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1 Laís Kist de Almeida ATM 2024/2 METABOLISMO DO CÁLCIO E SUAS ALTERAÇÕES METABOLISMO DO CÁLCIO • Cálcio → função estrutural (ossos), mediador de reações químicas e hormonais, além da contração muscular • Localização do cálcio corporal → 99% ossos e 1% compartimento celular e extracelular • Cálcio intracelular 1% o Contração muscular o Acoplamento estímulo-secreção dos nervos o Exocitose de alguns hormônios o Processos enzimáticos • Cálcio plasmático → ligado à albumina (cálcio total) e forma livre ionizada (cálcio ionizado) o Coagulação sanguínea; o Manutenção das junções firmes entre as células o Estabilidade na membrana plasmática, principalmente em tecidos excitáveis (cardíaco e esquelético) • Íons Cálcio → afetam a excitabilidade da membrana das células nervosas e musculares por alterarem o seu potencial de repouso. o O Ca2+ extracelular liga-se à superfície externa dos canais de Na+, aumentando o nível de voltagem necessário para abri-los. o Em situações de hipercalcemia, as células tornam-se mais refratárias, pois o seu potencial de repouso está mais afastado do limiar de excitabilidade, sendo, portanto, necessário um estímulo maior para gerar o potencial de ação. o Em casos de hipocalcemia, as células ficam hiperexcitáveis, hipercontratibilidade o Em casos de hipercalcemia → hipoexcitabilidade • Excitabilidade neuromuscular, tanto esquelética quanto miocárdica Regulação da calcemia • PTH (paratormônio) → produzido pelas glândulas paratireóides (atrás da tireoide) o Retira cálcio dos ossos o Aumenta a reabsorção renal cálcio e a excreção de fósforo o Estimula hidroxilação renal da Vitamina D (calcitriol) • 1,25-hidroxi Vitamina D (calcitriol) → secretada pelos rins o Aumenta absorção intestinal de cálcio • Calcitonina: o Hormônio envolvido no metabolismo do cálcio produzido pelas células parafoliculares ou células C (localizadas na tireoide) o Diminui a reabsorção tubular de cálcio, inibe a reabsorção óssea pelos osteoclatos e aumenta a fixação do cálcio nos ossos → diminui a calcemia o Papel secundário na regulação da calcemia em humanos 2 Laís Kist de Almeida ATM 2024/2 • Hormônios gonadais → Estradiol e estrogênio o Aumenta a absorção intestinal de cálcio o Aumenta a sobrevida dos osteoblastos e apoptose dos osteoclastos o Por conta disso mulheres na menopausa tem maior riso de osteoporose • Hormônios adrenais → Glicocorticoides o Aumentam a reabsorção óssea o Redução da formação óssea o Promovem a excreção renal e intestinal de cálcio o Supressão gonadal o Fazem um aumento dos osteoclastos e diminuição de osteoblastos - o contrário da ação do estrogênio HIPERCALCEMIA Causas de hipercalcemia • Mediada por PTH → Hiperparatireotireoidismo primário ou familiar (principal causa) o Muitas vezes diagnosticado pelas consequências e não pela hipercalcemia no sangue • Independente de PTH → hipercalcemia por neoplasias, intoxicação por vit D, desordens crônicas granulomatosas • Medicações → diuréticos tiazídicos, lítio, excesso vitamina A • Outras → acromegalia, feocromocitoma, insuficiência adrenal, imobilização prolongada, nutrição parenteral Hiperparatireoidismo Primário • Produção autônoma de PTH por uma ou mais paratireoides • Hipercalcemia provocada pelo excesso de secreção do paratormônio (PTH) • Mais frequente nos 40-65 anos, em mulheres 3:1, prevalência de 0,1-3% na população geral • Etiologias: o Adenoma único da paratireóide (mais comum – 85% casos) ▪ Geralmente são adenomas esporádicos, mas 10% são hereditários o Hiperplasia das paratireóides o Adenomas múltiplos o Carcinoma de paratireóide Neoplasia Endócrina Múltipla (NEM): o Autossômica dominante, associação de neoplasias envolvendo, pelo menos, dois de três sítios: paratireóides, hipófise anterior e tecido enteropancreático. o NEM-1: hiperparatireoidismo primário + neoplasia de ilhota pancreática + adenoma hipófise ▪ A doença do Golias da bíblia o NEM-2A: carcinoma medular de tireoide + feocromocitoma + hiperparatireoidismo primário o NEM-2B: carcinoma medular de tireoide + feocromocitoma + neuromas mucosos e ganglioneuromatose intestinal (ausência de doença paratireoidea) Quadro clínico: o Oligo ou assintomático (60-80%) o Fraqueza muscular, cansaço, mialgia, artralgia o Constipação intestinal, anorexia, pancreatite o Rins: poliúria, cálculos renais, nefrocalcinose, perda função renal o Ossos: deformidades, fraturas, dor óssea, osteíte fibrosa cística o Alterações psiquiátricas, depressão o ECG: encurtamento QT, arritmias, hipertensão Diagnóstico laboratorial: o PTH aumentado o Hipercalcemia (cálcio iônico ou total) → cálcio iônico é mais fiel, porque se o paciente está com redução de albumina a dosagem do cálcio total pode não ser correta o Hipofosfatemia: porque no rim para preservar cálcio é necessário excretar fosfato 3 Laís Kist de Almeida ATM 2024/2 • Quando temos a patologia normalmente o PTH está superior a 100/150 • Outros exames laboratoriais: o Fosfatase alcalina → aumentada (devido alterações ósseas) o Creatinina → normal ou aumentada o Cálcio urinário 24hs → aumentado se >4mg/kg/dia • Exames de Imagem: o RX ósseo → mãos e punhos, clavículas, pelve e crânio o Densitometria Óssea → rarefação óssea maior no fêmur do que coluna o US e TC de abdômen → rins e vias urinárias o Cintilografia das paratireóides (Tc-sestamibi) → exame que mais ajuda → padrão ouro para adenoma de paratireoides o US/RMN/TC de cervical • Nefrocalcinose → depósitos de cálcio difusamente distribuídos no parênquima renal (tanto na medula quanto no córtex) • OSTEÍTE FIBROSA CÍSTICA → áreas de reabsorção óssea subperiosteal (falanges e clavículas) e osteoclastoma (cistos ósseos ou tumor marrom) o Maior perda do osso cortical (aquele que envolve a medula e que dá sustentação os ossos longos) do que trabecular (está no interior dos ossos longos e esqueleto axial (cabeça, caixa tórax, coluna vertebral)) • A Reabsorção óssea pode ser bem vista no RX crânio que mostra a desmineralizado em aspecto “sal e pimenta” → osso todo pontilhado • Coluna vertebral em “camisa de rugby” o Centro do corpo vertebral está osteopênico (reabsorção) e as bordas estão osteoescleróticas (neoformação óssea) 4 Laís Kist de Almeida ATM 2024/2 • Quando pensar em hiperparatireoidismo? o Hipercalcemia o Nefrolitíase → principalmente de repetição o Fratura patológica: não se sabe exatamente o motivo, “do nada” ou com tombos leves → pensar em hipercalcemia o Densitometria óssea com alteração grave o Sintomas psiquiátricos sem causa óbvia • Tratamento da Crise Hipercalcêmica: o Inicialmente → hidratação o Furosemida → aumenta a excreção renal de cálcio o Inibidores da reabsorção óssea → ex: bifosfonados, calcitonina o Diálise → para retirada de cálcio o Esses tratamentos devem ser efetivos pelo risco de parada cardíaca pelo aumento do limiar de despolarização causado pelo acúmulo de cálcio • Tratamento definitivo HPTP: o Cirurgia → da(s) paratireóide(s) hiperfuncionantes ▪ Indicações: ▪ Pacientes com nefrolitíase ou osteíte fibrosa cística ▪ Assintomáticos com: ▪ Cálcio sérico com > 1mg/dL acima do limite superior da normalidade (LSN) ▪ Escore T da coluna ▪ Rádio ou fêmur <-2,5 na densitometria ▪ Fratura vertebral ▪ Clearance de creatinina (ClCr)<60mL/min ▪ Calciúria >400mg/24hs ▪ <50 anos ▪ Pacientes com dificuldade no seguimento do tratamento → Baixas condições sociais e intelectuais • Complicações da cirurgia: ▪ Lesão laringeo recorrente → Rouquidão, alteração respiratória ▪ Hipoparatireoidismo transitório ou definitivo ▪ Hipocalcemia → lesão ou retirada das outras paratireoides, Síndrome “fome óssea”, hipomagnesemia (prejudica secreção e ação do PTH) Hiperparatireoidismo Secundário(HPT2) • Hiperfunção das paratireoides em resposta a hipocalcemia persistente • Deficiência ou resistência à vitamina D 🡪 insuficiência renal crônica, doenças hepatobiliares... Hiperparatireoidismo Terciário (HPT3) • Evolução do HPT2 grave e crônico • Estímulo contínuo à produção do PTH resulta em proliferação nodular nas células e a secreção torna-se autônoma, independente do sistema de feedback • Ex: permanência níveis altos de PTH após transplante renal na IRC HIPOPARATIREOIDISMO • Secreção e/ou ação deficiente do PTH, com consequente redução da calcemia • Principal causa é pós-cirúrgica, por isquemia ou retirada das paratireoides durante tireoidectómica ou paratireoidectómica total o Tireoidectomia total dos bócios volumosos. Causas de hipoparatireoidismo • Produção insuficiente de PTH → pós-cirurgias, doenças infiltrativas (hemocromatose, Doença de Wilson, tumores metastáticos...), autoimunes, alterações genéticas, irradiação do pescoço, idiopático • Resistência à ação do PTH → pseudo-hipoparatireoidismo, hipomagnesemia OBS: autoimune - é a segunda principal causa • Destruição autoimune das paratireoides 5 Laís Kist de Almeida ATM 2024/2 • Associado a outras doenças autoimunes: o Síndrome poliglandular autoimune tipo 1 ▪ Candidíase mucocutânea + Hipoparatireoidismo + Insuficiência adrenal Quadro clínico agudo • Parestesias perioral ou periférica • Cãibras, tetania • Laringoespasmo, convulsões • ECG → prolongamento ST e QT, arritmias Quadro clínico crônico • Letargia • Retardo mental • Calcificação dos gânglios da base • Fragilidade dentária • Catarata • Alopécia Exame físico • Sinal de Chvostek: o Contração da musculatura da face e lábio superior causada por percussão do nervo facial (2cm na frente do lóbulo da orelha) • Sinal de Trousseau: o Espasmo carpal causado por compressão pelo esfigmomanômetro cerca de 20mmHg acima PA sistólica mantida por 3 minutos → Laboratório • Hipocalcemia • Hiperfosfatemia → tira muito cálcio fica muito fosfato • PTH baixo ou indetectável • Urina de 24hs → cálcio reduzido Tratamento • Suplementos de cálcio - 3g por dia • Vitamina D → principalmente calcitriol • Opcionais: tiazídicos, reposição de magnésio, PTH sintético (Teriparatide; custo elevado) para mantém cálcio no sangue Tratamento de Hipocalcemia grave sintomática • Cálcio EV DEFICIÊNCIA DE VITAMINA D • Causa comum de hipocalcemia → sem vitamina D não tem absorção correta de cálcio no intestino • Hiperparatireoidismo secundário Fontes de vitamina D • Alimentos → peixes, leite enriquecido, gema ovo (vitamina D2: lipossolúvel) • Síntese cutânea → vitamina D3 → principal fonte de vitamina D • Vit D2 e D3 sofrem hidroxilação hepática → 25(OH)vitamina D → hidroxilação renal → 1,25(OH)₂vitamina D (calcitriol) forma mais ativa 6 Laís Kist de Almeida ATM 2024/2 • 1,25 hidroxi vitamina D → forma ativa da vitamina D o Características de um hormônio ▪ Secretada pelo rim ▪ Ação a distância: ▪ Nas células intestinais ▪ Nos ossos • Diversas outras ações biológicas • Inibição da diferenciação celular e angiogêneses • Estimulo da produção de insulina • Papel imunorregulatório em várias células - CD4, CD8, Linfócitos T • Modulação do equilíbrio da autoimunidade - segundo estudos pode prevenir a diabetes tipo 1 de causa autoimune Causas de deficiência de vitamina D • Ingestão insuficiente • Síntese cutânea inapropriada → mais relevante • Baixa absorção intestinal → síndromes disabsortivas, DII, Crohn, cirurgia bariátrica • 25 hidroxilaçao limitada no fígado → por conta de doenças hepáticas e renais • Redução da 1alfa hidroxilaçao da 25 hidroxi vitamina D nos rins • Resistência ao calcitriol nos órgãos alvo • Medicamentos → antirretrovirais, anticonvulsivantes • Baixa exposição ao sol • Raquitismo nutricional → defeito da mineralização óssea em crescimento → com deformidades nas pernas e arcos costais o Até 1 ano de vida deve ser feito a suplementação de vitamina D em gotas e até os 2 anos é aconselhado • Hipocalcemia + hipofosfatemia + PTH elevado + doença óssea (raquitismo criança e osteomalácia adulto: deficiência na mineralização óssea) + miopatia (fraqueza muscular proximal) Diagnóstico • Dosagem da 25(OH) vitamina D → mais abundante e estável no soro, com meia vida de 3 semanas o Suficiência: >30ng/mL o Insuficiência: 21 – 29ng/mL o Deficiência: <20ng/mL Tratamento • Reposição de vitamina D • Deficiência: sempre • Insuficiência: Idosos >60 anos, Crianças, Gestantes e lactantes Indicações da dosagem de 25(OH) vitamina D • Suspeita de raquitismo • Osteoporose • Idosos - redução da derme dificulta a síntese de vitamina D pela pele • Obesos - por ocorrer um aumento da necessidade de vitamina D • Gestantes e lactentes • Má absorção intestinal - DII, Crohn, cirurgia bariátrica • Insuficiência renal ou hepática 7 Laís Kist de Almeida ATM 2024/2 • Uso de medicamentos que alteram a metabolização da vitamina D - antirretrovirais, anticonvulsivantes • PTH elevado ou cálcio baixo OSTEOPOROSE • Redução da massa óssea e deterioração da microarquitetura levando a maior risco de fraturas • 80% casos são do sexo feminino • 30% das mulheres > 65 anos • Fraturas colo fêmur → mortalidade 1 ano 20% nos <70 anos e 40% nos >80 anos → maior incidência fraturas • Redução massa óssea devido a desequilíbrio entre neoformação óssea (osteoblastos) e a reabsorção (osteoclastos) • Os picos de massa óssea acontecem principalmente entre os 20 e 30 anos • Depois desses picos acontece um declínio contínuo Causas osteoporose • Primária: o Pós-menopausa o Senil – envelhecimento • Secundária: o Alcoolismo o Medicamentos → corticoides, hormônios tireoidianos em excesso... o Hipertireoidismo sem tratamento, hipogonadismo, Síndrome de Cushing, hiperparatireoidismo, doença celíaca... • Idiopática o Pacientes jovens que não se enquadram nas causas secundárias o São raras Diagnóstico • Densitometria óssea → quantifica a massa óssea da coluna lombar (principalmente se for pós-menopausa) e fêmur proximal (outras causas) o DMO: escore T - desvio padrão (DP) em relação à média do adulto jovem ▪ Normal - entre +1 e -1 DP → verde ▪ Osteopenia - entre -1 e -2,4 DP → amarelo ▪ Osteoporose - menor -2,5DP → vermelho 8 Laís Kist de Almeida ATM 2024/2 Indicações densitometria óssea • Mulheres pós menopausa e Homens entre 50- 70anos com fatores de risco para osteoporose • Mulheres acima de 65 anos • Homens acima de 70anos • Presença de fraturas • Uso crônico de medicações associadas a osteoporose Avaliação laboratorial → para tentar definir a causa • Cálcio • Fósforo • PTH, • Creatinina • Eletrólitos • TGO/TGP e Fosfatase alcalina • Albumina • Hemograma • Proteinograma → descartar mieloma múltiplo • 25(OH)vitamina D • Excreção urinária de cálcio Tratamento • Suplementação cálcio → sempre • Vitamina D → sempre • Bisfosfonados (alendronato, risendronato, abandronato) → reduzem reabsorção óssea → até 7 anos de uso tem benefícios, depois é contraindicado • SERMS → raloxifeno → casos mais graves • Terapia reposição hormonal (menopausa) → ajuda a não progredir a osteoporose • Outros medicamentos • Cuidados gerais → Prevenção de quedas ----- • Inibidores de reabsorção óssea o TRH, tibolona • Estimuladores de formação óssea o Teriparatida e abaloparatida – análogos do PTH ▪ Administração intermitente de baixas doses do hormônio estimula a proliferação e atividade dos osteoblastos com efeito anabólico o Romosozumabe – anticorpo monoclonal ▪ Bloqueia os efeios da esclerostina produzida pelos osteócitos e osteoblastos que inibe formação óssea OSTEOPOROSE → melhor do que tratar é prevenir!!!!!• Pico de massa óssea – garantir boa saúde na infância e na juventude; • Prática regular de exercícios físicos aumenta a massa óssea e força muscular • Reduzir as perdas ósseas • Prevenir quedas
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