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INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR III 1 Instrumentação Médico-Hospitalar III INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR III 2 1. EQUIPAMENTOS BIOMÉDICOS EM LABORATÓRIOS 1.1 Introdução à fotometria O princípio físico da fotometria é a base do funcionamento de diversos equipamentos biomédicos utilizados rotineiramente em laboratórios dentro das unidades de saúde, tais como: fotocolorímetro, fotômetro de chama, espectrofotômetro e analisador bioquímico automático. Figura 1.1. Princípio físico-óptico da medição por fotometria. A ilustração apresentada na figura 1.1 diagrama um experimento em que a solução de concentração C é colocada em uma cuba de comprimento L, a qual é transpassada por uma luz de intensidade I0 e de comprimento de onda determinado pelo filtro F. Nesse caso, parte da luz é absorvida pela solução, e parte atravessa com intensidade I1, menor que I0. A relação entre essas intensidades é expressa pela transmitância T, que representa o percentual da luz que foi transmitido através da solução de concentração C. eq. (1.1) No caso de se colocar uma segunda cuba, similar à primeira, no caminho da luz filtrada, conforme apresentado na Figura 1.1, a intensidade de saída I2 poderá ser expressa da seguinte forma: INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR III 3 eq. (1.2) A equação (1.2) demonstra que a luz transmitida através de sucessivas cubas diminui de maneira multiplicativa, e por esse motivo é analiticamente mais fácil expressar a transmitância de modo logaritmo, ou seja, a absorbância: A. ou eq. (1.3) Nessa formatação, pode-se deduzir que a absorbância total das duas cubas em série será a soma das absorbâncias. A absorbância também é representada na equação (1.4) pela Lei de Beer: eq. (1.4) em que: L = Comprimento da cuba. C = Concentração da solução. a = Absorvidade, fator dependente do comprimento de onda da luz em relação à substância. O fator absorvidade é obtido medindo-se a absorbância de uma solução de concentração conhecida e denominada PADRÃO. A absorbância da solução padrão é denominada Ap; a absorbância da solução desconhecida, Ad. A concentração da solução padrão, Cp; a concentração da solução desconhecida, Cd. Aplica-se, então, a seguinte equação: INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR III 4 eq. (1.5) 1.2 Fotocolorímetros Esse equipamento biomédico (EB) visa a determinar a dosagem de determinadas substâncias presentes em líquidos orgânicos, tais como: sangue, urina, líquor, secreções patológicas etc. Internamente, para o seu funcionamento, utiliza filtros que permitem a passagem de um selecionado comprimento de onda em função da substância a ser analisada. A medição da intensidade luminosa na saída permite a inferência do valor da concentração da substância em análise. Esses EBs (ex. de modelo comercial na Figura 1.2) não têm a capacidade de medir as dosagens de todas as substâncias, pois operam com comprimento de onda fixo em função do filtro utilizado. Figura 1.2. Exemplo de modelo comercial de fotocolorímetro. Figura 1.3. Exmplo de um diagrama esquemático de um fotocolorímetro. INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR III 5 Observa-se na figura 1.3 que a luz gerada pela lâmpada passa por lentes convergentes e atravessa o filtro F, onde seleciona específico comprimento de onda para a análise. Em seguida, a luz filtrada incide em duas células fotoelétricas: Cr, célula de referência, e Ca, célula da amostra. Se não houvesse a amostra de análise (A), a saída de ambas as células seria a mesma. Quando a amostra é colocada, a saída da célula Ca se reduz, e o potenciômetro, P, é ajustado até o galvanômetro, G, voltar ao estado balanceado (em zero). Os equipamentos podem ser calibrados para apresentar os resultados em unidade de transmitância de 0 a 100%, ou absorbância de 2 a 0. 1.3 Fotômetro de chama Esses EBs são construídos visando a medir a dosagem de íons, principalmente do Na (sódio), do K (potássio), do Li (lítio) e do Ca (cálcio), sendo os dois primeiros mais solicitados. A chama do aparelho, normalmente sem cor, aparece amarela ou violeta quando existe, respectivamente, sódio ou potássio na solução em estudo (Figura 1.5). A Figura 1.4 apresenta um diagrama em blocos de um fotômetro de chama, em que se observa que a amostra é aspirada, em função da passagem de ar pressurizado (princípio de Venturi), para dentro do atomizador que pulveriza a amostra na chama, forçando a mudança da cor, dependendo do tipo e da concentração da substância. Analogamente ao fotocolorímetro, a intensidade luminosa resultante da queima da solução (chama) atravessa um filtro (Fa) de comprimento de onda específico, dependente do íon a ser dosado, sensibilizando a célula fotoelétrica, Ca. A saída da célula, Ca, é finalmente comparada com a saída da célula de referência, Cr, e, através do potenciômetro P, consegue-se balancear o galvanômetro, G. Os valores podem ser dados, em função de calibração prévia, em sódio ou potássio, lidos diretamente no potenciômetro ou em displayers, conforme apresentado na Figura 1.4. INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR III 6 Figura 1.4. Diagrama esquemático de um fotômetro de chama. Figura 1.5. Ilustração de um exemplo de modelo comercial. 1.4 Espectrofotômetro Os espectrofotômetros são EBs que visam à análise de componentes bioquímicos de amostras dos líquidos orgânicos. Os componentes analisados seriam destas substâncias: glicose, colesterol, ureia, creatinina, entre outras. Ou podem ser analisadas enzimas, tais como transaminase, amilase etc. Utilizam o mesmo princípio de fotometria do fotocolorímetro, entretanto têm aplicação mais ampla, pois possuem grades de difração ou prismas que decompõem a luz em uma ampla faixa espectral (Figura 1.6). INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR III 7 Figura 1.6. Diagrama básico do princípio de um espectrofotômetro. A Figura 1.7 (b) apresenta um possível diagrama em blocos para um espectrofotômetro. Nesse diagrama, observa-se que uma fonte de luz branca (F) atravessa uma pequena fenda (I1), se reflete no espelho (L) e incide na grade de difração (M) que decompõe a luz em seus vários comprimentos de onda. Essa luz decomposta reflete no espelho (L), e apenas um determinado comprimento atravessa a fenda (I2). Esse comprimento determinado depende da posição da grade de difração e é escolhido de acordo com a solução a ser analisada. Essa energia luminosa monocromática atravessa a solução de concentração (A) e incide no sensor-fototubo (S), que a transforma em energia elétrica amplificada e registrada em (D). A Figura 1.7 (a) apresenta um espectrofotômetro que utiliza um prisma para realizar a decomposição da luz em vez de uma grade difração. (a) (b) INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR III 8 Figura 1.7. (a) Diagrama de espectrofotômetros considerando a medição diferencial com referência. Nesse caso, a decomposição da luz usa um prisma, enquanto em (b) é utilizada uma grade de difração. 1.5 Analisador bioquímico automático (auto-analyser) Nos casos em que se deseja medir a concentração de diferentes substâncias em uma mesma amostra, o processo torna-se demorado, pois a análise é individualizada. Em um processo de análise de diversasamostras, fato comum em laboratório, a morosidade é ainda maior. No sentido de agilização do processo analítico, surge a proposição de automatização dos testes bioquímicos. A maioria dos testes é repetitiva, pois eles consistem basicamente de etapas simples e sucessivas de pipetar, diluir e titular. Cabe ressaltar que a mistura, a reação e a determinação colorimétrica não são feitas de modo individual, mas sequencialmente e de modo contínuo. A Figura 1.9 apresenta exemplo de modelo comercial do EB analisador bioquímico automático. Figura 1.9. Exemplo de modelo comercial de analisador bioquímico automático. INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR III 9 1.6 Centrífugas e microcentrífugas Entre os procedimentos executados em laboratórios de patologia clínica, há a necessidade de realizar a separação da parte sólida (soluto) da líquida (solvente) dos vários componentes orgânicos. A execução desse procedimento é realizado pelos equipamentos denominados centrífugas. A diferença entre os pesos existentes das moléculas do solvente e as partículas do soluto promove a separação quando eles são submetidos a uma força centrífuga. Para o exame completo de alguns compostos orgânicos, por exemplo, a urina, é necessário o estudo do soluto, quando se conhece a composição do sedimento, e a análise do solvente, quando reações bioquímicas são provocadas para se quantificar a existência de proteínas, glicídios e outros. Os equipamentos biomédicos denominados microcentrífugas têm o objetivo de efetivar a separação do sangue em plasma e elementos figurados. Essa separação visa a esvaecer o percentual dos elementos figurados (ou hematócritos) em relação ao total. Para o procedimento desse exame, a amostra de sangue é colocada em um tubo de vidro, de diâmetro bastante pequeno, chamado capilar, e em seguida submetida à centrifugação. Ao final do procedimento de centrifugação ficam caracterizadas, no capilar, duas camadas distintas, sendo a primeira, o sobrenadante, de coloração amarelada e translúcida, constituindo o plasma, e a segunda, o sedimento, de coloração vermelha, onde encontram-se as hemácias (Figura 1.9.1). Figura 1.9.1. Procedimento de análise de Hematócritos. INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR III 10 Figura 1.9.2. Microcentrífuga de hematócrito mais simples e centrífuga mais moderna. As centrífugas devem ter velocidade e tempo de centrifugação ajustáveis, pois os líquidos orgânicos têm diferentes capacidades de precipitação. Portanto, a maioria dos modelos disponíveis no mercado (Figura 1.9.2) possuem esses controles de velocidade e de tempo. As microcentrífugas, em geral, empregam motores do tipo universal, pois são de fácil controle de velocidade, como diagramado na Figura 1.9.3. Esses motores possuem comutador laminado e escovas, e, para controle da velocidade, são utilizados, geralmente, uma chave seletora ligada à bobina de campo (b) ou ligada a um resistor série (a) (Figura 1.9.3). Há a possiblidade de o controle ser realizado por circuitos eletrônicos controladores de potência (dimmer), que realizam a mesma função (Figura 1.9.3.(c)). As centrífugas tecnologicamente mais modernas possuem temporizadores, mecânicos ou eletrônicos, que controlam o tempo de rotação, assim como tacômetros para medir a velocidade efetiva de centrifugação, sejam eles eletrônicos, ópticos ou mecânicos. Figura 1.9.3. Circuitos para controle de velocidade de centrífugas. Topologias: (a) Resistor série; (b) Campo com derivação; (c) Controle de potência eletrônico. INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR III 11 1.7 Aparelho de gasometria Os equipamentos biomédicos denominados aparelhos de gasometria visam a realizar a análise da concentração de gases e íons ácidos e básicos diluídos no sangue, resultantes dos processos metabólicos. Esses EBs também são chamados de analisadores de pH e gases sanguíneos, sendo utilizados dentro das unidades hospitalares nos seguintes setores: laboratório de análises clínicas, unidades de tratamento intensivo e centro cirúrgico, em alguns procedimentos de grande porte. 1.9.4. Exemplo de aparelho de gasometria comercial. Preferencialmente, a amostra de sangue que será analisada é colhida de uma artéria do paciente e inserida, por aspiração, no EB, onde eletrodos específicos medem a pressão parcial de oxigênio (P02), de gás carbônico (pC02) e de pH. Outros parâmetros são posteriormente calculados, tais como: bicarbonato total, excesso de base, bicarbonato "standard" etc. O funcionamento desse EB está baseado fundamentalmente nos eletrodos químicos (eletrodos) expostos no conteúdo da disciplina “Instrumentação Médico-Hospitalar 1”, em que foram discutidos os transdutores e sensores biomédicos. 1.8 Contador de células Entre os líquidos orgânicos, sem dúvida, o sangue é o mais analisado, principalmente em seus componentes celulares. A contagem numérica dos leucócitos e das hemácias configura-se um importante parâmetro grandemente utilizado pelos profissionais da saúde. A execução desse exame de forma manual implica em procedimento demorado na sua realização. Por esse motivo, há uma forte demanda pela automação do INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR III 12 procedimento. Dessa forma automatizada, é possível realizar a análise de grande número de amostras em curto espaço de tempo. a. Processo de contagem manual de células O procedimento de contagem manual de células faz uso de um microscópio ótico, uma lâmina especial com uma malha quadriculada de tamanho conhecido e o próprio contador de células manual (Figura 1.9.5). Há a necessidade de diluição do sangue para realização da análise nas seguintes proporções: 1:100 ou 1:200 para contagem de hemácias e 1:10 ou 1:20 para os leucócitos. Em uma lâmina especial, é colocado o sangue diluído; com o auxílio do microscópio (ou lupa – Figura 1.9.5), observa-se o número de células dentro de cada quadrado padrão (área conhecida) e se obtém a quantidade. Figura 1.9.5. Exemplos de modelos comerciais de contadores de células manuais. Em função de esse método ser muito demorado e consumir muito tempo de análise, é indicado apenas na contagem dos subgrupos dos leucócitos. b. Processo de contagem manual de células Há a possibilidade de realizar o processo de contagem simples de células vermelhas e/ou brancas utilizando-se um contador de células automático ou semiautomático (Figura 1.9.6). O método de medição é baseado na condutividade elétrica do sangue, pois elas possuem menor condutividade em relação ao plasma, que seria o meio onde estão imersas (Figura 1.9.7). INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR III 13 Figura 1.9.6. Exemplo de modelo comercial de contador automático de células. A Figura 1.9.7 apresenta uma diagramação do princípio de funcionamento do equipamento. O sangue diluído dentro de um tubo "Beaker” é colocado envolvendo outro tubo de vidro que possui um pequeno orifício (1). Dois eletrodos (2), colocados em cada solução, medem a condutância entre a solução dos dois tubos. Essa medição é dependente do diâmetro do orifício (1). O tubo de vidro é conectado a uma bomba de sucção através de um tubo em U contendo mercúrio (5). O sangue diluído atravessa o orifício (1) em função da pressão negativa gerada pela bomba, o que produz um sinal/pulso de condutância proporcional ao número de células que atravessam o orifício (1). Em seguida, o valor do sinal/pulso da condutância é amplificado,e um circuito eletrônico de detecção de nível seleciona os pulsos a serem contados durante o intervalo de tempo da passagem do mercúrio pelo contato (3) até o contador (4). Esse tempo de transição do mercúrio caracteriza o volume da solução que atravessou o orifício. É procedimento rápido que tem duração aproximada de menos de 20 segundos. Figura 1.9.7. Diagrama esquemático do contador de células automático. INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR III 14 1.9 Microscópio O equipamento microscópio (Figura 1.9.8) é um instrumento que visa à observação de pequenas estruturas, que não podem ser identificadas a “olho nu”, e utiliza o princípio da transiluminação. Inicialmente foram os chamados microscópios ópticos, mas, posteriormente, foram se sofisticando, proporcionando a observação de estruturas cada vez menores, com maior resolução e exatidão. A evolução tecnológica proporcionou o surgimento do microscópio de contraste de fase, de polarização, eletrônico e, finalmente, de tunelamento. Figura 1.9.8. Exemplo de microscópio óptico utilizado em procedimento de contagem manual de células. O microscópio óptico pode ser dividido em duas partes: mecânica e a óptica. A parte mecânica é constituída por um botão de ajuste, chamado macro-micro, que aproxima ou afasta o canhão, focalizando a imagem e uma mesa chamada "charriot", onde é colocada a lâmina a ser analisada. Por sua vez, a mesa possui dois botões que realizam o movimento, em dois sentidos, da lâmina, permitindo a varredura completa do material a ser analisado. Em relação à parte óptica, pode-se subdividi-la em três sistemas de lentes: o condensador, a objetiva e a ocular. O condensador é o responsável pela projeção de um cone de luz sobre o que está sendo observado a partir de uma fonte luminosa e um espelho. O condensador não influi no aumento da imagem, mas atua na sua nitidez e riqueza de detalhes, pois age sobre o limite de resolução do sistema, ou seja, a capacidade de separar detalhes, visualmente, entre dois pontos, de forma a aparecerem individualizados. Depende essencialmente das objetivas: pode-se afirmar INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR III 15 que o limite de resolução das melhores lentes nos microscópios comuns é de 0,2 μm. A objetiva projeta a imagem aumentada do objeto em estudo em direção à ocular, que novamente amplia a imagem e a projeta sobre um anteparo (retina, tela, chapa fotográfica, CCD etc.). O aumento total obtido é o resultado da multiplicação do aumento formado pela objetiva e pela ocular. Os microscópios binoculares possuem um prisma, que é colocado após as objetivas, para refletir a imagem nas duas oculares. 2. EQUIPAMENTOS BIOMÉDICOS EM LABORATÓRIOS Equipamentos biomédicos com finalidades de apoio dentro de uma unidade hospitalar. Esses equipamentos caracterizam-se por não terem contato direto com os pacientes, entretanto eles têm muita importância no encadeamento de ações para garantir sua saúde e bem-estar. 2.1 Estufas de esterilização, estufas de cultira a banho-maria 2.1.1 Estufas As estufas são equipamentos que têm a capacidade de aquecimento e manutenção do calor em compartimentos interno. Esses equipamentos visam a acumular e conter o calor no seu interior, ou seja, a temperatura no interior deve ser maior que a externa. Usualmente são compostas de uma caixa e uma fonte de calor interno. No caso de cultivo de microrganismos, são utilizadas as estufas de cultura (Figura 2.1) com a finalidade de identificação dos micróbios. Diversos são materiais orgânicos que podem ser analisados, tais como sangue, urina, escarro e outros. Esses materiais são colocados em um meio adequado à sobrevivência dos microrganismos e simultaneamente mantidos, por períodos variáveis, a uma temperatura constante menor que ~ 37º C. Essas condições têm de garantir a multiplicação desses germes e, assim, facilitar a identificação e/ou análise exata deles. INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR III 16 Figura 2.1. Exemplo de modelo comercial de estufa de cultura. Por outro lado, no caso de assepsia de material utilizado em procedimentos médico- odontológicos, são utilizadas as estufas de esterilização (Figura 2.2). Em função das características dos materiais de constituição de alguns aparelhos ou instrumentos, o processo de esterilização indicado será a submissão ao calor seco, visando à completa eliminação de microrganismos, ou seja, estéreis, e minimizando a possiblidade de contaminação. É Importante frisar que o material a ser esterilizado deve ser inserido na estufa previamente higienizado. Dentro da estufa, ele é mantido a uma temperatura alta e constante, por período de tempo definido, garantindo, ao final do procedimento, que não haja possibilidade de sobrevivência de germes. Figura 2.2. Exemplo de modelo comercial de estufa esterilizadora. Em termos de disponibilidade comercial, pode-se afirmar que a as estufas de esterilização possuem diversos tamanhos. Sua utilização é bem ampla, pois há muitos locais dentro de uma unidade hospitalar que necessitam de esterilização, sejam eles instrumentos e/ou vidraria. Como exemplo, pode-se citar alguns locais possíveis de aplicação do equipamento: gabinetes odontológicos, centrais de esterilização, laboratórios, entre outros. INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR III 17 Figura 2.3. Circuito de aquecimento com controle térmico. A estufa de cultura é um equipamento utilizado em laboratórios de investigação, laboratórios de patologias clínicas, microbiologia, imunologia, entre outros inúmeros laboratórios, tanto para fins de diagnóstico quanto para pesquisa científica. Em uma estufa de cultura elétrica, a fonte do calor ocorre em função da transformação da energia elétrica em energia térmica que acaba acumulando dentro da estufa fechada. Nesse sentido, uma das possiblidades é a utilização de um termostato em série com resistor de aquecimento conforme está na Figura 2.3. As estufas denominadas muflas têm a propriedade de atingir temperaturas muito altas, útil apenas em alguns procedimentos laboratoriais. Como exemplo descritivo, pode-se citar uma estufa de cultura bacteriológica moderna. Essa estufa possui controlador eletrônico microprocessado, programação e indicação digital de temperatura. Possui um termômetro digital para programar o alarme e dupla função de display para indicar digitalmente a temperatura interna do equipamento. Costuma operar na faixa de 65° C e, por esse motivo, é fabricada com porta interna de vidro temperado, permitindo o acompanhamento visual externo abertura da porta. 2.1.2 Banho-maria O equipamento denominado banho-maria tem grande aplicação em laboratórios que necessitem de amostras aquecidas para realização das análises. Essa necessidade de aquecimento pode ser para preparação ou apenas etapa do procedimento. Dessa forma, este equipamento proporciona o aquecimento de amostras, sólidas ou líquidas, que não podem ser colocadas diretamente no fogo. Esse procedimento também é conhecido como banho termostático. INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR III 18 Os banhos termostáticos têm aplicações em diversas áreas: na indústria alimentícia, realizando processos de inspeção, e em indústrias farmacêuticas, químicas, laboratórios de microbiologia e universidades. No mercado, pode-se encontrar diversos equipamentos de banho-maria para laboratórios (Figura 2.4). Eles podem ser: banho-maria analógico; banho-maria digital; banho-maria com agitação Dubnoff; banho-maria ultratermostático.Figura 2.4. Exemplos de modelos comerciais de equipamentos de banho-maria analógico (esq.) e digital. Os banhos-maria analógicos têm grande faixa de capacidades volumérica, podendo variar de 2 a 45 litros ou mais. A temperatura também pode alcançar grandes valores, ou seja, pode atingir temperaturas de 100 a 200 °C, dependendo do modelo do fabricante. Esses modelos possuem cuba em aço inox. Há modelos de banho-maria digital em que a regulação da temperatura é digital e realizada por meio de um microprocessador. O microprocessador é responsável pelo processamento do algoritmo para o controle da temperatura por meio de equações matemáticas conhecidas como PID (proporcional, integral e diferencial). Nos casos de modelos com cubas duplas e revestimento especial, são indicados para produtos corrosivos. No caso do banho Dubnoff, é agregada a agitação precisa e estável ao procedimento de controle da temperatura. Esse tipo de banho é aplicado, por exemplo, em processos de fermentação, cultura de células e estudos de tecidos. Esses modelos com agitação mecânica podem ter a velocidade de agitação de 10 até 100 oscilações por minuto, por exemplo. Há também a possibilidade de regular o processo em minutos, oferecendo alarmes no fim do ciclo. INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR III 19 Há ainda os modelos denominados banhos-maria ultratermostáticos, que têm a capacidade de atingir temperaturas negativas. Por exemplo, podem operar na faixa de temperatura de – 15 °C a 100 °C. Nos dias atuais, os equipamentos são mais complexos eletronicamente, pois possuem sistemas microprocessados para realizar o controle da temperatura dentro da faixa programada pelo operador. Esses sistemas, para manutenção da temperatura dentro da faixa esperada, realizam algoritmos denominados PID, ou seja, modelos matemáticos proporcional, integral e diferencial. Normalmente, esses sistemas de controle da temperatura são modularizados dentro do equipamento, facilitando a manutenção. Cabe ressaltar que esse sistema de PID tem atuação direta no termostato citado anteriormente. 2.1 Autoclave O autoclave (Figura 2.5) é um equipamento utilizado em unidades hospitalares que visa a realizar a esterilização de materiais através do vapor d'agua em condições de pressão superior à atmosférica. É uma tecnologia antiga, tendo seu emprego inicial no final do século XIX. Figura 2.5. Exemplos de modelos comerciais de autoclaves. O princípio de funcionamento para obtenção do aquecimento a vapor é produzido pelo aquecimento com resistência elétrica, por exemplo. O objetivo do aquecimento com vapor do material é obter a esterilização do material, ou seja, eliminar bactérias ou reduzir colônias bacterianas. Deve-se lembrar sempre que o status estéril necessita de validade (expira) e o armazenamento deve ser com a temperatura controlada. INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR III 20 O aquecimento a vapor pode ser implementado a serpentina ou com camisa conforme ilustrado na Figura 2.6. O processo de autoclavagem compreende ciclos de compressão e de descompressão de forma a facilitar o contato entre o vapor e os materiais contaminados. Os valores usuais de pressão são da ordem de 3 a 3,5 bar, e a temperatura atinge 135º C. Tem a vantagem de ser relativamente simples e pode ser utilizada para esterilizar diversos tipos de materiais hospitalares. Figura 2.6. Formas de aquecimento a vapor, seja por serpentina ou camisa. Já o aquecimento da água para gerar vapor é obtido através do efeito Joule com o uso de resistências conforme modelos apresentados na Figura 2.7. Figura 2.7. Exemplos de modelos de resistências elétricas utilizadas em autoclaves com aquecimento elétrico. A cronologia do processo autoclavagem é um pouco complexo, como pode ser observado no gráfico apresentado na Figura 2.8. INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR III 21 Figura 2.8. Gráfico demonstrando a cronologia das alterações das variáveis físicas ao longo do processo de autoclavagem. Ainda na Figura 2.8, pode-se observar a seguintes etapas no processo de autoclavagem: i. Pre-vácuo. Para que o vapor entre em contato com mais eficiência com os materiais a serem esterilizados, logo no início do processo são criadas condições de pressões negativas de forma dentro do autoclave; ii. Inserção do vapor. Ao final do ciclo de pré-vácuo, abre-se a válvula responsável pela inserção do vapor na autoclave. A inserção do vapor resulta em aumento gradual da pressão, propiciando o contato entre a água superaquecida e os materiais, penetrando nos invólucros e em todas as superfícies; iii. Esterilização. Intervalo no qual há estabilização da pressão e da temperatura elevadas por tempo determinado pelo operador, que também estabelece a temperatura de esterilização; iv. Exaustão lenta. Após o período de esterilização é aberta válvula para liberação do vapor de forma lenta e gradual. Esse vapor passa por filtros de poros finos antes de ser liberado para o meio externo, visando a que não haja contaminação. Ao longo disso, há despressurização proporcional até alcançar a pressão atmosférica; INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR III 22 v. Resfriamento da carga. Percebe-se pelo gráfico que a transição de pressão é relativamente rápida, entretanto a transição da temperatura relativa ao processo de arrefecimento da carga é relativamente lento. O processo se encerra quando é alcançada a temperatura que permita o manuseio de retirada do material; vi. Descarte do condensado. Ao final de todo o processo de autoclavagem, são produzidos efluentes relativos ao emprego do vapor. Esse efluente deve ser devidamente direcionado para uma estação de tratamento antes de ser liberado conjuntamente com efluentes domésticos. Figura 2.9. Exemplo de diagramação simplificada de um autoclave. Basicamente, no processo de operação da autoclavagem, após o fechamento da porta, deve-se esperar que saia pela válvula de ar um vapor equivalente a uma panela de pressão; em seguida, deve-se fechar a válvula de ar e aguardar que o termômetro registre temperatura desejada. A programação da temperatura desejada é dependente do tipo de material a ser esterilizado; por exemplo, para meios de cultura, é recomendado 15 minutos a 120° C. Quando o nível de temperatura e pressão são alcançados, é prudente reduzir a potência do equipamento (visando a estabilizar a temperatura) e aguardar o tempo para esterilização. INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR III 23 Alguns exemplos de recomendações pertinentes no procedimento operacional: Alguns exemplos de recomendações pertinentes no procedimento operacional: • Vidrarias em geral devem ser embrulhadas em um papel próprio para autoclaves; • Ter precaução de preparar o material a ser auto clavado de modo a não contaminá-lo quando for retirado da autoclave; • Em relação aos meios de cultura, coloca-se uma rolha de algodão na boca do tudo e cobre-se com o papel de autoclave; passa-se uma fita indicadora (com cor) de positividade da autoclavagem; • Para evitar oxidação do metal das resistências e a danificação do equipamento, é recomendado colocar água destilada suficiente para cobri-las; • No fechamento da autoclave, os parafusos devem ser fechados hermeticamente, em cruz, um após o outro, até que a autoclave esteja totalmente segura e fechada. 3. EQUIPAMENTOS BIOMÉDICOS PARA IMAGENS MÉDICAS Nesta seção, são descritos os equipamentos biomédicos responsáveis pela produçãode imagens médicas (exceção ao EB de ultrassom que já foi abordado em outra disciplina do curso) dentro de um estabelecimento de saúde. Nos dias atuais, existem várias técnicas, e princípios físicos, empregados nessas tecnologias, resultando em imagens com qualidades, finalidades e danos ao paciente diferentes. Portanto, cabe ao médico a indicação da técnica mais indicada para cada tipo de investigação na busca do diagnóstico. Essas diferentes tecnologias, apesar de todas produzirem imagens internas da estrutura do corpo humano, têm comportamento diferenciado e, portanto, terão finalidades diferentes. Serão descritas em técnicas de radiografia, tomografia, ressonância magnética nuclear, gamma câmera e PET - SPECT. INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR III 24 3.1 Radiografia 3.1.1 Definições e histórico Ainda no século XIX, mais precisamente em 1895, o estudo realizado pelo professor Wilhelm Conrad Röntegen sobre o comportamento dos raios catódicos em ampolas de vidro com interior a vácuo observou que alguns cristais próximos ao tubo emitiam uma intensa fluorescência. O estudo do fenômeno conclui que a emissão de luz tratava-se de uma radiação, até então desconhecida, a qual passou a ser assim chamada: RAIOS - X. 3.1.2 Produção dos raios-x A produção de raios-X é inerente à colisão de elétrons com alta velocidade contra uma matéria quando são freados repentinamente. A maior parte (99%) da energia cinética dos elétrons é transformada em calor, e o restante em radiação X. Os raios-X são uma onda eletromagnética e, portanto, se propagam em linha reta, não podem ser desviados por campos magnéticos, atravessam o vácuo e podem sofrer reflexões e refrações. A frequência dos raios-X produzidos é dependente da energia do elétron que colide com a matéria, que, no caso, seria o anodo do tubo de raios catódicos. Em função da relação estabelecida pela equação (3.1), pode-se afirmar que, quanto maior a energia do elétron, maior a energia da radiação X e, consequentemente, menor o comprimento de onda. E=hc/λ eq. (3.1) em que: E = energia da onda eletromagnética; h = constante de Planck (6,624 x 10-27 erg.s); INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR III 25 c = velocidade da onda eletromagnética no vácuo (300.000 Km/s); λ = comprimento de onda. A definição de energia do elétron que colide com o anodo é função da d.d.p. (voltagem) aplicada ao anodo e ao catodo. Por exemplo: 150 kV λ = 0,008 nm e 40 kV λ = 0,06 nm. A relevância da energia dos raios-X está na relação com o seu poder de penetração na matéria, ou seja, quanto maior a energia da radiação (menor λ), maior o poder de atravessar os corpos. Figura 3.1. Identificação no espectro de ondas eletromagnéticas da faixa utilizada em exames de radioganóstico. 3.1.3 Tubos de raios-x Inicialmente, os tubos de raios-X (ou ampôlas) utilizavam filamento de volfrânio (ou tungstênio) em espiral que ficava incandescente com a passagem da corrente elétrica (corrente de filamento de 3 a 8 amperes), provocando assim uma emissão eletrônica (emissão termoiônica). A quantidade de elétrons "livres" (emitidos) é proporcional à temperatura e, consequentemente, à corrente do filamento. Dada a ausência da d.d.p. (tensão) entre anodo e catodo, os elétrons do filamento ficam “flutuando", formando o que se denomina nuvem de elétrons. Ao anodo aplica- se uma tensão positiva em relação ao catodo, provocando a emissão de elétrons do INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR III 26 filamento para o catodo, formando uma corrente/fluxo pelo tubo. A velocidade com que os elétrons alcançam o anodo (colisão) é proporcional à d.d.p. entre anodo e catodo. Para produzir raios-X, é necessário que os elétrons tenham grande velocidade/energia, ou seja, a d.d.p. deverá ser alta, na ordem de kVolts, assim como alto grau de vácuo dentro do tubo. Por outro lado, a corrente de elétrons dentro do tubo (densidade do feixe) independe da d.d.p. (anodo-catodo), ou seja, depende da corrente de filamento. Em função da energia na colisão dos elétrons, é necessário que o anodo seja constituído por um material rígido e com ponto de fusão elevado devido à conversão da energia cinética dos elétrons em térmica. O volfrânio (Z = 74 e ponto de fusão = 3350 ºC) possui essas características. É necessário, também, que o anodo seja um bom condutor térmico, portanto terá apenas 2 a 3 mm de espessura de volfrânio, enquanto o restante é formado por um bloco de cobre, que é um excelente condutor térmico e permite uma difusão mais rápida do calor para fora do tubo. Até o momento foi descrita a mecânica de funcionamento dos tubos denominados de anodo fixo, conforme pode ser observado no diagrama da Figura 3.2. Nesses casos, o calor gerado devido à colisão dos elétrons é muito intenso apesar das técnicas de condutividade térmica dos materiais envolvidos. Esse calor intenso cria um limite de geração de raios-X. Em função dessa limitação, esse tipo de tubo tem uso restrito a aparelhos de pequeno porte, isto é, de no máximo 200 mA de corrente de tubo. Exemplo: raio-X dentário (10 – 15 mA) e raio-X portátil (25 – 200 mA). Figura 3.2. Exemplos de diagrama interno de tubo de raios-X de anodo fixo. Na tentativa de minimizar o problema do aquecimento excessivo em um único ponto do anodo, foi idealizado o tubo de anodo giratório (Figura 3.3). A capacidade de giro do anodo é obtida através de um campo magnético externo (tipo motor gaiola de INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR III 27 esquilo). O giro proporciona que o bombardeamento de elétrons não ocorra na mesma região, e dessa forma haverá melhor refrigeração do anodo. Essa melhora na eficiência propicia um aumento na potência dos tubos 10 a 15 vezes maior do que com anodo fixo. Em redes elétricas de 60 Hz, a rotação é de 3000 rpm a 9000 rpm, dependendo apenas do campo excitador externo, conseguindo chegar a correntes de até 1000 mA. (a) (b) (c) Figura 3.3. (a) Exemplo de diagrama de tubo de anodo giratório; (b) Ilustração de uma ampola real de anodo giratório; (c) Ilustração de uma carcaça real utilizada na proteção da ampola. 3.1.4 A carcaça O envoltório protetor da ampola de vidro (frágil) é denominado carcaça (Figura 3.3(c)). A carcaça também traduz proteção em relação à alta voltagem e à radiação difusamente produzida. É constituída de metal rígido e recoberta internamente por chumbo seguindo critérios de proteção radiológica em relação aos raios-X produzidos. No local de passagem do eixo de raios-X, é colocada uma janela. Em termos de proteção elétrica do conjunto, em função da alta tensão aplicada, e também visando à refrigeração, usualmente coloca-se dentro do tubo óleo isolante. INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR III 28 3.1.5 Propriedades dos raios-x A seguir, são descritas as principais propriedades físicas dos raios-X, visando a estabelecer conhecimentos básicos para compreender o processo de formação de uma imagem médica. a) Atravessar e/ou interagir com a matéria Os raios-X, ao atravessarem a matéria, ocasionam um processo de interação que provoca a atenuação da sua intensidade, que é dependente dos seguintes fatores: i. Natureza da substância a ser atravessada, considerando o seu número atômico, pois a atenuação da radiação X é proporcional ao cubo do número atômico por grama de matéria. Para as partes moles do corpo, é considerado o númeroatômico igual a 7,3, que corresponde, aproximadamente, ao da água. No caso dos ossos, o número atômico eficaz é aproximadamente igual a 14; ii. Densidade da substância. Quanto maior o número de átomos, por unidade de volume, com igual número atômico, maior será a atenuação, pois a relação é diretamente proporcional; iii. Espessura da matéria. Quanto maior for o caminho que os raios-X irão atravessar, ou seja, mais espesso for o material, maior será a atenuação; iv. Comprimento de onda dos raios-X. Quanto menor a energia dos raios-X, maior será a atenuação sofrida por ele. Respeitando a relação matemática da eq. (3.1), menor energia significa maior comprimento de onda ou maior frequência. Portanto, os raios-X, ao serem mais "moles" (maior comprimento de onda), sofrem atenuação maior, ou seja, com raios mais "duros" (menor comprimento de onda), a atenuação é menor e há maior penetração na matéria. INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR III 29 b) Fluorescência - induzem a emissão de luz em determinados materiais Algumas substâncias, como, por exemplo, o sulfato de zinco, iodeto de césio e platinucianeto de bário, têm a propriedade de emitir luz ao serem bombardeadas por radiações X ou elétrons com grande velocidade, fenômeno denominado fluorescência. c) Sensibilização de filmes fotográficos Tem a capacidade de interagir sobre uma película fotográfica, ou seja, depois da revelação e da fixação, provoca o escurecimento do local onde sofreu interação. O brometo de prata (AgBr) presente nos filmes fotográficos interage com os raios-X e proporciona a formação de uma imagem visível após a revelação. d) Ionização de gases Ao interagir com átomos no estado gasoso, tem a capacidade de separar elétrons da estrutura atômica, resultando em elétrons livres carregados negativamente e íons carregados positivamente. O movimento desses elétrons e dos íons, quando polarizados, ocasiona a corrente elétrica. e) Mutações nos tecidos Ao longo de décadas de estudos, foi provado cientificamente que os raios-X têm a capacidade de provocar danos aos tecidos humanos. A energia desses feixes da radiação pode interagir com as cadeias de DNA das células, podendo causar, em termos probabilísticos (na maioria dos casos), os seguintes danos: inibir o crescimento, destruir tecidos, causar inflamações e provocar neoplasia. Por essa razão, existem normas técnicas rigorosas de proteção radiológica que definem métodos de proteção e medição, sempre tentando minimizar a exposição do paciente e do operador. INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR III 30 3.1.6 Radioproteção A ciência da radiproteção deve se preocupar basicamente com dois grupos: a proteção do paciente e a do operador. Esses são os dois principais grupos que estão diretamente relacionados com o procedimento. Entretanto, é importante lembrar que sempre deverá haver a preocupação com aquele que apenas transita pelas instalações hospitalares sem que esteja diretamente envolvido, pois a radiação tem a propriedade de atravessar matérias, colocando em risco, principalmente, aqueles que estão em áreas contíguas ao local de instalação do equipamento. a) Proteção ao paciente com peças acessórias i. Colimador: dispositivo posicionado na saída da janela do tubo que visa a limitar a área do corpo do paciente que será exposta ao feixe de raios-X (Figura 3.4); ii. Filtro: lâmina de alumínio posicionada na janela de saída do tubo que visa a atenuar os raios-X de menor energia ou maior comprimento de onda que não contribuem com a formação da imagem e ainda adicionam riscos à saúde do paciente; iii. Técnica: busca da otimização (minimização) do tempo de exposição do paciente com a evolução tecnológica. Figura 3.4. Diagramas de três tipos distintos de colimador. A imagem na parte inferior representa um tipo de colimador com ajuste da abertura do diafragma e possui foco luminoso no seu interior, o que auxilia o operador do equipamento. INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR III 31 b) Proteção para os operadores e médicos com dispositivos externos Esse grupo de pessoas tem a desvantagem de estar em contato diário com o procedimento radiológico. Apesar de não serem expostos diretamente aos raios-X primários, eles podem sofrer danos em função das radiações secundárias. i. Biombo, colete e luvas feitos à base de chumbo nas suas composições. Têm a capacidade de atenuar significativamente a radiação; ii. Dosímetro: dispositivo que tem o propósito de monitorar, de forma cumulativa, a radiação recebida ao longo de um mês. Em geral, é fixado junto à pessoa em sua vestimenta ao longo do expediente de trabalho. Ao final do mês, é recolhido e avalia-se se o portador daquele dosímetro recebeu a quantidade máxima de radiação permitida pela norma internacional e nacional sem que ocorram riscos a sua saúde. 3.1.7 Exame – formação da imagem Os raios-X, ao atravessar o corpo humano, terão sua intensidade modificada proporcionalmente ao tipo de material atravessado. Essa modulação da intensidade da radiação, em função dos tecidos transpassados, será registrada na interação com a película fluoroscópica (ECRAN), que tem a capacidade de converter os raios-X em luz, que, por sua vez, sensibiliza um filme fotográfico. Na sequência, esse filme é revelado, quando é finalmente formada a imagem radiodiagnostica. A qualidade da imagem formada é muito dependente dos ajustes do equipamento em função da parte do corpo que será analisada. Por exemplo, é de conhecimento que, quanto maior a tensão (kV) anodo-catodo, maior é o poder penetrante do raios-X; assim como, quanto maior a corrente (mA) que passa pelo tubo, maior será a intensidade de radiação gerada que, associada ao tempo de exposição (segundos - s), caracteriza outro ajuste (mAs), cujos valores são responsáveis pelo contraste da imagem radiográfica. O último fator relevante é a distância entre o tubo e a área a ser examinada no paciente. Para auxiliar o operador, já existem tabelas para cada tipo de exame em que são encontrados os valores dos fatores que foram descritos. INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR III 32 3.1.8 Acessórios em aparelhos de radioagnóstico A seguir, são descritos alguns dispositivos acessórios principais utilizados em aparelhos de radiodiagnósticos. A Figura 3.5 ilustra cada um desses acessórios. Figura 3.5. Paciente numa mesa Bucky. a) Ecran - Dispositivo responsável pela conversão dos raios-X em radiação luminosa. Usualmente é composta por sulfato de cádmio e zinco - ou, simplesmente, sulfato de zinco; b) Chassis ou cassetes – Fina caixa, vedada a passagem de luz, onde são acondicionados o ecran e o filme; c) Grade – Dispositivo composto internamente por tiras bem finas de chumbo, formando uma grade e posicionado próximo aos chassis, que têm por objetivo minimizar as radiações secundárias (espalhamento) e, assim, melhorar a nitidez da imagem; d) Bucky – Dispositivo, ou parte do sistema, que acomoda os chassis e realiza a movimentação da grade. INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR III 33 Figura 3.6. Exemplo de imagem radiográfica. 3.1.9 Processo de revelação Após a exposição do filme fotográfico à luz proveniente do ecran dentro dos chassis, é necessário que seja iniciado um procedimento de revelação do filme que poderá ser manual ou automático. a) Manual – Compreende a utilização de três tanques contendo produtos químicos com a finalidade de tornar visível a imagem. Após a exposição radiográfica, os chassis são conduzidosa uma câmara escura, onde são abertos, o filme retirado dos chassis e mergulhado nos tanques na seguinte sequência: revelador, fixador e água. b) Automático – Equipamento que realiza o procedimento de revelação do filme de forma automática. Esses equipamentos são chamados de processadora de filme radiológico. Possuem rolos que guiam a passagem do filme pelos elementos químicos de revelação, fixação e água; ao final, é realizada a secagem. Fica instalado em uma câmara escura para que ocorra a inserção do filme com segurança, enquanto o outro lado do equipamento é projetado para que a saída seja em outra sala, câmara clara, para retirada da radiografia revelada (Figura 3.6). INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR III 34 3.1.9.1 Acessórios em aparelhos de radioagnóstico a) FLUOROSCOPIA Essa técnica com raios-X visa a permitir a inspeção em tempo real dos órgãos internos do paciente. Ao atravessarem o corpo do paciente, os raios-X colidem com tela fluorescente (ecran) que é acoplada a um sistema de imagem, ou seja, uma câmera que capta a imagem no ecran e a apresenta ao médico. Em função de o sistema ser baseado na exposição contínua de radiação X ao paciente, é muito importante que haja diminuição da intensidade dessa radiação. Nesse sentido, é acoplado à tela fluorescente um dispositivo denominado intensificador de imagem, que tem a capacidade de ser sensibilizado com muita pouca intensidade luminosa formada no ecran. Possibilita, dessa forma, a redução significativa da intensidade da radiação X. Nessa técnica, geralmente, é acompanhado com um sistema de vídeo, ou seja, a imagem é transmitida para um monitor (Figuras 3.7 e 3.8). Figura 3.7. Diagrama geral de sistema de fluoroscopia. INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR III 35 Figura 3.8. Exemplo de modelo comercial de equipamento de fluoroscopia. b) SERIOGRAFIA Esse procedimento significa apenas a realização da captura de sequência de imagens no mesmo filme ao longo de um exame fluoroscópico. Quando o médico, durante a inspeção, detecta a região de interesse, pode, naquele momento, acionar a possibilidade do registro das imagens em uma sequência de radiografias. c) MAMOGRAFIA Refere-se ao procedimento de radiodiagnóstico da mama. O equipamento de raios-X praticamente não difere dos equipamentos convencionais, entretanto o tipo de exame exige que a imagem radiográfica possua melhor resolução. Nesse sentido, o tubo de raios-X deve possuir menor tamanho do foco, ou seja, menor espessura do filamento, e, consequentemente, menor área do alvo (anodo) onde ocorre a colisão dos elétrons. Esse fenômeno resulta em melhor resolução da imagem radiográfica. Figura 3.9. Ilustração exemplificando procedimento do exame (esq.) de mamografia e a imagem obtida. d) TOMOGRAFIA Esse método tem como objetivo proporcionar uma imagem de uma seção do corpo. Essa técnica será descrita em detalhes no próximo item deste documento. INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR III 36 3.1.9.2 Circuito simplificado de um aparelho de raios-x Apenas para exemplificar, a seguir, na Figura 3.9.1, é apresentado um circuito eletrônico simples respectivo a um aparelho de raios-X. É fácil observar a presença de transformadores para elevar as tensões para os níveis necessários de kVolts. Assim como um controle chaveado da corrente que passa pelo filamento. Figura 3.9.1. Circuito eletrônico simplificado de um aparelho de raios-X. 3.2 Tomografia computadorizada (TC) 3.2.1 Breve introdução da TC A tomografia computadorizada (TC ou CT, em inglês) foi introduzida na prática clínica em 1972 no Atkinson Morley Hospital, em Londres. A possibilidade de visualização de imagens correspondentes às seções transversais de determinado segmento da estrutura corpórea, com a utilização dos raios-X, revolucionou a tecnologia de radiodiagnóstico. A partir dessa grande inovação tecnológica, passou a ser possível a obtenção de imagens no mesmo eixo no qual o feixe de raios-X atravessa o paciente, que, um pouco mais adiante, foram matematicamente superpostas, dando origem à visualização tridimensional interna do corpo (Figura 3.9.2). INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR III 37 (a) (b) Figura 3.9.2. (a) Caracterização da diferença entre as imagens radiográficas convencionais e as de TC; (b) Ilustração demonstra o princípio da captura de uma imagem de uma seção transversal da estrutura corpórea. 3.2.2 Vantagens da técnica A técnica tem a sensibilidade suficiente para distinguir pequenas diferenças de densidade, em especial entre os tecidos moles, o que possibilita a visualização das estruturas internas, órgãos e tecidos de forma bem diferenciada. A capacidade de distinção das densidades dos tecidos em radiografia está em torno de 2%, enquanto que em TC é de 0,5%. Outra grande vantagem é que a imagem caracteriza-se como um corte ou seção de transversão do corpo, mas mesmo assim não há sobreposição das imagens respectivas às estruturas do corpo cujos raios-X atravessam. Após o processo matemático de reconstrução das imagens, não há distorções nas estruturas anatômicas apresentadas nas imagens, ou seja, são mantidas as proporções dimensionais. O processo de obtenção das imagens em TC se caracteriza pela digitalização de todos os sinais eletrônicos envolvidos, pois o processamento matemático é realizado por processadores em computadores acoplados aos equipamentos. Esse processamento digital das imagens permite que sejam medidas e identificadas quantitativamente as densidades dos tecidos e as dimensões das estruturas. INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR III 38 Ainda fruto do processamento digital da informação, o sistema permite que sejam feitas reformatações e manipulações pós-reconstrução da imagem, tais como ampliação, suavização (filtragem de ruídos), reformatação em outros planos (2D) e reconstrução tridimensional (3D). 3.2.3 Princício de funcionamento – reconstrução da imagem Em termos de funcionamento do equipamento propriamente dito, observa-se que um tubo de raios-X gira em torno do paciente, emitindo um feixe de radiação num plano axial. Sincronamente, um conjunto de detectores de raios-X é posicionado no lado oposto ao tubo, após o corpo de paciente, onde captam-se os fótons de raios-X que atravessam e interagem com o paciente. Como pode ser observado na Figura 3.9.3, ao interagir com o segmento, o eixo axial, do corpo no qual atravessa, o feixe de raios-X sofrerá uma modulação de sua amplitude. Analisando espacialmente ao longo do movimento giratório e fazendo a composição dessas intensidades moduladas, será obtido um sinal com diversas amplitudes que posteriormente são processados por algoritmos matemáticos para reconstrução da imagem. Figura 3.9.3. Desenho demonstrando o princípio de funcionamento de uma TC. INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR III 39 A Figura 3.9.4 apresenta outra possiblidade de intepretação na questão da modulação das intensidades dos raios-X que atravessam o paciente, no caso representado pela circunferência em ponto preto representando uma estrutura de densidade maior. Perceba que, para a projeção do feixe de raios-X, há uma atenuação da intensidade captada pelos detectores, representado por ondas quadradas e negativas. Matematicamente, cada intensidade (I) referente a cada projeção representa um somatóriode todas as atenuações sofridas pelos raios-X ao longo de seu percurso. Esses elementos atenuadores (estruturas corpóreas) representam os elementos básicos da imagem, ou seja, o pixel (P). Portanto, o que se deseja é descobrir o valor individual da intensidade de cada pixel formador da imagem 2D. (a) (b) Figura 3.9.4. (a) Diagrama representando a detecção das intensidades, em situação hipotética, após os raios-X atravessarem um volume e sofrerem as ações das atenuações relativas às diferentes densidades; (b) São representadas as equações matemáticas referentes a um exemplo (hipotético) com apenas quatro feixes de raios-X e quatro pixels. A Figura 3(b) descreve uma situação como exemplo em que existem quatro feixes de raios-X em direções perpendiculares, dois a dois, atravessando um corpo e sofrendo a ação das atenuações relativas às diferentes densidades dos materiais atravessados no volume. As quatro equações regem um sistema solucionável em termos matemáticos. pois há quatro equações. Portanto, é fácil perceber que, mesmo em um sistema mais complexo, em que haja muitos mais eixos e pixels, quando o INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR III 40 número de equações é igual ou superior ao número das intensidades dos pixels (variáveis), será perfeitamente possível determinar as intensidades dos pixels e formar a imagem. Atualmente, a solução dessas equações é facilmente resolvida de forma matricial pelos processadores dos computadores. Outra forma de abordar a questão da reconstrução da imagem é através da análise espacial, conforme apresentado na Figura 3.9.5. Figura 3.9.5. Exemplo de análise espacial da reconstrução da imagem em TC. Na Figura 3.9.5, são apresentados os dois sinais de intensidades respectivos às duas projeções hipotéticas em situação de perpendicularidade. A partir desses sinais, que podem ser encarados como imagens de uma dimensão, espalha-se o sinal em um plano, formando uma imagem de duas dimensões (2D). A superposição (somatório) dessas duas imagens, originariamente de uma dimensão, remonta à imagem 2D esperada no final. Como o exemplo trata apenas de duas vistas do objeto, a resolução da imagem final formada é de baixa qualidade, entretanto é fácil perceber que, se houvesse mais vistas (em outros ângulos) do corpo, melhor seria a resolução da imagem 2D final. É de muita importância perceber que esse processo de reconstrução da imagem é extremamente dependente do conhecimento do caminho exato dos raios-X ao atravessar a estrutura do corpo, ou seja, deve haver uma sincronicidade espacial absoluta entre a fonte de radiação e os detectores. INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR III 41 No caso da reconstrução de imagens de três dimensões, é realizada a superposição de várias imagens 2D, sendo cada uma respectiva a uma vista em corte do corpo/objeto, conforme ilustrado na Figura 3.9.6. Figura 3.9.6. Diagrama ilustrando o processo de construção de uma imagem tridimensional (3D) em TC. 3.2.4 Evolução tecnológica da TC Como todas as tecnologias, a tomografia computadorizada também sofreu, e sofre continuamente, um processo de evolução. A seguir, serão apresentadas cronologicamente cada uma das gerações dessa tecnologia. • 1ª Geração Data de 1970 e caracteriza-se por feixes de raios-X bem finos e pelo movimento, tanto dos detectores quando da fonte de raios-X, transversalmente ao longo do objeto sob análise, conforme apresentado na Figura 3.9.7. Após cada movimentação transversal, há rotações síncronas sucessivas do conjunto. Considerando que foi o primeiro e a tecnologia disponível da década de 70, é importante observar que o procedimento de análise poderia durar horas, pois uma imagem referente a um corte poderia durar até 5 minutos. • 2ª Geração Uma evolução foi rápida em relação à primeira geração, pois já estava sendo empregada em 1972. Nesse caso, um feixe de raios-X em forma de leque é projetado em direção ao objeto/corpo em análise, entretanto, agora em formato de feixe, possui pequeno ângulo, ou seja, há uma abertura divergente. Portanto, múltiplos detectores são responsáveis pela detecção desse feixe simultaneamente (Figura 3.9.8). Como os INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR III 42 feixes são divergentes e passam através do paciente em diferentes ângulos, o conjunto pode girar em incrementos de vários ângulos, resultando em menores tempos de leitura. Esse procedimento tem duração aproximada de alguns minutos, pois cada imagem de um corte poderia levar até 1 minuto. Figura 3.9.7. Esquema ilustrando o funcionamento do TC de primeira geração. Figura 3.9.8. Esquema ilustrando o funcionamento do TC de segunda geração. • 3ª Geração Essa tecnologia foi empregada em 1976. Nessa geração, o conjunto, o tubo rotativo com feixe em leque e detectores, executa uma varredura contínua de 360º. Um feixe de raios-X com um grande ângulo de abertura abrange todo o objeto investigado (Figura 3.9.9). Com essa nova estruturação do conjunto, torna-se possível a realização de várias centenas de medições para cada pulso da fonte de raios-X gerados. Essa INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR III 43 grande quantidade de medições proporciona a melhoria da qualidade da imagem durante o processamento de reconstrução matemática. Figura 3.9.9. Esquema ilustrando o funcionamento do TC de terceira geração. • 4ª Geração O emprego dessa tecnologia remete ao ano de 1978. O que diferencia essa técnica das gerações anteriores é o arranjo dos detectores, que estão posicionados ao longo de um anel contínuo de 360o; portanto, eles são estacionários. A única fonte de raios- X executa o giro completo em torno do objeto analisado (Figura 3.9.9.1). O feixe tem formado de leque e incide em vários detectores ao mesmo tempo. Partes do feixe de raios-X passam por fora do paciente, visando à calibração dos detectores. O anel de detectores pode chegar ao número de 4800, e a aquisição de um corte demanda um tempo inferior a um segundo. Figura 3.9.9.1. Esquema ilustrando o funcionamento do TC de quarta geração. INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR III 44 Essa geometria do arranjo proporciona um aquecimento do tubo acima do normal, o que o torna especial, de alta performance e de custo elevado. Nessa geometria, os detetores indicados e usados são de estado. • 5ª Geração (Helicoidal) Essa tecnologia tem o emprego iniciado em 1989. Na tomografia computadorizada helicoidal, o paciente é movido ao longo do eixo horizontal simultaneamente ao movimento giratório do tubo de raios-X ao redor do paciente (Figura 3.9.9.2). O feixe central de raios-X que atravessa o paciente definirá uma trajetória helicoidal durante o exame, como pode ser observado na Figura 3.9.9.2. A relação entre o movimento do paciente e do tubo é denominada passo (pitch, em inglês), que é definido como o movimento da mesa para cada giro completo do tubo de raios-X dividido pela largura de colimação (ambos expressos em milímetros). Vejamos o exemplo: considerando um passo de 2, seria o caso de uma fatia/corte de 5 mm em que o paciente mover- se-ia 10 mm durante o giro completo de tempo 360 graus do tubo. O processo de reconstrução da imagem exige a utilização da técnica de interpolação das projeções capturadas em posições específicas ao longo do eixo do paciente. A espessura das imagens reconstruídas tem sempre a mesma espessura do colimador utilizado. Figura 3.9.9.2. Desenho ilustrandoo princípio de funcionamento de um TC de sexta geração. INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR III 45 As medições são adquiridas ao longo da rotação contínua do tubo no Gantry, e simultaneamente há o movimento horizontal da mesa. O procedimento pode levar de 20 a 60 segundos. O tubo dentro do Gantry utiliza a técnica de anel deslizante. Os tubos utilizados nesse tipo de equipamento são de alta potência. Apesar de a trajetória realizada em volta do eixo do paciente ser espiral ou helicoidal, os algoritmos de reconstrução se referem a uma fatia circular, com sequência da interpolação matemática entre os pontos de giros completos. Caso o passo seja < 1, isso implicará na superposição dos dados medidos e em maior dose radioativa ao paciente, contudo melhor qualidade da imagem final, pois haverá mais dados redundantes. No caso do passo ser >1, implicará em imagem estendida e menor dose no paciente. Os valores típicos do passo são: 0,5; 1,0; 1,5; 2,0. Em termos de sensibilidade do sistema, pode-se afirmar que as estruturas posicionadas no centro do corpo/objeto são mais identificáveis do que aquelas posicionadas nas bordas do corte. • 6ª Geração – (Multicortes) Essa técnica foi empregada a partir de 1993. Fundamentalmente, ela está baseada em dois princípios: utilizam ampolas de raios-X especiais, ou seja, os feixes de elétrons são defletidos e focalizados em anéis de alvo com grande diâmetro posicionados no Gantry, enquanto os anodos possuem múltiplos anéis de alvo. Outro ponto é que os detectores são arranjados em múltiplos anéis de detectores, ou seja, uma distribuição matricial do arranjo dos detectores (Figura 3.9.9.3). São equipamentos muito rápidos: por exemplo, poucas dezenas de milisegundos por fatia. INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR III 46 (a) (b) Figura 3.9.9.3. (a) Ilustração caracterizando os múltiplos cortes realizados ao mesmo tempo em função do feixe de raios-X; (b) Representação de um arranjo matricial de detectores em estado sólido. 3.2.5 O equipamento e as imagens O equipamento de tomografia computadorizada é composto basicamente pelo sistema denominado Gantry, que se assemelha com uma grande rosca onde estão inseridos o tubo de raios-X e os detectores (sensores), além de uma mesa que suporta e fixa o paciente a ser submetido ao exame (Figura 3.9.9.4). No caso de TCs helicoidais, essa mesa terá movimento síncrono ao movimento do tubo como visto anteriormente. Figura 3.9.9.4. Ilustração contendo exemplo de modelo comercial de TC e diagrama descrevendo as partes do sistema. INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR III 47 A Figura 3.9.9.5 apresenta exemplos de imagens reais obtidas em exames de TC. Em especial, percebe-se que a Figura 3.9.9.5(c) apresenta uma imagem em corte longitudinal, o que, em princípio, não condiz com o esperado, conforme apresentado na Figura 3.9.9.5 (a). Entretanto, no caso de obtenção de imagens 3D em TC, conforme apresentado na Figura 3.9.9.5 (b), após o processo de interpolação das imagens de cada corte, é possível proceder novos processamentos nas imagens e obter imagens com cortes em qualquer eixo que seja necessário, dependendo exclusivamente da capacidade do software de manipulação inerente ao equipamento. (a) (b) (c) Figura 3.9.9.5. Exemplos de imagens reais obtidas em exames de TC. (a) Imagem 2D de um corte transversal na região do crânio; (b) Imagem 3D respectiva à interpolação de múltiplos cortes transversais; (c) Manipulação/processamento de uma imagem 3D, proporcionando visão em outro eixo de corte. 3.3 Ressonância magnética nuclear (RMN) As imagens médicas fornecidas pelas tecnologias que empregam os raios-X basicamente visam à visualização de estruturas anatômicas. A evolução tecnológica propiciou o surgimento de novas técnicas que têm a capacidade de evidenciar, além das informações estruturais, também modificações fisiológicas dos tecidos. Entre as tecnologias que têm essa capacidade, pode-se citar a imagem por ressonância magnética (IRM ou MRI, considerando a língua inglesa). Essa tecnologia aplica conceitos físicos ou a técnica denominada ressonância magnética nuclear (RMN). A partir de 1971, vários cientistas observaram em medições em tecidos vivos que a técnica de RMN era sensível à dinâmica das modificações ocorridas durante reações químicas. Apenas em 1978 foram capturadas as primeiras imagens do corpo humano. INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR III 48 As principais vantagens da IRM são: uso de radiação não ionizante, alta resolução para baixo contraste, técnica não invasiva e possibilidade de cortes multiplanares. A imagem formada nessa técnica está baseada na associação de três parâmetros principais: densidade de spin (SD), tempo de relaxação T1 e tempo de relaxação T2. A técnica se aproveita do fato de esses três parâmetros apresentarem consideráveis faixas de variação para diferentes tecidos. 3.3.1 Fundamentos físicos na RMN É necessário definir alguns conceitos básicos de física para compreensão adequada da técnica usada em RMN. A seguir, são apresentados e descritos cada um destes conceitos. a) Momento do SPIN O spin compreende movimento de rotação em torno do próprio eixo realizado por todas as partículas que constituem um átomo. A soma dos spins de todas as partículas do átomo é referida como “spin de um núcleo”. b) Orientação de campo magnético Quando uma partícula carregada eletricamente se movimenta, gera um campo magnético perpendicular à direção do seu movimento, o qual produz linhas de campo que fazem curvas fechadas. Esse campo é denominado dipolar e apresenta sempre dois polos: norte e sul. O campo magnético de pequena magnitude gerado pelo núcleo de hidrogênio é denominado dipolo magnético, e a intensidade é denominada momento magnético nuclear ou, simplesmente, momento magnético. Similarmente a outros materiais, nos tecidos biológicos os momentos magnéticos dos átomos alinham-se aleatoriamente, logo o momento magnético resultante (M) será igual a zero. INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR III 49 Considerando que um paciente seja colocado sob o efeito de um forte campo magnético B0 (Figura 3.9.9.6), os momentos magnéticos dos átomos de hidrogênio das moléculas de água irão alinhar-se de forma paralela ou antiparalela a esse campo, e nesse caso será gerado, no corpo do paciente, um Momento M diferente de zero, ou seja, o paciente toma-se um magneto, onde o vetor do eixo Z+ representa o momento magnético de equilíbrio M0. Figura 3.9.9.6. Os momentos magnéticos dos núcleos de hidrogênio ficam aleatoriamente dispostos no corpo. Um magnético uniforme externo B induz os alinhamentos dos momentos magnéticos desses átomos ao campo, tornando o corpo um magneto. c) A precessão no SPIN Os momentos magnéticos dos núcleos dos átomos, quando são submetidos a um campo magnético externo, alinham-se e passam a ter um movimento de oscilação similar a pequenos piões de brinquedo (Figura 3.9.9.7). Esse fenômeno é denominado movimento de precessão. A frequência de precessão é também conhecida como “frequência de Larmor” (w), que, por sua vez, é dependente da intensidade do campo magnético e do tipo de núcleo. Sendo definida pela “Equação de Larmor”, eq. (3.2): w = γ . B0 eq. (3.2) em que: w é a frequência de precessão (MHz); B0 é a força do campo magnético(T); γ é a constante giromagnética (MHz/T). INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR III 50 Figura 3.9.9.7. Ilustração representando o movimento de precessão. Após a submissão ao campo magnético externo, Bo, o paciente tomou-se um magneto e todos os átomos de hidrogênio apresentam a frequência de Larmor no movimento de precessão; entretanto, cada um oscila livremente ou fora de fase. d) O fenômeno da ressonância É importante lembrar que, quando sistemas vibram na mesma frequência, ou seja, estão em ressonância, será o momento mais eficiente para transferência de energia entre os sistemas. No caso da RMN, é de conhecimento que a frequência de Larmor dos núcleos de hidrogênio fica na faixa das ondas de rádio (RF). Portanto, se uma onda de RF, na mesma frequência de Larmor, atravessar os tecidos, ocorrerá a ressonância e a energia da RF será absorvida pelos núcleos, ficando em estado excitado. Nesse estado excitado, os núcleos alinham-se contra o campo magnético e ficam com a precessão em fase. Nessa situação, o vetor resultante do momento magnético (Figura 3.9.9.8), M, passa, também, a ter o movimento de precessão. Figura 3.9.9.8. Em ressonância com a frequência de Larmor, o sinal de RF é absorvido e o movimento de precessão de todos entra em fase, obrigando o deslocamento do vetor de magnetização, M, em relação à sua posição de equilíbrio. INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR III 51 e) Tempo de decaimento livre Quando, em estado excitado pela ressonância provocada pelo pulso de RF, os núcleos alinham-se contra o campo magnético B0, forçando a rotação do vetor M0 do eixo Z+ para o eixo X+, no plano XY. Essa rotação forçada de M0 pode ser de 90° ou 180° (ficando no eixo Z-) (Figura 3.9.9.9). Esses pulsos de RF são denominados pulso de 90° e pulso de 180°, respectivamente. Figura 3.9.9.9. Diagrama demostrando o comportamento do vetor de magnetização quando submetido ao pulso de RF. Um pulso forçando 90º de deslocamento e outro, 180º. Ao término do pulso de RF, ocorre o retorno do vetor ao alinhamento com B0, ocasionando a remissão do sinal de RF de origem, sendo captado pelas próprias bobinas que deram origem ao sinal original. O tempo necessário para o retorno ao estado de equilíbrio é denominado “tempo de relaxação”. Esse sinal de RF reemitido é denominado “decaimento livre de indução” (ou FID - Free Induction Decay –, em inglês). Em sinais de RF de retorno sofrem processamento matemático em que as análises são realizadas no domínio da frequência com o auxílio de ferramentas como a transformada de Fourier, e formando os espectros de frequência, como pode ser observado no exemplo da Figura 3.9.9.9.1. Será a partir desses espectros de frequência que as imagens de ressonância magnética (IRM) são formadas. INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR III 52 Figura 3.9.9.9.1. Exemplo de transformação do sinal de RF de retorno do domínio do tempo para o domínio da frequência. Em função da predominância do hidrogênio nos tecidos e seu comportamento constante em termos giromagnéticos, será o sinal de RF na frequência de Larmor do hidrogênio que será utilizado na RMN. 3.3.2 Alguns índices usados na RMN Visando à reconstrução da IRM, é fundamental que sejam estabelecidos alguns parâmetros que irão diferenciar os comportamentos dos sinais de RF e, assim, permitir que no processamento matemático sejam reconhecidos os diferentes tecidos do corpo. A seguir, são descritos esses parâmetros. a) Densidade de 'spin' (SD) Esse índice está correlacionado à concentração de átomos de hidrogênio em um determinado volume de tecido. Sabendo que a intensidade do sinal recebido (FID) é proporcional ao número de núcleos contidos no volume, em análise, conclui-se que os locais que possuírem mais núcleos de hidrogênio corresponderão às partes das imagens mais brilhantes. b) Tempo de relaxação longitudinal - T1 É o tempo que a intensidade do vetor M0 é recuperada quando cessa o pulso de RF, que é específica para cada tecido. INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR III 53 (a) (b) Figura 3.9.9.9.2. (a) Descreve o parâmetro tempo de relaxação longitudinal, ou seja, tempo que o vetor de magnetização (em amarelo na figura) retorna ao seu estado de equilíbrio no eixo Z; (b) Percebe-se pela curva do gráfico que o tempo tem comportamento não linear (logarítmico). c) Tempo de relaxação transversal - T2 Esse parâmetro diz respeito ao tempo que o vetor de magnetização leva para encerrar a oscilação após o retorno ao eixo Z. Essa oscilação se dá no plano dos eixos XY. Em termos matemáticos, o tempo a ser considerado corresponde a 37% do tempo total para atingir o limiar de zero de intensidade (Figura 3.9.9.9.3). Outro ponto relevante é que o tempo de relaxação T2 é uma variável independente do tempo de relaxação T1. Figura 3.9.9.9.3. Gráfico demonstrando o caimento do tempo de relaxação T2. A Tabela 3.1 apresenta, como exemplo, alguns valores refentes aos parâmetros discutidos até o momento, em que é percebida a diferenciação entre os tecidos e órgãos do corpo humano. INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR III 54 Tabela 3.1. Valores aproximados da densidade de spin (SD) e tempos de relaxação T1 e T2 para vários tecidos biológicos. Tecido T1 (ms) T2 (ms) Densidade de spin (SD) Substância cinzenta 300 118 10,5 Substância branca 150 133 11 Gordura 450 150 10,9 Músculo 250 64 11 Fígado 250 44 10 3.3.3 A contrução da imagem em RMN (IRM) Considerando que a RMN tem a capacidade de perceber as variações da concentração dos átomos de hidrogênio da água nos tecidos através da emissão diferenciada da frequência de Larmor, haveria confusões no momento de realizar as análises matemáticas, pois existiriam superposições de pulsos no domínio da frequência. Essa superposição não permitiria a distinção dos tecidos tão necessária para remontar a imagem (IRM), como pode ser observado na Figura 3.9.9.9.4, em que, apesar de, hipoteticamente haver dois tecidos iguais no meio do corpo (pontos 1 e 2 diferem do tecido que os envolve), ao final do processamento é apresentado apenas um pulso no domínio da frequência, ou seja, não há distinção. Figura 3.9.9.9.4. Diagramação demonstrando a limitação na detecção diferenciada quando há apenas a indução de um campo magnético externo. INSTRUMENTAÇÃO MÉDICO-HOSPITALAR III 55 O método escolhido para superar essa limitação foi a indução de um segundo campo magnético externo de baixa intensidade e na forma de gradiente, GI, que é sobreposto ao campo Bo (Figura 3.9.9.9.5). Dessa forma, o sinal FID passa a conter os dois sinais simultaneamente, ou seja, há uma modulação em frequência no sinal, correspondentes aos pontos 1 e 2, que são facilmente separados posteriormente no processamento matemático. Esse segundo campo induz uma alteração na frequência de ressonância, o que resulta em um espectro de frequências da RMN contendo dois picos distintos referentes a cada tecido, a partir dos quais é possível determinar a distância entre os pontos 1 e 2. Figura 3.9.9.9.5. Diagramação demonstrando a indução de um segundo campo magnético sobreposto ao campo Bo, passando a permitir a diferenciação dos tecidos iguais dentro do corpo, superando a limitação anterior. A partir da correlação da distinção dos pontos/tecidos no espaço e os picos das frequências no espectro, é completamente
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