), também conhecido como teflon, foi descoberto pelo químico Roy Plunkett, em 6 de abril de 1938, durante testes
num laboratório da DuPont. O teflon possui uma diversidade de aplicações, mas é usado com mais frequência em recipientes e tubulações para
produtos químicos reativos e corrosivos. Também é comumente utilizado como material de enxerto em intervenções cirúrgicas. Contudo, sua
mais conhecida aplicação no revestimento antiaderente de utensílios de cozinha.
Nas décadas de 1990-2000 episódios com mortes de vacas em Parkersburg fizeram com que fazendeiros suspeitassem de contaminação dos
rios com resíduos da DuPont. Após uma longa investigação e uma pesquisa envolvendo milhares de documentos, descobriu-se que a empresa
já havia reunido dados sobre a toxicidade do ácido perfluorooctanoico (PFOA), substância empregada na produção do teflon desde a década de
1960.
 
Revelou-se que a substância aumentava o tamanho do fígado de ratos e coelhos. A empresa então pediu a alguns funcionários que fumassem
cigarros contendo tal substância, a fim de avaliar sua toxicidade, levando muitos a passar mal. Na década de 1970, a DuPont detectou que os
empregados tinham altas concentrações de PFOA no sangue e, mesmo assim, nada fez.
A empresa 3M, fornecedora do PFOA para a DuPont, alertou-a quanto ao potencial cancerígeno e mutagênico da substância. A DuPont retirou
mulheres jovens da linha de produção, mas ainda assim algumas delas tiveram filhos com má-formação de olhos e narinas.
A investigação do governo norte-americano concluiu, apenas em 2002, que o PFOA causava riscos à saúde humana. A DuPont foi alvo de mais
de 3.500 processos e tentou contestar os dados científicos. Todavia, em 2017, encerrou as ações, pagando 671 milhões de dólares em
indenizações.
Em 2006, a DuPont assumiu o compromisso de eliminar o uso de PFOA, o que afirma ter alcançado em 2015. Entretanto, devido à estabilidade
da substância, é possível afirmar que ela está presente no sangue de 98% das pessoas, embora em quantidades não prejudiciais à saúde – e o
risco maior está no ambiente de trabalho.
 
Após a leitura do case , é hora de aplicar seus conhecimentos! Vamos ligar esses pontos?
3. DE QUE FORMA A IDEIA DA INTERSETORIALIDADE FOI FUNDAMENTAL PARA A
SOLUÇÃO DO CASO DA DUPONT?
RESPOSTA
O problema foi levantado a partir de um processo judicial que envolveu cientistas, profissionais de saúde e
veterinários para estabelecer o nexo causal entre a morte de vacas e a contaminação dos rios por PFOA. O
conhecimento e as ações desenvolvidas por várias áreas diferentes foram fundamentais para fechar o caso e
ocasionar a suspensão do uso da substância.
SAÚDE E DOENÇA
CONCEITOS DE SAÚDE AO LONGO DA HISTÓRIA
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Uma das grandes preocupações de trabalhadores, empresas, órgãos governamentais e profissionais de saúde e segurança do trabalho é definir
adequadamente as relações entre o trabalho e a saúde do trabalhador. Em outras palavras, precisamos definir até que ponto o adoecimento é
consequência ou não da atividade laboral.
ANTES DE ESTUDAR DE QUE FORMA SE DEFINE O NEXO CAUSAL
ENTRE TRABALHO E ADOECIMENTO, É PRECISO DEFINIR O QUE
SIGNIFICAM OS CONCEITOS DE SAÚDE E DOENÇA. EMBORA TENHAM
USO POPULAR, TAIS CONCEITOS APRESENTAM CONCEPÇÕES
FILOSÓFICAS E/OU TÉCNICAS QUE MUDAM AO LONGO DA HISTÓRIA.
ESTUDAR ESSAS MUDANÇAS É FUNDAMENTAL PARA COMPREENDER
OS FUNDAMENTOS QUE ESTÃO POR TRÁS DAS DEFINIÇÕES DE SAÚDE
E DOENÇA VIGENTES.
O conceito de saúde pode ter vários significados, tais como ter independência e autonomia, ausência de doença, boa forma física, bons hábitos,
capacidade de trabalho etc.
Ao longo da história, com o avanço da Filosofia e das ciências, o conceito de saúde tem sido modificado, como veremos adiante:
HIPÓCRATES: TEORIA DOS HUMORES
Hipócrates, considerado o pai da medicina, criou a teoria dos humores. A saúde seria o resultado do equilíbrio entre os líquidos corporais
(humores). Na teoria, os fluidos que equilibrariam a saúde e a doença eram a bile amarela, a bile negra, a fleuma e o sangue.
CONCEITO DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS) (1948)
Em 1948, a OMS formulou um conceito de saúde próprio, que se tornou o mais conhecido e aceito no mundo. Segundo a organização, a saúde é
um completo estado de bem-estar físico, mental e social, não apenas a ausência de doenças ou enfermidades. Muito se tem discutido se é
possível adquirir um completo estado de bem-estar.
DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE
Na década de 1970, sanitaristas da América Latina criaram o conceito de determinantes sociais da saúde. Foi um avanço na compreensão dos
fatores que interferem nos níveis de saúde de determinada população. Segundo os autores desse conceito, aspectos como classe social,
escolaridade, segurança alimentar, habitação e moradia, bem como acesso a serviços e bens públicos, passaram a ser considerados tão
importantes quanto fatores biológicos. Essa compreensão demonstrou a necessidade da formulação de políticas intersetoriais.
CONCEITO DA VIII CONFERÊNCIA NACIONAL DA SAÚDE
A criação do Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil é fruto da luta do movimento sanitário no país. O grupo formado por profissionais, políticos
e sociedade civil organizada defendeu a adoção de um sistema público universal e integral. Para tanto, precisou defender também uma visão do
que seria “saúde”.
O ponto culminante da trajetória do movimento sanitário foi a VIII Conferência Nacional da Saúde, cujo documento final trouxe a seguinte
definição:
EM SEU SENTIDO MAIS ABRANGENTE, A SAÚDE É A RESULTANTE DAS
CONDIÇÕES DE ALIMENTAÇÃO, HABITAÇÃO, EDUCAÇÃO, RENDA, MEIO
AMBIENTE, TRABALHO, TRANSPORTE, EMPREGO, LAZER, LIBERDADE, ACESSO
E POSSE DE TERRA E ACESSO A SERVIÇOS DE SAÚDE. É ASSIM, ANTES DE
TUDO, O RESULTADO DAS FORMAS DE ORGANIZAÇÃO SOCIAL DA PRODUÇÃO,
AS QUAIS PODEM GERAR GRANDES DESIGUALDADES NOS NÍVEIS DE VIDA.
BRASIL, 2002.
Essa definição traz no seu bojo o conceito ampliado de saúde, ou seja, a saúde como resultante das condições de vida. Tal conceito influenciou
diretamente a redação do art. 3o da Lei no 8080/1990 (Lei Orgânica da Saúde):
OS NÍVEIS DE SAÚDE EXPRESSAM A ORGANIZAÇÃO SOCIAL E ECONÔMICA DO
PAÍS, TENDO A SAÚDE COMO DETERMINANTES E CONDICIONANTES, ENTRE
OUTROS, A ALIMENTAÇÃO, A MORADIA, O SANEAMENTO BÁSICO, O MEIO
AMBIENTE, O TRABALHO, A RENDA, A EDUCAÇÃO, A ATIVIDADE FÍSICA, O
TRANSPORTE, O LAZER E O ACESSO AOS BENS E SERVIÇOS ESSENCIAIS (...)
DIZEM RESPEITO TAMBÉM À SAÚDE AS AÇÕES QUE, POR FORÇA DO DISPOSTO
NO ARTIGO ANTERIOR, SE DESTINAM A GARANTIR ÀS PESSOAS E À
COLETIVIDADE CONDIÇÕES DE BEM-ESTAR FÍSICO, MENTAL E SOCIAL.
BRASIL, 1990.
Os conceitos da conferência e da Lei no 8080/1990 também são chamados de “positivos”,pois tentam definir o que ela é em vez de defini-la
negativamente (ausência de doença).
O QUE É DOENÇA?
Uma vez definido o que é saúde, precisamos definir o que é doença. Uma das maiores e mais antigas preocupações da humanidade é entender
como as doenças surgem e como devem ser curadas.
O conceito de doença vai além da conceituação biológica e, assim como o conceito de saúde, tem sido modificado ao longo do tempo.
VOCÊ JÁ PERCEBEU QUE HÁ UMA GRANDE DIFERENÇA EM DIZER QUE
UMA PESSOA É DOENTE OU ESTÁ DOENTE? QUANDO DIZEMOS QUE
ALGUÉM É DOENTE, A DOENÇA TEM UM CARÁTER PERMANENTE E HÁ
UM GRANDE ESTIGMA ASSOCIADO A SEU PORTADOR. QUANDO
DIZEMOS QUE ALGUÉM ESTÁ DOENTE, A DOENÇA É TRATADA NA
MAIORIA DAS VEZES COMO ALGO PASSAGEIRO.
Alguns comportamentos que no passado eram tratados como maus hábitos são vistos como doença, tais como a obesidade e o alcoolismo. A
homossexualidade antes tratada como doença atualmente não é mais.
Em linhas gerais, podemos conceituar doença de cinco formas:
ESTAR E O PODER ESTAR DOENTE
SOFRIMENTO
ADVERSIDADE
PERIGO
SINAL
ESTAR E O PODER ESTAR DOENTE
Capacidade do indivíduo de declarar-se ou não como doente, dependendo do seu interesse. Um deficiente físico pode se sentir doente ou não,
dependendo de seu grau de inclusão ou de satisfação com a própria vida, ou, ainda, com a possibilidade de entrar no mercado de trabalho.
SOFRIMENTO
Está relacionado ao mal-estar, à incapacidade de realizar uma tarefa, não necessariamente tem a presença do mal-estar físico.
ADVERSIDADE
A sensação de não se incluir dentro do padrão de normalidade.
PERIGO
Está associada à ideia de contágio ou risco de adquirir uma doença transmissível. Uma pessoa portadora de uma doença contagiosa grave
poderá ser vista como um perigo para a sociedade.
SINAL
Algo que serve para demarcar um grupo, uma situação socioeconômica ou um comportamento. Essa associação pode ser verdadeira ou
preconceituosa. Exemplo: tuberculose e pobreza; cirrose e alcoolismo.
 SAIBA MAIS
Cabe ressaltar o conceito de etiopatogenia, ou seja, o estudo das causas das doenças. Uma mesma causa pode levar algumas pessoas ao
adoecimento, enquanto outras pessoas podem permanecer saudáveis. Dessa forma, quando dizemos que tal fator é a causa de uma doença,
isso significa que foi estabelecido um nexo causal, mas não significa que uma coisa necessariamente vai levar à outra.
MODOS DE ADOECER AO LONGO DA HISTÓRIA
Os modos de produção, ou seja, as formas como as sociedades se organizam e se organizaram no decorrer do tempo para produzir riquezas e
organizar as relações sociais, têm influenciado diretamente os padrões de saúde e doença da sociedade. O estudo das relações entre saúde e
modos de produção são muito úteis para entendermos a distribuição das doenças na sociedade atual.
PRÉ-HISTÓRIA
Nesse período, as principais atividades econômicas eram a pesca, a caça e a coleta. As pessoas estavam muito expostas aos riscos da
natureza: mudanças de clima, exposição a animais ferozes e acidentes.
Acredita-se, então, que as principais causas de doenças e mortes eram relacionadas a acidentes e à escassez de alimentos. A expectativa de
vida era baixa, comparada ao mundo de hoje.
ANTIGUIDADE
A Antiguidade é marcada pelo surgimento de grandes civilizações, povoamentos marcados pela economia baseada na agricultura e com forte
presença da religião no dia a dia.
A principal atividade econômica era a agricultura. O acúmulo de alimentos, a presença de insetos e roedores e a aglomeração populacional
favoreceram a disseminação de doenças transmissíveis, tais como a hanseníase (lepra), tuberculose, malária, peste etc.
Os tratamentos eram baseados em práticas religiosas, uma vez que o sucesso e o insucesso das colheitas estavam associados aos deuses.
Todavia, surge nesse período a prática racional da medicina na Grécia.
SOCIEDADE FEUDAL
O modo de produção agrário continuava influenciando o surgimento de doenças transmissíveis. Contudo, o aumento das cidades propiciou o
aparecimento de grandes pestes que dizimaram um número incomensurável de pessoas na Europa.
As práticas de cura continuavam associadas à religião, sobretudo para as classes mais pobres. As classes mais ricas tinham acesso a médicos
que utilizavam procedimentos empiristas.
Os métodos de tratamento e cura estavam relacionados a entidades da natureza. Assim, os sacerdotes religiosos, bruxos e xamãs dominavam
os procedimentos de cura a partir de rituais voltados a elementos naturais.
SOCIEDADE INDUSTRIAL
O desenvolvimento da ciência e da indústria propiciaram um acúmulo de conhecimentos que causaram grande impacto nas profissões da área
da saúde, que foram gradativamente se desvinculando das práticas religiosas, adotando práticas empíricas, posteriormente embasadas por
teorias e práticas científicas.
O surgimento de novas terapêuticas, como vacinas e antibióticos, e de novos equipamentos para diagnóstico e tratamento causaram uma grande
mudança no perfil das causas de adoecimento e morte, sobretudo nas regiões mais desenvolvidas.
Já no século XX, os países mais ricos vão passando por um processo chamado de transição epidemiológica, fenômeno que tem como uma de
suas características a substituição do primeiro lugar das causas de adoecimento e morte: saem as doenças transmissíveis e tomam lugar as
doenças não transmissíveis.
A saúde também passou a ser encarada como um sinal de status. Valoriza-se como nunca o culto ao corpo na chamada geração saúde.
Outra novidade da era industrial é o início do estudo da relação entre as doenças e o mundo do trabalho. A industrialização propiciou a
exposição das pessoas a matérias e máquinas que eram novidades até então, fazendo surgir também novas doenças relacionadas ao trabalho.
É o advento da saúde do trabalhador e da medicina ocupacional. A poluição das grandes cidades trouxe consigo males, como o agravo de
doenças respiratórias.
Entretanto, o acesso aos serviços de saúde não se tornou igual para populações de faixas de renda diferentes. Dessa forma, ricos e pobres
passaram a se diferenciar agora não somente nas suas condições econômicas, mas também nas suas condições de saúde. A transição
epidemiológica que aconteceu de forma gradativa nos países ricos tem ocorrido de forma rápida nos países subdesenvolvidos, que passam a
conviver com a chamada tripla carga de doenças (presença concomitante das doenças infecciosas, das causas externas e das doenças
crônicas).
Vejamos resumidamente, no quadro a seguir, de que forma esses diferentes períodos influenciaram o processo gerador saúde-doença.
Período Modo de produção Problemas de saúde mais frequentes Práticas terapêuticas
Pré-história
Comunismo primitivo: caça,
pesca e coleta
Acidentes, escassez de alimentos Mágicas: bruxaria, xamanismo
Antiguidade
Asiáticos: baseado na
agricultura
Doenças transmissíveis
Mágicas: religiosa, surgimento da
medicina racional (Grécia)
Sociedade
medieval
Feudalismo: agricultura, forte
presença da Igreja
Doenças transmissíveis Mágica religiosa e racional
Era
industrial
moderna
Capitalismo: desenvolvimento
da ciência e da indústria
Transição epidemiológica: aumento das
doenças não transmissíveis
Medicina científica, práticas
interdisciplinares
Quadro: Problemas de saúde de acordo com o período histórico.
Elaborado por: Ismael Costa.
 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
PROFISSÕES DA ÁREA DA SAÚDE
Conforme vimos anteriormente, os níveis de saúde das populações são influenciados por suas condições de vida. Percebemos também que os
conceitos de saúde e doença são modificados ao longo do tempo.
As práticas de saúde também foram mudando. Nesse caso, novas profissões surgiram com o intuito de garantir o mais completo bem-estar
físico, mental e social. O trabalho de tratar e curar, que havia começado com os religiosos e durou boa parte da história, foi incorporando novas
profissões: primeiramente, a medicina e a enfermagem, e, posteriormente, outras como odontologia,terapia ocupacional, fonoaudiologia,
psicologia e farmácia.
 SAIBA MAIS
A saúde também conta com o trabalho das chamadas práticas alternativas, que somam práticas antigas como acupuntura, do-in e
massoterapia, com terapêuticas novas, como auriculoterapia, quiropraxia e a reflexoterapia.
Percebemos, nos tópicos anteriores, que os problemas de saúde são oriundos das condições de vida. Dessa forma, a solução para esses
problemas na esfera coletiva não pode vir somente dos profissionais de saúde – há a necessidade do trabalho em conjunto com outros setores
da sociedade. Damos a esse trabalho conjunto o nome de intersetorialidade, como serviço social, profissionais de educação, engenharia
sanitária (saneamento básico), engenharia de segurança do trabalho, profissionais do meio ambiente etc.
A seguir, vejamos um esquema de uma ação intersetorial.
INSERÇÃO DO ESTADO NA SAÚDE
No Brasil, o direito à saúde faz parte dos chamados direitos sociais, tais como: educação, habitação e previdência. O acesso a esses direitos
não se dá de forma igual em todo o mundo. Eles podem ser universais e igualitários (como o SUS, no Brasil), estar dirigidos a populações menos
favorecidas (assim como medicAID, nos Estados unidos) ou ainda na forma de seguro-saúde obrigatório (como na Alemanha).
 ATENÇÃO
Estas diferenças são decorrentes de um processo histórico; logo, não existem desde sempre. São frutos dos embates políticos que ocorrem na
sociedade.
Os direitos sociais só foram estabelecidos de forma efetiva no mundo a partir do século XX. Antes disso, havia sido criada na Alemanha, no final
do século XIX, uma legislação pioneira nessa área.
PLANO BEVERIDGE
O primeiro grande sistema público e universal de saúde surgiu na Inglaterra, após a Segunda Guerra Mundial – o chamado Plano Beveridge
(1944-1948), que organizou o Sistema Nacional de Saúde (National Health System – NHS).
Veja a seguir a origem de algumas iniciativas relacionadas a assistência de saúde no mundo e no Brasil:
SUS
No Brasil, o SUS foi criado em 1988, na elaboração da Constituição Federal. Contudo, a saúde pública é bem mais antiga que o direito à saúde.
Ela surge da iniciativa dos governos de controlar a sociedade, evitando a propagação de doenças. Cabe lembrar as ações desenvolvidas no
Brasil na República Velha, como as campanhas sanitárias e de saneamento das grandes cidades. O Rio de Janeiro, por exemplo, passou por
grandes transformações urbanísticas para não perder seu status de ser um dos principais portos do Brasil. Assim, o modelo econômico agrário-
exportador teve papel importante no desenvolvimento da saúde pública brasileira.
LEI ELÓI CHAVES
Outro momento histórico foi a criação das caixas de aposentadorias e pensões em 1923. Esse mecanismo, que oferecia medicina previdenciária,
foi criado pela chamada Lei Elói Chaves, após a pressão de sindicalistas.
SAÚDE PÚBLICA
Podemos dizer que a saúde pública é a ciência e a arte de evitar doenças e prolongar a vida, através de esforços organizados pela sociedade
para o saneamento do meio ambiente, o controle das infecções na comunidade, a organização dos serviços médicos para o diagnóstico precoce
e o tratamento preventivo de doenças.
A saúde pública busca também a melhoria das condições de vida que poderá assegurar a cada indivíduo, dentro da comunidade, um padrão de
vida adequado à manutenção da saúde.
As ações da saúde pública são bastante abrangentes. Conheça algumas ações do Ministério da Saúde do Brasil.
ACADEMIA DA SAÚDE
Busca construir espaços públicos para a prática de exercícios físicos.
COMBATE AO TABAGISMO
Busca estimular a cessação do hábito de fumar.
PROGRAMA VOLTA PARA CASA
Busca a reintegração social de pessoas acometidas de doenças mentais após longos períodos de internação.
Observe que essas ações não estão relacionadas diretamente com o combate de doenças, mas agem principalmente no estilo de vida das
pessoas. Se, hoje, as ações da saúde pública parecem se preocupar principalmente com a saúde das pessoas, no passado a saúde pública
tinha como objetivo principal eliminar o perigo das doenças infecciosas.
O RECONHECIMENTO DO PAPEL DO TRABALHO COMO FATOR
DETERMINANTE DO ADOECIMENTO FAZ COM QUE A SAÚDE DO
TRABALHADOR PASSE A SER UMA PRIORIDADE DA SAÚDE PÚBLICA.
TRAJETÓRIA DA SAÚDE PÚBLICA
Da mesma forma que evoluem os conceitos de saúde e doença evolui também o escopo do trabalho da saúde pública.

ANTIGUIDADE
Os gregos antigos buscavam compreender as relações entre os homens e a natureza e, dessa forma, também o surgimento das doenças como
um processo racional. É desse período a publicação do livro de Hipócrates Dos ares, águas e lugares, que deu origem à teoria humoral das
doenças.
IDADE MÉDIA
A doença era vista como castigo divino. As práticas de saúde pública estavam baseadas em ritos religiosos, sacrifícios e práticas empiristas.
Uma dessas práticas era a eliminação de pântanos para afastar os “miasmas” (ares corrompidos). Ainda nessa época, desenvolvem-se mais
ações como segregação e isolamento de doentes para evitar contágios. Na Europa, são construídos hospitais religiosos para cuidar de
moribundos.


IDADE MODERNA
O surgimento dos movimentos chamados renascimento e iluminismo retomam a racionalidade no estudo das doenças. A centralidade do estudo
no ser humano leva o estudo do corpo humano e ao desenvolvimento da medicina. Amplia-se, além disso, o estudo do efeito de substâncias
químicas no organismo, e é publicado, em 1700, o livro As doenças dos trabalhadores, por Bernardino Ramazzini, o marco inicial da medicina do
trabalho.
IDADE CONTEMPORÂNEA
A partir do séc. XIX, a saúde pública sofreu uma grande revolução. A teoria dos miasmas cede lugar ao estudo da microbiologia. Surge a
epidemiologia. O saneamento básico e a vacinação obrigatória passam a ser a mola mestra da saúde pública no início do séc. XX. Ao longo do
séc. XX e agora no séc. XXI, as ações da saúde pública aumentam seu escopo indo ao encontro de conceitos como a promoção da saúde, a
qualidade de vida e, em nosso caso, a saúde ocupacional, a segurança do trabalho, a saúde do trabalhador, a higiene do trabalho etc.

A saúde pública moderna trabalha com a noção de prioridade. Se os recursos passam a ser limitados, não é possível atender todas as
necessidades. Assim, é necessário identificar o que são os problemas ou as questões de saúde pública.
A DEFINIÇÃO DE UM PROBLEMA COMO “DE SAÚDE PÚBLICA” TEM UM
CLARO VIÉS POLÍTICO, POIS, UMA VEZ QUE ALGO É VISTO DESSA
FORMA, PASSA A DEMANDAR UMA INTERVENÇÃO DO ESTADO E A
DEFINIÇÃO DE RECURSOS FINANCEIROS MATERIAIS E HUMANOS PARA
ISSO.
Segundo Rocha e Cesar (2008, p. 275 apud WESTPHAL, 2008), um problema será de saúde pública quando “constitui causa comum de
morbidade ou mortalidade [e precisam existir] métodos eficazes de prevenção e controle”. Para definir suas prioridades, a saúde pública poderá
adotar vários critérios (que não serão objeto de nosso estudo) tais como:
Número de pessoas atingidas.
Seriedade do dano.
Custo.
Grau de interesse da comunidade.
 SAIBA MAIS
Para obter esses dados e transformá-los em informação para tomada de decisão, a saúde pública utiliza os conhecimentos de epidemiologia.
CARGA GLOBAL DA DOENÇA E TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA
A partir do conhecimento das relações entre as formas de adoecimento e os modos de produção podemos estabelecer uma associação entre a
organização da sociedade e os tipos de doenças mais frequentes.
Quando estudamos o conceito de carga global da doença, dividimos as doenças em três grupos:
DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS INFECCIOSAS
DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS (DCNT)
CAUSAS EXTERNAS
DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS INFECCIOSAS
Exemplo: Dengue, tuberculose, malária, novo coronavírus etc.
Predominam em lugares onde há pobreza, má alimentação, aglomeração populacional e falta de saneamento básico. São doenças típicas de
lugares pobres, países subdesenvolvidos ou onde a principal fonte de renda é a agricultura de subsistência.
DOENÇASCRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS (DCNT)
Exemplo: Hipertensão, diabetes, câncer etc.
São típicas de países industrializados, locais de alta renda ou ainda de países em desenvolvimento como o nosso, onde o acelerado
envelhecimento populacional convive com péssimas condições sanitárias.
CAUSAS EXTERNAS
Exemplo: Acidentes, violência, suicídios etc.
Tendem a parecer com maior predominância em regiões densamente urbanizadas.
 VOCÊ SABIA
No Brasil, as doenças ocupacionais mais frequentes são as intoxicações exógenas (principalmente por agrotóxicos), perda auditiva induzida por
ruído (PAIR), lesões por esforços repetitivos (LER) e doenças osteomusculares relacionadas ao trabalho (DORT). Isso é um indicativo da forma
como se organiza a economia brasileira.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 2
 Reconhecer a importância dos estudos epidemiológicos aplicados à saúde
LIGANDO OS PONTOS
A Epidemiologia é a ciência básica da saúde pública. Estuda os fatores determinantes e condicionantes e propõe medidas de prevenção,
erradicação e controle. O uso de indicadores epidemiológicos é fundamental para avaliarmos a eficácia das medidas. Os dados obtidos pela
vigilância epidemiológica são importantes para conhecermos a situação de saúde de determinada população. Assim sendo, o profissional que
atua na saúde e segurança do trabalho deve ser capaz de interpretar os dados epidemiológicos para desenvolver melhor o seu trabalho.
Vamos ver o caso do surto de Covid-19 nas indústrias de Cambará do Oeste, no Paraná.
 
Duas grandes indústrias registraram surtos de casos de Covid-19 em meio ao aumento significativo de casos da doença na cidade. As
informações divulgadas pelo jornal A Folha do Oeste apontavam que, em 4 de março de 2021, o município havia registrado 55 novos casos de
coronavírus, chegando ao total de 277 pacientes infectados.
Segundo a Secretaria de Saúde, ambas as indústrias possuem planos de contingência e estão se empenhando para resolver a situação. Em um
dos locais, somente nesse período, foram dezenas de atestados médicos registrados.
A secretária da Saúde Mariana Grossi explicou que nem todos os funcionários foram afastados por estarem com sintomas. Em alguns casos,
existe a indicação de afastamento por conta de contato domiciliar com alguém que positivou, e a recomendação é para evitar a propagação.
Outro fator que deve ser considerado para o aumento dos casos é o maior número de testes que vem sendo aplicados em Cambará do Oeste,
desde a compra de testes rápidos pela prefeitura.
 
Após a leitura do case , é hora de aplicar seus conhecimentos! Vamos ligar esses pontos?
3. QUAIS MEDIDAS DE PREVENÇÃO PRIMÁRIA, SECUNDÁRIA OU TERCIÁRIA SÃO
MAIS IMPORTANTES PARA A PREVENÇÃO DE COVID-19 NAS INDÚSTRIAS? DÊ
EXEMPLOS DA MEDIDA QUE VOCÊ ESCOLHEU.
RESPOSTA
As principais medidas seriam o uso de máscaras PFF2, vacinação, higienização das mãos e afastamento
social, ou seja, as de prevenção primária.
A IMPORTÂNCIA DOS ESTUDOS EPIDEMIOLÓGICOS
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DEFINIÇÃO DE EPIDEMIOLOGIA
Um dos maiores desafios das ciências da saúde é estabelecer os nexos causais entre fatores determinantes e condicionantes do adoecimento.
Surgida no século XIX, a Epidemiologia é a ciência base da saúde pública, pois estuda o processo saúde-doença, descobre fatores determinates
e condicionantes, recomenda medidas de prevenção e controle e ainda fornece indicadores para avaliação e planejamento das ações de saúde.
MODELOS EXPLICATIVOS EM EPIDEMIOLOGIA
1. MODELO UNICAUSAL
Ao longo da história, à luz do desenvolvimento científico, a epidemiologia formulou diversas teorias sobre o surgimento das doenças. A primeira
delas foi depois batizada de modelo unicausal. Nessa concepção, todas as doenças deveriam ter uma única causa – um fator biológico.
Contudo, esse modelo se mostrou incompleto pois nem todo indivíduo exposto ao fator biológico desenvolvia a doença.
Dessa forma, surgiram os modelos multicausais. Nesses modelos, a etiologia (estudos das causas das doenças) das doenças teria múltiplas
causas, como as que veremos a seguir.
2. MODELOS MULTICAUSAIS
REDE DE CAUSAS
A teoria da natureza multicausal dos agravos à saúde demonstra que as doenças não têm uma única causa.
MÚLTIPLAS CAUSAS – MÚLTIPLOS EFEITOS
Neste modelo, encontramos uma versão mais elaborada da rede de causas, pois se destaca que um mesmo grupo de causas pode gerar
múltiplos efeitos.
A partir dos modelos anteriores, surge o conceito da abordagem sistêmica, que significa dizer que existem múltiplas explicações para o
processo saúde-doença, destacando a possibilidade de uma explicação biológica e uma explicação social.
O modelo explicativo mais utilizado até hoje é o da história natural das doenças (HND), que veremos a seguir.
HISTÓRIA NATURAL DAS DOENÇAS
Nesse modelo, as doenças são o fruto da relação entre três fatores determinantes:
Agente etiológico (a causa principal).

Hospedeiro suscetível (aquele que vai adoecer).

Meio ambiente.
Em homenagem aos criadores do modelo, esses três elementos foram batizados de tríade de Leavell e Clarck e são representados
graficamente por um triângulo.
No modelo da HND, o processo de surgimento de uma doença se divide em dois períodos, como veremos a seguir.
PRÉ-PATOGÊNESE
Os três elementos estão disponíveis, interagindo porém ainda em equilíbrio. A doença ainda não surgiu.
PATOGÊNESE
Um elemento ou mais entra em desequilíbrio e assim a doença aparece e pode ter os seguintes desfechos: morte, invalidez, cronicidade ou cura.
A partir do conhecimento da HND, podemos desenvolver ações preventivas que são divididas em três níveis com cinco tipos de ações.
PREVENÇÃO PRIMÁRIA
 
Evitar que a doença apareça, por meio destas ações:
a) promoção da saúde – inespecífica (ex.: alimentação saudável); e
b) proteção específica – medidas específicas (ex.: vacinação).
PREVENÇÃO SECUNDÁRIA
 
Evitar que a doença evolua, por meio destas ações:
a) diagnóstico precoce (métodos de rastreamento usados na fase assintomática);
b) limitação do dano (tratamento dos sinais e sintomas).
PREVENÇÃO TERCIÁRIA
 
Recuperar o potencial de saúde do organismo, por meio destas ações:
a) reabilitação – para quem já tem a doença clinicamente detectável (ex.: reabilitar paciente pós-infarto).
CONCEITOS BÁSICOS EM EPIDEMIOLOGIA
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Para entender de que forma os microrganismos interagem com o hospedeiro, precisamos compreender seus atributos.
Infectividade
É a capacidade que os microorganismos têm de penetrar, se desenvolver, interagir e/ou se multiplicar no
hospedeiro ocasionando uma infecção.
Patogenicidade É a capacidade de o agente etiológico produzir sintomas e sinais (doença).
Virulência É a capacidade do agente de produzir efeitos graves ou fatais.
Imunogenicidade É a capacidade do agente de, após a infecção, induzir a imunidade no hospedeiro.
Dose infectante É a quantidade de agente etiológico necessária para iniciar uma infecção.
Poder invasivo
É a capacidade que tem o parasita de se difundir, através de tecidos, órgãos e sistemas anatomofisiológicos do
hospedeiro.
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Os atributos do hospedeiro a seguir, em sua relação com o agente patogênico, são importantes nas doenças infecciosas.
Resistência
É o conjunto de mecanismos do organismo que serve de defesa contra a invasão ou multiplicação de agentes
infecciosos ou contra efeitos nocivos de seus produtos tóxicos.
Resistência
natural
É aquela que independe de anticorpos ou de reação específica dos organismos e resulta de fatores anatômicos,
fisiológicos e outros intrínsecos ao hospedeiro.
Imunidade
É um subtipo de resistência específica associado à presença de anticorpos que possuem ação específica sobre o
microrganismo responsável por uma doença infecciosa ou sobre suas toxinas.
Suscetibilidade
É a medida de fragilidade, a possibilidade de adoecer por meio de determinado agente, fator de risco ou conjunto de
causas. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
Os conceitos de caso em epidemiologia funcionam como “padrões”, ou seja, critérios objetivos usados para que as avaliações sejam as mais
fidedignas possíveis.
Caso É uma pessoa ou animal infectado ou doente que apresenta características clínicas, laboratoriais e epidemiológicas
específicas de uma doença ou agravo.
Caso
confirmado
Pessoa ou animas de quem foi isolado e identificado o agente etiológico ou e/ou laboratoriais da presença do agente
etiológico ou ainda uma evidência epidemiológica que possibilitem a confirmação de uma suspeita.
Caso
suspeito
Pessoa cujos sinais e sintomas e possível exposição a uma fonte de infecção sugerem que possa estar ou vir a
desenvolver uma doença infecciosa.
Comunicante
São todos aqueles que estiveram em contato com um reservatório, caso clínico, portador ou com ambiente
contaminado, de forma a ter oportunidade de adquirir o agente etiológico de uma doença.
Portadores
São os que têm o agente infeccioso e podem transmiti-lo, mas, no momento, não apresentam sintomas. Ex.: Portador
do HIV.
Reservatório
Reservatório de agentes infecciosos é o ser humano ou qualquer outro animal, vegetal ou matéria inanimada em que
um agente normalmente vive, se multiplica ou sobrevive e do qual tem o poder de ser transmitido a um hospedeiro
suscetível.
Vetores São seres vivos que veiculam o agente desde o reservatório até o hospedeiro potencial. Ex.: Mosquito da dengue.
Veículos
São fontes secundárias, inanimadas, intermediárias entre o reservatório e o hospedeiro como objetos e materiais. Ex.:
Água como veículo do vírus causador da hepatite A.
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VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA
A Lei Orgânica da Saúde – definida pela Lei nº 8.080/90 – conceitua vigilância epidemiológica (VE) como:
CONJUNTO DE AÇÕES QUE PROPORCIONA O CONHECIMENTO, A DETECÇÃO OU
PREVENÇÃO DE QUALQUER MUDANÇA NOS FATORES DETERMINANTES E
CONDICIONANTES DA SAÚDE INDIVIDUAL OU COLETIVA, COM A FINALIDADE DE
RECOMENDAR E ADOTAR AS MEDIDAS DE PREVENÇÃO E CONTROLE DAS
DOENÇAS OU AGRAVOS.
O propósito da VE é fornecer orientação técnica permanente para os que têm a responsabilidade de decidir sobre a execução de ações de
controle de doenças e agravos. A vigilância é um trabalho de observação permanente, mas não tem poder decisório. A decisão é da autoridade
sanitária – ministro e secretários de Saúde.
ESTUDOS EPIDEMIOLÓGICOS
Cabe à Epidemiologia estudar o processo saúde-doença, ou seja, identificar os fatores determinantes e condicionantes da saúde para
posteriormente recomendar medidas apropriadas de prevenção, controle e erradicação. Para tanto, essa ciência utiliza estudos específicos para
estabelecer nexos causais. Vamos conhecer cada um deles a seguir.
EPIDEMIOLOGIA DESCRITIVA
Constitui a primeira fase da aplicação do método epidemiológico a fim de entender o comportamento de um agravo à saúde numa população.
NESTA ETAPA, É POSSÍVEL DESCREVER OS CARACTERES
EPIDEMIOLÓGICOS DAS DOENÇAS RELATIVOS AO TEMPO (QUANDO?),
ESPAÇO (ONDE?), PESSOA (QUEM?).
Em relação às pessoas, podemos discriminar características importantes para análise, tais como ao gênero, idade, escolaridade, nível
socioeconômico, etnia, ocupação e situação conjugal. Da mesma forma, podemos categorizar características do lugar (urbano ou rural) e do
tempo (estação do ano).
Nos estudos descritivos, os dados são reunidos, organizados e apresentados na forma de gráficos, tabelas com taxas, médias e distribuição
segundo atributos da pessoa, do tempo e do espaço, sem o objetivo de estabelecer associações ou inferências causais.
Podemos identificar três estudos descritivos, como veremos a seguir.
ESTUDOS SECCIONAIS (TRANSVERSAIS)
Trata-se da contagem do número de casos dentro de período determinado.
ESTUDOS DE CASO
Busca-se obter dados do caso que possam sugerir hipóteses de causas ou fatores condicionantes.
ESTUDOS ECOLÓGICOS
Estudo que busca comparar a ocorrência de uma doença em lugares diferentes ou, ainda, comparar o mesmo lugar em épocas diferentes.
EPIDEMIOLOGIA ANALÍTICA
Os estudos analíticos têm o objetivo de testar as hipóteses elaboradas geralmente durante estudos descritivos. São também chamados
estudos observacionais. Temos fundamentalmente dois tipos de estudos analíticos.
ESTUDO DE COORTES
Compara um grupo de pessoas expostas a um fator causal com outro grupo não exposto. Parte-se das causas para se descobrir os efeitos. É um
estudo prospectivo.
ESTUDO DE CASO-CONTROLE
Compara um grupo de pessoas doentes a um fator causal com outro grupo de pessoas não doentes. Parte-se dos efeitos para se tentar
descobrir as possíveis causas. É um estudo retrospectivo.
 SAIBA MAIS
Ensaios clínicos randomizados
Os ensaios clínicos são estudos que visam avaliar a eficácia de uma terapia (medicamento, tratamento, método de prevenção). Comparam-se os
efeitos no grupo que recebeu o tratamento com o que recebeu o placebo.
Importante destacar que os métodos utilizados em VE são aplicáveis diretamente na vigilância em saúde do trabalhador (VISAT).
ESTUDOS EPIDEMIOLÓGICOS ESPECIAIS (VIGILÂNCIA)
A VE utiliza estudos especiais para confirmar casos suspeitos e outras avaliações necessárias no campo da saúde pública.
Investigação
epidemiológica
de campo
Busca coletar dados novos de casos suspeitos para a adequada confirmação ou descarte.
Inquéritos
epidemiológicos
O inquérito epidemiológico é geralmente do tipo amostral, utilizado quando as informações existentes são
inadequadas ou insuficientes. O principal objetivo é obter dados para uma avaliação da situação sanitária.
Levantamento
epidemiológico
É um estudo realizado com base nos dados existentes nos registros dos serviços de saúde ou de outras
instituições. O principal uso é para avaliar tendências (os casos estão subindo, estáveis, caindo etc.).
Sistemas de
vigilância
sentinela
Têm como objetivo monitorar indicadores-chaves na população geral ou em grupos especiais que sirvam como
alerta precoce para o sistema. O Ministério da Saúde no Brasil inclui as principais doenças ocupacionais como
passíveis de noticação compulsória em unidades sentinela.
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NOTIFICAÇÃO EM VE
A VE pode obter dados de diversas fontes, tais como: população em geral, imprensa, unidades de saúde, empresas, cartórios etc. Todavia, a
principal fonte de dados da vigilância é a notificação. A notificação é a comunicação de uma suspeita de doença, agravo ou evento de saúde
pública feita por qualquer pessoa para uma autoridade sanitária.
APÓS A NOTIFICAÇÃO SERÁ FEITA A INVESTIGAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA,
QUE PODE OU NÃO CONFIRMAR A SUSPEITA. É IMPORTANTE
RESSALTAR QUE A INFORMAÇÃO SÓ TERÁ RELEVÂNCIA PARA AVALIAR
A SITUAÇÃO SANITÁRIA APÓS A INVESTIGAÇÃO.
Existe um grupo de doenças e agravos cuja notificação é compulsória para unidades de saúde. Nesses casos, o profissional é obrigado a fazer a
notificação, que pode ser semanal ou imediata (24h). Essas doenças são definidas em portarias do Ministério da Saúde e permanentemente
atualizadas.
Os critérios para a inclusão de uma doença nesta lista são:
gravidade – alto risco de morte ou complicações;
magnitude – frequência de casos e óbitos;
transcendência – relevância social;
vulnerabilidade – existência de meios de prevenção;
eventos e agravos inusitados;
presença em regulamento sanitário internacional.
INDICADORES EPIDEMIOLÓGICOS
Os indicadores de saúde são medidas-síntese que contêm informação relevante sobre determinados atributos e dimensões do estado de
saúde, bem como do desempenho do sistema de saúde.
INDICADORES DE MORTALIDADE
A mortalidade é um dos mais importantes indicadores de saúde. Devemos entendê-la não apenas como o final do processo vital, mas também
para grande parte dos casos, como uma falha completa do sistema de saúde (falha na prevenção e na assistência em todos osmomentos ao
longo da vida do indivíduo). As taxas de mortalidade são indicadores que medem risco de morte, ou seja, a probabilidade de ocorrência de óbito
em uma população ou subgrupo populacional.
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 ATENÇÃO
n≥ 2, é o grau da proporção a ser utilizado. Exemplos:
2 – porcentagem
3 – por mil
6 – por milhão
Taxa de mortalidade é sinônimo de coeficiente de mortalidade.
LETALIDADE
A letalidade é o indicador que mede a proporção de óbitos que ocorrem no total de casos de uma doença ou agravo à saúde. Ele é a medida do
risco de óbito entre os doentes. A letalidade expressa a gravidade de uma doença: quanto maior o número de indivíduos acometidos por uma
doença que vão a óbito, mais grave ela é considerada.
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MORTALIDADE PROPORCIONAL
 Taxa de mortalidade  = × 10n
N∘ óbitos de uma determinada causa 
 População suscetível 
 Taxa de letalidade  = × 10n
N∘ óbitos de uma determinada causa 
N∘ de casos da doença 
A mortalidade proporcional é a distribuição dos óbitos em relação a algumas variáveis de interesse, principalmente sexo, idade e causa de
óbito. A mortalidade proporcional não mede risco de morte, pois seu denominador é o total de óbitos, não a população sob risco de morte.
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MORBIDADE
A morbidade é a variável característica das comunidades de seres vivos. Refere-se ao conjunto dos indivíduos que adquirem doenças (ou
determinadas doenças) em dado intervalo de tempo em determinada população. A morbidade mostra o comportamento das doenças e dos
agravos à saúde na população.
INCIDÊNCIA
A incidência de uma doença, em um determinado local e período, é o número de casos novos da doença que iniciaram no mesmo local e
período.
Calcula-se o risco de adoecimento em um grupo delimitado com a taxa de ataque. Podemos calculá-la da seguinte forma:
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PREVALÊNCIA
A prevalência é o número total de casos de uma doença existentes em determinado local e período.
MEDIDAS GERAIS DE PROFILAXIA E CONTROLE
Em saúde pública, podem ser utilizadas diversas medidas coletivas de profilaxia e controle de doenças.
 Índice de mortalidade proporcional  = × 10n
N∘ óbitos de uma determinada causa 
N∘ de óbitos totais 
 Taxa de ataque  = × 100
N
∘ de casos novos numa população durante um determinado período 
 População sob risco no início do período 
IMUNIDADE DE REBANHO OU IMUNIDADE COLETIVA
É a indução da resistência de uma população à introdução e à disseminação de um agente infeccioso. Essa resistência é fundamentada na
elevada proporção de indivíduos imunes entre os membros dessa população e na uniforme distribuição desses indivíduos imunes. Importante
ressaltar que a melhor forma de obter a imunidade de rebanho é a vacinação em massa.
 Esquema de imunidade de rebanho.
ISOLAMENTO
Separação de um caso clínico do convívio das outras pessoas durante o período de transmissibilidade, a fim de evitar que os suscetíveis sejam
infectados.
QUARENTENA
Isolamento de indivíduos ou animais sadios pelo período máximo de incubação da doença, contado a partir da data do último contato com um
caso clínico ou portador, ou da data em que esse comunicante sadio saiu do local em que se encontrava a fonte de infecção.
QUIMIOPROFILAXIA
Administração de um medicamento, inclusive antibióticos, para prevenir uma infecção ou a progressão de uma infecção com manifestações da
doença.
TRATAMENTO PROFILÁTICO
Tratamento de um doente ou de um portador com a finalidade de reduzir o período de transmissibilidade.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 3
 Identificar as estratégias de promoção de saúde do trabalhador
LIGANDO OS PONTOS
O ambiente do trabalho tem sido visto tradicionalmente como um espaço laboral potencialmente insalubre. Dessa forma, as ações desenvolvidas
pelas equipes de saúde e segurança do trabalho possuem enfoque prevencionista. Todavia, numa visão mais moderna, o ambiente do trabalho
pode ser também um espaço de promoção da saúde e da qualidade de vida.
Embora tais ações não sejam obrigatórias, muitas empresas têm obtido bons resultados com o investimento nessa área – melhoria da imagem
pública, aumento de produtividade, redução do absenteísmo etc.
 
Vamos observar o estudo de caso que trata da ergonomia e o aumento de produtividade.
Uma empresa têxtil canadense desenvolveu um programa com o objetivo de reduzir os sintomas musculoesqueléticos entre seus funcionários
operacionais (de ambos os sexos e com idades entre 25 e 59 anos) e o absenteísmo relacionado a esses desconfortos, aumentando a
produtividade. Para tanto, o espaço físico de trabalho foi readequado (principalmente com o ajuste ergonômico de equipamentos utilizados) e
foram oferecidos aos funcionários treinamentos ergonômicos periódicos. A intervenção teve duração de 24 meses e contou com a participação
de 295 funcionários.
Para possibilitar a avaliação econômica do programa, foram registrados também todos os custos incorridos pela empresa para promover a
intervenção e estimada a perda de produtividade (por dias perdidos de trabalho) relacionada a sintomas osteomusculares nos doze meses
anteriores e posteriores à intervenção.
O programa custou $65.787 dólares canadenses e gerou um benefício de $360.614 relacionado ao aumento da produtividade (pela redução dos
dias perdidos de trabalho). Ou seja, para gerar um benefício de $1, a empresa gastou 18 centavos (relação custo-benefício de 0,2). Demonstrou-
se, portanto, a eficiência das estratégias adotadas em aumentar a produtividade dessa empresa.
Agora, vamos abordar o estudo de caso que trata da alimentação saudável numa empresa em Minneapolis.
Em Minneapolis, nos Estados Unidos, doze empresas reduziram em 50% o preço dos lanches mais saudáveis (com menos de 3 g de gordura
por unidade) disponíveis em suas 55 máquinas de venda automática com o objetivo de aumentar o consumo desses alimentos. Além disso,
foram colocados avisos de que aqueles alimentos tiveram seus preços reduzidos por se tratar de opções mais saudáveis e que, portanto,
poderiam contribuir para o controle do peso corporal e a prevenção de doenças crônicas não transmissíveis.
O volume de venda desses lanches, monitorado durante os 12 meses de intervenção, teve crescimento de 90% no período, evidenciando, assim,
que alteração do ambiente alimentar e os incentivos econômicos podem ser efetivos no estímulo à alimentação saudável.
Fonte: REIS, A; MANSINI, G; LEITE, F. Promoção de saúde nas empresas: casos de sucesso. Instituto de Estudos de Saúde Suplementar
(IESS), 2013. 49 p. 
 
Após a leitura do case , é hora de aplicar seus conhecimentos! Vamos ligar esses pontos?
3. NO CASO DA EMPRESA NOS ESTADOS UNIDOS, A INTERVENÇÃO
PROPORCIONOU AUMENTO DO CONSUMO DE ALIMENTOS SAUDÁVEIS.
RELACIONE OUTRAS INTERVENÇÕES QUE PODERIAM SER FEITAS NUMA
EMPRESA COM O MESMO OBJETIVO.
RESPOSTA
Diagnóstico nutricional, orientação alimentar, bônus para funcionários que apresentarem perda de peso,
parcerias com empresas fornecedoras de alimentos saudáveis, oferta de alimentos saudáveis na dieta etc.
Em qualquer caso, a participação dos funcionários deve ser voluntária, sem qualquer sanção aos
funcionários que não queiram participar do programa.
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O QUE É PROMOÇÃO DA SAÚDE?
CONCEITO DE QUALIDADE DE VIDA
A promoção da saúde é uma estratégia sanitária que surgiu na década de 1940 em face à necessidade de criar práticas de saúde que em vez de
somente prevenir e tratar de problemas de saúde buscam também produzir saúde e qualidade de vida.
O TEMPO QUE DISPENSAMOS EM NOSSAS ATIVIDADES LABORAIS
TORNA O ESPAÇO DE TRABALHO UM LOCAL PRIVILEGIADO PARA
DISSEMINAR PRÁTICAS DE PROMOÇÃO DA SAÚDE. DESSA FORMA,
SURGIU O CONCEITO DE PROMOÇÃO EM SAÚDE DO TRABALHADOR.
O conceito de qualidade de vida temsido cada vez mais debatido no âmbito das políticas públicas e nas relações humanas. O objetivo de ter
uma vida com qualidade está diretamente conectado com a relação que o indivíduo tem com seu trabalho, uma vez que boa parte da população
passa mais tempo em seu local de trabalho do que em casa.
Muitas vezes, a busca pela qualidade de vida se opõe ao tempo e ao esforço que as pessoas dedicam ao trabalho, às grandes jornadas de
trabalho, ao tempo gasto durante o transporte e ainda ao ambiente laboral extremamente competitivo.
Todavia, começam a surgir iniciativas que buscam melhorar a qualidade de vida no ambiente de trabalho. Alguns estudos já apontam que tais
iniciativas podem produzir resultados favoráveis para as empresas, seja pelo aumento da produtividade e dos lucros, seja pelo aumento da
satisfação dos funcionários.
Qualidade de vida é um conceito relativo e polissêmico. Muda de acordo com as gerações, classe social, gênero, país etc. Geralmente podemos
dizer que qualidade de vida é definida como uma forma de avaliar as condições de vida de um ser humano. Envolve o seu bem-estar físico,
mental, social, psicológico, espiritual, além de relacionamentos sociais, a saúde, educação, o poder aquisitivo, habitação, saneamento básico e
outras circunstâncias da vida.
Não deve ser confundida com padrão de consumo, uma medida que quantifica a qualidade e a quantidade de bens e serviços disponíveis – ou
seja, a medida da qualidade de vida envolve aspectos objetivos e subjetivos.
 SAIBA MAIS
A Organização Mundial da Saúde (OMS) desenvolveu um questionário para apurar a qualidade de vida, que tem duas versões validadas para o
português: o questionário 100 (composto por 100 questões) e o 26 (composto por 26 questões). O questionário é composto por seis domínios: o
físico, o psicológico, o do nível de independência, o das relações sociais, o do meio ambiente e o dos aspectos religiosos.
Segundo Westphal (2008), qualidade de vida pode ser:
CONSUMO
FATORES SUBJETIVOS
DESENVOLVIMENTO
CONSUMO
Um padrão de consumo. Acesso a bens, lazer, viagens, comodidades, riqueza.
FATORES SUBJETIVOS
Necessidade de se relacionar com outras pessoas, estar integrado socialmente, estar em contato com a natureza.
DESENVOLVIMENTO
Possibilidade de desenvolver capacidades humanas básicas, neste caso, qualidade de vida seria ter acesso aos recursos necessários para o
pleno desenvolvimento do ser humano – ter moradia, acesso a serviços de saúde, educação etc.
A QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO
A qualidade de vida no ambiente de trabalho (QVT) tem sido objeto de discussão há muito tempo no campo das ciências humanas, embora o
termo não fosse usado exatamente assim. Destacam-se nessa área preocupações desde a antiguidade, como a aplicação de princípios de
geometria e matemática para diminuir o esforço empregado pelos trabalhadores nas construções, uma ação precursora da atual ergonomia.
Walton (1973 apud FERNANDES, 1996, p. 48) propôs oito categorias para conceituar a qualidade de vida no trabalho:
Compensação justa e
adequada
Remuneração justa pelo trabalho realizado.
Condições de trabalho Carga horária de trabalho, equipamentos e materiais adequados.
Uso e desenvolvimento de
capacidades
Aproveitamento do potencial intelectual e humano do trabalhador.
Oportunidade de
crescimento e segurança
Oferecimento de possibilidades de ascensão na carreira e estabilidade no emprego.
Integração social na
organização
Refere-se às relações pessoais dentro da organização.
Constitucionalismo Refere-se ao respeito aos direitos do trabalhador e ao cumprimento das leis trabalhistas.
Trabalho e espaço total de
vida
Refere-se ao equilíbrio entre a vida pessoal e a vida laboral.
Relevância social do
trabalho na vida
Refere-se à observação do empregado em relação aos valores, imagem da empresa, relações da
empresa com a sociedade e qualidade do serviço prestado.
 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
Observe que embora qualidade de vida não seja algo diretamente relacionado com saúde, as suas acepções se coadunam com o conceito
ampliado de saúde.
INFLUÊNCIA DA LIDERANÇA EM QUALIDADE DE VIDA NO AMBIENTE DE
TRABALHO (QVT)
A influência do estilo de comando nas empresas tem sido uma preocupação dos autores do campo da QVT. Tem-se estudado quais os estilos de
liderança mais apropriados para conciliar os objetivos da organização com os objetivos dos trabalhadores.
BUSCA-SE PARA UM NOVO TIPO DE EMPRESA UM NOVO TIPO DE
LIDERANÇA.
A nova empresa é aquela que investe no desenvolvimento humano de seus trabalhadores levando em consideração também seus aspectos
pessoais para além do mundo do trabalho, ou seja, sua qualidade de vida.
A nova visão da liderança entende que a liderança é contingencial, isto é, o líder pode mudar de acordo com a situação, ou o estilo do líder pode
mudar pelo mesmo motivo. Caberia então aos chefes estimular o exercício da liderança entre seus subordinados com uma postura de
comunicação aberta e transparente e exercendo as dimensões gestora, educadora e transformadora nas suas relações.
CONCEITO DE PROMOÇÃO DA SAÚDE DA CARTA DE OTTAWA
Em 1986, foi realizada na cidade de Ottawa, no Canadá, a I Conferência Internacional de Promoção da Saúde. Reuniram-se na ocasião países
desenvolvidos que buscaram discutir o conceito de promoção da saúde formulado na década de 1940.
AO FINAL DA CONFERÊNCIA FOI REDIGIDO UM DOCUMENTO CHAMADO
DE CARTA DE OTTAWA CUJA DEFINIÇÃO DE PROMOÇÃO DA SAÚDE
INFLUENCIA A FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS NESSE CAMPO ATÉ HOJE,
INCLUSIVE NA SAÚDE DO TRABALHADOR. SEGUNDO O DOCUMENTO, A
PROMOÇÃO DA SAÚDE SIGNIFICA CAPACITAR A COMUNIDADE PARA
ATUAR NA SUA PRÓPRIA QUALIDADE DE VIDA E SAÚDE.
 A Carta traz ainda quais são os pré-requisitos para a saúde:
paz;
habitação;
educação;
alimentação;
renda;
ecossistema estável;
recursos sustentáveis;
justiça social;
equidade.
Também descreve que as ações de saúde não devem ser exclusivas do setor, mas realizadas em conjunto pelo setor saúde e outros setores da
sociedade. A essa ação em conjunto é dado o nome de intersetorialidade.
PROMOÇÃO DA SAÚDE DO TRABALHADOR (PST)
Um dos grandes desafios na história das políticas de saúde tem sido a conceituação do que é saúde e do que é doença. Evoluímos desde o
conceito negativista: a saúde é a ausência de doenças até o chamado conceito ampliado de saúde, vista como resultado das condições de vida.
Definir o que é saúde é fundamental para definirmos em que pontos deveremos intervir.
O surgimento do conceito de promoção da saúde ampliou o leque de oportunidades de intervenção no processo saúde-doença bem como dos
locais em que tais práticas podem ser aplicadas. A saúde do trabalhado, que até então era local de intervenções de prevenção, segurança,
tratamento etc., passou a incluir também práticas de promoção da saúde tais como atividade física, alimentação saudável, combate ao
alcoolismo etc.
 ATENÇÃO
A promoção da saúde está intimamente ligada ao estilo de vida da adoção de hábitos saudáveis. Desde 2006, o Sistema Único de Saúde (SUS)
possui uma política específica para esse campo.
A promoção da saúde do trabalhador e os programas de qualidade de vida do trabalho têm sido importantes fontes de discussão no mundo atual.
Todavia, já percebemos que transpor esse discurso para a prática tem se mostrado um grande desafio para os gestores.
Aplicar esses conceitos à prática exige de todos uma postura proativa do profissional de saúde e/ou de recursos humanos para mapear novos
riscos, estar atento às manifestações que possam advir do estresse crônico no trabalho, sensibilizar gestores etc.
OS GESTORES DEVEM ESTAR ATENTOS ÀS FORMAS VÁRIAS DE
ADOECIMENTO CRÔNICO, BEM COMO CERCAR-SE DE PROFISSIONAIS
ESPECIALIZADOS NO TRATO DESSAS QUESTÕES, CONSCIENTIZAR
SEUS PARES E SUBORDINADOS PARA A IMPORTÂNCIA DOS CUIDADOS
PARA COM A SAÚDE, TER COMO UM VALOR DA CORPORAÇÃO O BEM-
ESTAR DE SEUS FUNCIONÁRIOS, GARANTIR RECURSOS
ORÇAMENTÁRIOS ESPECÍFICOSPARA A PROMOÇÃO DE SAÚDE NO
AMBIENTE DE TRABALHO, INCENTIVAR E DAR CONDIÇÕES PARA QUE O
FUNCIONÁRIO PARTICIPE DAS AÇÕES; O FUNCIONÁRIO DEVE TER UMA
ATITUDE PROATIVA E SE CONSCIENTIZAR DE QUE TAMBÉM É
RESPONSÁVEL PELA MANUTENÇÃO E MELHORIA DE SUA SAÚDE.
SIGNIFICADOS DE PST
A Organização Internacional para Promoção de Saúde no Trabalho (International Association of Worksite Health Promotion – IAWHP) e a Liga
Europeia para Promoção de Saúde no Trabalho (European Network For Workplace Health Promotion – ENWHP) definem o termo PST das
maneiras descritas a seguir.
IAWHP
[...] UM CONJUNTO CORPORATIVO DE AÇÕES ESTRATÉGICAS E TÁTICAS QUE
BUSCA OTIMIZAR A SAÚDE DO TRABALHADOR E O DESEMPENHO DA
CORPORAÇÃO POR MEIO DE ESFORÇO COLETIVO QUE ENVOLVE OS
EMPREGADOS, OS FAMILIARES, OS EMPREGADORES, AS COMUNIDADES E A
SOCIEDADE COMO UM TODO.
OMS, 2010.
ENWHP
PST É ESFORÇO COMBINADO DE EMPREGADOS, EMPREGADORES E SOCIEDADE
PARA MELHORIA DA SAÚDE E DO BEM-ESTAR NO TRABALHO. ISSO PODE SER
ATINGIDO POR UMA COMBINAÇÃO DE: MELHORA NA ORGANIZAÇÃO E NO
AMBIENTE DE TRABALHO; PROMOÇÃO DA PARTICIPAÇÃO ATIVA;
ENCORAJAMENTO DO DESENVOLVIMENTO PESSOAL.
OMS, 2010.
Na balança em que se equilibra de forma instável a saúde e a doença, o trabalho, até então um espaço onde somente havia doença e riscos,
passa a ser também o espaço da saúde. Numa visão hoje sonhadora, o trabalho poderá contribuir para ajudar em questões de saúde que têm
origem fora do ambiente do trabalho.
Para que um programa de promoção à saúde do trabalhador alcance o duplo resultado desejado, a melhoria da saúde dos trabalhadores e o
alcance dos objetivos das empresas são necessários para que tais programas sejam planejados com cuidado e permanentemente avaliados.
A avaliação do programa é uma etapa importante para detectar sua efetividade e deverá fornecer subsídios para seu aperfeiçoamento. É
também instrumento que servirá para “provar” ao gestor que os recursos empregados no PST valem à pena. Devem ser avaliados os aspectos
descritos a seguir.
PRÉ-TESTE
Aplicação das intervenções num pequeno grupo, para aperfeiçoamento das ações de intervenção.

AVALIAÇÃO DO PROCESSO
Identifica se as ações planejadas foram de fato executadas corretamente.

AVALIAÇÃO DO RESULTADO
Identifica se os resultados desejados foram de fato alcançados (ex.: redução do índice de massa corporal – IMC de trabalhadores acima do
peso).

AVALIAÇÃO ECONÔMICA
Avalia os custos do programa e os resultados alcançados. Existem várias formas de avaliar economicamente um programa
PST E OMS
A OMS descreve a promoção da saúde do trabalhador como um esquema complexo que relaciona quatro fatores principais:
Ambiente psicossocial de trabalho
Ambiente físico do trabalho
Recursos para a saúde pessoal
Envolvimento da empresa na comunidade
Os profissionais encarregados de desenvolver ações de PST deverão: mobilizar recursos, reunir pessoas, diagnosticar problemas, priorizar
objetivos, planejar ações, fazer e avaliar as ações planejadas e implantar ações de melhoria contínua. Todas essas ações deverão levar em
consideração valores éticos e incluir os trabalhadores no processo, que pode ser compreendido pela figura a seguir.
 Desenvolvimento de ações de promoção da saúde.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Saúde e doença são conceitos que fazem parte da vida cotidiana, mas que possuem definições fluidas que mudam ao longo da história e do
desenvolvimento do conhecimento científico.
Entender o que significa adoecimento em nosso tempo é importante para definirmos as medidas de proteção.
Neste conteúdo estudamos esses conceitos ao longo da história, bem como aprendemos a importância da epidemiologia no estudo dos fatores
determinantes e condicionantes.
Aprendemos também o conceito moderno de promoção da saúde e como qual sua interferência nas ações voltadas para a saúde do trabalhador.
 PODCAST
Agora, o especialista Ismael da Silva Costa encerra o tema falando sobre os principais tópicos abordados.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. 8º Conferência Nacional de Saúde. In: Anais da 8º Conferência Nacional de Saúde. Brasília: MS, 1986.
BRASIL. Constituição Federal. Artigos 196, 197, 198, 199 e 200.
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CARVALHO, A. I.; GOULART, F. A. A. (orgs.). Gestão de saúde: curso de aperfeiçoamento para dirigentes municipais de saúde: programa de
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PEREIRA, S. D. Conceitos e definições da saúde e epidemiologia usados em vigilância sanitária. São Paulo: CVS, 2007.
REIS, A.; MANSINI, G.; LEITE, F. Promoção de saúde nas empresas: casos de sucesso. São Paulo: IESS, 2013. 49 p. 
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Atheneu, 2008. p. 149-163.
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Saúde – Concepção Saúde/Doença.
CONTEUDISTA
Ismael da Silva Costa

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