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Mulheres nas Guerras Independentistas da América Latina mais do que domésticas

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1 
 
UNIFESP – UC História da América II (Módulo I) – 2020 – Prof. Iuri Cavlak 
Estudante: Jéssica Quinteiro Rodrigues – 150165 – Turno: Vespertino 
Mulheres nas Guerras Independentistas da América Latina: mais do que domésticas 
Tema: A participação das mulheres nos processos de independência da América Latina. 
Introdução 
 Este trabalho será uma análise acerca da participação das mulheres nas guerras 
independentistas da América Latina, cujo intuito é entender se essas participações foram 
relevantes e se sim, de qual forma se deram. 
 Para isso é necessário fazermos uma breve contextualização do período, buscando 
perceber como esses processos se desdobram ao longo do século XIX e, posteriormente, entrar 
de fato no tema proposto, procurando destacar quais foram as formas de participação ativa das 
mulheres, quem foram elas e por quais motivos se inseriram nestes conflitos políticos. 
 Segundo Maria Elisa de Sá Mader, com a deposição de Fernando VII e a tomada do 
trono espanhol pelo irmão de Napoleão Bonaparte, tem-se a instauração de um novo período 
político na Espanha e, por consequência, em suas colônias. As elites, tanto metropolitanas 
quando coloniais, começam a ganhar mais espaço para desenvolverem os seus interesses, 
usando das juntas para estabelecê-los. 
 Em tentativa de reatar o controle sobre os seus domínios ultramarinos, a coroa espanhola 
propõe uma série de reformas, as chamadas Reformas Bourbônicas. Dessa forma, os poderes 
que outrora tinham sido conquistados pelas colônias, em decorrência da desorganização da 
metrópole e de seus conflitos na Europa, são revogados, o que gera uma agitação nas elites 
locais e cria motivo para movimentos independentistas, além das influências quanto a 
Revolução Norte-Americana e a Revolução Francesa, que circulavam pelos impressos. 
 Pelas vertentes da historiografia tradicional, o grupo que participa desses atos sediciosos 
é bem conciso e homogêneo, formado apenas por homens brancos de classes abastadas, os 
criollos. Porém, aproximadamente na década de 1970, uma nova corrente historiográfica 
começa a ganhar credibilidade. A Nova História, pautada no estudo dos indivíduos e de suas 
2 
 
motivações, critica a historiografia tradicional pelo seu teleologismo e reducionismo, 
justamente por não dar espaço ao “homem comum” e às participações e levantes populares.1 
 É desse modo que a História passa a ter contato com grupos mais diversos, com pessoas 
comuns que também tiveram seus papéis e seus interesses com os processos de independência 
e busca por liberdade, apesar de que, mesmo após as independências, a estrutura social se 
manteve a mesma. Assim, tem-se a inserção das mulheres no grande curso da história, como 
seres pensantes e atores políticos no espaço público. 
As mulheres e suas áreas de atuação 
 Durante as pesquisas sobre esse tema, se torna bem evidente que não existem muitos 
trabalhos nessa área, pois existe uma quantidade bem escassa de fontes a esse respeito, e menos 
ainda quando procuradas em português - segundo Amanda Rodrigues -, que pode se somar ao 
relativo pouco tempo em que se estuda a presença da mulher na História, ponto que ressalta 
mais uma vez a importância desse assunto ser debatido, investigado e estudado. 
 Apesar de carecermos de recursos, lendo poucos trabalhos já é possível notar a 
diversidade das áreas de atuação que as mulheres tiveram nesse período. Existem alguns relatos 
de mulheres que se integraram aos exércitos insurgentes como Juana Azurduy, que liderou 
tropas no Alto Peru ao lado de seu marido e chegou a receber o título de Coronela; a peruana 
Manuela Sáenz que atuou em diversas batalhas, alcançou a honraria de se tornar Caballera del 
Sol, mas infelizmente acaba sendo lembrada apenas por ser a companheira de Simón Bolívar; 
e ainda tropas compostas por mulheres e lideradas por elas. 
 Juana Azurduy 
 
 
 
 
 
 
 Anônimo. Juana Azurduy de Padilla, 
 Salón de Espejos da Ciudad de Padilla. 1857. 
 
 
1 RODRIGUES, 2007, p.1. 
3 
 
 Manuela Saénz 
 
 
 
 
 
 
 Pedro Durante. Retrato de Manuela Sáenz. 
 Museo Nacional de Arqueología, Antropología 
 e Historia del Perú. 1825 
Existiam algumas mulheres que executavam um trabalho parecido com o de espiãs e/ou 
mensageiras, já que por serem mulheres não levantavam muitas suspeitas e podiam transitar 
por muitas casas. Exemplos dessa atuação são as mexicanas Josefa Ortiz de Dominguez e Leona 
Vicario, que além de mandar informações aos patriotas, também ajudava como podia com 
subsídios para as tropas. 
 E além desses trabalhos, que as posicionavam na linha de frente das batalhas, ainda 
havia as enfermeiras que cuidavam dos soldados e os acompanhavam, mesmo tendo que 
carregar os seus filhos, fazendo um serviço parecido com o doméstico. Outras se posicionavam 
no meio público, promovendo reuniões, debates e divulgações sobre as ideias revolucionárias. 
 Assim como é importante entender quais as formas de atuação destas mulheres, por 
outro lado é preciso saber quem elas eram. Uma constatação interessante é perceber que além 
de serem poucas as mulheres que são lembradas, em sua maioria elas são criollas (descendentes 
de espanhóis) e provenientes de altas classes, mas sabemos que as mulheres mestiças, pobres e 
de outras classes sociais também se faziam presentes. De acordo com Maria Lígia Prado 
existem relatos sobre mulheres nessas condições, como Simona Josefa Manzaneda e Policarpa 
Salvarrieta, essa última, conhecida por La Pola, foi um mártir para os patriotas colombianos, 
pois sendo costureira ela conseguia obter muitas informações ao frequentar muitos lugares e 
assim, as transmitia aos insurgentes. Outro ponto importante é lembrar que elas também 
possuíam seus próprios interesses, podendo estar tanto do lado patriota como do realista, apesar 
de que não há muitos registros sobre as mulheres associadas aos espanhóis. Apenas um exemplo 
é citado no texto de Amanda Rodrigues, o qual aponta que as mulheres do exército realista 
possuíam um ar mais profissional e andavam vestidas iguais aos homens militares. 
 
4 
 
 La Pola 
 
 
 
 
 
 
 Jose Maria Espinosa Prieto. 
 Policarpa Salvarrieta. 1855.2 
Em suma, existia uma grande diversidade entre as mulheres que atuaram nesses 
períodos, e isso é algo que deve ser levado em conta quando falamos de indivíduos. Não eram 
uma massa homogênea, com as mesmas intenções e objetivos, visto os diferentes locais de 
trabalho, posições sociais e interesses. Muito provavelmente esses aspectos iriam influenciar 
em suas ações e, consequentemente na decisão de qual partido defender. 
O pós-independência e a volta ao status quo social 
 Entretanto, mesmo com todas as mudanças, com as mulheres saindo aos espaços 
públicos, assumindo o lugar de seus maridos que estavam nas guerras e se posicionando em 
prol da revolução, após a independência as coisas tendem a regredir. As mulheres que foram 
instruídas a se posicionarem pela pátria naquele momento atípico agora deveriam voltar ao lar 
e à vida doméstica. 
[...] nesse momento excepcional da história, era louvável, que elas tivessem 
adentrado à cena política para lutar pela “causa justa”. Mas alcançado este 
objetivo, deviam voltar ao lar, para os deveres da família e dos afazeres 
domésticos; voltar para o seu “lugar natural”, a órbita do privado (PRADO, 
1992, p.87). 
As biografias da época mostram essas mulheres como movidas pelo amor. O mesmo amor que 
possuíam pelos filhos e pela casa elas agora deveriam retribuir à pátria, mas apenas nessas 
circunstânciasde guerra. Isso elimina o caráter racional de suas ações, como pessoas que 
também eram influenciadas pelos pensamentos ilustrados e sabiam das consequências de suas 
escolhas. 
 
2 A falta de fontes dificultou o encontro das imagens, por isso, não foi possível colocar de todas as mulheres 
citadas. 
5 
 
 Contudo não houve reação quanto a esse retrocesso, com exceção de algumas “rebeldes” 
que negavam os costumes tradicionais. A maioria dessas mulheres ainda não pensava numa 
subversão dessa ordem machista, mas com certeza os ideais de liberdade e direitos igualitários 
dos iluministas seriam uma alavanca para as lutas que se desdobram até hoje. 
Considerações finais 
 Por fim, fica bem claro a atuação das mulheres nas guerras independentistas. Foi 
procurado responder às perguntas feitas no início ao longo do texto, mas em resumo, vemos 
que essas mulheres vinham das mais variadas classes e etnias, faziam trabalhos bem diferentes 
e todos em prol do patriotismo. Elas poderiam ser militares, enfermeiras, mensageiras ou 
acompanhar as tropas prestando serviço, mas estiveram lá e possuíam as suas visões e 
interesses. 
 É perceptível que elas foram verdadeiros atores políticos, visto que até mesmo os 
homens solicitavam a sua participação e posicionamento, um exemplo, ocorrido no México, é 
o manifesto nomeado “A las damas de Mexico”, que afirmava a necessidade da ajuda delas. 
Sendo possível até nos questionarmos se as coisas poderiam ter sido diferentes sem esse auxílio. 
 Outra questão importante é lembrar de que aqui foi falado apenas de algumas das 
mulheres que são recordadas pela historiografia, havendo ainda muitas que provavelmente 
viviam no anonimato, mas prestavam apoio à causa. Um exemplo disso, que se deu no Brasil, 
foi a baiana Maria Quitéria que se utilizando da farda e do nome do cunhado, cortou seus 
cabelos e se filiou ao exército. Só foi descoberta por conta de seu pai, e mesmo assim continuou 
na carreira de militar por ser muito boa no que fazia. Muitas outras mulheres podem ter feito o 
mesmo e nunca terem sido descobertas, ou simplesmente podem ter atuado em trabalhos 
diferentes e não foram devidamente reconhecidas. 
 Enfim, percebemos a extrema importância desse tema, não só para a historiografia, mas 
para a sociedade atual como um todo. Precisamos entender o papel das mulheres na sociedade 
e perceber que não é algo que teve início há pouco tempo. É necessário conhecer 
verdadeiramente o passado para se transformar o futuro. 
 
 
 
6 
 
Referências 
MACEDO, Lília. O grito de independência das mulheres latino-americanas. Cadernos de 
Estudos Sociais e Políticos: Dossiê especial "Clássicas". Rio de Janeiro, v. 6, p. 80-89, 2017. 
MADER, Maria Elisa Noronha de Sá. Revoluções de independências na América Hispânica: 
uma reflexão historiográfica. Revista de História. São Paulo, p.225-241, 2008. 
PRADO, Maria Ligia. Em Busca da Participação das Mulheres nas Lutas pela Independência 
Política da América Latina. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 12, p. 77-90, 1992. 
RODRIGUES, Amanda. As mulheres e as guerras de independência na América Latina do 
século XIX: invisíveis ou inexistentes? Ameríndia. Ceará, v. 3, p. 1-10, 2007.

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