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Belo Horizonte 2017 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Graduação em Direito Larissa Simões Mello dos Santos TRÁFICO DE SERES HUMANOS PARA FINS DE EXPLORAÇÃO SEXUAL Belo Horizonte 2017 Larissa Simões Mello dos Santos TRÁFICO DE SERES HUMANOS PARA FINS DE EXPLORAÇÃO SEXUAL Monografia apresentada ao Curso de Direito da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito. Orientador: Prof. Daniel Augusto Arouca Bizzotto Larissa Simões Mello dos Santos TRÁFICO DE SERES HUMANOS PARA FINS DE EXPLORAÇÃO SEXUAL Monografia apresentada ao Curso de Direito da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito. Área de concentração: ___________________________________________________________________ Prof. ___________________________________________________________________ Prof. ___________________________________________________________________ Prof Belo Horizonte, de 2017 Dedico este trabalho aos meus queridos e amados pais Ewerton e Margaret e a minha irmã Talita. AGRADECIMENTOS Meus agradecimentos primeiramente ao Deus onipotente, pela força maior, sem a qual nada seria possível. Aos meus pais Ewerton e Margaret, que são o meu porto seguro. A Talita minha querida irmã. Ao Professor Daniel Bizzotto, meu orientador e amigo de todas as horas, que contribuiu de maneira ímpar na elaboração deste trabalho. Aos professores da PUC do São Gabriel, que me ensinaram a importância do saber, me auxiliando e guiado com os seus ensinamento. A todos aqueles que direta ou indiretamente contribuíram para a elaboração do presente trabalho. RE SU M O Est e est “A regra da igualdade não consiste senão em quinhoar desigualmente aos desiguais, na medida em que se desigualam. Nesta desigualdade social, proporcionada à desigualdade natural, é que se acha a verdadeira lei da igualdade... Tratar com desigualdade a iguais, ou a desiguais com igualdade, seria desigualdade flagrante, e não igualdade real. Rui Barbosa udo tratar do tráfico de seres humanos para fins de exploração sexual, um problema global que atinge todos os países do mundo, em especial o Brasil. A metodologia utilizada foi a revisão bibliográfica que se utiliza de fontes primárias e secundárias, com o objetivo de analisar a dimensão do tráfico de pessoas nos dias atuais. A proposta de analisar o problema do tráfico de seres humanos para fins sexuais teve como motivação a necessidade de compreender e debate, este ilícito penal que viola diretamente os direitos fundamentais do homem. Neste sentido, a pesquisa consiste em apontar o conceito do tráfico de pessoas, analisar os sujeitos ativos e passivos, identificar as principais causas do tráfico de pessoas para fins de exploração sexual, descrever as modalidades de exploração sexual a qual as vítimas são submetidas, bem como, expor a legislação a respeito do tema e, por fim, estabelece a responsabilidade do Estado. Portanto, demonstrar que é uma escravidão moderna que precisa ser represado pelo Brasil. Palavras-chave: Tráfico de Pessoas. Exploração sexual. Responsabilidade do Estado ABSTRACT Deve ser feita a tradução do resumo para a língua estrangeira. Deixe um espaço entre o abstract e as key-words. Key-words: Word 1. Word 2. Word 3. Word 4. Word 5. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABNT CBO MJ NETPs OAB OIT OMT ONU PAAHMs PNETP SNJ UNOCC Associação Brasileira de Normas Técnicas Classificação Brasileira das Ocupações Ministério da Justiça e Segurança Pública Organização Mundial do Turismo Ordem dos Advogados do Brasil Organização Internacional do Trabalho Organização Mundial do Turismo Organização das Nações Unidas Secretaria Nacional de Justiça United Nations Office on Drugs and Crime SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 199 2 TRÁFICO DE SERES HUMANOS E SUAS PECUALIDADESErro! Indicador não definido. 2.1 O mundo das falsas ilusões ................................... Erro! Indicador não definido. 3 EXPLORAÇÃO SEXUAL ........................................ Erro! Indicador não definido. 3.1 Prostituição............................................................ Erro! Indicador não definido. 3.1.1 Prostituição de crianças e adolescentes ............. Erro! Indicador não definido. 3.2 Turismo Sexual ..................................................... Erro! Indicador não definido. 3.3 Pornografia infantil ................................................. Erro! Indicador não definido. 4 LEGISLAÇÃO SOBRE O TRÁFICO DE SERES HUMANOSErro! Indicador não definido. 4.1 A legislação brasileira perante o tráfico de pessoas para fins de exploração sexual ......................................................................... Erro! Indicador não definido. 5 RESPONSABILIDADE DO ESTADO ...................... Erro! Indicador não definido. 5.1 Politicas de prevenção ao trafico de pessoas ........ Erro! Indicador não definido. 5.2 Campanhas nacionais .......................................... Erro! Indicador não definido. 5.3 Assistência a vítima ............................................... Erro! Indicador não definido. 6 CONCLUSÃO .......................................................................................................43 REFERÊNCIAS ........................................................................................................46 ANEXOS ..................................................................... Erro! Indicador não definido. ANEXO A – Título do anexo ........................................ Erro! Indicador não definido. 19 1 INTRODUÇÃO O tráfico de seres humanos está presente deste dos primórdios da história do homem, porém nas últimas décadas tem ganhado destaque por ter se tornado o meio de escravizar a liberdade física e moral. Segundo dados da ONU, o tráfico de pessoas movimenta anualmente 32 bilhões de dólares em todo o mundo. Desse valor, 85% provêm da exploração sexual. Assim, o tráfico de pessoas para fins de exploração é a finalidade mais frequente e tem como principal alvo mulheres, adolescentes e crianças devido vulnerabilidade social. Portanto, o tráfico de pessoas é um problema global que atinge o Brasil a séculos que precisa ser conhecido e debatido por toda sociedade, tendo em vista que é um crime que viola diretamente os direitos fundamentais, em destaque a dignidade da pessoa. A Constituição assegura como direito fundamental a dignidade da pessoa humana, portanto toda ação que violar esse preceito deve ser modificado para garantir os preceitos estipulados. Considerando a relevância do tema, o objetivo geral a ser alcançado é o estudo do tráfico de seres humanos para fins de exploração sexual no Brasil. Em relação aos objetivos específicos, foram estabelecidos: a definição do tráfico de pessoas; a análise do perfil das vítimas e dos aliciadores; as condições sociais que favorece o tráfico; a definição de exploração sexual e suas modalidades; oestudo da legislação nacional a respeito do tema; a análise da responsabilidade do Estado, em relação às políticas de prevenção ao tráfico de pessoas, as campanhas nacionais e a assistência à vítima. A metodologia utilizada no presente trabalho é de cunho qualitativo, sendo assim foi realizado um extenso levantamento bibliográfico. Entretanto, devido à escassez de livros nacionais que abordassem o tema, foi realizada uma coleta de dados e informações presente em relatórios produzidos pela UNOCC (United Nations Office on Drugs and Crime), Ministério da Justiça e Segurança Pública e ONU (Organização das Nações Unidas), além de estudos em cartilhas e manuais do Ministério Público e da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). Assim, no primeiro capítulo, foi definido o conceito de tráfico de pessoas segundo o Protocolo de Palermo e analisado os elementos constitutivos do 20 crime de tráfico de pessoas. Em seguida, demostrou o perfil das vítimas e os problemas sociais que possibilitam o tráfico de pessoas. Também foi abortado o perfil dos aliciadores e forma que eles utiliza para atrair as vítimas. Foram abordadas, ainda, a principal finalidade do tráfico de pessoas, que é a exploração sexual foco do presente trabalho. Por fim, o primeiro capítulo trata de forma geral o tema apontando os principais elementos. No segundo capítulo, foi exposta a definição de exploração sexual e suas modalidades; prostituição, turismo sexual e pornografia infantil. Sendo assim, foram apresentadas as principais características de cada modalidade. O terceiro capítulo aborda a legislação sobre o tráfico de pessoas com enfoque na legislação nacional. Sendo assim, inicialmente o capitulo discorre sobre o principal documento internacional que trata do tema e posteriormente da evolução histórica da legislação nacional em relação ao tráfico de pessoas. Por fim, o capítulo sobre a última mudança na legislação que ampliou o bem jurídico tutelado. O quarto capítulo analisa a responsabilidade do Estado em relação aos problemas causado pelo tráfico de pessoas. Assim, o capítulo analisa as políticas de prevenção ao tráfico de pessoas e assistência que o governo e as entidades devem fornecer a vítima e todos os envolvidos. Em síntese, o presente trabalho visa demostrar a relevância de se discutir o tráfico de pessoas para fins de exploração sexual. 21 2 TRAFICO DE SERES HUMANOS E SUAS PECUALIDADES O tráfico de pessoas é uma atividade ilícita que movimenta pessoas no mundo inteiro no âmbito nacional ou internacional, com o objetivo de aquisição de lucro, em que as vítimas são predominante mulheres, crianças e adolescentes para mercado sexual. O Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra a Criminalidade Organizada Transnacional relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em especial Mulheres e Crianças, nos termos do artigo 3° definiu o Tráfico de pessoas: O recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça ou uso da força ou a outras formas de coação, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade ou à situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para obter o consentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra para fins de exploração. A exploração incluirá, no mínimo, a exploração da prostituição de outrem ou outras formas de exploração sexual, o trabalho ou serviços forçados, escravatura ou práticas similares à escravatura, a servidão ou a remoção de órgãos. (BRASIL, 2004). O Protocolo determina três elementos constitutivos do crime de tráfico de pessoas: ato/ação; os meios; e objetivo de exploração. Portanto, para que o seja considerado tráfico de pessoas deve haver a combinação dos três elementos constitutivos. Além dos três elementos básicos é importante enfatizar que o tráfico de pessoas envolve no mínimo duas pessoas, o aliciante e a vítima. Neste sentido, Damásio de Jesus ressalta que o “ilícito se inicia com o aliciamento e termina com a pessoa que explora a vítima” (DAMASIO, 2003, p. 131-132). O crime do tráfico de pessoas tem maior êxito em relação as mulheres, crianças e adolescente, pelo fato destes seres muita das vezes os hipossuficiente na sociedade da qual está inserido. Na maior parte do mundo e em particular no Brasil as mulheres, crianças e adolescentes são vítimas de problemas sociais graves, como violência, pobreza, desigualdade de oportunidade e renda, discriminação, escolaridade, baixa inclusão nas políticas sociais entre outros. Estes fatores sociais é o que possibilitar o crescimento do tráfico de pessoas, haja vista que os aliciadores tiram proveito da vulnerabilidade econômica e social da vítima e de sua família, ou aproveita dos sonhos pessoais, para conquistar as suas vítimas. Os aliciadores acena um mundo de oportunidades, de ganho de 22 dinheiro, carreira profissional, entre outras vantagens, levando a vítimas acreditar que é uma chance ímpar para a conquista de uma vida digna. As oportunidades oferecidas pelos aliciadores “é o canto da sereia. Eles prometem tudo: vida melhor, bons salários, viagem para o exterior, tudo com pouco trabalho”. (Secretário de Justiça e Direitos Humanos do Acre, Nilson Mourão). Assim, as vítimas tem o imaginário manipulado e não percebe os riscos por trás das propostas atraentes. Entretanto, algumas vítimas aceita as propostas do aliciador já tendo o consentimento de que realizara determinada atividade, porém acreditando que em troca receberá uma boa remuneração. Este consentimento viciado não afasta a configuração do crime de tráfico de pessoas, haja vista que o Protocolo de Palermo no artigo 3 “b” prevê que se houve qualquer tipo de exploração, o aval dado pela vítima, será considerado irrelevante. O consentimento dado pela vítima de tráfico de pessoas tendo em vista qualquer tipo de exploração descrito na alínea a) do presente Artigo será considerado irrelevante se tiver sido utilizado qualquer um dos meios referidos na alínea a) ;(BRASIL,2004) Destarte, existem dois perfis de vítimas do tráfico de pessoas, a pessoa que é totalmente enganada e a outra que é parcialmente enganada. A Organização Internacional do Trabalho fez essa distinção: Uma parte dessas vítimas é completamente enganada, embarcando com a crença de que encontrará trabalho digno e com boa remuneração. Já outra parcela tem consciência de que foi arregimentada para a indústria do sexo ou para algum tipo de trabalho braçal. Estas vão descobrir ao chegar que as condições de trabalho, o pagamento e o grau de liberdade pessoal não são os mesmos que haviam sido combinados. (OIT, 2006, p.57) Neste mesmo sentindo Damásio E. de Jesus explanou: Em resumo, há dois perfis de mulheres traficadas: o da mulher que viaja a procura de um emprego com bom salário, mas que na verdade é enganada, pois o objetivo real da viagem é a exploração; e o da mulher que já estava inserida na prostituição antes mesmo de fazer a viagem ao exterior. (DAMÁSIO, 2003, p.129) Enfim no tráfico de pessoas o aliciador aproveita da imaturidade, falta de experiência, condição financeira, ingenuidade ou qualquer vulnerabilidade da vítima para explorá-los comercialmente como se fossem mercadoria. 23 2.1 O MUNDO DAS FALSAS ILUSÕES Atualmente, lamentável que mulheres e adolescentes do sexo feminino, são as principais vítimas do tráfico de pessoas para o mercado sexual. Segundo “dados coletados pela UNODC em 2014 as mulheres e adolescente do sexo feminino representaram cerca de setenta por cento das vítimas detectadas” (UNODC,2016). As vítimas são aliciadas pelas diferentes formas e são geralmente enganadas com falsas promessas, haja vista que “a exploração no mercado do sexo é disfarçada como se fosse o recrutamento de modelos, babás, garçonetes, dançarinas ou,ainda, a atuação de agências de casamentos.” (TRAFICO DE PESSOAS MERCADO DE GENTE, cartilha Reporte Brasil 2012- PAG 12). As mulheres e meninas vítimas do tráfico para fins de exploração sexual são geralmente aliciadas por familiares, amigos, pelas redes sociais ou por pessoas que se esconde atrás de atividades licitas. Segundo o Conselho Nacional de Justiça, os aliciadores apresenta as seguintes peculiaridade: Os aliciadores, homens e mulheres, são, na maioria das vezes, pessoas que fazem parte do círculo de amizades da vítima ou de membros da família. São pessoas com que as vítimas têm laços afetivos. Normalmente apresentam bom nível de escolaridade, são sedutores e têm alto poder de convencimento. Alguns são empresários que trabalham ou se dizem proprietários de casas de show, bares, falsas agências de encontros, matrimônios e modelos. As propostas de emprego que fazem geram na vítima perspectivas de futuro, de melhoria da qualidade de vida. (CNJ, BRASIL,2017) Neste contexto Damásio E. de Jesus 2003, p. 131-132) explica as formas que os aliciadores utilizam: Outras formas de recrutamento relacionam-se mais diretamente com a presença de aliciadores em casas de prostituição, boates, hotéis e, sobretudo, para a exploração de meninas, bares e restaurantes de beira de estrada. Em muitos casos, o aliciamento ocorre de boca em boca, por intermédio de mulheres que foram traficadas para trabalhar em boates no exterior e retornam com a incumbência de fornecer vítimas ao negócio. Em muitos casos, os aliciadores procuram “consentimento” dos próprios familiares para o início da empreitada, sem revelar os muitos detalhes sórdidos e perigosos da oportunidade. As propostas feitas pelos traficantes causa deslumbramento nas vítimas, porém ao chegarem ao destino as vítimas encontram uma realidade oposta do que foi lhe prometido. Vivenciam uma realidade desumana, tendo em vista que elas passam a ser consideradas clandestinas, tem os passaportes retidos pelos 24 traficantes, muitas das vezes não conhece o idioma do país para qual foi enviado, tem jornadas de trabalho exaustivas, são privadas de qualquer meio de comunicação, além de ser obrigadas a se relacionar sexualmente com várias pessoas. A título de ilustração, há o relato de Ana Lúcia Furtado, uma vítima do tráfico de pessoas. Ana Lúcia Furtado era empregada doméstica e sustentava três filhos quando, aos 24 anos, recebeu uma proposta para o que sonhava ser um futuro melhor: trabalhar como garçonete em Israel. Mas acabou virando prostituta numa boate. Vítima do tráfico de mulheres, ela relata Como foram os três meses em que ficou em poder da quadrilha e a morte de sua prima, Kelly Fernanda Martins, com quem viajou para Israel. G1 — O que você fazia antes de tudo isso acontecer? Ana Lúcia— Antes de receber o convite pra ir pra Israel eu tinha três filhos: minha filha de 1 ano e pouco, um filho de 7 e outro de 10. E trabalhava de empregada doméstica. Criava meus filhos com a ajuda da minha mãe. Eu era muito próxima a Kelly, que era prima minha de segundo grau. A gente era amiga, ia para a balada juntas e foi quando, em uma dessas saídas, a gente conheceu a Rosana, em um pagode em Madureira. Ficamos amigas, ela saía com a gente, frequentava a nossa casa. Foi quando ela fez a proposta pra gente. G1 — Como foi a proposta? Ela falou: viajei [para Israel], cheguei agora, eu comprei essa casa, uma belíssima casa, comprei carro. Estou cheia de dinheiro. Lá fora está dando dinheiro legal. “E o que você faz lá fora”, perguntei. “Ah, a gente trabalha em lanchonete, pizzaria, e ganha US$ 1,5 mil por mês”. Poxa, você estava vivendo uma situação difícil, com três filhos pra criar, sozinha, morando na casa da sua mãe. Precisando tanto eu quanto a Kelly, que tinha dois filhos, morava com a mãe também. A gente querendo ter a própria independência, casa e dar futuro melhor pros filhos. Chega alguém dizendo que viajou, ganha US$ 1,5 mil por mês, e é fácil assim. E as pessoas oferecem passagem, tiram seu passaporte e tudo. E a gente se interessou, né?! Foi quando ela ligou pra essa pessoa em Israel, que no caso era a Célia, aí ela entrou em contato com a gente e falou que mandava uma passagem pra gente pra trabalhar em uma lanchonete lá em Tel Aviv. G1 — Vocês só falavam com a Rosana? Ana Lúcia— Só depois de um tempo a gente passou a falar com a Célia, daqui do Brasil. Ela disse que tinha várias lanchonetes, que era brasileira e que havia várias meninas trabalhando, que dava um dinheiro legal. Aí a gente ficou radiante, ficou feliz, achando: a gente vai pra lá, fica seis meses e quando voltar compra a nossa casa. Esse era o nosso sonho. Tanto que teve mais meninas interessadas também, inclusive duas meninas que conheceram através da gente e foram na nossa frente. G1 — Vocês em nenhum momento desconfiaram de nada? Ana Lúcia— Não, não desconfiamos de nada porque é tudo muito verdadeiro o que a Rosana apresentava pra gente aqui no Brasil. Vinha na nossa casa, sentava, almoçava. E a mãe dela também falava que aquilo era tudo verdade, 25 que ela ia pra lá, trabalhava de garçonete lá e voltava com dinheiro. Já tinha comprado casa, carro e estava dando pra sobreviver, estava com uma vida bem melhor. E a gente frequentava a casa dela. E acreditou, né? Foi quando começaram a agir, tiraram o passaporte, tiraram passagem, compramos roupa. E a Rosana ainda falava pra gente: “Lá é um lugar em que vocês não podem andar com roupa muito pelada. Tem que levar umas roupas cobrindo o corpo”. E a gente, inocente, levava. G1 — E vocês não tiveram mais notícia das duas que foram antes? Ana Lúcia— Não tivemos mais contato com elas, porque elas foram em uma semana e nós fomos em outra. Porque não podiam ir quatro de uma vez, tinha que ir de duas em duas pra poder passar na fronteira de lá. Isso era o que a Rosana falava pra gente. Então foram essas duas meninas. E depois fomos eu e Kelly, garimpando de país em país. Passamos por Espanha, Alemanha e depois França. Quando chegamos na França tinha dois israelenses da máfia nos esperando. Quando chegamos, dormimos no hotel do aeroporto da França. Eles levaram a gente pra jantar, passeamos, conhecemos algumas coisas lá em Paris. E depois, no outro dia, fomos pra Tel Aviv. Mas quando chegamos na França, eles já pegaram nosso passaporte e passagem, e disseram: “Tem que ficar com a gente pra passar na fronteira de Israel”. Quando chegamos em Tel Aviv, já tinha mais duas pessoas esperando a gente com carro. G1 — Em Tel Aviv vocês foram levadas para onde? Ana Lúcia— Eu e Kelly fomos numa boa, entramos no carro. Quando nós chegamos em Tel Aviv, primeiro eles foram pra boate onde ia ficar a Kelly, que era a Playboy. Quando chegamos lá na porta, a Kelly era mais desaforada, mais agitada, mais brigona, tipo o que a Carolina está fazendo no papel, e falou: “Ana Lúcia, que lugar estranho, pra trabalhar. Uma casa velha, que lugar feio”. O rapaz disse assim: “Entra”. Nós entramos e quando chegamos na sala, havia um sofá, onde estavam muitas meninas, todas brasileiras, com roupas íntimas, sutiã e um shortinho íntimo que se usa por baixo da roupa. Entre as meninas sentadas ali tinha uma que tinha ido na nossa frente. E a Kelly falou assim: “Gente, que lugar é esse?”. Aí a Rita falou assim: “Psiu, não fala nada, depois eu te falo”. A Kelly falou: “Eu não vou ficar aqui, não. Ana Lúcia, a gente não vai ficar aqui. A gente vai embora. Você me trouxe pra me prostituir? Pra me prostituir eu me prostituía no meu país”. Ela era mais desaforada. Eu fiquei morrendo de medo. Porque aí essa menina disse pra gente: “Olha só, não faz escândalo e faz o que eles querem, porque aqui é isso que vocês estão vendo”. Aí um dos rapazes que foi buscar a gente em Paris falou: “Você vai ficar aqui, pra Kelly, e você vem comigo, pra mim”. Aí eu fui, estava morrendo de medo. Aí eu fui pra Eliá (boate). G1 — Como foinesse local? Ana Lúcia — Quando cheguei encontrei a outra menina, que foi na minha frente. Aí ela me pegou na cozinha e me disse o que era. Aí já dava pra ver os quartos, a sala onde as meninas ficavam sentadas e a recepção com a gerente. Aí me explicaram: “Ana Lúcia, hoje mesmo você começa a trabalhar”. A Célia me levou pra um quarto pra trocar de roupa e conversou comigo. Eu era mais medrosa. A Kelly era mais brigona, tinha mais atitude. Eu falei que tinha que falar com minha família, porque já fazia três dias que eu não falava com minha família. Aí ela falou que à noite deixava falar com a minha família. Aí eu fui pro salão junto com as outras meninas, muitas meninas brasileiras. O tráfico de mulheres pra lá é mais de brasileiras. Você só vê brasileira. Mas realmente existem muitas meninas trabalhando em lanchonetes. G1 — E não era pra se prostituir? Ana Lúcia— Não, era só para trabalhar mesmo. 26 G1 — E você em algum momento chegou a dizer: “Não, eu não quero fazer”? Ana Lúcia— Chegamos. Todo mundo chega falando isso. G1 — E aí? Ana Lúcia— Eles dizem: “Não, agora você vai ter que pagar o que me deve”. “E quanto eu lhe devo”. “Você me deve R$ 1,5 mil de passagem, R$ 1 mil pra entrar no país, cabelo, roupa, você me deve muita coisa. Quando você me pagar tudo o que me deve, eu te mando de volta pro teu país”. Mentira, né?! Porque você nunca consegue pagar a dívida com eles. Porque a dívida sempre está aumenta cada vez mais. E a gente quase não comia. A gente comia quando fugia, normalmente na sexta-feira. G1 — Pra onde? Ana Lúcia— Pra lanchonete que era na beira da praia. G1 — E vocês não procuraram a polícia? Ana Lúcia— Não, porque a gente fugia, mas eles sabiam onde a gente estava. Por isso a Kelly foi morta. Os seguranças seguiam a gente. G1 — E eles ameaçavam? Ana Lúcia— Ameaçavam. Diziam que se a gente saísse de lá, do lucro que estava dando pra eles, eles vinham para o Brasil matar nossa família, matar nossos filhos. E falavam que tinham endereço, que tinha foto, que sabia onde eles estudavam, como eles viviam. E realmente sabiam de tudo, porque a menina frequentou a nossa casa. Saía com a gente, comia e bebia. Eles sabiam tudo. E você vai arriscar? G1 — Como foi a primeira experiência sua? Ana Lúcia— Foi horrível. Num primeiro momento, você sentada ali exposta no sofá, chega um homem que você nunca viu na vida, fala assim: “É essa”. Aí te pega, te leva lá pra dentro do quarto, tem relação sexual contigo e depois sai com você e paga. Você se sente uma mercadoria. Depois é exposta a outro traficante, a um policial, é exposta a isso tudo. Você não tem querer. O teu querer é o deles. É chato, é ruim, você chora, esperneia, mas não adianta. Você tenta fugir. Tentamos fugir várias vezes, mas não conseguimos. G1 — Como? Ana Lúcia— A gente tentava, porque a gente saía, né?! A gente não sabia que estava sendo seguida, estava sendo seguida por dois carros. Foi quando eles botaram o carro na frente e atrás, e “sai”, “sai”, “sai”, botaram a gente dentro do carro e levaram de volta pro abrigo. Então eles foram ameaçando a gente o tempo todo, que sumiam do país, que nossa família não ia mais saber da gente. E realmente isso acontece muito. Muitas meninas morreram lá, estão presas desde a minha época e nunca mais conseguiram sair do país. É uma máfia, uma máfia russa, uma máfia muito perigosa. Aí não tentamos mais fugir. (G1, 2013) Assim, chegando ao destino as vítimas são submetidas a degradação, agressões psicológicas e físicas. Elas são “mantidas em cativeiro em locais insalubres e expostas a qualquer tipo de doença; são vigiadas a todo o momento e recebem alimentação de péssima qualidade que mal serve para a sobrevivência.” (SILVA, A.M.F; SILVA, C.K; BIZZOTTO,2016, p.8). Os traficantes 27 também ameaçam as vítimas usando muito das vezes os familiares como alvo. É imprescindível destacar que os traficantes cobram de suas vítimas de forma abusiva todas as despesas que eles tiveram com elas: passagens, alimentação e moradia. Enfim a o tráfico de pessoas é uma atividade censurada, em que a vítima é movida de um lugar para o outro com ou sem o consentimento, com a privação de exercer seus direitos, de agir conforme sua vontade. Além de ser uma atividade mercantil que envolve a vida de uma pessoa de forma degradante. 28 3 EXPLORAÇÃO SEXUAL A exploração sexual caracteriza-se pela relação de mercantilização, em que uma pessoa (aliciador) obtém lucro ou alguma vantagem ao se utilizar de atividades sexuais de um terceiro. Assim, o autor Vicente Faleiros no estudo A Exploração Sexual Comercial de Meninos, Meninas e Adolescentes na América Latina e Caribe, de 1998, descreve que a exploração sexual comercial é uma violência sexual sistemática que se apropria comercialmente do corpo como mercadoria para auferir lucro. “A exploração sexual, caracterizada pela relação mercantil por meio do comércio do corpo (sexo), inclui também o turismo sexual, o tráfico e a pornografia” (PIOVESAN. KAMIURA, p.111). Em síntese a exploração sexual é o ato em que o aliciador aproveita da imaturidade, falta de experiência, condição financeira, ingenuidade ou qualquer vulnerabilidade da vítima para explorá-los comercialmente como se fossem mercadoria, fazendo com que troque a liberdade sexual por dinheiro. Portanto é uma atividade mercantil que envolve as vítimas de forma desumana. 3.1 PROSTITUIÇÃO A prostituição comercial é uma das modalidades de exploração sexual, tendo em vista que “trata-se da prestação de favores sexuais, em geral, exercida por mulheres, crianças e adolescentes, em troca de determinada soma em dinheiro ou outra forma de compensação”. (SILVA, A.M.F; SILVA, C.K; BIZZOTTO,2016, p.94). “Assim, a prostituição, importando em venda, em tráfico, significa o comércio do corpo, a venda pública do corpo para satisfação dos prazeres dos homens, sem escolha.” (PÉRIAS, 2009, p. 107). Portanto a prostituição em análise é a que envolve exploração sexual, no qual o “terceiro obtém ou tenta obter alguma espécie de vantagem, seja financeira ou não, decorrente da prática sexual de outrem”. (SALGADO, 2013, p.288) É importante destacar que a prostituição em si não é reprimida, uma 29 vez que é reconhecida na Classificação Brasileira das Ocupações (CBO), instituída em 2002 por portaria do Ministério do Trabalho e Emprego, como profissionais do sexo. Porém o profissional deve realizar a atividade consciente e por sua mera vontade, caso contrário o que ocorre é a prostituição para fins exploração sexual. 3.1.1.1 Prostituição de crianças e adolescentes A prostituição de crianças e adolescentes não existe, tendo em vista que qualquer ato sexual em relação a criança é considerado abuso ou exploração sexual. O Protocolo Opcional à Convenção sobre Venda de Crianças, Prostituição e Pornografia Infantis de 1999 denominou que a “Prostituição infantil é o uso de uma criança em atividades sexuais mediante remuneração ou qualquer outra forma de consideração”. Segundo a Organização Internacional do Trabalho – OIT, a prostituição infanto-juvenil está listada entre as cinco piores formas de trabalho infantil (Convenção 182). Visando proteger as crianças e adolescentes contra a violação dos direitos sexuais o Estatuto da Criança e do Adolescente prevê no artigo 244 que qualquer pessoa que submeter criança ou adolescente, à prostituição ou à exploração sexual, será punida com pena de reclusão de quatro a dez anos, e multa. A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo de proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidade e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condiçõesde liberdade e de dignidade. (VERONESE; SILVEIRA, 2011, p.32) Em suma, a prostituição é a modalidade mais explorada pelos criminosos atualmente, considerando que ela envolve crianças e adolescentes em atividades sexuais inadequadas para idade cronológica ou desenvolvimento físico, psicológico e social. 3.2 TURISMO SEXUAL O Brasil é um país que atrair turistas do mundo inteiro devido a sua 30 beleza natural, diversidade regionais, culinária e beleza da população em especial das mulheres. “A sensualidade da mulher brasileira é ainda vendida normalmente pelas agências de turismo do mundo inteiro” (DAMASIO, p.158), pois a imagem da mulher brasileira como símbolo sexual, com samba no pé, curvas volumosas perpetua no imaginário do turista nacional ou estrangeiro. Estes fatores ocasiona o turismo sexual que foi definido pela a Organização Mundial do Turismo da seguinte forma: Viagens organizadas dentro do seio do setor turístico ou fora dele, utilizando, no entanto, as suas estruturas e redes, com a intenção primária de estabelecer contatos sexuais com os residentes do destino (OMT – Organização Mundial do Turismo, 1995, s/p). Visando atender o turismo sexual os aliciadores aliciar em sua maioria mulheres, crianças e adolescentes para ir de forma ilegal para os centros turísticos, para prestar serviços sexuais. 3.3 PORNOGRAFIA INFANTIL A pornografia infantil é uma das modalidades de exploração sexual que “envolve atos como produzir ou reproduzir, filmar ou fotografar imagens de sexo ou qualquer material pornográfico envolvendo crianças e adolescentes”. (DAMASIO, p.45). Neste contexto no artigo Perspectivas e desafios enfrentados pelos direitos humanos no mundo globalizado: um panorama conceitual de proteção à vida e a problemático do tráfico de pessoas para fins de exploração sexual os autores expõe que: A pornografia infantil define-se pela utilização de e-mails, comunicadores instantâneos, redes sociais ou qualquer outro meio que envolva crianças e adolescentes, com o objetivo de apresentar, produzir, vender, fornecer, divulgar ou publicar fotografias, imagens ou cenas que revelem atividades sexuais. (SILVA, A.M.F; SILVA, C.K; BIZZOTTO,2016, p.96). Sendo assim, em regra a pornografia infantil tem fins comercias e tem como principal aliada à internet, haja vista ser um meio de comunicação acessível a todos em especial as crianças. É importante salientar que conforme artigo 3° do Protocolo de Palermo o termo “criança” significa qualquer pessoa com idade inferior a dezoito 31 anos. A pornografia infantil visa um público especifico, ou seja, pedófilos que segundo a Organização Mundial de Saúde são pessoas adultas (homens e mulheres) que têm preferência sexual por crianças – meninas ou meninos - do mesmo sexo ou de sexo diferente, geralmente pré-púberes (que ainda não atingiram a puberdade) ou no início da puberdade. A Organização Mundial de Saúde classifica a pedofilia como transtornos da preferência sexual, portanto para a medicina os pedófilos são considerados doentes e deve ser tratados em relação ao transtorno. Apesar da pedofilia ser considerada doenças o Código Penal criminaliza a pornografia infantil no artigo 241-b do Estatuto da Criança e do Adolescente. Art. 241-B. Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer meio, fotografia, vídeo ou outra forma de registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente: (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008). Portanto a pornografia infantil é a modalidade de exploração sexual em que os atos têm vítimas específicas, crianças e adolescentes. Além deste fato a pornografia infantil está diretamente ligada à pedofilia. 32 4 LEGISLAÇÃO SOBRE O TRÁFICO DE SERES HUMANOS O tráfico de pessoas atualmente é um problema global que “envolve milhões de vítimas e gera bilhões de dólares para redes criminosas” (Yury Fedotou, 2013). Segundo dados do UNODC o tráfico de pessoas é o terceiro crime mais lucrativo do mundo. Tendo em vista que, “nenhum país consegue escapar desse crime terrível que viola diretamente os mais fundamentais direitos humanos” (Yury Fedotou, 2013), a Assembleia Geral da ONU aprovou em 15 de novembro de 2000, a Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional, mais conhecido como Convenção de Palermo. A Convenção é o principal instrumento legislativo de âmbito internacional, pois é através deste que os Estados membros pactuaram criar políticas de prevenção, proteção e criminalização em relação ao tráfico de pessoas. Os Estados-membros que ratificaram este instrumento se comprometem a adotar uma série de medidas contra o crime organizado transnacional, incluindo a tipificação criminal na legislação nacional de atos como a participação em grupos criminosos organizados, lavagem de dinheiro, corrupção e obstrução da justiça. A convenção também prevê que os governos adotem medidas para facilitar processos de extradição, assistência legal mútua e cooperação policial. Adicionalmente, devem ser promovidas atividades de capacitação e aprimoramento de policiais e servidores públicos no sentido de reforçar a capacidade das autoridades nacionais de oferecer uma resposta eficaz ao crime organizado. (UNODC,2017) É imprescindível destacar que a principal definição do tráfico de pessoas encontra-se no artigo terceiro do Protocolo de Palermo. Em suma, a Convenção tem como finalidade a cooperação internacional ao enfrentamento no tráfico de pessoas. 4.1 A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA PERANTE O TRÁFICO DE PESSOAS PARA FINS DE EXPLORAÇÃO SEXUAL O tráfico de pessoas no Brasil para fins de exploração sexual é um problema antigo na sociedade. Assim, a legislação brasileira vem buscando criminalizar este crime desde 1890, quando criminalizou pela primeira vez o tráfico internacional de mulheres no Código Penal Republicano, no artigo 278: Art. 278. Induzir mulheres, quer abusando de sua fraqueza ou miséria, quer constrangendo-as por intimidações ou ameaças a empregarem-se no tráfico da prostituição. (...) 33 Penas — de prisão celular, por um a dois anos, e multa de 500$000 a 1.000$000. Segundo Damásio de Jesus, a Consolidação das Leis Penais de 1932 foi o segundo texto legislativo a tratar do assunto. Porém, este dispositivo legal tratou do assunto de forma indireta nos §§ 1. ° e 2. ° do art. 278: Art. 278. (...) § 1.0Aliciar, atrair ou desencaminhar, para satisfazer as paixões lascivas de outrem, qualquer mulher menor, virgem ou não, mesmo com o seu consentimento; aliciar, atrair ou desencaminhar, para satisfazer as paixões lascivas de outrem, qualquer mulher maior, virgem ou não, empregando para esse fim, ameaça, violência, fraude, engano, abuso de poder, ou qualquer outro meio de coação; reter, por qualquer dos meios acima referidos, ainda mesmo por causa de dívidas contraídas, qualquer mulher maior ou menor, virgem ou não, em casa de lenocínio, obrigá-la a entregar-se à prostituição: Penas — as do dispositivo anterior. § 2º Os crimes de que tratam este artigo e o seu § 1.0 serão puníveis no Brasil, ainda que um ou mais atos constitutivos das infrações neles previstas tenham sido praticados em país estrangeiro. A terceira previsão legal em relação a criminalização do tráfico de mulheres para fins de exploração sexual, foi no Código Penal vigente no artigo 231. Art. 231. Promover ou facilitar a entrada, no território nacional, de mulher que nele venha exercer a prostituição, ou a saída de mulher que vá exercê-la no estrangeiro: (...) Apesar da previsão legal estar normatizada no Código Penal vigente, nos últimos anos o marco legal mais importante sobre a matéria ora em comento, foi a ratificação do Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráficode Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças, pelo Brasil com o Decreto nº 5.017 de 12 de março de 2004. O reconhecimento do Protocolo de Palermo pelo Brasil ocasionou a alteração do artigo 231 do Código Penal vigente, pois o artigo mencionado passou a incluir além das mulheres, homens, crianças e jovens. Também passou a caracterizar o tráfico para fins de exploração sexual dentro do território nacional. Sendo assim, a redação do o artigo 231 e 231-A do Código Penal após a alteração, ficou assim: Art. 231. Promover ou facilitar a entrada, no território nacional, de alguém que nele venha a exercer a prostituição ou outra forma de exploração sexual, ou a saída de alguém que vá exercê-la no estrangeiro: Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos. 34 § 1º Incorre na mesma pena aquele que agenciar, aliciar ou comprar a pessoa traficada, assim como, tendo conhecimento dessa condição, transportá-la, transferi-la ou alojá-la. § 2º A pena é aumentada da metade se: I - a vítima é menor de 18 (dezoito) anos; II - a vítima, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato; III - se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; ou IV - há emprego de violência, grave ameaça ou fraude. § 3º Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa. (BRASIL, 1940) Art. 231-A. Promover ou facilitar o deslocamento de alguém dentro do território nacional para o exercício da prostituição ou outra forma de exploração sexual: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. § 1º Incorre na mesma pena aquele que agenciar, aliciar, vender ou comprar a pessoa traficada, assim como, tendo conhecimento dessa condição, transportá-la, transferi-la ou alojá-la. § 2º A pena é aumentada da metade se: I - a vítima é menor de 18 (dezoito) anos; II - a vítima, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato; III - se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; ou IV - há emprego de violência, grave ameaça ou fraude. § 3º Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa. (BRASIL, 1940) Salientando que estas alterações ocorreram devido a Constituição da República Federativa do Brasil “assegura que o país cumprirá todas as orientações de acordos internacionais ratificados”. (Cartilha tráfico de pessoas mercado de gente) Embora as mudanças na legislação brasileira em 2005 ter sido relevantes, elas não atendiam as exigências internacionais. Sendo assim, buscando “constitui harmonização da lei brasileira ao Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas (Protocolo de Palermo)” (MJSP, 2016), em outubro de 2016 foi publicada a Lei nº 13.344/2016 que potencializou o 35 enfrentamento ao tráfico de pessoas no Brasil. A Lei n° 13.344/2016 ocasionou modificações pontuais, haja vista que com a entrada em vigor desta os artigos 231 e 231-A do Código Penal foram revogados e o crime de tráfico de pessoas passou a ser considerado crime contra liberdades individual acrescido no artigo 149-A. Art. 149-A. Agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir, comprar, alojar ou acolher pessoa, mediante grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso, com a finalidade de: I – remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo; II – submetê-la a trabalho em condições análogas à de escravo; III – submetê-la a qualquer tipo de servidão; IV – adoção ilegal; ou V – exploração sexual. Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. § 1º A pena é aumentada de um terço até a metade se: I – o crime for cometido por funcionário público no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las; II – o crime for cometido contra criança, adolescente ou pessoa idosa ou com deficiência; III – o agente se prevalecer de relações de parentesco, domésticas, de coabitação, de hospitalidade, de dependência econômica, de autoridade ou de superioridade hierárquica inerente ao exercício de emprego, cargo ou função; ou IV – a vítima do tráfico de pessoas for retirada do território nacional. § 2o A pena é reduzida de um a dois terços se o agente for primário e não integrar organização criminosa. Deste modo, o crime de tráfico de pessoas deixou de ser vinculado apenas a exploração sexual, passando a ser vinculado ao trabalho escravo, adoção ilegal e remoção de órgãos. Portanto, o bem jurídico tutelado pela norma foi ampliado. Ainda convém destacar que a nova “legislação torna mais rigorosa as penalidades e inclui medidas de atenção e proteção às vítimas” (MJSP, 2016). Segundo Cláudio Péret (2016), diretor de Políticas de Justiça do 36 Ministério da Justiça e Cidadania, a nova norma que tratar o crime de tráfico de pessoas “vai ao encontro do que há de mais moderno na legislação internacional para prevenir, reprimir e dar atenção às vítimas desse crime”. Em síntese, a legislação brasileira tenta reprimir o tráfico de pessoas para fins de exploração sexual a séculos, pelo fato de ser o principal alvo dos traficantes. Entretanto, no último ano a legislação sofreu uma mudança significativa, tornando mais rigorosa em relação ao tráfico para fins de exploração sexual. 37 38 5 RESPONSABILIDADE DO ESTADO O Estado brasileiro têm obrigações de reconhecer e proteger os direitos fundamentais de todos, tendo em vista que estas garantias estão preconizadas na Constituição e em convenções internacionais. Sendo assim, o Estado deve ter políticas públicas de prevenção e repressão em relação ao tráfico de pessoas, haja vista que é um crime desumano que atinge não só a vítima. 5.1 POLÍTICAS DE PREVENÇÃO AO TRÁFICO DE PESSOAS O Brasil visando mudar o cenário do tráfico de pessoas em seu território publicou em 2006 a Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e após dois anos o Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (PNETP). Ambos são de significativa importância, haja vista que por meio destes o Estado reconheceu que o tráfico de pessoas é um problema grave em que é imprescindível a intervenção do Estado por meio de políticas públicas. A Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas foi promulgada por meio do Decreto Presidencial nº 5.948, de 26 de outubro de 2006. Ela foi elaborada por um Grupo de Trabalho44 formado por representantes do Poder Executivo Federal, do Ministério Público Federal e do Ministério Público do Trabalho. ( +++,2012 p.38) O Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (PNETP) foi promulgado pelo Decreto nº 6.347, de 8 de janeiro de 2008. (+++,2012 p.39) A Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas é “um marco normativo inovador, que traz um conjunto de princípios, diretrizes e ações orientadoras da atuação do Poder Público” (SNJ, 2008, p.6 ). A Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas dividiu a atuação do Estado em três grandes eixos: prevenção ao tráfico; repressão ao crime e responsabilização de seus autores e atenção às vítimas. O primeiro Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (PNETP) foi elaborado e promulgado para efetivar as Políticas Nacionais. O PNETP objetivou “prevenir e reprimir o tráfico de pessoas, responsabilizar os seus autores e garantir atenção às vítimas, nos termos dalegislação em vigor e dos 39 instrumentos internacionais de direitos humanos”. (TRÁFICO DE PESSOAS EM PAUTA. Guia para jornalistas com referências e informações sobre enfrentamento ao tráfico de pessoas, 2014,p. 82) O Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas deu um passo adiante em relação à Política, pois transformou os princípios e as diretrizes da Política Nacional em prioridades (objetivos), ações e metas específicas e bem definidas a serem cumpridas pelo Estado Brasileiro em dois anos. Assim, o Plano transformou os discursos em políticas públicas efetivas. (+++, 2012, p.39) O Plano foi dividido em três áreas: Eixo Estratégico 1 - Prevenção ao Tráfico de Pessoas 2) Eixo Estratégico 2 - Atenção às Vítimas 3) Eixo Estratégico 3 - Repressão ao Tráfico de Pessoas e Responsabilização de seus Autores. Cumpre assinar que “para cada um dos três eixos, o Plano traz um conjunto de prioridades (objetivos), ações, atividades, metas específicas, órgão responsável, além de parceiros e prazos de execução”. (SNJ, 2008, p.10) No âmbito da Prevenção, a intenção é diminuir a vulnerabilidade de determinados grupos sociais ao tráfico de pessoas e fomentar seu empoderamento, bem Como engendrar políticas públicas voltadas para combater as reais causas estruturais do problema. Quanto à Atenção às Vítimas, foca-se no tratamento justo, seguro e não- discriminatório das vítimas, além da reinserção social, adequada assistência consular, proteção especial e acesso à Justiça. E se entende como vítimas não só os(as) brasileiros (as), mas também os (as) estrangeiros(as) que são traficados(as) para o Brasil, afinal este é considerado um país de destino, trânsito e origem para o tráfico. Sobre o Eixo 3, Repressão e Responsabilização, o foco está em ações de fiscalização, controle e investigação, considerando os aspectos penais e trabalhistas, nacionais e internacionais desse crime. (SNJ, 2008, p.10) Os Núcleos Estaduais de Prevenção e Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (NETPs) e os Postos Avançados de Atendimento Humanizado ao Migrante (PAAHMs) foram criados no primeiro plano com o propósito de fornecer um amparo às vítimas. Tendo em vista que Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas tem prazo determinado de encerramento, em 2013 entrou em vigor o segundo Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas com vigência até 2016. Segundo dados do Ministério da Justiça e Segurança Pública do Governo Federal o segundo plano “contemplou um total de 115 metas e 14 atividades, desenvolvidas ao longo dos últimos quatro anos”. (MJ, 2017) Por fim, as políticas de enfrentamento ao tráfico de pessoas é 40 imprescindível para combater o ciclo do tráfico de pessoas. Assim “as políticas públicas de enfrentamento ao tráfico de pessoas devem fomentar o empoderamento dos indivíduos, tanto do ponto de vista individual como coletivo, e combater as causas estruturais que conduzem à vulnerabilidade” (SNJ, 2008, p.16). 5.2 CAMPANHAS NACIONAIS A informação é o meio mais eficaz de combater o tráfico de pessoas, sendo assim no “ dia 09 de maio de 2013, o Ministério da Justiça da República Federativa do Brasil iniciou uma imensa campanha de sensibilização para combater o tráfico de pessoas denominada Coração Azul”.(MJ,2017) Cumpre assinalar que a campanha Coração Azul é derivada da Blue Heart Campaign, que é promovida pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime –UNODC no âmbito internacional Segundo o Ministério de Justiça e Segurança, o Brasil aderiu à campanha da UNODC por possuir uma Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas alinhada às diretrizes da ONU. […] iniciativa brasileira em aderir à Campanha do Coração Azul almeja fomentar a difusão de informações sobre o enfrentamento ao tráfico de pessoas entre os mais diversos estratos da sociedade brasileira, de forma a divulgar boas práticas, promover a sua prevenção e o incremento da justiça criminal. A campanha serve ainda para conscientizar e inspirar aqueles que detêm poder de decisão a promover as mudanças necessárias para acabar com esse crime. (MJ, 2017) A campanha tem objetivos delineados, sendo eles: Tornar o símbolo “Coração Azul” um ícone de reconhecimento da Campanha de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas; Promover ações promocionais e intervenções, com o objetivo de sensibilizar a sociedade, ONGs, Órgãos Governamentais, mídia e formadores de opinião para esse problema social; Despertar na população a consciência social, utilizando o símbolo do Coração Azul para tangibilizar a Campanha, incentivando assim a busca pela informação e denúncia. (MJ, 2017) Em suma, as campanhas nacionais tem o propósito de informar as pessoas sobre o tráfico de pessoas, para que elas tenham conhecimento dos fatos e das consequências. Além de informar sobre serviços e programas de prevenção, atendimento e repressão. 5.3 ASSISTÊNCIA A VÍTIMA As pessoas afetadas pelo tráfico de pessoas têm seus direitos 41 básicos feridos, portanto necessitam de uma assistência múltipla que envolve assistência jurídica, médica, psicológica e financeira. Segundo Damásio de Jesus (2003, p. 11) visando garantir os direitos fundamentais das vítimas do tráfico de pessoas algumas ONGs internacionais tais como a Aliança Global contra o Tráfico de Mulheres, a Fundação contra o Tráfico de Mulheres e o Grupo Jurídico Internacional de Direitos Humanos, vêm definindo, desde 1999, os Padrões de Direitos Humanos (PDH) para o Tratamento de Pessoas Traficadas, a partir dos instrumentos internacionais de direitos humanos. Os Padrões protegem os direitos das pessoas traficadas na medida em que lhes proporcionam assistência e proteção legais, tratamento não- discriminatório e restituição, compensação e recuperação: 1) princípio da não-discriminação: os Estados não devem discriminar as pessoas traficadas no Direito Material ou Processual, nas políticas públicas ou em suas práticas; 2) segurança e tratamento justo: os Estados devem reconhecer que as pessoas traficadas são vítimas de graves abusos de direitos humanos, tutelar seus direitos e protegê-las contra represálias e perigo; 3) acesso à Justiça: a polícia, os promotores de justiça e as cortes devem assegurar que seus esforços para punir os traficantes sejam implementados num sistema que respeite e salvaguarde os direitos de privacidade, dignidade e segurança das vítimas. Um julgamento adequado dos traficantes deve incluir julgamento, quando aplicável, por estupro, agressão sexual ou outras formas de agressão (incluindo assassinato, gravidez forçada e abortos), rapto, tortura, tratamento cruel, desumano ou degradante, escravidão ou práticas análogas à escravidão, trabalho forçado ou compulsório, cativeiro por dívida ou casamento forçado; 4) acesso a ações civis e a reparações: os Estados devem assegurar que as pessoas traficadas tenham direito a procurar reparações contra traficantes, assim como assistência ao moverem tais ações; 5) estatuto de residente: os Estados devem providenciar às pessoas traficadas vistos de residência temporária (incluindo direito a trabalhar) durante a pendência de qualquer ação criminal, civil ou outra e devem proporcionar a elas o direito de procurar asilo ou avaliar o risco considerável de retaliação a que a vítima está exposta em qualquer procedimento de deportação; 6) saúde e outros serviços: os Estados devem proporcionar às pessoas traficadas serviços de saúde adequados ou outros serviços sociais durante o período de residência temporária; 7) repatriação e reintegração: os Estados devem assegurar que as pessoas traficadas retomem às suas casas em segurança, se elas assim desejarem e quando se sentirem em condições de proceder dessa forma. A recuperação inclui cuidados médicos e psicológicos, bem como serviços legais e sociais para assegurar o bem-estar das pessoas traficadas; 8) cooperação entreEstados: os Estados devem trabalhar coo- perativamente para assegurar a plena implementação desses padrões. (DAMASIO, 2003, p. 11-12). 42 Neste mesmo sentido determina o artigo 25 da Convenção contra a Criminalidade Organizada Transnacional: Artigo 25 - Assistência e proteção às vítimas 1. Cada Estado Parte adotará, segundo as suas possibilidades, medidas apropriadas para prestar assistência e assegurar a proteção às vítimas de infrações previstas na presente Convenção, especialmente em caso de ameaça de represálias ou de intimidação. 2. Cada Estado Parte estabelecerá procedimentos adequados para que as vítimas de infrações previstas na presente Convenção possam obter reparação. 3. Cada Estado Parte, sem prejuízo do seu direito interno, assegurará que as opiniões e preocupações das vítimas sejam apresentadas e tomadas em consideração nas fases adequadas do processo penal aberto contra os autores de infrações, por forma que não prejudique os direitos da defesa. Assim, Estado, entidades governamentais e organizações sociais em cooperação devem buscar a reparação das violações sofrida pela vítima e seus familiares. A “assistência às vítimas devem assegurar um tratamento justo, seguro e não discriminatório”. (CIDADANIA, DIREITOS HUMANOS E TRÁFICO DE PESSOAS Manual para Promotoras Legais Populares 2ª edição revisada e ampliadap.38) Em síntese o Estado tem o dever de prestar assistência a vítima, buscando sempre resguardar a dignidade e autoestima. 43 6 CONCLUSÃO Somente através do estudo do tráfico de pessoas, foi possível perceber que este é um problema global que vem obtendo destaque no cenário internacional e nacional, por ser uma grave violação aos direitos humanos. O tráfico de seres humanos degenera a dignidade da pessoa, viola o direito de ir e vir, o direito à vida e a saúde da vítima. Atualmente, embora se reconheça que o tráfico de pessoas tem diversos propósitos, a mais significativa é para fins de exploração sexual, tendo em vista a margem de lucro e o baixíssimo risco, além de se confundido com a prostituição. Tendo em vista que as garantias constitucionais não chegam de forma plena aos grupos mais vulneráveis da sociedade, mulheres e crianças, estes são as vítimas predominantes no tráfico para o mercado sexual. O tráfico é considerado um fenômeno de difícil identificação, bem organizado e plurifacetado, o que tem dificultado a criação de soluções eficaz para a sua exterminação. Entretanto cabe reconhecer o quanto o Brasil avançou em direção a prevenção e repressão ao tráfico de pessoas, pois, hoje, a legislação é mais rigorosa e há uma intensa busca na prevenção. Entretanto, essas iniciativas do Estado ainda não provocaram mudanças efetivas em relação ao tráfico de pessoas. É essencial, que a sociedade obtenha informações a respeito do tráfico de pessoas e suas consequências, para assim poder abordar criticamente o problema e auxiliar no combate. Por fim, acredita-se que é possível, sim, combater o tráfico de pessoas para fins sexuais nacionalmente e intencionalmente, porém deve uma cooperação entre o governo, entidades não governamentais e sociedade. Assim, em força conjunta têm que buscar ferramentas eficazes que auxiliem a vítima no processo de ressocialização social e econômica e punição dos infratores. Além disso, deve se buscar uma igualdade de gêneros, condições e oportunidade na sociedade para que mulheres e crianças deixam de ser vulneráveis ao tráfico de pessoas. 44 45 46 REFERÊNCIAS
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