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Avaliação do Curso de História do Brasil III

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Universidade Federal do Rio de Janeiro
Avaliação do curso de História do Brasil III 
IHI313-Historia do Brasil III
Professor Marcos Bretas
Graduando: André Cândido Almeida DRE 115042107
Tema livre dentro do contexto histórico entre 1889 e 1945
O voto na Primeira República (1889-1930)
Antes de estabelecer os parâmetros institucionais que modificaram o sistema eleitoral no período
republicano, deve-se delimitar as características do sistema eleitoral no período imperial apenas
como método de comparação. Entretanto, pode-se afirmar sem dúvidas que o clientelismo, o
patrimonialismo, a fraude eleitoral eram marcas que já existiam no período eleitoral do Império,
porém o poder moderador do Imperador no segundo reinado nunca foi usado para interferir nas
eleições em razão do poder econômico e político dos donos de terras e cafeicultores, principais
provedores das rendas nacionais.
Pode-se destacar como características do sistema eleitoral do segundo reinado o voto masculino (25
anos com exceção dos bacharéis) censitário, o qual o nível de renda era diferente para votar nas
paróquias (100 mil réis) e nas províncias (200 mil réis), porém se o eleitor tivesse o nível de renda
mas fosse analfabeto poderia votar. Num exemplo materializado pela teledramaturgia brasileira, o
Coronel chega com o seu plantel de escravos na zona eleitoral afirmando que são homens livres e
cidadãos aptos a exercer o direito de voto nos termos da lei, pois estavam calçando sapatos. Para ser
candidato a deputado, o aspirante ao cargo tinha de ter uma renda anual de 400 mil réis e os
candidatos ao senado tinha de ter uma renda anual de 800 mil réis. Além de ser censitário, o
alistamento eleitoral não era obrigatório e o voto indireto. Dessa forma, vemos que os principais
cargos legislativos do país eram unicamente alcançados por pessoas que tinham um poder aquisitivo
bastante elevado naquela época e nunca poderiam contar com a participação das camadas populares.
A reforma eleitoral republicana acabou com o voto censitário e proibiu os analfabetos de votar e
serem votados, fato abolido apenas com a Constituição de 1988. Verbis:
“consideram-se eleitores, para as câmaras gerais, provinciais e municipais, todos os cidadãos
brasileiros, no gozo dos seus direitos civis e políticos, que souberem ler e escrever” (decreto nº 6 de
19 de novembro de 1889).
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988
Entretanto, foi aberta uma exceção para quem mesmo sendo analfabeto tinha se alistado pela última
legislação imperial, os quais foram incluídos de ofício pela autoridade eleitoral, privilegiando com o
direito ao voto e o direito de ser candidato todos os ricos e proprietários analfabetos.
A primeira Constituição república determinou que o voto seria masculino e a idade para votar foi
reduzida para 21 anos com exceção de bacharéis e outros cargos militares e eclesiásticos que
independia da idade, porém o alistamento eleitoral e o voto não eram obrigatórios.
Todos os cargos eletivos nacionais eram preenchidos pelo sistema eleitoral. Os candidatos a
presidente e vice-presidente disputavam uma eleição a parte sendo considerado o vencedor quem
tivesse a maioria absoluta do voto, caso contrário, o Congresso deveria escolher o presidente ou
vice de forma indireta quem ocuparia os cargos, para um mandato de 4 anos. Cada estado elegia 3
senadores para um mandato de 9 anos, sendo que a renovação de 1/3 era feita a cada 3 anos. A
Câmara de deputados era escolhida para um mandato de 3 anos. Os estados tinham autonomia para
realizarem os pleitos eleitorais para os seus respectivos governadores e deputados das assembleias
legislativas.
A concessão de autonomia aos estados para conduzirem os seus pleitos locais criou uma série de
variações eleitorais que interferiram diretamente nos pleitos municipais, diminuindo a sua
autonomia e o poder das câmaras locais construídos ao longo da história do Brasil, ou seja,
interferindo sobremaneira na interferência dos coronéis no poder local. Entretanto, as coligações
eram realizadas para que o poder local espelhasse o poder central.
Sucessivas mudanças na legislação de alistamento eleitoral no período da primeira república já
denotavam que havia interferência local na construção dos quadros de eleitores, pois o alistamento e
o voto não eram obrigatórios diante de uma população de quase 90% de analfabetos e desvalidos. A
disputa pelo poder e pelo orçamento público colocavam em confronto as elites locais na busca do
poder político central. Com isto, nasce a primeira fraude eleitoral no sistema de alistamento, verbis:
“As facções majoritárias na política local passaram a controlar o processo de alistamento, o que deu
margem a toda sorte de fraudes e manipulações para facilitar a inclusão de correligionários e a
exclusão dos adversários”.
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988
Em 1904, a legislação mudou a composição da banca de alistamento incluindo um Juiz de Direito e
representantes dos poderes econômicos locais, para fiscalizar o alistamento eleitoral. Para ser
cadastrado como eleitor,
“o cidadão deveria provar que sabia ler e escrever, redigindo em livro especial seu nome, estado,
filiação, idade, profissão e residência perante a comissão de alistamento”.
Somente em 1916, com a vigência do Código Civil, o Poder Judiciário passou a fiscalizar o
cadastramento eleitoral, para as eleições federais.
“A documentação para o alistamento ficou mais exigente (devendo ter firma reconhecida) e o
cidadão devia provar: idade, capacidade de assegurar sua subsistência, residência por mais de dois
meses no município e demonstração de saber ler e escrever”.
Apesar do rigor, as fraudes no sistema de alistamento continuavam acorrendo no período.
Durante as 4 décadas da primeira república o sistema eleitoral não foi modificado. Expressões como
curral eleitoral, voto de cabresto espelhava as características do período. Os candidatos não
precisavam se candidatar previamente e nem participar de um partido específico. As cédulas
eleitorais não tinham um padrão específico, de modo que ou os próprios candidatos
confeccionavam, portanto a noção de voto de cabresto, ou modelos eram impressos nos principais
jornais da época. Os poucos eleitores eram disputados verdadeiramente no tapa nas cercanias das
zonas eleitorais, literalmente, verdadeiros currais eleitorais.
Curiosamente, a primeira eleição da República para deputado (e senadores) realizada em 1890
utilizou o mesmo sistema utilizado na primeira eleição do Império. Seria um sinal de continuidade
da hegemonia dos poderes locais? Verbis:
“Os eleitores depositavam na urna uma lista de nomes, tantos quantos fossem as cadeiras do estado
na Câmara. Por exemplo: como São Paulo tinha 22 representantes, o eleitor votava em 22 nomes.
Terminada a apuração, os votos eram imediatamente contados. Os resultados eram enviados para as
câmaras municipais das capitais, que fariam a apuração final 30 dias após as eleições. Os nomes
mais votados em todo o estado eram eleitos. As mesas eleitorais eram presididas pelo presidente da
Câmara Municipal, que indicava seus cinco componentes”.
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111983995/c%C3%B3digo-civil-lei-10406-02
Após a promulgação da nova Constituição em 1892, um novo sistema eleitoral foi adotado para as
eleições da Câmara dos Deputados.
“Os estados foram divididos em distritos eleitorais, cada um deles elegendo três deputados —
quando o número total de deputados do estado não era múltiplo de três, agregava-se a fração ao
distrito capital; os estados com até cinco representantes formavam um único distrito”.Cada eleitor votava em 2/3 dos candidatos do distrito. Assim que acabava a votação, a mesa contava
os votos e enviava os resultados de todas as mesas eleitorais para serem apurados. Em 1904, foi
implementada a última alteração no sistema eleitoral do período. Os distritos passaram a eleger
cinco representantes e o eleitor podia votar em quatro nomes. A novidade era poder votar até 4
vezes no mesmo candidato (voto cumulativo), segundo especialistas da época, o voto cumulativo
era para assegurar a representatividade das minorias.
“É interessante notar que 50 anos antes (1855), a primeira mudança do sistema eleitoral imperial foi
realizada com a mesma justificativa”. Daí a noção de continuidade da concentração de poder
econômico e político e a ausência de representatividade da população de forma generalizada. Quais
são as minorias?
A lei de 1904 manteve o voto secreto, mas introduziu um estranho mecanismo, o voto a descoberto
ou voto de cabresto, que na prática violava o princípio do sigilo. O eleitor assinava duas cédulas
eleitorais, sendo uma depositada na urna e a outra ficava em seu poder, a qual poderia ser exigida
pelos cabos eleitorais do candidato. O voto a descoberto foi um dos principais responsáveis pela
ausência de lisura das eleições realizadas no período.
Devido a elaboração de uma vasta legislação eleitoral no período da primeira república tem-se a
falsa noção de que os cargos eletivos eram disputados de forma democrática e que o seu resultado
demonstrava as preferências dos eleitores para exercerem a sua representatividade num sistema
republicano de governo. Porém, não foi constatação, verbis:
“Mas isso não ocorria, pois o processo eleitoral era absolutamente viciado pelas fraudes em larga
escala e, salvo poucas exceções, as eleições não eram competitivas. As eleições, mais do que
expressar as preferências dos eleitores, serviram para legitimar o controle do governo pelas elites
políticas estaduais”.
Ademais,
“A fraude era generalizada, ocorrendo em todas as fases do processo eleitoral (alistamento dos
eleitores, votação, apuração dos votos e reconhecimento dos eleitos). Os principais instrumentos de
falsificação eleitoral foram o bico de pena e a degola. A eleição a bico de pena consistia na
adulteração das atas feitas pela mesa eleitoral (que também apurava os votos)”.
Nas palavras de Vitor Nunes Leal,
“inventavam-se nomes, eram ressuscitados os mortos e os ausentes compareciam; na feitura das
atas, a pena todo-poderosa dos mesários realizava milagres portentosos”.
Ademais, as Câmaras de Deputados tinham uma comissão para analisar se os candidatos eleitos
eram presumivelmente legítimos. Quando tais deputados componentes de tais comissões se
deparação com a eleição de seus adversários políticos, era acionado um sistema conhecido como
degola, a qual indeferia a diplomação do candidato adversário eleito.
Nas palavras de Assis Brasil, este era o sistema eleitoral deste período republicano, verbis:
“Ninguém tem certeza de ser alistado eleitor; ninguém tem certeza de votar, se por ventura for
alistado; ninguém tem certeza de que contem o voto, se porventura votou; ninguém tem certeza que
esse voto, mesmo depois de contado, seja respeitado na apuração da apuração, no chamado terceiro
escrutínio que é arbitrária e descaradamente exercido pelo déspota substantivo, ou pelos déspotas
adjetivos, conforme o caso for da representação nacional ou das locais”.
Ademais, este período eleitoral republicano ficou caracterizado pela baixa adesão da população ao
voto, o qual não era obrigatório e os analfabetos foram excluídos do voto, em razão do número de
habitantes que estariam aptos a votar. Nessa época, a taxa de analfabetismo da população adulta era
de mais de 50%: 65% (1900), 65% (1920) e 60% (1930).
História do Voto no Brasil – Jairo Nicolau – Editora Zahar

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