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Formação Econômica e Social do Brasil - Livro - Unidade I

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Autores: Prof. Claudio Ditticio
 Prof. Maurício Felippe Manzalli
Colaboradores: Profa. Angélica L. Carlini
 Prof. Jefferson Lécio Leal
Formação Econômica e 
Social do Brasil
Professores conteudistas: Claudio Ditticio / Maurício Felippe Manzalli
Claudio Ditticio
Graduado em Economia pela Faculdade de Economia e Administração (USP) e mestre em Economia Política 
pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC–SP). Participou de cursos de especialização em Métodos 
Quantitativos, Banking, Marketing, Processos Administrativos e Operacionais, Derivativos, Avaliação de Empresas e 
Tecnologia da Informação.
Foi administrador e diretor de instituições financeiras, de varejo e atacado e de empresas comerciais. Atuou 
também em consultoria de economia e de análise política. Foi professor e pesquisador da Escola de Contas do TCM 
(Tribunal de Contas do Município de São Paulo).
Maurício Felippe Manzalli
Economista pela Universidade Paulista – UNIP e mestre em Economia Política pela Pontifícia Universidade 
Católica de São Paulo. Atualmente é professor da UNIP nos cursos de Ciências Econômicas e Administração e 
também é coordenador do curso de Ciências Econômicas na mesma Universidade, tanto na modalidade presencial 
quanto a distância.
Tem experiência em administração e finanças, notadamente aquelas ligadas ao setor de transporte de passageiros, 
atuando há 29 anos no ramo.
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
D617f Ditticio, Claudio.
Formação Econômica e Social do Brasil. / Claudio Ditticio, 
Maurício Felippe Manzalli. - São Paulo: Editora Sol, 2021.
140 p., il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230.
1. Expansão ultramarina portuguesa. 2. Brasil império. 3. República 
velha. I. Manzalli, Mauricio Felippe. II. Título.
CDU 33(81)
U511.20 – 21
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez
Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcello Vannini
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Deise Alcantara Carreiro – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Marcilia Brito
 Juliana Mendes
Sumário
Formação Econômica e Social do Brasil
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7
Unidade I
1 EXPANSÃO ULTRAMARINA PORTUGUESA NO ADVENTO DA ÉPOCA MODERNA .....................9
2 CARACTERIZAÇÃO DA ECONOMIA PRIMÁRIO-EXPORTADORA NOS FLUXOS 
COMERCIAIS MERCANTILISTAS ..................................................................................................................... 26
2.1 A colonização inglesa de povoamento na América do Norte, à margem 
do colonialismo mercantilista ................................................................................................................ 28
3 CICLOS DE PRODUÇÃO NA POLÍTICA DA PLANTATION .................................................................... 32
3.1 Ciclos de produção .............................................................................................................................. 33
4 DO CICLO AURÍFERO À ECONOMIA DO CAFÉ....................................................................................... 45
Unidade II
5 O SURGIMENTO DO IMPÉRIO BRASILEIRO ........................................................................................... 67
5.1 As transformações com a chegada da família real portuguesa ........................................ 67
5.1.1 A fuga de Portugal ................................................................................................................................. 68
5.1.2 Razões da fuga para o Brasil .............................................................................................................. 69
5.1.3 O marasmo da Colônia ......................................................................................................................... 70
5.1.4 Um “casamento” perfeito? .................................................................................................................. 70
5.1.5 O que mudou, afinal? ............................................................................................................................ 71
5.2 A abertura dos portos brasileiros às nações amigas .............................................................. 73
5.3 Surto de crescimento da Colônia, com as providências da Corte .................................... 74
5.3.1 A influência do liberalismo ................................................................................................................. 74
5.3.2 A continuação do privilégio aos ingleses ...................................................................................... 75
5.3.3 O retorno da Corte para a Europa .................................................................................................... 75
5.3.4 O início da Revolução Industrial....................................................................................................... 75
5.4 A hora da independência .................................................................................................................. 77
6 O SEGUNDO REINADO (1840-1889) ....................................................................................................... 80
6.1 O início ...................................................................................................................................................... 80
6.2 A experiência parlamentarista no Brasil ..................................................................................... 81
6.2.1 O reinado protegido do café .............................................................................................................. 82
6.3 A odisseia do término do regime servil e sua substituição pelo trabalhador livre .................. 83
6.4 A vinda da mão de obra livre ........................................................................................................... 85
6.5 As primeiras indústrias e os transportes ..................................................................................... 87
6.6 As novidades trazidas pelos bancos e pelas ferrovias ........................................................... 88
6.7 A melhora do balanço externo ....................................................................................................... 89
6.8 Uma guerra penosa com o Paraguai ............................................................................................ 90
Unidade III
7 A TRANSIÇÃO DA MONARQUIA PARA A REPÚBLICA ....................................................................... 96
7.1 O nascimento do novo regime ........................................................................................................ 96
7.2 Motivos para a implementação da República .......................................................................... 98
7.3O Positivismo ........................................................................................................................................100
7.4 Os liberais na República ...................................................................................................................101
7.5 As heranças do antigo regime ......................................................................................................101
7.5.1 A vulnerabilidade externa .................................................................................................................102
7.6 A disseminação do trabalho assalariado no campo .............................................................103
7.7 A dissolução da Assembleia ...........................................................................................................103
7.7.1 Um regime diferente? .........................................................................................................................103
8 A REPÚBLICA VELHA ....................................................................................................................................105
8.1 As reações contrárias ao novo regime .......................................................................................105
8.2 O papelismo e o câmbio ..................................................................................................................107
8.2.1 Relacionamento mais amistoso com o exterior ....................................................................... 110
8.3 A política econômica antes da Primeira Grande Guerra Mundial ..................................111
8.3.1 Os impactos trazidos pela Primeira Guerra Mundial .............................................................. 113
8.4 A expansão do café na economia brasileira ............................................................................115
8.5 Os movimentos tenentistas............................................................................................................116
8.6 A odisseia da borracha .....................................................................................................................118
8.7 Havia indústria na República Velha? ..........................................................................................119
8.8 O Crash de Nova York .......................................................................................................................121
8.9 A guinada para o mercado interno .............................................................................................122
8.10 A Revolução de 1930 .....................................................................................................................124
7
APRESENTAÇÃO
O livro-texto que ora apresentamos, destina-se aos que estão iniciando seus estudos sobre a economia 
brasileira. Procurando apresentar a história econômica do Brasil, este material possui pontos importantes 
do período que vai de 1500 até a década de 1930, oferecendo abordagens sobre fatos históricos e os 
principais desdobramentos do assunto para que se possa entender a formação econômica do Brasil. 
É, portanto, material de apoio à disciplina Formação Econômica e Social do Brasil.
Como o objetivo é introduzir o conhecimento relacionado à história econômica brasileira, nossa 
preocupação não é a de aprofundar demasiadamente cada assunto relacionado, mas apresentá-los de 
forma geral, ficando ao aluno a incumbência do aprofundamento, quando necessário.
Note que o livro-texto está dividido em três unidades. Em cada uma delas você encontrará recursos 
importantes, como:
• Textos explicativos que elucidam a matéria.
• Resumos do conteúdo estudado.
• Saiba mais, destaques visuais nos quais indicamos livros e outras referências que, de alguma 
forma, complementam os temas investigados. Não deixe de explorar essas sugestões, para que 
você possa ampliar seu conhecimento sobre os temas apresentados.
• Lembretes, anotações pontuais que remetem a alguma informação já conhecida.
• Observações, apontamentos que chamam sua atenção para algum ponto destacado sobre o 
assunto em desenvolvimento.
INTRODUÇÃO
Primeiro, abordaremos a expansão ultramarina europeia e a época das grandes navegações, 
verificando o papel desempenhado tanto por Portugal quanto pela Inglaterra nos processos de 
colonização, chegando a explicar como se deu tal processo em território brasileiro. As características 
de uma economia agroexportadora também estarão presentes.
Avançaremos nossa discussão falando dos ciclos de produção. O ciclo aurífero e a atividade econômica 
entre 1775 e 1850 serão temas de nossa atenção, assim como a inserção da economia brasileira nos 
fluxos comerciais internacionais. 
Você entenderá como se deram a geração de renda da segunda metade do século XIX e a política 
econômica da República Velha.
Por fim, apresentaremos o Convênio de Taubaté firmado em 1906, passando pela industrialização na 
Primeira República e pelas teorias explicativas da industrialização nacional da década de 1930.
9
FORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL
Unidade I
Apresentaremos, a partir de agora, as principais características da expansão ultramarina europeia 
como forma e prática mercantilista inserida na época das grandes navegações, verificando o papel 
desempenhado tanto por Portugal quanto pela Inglaterra nos processos de colonização, chegando 
a explicar como se deu tal processo em território brasileiro. O texto apresenta características tanto 
da colonização portuguesa no Brasil quanto da colonização inglesa nas Américas, não deixando de 
considerar o período da escravidão e como tal período foi relevante para a geração de riqueza nacional. 
As características de uma economia agroexportadora também estão presentes nesta unidade.
1 EXPANSÃO ULTRAMARINA PORTUGUESA NO ADVENTO DA ÉPOCA MODERNA
Não se pode pensar em formação econômica do Brasil sem considerar a revolução nas navegações realizada 
pelos portugueses nos séculos XV e XVI, período este conhecido como o das Grandes Navegações.
Figura 1 – As caravelas revolucionaram a navegação na era moderna
Entretanto, não há de se pensar em navegações sem se considerar o mercantilismo e suas 
características. Durante o período em que se desenvolveu a Revolução Comercial e se consolidou o 
pensamento mercantilista, as teorias explicativas das relações comerciais prescreviam que cada nação 
deveria exportar o máximo e importar o mínimo para que fosse mantido o saldo positivo em sua balança 
comercial. Nesse contexto, o comércio longínquo era visto como fonte de riqueza para os países, e a 
prosperidade de uma economia era medida pelo seu estoque de metais preciosos. Conforme destacam 
Souza e Pires (2010, p. 3):
O comércio internacional, tal como se conhece atualmente, é fruto da 
expansão do capitalismo europeu que começou a tomar forma ainda no 
século XI, quando o papa Urbano II exortou os cristãos para a luta contra 
os muçulmanos, visando libertar o “Santo Sepulcro” das mãos dos infiéis. 
Esse movimento entrou para a História com a designação de Cruzadas. Até 
aquela época, a atividade econômica dos europeus restringia-se basicamente 
10
Unidade I
à produção de subsistência nos marcos do feudalismo, e o comércio e as 
finanças eram marginais, realizados nas poucas cidades que resistiram 
àquela tendência ruralizante, como Gênova, Veneza, Florença ou Pisa.
Até o período em que se iniciam as Cruzadas, o desenvolvimento cultural da sociedade europeia, 
notadamente a ocidental, não era o mesmo verificado no lado leste do continente. Basicamente o que 
se consumia era proveniente de produção local, carente de variedade e de padrões de qualidade. Se 
pensarmos na necessidade de trocas comerciais entre os europeus e os orientais para suprir demanda 
não atendida por produção interna, à região menos desenvolvida restavam poucas opções de produtos 
a serem exportados: alguns artigos agrícolas, como cereais e vinhos, além de utensíliosde ferro, sal 
e madeiras. 
O problema claro que se coloca é o de que o preço desses produtos é relativamente baixo em 
comparação com os de produtos necessários de importação, como especiarias, tecidos e bens de luxo. 
Pois bem, caro aluno, temos aqui um problema de deterioração dos termos de troca, o que resulta em 
déficit comercial para aquele que é exportador de bens de baixo valor agregado (em comparação com 
os preços de suas importações). Em decorrência disso, havia a necessidade de cobrir o déficit comercial, 
o que era feito por meio de metais preciosos – ouro e da prata, por exemplo. E, como fica evidente, a 
escassez desses metais se colocava como limitador à expansão do consumo local.
 Saiba mais
Deterioração dos termos de troca é um termo criado na década de 1950 
pelo economista argentino Raul Prebisch, membro da Cepal (Comissão 
Econômica para América Latina e Caribe), comissão que tinha como 
propósito a promoção do desenvolvimento econômico de regiões até então 
consideradas subdesenvolvidas. 
O termo procura sintetizar os problemas enfrentados pelas economias 
subdesenvolvidas em função da industrialização tardia. Conheça mais sobre 
o assunto em:
Disponível em: https://www.cepal.org/pt-br. Acesso em: 8 mar. 2021.
Temos certeza de que as informações ali contidas serão muito importantes 
para sua formação acadêmica e profissional.
Um país pode obter metais preciosos de várias formas, uma delas é a exploração da mineração 
nos limites do próprio território, desde que haja esse tipo de atividade no local. Outra possibilidade é 
a balança comercial favorável, em que as exportações devem superar as importações e o acesso aos 
metais preciosos estaria garantido por superávits comerciais. 
11
FORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL
No caso de ambas as alternativas serem inviáveis, o país pode decidir recorrer à pilhagem:
Uma das formas de pilhagem, praticada principalmente pelos venezianos, 
era o tráfico de escravos de origem eslava, que eram negociados com os 
muçulmanos visando acumular ouro para a compra das valiosas mercadorias 
de luxo orientais (SOUZA; PIRES, 2010, p. 3).
Os metais preciosos se apresentaram como elemento facilitador do comércio internacional, que viria 
a se desenvolver com maior velocidade durante o século XIII, sendo de fundamental importância para 
que o lado ocidental da Europa conseguisse superar a estagnação herdada pelas estruturas feudais. Pois 
bem: podemos aqui destacar o que de positivo o desenvolvimento comercial produziu.
Ele possibilitou o avanço das trocas de produtos orientais por artigos provenientes de outras regiões 
europeias via estabelecimento de rotas mais específicas entre as regiões sul e norte. Como consequência, 
pode-se dizer que tais rotas auxiliaram o desenvolvimento de feiras em que se podiam comercializar 
produtos acabados, o que gerou a necessidade de criação de uma política que visasse à segurança de 
transporte nessas rotas, assim como regras tácitas na resolução de possíveis conflitos entre comerciantes. 
Para Dowbor (1990) e Singer (1989), a exacerbação do comércio produziu dois efeitos sobre a 
estrutura econômica europeia. O primeiro corresponde ao fluxo de metais preciosos para a Europa, pois 
a quantidade de ouro chegou a dobrar em meados do século XVI. Como a produção de bens pouco se 
alterou, houve uma elevação de preços e redução dos rendimentos dos senhores feudais. Sobre isso, 
Dowbor (1990, p. 35), ressalta que:
[...] nessa época, os senhores feudais recebiam as contribuições anuais dos 
servos ainda em trabalho e em produtos, mas a forma dominante já era 
de simples pagamento, em moeda, de uma taxa fixa por pessoa. Ao dobrar 
a quantidade de ouro, enquanto a produção de bens permanecia pouco 
alterada, os preços duplicaram [...] reduzindo pela metade os rendimentos 
dos senhores feudais.
O desenvolvimento comercial fez aparecer ainda uma série de pessoas exclusivamente dedicadas à 
atividade, digamos, “bancária”. Elas intermediavam dinheiro e títulos de crédito, o que favorecia ainda 
mais as trocas comerciais e também impulsionou atividades industriais na Europa, onde foi permitido 
produzir alguns bens, ou parte de bens, que até então eram obtidos por meio de importação. Estão nesse 
rol de atividades industriais aquelas relacionadas ao setor têxtil e ao metalúrgico.
A respeito do reforço da produção, Dowbor (1990, p. 36) explica que:
[...] a rápida acumulação de capital nas mãos dos comerciantes e a abertura dos 
mercados internos criam uma situação em que há ao mesmo tempo a procura 
pela produção e a procura pelos meios para desenvolver esta produção.
12
Unidade I
Diante tamanhas transformações, não demorou para que o sistema feudal viesse a sucumbir diante 
de uma economia que não mais estava fechada em si, e do surgimento de uma nova classe social, a 
burguesia, desenvolvedora das atividades produtivas e mercantis. Soma-se ao surgimento dessa classe 
o uso disseminado da moeda como equivalente geral de trocas, impulsionando a divisão do trabalho, o 
crescimento das trocas e, portanto, da produção e do comércio. 
O desenvolvimento do comércio corresponderia, por sua vez, ao desenvolvimento 
das cidades, especialmente na Itália e nos Países Baixos, locais de 
entroncamento de rotas de mercadores. Verifica-se que, no século XV, 
a Europa ocidental vivia um processo de desenvolvimento comercial que 
culminaria na organização das grandes navegações. Delas, o objetivo 
principal era permitir a expansão territorial e a busca por novos mercados 
fornecedores de especiarias e de metais preciosos. Esse processo seria 
acentuado a partir de 1.453, quando os turcos otomanos conquistaram 
Constantinopla, dificultando o acesso privilegiado das cidades italianas 
às fontes de abastecimento do Oriente. A Europa se voltaria, então, para 
a busca de um caminho alternativo, que lhe permitisse obter os produtos 
orientais, possibilitando, assim, a continuidade do comércio (SOUZA; PIRES, 
2010, p. 4).
Os autores continuam o raciocínio afirmando que:
Essa necessidade levou os europeus a desbravarem o “mar oceano”, 
possibilitando a primeira internacionalização efetiva do comércio e a difusão 
da hegemonia política, militar e cultural da Europa sobre o mundo. Tais fatos 
estão na origem do capitalismo e nos interessam à medida que nos fazem 
refletir sobre o como e o porquê da supremacia europeia em detrimento de 
civilizações que até o começo do século XVI apresentavam elevados níveis 
de desenvolvimento cultural e material em relação à Europa. Nesse sentido, 
acredita-se que uma questão-chave seria compreender as motivações que 
levaram ao estabelecimento da estrutura do moderno sistema de comércio 
internacional como o principal mecanismo de transferência de riquezas para 
o continente europeu (SOUZA; PIRES, 2010, p. 5).
A visão dominante entre os séculos XVI e XVIII foi essencialmente uma postura mercantilista, em 
que o comércio era admitido como uma fonte de riqueza, mas sob uma ótica bastante peculiar: a 
de acumulação sem limites de poder de compra, possibilitada por crescentes ganhos derivados de 
superávits comerciais.
Dessa maneira, o comércio internacional, promovido pelo maior relacionamento entre países, passava 
a ser encarado como uma disputa por uma quantidade limitada de metal precioso e, dessa forma, cada 
país poderia obter vantagens às custas dos demais, por intermédio da acumulação de metal.
13
FORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL
 Observação
Quanto maior fosse o envolvimento de cada país com as atividades 
de exportação e busca por metais preciosos, sabendo-se que tais metais 
são limitados em seus estoques, cada vez mais as expedições tornavam-se 
fervorosas e violentas.
A visão mercantilista, além de ser altamente nacionalista e priorizar o bem-estar do próprio país, 
implicava uma percepção estática da disponibilidade de recursos. A atividade econômica era, portanto, 
reduzida a um jogo de soma zero no qual os ganhos de um país têm lugar em detrimento dos resultadosobtidos pelos demais. Isso significa que para um país conseguir elevar sua renda pela via das exportações, 
deveria fazê-lo à custa do empobrecimento do outro país com o qual mantivesse relação comercial. 
Como a visão mercantilista aborda os relacionamentos comerciais internacionais, e somente será rico 
aquele país que conseguir aumentar suas exportações, chegará um momento em que cada país procurará 
fechar suas fronteiras para importações. Quando isso realmente acontecer, ninguém conseguirá exportar 
para ninguém. Portanto, no jogo de soma zero, não haverá perdedor, pois não haverá também ganhador. 
A economia tenderá à paralisia. Sobre isso, vejamos uma passagem de Araújo (1989, p. 22):
Os mercantilistas, por seu lado, preocupavam-se, sobretudo, com a política 
econômica, com saldos favoráveis na balança comercial, com o estoque de 
metais preciosos e com o poder do Estado. Este seria tão mais forte quanto 
maior fosse seu estoque de metais preciosos. Para alcançar isto, ele deveria 
restringir as importações e estimular as exportações. Mas esta é uma política 
inconsequente. Se todos os países restringirem suas importações, quem 
conseguirá exportar? As importações de um são as exporta ções do outro. 
Não podia dar outra coisa. A política mercantilista exacerbou o nacionalismo, 
estimulou as guerras e promoveu uma maior presença do Estado nos 
assuntos econômicos.
 Saiba mais
Na história econômica há um debate acerca do mercantilismo: se é 
uma questão de prática ou uma questão de política. Para aprofundar seus 
conhecimentos sobre o assunto, leia:
DEYON, P. Mercantilismo. São Paulo: Perspectiva, 2001.
Temos certeza de que a leitura será bastante proveitosa.
14
Unidade I
Conforme Souza e Pires (2010, p. 5), 
papel de fundamental importância assumiu o Estado Nacional, ao criar as 
melhores condições possíveis para o desenvolvimento comercial: a aliança 
entre o soberano e o mercador. Para tanto, como no caso das navegações 
portuguesas, o apoio oficial foi decisivo para a criação da chamada “cultura 
naval”, que foi colocada à prova com a invasão de Ceuta, em 1415, atingindo 
o ápice com a chegada de Vasco da Gama a Calicute, no ano de 1498. 
Contudo, para que os objetivos das navegações europeias pudessem ser atingidos, havia a necessidade 
de empregar técnicas como, inicialmente, as das invenções árabes, chinesas e indianas, das quais são 
exemplos a caravela, o mapeamento celeste e o conhecimento um pouco mais apurado das correntes 
marítimas. A própria bússola, criada na China nos idos do século I, foi um instrumento importante nesse 
contexto, uma vez que oferecia uma boa noção de localização. 
 Observação
Para compreender quão relevante a bússola é como instrumento, basta 
lembrar que ainda hoje ela é utilizada em estudos de cartografia e astronomia. 
É fato que as bases para o capitalismo industrial foram lançadas pelos europeus, e sua organização 
comercial claramente voltada aos seus interesses. E como se deu essa organização? Para entender melhor 
a resposta, antes é necessário compreender melhor o significado da palavra “colonização” pelo olhar de 
Paulo Sandroni (1999, p. 109) em seu Novíssimo dicionário de economia:
Processo de ocupação efetiva e prolongada de determinado território por meio 
de atividades agrícolas, pastoris, extrativas e comerciais. Um dos primeiros 
exemplos históricos de expansão colonizadora foi o das cidades-estados 
gregas, sobretudo Atenas, cujos cidadãos se estabeleceram em outros pontos 
do mar Egeu, Jônico, Adriático e Mediterrâneo, levando para aqueles locais 
sua cultura e estrutura social. Modernamente, o conceito de colonização 
liga-se ao sistema de dominação colonialista imposto pela Europa a vastas 
regiões da Ásia, África e América Latina, no decorrer da Revolução Comercial 
(séculos XV e XVI) e da Revolução Industrial (séculos XVIII e XIX). [...]. 
O processo de colonização pode ocorrer nos limites do território do próprio 
país, levando ao povoamento e à incorporação econômica de uma região: 
isso ocorreu com vastas regiões da União Soviética e do Canadá.
Diante do apresentado, podemos dizer que os europeus implantaram seu sistema colonial em regiões 
até então pouco ocupadas ou mesmo habitadas e com inócuo desenvolvimento produtivo. Nas regiões com 
maior densidade demográfica e destacado desenvolvimento cultural, o avanço europeu esteve mais limitado 
às extensões litorâneas durante o período que vai até o século XIX. Porém, a organização de entrepostos por 
parte dos europeus lhes ofereceu, digamos, um certo monopólio em relação aos seus concorrentes. 
15
FORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL
Trazendo o tratamento do assunto para as Américas (SOUZA; PIRES, 2010), pode-se considerar que a 
descoberta da América empreendida por Cristóvão Colombo no ano de 1492 e a conquista realizada por 
Vasco da Gama em 1498 (descoberta de um caminho marítimo à Índia) impulsionou muitos navegadores 
europeus à manutenção de contato com novos fornecedores de especiarias e outras mercadorias de 
grande valor para o comércio. Os espanhóis, depois de descobrirem metais preciosos nas ilhas do Caribe, 
ocuparam o México, o Peru e a Bolívia, levando a Espanha a uma exuberante acumulação de riqueza: 
Para se ter uma ideia da magnitude da riqueza extraída da América, somente 
entre 1591 e 1600, a Espanha recebeu o equivalente a 2.700 toneladas 
de prata e 20 toneladas de ouro, tornando-se, no século XVI, a principal 
potência europeia (SOUZA; PIRES, 2010, p. 8).
Na visão de Celso Furtado (1985), a expansão comercial da Europa deu-se com o advento da ocupação 
econômica das terras americanas e não deve ser interpretada simplesmente como deslocamento 
de população em resposta a qualquer pressão demográfica. Devemos considerar que as condições 
apresentadas pelo comércio interno europeu haviam alcançado seu ápice de desenvolvimento nos idos 
do século XV, exatamente quando invasões turcas passaram a criar dificuldades ao abastecimento de 
manufaturas para o Oriente. 
Para os portugueses, a princípio, descobrir terras americanas pareceu um objetivo de menor 
importância, já para os espanhóis, foi uma possibilidade vista com bons olhos. Contudo, além da questão 
do volume de riquezas, a ocupação da América vai além das relações comerciais, pois questões políticas 
também estão em jogo. 
A Espanha – a quem coubera um tesouro como até então não se conhecera 
no mundo – tratará de transformar os seus domínios numa imensa cidadela. 
Outros países tentarão estabelecer-se em posições fortes, seja como ponto de 
partida para descobertas compensatórias, seja como plataforma para atacar 
aos espanhóis. Não fora a miragem desses tesouros, de que, nos primeiros 
dois séculos da história americana, somente os espanhóis desfrutaram, e muito 
provavelmente a exploração e ocupação do continente teriam progredido 
muito mais lentamente.
[...]
Os traços de maior relevo do primeiro século da história americana estão 
ligados a essas lutas em torno de terras de escassa ou nenhuma utilização 
econômica, como no caso de Cuba. Espanha e Portugal se creem com direito 
à totalidade das novas terras, direito esse que é contestado pelas nações 
europeias em mais rápida expansão comercial na época: Holanda, França e 
Inglaterra. A Espanha recolhe de imediato pingues frutos que lhe permitem 
financiar a defesa de seu rico quinhão. Contudo, tão grande é este e tão inúteis 
lhe parecem muitas das novas terras, que decide concentrar seu sistema de 
defesa em torno ao eixo produtor de metais preciosos, México-Peru. Esse 
16
Unidade I
sistema de defesa estendia-se da Flórida à embocadura do Rio da Prata. 
Ainda assim, e não obstante a abundância dos recursos de que dispunha, 
a Espanha não conseguiu evitar que seus inimigos penetrassem no centro 
mesmo de suas linhas de defesa, as Antilhas. Essa cunha antilhana foi de 
início uma operação basicamente militar (FURTADO, 1985, p. 6-7).
Não obstante, os portugueses procurarão se utilizar das terras americanas de formaeconômica além 
das atividades extrativistas de metais preciosos. E qual será o caminho econômico para Portugal obter 
recursos para poder financiar os gastos necessários para defender as próprias terras? 
Das possibilidades à época, a exploração agrícola das terras brasileiras foi uma excelente opção. Daí 
em diante, a América passará a ser parte integrante da economia reprodutiva europeia. Vale destacar 
que tal exploração econômica durante o século XVI parecia não ser muito viável devido ao fato de que 
o comércio agrícola para a Europa não ocorria em larga escala. Mas por qual razão? 
Em primeiro lugar, havia grande quantidade de fornecedores de trigo no continente como um todo. 
Em segundo, o sistema de transporte de longa distância não apresentava muita segurança. Em terceiro, 
o custo do frete era consideravelmente elevado. 
Mesmo com esses entraves, quais foram os motivos que levaram Portugal a empreender suas expedições?
Um dos motivos foi a expressiva participação portuguesa no comércio europeu no próprio século XV, 
como consequência dos elevados investimentos que estes povos efetuaram na tecnologia de navegação, 
o que proporcionou ao mundo oportunidades de comercialização de mercadorias que até então não 
eram possíveis.
Outro motivo bastante expressivo é que Portugal contava com boa qualidade portuária. Soma-se 
a esse o estudo náutico realizado pela Escola de Sagres, comandado por D. Henrique, que ofereceu 
condições para que Portugal desenvolvesse o comércio. Logo, Portugal fica bastante conhecido por se 
tornar um grande armazém para depósitos de mercadorias.
É necessário destacar o interesse dos portugueses em diminuir os custos de aquisição de mercadorias, 
pois muito do que adquiriam, em especiarias orientais, dava-se via intermediação por parte dos 
muçulmanos por meio de navegações no Mar Mediterrâneo. Nesse sentido, a busca de novas rotas 
marítimas lhes proporcionaria mais vantagens no comércio.
 Observação
De uma forma ou de outra, a busca de novas rotas auxiliaria na resolução 
de um problema ligado também à microeconomia, qual seja, o da redução 
dos custos de aquisição de materiais.
17
FORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL
Foi com a Revolução de Avis que Portugal empreendeu um processo de mudanças estruturais 
em que, a exemplo da nacionalização dos impostos, de um conjunto de leis e do fortalecimento do 
Exército, a sociedade burguesa viu crescer suas atividades comerciais, o que favoreceu, via riqueza, os 
investimentos na esfera mercantil. Conforme Almeida (2000, p. 79):
A sociedade burguesa da segunda metade dos Quatrocentos em diante 
passava por profundas transformações culturais, cujos resultados não 
tardariam a provocar frutos. Em particular, de finais do século XV em diante, 
a criação do conhecimento novo transforma-se em síntese inovadora, só 
possível pelo surgimento histórico de uma nova mentalidade, Moderna, 
sem dúvida e que só emergiu por força das transformações operadas nas 
estruturas sociais e pela emersão de grupos que repartem entre si a melhor 
parte do aparelho produtivo em acelerado crescimento.
É importante ressaltar que estamos tratando de um continente em que seus países apresentaram-se 
ao mundo como o grande berço das mudanças mundiais, tanto produtivas quanto culturais. Nesse 
período, em Portugal não será diferente.
Mesmo com todas as inovações tecnológicas empreendidas até então, e com o interesse por uma 
revolução em termos de transporte e comércio, as experiências ultramarinas apresentavam-se como 
um grande desafio, pois os marinheiros lançados ao mar não tinham total certeza do que enfrentariam. 
Os problemas eram diversos, desde mudanças de temperatura do clima e do mar até alimentação 
relativamente precária.
Exemplo de aplicação
Tente colocar-se no lugar de um desses desbravadores, ou mesmo de um desses marinheiros. Procure 
fazer uma lista de que tipos de problemas poderiam ser enfrentados. Quando defronte de tais problemas, 
qual a estratégia para solucioná-los?
Mas todo esse envolvimento tinha um objetivo, o de os portugueses darem a volta pelo continente 
africano concretizando suas expedições rumo às Índias. Já no ano de 1415, ocorreu um processo de 
consolidação das colônias portuguesas em território africano com a Conquista de Ceuta. No ano de 1488, 
Bartolomeu Dias já havia chegado ao Cabo da Boa Esperança, até então chamado de Cabo das Tormentas. 
Vasco da Gama chegava às Índias em 1498, e Pedro Álvares Cabral, em 1500, chegava ao continente 
americano e também anunciava a descoberta de terras brasileiras.
Para Furtado (2005, p. 16):
O início da ocupação econômica do território brasileiro é em boa medida 
uma consequência da pressão política exercida sobre Portugal e Espanha 
pelas demais nações europeias. Nestas últimas prevalecia o princípio de 
que espanhóis e portugueses não tinham direito senão àquelas terras que 
18
Unidade I
houvessem efetivamente ocupado. Dessa forma, quando, por motivos 
religiosos, mas com apoio governamental, os franceses organizam sua 
primeira expedição para criar uma colônia de povoamento nas novas terras 
[...], é para a costa setentrional do Brasil que voltam as vistas. Os portugueses 
acompanhavam de perto esses movimentos e até pelo suborno atuaram na 
corte francesa para desviar as atenções do Brasil. Contudo, tornava-se cada 
dia mais claro que se perderiam as terras americanas a menos que fosse 
realizado um esforço de monta para ocupá-las permanentemente. Esse 
esforço significava desviar recursos de empresas muito mais produtivas no 
Oriente. A miragem do ouro que existia no interior das terras do Brasil [...] 
pesou seguramente na decisão tomada de realizar um esforço relativamente 
grande para conservar as terras americanas. Sem embargo, os recursos de 
que dispunha Portugal para colocar improdutivamente no Brasil eram 
limitados e dificilmente teriam sido suficientes para defender as novas 
terras por muito tempo.
Já no século XVI, o Rei de Portugal admite que seria bastante difícil enfrentar os franceses e fazer 
valer seus direitos sobre as terras brasileiras. A saída para tal dilema, e que fora adotada por Portugal, foi 
a ocupação do território pela via do povoamento e da colonização. Porém, as atenções estavam voltadas 
ao Oriente, onde o comércio estava em seu ápice, por isso havia bastante dificuldade em encontrar 
pessoas interessadas nas rotas brasileiras (PRADO JR., 2006).
 Saiba mais
Sobre o sentido da colonização, convidamos a efetuar leitura do 
artigo de Rodrigo Alves Teixeira, no qual você poderá ter contato com 
uma das diferentes interpretações do período colonial brasileiro como 
linha de fundo do pensamento de Caio Prado Júnior. Além disso, o texto 
traz uma interessante análise do materialismo histórico, extremamente 
bem desenvolvido por Marx. 
TEIXEIRA, R. A. O capital como sujeito e o sentido da colonização. 2005. 
Disponível em: https://bit.ly/3bpNDt5. Acesso em: 20 fev. 2021.
A presença de navegações portuguesas e espanholas em costas brasileiras data dos últimos anos do 
século XV. Inicialmente as viagens tinham fins de exploração de novas terras, com o intuito de descobrir 
o caminho das Índias. Porém, quando o território brasileiro é descoberto, inicia-se ali um processo 
de exploração do pau-brasil, que deu origem ao nome do território nacional. O pau-brasil era “uma 
espécie de vegetal semelhante a outra já conhecida no Oriente, e de que se extraía uma matéria corante 
empregada na tinturaria” (PRADO JR., 2006, p. 15).
A exploração desse tipo de madeira gerou um processo de tráfico de madeira que contava com a 
ajuda dos índios no transporte até as embarcações, em troca de miçangas, tecidos e algumas peças de 
19
FORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL
vestuário, além de facas, canivetes e espelhos. Indiretamente, a exploração do pau-brasil dá indícios do 
surgimento de alguns estabelecimentos coloniais que, no caso dos portugueses, transformou-se em 
monopólio real. Porém, ao longo do tempo, a extração fervorosafez reduzir a importância deste tipo de 
árvore devido à queda da qualidade das novas unidades que eram extraídas.
Prado Jr. (2006, p. 18) explica como se deu a ocupação do território brasileiro:
O plano, em suas linhas gerais, consistia no seguinte: dividiu-se a costa 
brasileira (o interior, por enquanto, é para todos os efeitos desconhecido), 
em doze setores lineares com extensões que variavam entre 30 e 100 léguas. 
Estes setores chamar-se-ão capitanias, e serão doadas a titulares que gozarão 
de grandes regalias e poderes soberanos; caber-lhes-á nomear autoridades 
administrativas e juízes em seus respectivos territórios, receber taxas e 
impostos, distribuir terras etc. O Rei conservará apenas direitos de suserania 
semelhantes aos que vigoravam na Europa feudal. Em compensação, os 
donatários das capitanias arcariam com todas as despesas de transporte e 
estabelecimento de povoadores.
Terras pertencentes a Portugal
Terras pertencentes à Espanha
Figura 2 – As capitanias hereditárias
20
Unidade I
 Lembrete
Foi da extração da madeira que surgiu o nome para o território: Brasil.
Tal ocupação tinha objetivos de produção e exploração daquilo que a região pudesse oferecer. 
Como a cana-de-açúcar e, principalmente, seu derivado, o açúcar, eram muito valorizados na Europa, e 
adquiridos tanto da Sicília quanto do Oriente via tráfico dos árabes e dos italianos pelo Mar Mediterrâneo, 
não demorou para que o cultivo da cana-de-açúcar fosse a principal e inicial atividade no novo local. 
Esta será uma das características do tipo de exploração agrária adotado no Brasil: a grande propriedade 
da monocultura.
Com a monocultura, a especialização na atividade gera agilidade e maior experiência no setor, o que 
pode ser traduzido em possibilidades de lucros maiores para aqueles que efetuaram os investimentos.
 Observação
Este tipo de atividade se faz necessário no momento em que não estão 
estabelecidas as condições técnicas e eficientes para uma diversificação 
da produção.
Portugal não contava com grande quantidade de mão de obra para deslocar para as colônias; além 
disso, a mão de obra disponível não mostrava interesse em se deslocar para as regiões dos trópicos e 
trabalhar nos campos. A grande propriedade monocultural contará com um tipo específico de mão de 
obra: a escrava. Nesse aspecto, ressalta Furtado (2005, p. 49):
As dificuldades maiores encontradas na etapa inicial advieram da 
escassez de mão de obra. O aproveitamento do escravo indígena, em que 
aparentemente se baseavam todos os planos iniciais, resultou inviável na 
escala requerida pelas empresas agrícolas de grande envergadura que eram 
os engenhos de açúcar. A escravidão demonstrou ser, desde o primeiro 
momento, uma condição de sobrevivência para o colono europeu na nova 
terra. [...] para subsistir sem trabalho escravo seria necessário que os colonos 
se organizassem em comunidades dedicadas a produzir para autoconsumo, 
o que só teria sido possível se a imigração houvesse sido organizada em 
bases totalmente distintas.
Com relação ao trabalho escravo, há de se considerar que foi de dois tipos: a escravidão indígena, 
também chamada de escravismo vermelho, e a escravidão negra africana. Essa última foi dividida em 
negros bantos, aqueles provenientes do sul da África, em que se encontram os angolanos e os congos, 
acrescidos dos moçambiques, oriundos da costa oriental, e os negros sudaneses, oriundos do noroeste 
da África, em que se encontram os nagôs, os gegês e os malés.
21
FORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL
Quanto à escravidão negra africana, esta foi introduzida no Brasil em meados de 1530, tendo seu 
ápice no período de 1550, devido ao crescimento da agricultura canavieira nas regiões do Recife, da 
Bahia e do Rio de Janeiro, como se pode observar no mapa que se segue.
Figura 3 – Rotas do tráfico de escravos africanos para o Brasil
No início, a relação de trabalho entre o homem branco e o índio era efetuada a partir da troca 
de algumas quinquilharias que agradavam, até então, a população indígena. Depois, com o cultivo 
da cana-de-açúcar, a relação não seria tão amistosa. Num primeiro momento, alguns índios ainda 
trabalharam nas lavouras em troca de alguns objetos que lhes satisfaziam, porém encaravam aquele tipo 
de trabalho como esporádico, a ser efetuado quando de suas necessidades, ou vontade. À medida que 
novos colonos foram chegando aos locais em que estavam instaladas as grandes lavouras canavieiras, 
maior quantidade de trabalho indígena era requerida e, portanto, o trabalho passava a ser comandado, 
e não mais livre. Assim, os indígenas viam-se forçados ao trabalho, logo os novos colonos precisaram 
desenvolver novas formas de controle sobre aquele trabalho. Daí a relação de trabalho entre as partes 
não era mais amistosa. Conforme destaca Prado Jr. (2006, p. 21):
Aos poucos foi-se tornando necessário forçá-lo [o índio] ao trabalho, manter 
vigilância estreita sobre ele e impedir sua fuga e abandono da tarefa em 
que estava ocupado. Daí para a escravidão pura e simples foi apenas um 
passo. Não eram passados ainda 30 anos do início da ocupação efetiva do 
Brasil e do estabelecimento da agricultura, e já a escravidão dos índios se 
generalizara e [se] instituíra firmemente em toda parte.
Vale destacar, ainda, que o contato do homem branco com o índio gerava alguns problemas de 
ordem não só econômica, mas também biológica e cultural. Do ponto de vista biológico, ocorriam 
muitas mortes indígenas devido ao trabalho forçado, além de mortes devido a epidemias por causa do 
22
Unidade I
contato com as doenças trazidas pelo homem branco. Do ponto de vista cultural ocorre a ruptura com 
a economia de subsistência, à qual os índios estavam acostumados.
O confronto entre os indígenas e os colonos perdurou por longo período. Quanto mais os colonos 
necessitavam da mão de obra escrava indígena, mais os índios se rebelavam em relação àquela situação, 
pois foram obrigados a sair da condição de homens livres, nômades, para homens comandados. Como 
tinham vasto conhecimento do território, assim que encontravam alguma oportunidade, procuravam 
fugir dos espaços que estavam sob os domínios dos colonos, mas logo eram capturados e trazidos de 
volta ao trabalho em relações cada vez piores.
Devido à pressão da Igreja e da Ordem Jesuíta, em 1570 a metrópole entra na discussão editando 
a Carta Régia, em que se legislava a favor da causa indígena, proibindo sua escravidão. Pela Carta, 
somente o índio que se rebelasse em relação aos colonos poderia ser escravizado. Como a maioria deles 
era contrária à causa dos colonos, não tardou para que a escravidão indígena perdurasse por todo o 
período colonial, chegando a sua abolição somente em meados do século XVIII, pelas intervenções do 
Marquês de Pombal em 1758.
Afora o caso da abolição da escravidão indígena, a mão de obra indígena, apesar de necessária, não 
era a mais apropriada para o tipo de trabalho que se empreendia. Sua adaptação à rapidez do sistema 
e aos padrões impostos era bastante lenta, o que gerava perda de produtividade e, consequentemente, 
de lucros para o setor.
Logo, a substituição pela mão de obra escrava negra africana seria mais interessante, pois os 
portugueses já estavam habituados com esse povo, já que tal prática ocorria desde o século XV, com o 
tráfico de negros escravos pela costa da África. Acerca do escravismo negro, vale o que destaca Prado 
Jr. (2006, p. 23):
Contra o escravo negro havia um argumento muito forte: seu custo. 
Não tanto pelo preço pago na África, mas em consequência da grande 
mortandade a bordo dos navios que faziam o transporte. Mal-alimentados, 
acumulados de forma a haver um máximo de aproveitamento de espaço, 
suportando longas semanas de confinamento e as piores condições 
higiênicas, somente uma parte dos cativos alcançava seu destino. 
Calcula-se que, em média, apenas 50% chegavam com vida ao Brasil; e 
destes, muitos estropiados e inutilizados. O valor dos escravos foi assim 
sempre muito elevado,e somente as regiões mais ricas e florescentes 
podiam suportá-lo.
A própria decisão pelo uso da mão de obra escrava proveniente da África revela um pouco certa 
versão reflexiva da economia brasileira até então colonial. Mas por qual motivo? 
Enquanto a repressão sobre os índios posicionava-se como um negócio com relações internas à 
colônia, o tráfico negreiro oferecia não só novo, mas importantíssimo desenvolvimento das atividades 
23
FORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL
comerciais coloniais – resultando, obviamente, em saldo líquido que teria como destino a metrópole. 
Entretanto, ao utilizar mão de obra escrava negra, a produção interna estava cada vez mais integrada à 
dinâmica das condições mercantis internacionais.
Trazidos à força da África em grandes contingentes, retirados de seu território 
natural, os escravos negros poderiam ser submetidos ao caráter intensivo 
de jornadas de trabalho extenuantes, a um custo de reprodução próximo 
da subsistência. A baixa produtividade do trabalho escravo era compensada 
por seu baixíssimo custo e pelas próprias condições da colonização (SOUZA; 
PIRES, 2010, p. 18).
Com relação a isso, destaca Sodré (1964, p. 77):
A produtividade inequivocamente baixa do modo escravista aqui 
estabelecido consegue alinhar-se com a de outros modos e competir ou 
figurar no mercado com o que produz, na realidade, porque é colonial, 
isto é, porque se exerce numa área complementar, subsidiária, fornecedora 
daquilo que as áreas adiantadas consumidoras não podiam produzir ou não 
se interessavam em produzir; numa área em que o valor da terra numa 
atividade agrícola era inicialmente nulo, não entrava em linha de conta; 
num gênero monopolizado. 
Na verdade, os escravos negros eram encarados como mercadoria, além de oferecerem ao sistema 
colonial até então implantado em solo brasileiro atividade considerada extremamente dinâmica, qual 
seja: o próprio tráfico, que por muito tempo sustentou e a acumulação de capital de grande parte dos 
comerciantes das principais cidades das capitanias e províncias. 
Entre 1531 e 1820, ingressou no Brasil considerável volume de pessoas escravizadas – resistindo, 
inclusive, às mudanças institucionais, o que pode ser verificado na tabela a seguir:
Tabela 1 – Estimativas de desembarque de africanos no Brasil (1531-1820)
Período Total Média anual
1531-1575 10.000 222
1576-1600 40.000 1.600
1601-1625 100.000 4.000
1626-1650 100.000 4.000
1651-1670 185.000 7.400
1671-1700 175.000 7.000
1701-1710 153.700 15.370
1711-1720 139.000 13.900
1721-1730 146.300 14.630
24
Unidade I
Período Total Média anual
1731-1740 166.100 16.610
1741-1750 185.100 18.510
1751-1760 169.400 16.940
1761-1770 164.600 16.460
1771-1780 161.300 16.130
1781-1785 63.100 16.090
1786-1790 97.800 19.560
1791-1795 125.000 23.370
1796-1800 108.700 21.740
1801-1805 117.900 24.140
1806-1810 123.500 23.580
1811-1815 139.400 32.770
1816-1820 188.300 37.660
Fonte: Souza e Pires (2010, p. 19).
Independentemente do tipo de mão de obra escrava que utilizada, o fato é que a colônia conseguia 
organizar sua produção açucareira em grandes propriedades, reunindo grande quantidade de pessoas 
que estavam sob o comando de um proprietário ou de um feitor. O elemento central desse tipo de 
organização era o engenho, que se tornaria, após sua consolidação, fundamental na propriedade 
canavieira. Conforme destacam Souza e Pires (2010, p. 14) sobre o ciclo produtivo do açúcar, que vai 
de 1532 a meados do século XVII: 
O açúcar de cana, em meados do século XVI, obteve preços no mercado 
europeu que viabilizaram o plantio e a exploração da cultura pelos 
portugueses no litoral brasileiro. A unidade produtiva era o engenho, 
composto por uma moenda de tração física, movida por animais de carga 
ou por força humana. O sistema administrativo da colônia mudaria para um 
conjunto de capitanias hereditárias, sob as formas produtivas do latifúndio 
e da monocultura. O eixo econômico da colônia estabeleceu-se no Nordeste. 
O financiamento da lavoura canavieira nessa primeira fase era dado quase 
exclusivamente por casas financeiras dos Países Baixos. A pouca eficiência 
do sistema e o abandono da atividade de parte das autoridades portuguesas, 
especialmente durante a União Ibérica (1580-1640), levou essas casas 
financeiras a organizar e a financiar, por meio da Companhia das Índias 
Ocidentais, a ocupação efetiva de territórios no Brasil para o plantio e a 
comercialização do açúcar, durante o século XVII.
No que observa Furtado (2005), a colonização do século XVI surge fundamentalmente com a atividade 
açucareira. Na região de São Vicente, a atividade somente foi permitida devido à grande quantidade de 
mão de obra indígena trabalhando para os colonos. Noutras partes, pequenos agricultores, os chamados 
25
FORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL
homens da terra, passam a trabalhar para os colonos. Não fosse a grande quantidade de escravos 
advindos de outras partes, não haveria mão de obra suficiente para o dinamismo do setor. É nesse 
ambiente que a mão de obra africana fará diferença. Furtado (2005, p. 51) destaca que:
Ao terminar o século XVI, a produção de açúcar muito provavelmente 
superava os dois milhões de arrobas, sendo umas vinte vezes maior que a 
quota de produção que o governo português havia estabelecido um século 
antes para as ilhas do Atlântico. A expansão foi particularmente intensa no 
último quartel do século.
A tabela seguinte destaca a produção de açúcar no Brasil durante o período de 1570 a 1760.
Tabela 2 – Brasil: produção de açúcar – dados selecionados (1570-1760)
Ano Número de engenhos Arrobas Valor em libras
1570 60 180.000 270.406
1580 118 350.000 528.181
1600 400 4.000.000 n./d.
1630 n./d. 1.500.000 2.454.140
1640 n./d. 1.800.000 3.598.860
1650 n./d. 2.100.000 3.765.620
1670 n./d. 2.000.000 2.247.920
1710 650 600.000 1.726.230
1760 n./d. 2.500.000 2.379.710
Fonte: Souza e Pires (2010, p. 15).
É interessante destacar que, nesse período, a economia colonial brasileira apresenta diferenças no 
que diz respeito à estrutura produtiva comparativamente às colônias inglesas na América do Norte. 
Nessas últimas, eram encontradas pequenas propriedades rurais, ao passo em que, na agricultura de 
exportação do Brasil, a predominância era de grandes propriedades com atividades de monocultura. 
A consequência direta disso seriam diferenças quanto à distribuição da renda, que era muito mais 
uniforme na América do Norte do que no Brasil. Em nosso país, em consequência da concentração 
de renda, o comércio interno, do ponto de vista mercadológico, era pequeno, o que impulsionava a 
estrutura econômica colonial brasileira à estagnação (BAER, 2009).
Além do açúcar, outro produto bastante valorizado era a aguardente, que se apresentava como 
um subproduto de consumo em larga escala na colônia e que também era exportada para as costas 
da África. Por muito tempo, a maior fonte de renda da economia brasileira adveio do cultivo da 
cana-de-açúcar e de seus derivados. Porém, não só nesse tipo de atividade a economia do território 
estará concentrada.
26
Unidade I
A produção do tabaco, localizada na Bahia, em Sergipe e em Salvador, também será importante e 
crescente, principalmente, para ser utilizado como moeda de troca quando do tráfico de escravos pela 
costa da África, e assim permaneceu até quando foram impostas restrições ao tráfico. Outro destino de 
boa parte da produção do tabaco era a Europa, mercado cativo para este tipo de produto; porém, com 
as restrições ao tráfico, a produção entrou em crise.
A partir das características que foram apresentadas sobre a economia brasileira até então, nota-se a 
presença de dois setores: um dos produtos para exportação, de que são exemplos, o açúcar e o tabaco; 
e outro, o de manutenção desses, ao qual podemos chamar economia de subsistência, que fornece os 
bens necessários ao primeiro setor.
É possível ainda perceber que as características da colonização brasileira são aquelasde base 
exportadora de bens tropicais para a Europa. Todo o incentivo da organização da produção estava nessa 
condição, a de exportação daquilo que é permitido. Toda e qualquer atividade que existia, notadamente, 
a agricultura e a pecuária de subsistência, era considerada como acessória, ou seja, servia como base de 
sustentação para as atividades primário-exportadoras. Nesse aspecto, passemos a considerar quais são 
as características da economia primário-exportadora.
2 CARACTERIZAÇÃO DA ECONOMIA PRIMÁRIO‑EXPORTADORA NOS FLUXOS 
COMERCIAIS MERCANTILISTAS
Desde a época colonial a economia brasileira pautou a geração de sua riqueza pelo desempenho 
de exportações concentradas em produção agrícola, variando o tipo de produção: ora açúcar, ora 
algodão, café, borracha, tabaco, entre outros. Devido à grande variedade de bens primários produzidos 
em solo brasileiro com destino à exportação, a economia brasileira passou a ser reconhecida como 
agroexportadora, ou seja, seu dinamismo era determinado pela exportação de bens agrícolas. Na 
trajetória de crescimento econômico bastaria, então, olhar para o setor externo, notadamente para 
aqueles países em que a valorização de preços dos produtos brasileiros fosse crescente, para que as 
vantagens da exportação fossem conquistadas e mantidas.
 Observação
Cabe destacar a cultura do café, que tinha maior expressão para o 
período de construção e consolidação da economia agroexportadora, 
também chamada de primário-exportadora
Tratar de uma economia agroexportadora é considerar uma economia que está voltada para fora, 
em que as exportações são o fator determinante para a renda nacional. Nesse tipo de economia, o bom 
desenvolvimento do setor exportador depende da natureza do processo produtivo, bem como dos 
efeitos multiplicadores da renda que o setor gera. O setor agroexportador apresenta dinamismo devido 
à elevada rentabilidade e, por consequência, maior concentração dos recursos naturais e de capital. 
Nesse tipo de economia, as taxas de lucro do setor exportador são bastante elevadas.
27
FORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL
 Saiba mais
Leia mais sobre a economia primário-exportadora:
COSTA, W. P. Economia primário-exportadora e padrões de construção 
do Estado na Argentina e no Brasil. Economia e Sociedade, Campinas, n. 14, 
p. 175-202, jun. 2000. Disponível em: https://bit.ly/3qoLeCZ. Acesso em: 
1º out. 2015.
A atividade exportadora canaliza todos os esforços da burguesia agrário-mercantil, dando surgimento 
ao que se costuma chamar de acumulação primitiva.
O latifundiário apropria-se de todo o excedente produzido pelo trabalho incorporado nos processos 
de produção, que obviamente é malremunerado. A expropriação do excedente não se apresenta no 
mercado via preços, mas na produção que será levada ao mercado. Vale destacar o que é apresentado 
por Pereira (1977, p. 110):
O dualismo intrínseco da economia colonial que prevalece [...] no 
modelo primário exportador permite manter a população trabalhadora 
marginalizada dos benefícios do desenvolvimento, ao mesmo tempo 
que desempenha um papel fundamental no processo de acumulação da 
oligarquia agrário-mercantil.
Podem-se destacar, nesse tipo de economia e com base em Pereira (1977), quatro atividades distintas:
• Indústria orientada para exportação: compreende o setor de mineração, a indústria frigorífica de 
carnes e o açúcar.
• Indústria complementar das importações: compreende atividades que montam, complementam ou 
finalizam o processo de produção de bens de consumo considerados de luxo, utilizando 
insumos externos ou semiacabados; são exemplos as indústrias plástica, automobilística 
e farmacêutica.
• Indústria que utiliza insumos internos: compreende atividades industriais não residenciárias que 
podem ser facilmente objeto de comercialização internacional, mas que são destinadas ao mercado 
interno; por exemplo, a indústria têxtil.
• Indústria residenciária que utiliza insumos internos: compreende atividades de difícil comercialização 
internacional; são exemplos: indústria de materiais de construção, de móveis e de alguns alimentos.
28
Unidade I
Como a industrialização por meio da produção do setor secundário é bastante dificultada em países 
com dedicação agrícola, que estão distantes daqueles países mais desenvolvidos em termos de revolução 
industrial, a tendência para essa economia é a concentração nas atividades exportadoras de produtos 
primários de origem agrícola ou extrativa.
Deve-se destacar que o modelo agroexportador adotado pelo Brasil também prevalece em países da 
América Latina. Nesse aspecto, Gremaud, Toneto Jr. e Vasconcellos (2002, p. 343) também destacam as 
características do modelo na região:
• a exportação é a variável quase que exclusiva na determinação da 
Renda Nacional e sua única fonte de dinamismo;
• a pauta de exportações possui base estreita, isto é, ela é fortemente 
concentrada em poucos produtos primários;
• as importações constituem uma fonte flexível de suprimento de base 
para atender boa parte da demanda interna;
• a pauta de importações inclui não apenas produtos e matéria-prima 
de origem natural não disponíveis no país, como também bens de 
consumo e de capital;
• existe grande diferença entre a base produtiva (produtos para 
exportação) e a estrutura de demanda que precisa se atendida 
pelas importações.
Até então, em linhas gerais, apresentamos como ocorreram o processo de colonização portuguesa 
no Brasil e a construção da base agrário-exportadora do país. Agora, vejamos como aconteceu a 
colonização inglesa na América do Norte.
2.1 A colonização inglesa de povoamento na América do Norte, à margem do 
colonialismo mercantilista
As atividades dos ingleses nos processos colonizadores do continente americano também merecem 
destaque, pois se apresentam de forma similar à empreendida pelos portugueses e espanhóis, ou seja, 
monocultura do latifúndio, produção para exportação e trabalho escravo africano. A colonização dos 
povos da América pode ser analisada, segundo Furtado (2005), de duas formas: uma com objetivos 
políticos e outra como forma de exploração de mão de obra europeia.
De forma contrária a Portugal, que contava com baixa mão de obra, na Inglaterra dos XVII a massa 
de mão de obra é considerável, o que favorece o processo de colonização. O motivo de a Inglaterra 
contar com elevado contingente de mão de obra é que, à medida que maior quantidade de terra era 
destinada ao pasto pecuarista, havia a eliminação do tipo de produção coletiva na agricultura. Diante 
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FORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL
falta de ocupação, a mão de obra, interessada em um regime de servidão por tempo determinado, 
apresentava-se aos colonos ingleses com a assinatura um contrato em que se estabelecia que ao final 
do período eles receberiam um pedaço de terra, ou indenização em dinheiro, caso preferissem.
Sob comando da rainha Elizabeth I, os ingleses procuraram também enveredar pelas práticas de 
colonização, assim como fizeram, tempos antes, os portugueses e os espanhóis. Com investimento na 
construção de embarcações com vistas ao comércio marítimo, a colonização seguiu quando da criação 
da colônia de Virgínia em 1607 e ganhou força com a política dos cercamentos. Na colônia de Virgínia, 
a produção predominante foi a do cultivo de tabaco que, tempos depois, seria diversificada quando 
do surgimento de novas colônias, a exemplo da Carolina do Norte e da Carolina do Sul em 1663 e da 
Georgia em 1733. Vejamos a observação de Sousa [s.d.] sobre tais expedições:
No ano de 1620, o navio Mayflower saiu da Inglaterra com um grupo de 
artesãos, pequenos burgueses, comerciantes, camponeses e pequenos 
proprietários interessados em habitar uma terra onde poderiam prosperar e 
praticar o protestantismo livremente. Chegando à América do Norte naquele 
mesmo ano, os colonos fundaram a colônia de Plymouth – atual estado de 
Massachusetts – que logo se transformou em ponto original da chamada 
Nova Inglaterra.
 ObservaçãoNa Nova Inglaterra as colônias somente puderam sobreviver devido ao 
comércio, que, do ponto de vista econômico, apresentava-se com a pequena 
propriedade policultora, voltada aos interesses dos próprios colonos, 
utilizando-se do trabalho livre assalariado ou da servidão temporária.
O tipo de colonização que se seguiu apresentava diferentes características: nas regiões localizadas 
ao Sul, semelhantemente à colonização portuguesa e dadas as especificidades geográficas e climáticas, 
predominava a colonização para exploração, em que os lucros dos colonos eram advindos da exportação 
de produtos agrícolas, a exemplo de tabaco, arroz, índigo e algodão para a Europa. Nas regiões localizadas 
ao Norte, a colonização tinha finalidade de povoação com a intenção de fazer, naquelas regiões, locais 
de moradia em que prevalecessemm pequenas propriedades com uso de mão de obra livre. A figura a 
seguir apresenta o posicionamento das treze colônias inglesas.
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Unidade I
Colônias de povoamento
Colônias de exploração
Figura 4 – Colonização inglesa nas Américas
Os números apresentados na figura anterior remetem às seguintes colônias:
1 – Massachusetts.
2 – Nova Hampshire.
3 – Rhode Island.
4 – Connecticut.
5 – Nova York.
6 – Nova Jersey.
7 – Pensilvânia.
8 – Delaware.
9 – Maryland.
10 – Virgínia.
11 – Carolina do Norte.
12 – Carolina do Sul.
13 – Geórgia.
31
FORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL
O problema que se colocava para a Inglaterra no que se refere a colonização e exportação da 
produção não era o mesmo enfrentado por Portugal, pois este último empreendeu esforços na produção 
e exportação de mercadorias nas quais o mercado externo apresentava interesse, ou seja, o mercado 
externo apresentava-se cativo. Claro que o clima e as boas condições do solo das regiões colonizadas 
favoreciam o cultivo.
Quanto às novas colônias inglesas, a maior dificuldade residia justamente em encontrar cultivo e 
produção para exportação em que as condições mercadológicas fossem alvissareiras, bem como que 
pudessem ser efetuadas em pequenas propriedades. De início, não foi possível encontrar um produto 
cuja venda para mercado em expansão fosse capaz de cobrir os investimentos com transporte e com a 
instalação das colônias, pois na Nova Inglaterra se produzia basicamente o mesmo que se produzia na 
Europa. Para Furtado (2005, p. 31-32):
As condições climáticas das Antilhas permitiam a produção de um certo 
número de artigos – como o algodão, o anil, o café e principalmente o fumo 
– com promissoras perspectivas nos mercados da Europa. A produção desses 
artigos era compatível com o regime da pequena propriedade agrícola e 
permitia que as companhias colonizadoras realizassem lucros substanciais 
ao mesmo tempo que os governos das potências expansionistas – França e 
Inglaterra – viam crescer as suas milícias.
Diante do exposto, é possível perceber que a produção das novas colônias são também dedicadas à 
agricultura tropical. Os efeitos disso eram:
• Concorrência entre diferentes colônias portuguesas e inglesas, por mão de obra escrava advinda 
da África.
• Desenvolvimento de grandes unidades agrícolas em detrimento das pequenas propriedades de 
produção, concentrando renda dos setores.
• Baixa nos preços internacionais devido à elevação da oferta.
• Demonstração da fragilidade do sistema de colonização em áreas tropicais.
• Incerteza quanto a novos investimentos de exploração.
Tais efeitos foram ruins para o Brasil, pois em momento algum se previu que as novas colônias 
inglesas no território Americano enveredariam esforços intensivos na produção do açúcar. No momento 
inicial da colonização inglesa era sabido que tal produção era delegada ao Brasil e que às colônias das 
Antilhas eram delegados os demais produtos tropicais, como os já tratados. Porém, fatores econômicos 
fizeram a estratégia ser alterada.
32
Unidade I
 Lembrete
Essas novas colônias dedicavam-se à pequena propriedade, que não era 
compatível com a produção açucareira.
Furtado (2005, p. 35) destaca um dos efeitos negativos para a economia brasileira da época:
Esse fator foi a expulsão definitiva dos holandeses do Nordeste brasileiro. 
Senhores da técnica de produção e muito provavelmente aparelhados para 
a fabricação de equipamentos para a indústria açucareira, os holandeses 
se empenharam firmemente em criar fora do Brasil um importante núcleo 
produtor de açúcar. É tão favorável a situação que encontram nas Antilhas 
francesas e inglesas que preferem colaborar com os colonos dessas regiões a 
ocupar novas terras e instalar por conta própria a indústria.
Não tardou para que a produção açucareira na região tomasse força, sendo impulsionada pela 
utilização de equipamentos novos. Porém, tal atividade também causou efeitos negativos para as novas 
colônias, logo para a Inglaterra e para a França. Os principais efeitos foram:
• Diminuição da participação da população europeia nas Antilhas, tanto francesas quanto inglesas.
• Crescimento da participação da mão de obra escrava africana.
• Mudança de estratégia de colonização: de povoamento para exploração e exportação.
• Necessidade de introdução de atividades manufatureiras nas ilhas.
Podem-se também destacar efeitos positivos, pois:
• Tornou as colônias economicamente viáveis.
• Possibilitou a tentativa de criação de uma colônia autossuficiente.
• Ocasionou redução marginal das importações.
• Proporcionou melhores perspectivas de crescimento e de desenvolvimento.
3 CICLOS DE PRODUÇÃO NA POLÍTICA DA PLANTATION
A partir de agora, apresentaremos as principais características dos ciclos de produção brasileira no 
período da economia colonial, compreendendo o período 1500-1800, passando pela economia escravista, 
pelo ciclo do açúcar, pelo complexo canavieiro, além da pecuária e do ciclo da mineração. Abordaremos 
o ciclo aurífero e os movimentos bandeirantes. As características das atividades econômicas do período 
1775-1850 também serão alvo de nossa atenção, bem como a inserção da economia brasileira nos 
fluxos internacionais de comércio com a economia do café.
33
FORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL
Na colonização brasileira pela metrópole portuguesa prevaleceu a política da plantation, entendida como 
um sistema de exploração colonial com a presença de grandes latifúndios, da monocultura, do trabalho escravo 
e da produção de bens que seriam exportados para a metrópole. Como a monocultura do latifúndio requer 
produção em larga escala, tal política no Brasil inicia-se com a cana-de-açúcar e seus derivados e avança, tempos 
depois, para outros tipos de culturas características dos trópicos, a exemplo do algodão, do fumo e do café.
Tais produtos, além de serem favorecidos por clima e solo propícios oferecidos pelo território brasileiro, 
apresentavam excelente aceitação no mercado externo, em que a produção nacional abastecia o consumo 
da metrópole. Com um mercado cativo, a rede de comércio oferecia boas oportunidades lucrativas para os 
empresários que se dedicavam a tais atividades. Outro fator que favorecia os lucros no setor era o tipo de mão 
de obra utilizada, majoritariamente escrava, tanto indígena quanto negra africana, esta última com maior 
representatividade. Parte da produção deveria atender à demanda interna, ainda bastante incipiente.
A produção oferecida pela política da plantation proporcionava à colônia brasileira o comércio com 
a Europa, no qual se exportavam aqueles produtos que a região tropical permitia produzir e, em troca, 
recebiam-se tecidos, armas e demais produtos que seriam utilizados para pagamento do tráfico de 
escravos negros africanos, reforçando a mão de obra em território nacional.
Tal sistema criava uma estrutura social em que a figura do proprietário do latifúndio se destacava, 
pois para ele ficava a incumbência de controlar a vida das pessoas que estavam ao seu redor. Falamos 
aqui da relação entre a casa grande, em que estava instalado o senhor, e a senzala, com seus escravos.
 Saiba mais
Sobre o assunto,convidamos à leitura do livro:
FREYRE, G. Casa grande e senzala. São Paulo: Global, 2006.
Assim, a plantation se apresenta como uma forma de organização econômica nos primeiros tempos 
de colonização portuguesa. Sua implantação fez do Brasil um território de geração de riqueza para a 
metrópole, condição esta que desfavorecia o desenvolvimento de um mercado interno.
Porém, através do que se convenciona chamar de brecha camponesa, uma parcela do que era 
produzido pelos escravos pertencia ao latifúndio, e isso possibilitava condições para um pequeno 
comércio, que garantia algum vínculo com a terra. Daí que o incentivo a avançar para demais tipos de 
cultivo, tanto para abastecimento da metrópole quanto para tentativa de desenvolvimento de mercado 
interno, será importante.
3.1 Ciclos de produção
Produto que era objeto de exploração por portugueses em terras brasileiras, o pau-brasil representou 
a primeira forma de geração de riqueza para a metrópole.
34
Unidade I
 Lembrete
Desde o período pré-colonial, em que franceses já haviam explorado tal 
produto, era crescente o interesse da Coroa portuguesa na produção nacional.
A madeira explorada em território brasileiro tinha como destino a exportação para comércio na 
Europa. A região litorânea servia de apoio para o armazenamento e a exportação da madeira. A atividade 
era considerada relativamente fácil, pois a área de extrativismo localizava-se em florestas próximas às 
áreas litorâneas e contava com a mão de obra indígena que, em troca de algumas mercadorias, ajudava 
na exploração e no transporte.
A madeira era bastante conhecida por sua coloração, que oferecia condições para tingir tecidos, 
e já era comercializada por árabes desde o século IX, que a chamavam de pau de tinta. No entanto, 
somente com a chegada dos portugueses sua exploração e seu uso ocorreriam com maior concentração. 
A partir de 1502, a extração do produto passou a ser arrendada a negociantes de Lisboa que detinham 
o direito de explorar a madeira, enquanto a Coroa portuguesa passava a receber recursos monetários 
pelos direitos de exploração cedido a esses negociantes portugueses.
Devido à facilidade de transporte e de armazenamento, a exploração madeireira avançava por todos 
os anos 1500 desde a Mata Atlântica; em Cabo Frio, na região do Rio de Janeiro; até Pernambuco e 
Baía de Todos os Santos. Esse ciclo se encerrou por volta dos 1660, quando os lucros já não eram tão 
convincentes como em períodos anteriores.
Após a exploração do pau-brasil, outra cultura que mostrou importância foi a da cana-de-açúcar, 
alicerce econômico da colonização portuguesa no Brasil no período entre os séculos XVI e XVII. Conforme 
destaca o documento Análise da Expansão do Complexo Agroindustrial Canavieiro no Brasil:
A cana-de-açúcar é uma gramínea originária da Índia, trazida para o 
ocidente pelos portugueses que, em primeiro lugar, a aclimataram no 
arquipélago português dos Açores, na costa africana. Também nos Açores, os 
portugueses desenvolveram a tecnologia de extração do caldo e produção 
de açúcar em engenhos. Somente em 1533 se dá o início do seu plantio 
na chamada “Costa do Pau-Brasil”, na Capitania de São Vicente, mais 
precisamente no Engenho do Senhor Governador. Posteriormente a cana 
é levada para outras regiões do país, ocupando os vales férteis do Rio de 
Janeiro e do Nordeste, especialmente o Recôncavo Baiano e posteriormente 
os famosos solos de massapé da Zona da Mata Nordestina, especialmente de 
Pernambuco (FONSECA; KRUGLIANSKAS, 2008, p. 2).
A partir de 1530, em razão da queda do comércio dos produtos das Índias e atendendo à necessidade 
de defender sua colônia americana, o governo luso decidiu efetivar a colonização do Brasil. A base 
econômica do empreendimento seria a produção de gêneros tropicais, visando à demanda externa. 
35
FORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL
O produto escolhido foi o açúcar, que era de grande aceitação na Europa e que os portugueses já vinham 
produzindo nas ilhas do Atlântico (Açores, Madeira e Cabo Verde).
Conforme destaca Celso Furtado (1985, p. 41), 
O rápido desenvolvimento da indústria açucareira, malgrado as enormes 
dificuldades decorrentes do meio físico, da hostilidade do silvícola e do custo 
dos transportes, indica claramente que o esforço do governo português se 
concentrava nesse setor. O privilégio, outorgado ao donatário, de só ele 
fabricar moenda e engenho de água, denota ser a lavoura do açúcar a que se 
tinha especialmente em mira introduzir. Favores especiais foram concedidos 
subsequentemente àqueles que instalassem engenhos: isenções de tributos, 
garantia contra a penhora dos instrumentos de produção, honrarias e 
títulos etc. As dificuldades maiores encontradas na etapa inicial advieram 
da escassez de mão de obra. O aproveitamento do escravo indígena, em que 
aparentemente se baseavam todos os planos iniciais, resultou inviável na 
escala requerida pelas empresas agrícolas de grande envergadura que eram 
os engenhos de açúcar.
Alguns aspectos devem ser considerados quanto ao cultivo da cana-de-açúcar:
• Clima quente e úmido da costa.
• Mão de obra abundante.
• Qualidade do solo.
Do ponto de vista econômico, a produção de açúcar só era proveitosa se efetuada em larga escala. 
A necessidade de abrir cada vez mais campos para o cultivo de cana-de-açúcar gerava custos crescentes, 
além da necessidade de ampliação da mão de obra.
 Observação
No Brasil, as condições climáticas e o tipo de solo favoreceram a lavoura 
canavieira. De grande importância foi a participação flamenga no financiamento, 
transporte, refino e principalmente na comercialização do açúcar.
O cultivo da cana-de-açúcar será favorecido pelo clima quente e úmido de toda a costa litorânea, 
bem como pelas propriedades do solo e pelo uso de mão de obra abundante, notadamente a escrava.
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Unidade I
 Lembrete
A introdução da cultura da cana-de-açúcar em território brasileiro 
tinha como objetivo a produção do açúcar, que se apresentava como 
um produto em franca expansão de consumo europeu, além de ser uma 
forma de ocupar o território brasileiro por intermédio de uma atividade 
extremamente rentável.
Até o século XVII, o Brasil será considerado como um dos maiores produtores mundiais de açúcar, 
notadamente nas regiões do Nordeste, compreendendo o espaço que vai do Recôncavo Baiano ao Rio 
Grande do Norte, estando predominantemente na Bahia e em Pernambuco, e com menor escala no Rio de 
Janeiro e Espírito Santo (PRADO JR., 2006). A ilustração que se segue apresenta a distribuição dos engenhos 
de açúcar no Brasil. As áreas destacadas em verde apresentam o cultivo de cana-de-açúcar.
Figura 5 – Distribuição dos engenhos de açúcar no Brasil
Contando com latifúndio, monocultura e trabalho escravo, a economia açucareira se estrutura na 
cultura da plantation, em que o engenho surge como grande empreendimento e necessita de vasta 
extensão territorial para avançar. Nesse aspecto, vale ressaltar que as terras eram concedidas aos que 
tinham algum tipo de relação com a Coroa portuguesa, principal interessada no bom desenvolvimento 
do setor. Sobre o assunto, Furtado (2000, p. 22) destaca que:
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FORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL
[...] a terra que o donatário recebia para transferir aos que a requeressem era 
concedida em sesmarias que correspondiam à área de 10 e 30 hectares cada uma, 
e estendiam-se do litoral para o interior, em uma faixa de 30 a 60 quilômetros, 
do Rio Grande do Norte a São Vicente (SP), onde a colônia acabava, ao sul.
A ilustração a seguir mostra um engenho da capitania de Pernambuco no século XVII, em que se 
destacam a moenda, a casa-grande e a capela.
Figura 6 – Engenho no século XVII
 Lembrete
O engenho, unidade de produção do mundo açucareiro, constituiu a 
peça principal do mecanismo de plantation que Portugal desenvolveu na 
colonização brasileira.
Reforçando suas características de um Estado centralizador e burocrata, a metrópole portuguesa 
procurava criar regras de controle

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