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1 2 SUMÁRIO SUMÁRIO ................................................................................................................... 2 1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 4 2 FUNDAÇÕES ............................................................................................... 5 3 FUNDAÇÕES RASAS .................................................................................. 5 3.1 Execução de fundações rasas ...................................................................... 7 3.1.1 Métodos dos cavaletes ............................................................................... 10 3.1.2 Método das tábuas corridas ........................................................................ 10 3.1.3 Equipamentos topográficos ........................................................................ 11 3.2 Capacidade de carga das fundações e tensão admissível dos solos ......... 11 3.3 Recalques ................................................................................................... 12 3.4 Recalques admissíveis ............................................................................... 13 4 FUNDAÇÕES PROFUNDAS ...................................................................... 15 4.1 Fundações por estacas ............................................................................... 16 4.1.1 Classificação das estacas ........................................................................... 17 4.1.2 Definições e métodos construtivos das estacas ......................................... 18 4.1.3 Critérios para escolha do tipo de estaca ..................................................... 22 4.1.4 Capacidade de carga das estacas .............................................................. 22 4.2 Fundações por tubulões ............................................................................. 22 4.2.1 Tubulões a céu aberto ................................................................................ 23 4.2.2 Tubulões a ar comprimido .......................................................................... 24 4.2.3 Prescrições normativas de tubulões ........................................................... 25 4.2.4 Capacidade de carga dos tubulões............................................................. 26 5 ESTRUTURA DE CONTEÇÕES .......................................................................... 27 3 5.1 Estrutura de contenção rígida ..................................................................... 28 5.2 Estrutura de contenção flexível ................................................................... 28 5.3 Tipos de muros ........................................................................................... 28 5.3.1 Muro de gravidade ...................................................................................... 29 5.3.1.1 Muro de alvenaria de pedras ...................................................................... 47 5.3.1.2 Muro de gabiões ......................................................................................... 48 5.3.1.3 Muro de concreto ciclópico ......................................................................... 49 5.3.1.4 Muro de saco solo-cimento ......................................................................... 49 5.3.1.5 Muro de solo reforçado ............................................................................... 50 5.3.1.6 Muro de flexão em concreto armado .......................................................... 50 5.3.1.7 Muro em fogueira (“crib wall”) ..................................................................... 51 5.3.1.8 Muro de pneus ............................................................................................ 52 5.3.2 Solo grampeado ......................................................................................... 52 5.3.3 Cortina ancorada ........................................................................................ 54 5.4 Sistema de drenagem ................................................................................. 55 5.4.1 Sistema de drenagem superficial ................................................................ 55 5.4.2 Sistema de drenagem subsuperficial .......................................................... 55 5.5 Segurança contra a ruptura global .............................................................. 56 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................ 57 4 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 5 2 FUNDAÇÕES Fundações são elementos estruturais cuja função é transmitir as cargas atuantes sobre a superestrutura da edificação para o maciço de solo. Portanto, o tipo de fundação utilizado depende das cargas transmitidas pela estrutura e das características geotécnicas do maciço de solo. A topografia do terreno e as características das construções vizinhas também influenciam no projeto de fundações (VELLOSO; LOPES, 2010). Assim, analisa-se a possibilidade de utilizar os vários tipos de fundação, em ordem crescente de complexidade e custos (WOLLE, 1993). As fundações podem ser classificadas em rasas ou profundas. Nas fundações rasas, a transmissão de cargas se dá nas primeiras camadas do maciço de solo. Nas fundações profundas, por outro lado, a capacidade de suporte necessária para resistir às cargas transmitidas pela edificação somente é obtida em camadas mais profundas do maciço de solo (SANTOS, 2017). Incertezas estão presentes em todo o canteiro de obra, até mesmo em construções com alto nível de planejamento. No caso da fundação de uma edificação o cuidado na decisão deve ser ainda maior. Logo que um construtor inicia o projeto de sua obra, ele se depara com uma das decisões mais impactante do seu empreendimento: definir qual tipo de fundação irá executar para sustentar sua edificação. Ainda mais desafiante que optar por um ou outro método, é lidar com a possível carência de conhecimento técnico do proprietário da obra, em que muitas vezes culmina em total “terceirização” da tomada de decisão ao projetista ou aos fornecedores que executam o serviço. Todavia, a inexistência de discussões sobre o tema pode ocasionar indesejados custos ou até mesmo problemas à edificação (NUERNBERG 2018). Fundações bem projetadas correspondem de 3% a 10% do custo total do edifício; porém, se forem mal concebidas e mal projetadas, podem atingir 5 a 10 vezes o custo da fundação mais apropriada para o caso (BRITO, 1987). 3 FUNDAÇÕES RASAS As fundações rasas — também denominadas superficiais — são aquelas em 6 que a transmissão de cargas ocorre logo nas primeiras camadas do maciço de solo. De modo geral, considera-se como fundação rasa aquela executada com até 2 m de profundidade. Nas fundações rasas, as cargassão transmitidas diretamente ao terreno pelas pressões distribuídas sob a base da fundação. Isso resulta na mobilização de esforços resistentes exclusivamente na superfície de contato entre a base da fundação e o solo (CINTRA; AOKI; ALBIERO, 2011). Desse modo, as fundações rasas são classificadas como fundações diretas. O projeto de fundações rasas deve satisfazer os seguintes critérios, de acordo com REBELLO (2008, p. 41): As camadas superficiais do maciço de solo devem possuir resistência suficiente para resistir às cargas transmitidas pelos elementos de fundação; Os elementos de fundação devem ser executados com profundidade máxima de 2 m, visto que profundidades superiores elevariam os custos deescavação e reaterro. As fundações rasas podem ser divididas, de acordo com as suas características estruturais, em quatro grupos principais: blocos, sapatas, vigas de fundação e radiers. Veja no Quadro 1 as principais características de cada grupo. Quadro 1. Principais grupos de fundações rasas GRUPO DESCRIÇÃO Bloco Elemento de fundação superficial de concreto, dimensionado de modo que as tensões de tração nele resultantes sejam resistidas pelo concreto, sem necessidade de armadura. Pode ter as faces verticais, inclinadas ou escalonadas e apresentar planta de seção quadrada ou retangular. Sapata Elemento de fundação superficial, de concreto armado dimensionado de modo que as tensões Sapatas isoladas Cada elemento de fundação recebe e transmite o carregamento de um único pilar. 7 de tração nele resultantes sejam resistidas pelo emprego de armadura especialmente dispostas para esse fim. Pode ter espessura constante ou variável e sua base em planta é normalmente quadrada, retangular ou trapezoidal. Sapatas associadas Sapata comum a mais de um pilar. Sapatas corridas ou baldrames Sapata sujeita à ação de uma carga distribuída linearmente ou de pilares ao longo de um mesmo alinhamento. Vigas de fundação As vigas de fundação são elementos de fundação lineares, formados por vigas de concreto armado, que recebem vários pilares situados no mesmo alinhamento. O cruzamento de várias vigas de fundação resulta em uma estrutura denominada grelha de fundação. Radier Elemento de fundação superficial que abrange parte ou todos os pilares de uma estrutura, distribuindo os carregamentos. Fonte: Adaptado de ABNT (2019). 3.1 Execução de fundações rasas Antes de iniciar a execução das fundações, o profissional responsável deve verificar se os seguintes serviços foram realizados: Estudo geotécnico do maciço de solo, determinando o tipo de solo, a sua resistência e a existência e posição do lençol freático; Projeto arquitetônico e estrutural, indicando as dimensões, posições e alinhamentos dos elementos de fundação; Limpeza do terreno, de modo a retirar a cobertura vegetal, resíduos e dejetos orgânicos e não orgânicos da área onde a obra será executada. Satisfeitas essas exigências, o profissional responsável pode dar início à execução da obra, por meio da locação das fundações. A locação consiste na demarcação, no terreno, da posição dos elementos de fundação, de acordo com as 8 informações constantes no projeto arquitetônico e estrutural. Os procedimentos de locação variam de acordo com a complexidade da obra e da disponibilidade de recursos humanos, materiais e financeiros (YAZIGI, 2009). Após a locação dos elementos de fundação, providencia-se a escavação do terreno. Nota-se que a escavação resultará em maior ou menor volume, dependendo do tipo de fundação a ser executado. Na execução de blocos e sapatas isoladas ou associadas, é necessária apenas a abertura de uma cava; já na execução de sapatas corridas e vigas de fundação, é necessária a abertura de valas lineares. Para a execução de radier, todo o solo sobre a construção deverá ser escavado, visto que o elemento de fundação consiste em uma laje que recebe toda a estrutura da construção. A escavação deve ser realizada até a cota de apoio da fundação, respeitando uma folga de 20 cm na abertura, em relação à dimensão de projeto, de modo a permitir a execução posterior das fôrmas de concretagem. A cota de apoio não deve ser inferior a 70 cm, a fim de garantir a proteção do elemento de fundação aos agentes atmosféricos e ao fluxo de água. A escavação é iniciada a partir do elemento de fundação mais profundo (YAZIGI, 2009). A escavação em terrenos inclinados deve ser realizada de forma escalonada, conforme apresentado na Figura 1a. A abertura de valas inclinadas, conforme Figura 1b, resulta em um plano de escorregamento, que pode acarretar patologias e risco de ruptura para a construção (BORGES 2009). Figura 1. Escavação em terrenos inclinados. Fonte: Adaptado de Borges (2009). A escavação deve ser realizada de modo a garantir o nivelamento do fundo da vala. O nivelamento pode ser verificado por meio de nível a laser ou nível de 9 mangueira. Em seguida, o fundo da vala deve ser compactado e regularizado, até 5 cm abaixo da cota de apoio, com um soquete de 5 kg ou com um compactador mecânico do tipo sapo (YAZIGI, 2009). Durante a escavação, o profissional deve sempre atentar para a existência de formigueiros ou a presença de matéria orgânica. Formigueiros consistem em vazios no maciço de solo que podem causar recalques imediatos e danificar a estrutura. Solos com matéria orgânica tendem a apresentar menor resistência mecânica e maior deformabilidade, prejudicando a segurança e estabilidade da estrutura (BORGES 2009). Após a regularização, deve-se executar um lastro de concreto simples, com 5 cm de espessura, no fundo da vala. O lastro de concreto tem por objetivo regularizar a superfície onde o elemento de fundação será executado e uniformizar a transmissão das cargas que descarregam na fundação (YAZIGI, 2009). Para a execução do elemento de fundação, confeccionam-se fôrmas de madeira, que são construídas com sarrafos e tábuas de madeira. Essas fôrmas devem ser escoradas em estacas de madeira apoiadas no fundo e nas laterais da vala. O alinhamento, nivelamento e esquadro das fôrmas deve ser verificado durante e após o seu posicionamento na vala (YAZIGI, 2009). Após o posicionamento das fôrmas, insere-se a armadura de aço, quando necessário. Em geral, as sapatas possuem apenas armadura inferior e armadura de cisalhamento, enquanto o radier e as vigas de fundação possuem armadura inferior e superior, além da armadura de cisalhamento. A definição do diâmetro e da disposição das armaduras de aço depende de projeto estrutural prévio (YAZIGI, 2009). Figura 2. Disposição das armaduras de aço em uma sapata de fundação. 10 Fonte: Adaptado de Multistock/Shutterstock. O concreto utilizado deve apresentar resistência compatível com as necessidades do projeto. De acordo com a complexidade da obra e disponibilidade de recursos, o concreto utilizado poderá ser produzido in loco ou em central, sendo lançado por meio de bombeamento (YAZIGI, 2009). 3.1.1 Métodos dos cavaletes Nesse processo, os elementos construtivos são locados por meio de fios de náilon amarrados a pregos fixados em cavaletes opostos. Os cavaletes são formados por uma travessa pregada a duas estacas fixadas ao solo. A principal desvantagem do método, reside na facilidade de deslocamento dos cavaletes, devido a choques de carrinhos de mão e pontapés. O método dos cavaletes é recomendado para obras simples ou de pequeno porte (BORGES 2009). 3.1.2 Método das tábuas corridas Nesse processo, são fixados ao solo pontaletes de pinho afastados 1,50 m entre si e 1,20 m em relação à face externa do elemento de fundação. Nos pontaletes, são fixadas tábuas sucessivas, delimitando a área a ser construída e permitindo a locação dos elementos de fundação. A locação por tábuascorridas implica maior gasto que o processo por cavaletes, mas confere maior precisão e 11 segurança à locação das fundações, devido à impossibilidade de deslocamento dos pontos marcados. O método é utilizado em construções de pequeno e médio porte (BORGES, 2009). 3.1.3 Equipamentos topográficos Em obras de maior complexidade e com maior disponibilidade de recursos financeiros, a locação pode ser realizada com o auxílio de equipamentos topográficos eletrônicos, por exemplo, a estação total. A utilização desse processo demanda a contratação de empresa especializada (BORGES, 2009). 3.2 Capacidade de carga das fundações e tensão admissível dos solos A capacidade de carga de uma fundação (σr) é definida como: A tensão transmitida pelo elemento de fundação capaz de provocar a ruptura do solo ou a sua deformação excessiva. A capacidade de carga das fundações depende de uma série de variáveis, como por exemplo, das dimensões do elemento de fundação, da profundidade de assentamento, das características dos solos. Segundo a NBR 6122/2019, a capacidade de carga dos solos pode ser calculada por vários métodos, destacando-se: Provas de carga sobre placas, cujos resultados devem ser interpretados levando-se em consideração as relações de comportamento entre a placa e a fundação real; Métodos teóricos, como as formulações clássicas desenvolvidas por Terzaghi (1943), Meyehof (1963), Vésic (1974), que são baseadas principalmente nas propriedades de resistência ao cisalhamento e compressibilidade dos solos; Métodos empíricos, nos quais a capacidade de carga é obtida com base na descrição das condições do terreno e em tabelas de tensões básicas; Métodos semi-empíricos: aqueles em que as propriedades dos materiais são estimadas por meio de correlações e são usadas em teorias da 12 Mecânica dos Solos. De acordo com a NBR 6122/2019, a tensão admissível de uma fundação direta é: A tensão aplicada ao solo que provoca apenas recalques que a construção pode suportar sem inconvenientes, oferecendo segurança satisfatória contra a ruptura ou o escoamento do solo ou do elemento estrutural, Podendo ser obtida segundo duas filosofias de projeto diferentes: Aplicando-se um fator de segurança global à capacidade de carga obtida por qualquer um dos métodos citados anteriormente. Neste caso, o valor deste fator de segurança depende da precisão da metodologia empregada para o cálculo da capacidade de carga, sendo normalmente, definida pelo seu autor em função das incertezas envolvidas (estimativas dos carregamentos, propriedades dos solos) (CINTRA et al., 2003); Pela aplicação dos fatores de segurança parciais, aos parâmetros de resistência do maciço de solos. Neste caso, a tensão admissível é igual ao valor da capacidade de carga obtida por qualquer método a partir dos parâmetros de resistência do solo empregados (CINTRA et al., 2003). 3.3 Recalques Os recalques de uma fundação superficial podem ser definidos como o deslocamento vertical, para baixo, da base do elemento de fundação em relação ao indeformável, sendo resultante basicamente das deformações que ocorrem no maciço de solo sob a ação da carga atuante (CINTRA et al., 2003). Segundo CINTRA et al. (2003), os recalques apresentados pelas fundações superficiais podem ser classificados em: Recalque total ou absoluto (ρ): deslocamento total e individual do elemento de fundação superficial; Recalque diferencial ou relativo (δ): diferença entre os recalques totais de dois elementos de fundação circunvizinhos; Distorção angular ou recalque diferencial específico (δ/l): calculado 13 como a razão entre o recalque diferencial entre dois elementos de fundação e a distância (l) entre eles. A grande variabilidade das características do subsolo, as estimativas das cargas provenientes da estrutura, a variabilidade das dimensões dos elementos de fundação, faz com que a ocorrência de recalques diferenciais seja praticamente inevitável (CINTRA et al., 2003). Uma medida indireta dos recalques diferenciais pode ser feita a partir da determinação da magnitude dos recalques totais ou absolutos, que são formados por duas parcelas, conforme mostrado na equação seguinte: ρ = ρc + ρi Onde: ρc: recalque por adensamento do solo; ρi: recalques imediatos. Os recalques por adensamento (ρc) são resultantes das deformações volumétricas dos solos, especialmente em argilas saturadas. Este tipo de recalque ocorre pela expulsão da água existentes nos vazios dos solos, que se dá ao longo de períodos de tempo prolongados, e são calculados pela Teoria do Adensamento (CINTRA et al., 2003). Os recalques imediatos (ρi) são provenientes das deformações a volume constante, que ocorrem em um tempo muito curto, se comparado com aquele necessário para a ocorrência dos recalques por adensamento, ou seja, quase simultaneamente com a aplicação do carregamento. Os recalques imediatos são normalmente calculados pela Teoria da Elasticidade da Mecânica dos Solos, que considera o solo como um material elástico, hipótese está bem razoável para níveis de tensão inferiores à tensão admissível dos solos (CINTRA et al., 2003). 3.4 Recalques admissíveis A tensão admissível e a carga admissível dependem da sensibilidade da 14 construção projetada aos recalques que futuramente irão ocorrer, principalmente os recalques diferenciais que causarão distorções angulares nas peças estruturais. Elevados recalques nas fundações poderão levar à ruptura das estruturas e consequentemente à ruína da construção devido ao acréscimo de esforços produzidos nas peças estruturais, ou ainda prejudicar a sua funcionalidade (NBR 6122/2019). Com base em observações de cerca de uma centena de edifícios, foi associado ocorrência de danos com valores-limite para a distorção angular δ/l, onde δ é o recalque diferencial entre dois pilares, e l a distância entre eles (SKEMPTON- MACDONALD, 1956). Os valores-limite e seus efeitos estabelecidos por SKEMPTON- MACDONALD (1956) foram: • δ/l = 1:300 – trincas em paredes; • δ/l = 1:150 – danos estruturais em vigas e colunas de edifícios correntes. Se uma estrutura sofresse recalques totais igualmente ao longo de toda a sua extensão não deveria ser causado nenhum tipo de dano, mesmo para valores elevados de recalque. Entretanto, a ocorrência de recalques totais uniformes não ocorre, devido a várias causas, como excentricidade da carga, incertezas sobre a real grandeza das cargas atuantes, heterogeneidade do subsolo, sendo, portanto, a limitação do recalque total uma das maneiras de se limitar os recalques diferenciais (TEIXEIRA, 1996). Para estruturas usuais de aço ou concreto, apresentam as seguintes recomendações para os recalques diferenciais e para os recalques totais limites (SKEMPTON-MACDONALD, 1956): Para areias: Recalque diferencial máximo = 25 mm Recalque total máximo = 40 mm para sapatas isoladas; Recalque total máximo = 40 a 65 mm para radier. Para argilas: Recalque diferencial máximo = 40 mm 15 Recalque total máximo = 65 mm para sapatas isoladas; Recalque total máximo = 65 a 100 mm para radier. Estes valores não se aplicam aos casos de prédios em alvenaria portante, para os quais os critérios devem ser mais rigorosos. Os danos causados por movimentos de fundações são agrupados em três categorias (SKEMPTON- MACDONALD apud TEIXEIRA e GODOY 1996): Arquitetônicos: são aqueles visíveis ao observador comum, causando algum tipo de desconforto: trincas em paredes, recalques de pisos, desaprumo de edifícios; Funcionais: são aqueles que comprometem a utilização da construção; Estruturais: são aqueles causados a estrutura propriamente dita, isto é pilares, vigas e lajes, podendo comprometer a sua estabilidade. 4 FUNDAÇÕES PROFUNDAS As fundações profundasse caracterizam por transmitir as cargas provenientes da estrutura por meio da sua base (resistência de ponta), da sua superfície lateral (resistência de fuste ou resistência de atrito lateral) ou da combinação das duas. Desse modo, essas fundações são classificadas como indiretas (VELLOSO; LOPES, 2010). Nas fundações profundas a profundidade de assentamento deve ser maior que o dobro da menor dimensão em planta do elemento de fundação, conforme esquematicamente mostrado na Figura 3 (NBR 6122/2019). Figura 3. Fundação profunda segundo a NBR 6122/2019. 16 Fonte: Adaptado de NBR 6122/2019. De acordo com a NBR 6122/2019, se enquadram na definição apresentada acima os seguintes elementos: Quadro 1. Grupos de fundações profundas GRUPO DESCRIÇÃO Estacas Elemento de fundação profunda executado com o auxílio de ferramentas ou equipamentos sem que haja descida de operário em qualquer fase de execução (cravação a percussão, prensagem, vibração, ou por escavação), podendo ser constituído de madeira, aço, concreto. Tubulões Elemento cilíndrico de fundação profunda que, em pelo menos na sua fase final, ocorre descida de operário, podendo ser executado a céu aberto ou a ar comprimido, e ter ou não, a base alargada. Caixões Elemento de fundação de forma prismática, concretado na superfície do terreno, e instalado por escavação interna, podendo- se ainda na sua instalação usar, ou não, ar comprimido, e ter, ou não, a sua base alargada. Fonte: Adaptado de ABNT (2019). As fundações profundas são normalmente utilizadas quando os solos superficiais não apresentam capacidade de suportar elevadas cargas, ou estão sujeitos a processos erosivos, e também, quando existe a possibilidade da realização de uma escavação futura nas proximidades da obra (VELLOSO; LOPES, 2010). 4.1 Fundações por estacas 17 4.1.1 Classificação das estacas Atualmente é grande a variedade de estacas empregadas como elementos de fundação nas obras civis correntes, diferindo-se entre si basicamente pelo método executivo e materiais de que são constituídas. Vários são os critérios para a classificação das estacas, dentre os quais se destacam: Efeito produzido no solo: Grande deslocamento; Pequeno deslocamento; Sem deslocamento; Processo de execução: o Estacas moldadas in loco: Estacas tipo Franki; Estacas sem lama bentonítica: estacas tipo Strauss, estacas escavadas mecanicamente com trado helicoidal, estacas tipo broca; Estacas tipo hélice contínua; Estacas escavadas com lama bentonítica; Estacas injetadas: micro estacas e as estacas-raiz; o Estacas pré-moldadas: Estacas de concreto; Estacas de madeira; Estacas metálicas; Forma de funcionamento: Estacas de ponta: trabalham basicamente pela resistência de ponta; Estacas de atrito ou flutuante: trabalham somente por atrito lateral desenvolvido no fuste; Estaca mista; 18 Forma de carregamento: Estacas de compressão; Estacas de tração; Estacas de flexão. 4.1.2 Definições e métodos construtivos das estacas A seguir são apresentadas as definições, processos executivos, vantagens e desvantagens de alguns dos principais tipos de estacas empregadas no Brasil como elemento de fundação: Estaca tipo Franki Estaca moldada in loco executada pela cravação, por meio de sucessivos golpes de um pilão, de um tubo de ponta fechada por uma bucha seca constituída de pedra e areia, previamente firmada na extremidade inferior do tubo por atrito. Esta estaca possui base alargada e é integralmente armada (NBR 6122/2019). A estaca do tipo Franki foi introduzida como fundação há mais de 85 anos por Edgard Frankignoul na Bélgica, sendo empregada pela primeira vez no Brasil em 1935, na Casa Publicadora Baptista no Rio de Janeiro (HACHICH et al., 1998). Figura 4. Esquema representando a execução de uma estaca tipo Franki. 19 Fonte: Velloso e Lopes (2010, p. 207). Estacas tipo broca Tipo de fundação profunda executada por perfuração com trado, e posterior concretagem in loco, normalmente com diâmetro variando entre 15 e 25 cm e comprimento de até 6,0 m. As estacas tipo broca são normalmente empregadas para pequenas cargas, pelas limitações que envolvem o seu processo de execução. As estacas tipo broca apresentam como vantagem o fato de não provocar vibrações durante a sua execução, evitando desta forma, danos nas estruturas vizinhas, além de poder servir de cortinas de contenção para construção de subsolos, quando executadas de forma justapostas. Entretanto, as principais desvantagens referem-se às limitações de execução em profundidades abaixo do nível d’água, principalmente em solos arenosos, devendo-se também evitar a sua execução em argilas moles saturadas, a fim de evitar possíveis estrangulamentos no fuste da estaca. Figura 5. Esquema de trado rotativo. Fonte: Rebello (2008, p. 70). Estaca tipo Strauss Estaca executada por perfuração do solo com uma sonda ou piteira e revestimento total com camisa metálica, realizando-se gradativamente o lançamento e apiloamento do concreto, com retirada simultânea do 20 revestimento (NBR 6122/2019). A execução requer um equipamento constituído de um tripé de madeira ou de aço, um guincho acoplado a um motor (combustão ou elétrico), uma sonda de percussão munida de válvula em sua extremidade inferior, para a retirada de terra, um soquete com aproximadamente 300 kg, tubulação de aço com elementos de 2 a 3 metros de comprimento, rosqueáveis entre si, um guincho manual para retirada da tubulação, além de roldanas, cabos de aço e ferramentas. Estacas escavadas mecanicamente com trado helicoidal Este tipo de estaca é executado a partir de uma escavação prévia feita no terreno por um trado helicoidal mecânico onde, posteriormente, é feita a concretagem in loco. Pelas características do processo executivo pode-se observar que este tipo de estaca é encontra-se no grupo de estacas que não provocam descolamento do solo durante a sua execução. O equipamento para execução deste tipo de estaca compreende basicamente um trado helicoidal mecânico. Em geral o diâmetro das perfuratrizes varia de 0,2 m a 1,7 m, podendo-se executar estacas com profundidades variando de 6,0 a 10 m, conforme o comprimento do trado utilizado. Estacas tipo hélice contínua Estaca de concreto moldada in loco, executada mediante a introdução no terreno, por rotação, de um trado helicoidal contínuo no terreno e injeção de concreto pela própria haste central do trado, simultaneamente à sua retirada, sendo a armadura introduzida após a concretagem da estaca (NBR 6122/2019). Dentre as principais vantagens deste tipo de estaca destacam-se a elevada produtividade, promovida pela versatilidade de equipamento, que por sua vez leva à economia devido à redução dos cronogramas de obra, pode ser executada na maior parte dos maciços de solo, exceto quando ocorrem matacões e rochas, não produz distúrbios e vibrações típicos dos equipamentos a percussão, controle de qualidade dos serviços executados, além de não causar a descompressão do terreno durante a sua execução. As principais desvantagens estão relacionadas ao 21 porte do equipamento, que necessita de áreas planas e de fácil movimentação, pela sua produtividade exige central de concreto no canteiro de obras, e pelo seu custo é necessário um número mínimo de estacas a se executar para compensar o custo com a mobilização do equipamento. Estacas injetadas Estaca moldada in loco, armada, executada por perfuração rotativa ou rotopercussiva e injetada com calda de cimento por meio de um tubo com válvulas (manchete). As estacas injetadas diferem dos demais tipos por poderem ser executadas com maiores inclinações (0º a 90º), apresentar resistência de fuste bastante superior, se comparadaaos demais tipos de estaca com mesmos diâmetros, e resistir a esforços de compressão e tração, desde que convenientemente armadas, com a mesma eficiência, pelo fato de resistir à carga de trabalho praticamente apenas por atrito lateral (HACHICH et al., 1998). Dentre as suas aplicações podem ser citadas: estabilização de encostas, reforço de fundações, execução de fundações em terrenos com blocos de rocha ou antigas fundações, execução de fundações em alto mar (“offshore”). Em função do processo de injeção do agente aglutinante, as estacas injetadas são normalmente divididas em dois grupos: o Estacas-raiz: são aquelas em que se aplicam injeções de ar comprimido, a baixas pressões (inferiores a 5,0 MPa), imediatamente após a moldagem do fuste e no topo do mesmo, simultaneamente com a remoção do revestimento; o Micro estacas: as injeções são realizadas empregando-se válvulas tipo “manchete” instaladas nas escavações previamente realizadas. Estacas pré-moldadas Estaca constituída de segmentos de pré-moldado ou pré-fabricado de concreto e introduzida no terreno por golpes de martelo de gravidade, de explosão, hidráulico ou por martelo vibratório. Para fins exclusivamente geotécnicos não há distinção entre estacas pré-moldadas e pré-fabricadas, e para os efeitos desta Norma elas são denominadas pré-moldadas (NBR 6122/2019). 22 Pela natureza do processo executivo este tipo de estacas classifica-se como estacas de grande deslocamento. As estacas pré-moldadas são ainda subdivididas, conforme o material empregado na sua execução, em: o Estacas de concreto o Estacas de madeira o Estacas metálicas 4.1.3 Critérios para escolha do tipo de estaca Segundo HACHICH et al., (1998), para a escolha do tipo de estaca a ser utilizada em uma determinada obra devem ser observados os seguintes aspectos: Esforços nas fundações, procurando-se distinguir Características do subsolo Características da obra Características de construções vizinhas 4.1.4 Capacidade de carga das estacas A capacidade de carga de uma fundação profunda, estaca ou tubulão isolado, é definida como a força aplicada sobre o elemento de fundação que provoca apenas recalques que a construção pode suportar sem inconvenientes, oferecendo simultaneamente segurança satisfatória contra a ruptura do solo ou do elemento de fundação (NBR 6122/2019). Segundo ALONSO (1983), o cálculo da capacidade de carga de uma estaca pode ser feito por meio de dois métodos: Realização de provas de carga; Métodos semi-empíricos, dentre os quais destacam-se o método de Aoki e Velloso (1975), e o método de Decourt e Quaresma (1978). 4.2 Fundações por tubulões 23 Elemento de fundação profunda em que, pelo menos na etapa final da escavação do terreno, faz-se necessário o trabalho manual em profundidade para executar o alargamento de base ou pelo menos para a limpeza do fundo da escavação, uma vez que neste tipo de fundação as cargas são resistidas preponderantemente pela ponta (NBR 6122/2019). 4.2.1 Tubulões a céu aberto Os tubulões a céu aberto são elementos estruturais de fundação profunda construídos a partir da concretagem realizada em um poço aberto no terreno, geralmente dotado de base alargada (ALONSO, 1983). Os tubulões a céu aberto são normalmente executados acima do nível d’água natural ou rebaixado, ou, em casos especiais, em terrenos saturados onde seja possível bombear a água sem riscos de desmoronamento. No caso de o carregamento atuar apenas na direção vertical não há necessidade de se armar o tubulão, sendo necessário, neste caso, apenas uma ferragem de topo para a ligação do mesmo com o bloco de coroamento (ALONSO, 1983). Esses tubos podem ser feitos de concreto simples ou concreto armado. No caso de apenas cargas de compressão, apenas uma estrutura de conexão entre o tubo e o bloco de coroamento. (MARINHO, 2019). Quanto ao processo de execução do tubulões a céu aberto, podemos resumir o seguinte: Realizar escavação manual ou mecânica do poço até o nível do projeto. Quando necessário, camisas de concreto ou metal devem ser usadas para evitar o colapso do solo. Então, após atingir o nível do projeto, expande-se a base. Além de verificar a limpeza do poço, um engenheiro ou profissional habilitado também deve realizar uma inspeção para comprovar que o solo no fundo da tubulação está de acordo com as expectativas do projeto para a liberação do concreto do poço. A concretagem da tubulação deve ser realizada imediatamente após a inspeção. Em seguida, o concreto simples deve ser lançado 24 da superfície através de um funil com comprimento mínimo de 1,5m. Como não é necessário vibrador, o concreto deve ser plástico o suficiente para ocupar todo o volume da fundação. (MARINHO, 2019). 4.2.2 Tubulões a ar comprimido geralmente usado acima do lençol freático. No entanto, em circunstâncias especiais, o solo também pode ser usado em solo saturado, e a água pode ser bombeada de dentro do tubulão. Esses tubos podem ser feitos de concreto simples ou concreto armado. No caso de apenas cargas de compressão, apenas uma estrutura de conexão entre o tubo e a saliência é necessária, a qual é distribuída ao longo do eixo. Os tubulões a ar comprimido, com camisa de concreto, ou de aço, são utilizados quando se deseja executar tubulões em solos onde haja água e não seja possível o seu esgotamento devido ao perigo de desmoronamento das paredes da escavação (HACHICH et al., 1998). Neste tipo de tubulão, a pressão máxima de ar comprimido empregada é de 3,4 atm (340 kPa, ou aproximadamente 34 mca), razão pela qual estes tubulões têm sua profundidade limitada a aproximadamente 30 m abaixo do nível d’água. É importante ressaltar que no caso de utilização de ar comprimido, em qualquer etapa de execução, deve-se observar que o equipamento deve permitir que se atendam rigorosamente os tempos de compressão e descompressão prescritos pela boa técnica e pela legislação vigente, só se admitindo trabalhos sobre pressões superiores a 150 kPa quanto as seguintes providências forem tomadas (HACHICH et al., 1998): Equipe permanente de socorro médico à disposição da obra; Câmara de descompressão equipada disponível na obra; Compressores e reservatórios de ar comprimido de reserva; Renovação de ar garantida, sendo o ar injetado satisfatório para o trabalho humano. O processo de execução pode ser resumido da seguinte forma: 25 Deve ser feito um poço primário com um diâmetro de 1,0 ma 2,0 m, servindo de apoio as formas, se o revestimento for de concreto, servindo de prumo para as camisas de metal. Em seguida, a escavação manualmente ou mecanicamente deverá continuar até que o nível da água seja alcançado. O andamento da escavação deve acompanhar as concretagens da camisa de concreto ou soldas de camisas metálicas. Para revestimentoda camisa de concreto, a resistência de projeto do concreto deve ser considerada. Quando o nível da água é atingido, uma campânula de ar comprimido é instalada na parte superior da camisa para permitir o trabalho a seco no bico. A partir daí, serão realizadas escavações de 1,0 ma 1,5 m de profundidade para concretar as camisa de concreto ou solda da camisa metálica. Deverá ser executada esta sequência "escavação-concreto-escavação" até que o nível de assentamento do projeto seja alcançado. Então, neste momento, o engenheiro ou profissional habilitado desce até o fundo da tubulação para inspecionar o fundo e autorizar a concretagem. O concreto deve ser derramado imediatamente após a inspeção. Utilza-se de campânula por meio do cachimbo de concretagem até a concretagem total do tubulão. (MARINHO, 2019). 4.2.3 Prescrições normativas de tubulões De acordo com a NBR 6122:2019, o diâmetro mínimo do fuste é de 70 cm. No entanto, aNR 18 do Ministério do Trabalho e Emprego decidiu que esse diâmetro só poderá ser utilizado com a defesa técnica do engenheiro responsável pela fundação. Se não houver esse motivo, a NR 18 determina que o diâmetro mínimo seja de 80 cm. Alargamento da base: altura máxima da base do tubulão seja de 1,80 m. Porém, para o tubo de ar comprimido, desde que a estabilidade da inclinação da base seja garantida durante o processo de abertura, a altura máxima da base é de 3,0 m. 26 O alargamento da base deve ter a forma de tronco cónico, com rodapé de 20 cm na base, com inclinação máxima de 60º. (MARINHO, 2019). Fonte:(MARINHO, 2019) Com formato circular ou de falsa elipse. Fonte:(MARINHO, 2019) A especificação determina que, no caso de executar tubulões próximos de diferentes níveis, o mais profundo deve ser executado primeiro e, em seguida, o mais raso. Além disso, foi determinado que a extensão da base não pode ser realizada simultaneamente em dois túbulos menores que 2,5 vezes o diâmetro máximo da base. Por fim, a especificação determina que o solo de sustentação do duto deve ser aprovado por profissionais qualificados antes do lançamento do duto. (MARINHO, 2019). 4.2.4 Capacidade de carga dos tubulões 27 Para a capacidade de carga dos tubulões é válida a mesma definição dada pela NBR 6122/2019, e já apresentada anteriormente, para as fundações profundas. O cálculo da capacidade de carga dos tubulões normalmente é feito por um dos seguintes processos (ALONSO, 1983): Formulação clássica de Terzaghi, analogamente ao que já foi exposto para o cálculo da capacidade de carga das sapatas, uma vez, que no dimensionamento dos tubulões só é levada em consideração a sua resistência de ponta; Com base em ensaios de laboratório, como por exemplo, no caso das argilas, em que a tensão admissível pode ser adotada como: s = pa Onde: pa: tensão de pré-adensamento das argilas; Com base no valor médio da resistência à penetração medida no ensaio SPT numa profundidade igual a duas vezes o diâmetro da base, a partir da cota de assentamento do tubulão: Nspt (Mpa) s 30 5 ESTRUTURA DE CONTEÇÕES São estruturas projetadas para resistir a empuxos de terra e/ou água, cargas estruturais e quais quer outros esforços induzidos por estruturas vizinhas ou equipamentos adjacentes (JOOPERT JR.,2007). A estrutura de contenção deve proporcionar a integridade dos vizinhos durante a escavação. A necessidade de executarmos as contenções, ou ao menos delimitarmos a escavação por taludes, é evidente: a segurança (JOOPERT JR.,2007). 28 Podemos estudar diversas técnicas de execução de contenção enfocando- as de diferentes maneiras. Por exemplo: Pela existência ou não de contenção em si; Pela transitoriedade da contenção; Pelo funcionamento estrutural da contenção; Pela forma de obtenção de equilíbrio. 5.1 Estrutura de contenção rígida As estruturas de contenção rígidas geralmente são estruturas corridas verticais ou quase verticais, geralmente apoiadas sobre uma fundação rasa. Podem ser construídas em alvenaria (tijolos ou pedras) ou em concreto (simples ou armado) ou ainda de elementos especiais (JOOPERT JR.,2007). Nesse tipo de estrutura de contenção, o peso próprio do muro exerce uma contribuição significante para a estabilidade da estrutura, ficando sujeita apenas a deslocamento de translação e de rotação e não apresenta praticamente deformações por flexão, como é o caso dos muros de suporte de gravidade (JOOPERT JR.,2007). 5.2 Estrutura de contenção flexível As estruturas de contenção flexíveis são definidas como: Estruturas relativamente pouco espessas, que apresentam elevada resistência à flexão, dando o peso próprio da parede uma contribuição insignificante para a estabilidade da estrutura. Já TERZAGHI (1943) é mais pragmático, definindo as estruturas de contenção flexíveis como: Cortinas que experimentam em serviço deformações por flexão e essas deformações são susceptíveis de condicionar a grandeza e a distribuição dos empuxos. 5.3 Tipos de muros 29 5.3.1 Muro de gravidade Muros de gravidade são estruturas corridas que se opõem aos empuxos horizontais pelo peso próprio. Geralmente, são utilizadas para conter desníveis pequenos ou médios, inferiores a cerca de 5m. Os muros de gravidade podem ser construídos de pedra ou concreto (simples ou armado), gabiões ou ainda, pneus usados (GEO-RIO, 2014). Dimensionamento de muro de gravidade Podemos dividir o dimensionamento do muro de gravidade em três estágios: Cálculo de empuxo; Pré-dimensionamento do muro de arrimo: as dimensões iniciais do muro de gravidade; Verificação da estabilidade do muro: verifica-se o equilíbrio do muro e a tensão no solo. (MARINHO, 2019). Pré-dimensionamento Na prática, pré-dimensionamento para as três geometrias de muros de arrim de gravidade mais comumente usadas são: Muro de seção retangular Utilizadas para pequenas alturas de conteção. Podemos usar a equação da figura abaixo para pré-projetar este tipo de muro com pedra de argamassa ou concreto ciclópico.Observe que, normalmente,que os pré- dimensionamentos de muros começam a partir da altura do solo a ser contida, geralmente esse é o dado inicial que conhecemos. (MARINHO, 2019). 30 Fonte:(MARINHO, 2019) Muro de seção trapezoidal Talvez sejam os muros de gravidade mais comumente usadas. Este tipo de estrutura de pré-dimensionamento poderá ser construido de acordo com a equação mostrada na figura abaixo. Fonte:(MARINHO, 2019) 31 Muro com perfil escalonado Este tipo de muro é uma solução amplamente utilizada em estruturas cujo material de construção é a pedra de argamassa. (MARINHO, 2019). Fonte:(MARINHO, 2019) Condições de estabilidade Considere o empuxo ativo agindo no muro de gravidade. Fonte:(MARINHO, 2019) 32 Reconheça-se que o empuxo ativo causa duas tendências no muro: deslizar ao longo da base e tombamento do muro. Fonte:(MARINHO, 2019) Portanto, podemos dizer que considerando o equilíbrio estático do muro, temos. Onde: FH: forças horizontais atuantes no muro; MA: momentos em torno do ponto A. Verificação de estabilidade ao deslizamento 33 Fonte:(MARINHO, 2019) Observe que o empuxo ativo tende a mover o muro de contenção para a esquerda, enquanto o empuxo passivo e o atrito entre o solo e o muro na base da estrutura resistem ao movimento oposto ao empuxo ativo.Chamaremos as forças que tendem a causar deslocamento no muro de FD, no caso FD=Ea. E as que resistem a esse movimento de FR. (MARINHO, 2019). Em que: Em que μ é o coeficiente de atrito entre a base do muro de arrimo e o solo. Para garantir a estabilidade do muro em relação ao deslizamento, é utilizado um fator de segurança, geralmente considerado 1,5, mas pode ser utilizado um valor superior. (MARINHO, 2019). 34 Portanto, temos: Verificação de estabilidade ao tombamento Analise a figura abaixo com as forças atuantes no muro e seus pontos de aplicação. Fonte:(MARINHO, 2019) Observe que o empuxo ativo tende a tombar o muro em relação ao ponto A, enquanto o peso do muro e o empuxo passivo causam momentos de resistência a esse tombamento. Chamemos MT de momento de tombamento e MR de momento resistente ao tombamento. (MARINHO, 2019). É geralmente considerado que o fator de segurança é 1,5 para garantir a estabilidade do muro ao tombamento. Portanto, temos: 35 Capacidadede carga da fundação Verificar a capacidade de carga na base do muro de arrimo nada mais é do que garantir que o solo da área da base não seja excessivamente deformado. Para muros de arrimo de gravidade, geralmente os tratamos como corpos rígidos, de modo que a tensão na base será distribuída de maneira linear. Dizemos que a base do muro terá a compressão advinda do seu peso próprio e a flexão na base ocasionada pelos empuxos de terra e por uma possível excentricidade do seu peso. (MARINHO, 2019). Fonte:(MARINHO, 2019) Calcula-se as tensões da base, através das fórmulas das mecânicas dos solos para flexocompressão normal. As formulações apresentadas são válidas para a análise longitudinal de 1,0m de muro de arrimo. (MARINHO, 2019). 36 Onde: P: somatório das cargas verticais; A: área da base da fundação; M: somatório dos momentos na base; b: dimensão transversal da base do muro. (MARINHO, 2019). Verificação de ruptura global A verificação da estabilidade do sistema muro-solo em relação à estabilidade geral é realizada analisando a ruptura global do maciço. Na imagem é demonstrada a situação de possibilidade de ruptura do maciço. A superfície de escorregamento da cunha de solo é indicada pelo trecho ABC. (MARINHO, 2019). Fonte:(MARINHO, 2019) Verifica-se o equilíbrio da cunha, sendo utilizados os métodos de cálculo de equilíbrio limite, que são os mesmos utilizados na avaliação de estabilidade de 37 taludes. (MARINHO, 2019). Cálculo - Exemplo: Dimensionar um muro de gravidade em concreto ciclópico para um desnível de 3,0 m, utilizando como solução um muro de seção escalonada. Dados do solo local: Seguindo as instruções para realizar o pré-dimensionamento temos: Fonte:(MARINHO, 2019) Forças atuantes sobre o muro. Empuxos do solo (ativo e passivo); 38 Peso próprio do muro; Peso de solo sobre o muro, na região escalonada; Força de atrito na base do muro. Na representação das forças sobreo muro temos: Fonte: (MARINHO, 2019) A seguir, calcula-seremos todas as ações que atuam no muro por metro de largura, ou seja, para os cálculos a seguir, considera-se uma largura de muro de 1,0 m. Cálculo dos empuxos ativo e passivo atuantes sobre o muro: Cálculo das tensões horizontais, e por consequência, os empuxos atuantes 39 no muro: Empuxo ativo e passivo e seus pontos de aplicação no muro, que são o centroide dos respectivos prismas de tensões: Lembre-se que este tipo de nível de aplicação de carga (veja a imagem acima) está sendo calculado em relação ao ponto A na base do muro, que é o ponto de verificação da estrutura inclinada. (MARINHO, 2019). Cálculos dos pesos próprios Para calcular o peso próprio , do muro e o solo acima do muro, conforme mostrado na foto acima, dividimos em várias parcelas. Calcula-se cada ponto e o ponto de aplicação correspondente em relação ao ponto A, e finalmente determina-se o peso total e seu ponto de aplicação. (MARINHO, 2019). 40 Agora que ja se conhece todas as parcelas do peso próprio do muro, sabe-se que o peso total é a soma de todas as pacelas e, de acordo com o conceito mecânico. (MARINHO, 2019). O ponto de aplicação do peso total pode ser calculado pela seguinte fórmula: 41 Para calcular o peso do solo acima do muro, usa-se o mesmo raciocínio, portanto temos: Após o cálculo todas as forças atuantes sobre o muro de gravidade, vamos para as verificações de deslizamento, tombamento e capacidade de carga do solo. (MARINHO, 2019). Verificação ao deslizamento Analisando as forças no muro de gravidade, temos as seguintes soluções: 42 Fonte: (MARINHO, 2019) Para a verificação de deslizamento, temos que: Por equilíbrio de forças verticais, podemos deduzir: Logo: Temos, portanto, que: Em outras palavras, podemos garantir que o muro de gravidade está 43 seguro. Observe também que, como o fator de segurança é muito maior do que 1,5, também pode-se retornar ao estágio de pré-determinação do tamanho e sugerir o uso de um muro menos robusto. (MARINHO, 2019). Verificação ao tombamento Fonte: (MARINHO, 2019) A seguir, introduziremos as forças calculadas com seus pontos de aplicação, e calcularemos os momentos relacionado ao ponto de tombamento A. (MARINHO, 2019). Notamos que os momentos causados pelo peso próprio do muro, o peso do solo e o empuxo passivo tendem a estabilizar o muro. O momento causado pelo empuxo ativo tende a tombar o muro de gravidade. (MARINHO, 2019). Dessa forma, os momentos resistente e tombante são: https://www.guiadaengenharia.com/wp-content/uploads/2019/04/verificacao-tombamento.png https://www.guiadaengenharia.com/wp-content/uploads/2019/04/verificacao-tombamento.png 44 Logo, o fator de segurança ao tombamento, será: Verificação da capacidade de carga da base Para verificar a capacidade de carga da base do muro de gravidade, deve-se analisar os momentos e as forças de compressão que trabalham na base do muro que estão sempre relacionados ao centro de gravidade da base. (MARINHO, 2019). Na figura abaixo, tome o ponto C como centro da base, que está a 1,5m do ponto A previamente delineado. (MARINHO, 2019). Desta forma, a força e o momento que atua na base do muro são: Fonte: (MARINHO, 2019) 45 Quando aplica-se uma força vertical ao centro da base (ponto C), deve-se também considerar seus momentos em relação a este ponto. (MARINHO, 2019). Então, obtemos os momentos de GT e WT em relação ao ponto C como: Observe que como a convenção de momentos negativos tem sentido anti- horário, estamos utilizando o sinal negativo do momento causado por WT, ou seja, agora temos a seguinte configuração: Fonte: (MARINHO, 2019) Então, calculando o momento resultante do ponto C: 46 Fonte: (MARINHO, 2019) Agora que concentramos a carga no centro da base e geramos um momento naquele ponto, podemos usar a fórmula para determinar a tensão máxima e mínima. (MARINHO, 2019). Então pode-se ver que a tensão máxima é menor que a tensão do solo admissível , ou seja, pode-se também garantir a estabilidade do muro para garantir a capacidade de carga do solo na área de fundação. (MARINHO, 2019). 47 Além disso, podemos observar que como não há tensão negativa ao longo da base, o solo é comprimido em toda a fundação do muro, sendo o indicado. Fonte: (MARINHO, 2019) Realizamos o dimensionamento e as verificações de estabilidade para um muro de gravidade. 5.3.1.1 Muro de alvenaria de pedras Os muros de alvenaria de pedra são os mais antigos e numerosos. Atualmente, devido ao custo elevado, o emprego da alvenaria é menos frequente, principalmente em muros com maior altura (GEO-RIO, 2014). No caso de muro de pedras arrumadas manualmente, a resistência do muro resulta unicamente do embricamento dos blocos de pedras. Este muro apresenta como vantagens a simplicidade de construção e a dispensa de dispositivos de drenagem, pois o material do muro é drenante. Outra vantagem é o custo reduzido, especialmente quando os blocos de pedras são disponíveis no local. No entanto, a estabilidade interna do muro requer que os blocos tenham dimensões aproximadamente regulares, o que causa um valor menor do atrito entre as pedras (GEO-RIO, 2014). Muros de pedra sem argamassa devem ser recomendados unicamente para a contenção de taludes com alturas de até 2m. A base do muro deve ter largura mínima de 0,5 a 1,0m e deve ser apoiada em uma cota inferior à da superfície do 48 terreno, de modo a reduzir o risco de ruptura por deslizamento no contato muro- fundação (GEO-RIO, 2014). Quanto a taludes de maior altura (cerca de uns3m), deve-se empregar argamassa de cimento e areia para preencher os vazios dos blocos de pedras. Neste caso, podem ser utilizados blocos de dimensões variadas. A argamassa provoca uma maior rigidez no muro, porém elimina a sua capacidade drenante. É necessário então implementar os dispositivos usuais de drenagem de muros impermeáveis, tais como dreno de areia ou geossintético no tardoz e tubos barbacãs para alívio de poro pressões na estrutura de contenção (GEO-RIO, 2014). Figura 6. Muro de alvenaria de pedras. Fonte: GEO-RIO (2014). 5.3.1.2 Muro de gabiões Os muros de gabiões são gaiolas metálicas preenchidas de pedras arrumadas manualmente. Estas pedras podem ser originadas de rochas naturais como os seixos rolados ou artificiais como britas. Os diâmetros das pedras devem estar entre 1 a 2 vezes maior que a dimensão da malha de aço. Já as gaiolas são constituídas de fios de aço galvanizado com dupla torção, que preserva a mesma de deformações caso ocorra ruptura de algum dos fios. As gaiolas são de seções transversais quadradas ou retangulares, sobrepostas umas às outras e amarradas entre si (GEO-RIO, 2014). A face deste muro é drenante devido as pedras não serem argamassadas, 49 sendo necessário, no entanto o uso de geotêxtil associado a uma camada granular junto ao tardoz para evitar o carreamento dos grãos finos do solo (GEO-RIO, 2014). 5.3.1.3 Muro de concreto ciclópico Muros de concreto ciclópico são estruturas de contenção construídas com blocos de rochas e concreto. Esses blocos de rocha são de dimensões diferentes e são tipicamente pedra de mão. Sua execução é feita através da montagem da forma e preenchimento com concreto e blocos. É indicado para pequenas alturas e sua seção transversal é normalmente trapezoidal (GEO-RIO, 2014). 5.3.1.4 Muro de saco solo-cimento Este tipo de contenção é constituído de sacos preenchidos por solo e cimento, dispostos em camadas. Sua maior vantagem é sua facilidade de adaptação à topografia do local, além de ser de fácil execução. Conforme GEO-RIO (2014), a execução consiste das seguintes etapas: Peneiramento do solo de granulometria predominantemente granular em malha de 9mm; Mistura do solo em seguida com o cimento na proporção entre 1:10 a 1:15; Adição de água potável na quantidade 1% acima da umidade ótima de compactação Proctor Normal e colocação da mistura em sacos de poliéster, preenchendo dois terços do volume total; Empilhamento dos sacos em camadas desencontradas em relação a imediatamente anterior e posterior, garantindo maior entrosamento. Figura 7. Muro de saco solo-cimento. 50 Fonte: GEO-RIO (2014). 5.3.1.5 Muro de solo reforçado Os muros de solo reforçado são realizados através de solo compactado com algum elemento de reforço, que proporciona maior desempenho mecânico ao solo. Segundo ELIAS, CHRISTOPHER E BERG (2001) apud EHRLICH E BECKER (2009): Muro em solo reforçado é uma solução de fácil execução, não necessita de mão de obra especializada, sendo assim econômica e prazo de execução reduzido. O reforço é determinado pela estabilidade externa e interna e pode ser geotêxtil ou geogrelhas, materiais com resistência à tração. Já o solo deve ser de bom comportamento para compactação. A face do solo reforçado deve ser protegida com vegetação ou alvenaria. 5.3.1.6 Muro de flexão em concreto armado São muros feitos com concreto armado para resistir a esforços de flexão provocados pelo empuxo. 51 Suas seções transversais na maior parte dos casos são em L, porém T invertido pode ser usado para proporcionar alturas maiores. Para maiores alturas pode ser usado contraforte que possibilita um melhor desempenho estrutural diminuindo a espessura da parede (GEO-RIO, 2014). Quando há limitação de espaço para base e a fundação for resistente, podem ser utilizadas ancoragens ou chumbadores na base do muro, atentando-se sempre para que a execução destes não prejudique obras no futuro. No caso de fundações em solos menos resistentes, há a possibilidade de substituir esse material de baixa capacidade por um material com boa resistência, através da compactação ou mistura com cimento (GEO-RIO, 2014). Figura 8. Muro de flexão em concreto armado. Fonte: GEO-RIO (2014). 5.3.1.7 Muro em fogueira (“crib wall”) “Crib Walls” são: Estruturas formadas por elementos pré-moldados de concreto armado, madeira ou aço, que são montados no local, em forma de “fogueiras” justapostas e interligadas longitudinalmente, cujo espaço interno é preenchido com material granular graúdo. São estruturas capazes de se acomodarem a recalques das fundações e funcionam como muros de gravidade. 52 5.3.1.8 Muro de pneus Os muros de pneus são: Construídos a partir do lançamento de camadas horizontais de pneus, amarrados entre si com corda ou arame e preenchidos com solo compactado. Funcionam como muros de gravidade e apresentam com vantagens o reuso de pneus descartados e a flexibilidade. A utilização de pneus usados em obras geotécnicas apresenta-se como uma solução que combina a elevada resistência mecânica do material com o baixo custo, comparativamente aos materiais convencionais. Sendo um muro de peso, os muros de solo-pneus estão limitados a alturas inferiores a 5m e à disponibilidade de espaço para a construção de uma base com largura da ordem de 40 a 60% da altura do muro. No entanto, deve-se ressaltar que o muro de solo-pneus é uma estrutura flexível e, portanto, as deformações horizontais e verticais podem ser superiores às usuais em muros de peso de alvenaria ou concreto. Assim sendo, não se recomenda a construção de muros de solo-pneus para contenção de terrenos que sirvam de suporte a obras civis pouco deformáveis, tais como estruturas de fundações ou ferrovias. Como elemento de amarração entre pneus, recomenda-se a utilização de cordas de polipropileno com 6mm de diâmetro. Cordas de náilon ou sisal são facilmente degradáveis e não devem ser utilizadas. O peso específico do material solo-pneus utilizado em muro experimental foi determinado a partir de ensaios de densidade no campo e varia na faixa de 15,5 kN/m3 (solo com pneus inteiros) a 16,5 kN/m3 (solo com pneus cortados) (MEDEIROS et al.; 1997). O posicionamento das sucessivas camadas horizontais de pneus deve ser descasado, de forma a minimizar os espaços vazios entre pneus. 5.3.2 Solo grampeado Solo grampeado é uma contenção feita através de grampos introduzidos no terreno, resistentes à flexão composta, reduzindo a deformação do solo. 53 Esses grampos, conforme o GEO-RIO (2014), são elementos passivos que só são solicitados quando o solo sofre deformação, sendo no projeto considerado sua resistência a tração e em alguns casos sua resistência ao cisalhamento. A execução é realizada através da escavação em etapas. Em cada etapa uma espessura de solo, em geral de 1 a 2 m, é escavado e em seguida instalado o grampo. Antes da perfuração, os grampos devem receber tratamento anticorrosivo. A instalação é feita perfurando em aproximadamente 15° com horizontal o talude já escavado, com perfuração de diâmetros entre 75 mm e 125 mm. Após a perfuração, o grampo é inserido e injeta-se calda de cimento sem pressão (GEO-RIO, 2014). A execução da face é de fundamental importância para evitar a erosão superficial e a estabilidade do solo entre os grampos. A face comumente é realizada em concreto projetado, porém pode ser empregado a revegetação ou blocos pré- moldados. O concreto projetado é empregado com uma tela metálica para garantir a estabilidade superficial, sendo usado em áreas de fácil acesso (GEO-RIO, 2014). Figura 9. Etapas de escavação de uma contenção em solo grampeado. Fonte: GEO-RIO (2014). Figura 10. Fases de execução da 6° etapa evidenciada na Figura9. 54 Fonte: GEO-RIO (2014). 5.3.3 Cortina ancorada Cortina ancorada funciona como uma contenção através de paredes verticais ou sub verticais de concreto armado com ancoragens fixadas no terreno. As paredes apresentam espessura entre 20 e 40 cm, sendo está definida através do espaçamento entre as ancoragens e das cargas solicitadas. Quando a cortina é executada para conter um talude que vai ser cortado, sua execução é realizada pelo método descendente em nichos. Cada faixa é escavada em nichos alternados, executando as ancoragens nos trechos cortados (GEO-RIO, 2014). A ancoragem é composta por calda de cimento e barra de aço e pode ser dividido em dois trechos, o ancorado e o livre. O trecho ancorado transmite a carga de tração ao terreno através da calda de cimento e o trecho livre transmite a carga de tração entre a cabeça da ancoragem e o trecho ancorado (GEO-RIO, 2014). Figura 10. Seção transversal de uma cortina ancorada típica. 55 Fonte: GEO-RIO (2014). 5.4 Sistema de drenagem Para um comportamento satisfatório de uma estrutura de contenção, é fundamental a utilização de sistemas eficientes de drenagem. Os sistemas de drenagem podem ser superficiais ou internos (GEO-RIO, 1999). 5.4.1 Sistema de drenagem superficial Devem captar e conduzir as águas que incidem na superfície do talude, considerando-se não só a área da região estudada como toda a bacia de captação. Diversos dispositivos (canaletas transversais, canaletas longitudinais de descida (escada), dissipadores de energia, caixas coletoras) podem ser selecionados para o projeto, dependendo da natureza da área (ocupação densa, com vegetação), das condições geométricas do talude, do tipo de material (solo/rocha) (GEO-RIO, 1999). 5.4.2 Sistema de drenagem subsuperficial Têm como função controlar as magnitudes de pressões de água e/ou captar fluxos que ocorrem no interior dos taludes (drenos horizontais, trincheiras drenantes longitudinais, drenos internos de estruturas de contenção, filtros granulares e geodrenos). Estes sistemas tendem a causar rebaixamento do nível piezométrico, sendo o volume de água que flui através dos drenos diretamente proporcional ao 56 coeficiente de permeabilidade e ao gradiente hidráulico. Com o rebaixamento do nível piezométrico, o gradiente hidráulico diminui e o fluxo então vai se reduzindo progressivamente até se restabelecer uma condição de regime permanente. Em solos de baixa condutividade hidráulica, esta redução pode significar a inexistência de um volume de drenagem visível a olho nu, a qual não deve, entretanto, ser associada à deterioração do dreno. Este tipo de comportamento muitas vezes gera dúvidas quanto à eficácia do sistema de drenagem, sugerindo a possibilidade de colmatação. Neste sentido, recomenda-se a monitoração contínua, através da instalação de piezômetros, comparando-se registros antes, durante e após a construção (GEO-RIO, 1999). 5.5 Segurança contra a ruptura global A verificação de um sistema de contenção quanto a sua segurança em relação a estabilidade geral consiste na verificação de um mecanismo de ruptura global do maciço. Neste caso, a estrutura de contenção é considerada como um elemento interno à massa de solo, que potencialmente pode se deslocar como um corpo rígido. Normalmente essa verificação consiste em se garantir um coeficiente de segurança adequado à rotação de uma massa de solo que se desloca ao longo de uma superfície cilíndrica; isto é (NBR 11682/2009): FSglobal = M resistentes M instabilizantes 1, 3obras provisórias 1, 5obras permanentes Para o cálculo do fator de segurança pode ser utilizado qualquer método de cálculo de equilíbrio limite, normalmente empregado para avaliação da estabilidade de taludes (NBR 11682/2009). 57 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABNT. NBR 6122: projeto e execução de fundações – procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2019. ABNT. NBR 11682: estabilidade de taludes – procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2009. ALONSO, U. R. Exercícios de Fundações. 1ª ed, São Paulo: Blucher, 1983. BORGES, A. C. Prática das pequenas construções. 9. ed. São Paulo: Blucher, 2009. v. 1. BRITO, J. L. W. de. Fundações do edifício. São Paulo, EPUSP, 1987. CINTRA, J. C. A.; AOKI, N.; ALBIERO, J. H. Fundações diretas: projeto geotécnico. São Paulo: Oficina de Textos, 2011. Fundação Instituto de Geotécnica do Município do Rio de Janeiro - GEO-RIO - Edição do Manual Técnico de Drenagem e Proteção superficial, 1999. Fundação Instituto de Geotécnica do Município do Rio de Janeiro - GEO-RIO - Edição do Manual Técnico de Encostas, 2014. HACHICH, W. et al. Fundações: teoria e prática. 2ª ed. São Paulo, PINI, 751 p., 1998. JOOPERT JR, Ivan. Fundações e Contenções de Edifícios: qualidade total na gestão do projeto e execução. 1ª ed. PINI, 2007. REBELLO, Y. C. P. Fundações: guia prático de projeto, execução e dimensionamento. 3. ed. São Paulo: Zigurate Editora, 2008. SANTOS, J. S. Desconstruindo o projeto estrutural de edifícios: concreto armado e protendido. São Paulo: Oficina de Textos, 2017. SKEMPTON, A. W.; MACDONALD, D. H. Allowable settlement of buildings. Proceedings of the Institution of Civil Engineers. London: 1956. 58 TEIXEIRA, A. H. Projeto e execução de fundações. In: Anais do SEFE. 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