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Aula 04
Direito Penal p/ PC-RN (Agente e
Escrivão) Pós-Edital
Autor:
Renan Araujo
Aula 04
4 de Dezembro de 2020
 
1 
Sumário 
CONCURSO DE PESSOAS 3 
1 Conceito, natureza e características 3 
2 Requisitos 4 
2.1 Pluralidade de agentes 4 
2.2 Relevância causal da colaboração 8 
2.3 Vínculo subjetivo (ou liame subjetivo) 9 
2.4 Identidade de infração penal 9 
2.5 Existência de fato punível 9 
3 Modalidades 10 
3.1 Coautoria 10 
3.2 Participação 14 
4 Comunicabilidade das circunstâncias 17 
4.1 Espécies de elementares e de circunstâncias 17 
5 Cooperação dolosamente distinta 18 
6 Multidão delinquente 20 
CONCURSO DE CRIMES 20 
1 Conceito e natureza 20 
2 Espécies 21 
2.1 Concurso material (ou real) de crimes 21 
2.2 Concurso formal de crimes 22 
2.3 Aplicação da pena no concurso formal 23 
2.4 Crime continuado 24 
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2 
2.5 Requisitos para a configuração do crime continuado 25 
2.6 Aplicação da pena no crime continuado 27 
2.7 Crime continuado e conflito de leis penais no tempo 28 
2.8 Crime continuado e prescrição 28 
2.9 Aplicação da pena de multa no concurso de crimes 29 
DISPOSITIVOS LEGAIS IMPORTANTES 29 
SÚMULAS PERTINENTES 32 
1 - Súmulas do STF 32 
2 - Súmulas do STJ 32 
JURISPRUDÊNCIA CORRELATA 33 
EXERCÍCIOS COMENTADOS 36 
EXERCÍCIOS PARA PRATICAR 84 
GABARITO 105 
 
 
Olá, meus amigos! 
 
Na aula de hoje vamos estudar dois temas muito importantes. O primeiro deles está relacionado 
à própria figura delituosa e sua caracterização, que é o concurso de agentes. 
O segundo está relacionado aos efeitos da prática criminosa, mais especificamente, à aplicação 
da pena, que é o concurso de crimes. 
 
Bons estudos! 
Prof. Renan Araujo 
Renan Araujo
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 CONCURSO DE PESSOAS 
1 Conceito, natureza e características 
O concurso de pessoas pode ser conceituado como a colaboração de dois ou mais agentes 
para a prática de um delito ou contravenção penal. 
O concurso de pessoas é regulado pelos arts. 29 a 31 do CP: 
Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este 
cominadas, na medida de sua culpabilidade. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 
11.7.1984) 
§ 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de 
um sexto a um terço. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
§ 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á 
aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter 
sido previsível o resultado mais grave. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 
11.7.1984) 
Circunstâncias incomunicáveis 
Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, 
salvo quando elementares do crime. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 
11.7.1984) 
Casos de impunibilidade 
Art. 31 - O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição 
expressa em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser 
tentado. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
Mas como compreender a natureza jurídico-penal de uma conduta criminosa praticada por 
diversas pessoas? Três teorias surgiram: 
• Pluralista (ou pluralística) - Para esta teoria cada pessoa responderia por um crime 
próprio, existindo tantos crimes quantos forem os participantes da conduta 
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delituosa, já que a cada um corresponde uma conduta própria, um elemento 
psicológico próprio e um resultado igualmente particular1. 
• Dualista (ou dualística) – Segundo esta teoria, há um crime para os autores, que 
realizam a conduta típica emoldurada no ordenamento positivo, e outro crime para 
os partícipes, que desenvolvem uma atividade secundária. 
• Monista (ou monística ou unitária) – A codelinquência (concurso de agentes) deve ser 
entendida, para esta teoria, como CRIME ÚNICO, devendo todos responderem pelo 
mesmo crime. É a adotada pelo CP. Isso não significa que todos que respondem pelo 
delito terão a mesma pena. A pena de cada um irá corresponder à valoração de cada 
uma das condutas (cada um responde “na medida de sua culpabilidade). Em razão 
desta diferenciação na pena de cada um dos infratores, diz-se que o CP adotou uma 
espécie de teoria monista temperada (ou mitigada). 
O concurso de pessoas pode ser, basicamente, de duas espécies: 
• EVENTUAL – Neste caso, o tipo penal não exige que o fato seja praticado por mais 
de uma pessoa. Isso não impede, contudo, que eventual ele venha a ser praticado 
por mais de uma pessoa (Ex.: Furto, roubo, homicídio). 
• NECESSÁRIO – Nesta hipótese o tipo penal exige que a conduta seja praticada por 
mais de uma pessoa. Divide-se em: a) condutas paralelas (crimes de conduta 
unilateral): Aqui os agentes praticam condutas dirigidas à obtenção da mesma 
finalidade criminosa (associação criminosa, art. 288 do CPP); b) condutas 
convergentes (crimes de conduta bilateral ou de encontro): Nesta modalidade os 
agentes praticam condutas que se encontram e produzem, juntas, o resultado 
pretendido (ex. Bigamia); c) condutas contrapostas: Neste caso os agentes praticam 
condutas uns contra os outros (ex. Crime de rixa) 
2 Requisitos 
Mas quais são os requisitos para que se possa falar em concurso de pessoas? Cinco são os 
requisitos para que seja caracterizado o concurso de pessoas. Vejamos: 
2.1 Pluralidade de agentes 
Para que possamos falar em concurso de pessoas, é necessário que tenhamos mais de uma 
pessoa a colaborar para o ato criminoso. É necessário que sejam agentes culpáveis? A doutrina se 
divide, mas prevalece o entendimento de que todos os comparsas devem ter discernimento, de 
 
1 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal – Parte Geral. Ed. Saraiva, São Paulo, 2015, p. 548 
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maneira que a ausência de culpabilidade por doença mental, por exemplo, afastaria o concurso 
de agentes, devendo ser reconhecida a autoria mediata. 
Assim, se uma pessoa, perfeitamente mental e maior de 18 anos (penalmente imputável) 
determina a um doente mental (sem qualquer discernimento) que realize um homicídio, não há 
concurso de pessoas, mas autoria mediata, pois o autor do crime foi o mandante, que se valeu de 
uma pessoa sem vontade como mero instrumento2 para praticar o crime. Não há concurso, pois 
um dos agentes não era culpável. 
Todavia, é bom ressaltar que, nos crimes plurissubjetivos3, se um dos colaboradores não é 
culpável por qualquer razão, mesmo assim permanece o crime. Nos crimes eventualmente 
plurissubjetivos (crime de furto, por exemplo, que eventualmente pode ser um crime qualificado 
pelo concurso de pessoas, embora seja, em regra, unissubjetivo) também não é necessário que 
todos os agentes sejam culpáveis, bastando que apenas um o seja para que reste configurado o 
delito em sua forma qualificada. 
EXEMPLO: José, maior e capaz, perfeitamente imputável, combina de realizar um 
roubo juntamente com Paulo, adolescente de 17 anos de idade e, portanto, 
inimputável. O roubo se realiza. Neste caso, não podemos falar em autoria 
mediata entre José e Paulo, eis que Paulo não foi mero instrumento nas mãos de 
José. Paulo quis participar da empreitada criminosa, e responderá por isso, de 
acordo com as regras próprias do ECA4. Neste caso, como não houve autoria 
mediata, José deverá responder pelo crime roubo com a majorante de ter sido o 
crime praticado em concurso de pessoas5, ainda que Paulo responda de acordo 
com o ECA, e não de acordo com a Lei Penal. 
Nessas duas últimas hipóteses, no entanto, não há propriamente concurso de pessoas, mas 
o que a Doutrina chama de concurso impróprio, ou concurso aparente de pessoas. Contudo,essa 
ressalva só se aplica ao caso de concurso entre culpável e “não culpável que possui 
discernimento”. Assim, se o agente culpável se vale de alguém sem culpabilidade como mero 
instrumento, sem que ele possua qualquer discernimento, teremos sempre autoria mediata. 
 
2 WELZEL, Hans. Derecho Penal, parte general. Ed. Roque Depalma. Buenos Aires, 1956, p. 106 
3 Aqueles em que necessariamente deve haver mais de um agente, como no crime de associação criminosa, por 
exemplo – art. 288 do CP 
4 Estatuto da Criança e do Adolescente. 
5 Art. 157, §2º, II do CP. 
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2.1.1 Autoria mediata 
A autoria mediata ocorre quando o agente (autor mediato) se vale de uma pessoa como 
instrumento (autor imediato) para a prática do delito. 
EXEMPLO: José, maior e capaz, entrega uma arma de fogo a uma criança de 05 
anos, dizendo que ela deve colocar a arma na cabeça de Maria e fazer uma 
brincadeira, pois ao apertar o gatilho, sairá água da arma. A criança aperta o 
gatilho e Maria morre. Neste caso, temos autoria mediata, pois José (autor 
mediato) se valeu da criança (executor) como mero instrumento para a prática do 
delito. 
 
Todavia, não basta que o executor seja um inimputável, ele deve ser um verdadeiro 
INSTRUMENTO do mandante, ou seja, ele não deve ter qualquer discernimento no caso concreto. 
Ex.: José e Pedro (este menor de idade, com 17 anos) combinam de matar Maria. 
José arma o plano e entrega a arma a Pedro, que a executa. Neste caso, Pedro é 
inimputável por ser menor de 18 anos, mas possui discernimento, não se pode 
dizer que foi um mero “instrumento” de José. Assim, aqui não teremos autoria 
mediata, mas concurso aparente de pessoas. 
Ex.2: José, maior e capaz, entrega a Mauro (um doente mental sem nenhum 
discernimento) uma arma e diz para ele atirar em Maria, que vem a óbito. Neste 
caso há autoria mediata, pois Mauro (o inimputável) foi mero instrumento nas mãos 
de José. 
 Mas esta é a única hipótese de autoria mediata? A resposta é negativa. A melhor Doutrina 
divide a autoria mediata em três hipóteses, basicamente6: 
1 – Autoria mediata por erro do executor – Neste caso, aquele que pratica a conduta foi induzido 
a erro pelo mandante (erro de tipo ou erro de proibição). Ex.: Médico que entrega à enfermeira 
uma injeção contendo determinada substância tóxica, e determina que esta aplique no paciente, 
 
6 BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit.___, p. 560 
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alegando que se trata de morfina, para aliviar a dor7. A enfermeira, aqui, não atua dolosamente 
(do ponto de vista “finalístico”), pois apesar de dar causa à morte do paciente (causalidade física, 
pois foi ela quem injetou a substância), não dirigiu sua conduta a este resultado. O domínio do 
fato pertencia ao médico, o real infrator. 
2 – Autoria mediata por coação do executor – Aqui o infrator coage uma terceira pessoa a praticar 
um delito. Em se tratando de coação MORAL irresistível, teremos um agente não culpável (a 
coação moral irresistível afasta a culpabilidade). Desta forma, aquele que executa o faz em situação 
de não culpabilidade. A culpabilidade recai apenas sobre o coator, não sobre o coagido. Ex.: 
Médico que determina à enfermeira que aplique sobre o paciente uma dose cavalar de veneno. 
O médico, porém, não esconde da enfermeira que se trata de veneno, ao contrário deixa isso bem 
claro. Porém, diz à enfermeira que se ela não fizer o que foi determinado, irá matar sua filha. Vejam 
que, neste caso, a enfermeira sabe que está injetando o veneno, de forma que age dolosamente, 
mas ainda assim sem culpabilidade, por inexigibilidade de conduta diversa. 
3 – Autoria mediata por inimputabilidade do agente – Nesta hipótese o infrator se vale de uma 
pessoa inimputável para a prática do delito. A inimputabilidade, aqui, pressupõe que o executor 
(inimputável) não tenha discernimento necessário8. Caso o executor, mesmo inimputável, possua 
discernimento, não haverá autoria mediata. Ex.: José, 20 anos, organiza um plano para furtar uma 
loja de eletrônicos, e combina com Marcelo, de 17, a execução do plano. Neste caso, não há 
autoria mediata, pois Marcelo, a despeito de sua inimputabilidade legal, tem discernimento para 
não ser considerado como “objeto”. Por outro lado, no mesmo exemplo, imaginemos que 
Marcelo tenha 30 anos, mas seja absolutamente incapaz de entender o que se passa (doente 
mental completo). Neste caso, a inimputabilidade de Marcelo afasta o reconhecimento do 
concurso de pessoas com José, que responderá como autor mediato do crime. 
É cabível autoria mediata nos crimes próprios e de mão própria? Em relação aos crimes 
próprios se admite a autoria mediata, desde que o autor MEDIATO reúna as condições especiais 
exigidas pelo tipo penal. 
EXEMPLO: Paulo, servidor público, coage moralmente Maria (coação irresistível), 
obrigando-a a subtrair 10 notebooks da repartição em que ele, Paulo, exerce suas 
funções. Paulo, para a execução do delito, se valeu de sua função para facilitar a 
subtração. Neste caso, Paulo poderá responder por peculato-furto na qualidade 
de autor mediato. 
Mas, e se Maria é quem fosse a servidora e Paulo fosse um particular? Poderia haver autoria 
mediata? Não, neste caso não poderíamos falar em autoria mediata. 
 
7 O exemplo é de Hans Welzel. (cf. WELZEL, Hans. Op. Cit.___, p. 106) 
8 WELZEL, Hans. Op. Cit.___, p. 107-108 
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8 
Contudo, se não há autoria mediata e não há concurso de pessoas (pois não há concurso de 
pessoas entre coator e coagido), Paulo ficará impune? Não, a Doutrina desenvolveu, para tais 
casos, a figura da AUTORIA POR DETERMINAÇÃO. Consiste, basicamente, em punir aquele que, 
embora não sendo autor nem partícipe, exerce sobre a conduta domínio EQUIPARADO à figura 
da autoria.9 
Não se pode considerar o agente como autor por não reunir os elementos necessários para 
tanto. Também não se pode considerá-lo como partícipe, eis que a participação pressupõe o crime 
praticado por outro autor (e não há). Ele será punido, portanto, por ser o autor da determinação 
para a conduta (ter sido o responsável por sua ocorrência). 
Em relação aos crimes de mão própria, contudo, não se admite a figura da autoria mediata, 
eis que o crime não pode ser realizado por interposta pessoa (Ex.: A testemunha, no crime de 
falso testemunho, não pode coagir alguém a depor em seu lugar, prestando testemunho falso). 
Neste caso, porém, exemplificativamente, se a testemunha for coagida por terceira pessoa, 
esta terceira pessoa poderá ser considerada AUTOR por determinação, conforme explicado 
anteriormente. 
2.2 Relevância causal da colaboração 
A participação do agente deve ser relevante para a produção do resultado, de forma que a 
colaboração que em nada contribui para o resultado é um indiferente penal. 
Além disso, a colaboração deve ser prévia ou concomitante à execução, ou seja, anterior à 
consumação do delito. Se a colaboração for posterior à consumação do delito, como o fato já 
ocorreu, não há concurso de pessoas, podendo haver, no entanto, outro crime (favorecimento 
real, receptação, etc.). 
Porém, se a colaboração for posterior à consumação, mas combinada previamente, há 
concurso de pessoas. Ex: Imagine que Poliana decide matar seus pais, e combina com seu 
namorado para que ele esteja às 20h em ponto na porta de sua casa para lhe ajudar na fuga. 
Assim, a conduta do namorado (auxiliar na fuga) é posterior à consumação, mas fora combinada 
anteriormente, havendo, portanto, concurso de pessoas. Diversa seria a hipótese, no entanto, se 
o namorado tivesse ido à casa da namorada sem saber que deveria lhe ajudar na fuga. Lá 
chegando, a namorada conta o ocorrido e ele, a partir daí, concorda em auxiliá-la na fuga.Nessa 
hipótese, o namorado comete o crime de favorecimento pessoal (nos termos do art. 348 do CP). 
Cuidado com isso! 
 
9 PIERANGELI, José Henrique. ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Manual de Direito Penal Brasileiro. Ed. RT. São Paulo, 
2008, p. 580/581 
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9 
2.3 Vínculo subjetivo (ou liame subjetivo) 
Também é conhecido como concurso de vontades. Assim, para que haja concurso de 
pessoas, é necessário que a colaboração dos agentes tenha sido ajustada entre eles, ou pelo 
menos tenha havido adesão de um à conduta do outro. 
Deste modo, a colaboração meramente causal, sem que tenha havido combinação entre os 
agentes, não caracteriza o concurso de pessoas. Trata-se do princípio da convergência. Caso haja 
colaboração dos agentes para a conduta criminosa, mas sem vínculo subjetivo entre eles, 
estaremos diante da autoria colateral, e não da coautoria. 
2.4 Identidade de infração penal 
Também conhecido como unidade de infração penal para todos os agentes, está fundamentado 
no art. 29 do CP: 
Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este 
cominadas, na medida de sua culpabilidade. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 
11.7.1984). 
Daí podemos perceber que, se 20 pessoas colaboram para a prática de um delito (homicídio, 
por exemplo), todas elas respondem pelo homicídio, independentemente da conduta que tenham 
praticado (um apenas conseguiu a arma, o outro dirigiu o veículo da fuga, outro atraiu a vítima, 
etc.). As condutas dos agentes, portanto, devem constituir algo juridicamente unitário10. 
2.5 Existência de fato punível 
Trata-se do princípio da exterioridade. Assim, é necessário que o fato praticado pelos 
agentes seja punível, o que de um modo geral exige pelo menos que este fato represente uma 
tentativa de crime, ou crime tentado. 
Para a caracterização do crime tentado, é necessário que seja dado início à execução do 
crime. Se o fato ficar meramente no plano abstrato, no plano da cogitação, não há fato punível, 
nos termos do art. 14, II do CP. 
 O art. 31 do CP determina, ainda, de modo específico para a hipótese de concurso de 
pessoas, que a colaboração só é punível se o crime for, ao menos, tentado: 
Art. 31 - O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição 
expressa em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser 
tentado. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984). 
 
10 BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit.___, p. 553 
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 Importante ressaltar que, em alguns casos, os atos preparatórios já configuram fato punível, 
seja porque a lei assim expressamente determina, seja porque eles constituem tipo penal 
autônomo. 
3 Modalidades 
3.1 Coautoria 
Para entendermos o fenômeno da coautoria, devemos, primeiramente, estudar o que seria 
a autoria do delito. 
Várias teorias, ao longo do tempo, procuraram definir o conceito de AUTOR. 
O conceito extensivo de autor não diferencia autor e partícipe, considerando que todos 
aqueles que concorrem para o crime são autores do delito. Esse conceito é baseado numa 
premissa “causal-naturalista” de que todo aquele que dá causa ao delito (por qualquer forma), 
deve ser considerado autor do crime. 
Contudo, como pelo conceito extensivo de autor não era possível definir quem era autor e 
quem era partícipe, surgiu a teoria subjetiva da participação, que considerava como autor aquele 
que pratica o fato como próprio, que quer o crime “como próprio”, como seu, e partícipe aquele 
que quer o fato como alheio, pratica uma conduta acessória ao “crime de outra pessoa”.11 Isso era 
fundamental para a fixação da pena de cada um, já que aos autores deveriam ser aplicadas penas, 
em tese, mais severas. 
Como o conceito extensivo apresentou mais problemas que soluções, surgiu o conceito 
restritivo de autor12. Para esta teoria restritiva13, autor e partícipe não se confundem. Autor será 
aquele que praticar a conduta descrita no núcleo do tipo penal (subtrair, matar, roubar, etc.). 
Todos os demais, que de alguma forma prestarem colaboração (material ou moral), serão 
considerados partícipes. Esta foi a teoria adotada pelo CP. 
Agora que já sabemos que o CP diferencia autor e partícipe, precisamos saber qual é o 
critério para se diferenciar um do outro. Três teorias surgiram. 
A primeira teoria, a teoria objetivo-formal, estabelece que autor é quem realiza a conduta 
prevista no núcleo do tipo, sendo partícipes todos os outros que colaboraram para isso, mas não 
realizaram a conduta descrita no núcleo do tipo. Para esta teoria, por exemplo, no crime de 
 
11 BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit.___, p. 555 
12 PIERANGELI, José Henrique. ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Manual de Direito Penal Brasileiro. Ed. RT. São Paulo, 
2008, p. 572. 
13 Também chamada por alguns de teoria dualista ou objetiva. 
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11 
homicídio, somente seria autor aquele que efetivamente praticasse a conduta de “matar” alguém. 
Todos os outros colaboradores seriam partícipes. O grande problema desta teoria é considerar o 
autor intelectual (mandante) como partícipe, e não como autor. Mais que isso: Essa teoria não 
explica o fenômeno da autoria mediata (quando alguém se vale de um inimputável para cometer 
um crime). 
A segunda teoria, a teoria objetivo-material, entende que autor é quem colabora com 
participação de maior importância para o crime, e partícipe é quem colabora com participação 
reduzida, independentemente de quem pratica o núcleo do tipo (verbo que descreve a conduta 
criminosa – matar, subtrair, etc.). 
A terceira e última teoria, a teoria do domínio do fato, criada pelo pai do finalismo, Hans 
Welzel14, e posteriormente desenvolvida por Claus Roxin, defende que autor é todo aquele que 
possui o domínio da conduta criminosa, seja ele o executor (quem pratica a conduta prevista no 
núcleo do tipo) ou não15. Para esta teoria, o autor seria aquele que decide o trâmite do crime, sua 
prática ou não, etc. Essa teoria explica, satisfatoriamente, o caso do mandante, por exemplo, que 
mesmo sem praticar o núcleo do tipo (“matar alguém”), possui o domínio do fato, pois tem o 
poder de decidir sobre o rumo da prática delituosa. 
Para esta teoria, o partícipe existe, e é aquele que contribui para a prática do delito16, 
embora não tenha poder de direção sobre a conduta delituosa. O partícipe só controla a própria 
vontade, mas a não a conduta criminosa em si, pois esta não lhe pertence. 
 
A teoria do domínio do fato tem por finalidade estabelecer uma diferenciação entre autor e 
partícipe a partir da noção de “controle da situação”. Aquele que, mesmo não executando a 
conduta descrita no núcleo do tipo, possui todo o controle da situação, inclusive com a 
possibilidade de intervir a qualquer momento para fazer cessar a conduta, deve ser considerado 
autor, e não partícipe. 
O controle (ou domínio) da situação pode se dar mediante17: 
 
14 WELZEL, Hans. Op. Cit.___, p. 105 
15 MUÑOZ CONDE, Francisco. Teoría general del delito. Ed. Temis Editorial. Bogotá, 1999, p. 155-156 
16 WELZEL, Hans. Op. Cit.___, p.117-119 
17 BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit.___, p. 557-558 
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1 - Domínio da ação - O agente realiza diretamente a conduta prevista no tipo penal 
2 - Domínio da vontade - O agente não realiza a conduta diretamente, mas é o "senhor do 
crime", controlando a vontade do executor, que é um mero instrumento do delito (hipótese de 
autoria mediata). 
3 - Domínio funcional do fato - O agente desempenha uma função essencial e indispensável 
ao sucesso da empreitada criminosa, que é dividida entre os comparsas, cabendo a cadaum uma 
parcela significativa, essencial e imprescindível. 
Em todos estes casos, o agente será considerado autor do delito. 
A teoria do domínio do fato, porém, não se aplica aos crimes culposos, pois neste não há 
domínio final do fato, pois o fato final (resultado) não é buscado pelos agentes, que pretendiam 
outro resultado18. 
A teoria adotada pelo CP é a teoria objetivo-formal, considerando autor aquele que realiza 
a conduta descrita no núcleo do tipo, já que denota sua “vontade de autor” (animus auctoris), em 
contraposição à “vontade de colaboração” do partícipe (animus socii). Entretanto, considera-se 
adotada a teoria do domínio do fato para os crimes em que há autoria mediata, autoria intelectual, 
etc., de forma a complementar a teoria adotada. 
Esta é, portanto, a posição doutrinária a respeito da posição do CP sobre a diferença entre 
autor e partícipe. 
Desta maneira, após entendermos quem seria considerado autor do delito para o CP, 
podemos definir a coautoria como a espécie de concurso de pessoas na qual duas ou mais pessoas 
praticam a conduta descrita no núcleo do tipo penal. Assim, no crime de roubo, se duas ou mais 
pessoas entram num banco, portando armas, e anunciam um assalto, todas elas praticaram a 
conduta descrita no núcleo do tipo do art. 157, § 2°, I e II do CP (subtrair para si ou para outrem, 
mediante violência ou grave ameaça...). Logo, todas são coautoras do delito. No mesmo exemplo, 
porém, o dono do carro, que emprestou o veículo para a fuga, é mero partícipe. 
 
 
18 Idem, p. 558 
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13 
Não confundam coautoria com autoria colateral. Na coautoria, deve haver vínculo subjetivo 
ligando as condutas de ambos os autores. Na autoria colateral, ambos praticam o núcleo do tipo, 
mas um não age em acordo de vontades com o outro. Imaginem que A e B, desafetos de C, sem 
que um saiba da existência do outro, escondem-se atrás de árvores esperando a passagem de C, 
a fim de matá-lo. Quando C passa, ambos atiram, e C vem a óbito. Nesse caso, não houve 
coautoria, mas autoria colateral. Entretanto, aí vai mais uma informação: Imaginem que o laudo 
identifique que apenas uma bala atingiu C, direto na cabeça, levando-o a óbito. Nesse caso, o 
laudo não conseguiu apontar de qual arma saiu a bala que matou C. Nesse caso, como não se 
pode definir quem efetuou o disparo fatal, ambos respondem pelo crime de homicídio TENTADO, 
pois não se pode atribuir a nenhum deles o homicídio consumado, já que o laudo é inconclusivo 
quanto a isto. Este é o fenômeno da autoria incerta. No entanto, se ambos estivessem agindo em 
conluio, com vínculo subjetivo, ou seja, se houvesse concurso de pessoas, ambos responderiam 
por crime de homicídio CONSUMADO, pois nesse caso seria irrelevante saber de qual arma partiu 
a bala que levou C a óbito. 
A coautoria pode ser funcional (ou parcial), que é aquela na qual a conduta dos agentes são 
diversas e se somam, de forma a produzir o resultado. Assim, se Ricardo segura a vítima para que 
Poliana a espanque, ambos são coautores do crime de lesão corporal, mediante coautoria 
funcional. 
Porém, a coautoria pode ser, ainda, material (direta), que é a hipótese em que ambos os 
coautores realizam a mesma conduta. Assim, no exemplo acima, se Ricardo e Poliana espancassem 
a vítima, ambos seriam coautores mediante coautoria material. 
 
Abaixo vou mostrar para vocês algumas hipóteses polêmicas de aplicação do instituto da 
coautoria: 
➢ Admite-se a coautoria nos crimes próprios, desde que ambos os agentes possuam a 
qualidade exigida pela lei, ou que, aqueles que não a possuem, ao menos tenham ciência 
de que o outro agente age nessa qualidade. 
➢ Não se admite a coautoria nos crimes de mão-própria, pois são considerados de conduta 
infungível, só podendo ser praticados pelo sujeito especificamente descrito pela lei. 
➢ A Doutrina se divide quanto à possibilidade de coautoria em crimes omissivos, da seguinte 
forma: 
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1 – Parte entende que NÃO HÁ POSSIBILIDADE DE COAUTORIA OU 
PARTICIPAÇÃO (Concurso de agentes), pois TODAS AS PESSOAS PRATICAM O 
NÚCLEO DO TIPO, DE MANEIRA AUTÔNOMA; 
2 – Outra parte da Doutrina entende poderia haver concurso de pessoas, na 
modalidade de coautoria, mas é minoritário; 
3 – A Doutrina ligeiramente majoritária entende que é possível PARTICIPAÇÃO, mas 
NÃO COAUTORIA. 
➢ Na autoria mediata não há concurso de pessoas entre autor mediato autor imediato, 
respondendo apenas o autor mediato, que se valeu de alguém sem culpabilidade para a 
execução do delito. 
➢ Entretanto, é possível coautoria e também participação na autoria mediata, desde que haja 
colaboração entre os agentes mediatos. NUNCA HAVERÁ CONCURSO DE PESSOAS 
ENTRE AUTOR MEDIATO E AUTOR IMEDIATO. 
➢ CUIDADO! Na coação física irresistível, não há autoria mediata, mas autoria direta, pois o 
agente que realiza a ação não possui conduta, já que não há vontade. Nesse caso, aquele 
que pratica a coação física irresistível é autor direto, não mediato; 
➢ Admite-se a autoria mediata nos crimes próprios, mas não nos crimes de mão própria (há 
alguns doutrinadores que entendem ser possível). 
3.2 Participação 
Conforme estudamos, no Brasil adotou-se o conceito restritivo de autor, distinguindo-se 
autor e partícipe. Adotou-se, ainda, a teoria objetivo-formal, de forma que podemos definir a 
participação como a modalidade de concurso de pessoas na qual o agente colabora para a prática 
delituosa, mas não pratica a conduta descrita no núcleo do tipo penal. 
A participação pode ser: 
 Moral – É aquela na qual o agente não ajuda materialmente na prática do crime, mas instiga 
ou induz alguém a praticar o crime. A instigação ocorre quando o partícipe age no 
psicológico do autor do crime, reforçando a ideia criminosa, que já existe na mente deste. 
O induzimento, por sua vez, ocorre quando o partícipe faz surgir a vontade criminosa na 
mente do autor, que não tinha pensado no delito; 
 Material – A participação material é aquela na qual o partícipe presta auxílio ao autor, seja 
fornecendo objeto para a prática do crime, seja fornecendo auxílio para a fuga, etc. É 
também chamada de cumplicidade. Este auxílio não pode ser prestado após a consumação, 
salvo se o auxílio foi previamente ajustado. 
 Já que o partícipe não pratica a conduta descrita no núcleo do tipo penal, como puni-lo? 
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A punibilidade do partícipe não pode ser realizada diretamente pela descrição do fato 
típico. De fato, aquele que empresta uma arma para que alguém mate outra pessoa, não poderia 
responder por homicídio, pois o art. 121 do CP diz: “matar alguém”. Aquele que empresta a arma 
não está “matando”, por isso se diz que não há, aqui, adequação típica imediata. 
Contudo, a punibilidade do partícipe é possível porque há normas de extensão da 
adequação típica (no caso, o art. 29 do CP), que permitem a extensão do raio de aplicação do tipo 
penal para aqueles que, de alguma forma, tenham contribuído para o delito. Trata-se da chamada 
adequação típica mediata. 
Como a conduta do partícipe é considerada acessória em relação à conduta do autor (que 
é principal), o partícipe é punido em razão da teoria da acessoriedade19. Porém, existem quatro 
teorias da acessoriedade: 
• Teoria da acessoriedade mínima – Entende que a conduta principal deva ser um fato 
típico, não importando se é ou não um fato ilícito. EXEMPLO: Imagine que Marcio e 
João combinam de matar Paulo. Na data combinada para a execução, Marcio guia o 
carro até o local e fica esperando do lado de fora. João se dirige até Paulo e, após 
uma discussão, Paulo começa a agredir João, que na verdade mata Paulo em legítima 
defesa. João matou Paulo em legítima defesa e não emrazão do ajuste com Marcio 
(não tendo praticado fato ilícito, mas apenas típico), mas por esta teoria, mesmo 
assim Marcio responderia como partícipe do crime. Veja que João, de fato, matou 
Paulo. Contudo, o fato não é ilícito, pois João agiu em legítima defesa. Porém, para 
esta teoria, ainda que a conduta de João seja considerada apenas típica, mas não 
ilícita, Marcio deveria ser punido. O pior de tudo é que, neste caso, Márcio, que não 
praticou a conduta seria punido, mas João seria absolvido pela legítima defesa. 
• Teoria da acessoriedade limitada – Exige que o fato praticado (conduta principal) 
seja pelo menos uma conduta típica e ilícita. Assim, no exemplo dado acima, a 
conduta do partícipe Marcio não é punível, pois a conduta principal, apesar de típica, 
não é ilícita. Veja que, para esta corrente Doutrinária, se o fato praticado pelo autor 
NÃO FOR ILÍCITO (Ainda que seja um fato típico), em razão de legítima defesa, etc., 
o partícipe não deve ser punido. 
• Teoria da acessoriedade máxima – Para esta teoria, o partícipe só será punido se o 
fato for típico, ilícito e praticado por agente culpável. Essa teoria faz exigência 
irrazoável, pois a culpabilidade é uma questão pessoal do agente, não guardando 
relação com o fato. Assim, imagine que Carlos, maior de idade, seja partícipe de um 
 
19 A teoria da acessoriedade deriva de uma das teorias dos FUNDAMENTOS da punibilidade do partícipe, que 
é a TEORIA DO FAVORECIMENTO (ou da CAUSAÇÃO), que diz que o partícipe deve ser punido por ter 
coloborado para que o delito fosse realizado. Em contraposição a esta, havia a teoria da participação na 
culpabilidade, que defendia que o partícipe deveria ser punido apenas por exercer “influência negativa” sobre 
o autor. Esta última foi abandonada pela Doutrina há algumas décadas. 
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roubo praticado por Lucas, menor de idade. Para esta corrente, Carlos não poderia 
responder pelo roubo praticado (na qualidade de partícipe), pois Lucas (o autor 
principal) é inimputável (não tem culpabilidade), sendo o fato apenas típico e ilícito, 
sem o complemento da culpabilidade. 
• Teoria da hiperacessoriedade – Exige que, além de o fato ser típico e ilícito e o 
agente culpável, o autor tenha sido efetivamente punido para que o partícipe 
responda pelo crime. É ainda mais irrazoável que a última. Imagine que José seja 
partícipe de um roubo praticado por Marcelo. No decorrer do processo, Marcelo 
vem a falecer (o que gera a extinção da punibilidade de Marcelo, nos termos do CP). 
Para esta corrente, como houve extinção da punibilidade em relação a Marcelo (o 
autor do delito), o partícipe (José) não poderá mais ser punido. 
O Nosso CP não adotou expressamente nenhuma das quatro teorias, mas com certeza não 
adotou a teoria da acessoriedade mínima nem a teoria da hiperacessoriedade (as extremas). 
A Doutrina entende que a teoria que mais se amolda ao nosso sistema é a teoria da 
acessoriedade limitada20, exigindo que o fato seja somente típico e ilícito para que o partícipe 
responda pelo crime. 
 
Questões interessantes acerca da participação: 
➢ A lei admite a redução da pena de 1/6 a 1/3 se a participação é de menor importância (art. 
29, § 1° do CP). Isto não se aplica às hipóteses de coautoria, mas apenas à participação; 
➢ A Doutrina admite a participação nos crimes comissivos por omissão, quando o partícipe 
devia e podia evitar o resultado (art. 13, § 2° do CP). 
➢ A participação inócua não se pune. Assim, se A empresta uma faca a B, de forma a auxiliá-
lo a matar C, e B mata C usando seu revólver, a participação de A foi absolutamente inócua, 
pois em nada auxiliou no resultado. Da mesma forma, se A instiga B a matar C, e B realiza 
a conduta porque já estava determinado a isso, a instigação promovida por A não teve 
qualquer eficácia, pois B já mataria C de qualquer forma. 
➢ Participação em cadeia é possível: Assim, se A empresta uma arma a B, para que este a 
empreste a C, a fim de que este último mate D, tanto A quanto B são partícipes do crime, 
por prestarem auxílio material em cadeia. 
 
20 BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit.___, p. 565 
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➢ A participação em ação alheia ocorre quando o partícipe, sem qualquer liame subjetivo com 
o autor, contribui de maneira culposa para a prática do delito. Assim, o funcionário público 
que não tranca a porta da repartição ao final do expediente, e esta vem a ser furtada por 
um particular na madrugada, responde por peculato culposo (art. 312, § 2° do CP), 
enquanto o particular responde por furto. Não há concurso de pessoas pois falta o liame 
subjetivo entre ambos (coerência de vontades). 
4 Comunicabilidade das circunstâncias 
O art. 30 do CP estabelece que: 
Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, 
salvo quando elementares do crime. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 
11.7.1984) 
Antes de estudarmos a comunicabilidade ou não das circunstâncias, devemos diferenciar a 
mera circunstância da circunstância elementar do crime. 
A circunstância elementar é aquela que se refere a algo indispensável para a caracterização 
do crime. Assim, a circunstância “alguém” no crime de homicídio, é uma elementar, pois se o fato 
for praticado contra um animal, por exemplo, não haverá homicídio. 
Por sua vez, a mera circunstância não é indispensável à caracterização do crime, pois apenas 
agregam um fato que, se presente, aumenta ou diminui a pena. Assim, o “motivo torpe” é uma 
circunstância não-elementar, ou mera circunstância, pois caso o fato seja praticado sem essa 
circunstância, continua a existir homicídio, no entanto, sem a qualificadora. 
4.1 Espécies de elementares e de circunstâncias 
Podem ser subjetivas (de caráter pessoal), quando relativas à pessoa do agente. É o caso 
da condição de funcionário público, que é pessoal, pois se refere ao agente. 
Podem ser, ainda, objetivas (ou de caráter real), quando se referem ao fato criminoso em 
si, seu modus operandi, etc. Assim, o emprego de violência, no crime de roubo (art. 157 do CP) é 
uma elementar objetiva. 
As condições pessoais não se confundem com as circunstâncias ou elementares de caráter 
pessoal. As primeiras são fatores pessoais do agente, que independem da prática da infração 
penal. Assim, o fato de o agente ser menor de 21 anos é uma condição pessoal, e não uma 
circunstância de caráter pessoal, tampouco uma elementar. 
Com base nesses três institutos (elementares, circunstâncias e condições pessoais), 
podemos extrair três regras do CP: 
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✓ As circunstâncias e condições de caráter pessoal não se comunicam – Se A contrata 
B, para que este mate C, em razão deste último ter estuprado sua filha, A comete o 
crime de homicídio privilegiado, em razão do relevante valor moral (art. 121, § 1° do 
CP). Entretanto, B não comete o crime de homicídio privilegiado, pois a circunstância 
“relevante valor moral” é pessoal, não se estendendo ao coautor; 
✓ As circunstâncias de caráter real, ou objetivas, se comunicam – Porém, é necessário 
que a circunstância tenha entrado na esfera de conhecimento dos demais agentes. 
Imagine que A contrata B para matar C. B informa a A que usará de emboscada 
(portanto, homicídio qualificado, nos termos do art. 121, § 2° do CP), e A concorda 
com isto. Nesse caso, a circunstância objetiva “emboscada” (relativa ao meio 
utilizado), se comunica, pois embora A não tenha usado de emboscada, concordou 
com esta prática por B. Diversamente, se B praticasse o crime mediante emboscada 
sem nada comunicar ao mandante, A, esta circunstância não se comunicaria, por não 
ter entrado na esfera de conhecimento de A; 
✓ As elementares sempre se comunicam, sejam objetivasou subjetivas – No entanto, 
mais uma vez se exige que estas elementares tenham entrado no âmbito de 
conhecimento dos demais agentes. Imaginem que Júlio, servidor público, convida 
Marcelo a entrar na repartição onde trabalham, valendo-se da condição de Júlio, 
para subtrair alguns computadores. Caso Marcelo conheça a condição de funcionário 
público de Júlio, ambos respondem pelo crime de peculato-furto (art. 312, § 1° do 
CP). Caso Marcelo desconheça essa circunstância elementar, responde ele apenas 
pelo crime de furto, pois a ausência dessa circunstância faz desaparecer o crime de 
peculato-furto, mas a conduta ainda é punível como furto comum. 
5 Cooperação dolosamente distinta 
A cooperação dolosamente distinta, também chamada de “participação em crime menos 
grave” ou “desvio subjetivo de conduta”, ocorre quando ambos os agentes decidem praticar 
determinado crime, mas durante a execução, um deles decide praticar outro crime, mais grave. 
Nesse caso, aplica-se o art. 29, § 2° do CP: 
Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este 
cominadas, na medida de sua culpabilidade. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 
11.7.1984) 
(...) § 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-
lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese 
de ter sido previsível o resultado mais grave. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 
11.7.1984) 
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EXEMPLO: Imaginem que Camila e Herval combinam de realizar um furto a uma 
casa que imaginam estar vazia. Camila espera no carro enquanto Herval adentra à 
residência. Entretanto, ao chegar à residência, Herval se depara com dois 
seguranças, e troca tiros com ambos, levando-os a óbito (sinistro esse cara). Após, 
entra na casa e subtrai diversos bens. Volta ao carro e ambos fogem. 
Camila não quis participar de um latrocínio (que foi o que efetivamente ocorreu), mas 
apenas de um furto. Assim, segundo a primeira parte do § 2° do art. 29 do CP, responderá 
somente pelo furto. 
Entretanto, se ficar comprovado que Camila podia prever que o latrocínio era provável (se 
soubesse, por exemplo, que Herval estava armado e que havia a possibilidade de ter seguranças 
na casa), a pena do crime de furto (não a do latrocínio!!) será aumentada até a metade. 
A lei diz “até a metade”, logo, o aumento pode não chegar a esse patamar. O aumento de 
pena irá variar conforme o grau de previsibilidade do crime mais grave para o qual Camila não se 
predispôs, mas era previsível. 
 
CUIDADO MASTER! Existe uma questão muito controvertida no que se refere ao concurso de 
pessoas. É a possibilidade (ou não) de concurso de pessoas em crimes CULPOSOS. 
São muitas, MUITAS ideias diferentes. Cada autor inventa alguma coisa para vender seu livro, 
certo? Bom, resumidamente, podemos definir a Doutrina majoritária da seguinte forma: 
COAUTORIA EM CRIMES CULPOSO – É possível, pois é possível que duas pessoas, de comum 
acordo, resolvam praticar uma conduta imprudente, por exemplo. Ex.: Dois rapazes resolvem 
atirar um móvel do 10º andar de um prédio, sem intenção de atingir ninguém, mas acabam 
lesionando uma pessoa. 
PARTICIPAÇÃO EM CRIME CULPOSO – Depende. Podemos estar falando de participação 
DOLOSA ou participação CULPOSA. 
DOLOSA – Não cabe participação dolosa em crime culposo, pois a Doutrina entende que não há 
“unidade de vontades” entre os agentes (um quer o resultado a título de dolo, e o outro, executor, 
é apenas um descuidado). Assim, não há “vínculo subjetivo” entre eles no que tange ao resultado. 
Logo, cada um responde por sua conduta. 
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20 
CULPOSA – É possível, pois é possível que alguém, por culpa, induza, instigue ou preste auxílio 
ao executor de uma conduta também culposa, e haveria “unidade de vontades”. 
CUIDADO: O STJ entende que NÃO cabe nenhum tipo de participação em crime culposo. Parte 
da Doutrina também segue este entendimento. 
6 Multidão delinquente 
Também chamada de “multidão criminosa”21, são considerados pela doutrina como aqueles 
atos em que inúmeras (incontáveis, uma multidão) pessoas praticam o mesmo delito, agindo em 
concurso de pessoas, muitas vezes sem um acordo prévio, mas cada uma aderindo tacitamente à 
conduta da outra. Ex.: Linchamentos, brigas de torcidas organizadas, saques a lojas ou a carretas 
tombadas, etc. 
A Doutrina sustenta que, mesmo nestes casos, têm-se CONCURSO DE PESSOAS, pois há 
vínculo subjetivo entre estas pessoas, ainda que tácito (não explícito). O agente que praticar o 
delito nestas condições, porém, deverá ter sua pena atenuada, nos termos do art. 65, e do CP, já 
que se trata de situação em que há maior vulnerabilidade psicológica para que uma pessoa venha 
a aderir a uma conduta criminosa. Por outro lado, os que promoverem, organizarem ou liderarem 
a conduta criminosa terão suas penas agravadas (art. 62, I do CP). 
 CONCURSO DE CRIMES 
1 Conceito e natureza 
Assim como é plenamente possível que duas ou mais pessoas se unam para praticar 
determinado delito, é plenamente possível que de uma mesma conduta (ou de uma série de 
condutas interligadas) surjam vários crimes. 
O concurso de crimes pode ser de três espécies: concurso formal, concurso material e crime 
continuado. 
A exata caracterização de cada um dos institutos é bastante importante, pois isso 
influenciará na adoção do sistema de aplicação da pena. 
Três também são os sistemas de aplicação da pena: 
 
21 O termo “multidão criminosa” é utilizado, dentre outros, por René Ariel Dotti (cf. DOTTI, René Ariel. Curso 
de Direito Penal, Parte Geral. Ed. Revista dos Tribunais. 4º ed. São Paulo. 2012, p. 459) 
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21 
• Sistema do cúmulo material – Aqui, ao agente é aplicada a pena correspondente ao 
somatório das penas relativas a cada um dos crimes cometidos isoladamente. Foi 
adotado no que tange ao concurso material (art. 69 do CP), no concurso formal 
impróprio ou imperfeito (art. 70, caput, 2° parte) e no concurso de penas de multa 
(art. 72 do CP); 
• Sistema da exasperação – Aplica-se ao agente somente a pena da infração penal 
mais grave, acrescida de determinado percentual. Foi acolhido no que se refere ao 
concurso formal próprio ou perfeito (art. 70, caput, primeira parte, do CP) e ao crime 
continuado (art. 71 do CP); 
• Sistema da absorção – Aplica-se somente a pena da infração penal mais grave, dentre 
todas as praticadas, sem que haja qualquer aumento. Foi adotado 
(jurisprudencialmente) em relação aos crimes falimentares. 
2 Espécies 
2.1 Concurso material (ou real) de crimes 
Está regulado pelo art. 69 do CP: 
Art. 69 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois 
ou mais crimes, idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas 
de liberdade em que haja incorrido. No caso de aplicação cumulativa de penas de 
reclusão e de detenção, executa-se primeiro aquela. (Redação dada pela Lei nº 
7.209, de 11.7.1984) 
§ 1º - Na hipótese deste artigo, quando ao agente tiver sido aplicada pena 
privativa de liberdade, não suspensa, por um dos crimes, para os demais será 
incabível a substituição de que trata o art. 44 deste Código. (Redação dada pela 
Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
§ 2º - Quando forem aplicadas penas restritivas de direitos, o condenado cumprirá 
simultaneamente as que forem compatíveis entre si e sucessivamente as demais. 
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
Nesse fenômeno, o agente pratica duas ou mais condutas e produz dois ou mais resultados. 
Pode ser homogêneo, quando todos os crimes praticados são idênticos, ou heterogêneo, quando 
os crimes são diferentes. 
Esse cúmulo de penas deve ser aplicado pelo Juiz na hora da sentença, se os processostiverem sido reunidos por conexão, ou pelo Juiz da execução, caso tenham sido aplicadas as penas 
em processos diversos (nos termos do art. 66, III, a da LEP). 
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22 
Se for imposta pena de reclusão a um dos crimes e de detenção a outro, executa-se 
primeiramente a de reclusão, nos termos do art. 69, caput, segunda parte, do CP. 
Só será possível a aplicação de penas restritivas de direitos a um dos crimes se em relação 
aos outros foi aplicada pena também restritiva de direitos ou, em caso de ter sido aplicada pena 
privativa de liberdade, esta foi suspensa (é o chamado sursis), nos termos do art. 69, § 1° do CP. 
As penas restritivas de direitos podem ser cumpridas simultaneamente, desde que 
compatíveis. Assim, a pena de limitação de final de semana não pode ser cumprida 
simultaneamente com outra restritiva de direitos idêntica (limitação de final de semana), pois nesse 
caso o agente estaria cumprindo apenas uma das penas (e pagando as duas o malandro!). 
Entretanto, é plenamente possível o cumprimento simultâneo de pena restritiva de direitos 
consistente em prestação de serviços à comunidade e outra consistente em prestação pecuniária 
($$), pois isso não importa em prejuízo a ninguém (nem ao Estado nem ao infrator). 
Só é possível a suspensão condicional do processo (art. 89 da Lei 9.099/95) se o somatório 
das penas mínimas previstas para todos os crimes for inferior a um ano. Assim, se o acusado 
praticou dois crimes em concurso material, sendo a pena mínima de ambos estipulada em 03 
meses de detenção, é possível a suspensão condicional do processo. 
2.2 Concurso formal de crimes 
No concurso formal, ou ideal, o agente, mediante uma única conduta, pratica dois ou mais 
crimes, idênticos ou não. Nos termos do art. 70 do CP: 
Art. 70 - Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou 
mais crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se 
iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até 
metade. As penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão 
é dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnios autônomos, consoante o 
disposto no artigo anterior.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
Parágrafo único - Não poderá a pena exceder a que seria cabível pela regra do 
art. 69 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
Primeiramente, deve ser esclarecido a vocês que deve haver unidade de conduta e 
pluralidade de resultados. No entanto, a unidade de conduta não significa unidade de atos, pois 
existem condutas que podem ser fracionadas em diversos atos, como no caso de alguém que 
mata outra pessoa com diversas pauladas na cabeça. Embora neste caso haja diversos atos, há 
unidade de conduta. 
O concurso formal será homogêneo se todos os crimes cometidos mediante a conduta 
única forem idênticos, e será heterogêneo se os crimes praticados forem diversos. 
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23 
O concurso formal pode ser, ainda, perfeito ou imperfeito: 
• Concurso formal perfeito (próprio) – Aqui o agente pratica uma única conduta e 
acaba por produzir dois resultados, embora não pretendesse realizar ambos, ou seja, 
não há desígnios autônomos (intenção de, com uma única conduta, praticar 
dolosamente mais de um crime). Exemplo: Imaginem que Camila, dirigindo seu 
Bugatti pelas ruas de São Paulo, em altíssima velocidade, atropela, sem querer, um 
pedestre, que vem a óbito, e causa lesões graves em outro pedestre. Nesse caso, 
Camila responde pelos crimes de homicídio culposo e lesão corporal culposa em 
concurso formal, aplicando-se a ela a pena do homicídio culposo (mais grave) 
acrescida de 1/6 até a metade22; 
• Concurso formal imperfeito (impróprio) – Aqui o agente se vale de uma única 
conduta para, dolosamente, produzir mais de um crime. Imaginem que, no exemplo 
anterior, Camila desejasse matar o pedestre, antigo desafeto, bem como lesionar o 
outro pedestre (sua ex-sogra). Assim, com sua única conduta, Camila objetivou 
praticar ambos os crimes, respondendo por ambos em concurso formal imperfeito, 
e lhe será aplica a pena de ambos cumulativamente (sistema do cúmulo material), 
pois esse concurso formal é formal apenas no nome, já que deriva de intenções 
(desígnios) autônomas, nos termos do art. 70, segunda parte, do CP. 
2.3 Aplicação da pena no concurso formal 
Via de regra, no concurso formal o sistema utilizado é o da exasperação, utilizando-se como 
base a pena do crime mais grave, aumentada (exasperada) de 1/6 até a metade (art. 70, primeira 
parte, do CP). 
O quantum do aumento (entre 1/6 e metade da pena usada como base) será definido 
mediante a análise da quantidade de crimes praticados. Se praticados poucos crimes, aplica-se o 
aumento mínimo; se praticados diversos crimes mediante a única conduta, aplica-se o aumento 
em seu montante máximo. 
Trata-se, portanto, de uma fórmula de aplicação da pena que visa a beneficiar o réu, em 
razão do menor desvalor de sua conduta. 
Entretanto, se estivermos diante de concurso formal imperfeito (impróprio), aplica-se a 
regra estabelecida pelo art. 70, segunda parte, do CP, ou seja, o sistema do cúmulo material, pois 
 
22 É possível o reconhecimento de concurso formal próprio entre crimes dolosos, desde que seja possível 
compreender que houve uma única empreitada criminosa, ou seja, os crimes faziam parte de um único intento 
criminoso (ex.: José entra num ônibus e rouba o dinheiro relativo às passagens e também rouba o celular de um 
passageiro). Não há, aqui, crime único, ante a diversidade dos patrimônios lesados, devendo, no entendimento 
do STJ, ser reconhecido o concurso formal de crimes. 
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o agente se valeu de uma única conduta para praticar diversos crimes de maneira dolosa, agindo 
com intenções autônomas (desígnios autônomos). 
Há, ainda, a figura que se denominou de cúmulo material benéfico, que ocorre quando o 
sistema da exasperação se mostra prejudicial ao réu em relação ao sistema da cumulação. 
EXEMPLO: Imaginem que o agente tenha cometido homicídio doloso simples 
(pena de 06 a 20 anos) e tenha, culposamente, mediante a mesma conduta, 
lesionado levemente uma terceira pessoa, cometendo o crime de lesões corporais 
culposas em concurso formal com o homicídio (art. 129, § 6° do CP, pena de 02 
meses a um ano de detenção). 
Nesse exemplo acima, o sistema da exasperação é muito prejudicial ao réu. Imaginem que 
o infrator tenha sido condenado pelo crime de homicídio a 10 anos de reclusão (crime mais grave). 
Nesse caso, pelo sistema da exasperação, por ter havido concurso formal, essa pena deve ser 
aumentada de 1/6 até a metade. Logo, a pena dele variará de 11 anos e 08 meses a 15 anos de 
reclusão (pena base + 1/6 e pena base + metade). Pelo sistema do cúmulo material, como a pena 
de lesões culposas é bem pequena, a pena do agente variaria de 10 anos e dois meses a 11 anos 
de reclusão. Nesse caso, percebam, o sistema da exasperação é prejudicial ao réu. Assim, a lei 
estabelece que, nesse caso, ELE NÃO SE APLICA, aplicando-se o sistema do cúmulo material, pois 
o sistema da exasperação foi criado para beneficiar o réu e não pode ser aplicado quando resultar 
em prejuízo a ele. Nos termos do § único do art. 70 do CP: 
Art. 70 (...) Parágrafo único - Não poderá a pena exceder a que seria cabível pela 
regra do art. 69 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
2.4 Crime continuado 
Também conhecido como continuidade delitiva, é a espécie de concurso de crimes na qual 
o agente pratica diversas condutas, praticando dois ou mais crimes, que por determinadas 
condições são considerados pela Lei (por uma ficção jurídica) como crime único. Nos termosdo 
art. 71 do CP: 
Art. 71 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois 
ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de 
execução e outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como 
continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, 
ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois 
terços. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
Parágrafo único - Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com 
violência ou grave ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, 
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os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os 
motivos e as circunstâncias, aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, 
ou a mais grave, se diversas, até o triplo, observadas as regras do parágrafo único 
do art. 70 e do art. 75 deste Código.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 
11.7.1984) 
Duas teorias buscam explicar este instituto: 
 Teoria da ficção jurídica – Para esta teoria, a continuidade delitiva é uma ficção, pois, na 
verdade, existem diversos crimes, tendo a Lei considerado os diversos atos como apenas 
um crime, para fins de aplicação da pena. Esta teoria foi desenvolvida por Francesco 
Carrara; 
 Teoria da realidade, ou da unidade real – Para esta teoria, o crime continuado é, por sua 
própria natureza, um único delito, não havendo que se falar em ficção jurídica. 
O nosso CP adotou a teoria da ficção jurídica, pois a consideração dos diversos delitos 
como um único crime se dá apenas para fins de aplicação da pena, tanto que, no que tange à 
prescrição, eles são considerados crimes autônomos, nos termos do art. 119 do CP: 
Art. 119 - No caso de concurso de crimes, a extinção da punibilidade incidirá sobre 
a pena de cada um, isoladamente. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
2.5 Requisitos para a configuração do crime continuado 
A Doutrina entende serem três os requisitos do crime continuado: a) pluralidade de 
condutas; b) pluralidade de crimes da mesma espécie; e c) condições semelhantes de tempo, 
lugar, modo de execução e outras semelhanças. 
Há divergência doutrinária quanto à necessidade de haver ou não unidade de desígnio. 
A pluralidade de conduta decorre da redação do art. 71, que fala em “mediante mais de 
uma ação ou omissão”. 
A pluralidade de crimes causa polêmica. O que seriam crimes da mesma espécie? A 
Doutrina e a Jurisprudência não são pacíficas. Parte minoritária entende que crimes da mesma 
espécie são aqueles que tutelam o mesmo bem jurídico. Assim, para essa corrente, furto, 
estelionato, apropriação indébita, etc., seriam todos crimes da mesma espécie, pois seriam todos 
“crimes contra o patrimônio”. 
No entanto, a corrente que prevalece, inclusive no STJ, é a de que crimes da mesma espécie 
são aqueles tipificados pelo mesmo dispositivo legal, na forma simples, privilegiada ou qualificada, 
consumados ou tentados. Assim, seriam crimes da mesma espécie roubo e roubo qualificado. 
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Vejamos: 
(...) Não há continuidade delitiva porque os crimes de falsificação de documento 
público e falsidade ideológica não são da mesma espécie. 
(...) (AgRg no AREsp 311.775/SC, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, 
julgado em 27/05/2014, DJe 03/06/2014) 
Entretanto, essa corrente entende que, além de serem tratados no mesmo dispositivo legal, 
devem tutelar o mesmo bem jurídico. Assim, roubo simples (art. 157) e latrocínio (art. 157, § 3° do 
CP) não seriam crimes da mesma espécie, pois o latrocínio tutela, ainda, o direito à vida, e não 
somente o patrimônio. 
O STJ já solidificou este entendimento: 
(...) 1. Os crimes de roubo e latrocínio, apesar de serem do mesmo gênero, não 
são da mesma espécie. No crime de roubo, a conduta do agente ofende o 
patrimônio. No delito de latrocínio, ocorre lesão ao patrimônio e à vida da vítima, 
não havendo homogeneidade de execução na prática dos dois delitos, razão pela 
qual tem aplicabilidade a regra do concurso material. 
(...) (HC 186.575/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 
27/08/2013, DJe 04/09/2013) 
Por fim, a semelhança entre os delitos deve obedecer à conexão de quatro gêneros: 
temporal, espacial, modal e ocasional. 
A conexão temporal exige que os crimes tenham sido cometidos na mesma época. Mesma 
época não implica mesmo momento. A jurisprudência tem entendido que os crimes não podem 
ter sido cometidos em um lapso temporal superior a 30 dias. No entanto, no que se refere aos 
crimes contra a ordem tributária, o STF já entendeu que pode haver continuidade delitiva desde 
que os delitos tenham sido cometidos em lapso temporal não superior a 03 anos. 
A conexão espacial indica que, para que seja considerada continuidade delitiva, os crimes 
devem ser cometidos no mesmo local. A Jurisprudência entende que a conexão espacial só estará 
presente se os crimes forem cometidos na mesma cidade, ou, no máximo, na mesma região 
metropolitana. 
A conexão modal se verifica quando o agente pratica o crime sempre da mesma maneira, 
seja pelo modo de execução, pela utilização de comparsas, etc. 
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A conexão ocasional não possui previsão expressa na Lei, mas parte da Doutrina a entende 
como a necessidade de que os primeiros crimes tenham proporcionado uma ocasião que gerou a 
prática dos crimes subsequentes. 
 
Com relação à unidade de desígnios, ou seja, a necessidade de que todos os crimes praticados na 
verdade tenham sido partes de um único projeto criminoso, a Doutrina é dividida, mas a maioria 
da Doutrina, bem como a Jurisprudência, entendem ser necessária essa unidade de desígnios, de 
forma que a mera reunião dos demais requisitos não configura a continuidade delitiva se os crimes 
foram praticados de maneira isolada, sem nenhum vínculo entre eles. Isso significa que a maioria 
da Doutrina e a Jurisprudência adotam a teoria objetivo-subjetiva, desprezando a teoria objetiva 
pura, que não prevê a necessidade de unidade de desígnios. 
2.6 Aplicação da pena no crime continuado 
Existem três espécies de crime continuado: simples, qualificado e específico. Entretanto, 
em todos os casos se aplica o sistema da exasperação. 
No crime continuado simples, as penas dos delitos parcelares são as mesmas. Exemplo: 10 
furtos simples praticados em continuidade delitiva. Nesse caso, aplica-se a pena de apenas um 
deles, acrescida de 1/6 a 2/3 (varia conforme a quantidade de delitos). 
No crime continuado qualificado, as penas dos delitos praticados são diferentes, de modo 
que se aplica a pena do mais grave deles, aumentada de 1/6 a 2/3. 
Por fim, o crime continuado específico está previsto no § único do art. 71 do CP: 
Art. 71 (...) Parágrafo único - Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, 
cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando 
a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, 
bem como os motivos e as circunstâncias, aumentar a pena de um só dos crimes, 
se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o triplo, observadas as regras do 
parágrafo único do art. 70 e do art. 75 deste Código.(Redação dada pela Lei nº 
7.209, de 11.7.1984) 
Assim, nos crimes dolosos cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa, sendo as 
vítimas diferentes, poderá o Juiz aplicar a pena de um deles (ou a mais grave, se diversas), 
aumentada até o triplo. Vejam que se adotou o mesmo sistema da exasperação, entretanto, o § 
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único previu um quantum maior a ser acrescido à pena-base. A lei não estabelecea quantidade 
mínima nesse caso, mas a Jurisprudência, inclusive o STF, entende que o mínimo aqui também é 
de 1/6. 
Aqui também se aplica a regra do “concurso material benéfico”, ou seja, se o sistema da 
exasperação se mostrar mais gravoso, deverá ser aplicado o sistema do cúmulo material. 
2.7 Crime continuado e conflito de leis penais no tempo 
Se durante a execução do crime continuado sobrevir lei nova, mais gravosa ao réu, esta 
última é aplicada, pois se considera que o crime continuado está sendo praticado enquanto não 
cessa a continuidade delitiva. Assim, sendo o tempo do crime o momento em que cessa a 
continuidade, a lei nova chegou a vigorar antes de sua consumação, aplicando-se a este, por ser 
a lei vigente ao tempo do crime. 
Este entendimento está, inclusive, sumulado pelo STF: 
SÚMULA Nº 711 
A LEI PENAL MAIS GRAVE APLICA-SE AO CRIME CONTINUADO OU AO CRIME 
PERMANENTE, SE A SUA VIGÊNCIA É ANTERIOR À CESSAÇÃO DA 
CONTINUIDADE OU DA PERMANÊNCIA. 
2.8 Crime continuado e prescrição 
Nos crimes continuados, por haver mera ficção jurídica de crime único, apenas para fins de 
aplicação da pena, a prescrição é calculada em relação a cada crime isoladamente. 
Entretanto, para o cálculo da prescrição RETROATIVA (a que leva em consideração a pena 
“em concreto”), leva-se em conta a pena mínima estabelecida para a pena-base, desprezando-se 
o acréscimo que seria aplicado em decorrência da continuidade delitiva. 
EXEMPLO: Se há dois furtos qualificados praticados em continuidade delitiva 
(penas mínimas de dois anos), tendo a sentença aplicado a pena mínima, por 
exemplo (02 anos), acrescida de determinado percentual decorrente da 
continuidade delitiva (1/4), a prescrição é calculada tendo por base a pena 
aplicada, mas sem computar o acréscimo decorrente da continuidade delitiva 
(apenas 02 anos, e não 02 anos + ¼, que seria 02 anos e 06 meses). 
Para termos uma ideia de como isso influencia a prescrição, se utilizássemos os 
“dois anos e seis meses” como base para o cálculo da prescrição retroativa, ela 
ocorreria em 08 anos, por força do art. 109, IV do CP. 
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Como devemos considerar a pena aplicada, sem o acréscimo (02 anos), a 
prescrição retroativa terá o prazo de 04 anos, por força do art. 109, V do CP. 
Esta previsão consta do verbete n° 497 da súmula do STF: 
SÚMULA Nº 497 
QUANDO SE TRATAR DE CRIME CONTINUADO, A PRESCRIÇÃO REGULA-SE 
PELA PENA IMPOSTA NA SENTENÇA, NÃO SE COMPUTANDO O ACRÉSCIMO 
DECORRENTE DA CONTINUAÇÃO. 
2.9 Aplicação da pena de multa no concurso de crimes 
Assim prevê o art. 72 do CP: 
Art. 72 - No concurso de crimes, as penas de multa são aplicadas distinta e 
integralmente. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
Assim, o art. 72 do CP prevê a aplicação do sistema do cúmulo material no que tange às 
penas de multa. Essa aplicação é inquestionável no concurso material e no concurso formal. 
No entanto, no que se refere ao crime continuado, há forte divergência. 
A primeira corrente (amplamente majoritária na Doutrina) entende que esta regra também 
se aplica ao crime continuado, por não ter a Lei feito qualquer distinção. 
A segunda corrente (majoritária na Jurisprudência, inclusive no STJ), entende que, nesse 
caso, não se aplica a regra do art. 72, por ter a lei entendido que se trata de crime único, mediante 
ficção jurídica. 
 DISPOSITIVOS LEGAIS IMPORTANTES 
 
CÓDIGO PENAL 
 Arts. 29 a 31 do CP – Regulamentam o concurso de agentes no Código Penal: 
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Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este 
cominadas, na medida de sua culpabilidade. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 
11.7.1984) 
§ 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de 
um sexto a um terço. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
§ 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á 
aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter 
sido previsível o resultado mais grave. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 
11.7.1984) 
Circunstâncias incomunicáveis 
Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, 
salvo quando elementares do crime. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 
11.7.1984) 
Casos de impunibilidade 
Art. 31 - O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição 
expressa em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser 
tentado. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
 Arts. 69 a 72 do CP – Regulamentam o concurso de crimes no Código Penal: 
Concurso material 
Art. 69 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois 
ou mais crimes, idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas 
de liberdade em que haja incorrido. No caso de aplicação cumulativa de penas de 
reclusão e de detenção, executa-se primeiro aquela. (Redação dada pela Lei nº 
7.209, de 11.7.1984) 
§ 1º - Na hipótese deste artigo, quando ao agente tiver sido aplicada pena 
privativa de liberdade, não suspensa, por um dos crimes, para os demais será 
incabível a substituição de que trata o art. 44 deste Código. (Redação dada pela 
Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
§ 2º - Quando forem aplicadas penas restritivas de direitos, o condenado cumprirá 
simultaneamente as que forem compatíveis entre si e sucessivamente as demais. 
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
Concurso formal 
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Art. 70 - Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou 
mais crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se 
iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até 
metade. As penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão 
é dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnios autônomos, consoante o 
disposto no artigo anterior. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
Parágrafo único - Não poderá a pena exceder a que seria cabível pela regra do 
art. 69 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
Crime continuado 
Art. 71 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois 
ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de 
execução e outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como 
continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, 
ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois 
terços. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
Parágrafo único - Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com 
violência ou grave ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, 
os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os 
motivos e as circunstâncias, aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, 
ou a mais grave, se diversas, até o triplo, observadas as regras do parágrafo único 
do art. 70 e do art. 75 deste Código.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 
11.7.1984) 
Multas no concurso de crimes 
Art. 72 - No concurso de crimes, as penas de multa são aplicadas distinta e 
integralmente. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
 Art. 119 do CP – Trata da prescrição na hipótese de concurso de crimes: 
Art. 119 - No caso de concurso de crimes, a extinção da punibilidade incidirá sobre 
a pena de cada um, isoladamente. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
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 SÚMULAS PERTINENTES 
1 - Súmulas do STF 
 Súmula 711 do STF – Trata da solução ao conflito aparente de leis penais no tempo,no que 
tange aos crimes continuados e permanentes: 
SÚMULA Nº 711 
A LEI PENAL MAIS GRAVE APLICA-SE AO CRIME CONTINUADO OU AO CRIME 
PERMANENTE, SE A SUA VIGÊNCIA É ANTERIOR À CESSAÇÃO DA 
CONTINUIDADE OU DA PERMANÊNCIA. 
 Súmula 497 do STF – Trata do cálculo do prazo prescricional relativamente ao crime continuado, 
desprezando-se o acréscimo de pena decorrente da continuidade delitiva: 
SÚMULA Nº 497 
QUANDO SE TRATAR DE CRIME CONTINUADO, A PRESCRIÇÃO REGULA-SE 
PELA PENA IMPOSTA NA SENTENÇA, NÃO SE COMPUTANDO O ACRÉSCIMO 
DECORRENTE DA CONTINUAÇÃO. 
 Súmula 723 do STF – Trata da forma de cálculo da pena mínima para fins de cabimento da 
suspensão condicional do processo em relação ao crime continuado. Deve ser considerada a pena 
da infração mais grave, acrescida do aumento 1/6 (aumento mínimo decorrente da continuidade 
delitiva): 
Súmula 723 
“Não se admite a suspensão condicional do processo por crime continuado, se a 
soma da pena mínima da infração mais grave com o aumento mínimo de um sexto 
for superior a um ano.” 
2 - Súmulas do STJ 
 Súmula 243 do STJ – Seguindo a mesma linha da súmula 723 do STF, só que com uma 
abrangência maior, esta súmula trata da forma de cálculo da pena mínima para fins de cabimento 
da suspensão condicional do processo em relação ao concurso de crimes em geral (crime 
continuado, concurso formal e concurso material). Não será cabível o benefício da suspensão 
condicional do processo (art. 89 da Lei 9.099/95) quando a pena mínima, já com o acréscimo 
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decorrente da majoração (concurso formal ou crime continuado) ou do somatório (concurso 
material), ultrapassar um ano: 
Súmula 243 do STJ 
“O benefício da suspensão do processo não é aplicável em relação às infrações 
penais cometidas em concurso material, concurso formal ou continuidade delitiva, 
quando a pena mínima cominada, seja pelo somatório, seja pela incidência da 
majorante, ultrapassar o limite de um (01) ano”. 
 JURISPRUDÊNCIA CORRELATA 
 STJ - RESP 1306731/RJ – O STJ firmou entendimento no sentido de que não se pode condenar 
um dos comparsas por homicídio culposo e outro por homicídio doloso, quando reconhecida a 
ocorrência de concurso de agentes. Isso porque o concurso de pessoas, dada a adoção da teoria 
monista, pressupõe a unidade de infrações penais, objetiva e subjetivamente, ou seja, todos 
devem responder pelo mesmo delito, e sob o mesmo elemento subjetivo (dolo ou culpa): 
(...) 3. Tratando-se de crime praticado em concurso de pessoas, o nosso Código 
Penal, inspirado na legislação italiana, adotou, como regra, a Teoria Monista ou 
Unitária, ou seja, havendo pluralidade de agentes, com diversidade de condutas, 
mas provocando um só resultado, existe um só delito. 
4. Assim, denunciados em coautoria delitiva, e não sendo as hipóteses de 
participação de menor importância ou cooperação dolosamente distinta, ambos 
os réus teriam que receber rigorosamente a mesma condenação, objetiva e 
subjetivamente, seja por crime doloso, seja por crime culposo, não sendo possível 
cindir o delito no tocante à homogeneidade do elemento subjetivo, requisito do 
concurso de pessoas, sob pena de violação à teoria monista, razão pela qual 
mostra-se evidente o constrangimento ilegal perpetrado. 
5. Diante da formação da coisa julgada em relação ao corréu e considerando a 
necessidade de aplicação da mesma solução jurídica para o recorrente, em 
obediência à teoria monista, o princípio da soberania dos veredictos deve, no caso 
concreto, ser aplicado justamente para preservar a decisão do Tribunal do Júri já 
transitada em julgado, não havendo, portanto, a necessidade de submissão do 
recorrente a novo julgamento. 
(...) 
(REsp 1306731/RJ, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, QUINTA TURMA, 
julgado em 22/10/2013, DJe 04/11/2013) 
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 STJ - HC 235.827/SP – O STJ firmou entendimento no sentido de é cabível a coautoria em 
crimes culposos, embora não seja cabível a participação: 
(...) 2. A doutrina majoritária admite a coautoria em crime culposo. Para tanto, 
devem ser preenchidos os requisitos do concurso de agentes: a) pluralidade de 
agentes, b) relevância causal das várias condutas, c) liame subjetivo entre os 
agentes e d) identidade de infração penal. In casu, a conduta do pai não teve 
relevância causal direta para o homicídio culposo na direção de veículo automotor. 
Outrossim, não ficou demonstrado o liame subjetivo entre pai e filho no que 
concerne à imprudência na direção do automóvel, não podendo, por conseguinte, 
atribuir-se a pai e filho a mesma infração penal praticada pelo filho. 
3. Não há qualquer elemento nos autos que demonstre que o pai efetivamente 
autorizou o filho a pegar as chaves do carro na data dos fatos, ou seja, tem-se 
apenas ilações e presunções, destituídas de lastro fático e probatório. Ademais, o 
crime culposo, ainda que praticado em coautoria, exige dos agentes a 
previsibilidade do resultado. Portanto, não sendo possível, de plano, atestar a 
conduta do pai de autorizar a saída do filho com o carro, muito menos se pode a 
ele atribuir a previsibilidade do acidente de trânsito causado. 
4. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de ofício, ratificando-se em 
parte a liminar, apenas para restabelecer a sentença absolutória, no que concerne 
ao delito do art. 302, c/c o art. 298, inciso I, do Código de Trânsito Brasileiro. 
(HC 235.827/SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, QUINTA TURMA, 
julgado em 03/09/2013, DJe 18/09/2013) 
 STJ - RESP 1582601/DF – O STJ firmou entendimento quanto aos parâmetros para fixação do 
aumento decorrente da continuidade delitiva, devendo ser considerada a quantidade de infrações 
penais praticadas: 
1. Relativamente à exasperação da reprimenda procedida em razão do crime 
continuado, é imperioso salientar que esta Corte Superior de Justiça possui o 
entendimento consolidado de que, cuidando-se aumento de pena referente 
à continuidade delitiva, aplica-se a fração de aumento de 1/6 pela prática de 2 
infrações; 1/5, para 3 infrações; 1/4, para 4 infrações; 1/3, para 5 infrações; 1/2, 
para 6 infrações e 2/3, para 7 ou mais infrações. 
(...) 
(REsp 1582601/DF, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, 
julgado em 26/04/2016, DJe 02/05/2016) 
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 STJ - RESP 1028062/RS – O STJ firmou entendimento no sentido de que, para a caracterização 
da continuidade delitiva, não bastam os elementos de natureza objetiva (conexão espacial, 
temporal, etc.), sendo necessário também que esteja presente o requisito de ordem subjetiva, 
consistente na existência de vínculo subjetivo entre as condutas delituosas, ou seja, que o agente 
tenha praticado os crimes na consciência de que se tratava de uma única empreitada criminosa 
(ainda que desdobrada em vários atos criminosos): 
(...) 7. O Superior Tribunal de Justiça entende que, para a caracterização da 
continuidade delitiva (art. 71 do Código Penal), é necessário que estejam 
preenchidos, cumulativamente, os requisitos de ordem objetiva (pluralidade de 
ações, mesmas condições de tempo, lugar e modo de execução) e o de ordem 
subjetiva, assim entendido como a unidade de desígnios ou o vínculo subjetivo 
havido entre os eventos delituosos. 
(...) (REsp 1028062/RS, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, 
julgado em 02/02/2016, DJe 23/02/2016) 
 STJ - RESP 1287277/MT – O STJ firmou entendimento no sentido de que o fato de os delitos 
terem sido praticados contra vítimas diferentes não afasta a possibilidade de reconhecimento da 
continuidade delitiva: 
2. O fato de os crimes terem sido praticados contra vítimas diversas não impede 
o reconhecimento do crime continuado, notadamente