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Prévia do material em texto

Economia 
Brasileira
Bruna Mara da Silva Wargas
© 2019 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida 
ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, 
incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento 
e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e 
Distribuidora Educacional S.A.
Presidência 
Rodrigo Galindo
Vice-Presidência de Produto, Gestão e Expansão
Julia Gonçalves
Vice-Presidência Acadêmica
Marcos Lemos
Diretoria de Produção e Responsabilidade Social
Camilla Veiga
Gerência Editorial
Fernanda Migliorança
Editoração Gráfica e Eletrônica
Renata Galdino
Supervisão da Disciplina
Vaine Fermoseli Vilga
Revisão Técnica
Vaine Fermoseli Vilga
Thamiris Mantovani CRB-8/9491 
2019
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
 Wargas, Bruna Mara da Silva 
W274e Economia brasileira / Bruna Mara da Silva Wargas. – 
 Londrina : Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2019.
 208 p.
 
 ISBN 978-85-522-1591-2
 
 1. História. 2. Economia. 3. Brasil. I. Wargas, Bruna 
 Mara da Silva. II. Título. 
 CDD 330
Sumário
Unidade 1
Formação da economia brasileira ............................................................... 7
Seção 1
Formação da economia no período colonial ......................... 9
Seção 2
Da economia cafeeira à industrialização .......................................26
Seção 3
Da crise dos anos 1930 à conquista dos direitos trabalhistas .....40
Unidade 2
Do nacional desenvolvimentismo à crise dos anos 1980 .......................59
Seção 1
Fase nacionalista de Getúlio e o desenvolvimentismo ................61
Seção 2
Reformas estruturais e o milagre econômico ...............................75
Seção 3
A crise da dívida externa .................................................................90
Unidade 3
Os planos de estabilização dos anos 1980 e os anos 1990 ...................107
Seção 1
Planos de estabilização econômica dos anos 1980 ....................109
Seção 2
Abertura comercial e financeira e o início dos anos 1990 ........123
Seção 3
Do Plano Real à manutenção das políticas neoliberais ............137
Unidade 4
Reflexões sobre questões estruturais da economia brasileira 
nos anos 2000 ............................................................................................157
Seção 1
Governo Lula..................................................................................159
Seção 2
Governo Dilma ..............................................................................174
Seção 3
Governo Temer ..............................................................................188
Palavras do autor
Nesta disciplina vamos explorar a história econômica do Brasil do período colonial até os dias de hoje. Apesar de muitos estudantes não gostarem de história e nem mesmo de economia, conhecer o 
processo de formação da economia brasileira nos proporciona um maior 
entendimento em relação ao presente de nosso país. Vamos estudar as 
experiências brasileiras referentes ao processo de colonização portuguesa 
e à ocupação territorial; os ciclos econômicos; o modelo de exploração da 
colônia; o surgimento da indústria e o papel do estado brasileiro nesses 
processos. A nossa reflexão pretende retratar não apenas a formação de uma 
economia mas também de uma sociedade com grande miscigenação de 
povos indígenas, portugueses, africanos entre outros que chegaram ao Brasil 
para construir sua própria história. 
Como em todo processo de formação, veremos que algumas iniciativas 
foram bem-sucedidas, enquanto outras foram um completo fracasso, sendo 
que tudo isso refletiu na configuração atual de nossa economia. Podemos 
pensar em vários exemplos dessa influência histórica na economia brasi-
leira atual, como a pauta de exportações bastante atrelada às commodities, a 
concentração fundiária, as desigualdades regionais e as problemáticas sociais. 
O objetivo deste material é proporcionar a você um amplo conhecimento 
sobre a trajetória da economia brasileira e sobre as questões atuais, além de 
abordar os impactos da economia do país sobre sua vida, suas decisões e sua 
carreira. Para atingir esse propósito, o livro está estruturado em 4 unidades: 
na Unidade 1, falaremos sobre a formação da economia brasileira (veremos 
os ciclos do açúcar, do ouro e do café, além das bases para o processo de 
industrialização nacional); na Unidade 2, a nossa abordagem compreenderá 
o período do nacional desenvolvimentismo à crise dos anos 1980 (momento 
em que estudaremos a política desenvolvimentista do governo JK e o Plano 
de Metas, as reformas dos anos 1960, o milagre econômico nos anos 1970 
e a crise dos anos 1980); na Unidade 3, os planos de estabilização dos anos 
1980 e os anos 1990 (em que percorreremos os planos Cruzado, Bresser e 
Verão, os processos de abertura comercial e financeira da economia, além do 
Plano Real e o Governo FHC). Para finalizar, na Unidade 4 faremos reflexões 
sobre questões estruturais da economia brasileira nos anos 2000, abordando 
o governo Lula e as políticas econômicas e sociais do período, o governo 
Dilma e o choque recessivo, o processo de impeachment e as reformas no 
governo Temer. 
Bons estudos!
Unidade 1
Bruna Mara da Silva Wargas
Formação da economia brasileira
Convite ao estudo
Você já parou para pensar como a economia brasileira foi formada 
desde o período colonial? Será que essa história iniciada há mais de 500 
anos ainda impacta a estrutura da economia brasileira nos dias de hoje? As 
respostas para algumas perguntas similares a essas poderão ser encontradas 
na Unidade 1. Na primeira seção, temos em destaque a economia colonial, 
com duas principais fases: a primeira, com a formação da empresa colonial 
agrícola açucareira na região Nordeste, baseada em grandes propriedades 
produtoras, mão de obra escrava e voltada para a exportação; e a segunda, o 
ciclo do ouro, mostrará uma nova nuance da colonização com um processo 
de interiorização, estimulado pela coroa portuguesa com o intuito de encon-
trar metais preciosos. Esse ciclo aurífero proporcionará maior movimen-
tação de renda na economia interna, a aceleração da urbanização e o surgi-
mento de um mercado consumidor, fazendo com que a sociedade brasileira 
ganhe alguns contornos de sua diversidade, devido à convivência de portu-
gueses, escravos africanos e os nativos indígenas, sendo que, no período da 
mineração, ocorrerá um elevado crescimento populacional. 
Na segunda seção, após o declínio da mineração, veremos como emergirá 
a economia cafeeira que irá delinear uma nova dinâmica para a economia 
brasileira (do ponto de vista de estrutura, mão de obra e capitais), o que 
culminará no estímulo à formação de uma incipiente indústria nacional. Na 
última seção desta unidade, serão abordadas as políticas dos governos Vargas 
e Dutra, de incentivo à industrialização do país, além das reestruturações 
normativas com o estabelecimento da legislação trabalhista. 
Para nos auxiliar na missão de compreender este processo de formação 
da economia brasileira, vamos contar com o Sr. Afonso, um funcionário de 
uma renomada universidade brasileira, que está catalogando as obras doadas 
de um acervo que pertencia ao Sr. Francisco Gonçalves Santiago, um escritor 
brasileiro descendente de portugueses, que guardava um tesouro familiar: 
cartas e documentos de seus antepassados que contam passagens de suas 
vidas em vários momentos da história do país.
Com esses relatos, você será levado a conhecer o processo de formação 
da economianacional passando pelos seus ciclos na era colonial, compreen-
dendo os impactos para a atual configuração da economia brasileira e suas 
problemáticas, como uma indústria altamente dependente do ponto de vista 
tecnológico, a pauta de exportações concentrada em commodities (café, soja, 
minério de ferro entre outros), as desigualdade de desenvolvimento entre as 
regiões, além da elevada carga tributária.
9
Seção 1
Formação da economia no período colonial 
Diálogo aberto
Você já parou para pensar que nos dias de hoje realizamos transações de 
compra e venda de bens e serviços com apenas um toque no celular ou com 
um cartão bancário? Essa operacionalização digital também pode ser feita 
para o pagamento de tributos ao governo, no entanto, no período colonial, 
as coisas funcionavam de maneira um pouco diferente, já que o fluxo de 
moedas ainda era bastante escasso, as trocas entre mercadorias (escambo) 
eram comuns, e a cobrança de impostos ainda estava sendo organizada, com 
a marcação do ouro e o recolhimento dos impostos nesse processo. 
Para entendermos esse e outros assuntos econômicos que estavam 
presentes no Brasil colonial, vamos conhecer o processo de colonização do 
país e os ciclos econômicos do açúcar e do ouro. A fim de assimilarmos o 
conteúdo desta seção, o Sr. Afonso, personagem do nosso contexto de apren-
dizagem, irá nos auxiliar com uma descoberta importante sobre o material 
que está catalogando. 
Na primeira carta que Afonso estuda para a catalogação do acervo doado 
por Francisco, ele encontra os relatos de José de Oliveira Santiago, um funcio-
nário da coroa portuguesa enviado ao Brasil para auxiliar no processo de 
estabelecimento da cobrança de impostos sobre a produção de ouro. Dom João 
V, rei de Portugal, observava muitas falhas no processo e almejava aumentar a 
arrecadação da coroa. Diante disso, ele estabeleceu uma legislação mais dura 
para conter os desvios. José relata que chegou ao Brasil acompanhado de sua 
esposa Ana e seus três filhos: Manoel, Pedro e Joaquim. Ao se estabelecer em 
Vila Rica, encontrou uma cidade sem infraestrutura e com um grande fluxo 
populacional de escravos, migrantes de outras regiões do país e imigrantes 
portugueses. Nesse ambiente, José tem como objetivo auxiliar a organização 
das Casas de Fundição que eram responsáveis pela pesagem, marcação do ouro 
e a cobrança do Quinto (o imposto arrecadado para a coroa portuguesa, corres-
pondente a 20% de todo o ouro extraído). As dificuldades encontradas por José 
para a cobrança do Quinto eram provenientes da sonegação de impostos, que 
ocorria por meio da ocultação de parte da produção. Isso o deixava bastante 
nervoso, o que era perceptível nos relatos que fazia sobre as revoltas sociais 
decorrentes da cobrança do tributo. Nesse ponto, Afonso se questiona: se o 
Brasil gerava tanto ouro dentro de sua economia durante o final do século XVI 
e meados do século XVIII, por quais motivos não conseguiu desenvolver a 
10
manufatura na sua economia? Naquela época, será que os problemas finan-
ceiros da metrópole (Portugal) afetaram essa situação?
Para que você entenda como essas coisas aconteceram, estudaremos 
conceitos importantes sobre o fluxo de recursos internos no ciclo do ouro, 
o tratado de Methuen e seus desdobramentos para Portugal e para o Brasil, 
compreendendo, assim, o processo de formação da economia colonial. 
Prepare-se para a aula lendo o material de forma reflexiva e crítica, 
questionando os desdobramentos dos ciclos do açúcar e do ouro para a 
formação de nossa economia.
Boa leitura!
Não pode faltar
Neste momento, compreender o processo de formação da nossa economia, 
proporcionará a você um maior domínio sobre as questões que afligem a 
economia brasileira nos dias de hoje. Para tanto, iniciaremos a discussão 
relembrando conceitos sobre o processo de colonização que, em diferentes 
momentos de sua trajetória estudantil, foram abordados no contexto histó-
rico brasileiro. 
Inicialmente vamos analisar as transformações econômicas e sociais que 
ocorreram no continente europeu para compreendermos, na sequência, 
como o processo de colonização do Brasil foi delineado a partir desses 
movimentos. No final da Idade Média, os alguns acontecimentos alteraram 
modo de produção na Europa, que deixou de ser um modelo fechado, 
baseado na produção de subsistência e norteado por dogmas da ética pater-
nalista cristã, passando a ser um sistema arraigado nos movimentos comer-
ciais, com uma nova configuração econômica pautada nas relações de trocas 
econômicas e na acumulação primitiva de capitais. Isso foi um marco de 
transição para uma nova e revolucionária forma de organização econômica, 
política e social: o sistema capitalista.
A transição do sistema feudal para o mercantilismo retrata uma mudança 
de paradigma. No sistema feudal, a forma como a sociedade se organizava 
estava pautada em um sistema estático, dividido em três grandes grupos, 
sendo o primeiro o topo da estrutura social e o último, a base: clero, nobreza 
e os servos. Nessa época, a ética paternalista cristã determinava como era a 
relação entre as camadas da sociedade, defendendo a obediência servil como 
uma retribuição ao senhor pela proteção e subsistência que proporcionava 
a todos. Dentro desse sistema, os dogmas prevalecentes eram contrários às 
trocas comerciais, à cobrança de juros e à busca por lucratividade, exaltando a 
11
produção da terra. No entanto, com o esgotamento do modelo, devido à estag-
nação de técnicas agrícolas e ao aumento populacional, ocorreram crises de 
abastecimento, colaborando para a ascensão da burguesia, o que impulsionou 
as relações comerciais nos centros urbanos (HUNT; SHERMAN, 1996).
Diante disso, emergiu um sistema de transição até o sistema capitalista 
(que nos interessa nessa seção): o mercantilismo, que objetivava as trocas 
comerciais e a incessante busca por metais preciosos que auxiliaria as nações 
europeias a manterem suas relações comerciais e suas formas de defesa e 
expansão territorial.
Nesse ínterim, grandes nações iniciaram uma jornada por novos territó-
rios, por novas rotas comerciais e por metais preciosos. Portugal e Espanha 
despontaram para as grandes navegações, sendo que os portugueses reuniam 
condições favoráveis para o empreendimento devido à centralização da monar-
quia, ao fortalecimento da burguesia e a uma posição geográfica privilegiada.
Assimile
Em 1492, a Espanha chegou à América. Na sequência, em 1494, Portugal 
e Espanha estabeleceram o Tratado de Tordesilhas, dividindo, por meio 
de uma linha imaginária, que passaria a 370 léguas a oeste do arqui‐
pélago de Cabo Verde, as terras a serem descobertas por essas duas 
nações. Assim, as terras a oeste dessa linha imaginária pertenceriam à 
Espanha e aquelas situados à leste seriam de Portugal. Na Figura 1.1, é 
possível visualizar essa divisão dos territórios pelo tratado.
Figura 1.1 | Tratado de Tordesilhas e a distribuição das terras entre Portugal e Es-
panha
Fonte: https://santarosadeviterbo.files.wordpress.com/2013/03/tratado-de-tordesilhas-mapa.
jpg. Acesso em: 10 jun. 2019. 
https://santarosadeviterbo.files.wordpress.com/2013/03/tratado-de-tordesilhas-mapa.jpg
https://santarosadeviterbo.files.wordpress.com/2013/03/tratado-de-tordesilhas-mapa.jpg
12
Vale lembrar que Portugal chegou ao Brasil em 1500 e, como inicialmente 
não foram encontrados metais preciosos ou produtos coloniais para explo-
ração, foi iniciada a exploração de recursos naturais nas terras tupiniquins 
que pudessem ser comercializados na Europa. O pau-brasil, uma madeira 
nobre com relevante valor comercial no continente europeu, foi um dos 
produtos expoentes no período inicial da colonização.
Assimile
No processo de colonização dos territórios da América portuguesa e da 
América espanhola existia a questão do Pacto Colonial, que consistia 
no exclusivo metropolitano sobre as relações comerciais das colônias. 
Segundo esse acordo, a colônia tinha por objetivo exclusivo fornecermatérias-primas para a metrópole e adquirir produtos manufaturados 
apenas da metrópole. O objetivo era manter a relação de dependência 
da colônia com a metrópole.
A ocupação do território brasileiro era uma das prioridades do governo 
português para evitar possíveis invasões de outras nações, por isso, como 
forma de ocupação, de organização administrativa e de controle das terras, 
foram estabelecidas as capitanias hereditárias. O sistema não foi tão bem-su-
cedido, sendo que as capitanias de São Vicente e de Pernambuco foram as que 
obtiveram o maior êxito do ponto de vista econômico e territorial, devido 
aos modelos econômicos estabelecidos nas regiões, dos quais trataremos a 
seguir. Os fatores que dificultaram o êxito das outras regiões foram: a grande 
extensão territorial para administrar, a baixa disponibilidade de recursos 
econômicos, a dificuldade de comunicação com as demais regiões e com a 
metrópole, além dos ataques indígenas.
Saiba Mais
O objetivo de Portugal com o estabelecimento das capitanias hereditá‐
rias era a ocupação do território. As terras da colônia foram divididas 
em 15 capitanias e destinadas a 12 donatários, em geral nobres da corte 
portuguesa. Esse modo de organização administrativa da colônia foi 
implementado por Portugal em 1534. Os donatários deveriam colonizar, 
proteger e administrar os territórios, vitaliciamente, e seus descentes 
(por isso, o termo “hereditária”) poderiam continuar com a propriedade 
e explorar os recursos naturais.
Os retornos financeiros aguardados pela coroa portuguesa não corres-
ponderam às expectativas iniciais, pois os metais preciosos encontrados nas 
13
colônias espanholas não foram, inicialmente, achados no território brasileiro. 
Dessa forma, passou-se a buscar um modelo de exploração para o território que 
pudesse sustentar os gastos com a colonização e levantar recursos para a coroa. 
A partir desses pressupostos e da experiência prévia portuguesa com o cultivo 
da cana de açúcar nas Ilhas do Atlântico, iniciou-se a montagem do complexo 
açucareiro no Nordeste, pois o produto ainda era bastante escasso no mundo 
e tinha um valor econômico elevado na Europa, o que permitiria o alcance de 
lucros vultuosos. Assim, o complexo açucareiro se pautou em um modelo com 
baixos custos e alta rentabilidade, tendo sido construído sobre o sistema agrícola 
do plantation, que é um estilo de produção de uma única cultura intensa, culti-
vada em grandes propriedades e com mão de obra predominantemente escrava.
Reflita
Desde o início de nossa história, o plantation delineou a formação do 
setor agrícola no país a partir de grandes latifúndios, que eram culti‐
vados por um enorme contingente de trabalhadores rurais que não 
tinham acesso à terra. 
Segundo um estudo recente da Oxfam, uma confederação global que tem 
como objetivo combater a pobreza, as desigualdades e as injustiças em todo 
o mundo; no Brasil menos de 1% dos proprietários agrícolas possui 45% da 
área rural do país (OXFAM, [s.d.]). Será que essa concentração de terra atual 
é parte de uma herança histórica do plantation? Reflita sobre o assunto.
É importante dizer que, inicialmente, a mão de obra indígena foi empre-
gada nesse modelo produtivo, mas esse tipo de produção fracassou, pois os 
indígenas eram muito suscetíveis a doenças trazidas pelos europeus, como a 
gripe, o sarampo e a varíola. Além disso, não se acostumavam com o trabalho 
intensivo, já que, culturalmente, faziam apenas o necessário (caça, pesca e 
coleta) para sobreviverem; estavam nos planos de catequese dos jesuítas, o 
que gerava uma contradição de interesses entre os colonizadores e os missio-
nários cristãos; eram resistentes e guerreavam, fugindo para locais de difícil 
acesso. Por conta disso, a mão de obra escrava negra passou a ganhar espaço, 
sendo adotada em massa na produção açucareira do Brasil.
Assimile
Em decorrência das guerras e do episódio da peste bubônica (que dizimou 
um grande contingente populacional), Portugal não tinha uma população 
muito numerosa, o que dificultou a imigração de trabalhadores livres 
para o complexo açucareiro. Assim, esse fato, em conjunto com outros 
fatores, fortaleceu o uso da mão de obra escrava no ciclo do açúcar.
14
Um detalhe importante da produção açucareira ter sido realizada na 
região Nordeste é que este é o ponto mais próximo entre a colônia e os 
continentes africano e europeu (o que facilitava e barateava a importação de 
escravos, bem como a própria exportação do açúcar), além de possuir clima 
tropical e terras férteis (que são ideais para esse tipo de cultivo). 
Vale destacar também que a Holanda foi o principal financiador da 
produção açucareira, com grandes investimentos na atividade, que envolviam 
o aparelhamento dos engenhos, a questão do refino do açúcar e da comer-
cialização na Europa. Note que este será um ponto chave para o declínio da 
produção, em decorrência das questões políticas que envolveram Portugal, 
Espanha e Holanda.
Saiba Mais
O complexo açucareiro foi bastante rentável, gerando um fluxo elevado 
de recursos para Portugal. Isso pode ser confirmado pela rapidez da 
expansão do número de engenhos e escravos na região. Para se ter uma 
ideia, o primeiro engenho foi estabelecido em Pernambuco, em 1539. 
Ao final do século já haviam sido construídos 120 engenhos e 20 mil 
escravos estavam trabalhando nas lavouras (FURTADO, 1989).
O fluxo de recursos financeiros na economia açucareira estava forte-
mente concentrado nas mãos dos proprietários dos engenhos e a maior parte 
destes recursos não circulou na economia interna, sendo a maior parte deles 
utilizados para importações de produtos da própria metrópole, o que nos 
remete ao Pacto Colonial. Como não havia movimentação de recursos para o 
pagamento dos trabalhadores, pois, em sua maioria, eram escravos, estima-se 
que apenas 10% da riqueza gerada pela exportação do açúcar circulou pela 
economia da colônia. Esse quadro não permitiu que um mercado interno se 
desenvolvesse a partir desta atividade econômica (FURTADO, 1989).
Atenção
É importante que façamos uma análise sobre a sociedade brasileira 
que estava se formando. Darcy Ribeiro, em seu livro O Povo Brasileiro 
retrata o cenário social da época, dizendo que
Ao lado da casa‐grande, contrastando com seu 
conforto ostentatório, estava a senzala, constituída 
de choças onde os escravos viviam uma existência 
subumana, que só se tornava visível porque eles eram 
15
os escravos. Da casa-grande, com a figura do senhor, 
da sinhá, das sinhazinhas e suas mucamas, temos 
descrições as mais expressivas e nostálgicas de uma 
antropologia que sempre focalizou o engenho através 
dos olhos do dono. Dos brancos pobres e dos mestiços 
livres, engajados como empregados, mascates e 
técnicos, assim como do submundo dos escravos 
do eito não contamos, ainda, com reconstituições 
fidedignas e, menos ainda, com uma perspectiva 
adequada de interpretação. (RIBEIRO, 1995, p. 283)
A partir dessa descrição, percebe-se que, desde o início da colonização 
brasileira, temos traços de uma sociedade baseada na desigualdade, na 
concentração de renda e na exclusão de parte da população.
Antes de tratarmos do declínio do modelo açucareiro, vamos falar sobre 
o papel da pecuária no Nordeste. A pecuária se destacou no complexo 
nordestino, sendo acessória à produção açucareira. Os trabalhadores envol-
vidos nessa atividade eram homens brancos livres e com baixos recursos. 
Eles proviam os animais necessários para os engenhos, que eram usados na 
produção, na alimentação da população e na extração de couro. A pecuária 
não necessitava de grandes investimentos de capital, pois a própria reprodução 
do rebanho subsidiava a produção. Além disso, por ser extensiva e itinerante, 
com a expansão da atividade açucareira, houve o aumento das áreas produ-
toras, o que, consequentemente, gerou um conflito entre a área de plantio da 
cana-de-açúcar e a área criatória; levando o governo português a proibir, em 
determinado momento, a pecuáriana região litorânea. Note que tanto essa 
proibição como a própria característica da pecuária na região impulsionaram 
a interiorização do território, expandindo a ocupação para os sertões.
Atenção
No século XVII, além dessa ocupação de terras no interior do Nordeste, 
houve o início da conquista da região amazônica, devido à exploração das 
drogas do sertão (ervas medicinais, cravo, pimenta, castanhas e guaraná).
A questão da pecuária foi importante como atividade auxiliar do complexo 
açucareiro, no entanto, cabe salientar que a economia açucareira dependia de dois 
grandes fatores externos: a mão de obra escrava e a importação dos equipamentos 
necessários para a produção. Dessa maneira, o ponto chave para a ascensão e 
posterior queda da lucratividade do complexo foi o papel dos holandeses. Assim,
16
(...) no terceiro quartel do século XVII, essa prosperidade 
e bons lucros da economia açucareira sofreriam com a 
redução pela metade dos preços do açúcar no mercado 
externo. Mas, por qual motivo isso aconteceu? A colônia 
brasileira perdeu o monopólio de produção com a entrada 
das Antilhas nesse mercado, que contaram com a ajuda 
técnica e financeira dos holandeses que, de parceiros, 
se tornariam concorrentes. Vamos entender como essa 
relação se inverteu? Entre 1580 e 1640 Portugal e Espanha 
estiveram reunidos e os holandeses estavam em luta 
constante com a Espanha. Por isso, eles passaram a ocupar 
muitos trechos da colônia, usufruindo de uma parcela dos 
lucros do comércio do açúcar. Em 1630, eles instalaram-se 
em Pernambuco, de onde se estendiam ao sul, até Alagoas, 
e para o Norte, até o Maranhão. Portugal depois de 
restaurar sua independência política em relação à Espanha, 
com quem esteve reunida entre 1580 a 1640, conseguiu 
expulsar os holandeses do Nordeste, em 1654. Com a 
expulsão, eles começaram a se empenhar para criar outro 
núcleo de produção do açúcar, pois já detinham conheci‐
mentos sobre os aspectos técnicos e organizacionais dessa 
produção. Depois de menos de um decênio da expulsão, 
já operava nas Antilhas, uma produção açucareira com 
equipamentos novos, financiados por poderosos grupos 
financeiros holandeses (FONSECA; BENELI, 2017, p. 19-20).
O resultado da concorrência da produção holandesa nas Antilhas e a 
redução dos preços, foi o atrofiamento do complexo econômico da região 
Nordeste, levando a produção açucareira a ser mantida em escala reduzida 
graças aos baixos custos de manutenção do sistema (FURTADO, 1989). 
Como desdobramento dessa modificação na atratividade da região 
Nordeste, podemos perceber que esse processo explicou tanto a grande 
migração populacional para as regiões Sudeste e Sul do país, em vários 
momentos históricos, como os problemas econômicos e sociais que marcam 
a região Nordeste até dias de hoje.
Atenção
As transições entre os ciclos econômicos não foram movimentos rápidos, 
foram processos de formação complexos, pautados no atrofiamento dos 
17
rendimentos do modelo anterior e acompanhados de fluxos migratórios 
tanto da mão da obra escrava como a chegada de imigrantes europeus.
Para compreender a contração econômica do complexo açucareiro 
e o desenvolvimento das condições para a mudança no eixo dinâmico da 
economia colonial, é primordial conhecer um pouco da situação de Portugal 
no período. A redução da rentabilidade da colônia, o aumento nos custos de 
manutenção e a perda de colônias no Oriente e na África levaram Portugal 
a uma crise econômica. No esforço de encontrar uma alternativa para esse 
problema, iniciou-se um processo de incentivo à interiorização e à ocupação 
do território brasileiro, com o intuito de se buscar metais preciosos e, conse-
quentemente, um novo motor econômico para a colônia. Nesse sentido, 
alguns atores serão preponderantes para o processo de expansão territorial e 
a consequente descoberta de ouro em Minas (FURTADO, 1989).
Saiba mais
Você sabia que os bandeirantes percorriam o sertão aprisionando 
indígenas e escravos em fuga, além de buscar os metais preciosos? 
Existiam três movimentos dentro das bandeiras: de apresamento, serta‐
nismo de contrato e prospecção. Além disso, havia o movimento oficial 
liderado pela coroa portuguesa, as entradas, que eram expedições 
armadas de caráter oficial realizadas para mapear o interior da colônia 
e expulsar estrangeiros que invadiram o território. As expedições eram 
compostas por soldados portugueses e brasileiros e tiveram um papel 
importante na expansão territorial no período colonial, sendo que o 
Tratado de Madri (1750), acordado entre Portugal e Espanha, deter‐
minou que a posse do território ocorreria a partir da ocupação “uti 
possidetis” (ou seja, o território é de quem nele habita). 
Assim, note que o tratado será um ponto chave para delinear os novos 
limites territoriais.
No Brasil, a descoberta da primeira jazida de ouro foi creditada (por 
alguns pesquisadores) ao bandeirante Antônio Rodrigo Arzão, por volta de 
1693 em Minas Gerais. O modo de extração desse minério se pautou em dois 
formatos: a faiscação (ouro obtido pela peneiração do fundo dos rios, sendo 
realizada individualmente pelo trabalho do próprio garimpeiro) e as lavras 
(ouro obtido em minas fixas, maiores, que demandavam investimentos em 
equipamentos e grande quantidade de mão de obra escrava). 
Com o crescimento da exploração do ouro, a coroa portuguesa iniciou 
um processo de organização administrativa da região das Minas Gerais, 
18
com a implantação da Intendência de Minas em 1702, um órgão criado pela 
metrópole que fiscalizava, controlava e facilitava a arrecadação de impostos 
sobre o ouro. Na sequência, foram implantadas as casas de fundição, para 
onde os mineradores deveriam levar todo o ouro encontrado, para que ele 
fosse transformado em barras, facilitando a cobrança do imposto. 
Nesse quesito, a organização tributária da época estava pautada, princi-
palmente, na cobrança do Quinto, um imposto que consistia na arrecadação 
de 20% da produção aurífera. No entanto, havia outros impostos acessórios, 
entre eles, a cobrança da capitação, que era a taxação fixa paga por cada 
escravo, maior que 12 anos, que trabalhasse na lavra. Fazendo uma relação 
com o nosso contexto de aprendizagem, é exatamente neste momento histó-
rico que o nosso personagem José chega ao Brasil para promover a organi-
zação do sistema para a cobrança dos impostos.
Reflita
Os ciclos do açúcar e do ouro foram importantes para delinear a 
economia brasileira, tendo sido construídos com semelhanças e 
diferenças. Com relação ao modo de produção, à geração do fluxo de 
riquezas interna e externa e à mão de obra utilizada, quais foram as 
semelhanças e diferenças vistas nesses dois ciclos?
Diferentemente do ciclo do açúcar, o ciclo do ouro desenvolveu um 
mercado consumidor interno no Brasil. Como a mineração de aluvião era 
de fácil extração e demandava poucos recursos e ferramentas, os próprios 
escravos trabalhavam, em parte do tempo, por conta própria e poderiam 
comprar sua liberdade. Além disso, muitos portugueses menos abastados 
foram atraídos a migrar para o Brasil em busca de ouro. Assim, temos um 
quadro de maior mobilidade social.
Exemplificando
A migração populacional interna no Brasil (causada pela busca de um 
minério) não ficou restrita ao período colonial, já que várias regiões se 
tornaram locais de atração ou repulsão populacional, devido à busca de 
oportunidades de enriquecimento e de melhoria nas condições de vida. 
O caso da cidade de Curionópolis no Estado do Pará é um exemplo disso, 
pois a famosa Serra Pelada é um distrito desse município, que presenciou 
nos anos de 1980 uma corrida pelo ouro. Por conta disso, até o ano de 
1983, cerca de 80 mil garimpeiros já haviam chegado ao povoado, em 
sua maioria provenientes da Região Nordeste (SOUZA, 2017). A região 
produziu dezenas de toneladas de ouro entre 1980 e 1990 (MATHIS, 1995). 
19
A extração do ouro de superfície (aluvião) foi ficando escassa ao longo 
dos anos, e medidas como a utilizaçãodo mercúrio para conseguir extrair 
o minério foram utilizadas e geraram impactos para o meio ambiente 
(MATHIS, 1995). Nos últimos anos, retomou-se o debate sobre a volta da 
exploração do ouro em Serra Pelada, que, se realmente acontecer, pode 
gerar muitos recursos financeiros para a população e governo locais, 
além de uma nova avalanche de pessoas para lá (SOUZA, 2017).
Qual seria, então, a consequência dessa elevada migração para a região? 
Houve um grande crescimento populacional no período e, no início, ocorreram 
algumas crises de escassez de gêneros de subsistência e, consequentemente, a 
fome. Com o passar do tempo, alguns produtores iniciaram o cultivo de roças 
de subsistência, além da diversificação de produtos provenientes de outras 
regiões da colônia. Assim como na economia açucareira, a atividade pecuária 
foi impulsionada, estando voltada para a questão da alimentação e do trans-
porte (com o uso de mulas) para o escoamento da produção. Nessa produção, 
além dos animais que já eram criados no sertão nordestino, a região Sul da 
colônia passou a ganhar destaque com esse mesmo mercado. Dessa forma, 
pouco a pouco, foi ocorrendo uma maior interdependência entre as regiões 
com a criação do gado, o processo de engorda e a distribuição de produtos no 
mercado no mercado mineiro, trazendo, como resultado, o desenvolvimento 
de um mercado interno mais robusto, que fazia o dinheiro circular dentro do 
próprio território brasileiro (isso também acontecia por conta de uma dificul-
dade maior em importar mercadorias, já que as pessoas estavam deixando 
as regiões litorâneas em busca de ouro no interior do Brasil). Vale destacar 
também que, apesar de ter havido um crescimento do mercado interno, a 
economia mineira não difundiu efeitos econômicos importantes que conse-
guissem alavancar atividades manufatureiras (sem contar que isso também foi 
resultado de uma incapacidade técnica dos imigrantes para iniciar essas ativi-
dades manufatureiras, já que, em Portugal, o desenvolvimento manufatureiro 
foi destruído pelo Tratado de Methuen). 
Assim, antes de seguir com os desdobramentos do ciclo do ouro para 
a economia brasileira, é importante falarmos um pouco sobre o Tratado 
Methuen. Esse acordo entre Portugal e Inglaterra foi firmado em 1703 
e esteve em vigor até 1842 e consistia em uma aliança comercial entre 
Portugal e Inglaterra, em que Portugal importaria produtos têxteis apenas 
da Inglaterra e, em contrapartida, a Inglaterra importaria vinhos de Portugal. 
Apesar de parecer que o Tratado traria benefícios para os dois países envol-
vidos, as trocas se mostraram muito desvantajosas para Portugal, pois impor-
tava muito mais tecidos do que exportava vinhos, o que forçou a transfe-
rência (para cobrir esse saldo negativo) de boa parte do ouro proveniente do 
20
Brasil para a Inglaterra (que o utilizou, inclusive, para o impulsionamento 
da Revolução Industrial). Isso inibiu o desenvolvimento manufatureiro em 
Portugal e, consequentemente, em sua colônia americana. Mais adiante, a 
questão da industrialização brasileira será abordada detalhadamente, mas 
não deixe de notar que esse acordo também refletirá no desenvolvimento 
tardio da indústria no país. 
Depois de quase meio século de exploração das minas de ouro, o auge da 
produção foi alcançado em 1754 (FURTADO, 1989), mas, a partir de então, 
a produção caiu e dava sinais de esgotamento. A queda da produtividade 
gerou uma serie de pressões da coroa portuguesa com relação à cobrança de 
impostos. A revolta dos colonos com a cobrança excessiva de impostos e o 
confisco de bens pela coroa trouxe conflitos que culminaram no movimento 
da Inconfidência Mineira.
Reflita
A cobrança do Quinto, imposto que retinha 20% de todo o ouro extraído 
no Brasil, era tão detestada pelos brasileiros que gerou a expressão “O 
Quinto dos Infernos” (LUNELI, [s.d.]). Para fugir dessa alta tributação, 
muitas pessoas tentavam sonegar impostos escondendo o ouro, sendo 
que uma dessas técnicas gerou outra expressão popular muito usada 
ainda nos dias de hoje: “santo do pau oco”, pois as pessoas escondiam 
ouro no interior de imagens sacras ocas (LUNELI, [s.d.]). Esse nível de 
tributação indignava tanto os brasileiros, que culminou no processo da 
Inconfidência Mineira.
Recentemente, o Ministro da Fazenda, Paulo Guedes, declarou que 
uma tributação como a que o Brasil tem hoje (os brasileiros pagam 
mais de 30% de tributo sobre tudo o que é produzido no país), deixa o 
país numa posição mais complicada do que a do “Quinto dos Infernos” 
(EUSÉBIO, 2019). A alta tributação faz com que muitas pessoas tentem 
sonegar impostos, em um conceito econômico conhecido como Curva 
de Laffer, que relaciona a porcentagem de impostos cobrados com 
a arrecadação tributária do governo, mostrando que, a partir de um 
certo ponto, se as alíquotas dos tributos aumentarem, a arrecadação 
tributária não vai aumentar na mesma proporção, já que as pessoas 
tentariam sonegar mais imposto porque não conseguiriam pagar 
aquele volume de tributos.
Por qual motivo, a tributação atual no Brasil é tão alta? Esse peso 
tributário que cada contribuinte precisa arcar no país poderia gerar 
movimentos de revolta parecidos com a Inconfidência Mineira? Reflita 
sobre o assunto.
21
Com o motor dinâmico da economia colonial em baixa, houve uma crise 
na economia mineira e um respectivo atrofiamento econômico devido aos 
movimentos de migração para outras regiões da colônia. 
Nesse ponto, você pode estar se perguntando: mas, quais foram os legados 
deixados pelo ciclo do ouro no Brasil? Primeiramente, houve o desloca-
mento do centro dinâmico da economia brasileira do Nordeste para a região 
Sudeste, saindo do litoral para o interior. Além disso, a capital brasileira sai de 
Salvador e é fixada no Rio de Janeiro, havendo também o surgimento de um 
mercado consumidor interno e a criação de um sistema de transportes entre 
o interior e o litoral, que promoveu uma maior integração entre algumas 
regiões. Percebe-se, de forma adicional, um elevado aumento populacional, 
uma maior fiscalização por parte da coroa portuguesa e o início do processo 
de urbanização. No quesito renda, nota-se que esteve menos concentrada. 
Assim, diferentemente do complexo açucareiro, que mesmo em um processo 
de atrofiamento continuou com uma produção reduzida (devido aos baixos 
custos), o ciclo da mineração trouxe uma desconstrução da estrutura da 
economia brasileira que vigorava até aquele momento. 
A crise do sistema colonial estava estabelecida, intensificando o conflito 
entre as elites locais (que se formaram no período) e a metrópole, sendo que 
os principais focos do embate eram o pacto colonial, as restrições que se 
colocavam para as relações com outros países e a alta tributação. 
Para fechar a seção, podemos concluir que a principal característica 
da economia colonial estava no seu caráter dependente, em especial, dos 
movimentos da metrópole e do mercado externo. A colônia tinha um desen-
volvimento centrado na produção primária e na extração de recursos naturais, 
o que a deixava em uma situação de grande vulnerabilidade em relação aos 
movimentos externos. Além disso, o período foi marcado pela ausência do 
desenvolvimento industrial, que poderia se tornar uma alternativa econô-
mica que proporcionasse uma maior independência. Do ponto de vista social, 
tem-se uma grande diversidade e miscigenação se formando, com a interação 
entre indígenas, portugueses e escravos africanos, em uma sociedade que 
distribuía os recursos gerados de maneira desigual.
Pesquise mais
No livro Raízes do Brasil de Sérgio Buarque de Holanda (1936), o autor 
retrata as características da sociedade brasileira trazendo algumas carac‐
terísticas da própria sociedade portuguesa que delineiam o que ele 
chamou de “Homem Cordial”. Trata‐se de uma importante leitura para 
compreender as raízes de nossa sociedade, especialmente, o capítulo 5.
22
Sem medo de errar
A situação-problema retratou o ciclo do ouro e a estruturade arreca-
dação de impostos e tributos organizada pela coroa portuguesa. Ao ler a carta 
escrita por José de Oliveira Santiago, Afonso se questionou: se o Brasil gerava 
tanto ouro dentro de sua economia durante o final do século XVI e meados 
do século XVIII, por quais motivos não conseguiu desenvolver a manufa-
tura na sua economia? Naquela época, será que os problemas financeiros da 
metrópole (Portugal) afetaram essa situação?
Para encontrar soluções para essas questões, Afonso deve se lembrar que 
o ciclo da mineração traz importantes modificações para o sistema colonial, 
dentre elas: as relações de trabalho entre proprietários, homens livres e 
escravos, e o estimulo a atividades de apoio à mineração (como a pecuária), 
que proporcionam um fluxo interno de recursos maior que no período do 
açúcar, fortalecendo um incipiente mercado interno. Nesse contexto, para a 
arrecadação de impostos, foram criados os órgãos de controle da produção, 
a cobrança de tributos e a marcação do ouro, sendo que a Intendência de 
Minas (administração) era responsável pelo controle e determinação das 
cotas e pelos tipos de impostos (como o Quinto, que tributava em 20% todo 
o ouro extraído), enquanto as Casas de Fundição realizavam a marcação do 
ouro produzido para circulação. 
Essa cobrança de impostos gerou muitos recursos financeiros para a coroa 
portuguesa e iniciou um fluxo comercial interno na colônia. No entanto, o 
período não foi acompanhado do desenvolvimento industrial do Brasil como 
uma nova alternativa para a economia, que se deve a alguns fatores, dentre 
eles: a incapacidade técnica (dos imigrantes portugueses) para desenvolvi-
mento da manufatura no país; e a crise financeira portuguesa (mesmo antes 
do esgotamento das reservas auríferas do Brasil) causada pelo Tratado de 
Methuen, que enfraqueceu as finanças de Portugal (e enriqueceu os cofres 
ingleses), deixando a metrópole fora do processo da Revolução Industrial 
iniciada na Inglaterra.
Assim, apesar de a colônia estar gerando muito ouro para Portugal, boa 
parte dele era utilizada para pagar as importações de tecido inglês, fazendo 
com que a manufatura na Inglaterra se fortalecesse, o que culminou no 
processo da Revolução Industrial e estagnou o desenvolvimento no território 
português (prejudicando também essa progressão em terras brasileiras).
23
Avançando na prática
Para além do Tratado de Tordesilhas
O assessor-mor do Rei de Portugal, o Sr. Pedro Vaz, apreciando os mapas 
do mundo e a divisão das terras entre Portugal e Espanha (Tratado de 
Tordesilhas), compara-os com mapas que recebeu, recentemente, das terras 
ocupadas no Brasil até final do século XVIII. Nessa comparação, Pedro nota 
grandes diferenças e um grande avanço para dentro do território espanhol na 
América, refletindo sobre como puderam avançar tanto. 
Pedro verifica a mensagem que recebeu junto aos mapas, na qual o 
guarda-mor informa sobre várias revoltas que estão ocorrendo em regiões 
distintas da colônia brasileira, no Nordeste e nas Minas Gerais, sendo infor-
mado sobre a dificuldade de ação da Guarda Real nas diferentes regiões, por 
conta das distâncias. Nesse ponto, ele se questiona: de que forma se deu essa 
rápida ocupação territorial de algumas regiões do interior do Brasil?
Resolução da situação-problema
O Sr. Pero Vaz, conversando com o Rei de Portugal, apresenta as situa-
ções que estão ocorrendo na colônia e indaga o monarca sobre as questões 
que o afligem. Assim, o Rei explica a Pedro que vários movimentos impul-
sionaram a expansão do território do brasileiro, além dos limites do Tratado 
de Tordesilhas, com destaque para a pecuária, a atuação dos bandeirantes e 
a extração do ouro. Na região Nordeste, a atuação da pecuária para o interior 
levou à ocupação dos sertões. No Centro-Oeste e no Sudeste, a expansão para 
as regiões interioranas em busca de metais preciosos e a própria reprodução da 
economia mineira levaram à expansão da pecuária que servia de apoio para 
alimentação e transporte. Na região Norte expandiu-se a atividade extrativa 
com as drogas do sertão (plantas medicinais, sementes, temperos) e a atuação 
dos jesuítas. Já no Sul do Brasil, a pecuária encontrou um local favorável e foi a 
atividade predominante. Com relação à integração regional, o monarca explica 
que, na verdade, não houve uma efetiva integração entre as regiões.
Assim, podemos verificar que, na visão de alguns autores, durante o período 
colonial, existiam ilhas de desenvolvimento no território brasileiro (sem que 
houvesse uma efetiva integração entre regiões). Mesmo os movimentos de 
caráter separatista do período foram iniciativas isoladas, como a Inconfidência 
Mineira (uma revolta contra a cobrança de impostos, em Minas, e que incitava 
24
a independência da metrópole) e a Conjuração Baiana (movimento baiano que 
objetivava o estabelecimento de uma República independente de Portugal). 
Essa dificuldade de integração decorre da própria questão da escala territo-
rial e a distância entre as localidades, fazendo com que os fracos elos de ligações 
entre as regiões acabassem ficando concentrados na atividade pecuária. Com 
relação ao delineamento das fronteiras do país, essas movimentações territo-
riais foram determinantes para uma configuração muito próxima à atual, sendo 
que o Tratado de Madri (1750), acordado entre Portugal e Espanha, determi-
nava que a posse do território ocorreria a partir da ocupação “Uti Possidetis”.
Faça valer a pena
1. A empresa colonial agrícola introduzida no Brasil não se reduzia a extrair 
riquezas naturais para revenda nos mercados europeus. Era um empreendimento 
muito mais complexo, que envolvia o desenvolvimento de uma atividade agrícola 
que seria explorada segundo critérios que proporcionassem o máximo de lucrativi-
dade possível aos portugueses.
O modelo de empresa agrícola baseado no plantation e iniciado no período colonial, 
aconteceu durante o:
a. Ciclo do Ouro.
b. Ciclo do Açúcar.
c. Ciclo do Pau-Brasil.
d. Ciclo do Algodão.
e. e. Ciclo da Soja.
2. A Colonização Portuguesa na América não respeitou o Tratado de Tordesilhas, 
estabelecido com a Espanha em 1494, já que as fronteiras da colônia foram se expan-
dindo para além dos limites estabelecidos pela linha de Tordesilhas. Os espanhóis, 
por sua vez, também descumpriram esse Tratado e ocuparam as colônias portuguesas 
situadas no oriente, como as Ilhas Filipinas.
Como ocorreu o processo de ocupação e povoamento do interior do território brasileiro?
a. As expedições oficiais financiadas pelo governo português (exploradores que 
buscavam aprisionar indígenas e escravos fugidos) e os Jesuítas (padres que 
realizavam a catequização dos indígenas e a disseminação dos ideais católicos 
no território brasileiro) foram os únicos responsáveis pelo processo de 
interiorização do território brasileiro.
25
b. O processo de expansão territorial e a consequente interiorização delineou-se 
pelo Tratado de Methuen de 1745, que definiu a configuração atual das 
fronteiras do Brasil.
c. A configuração atual do território brasileiro foi determinada pelo Tratado 
de Utrech de 1715, firmado entre a coroa portuguesa e espanhola, no qual a 
posse das terras ocorreria por meio de uma negociação. 
d. A definição do processo de interiorização do território brasileiro foi construída por 
meio do Tratado de Tordesilhas, após a expulsão dos holandeses de Pernambuco. 
e. O processo de interiorização foi impulsionado por movimentos como o dos 
Bandeirantes, além da descoberta de jazidas de minérios em regiões interioranas 
do Brasil, que fomentaram o desenvolvimento de outras atividades econômicas de 
apoio (como a pecuária), em outras áreas do interior do país (como na região Sul). 
3. Nossa história, diz Sérgio Buarque de Holanda (1936), girou em torno do 
“complexo ibérico”. Mas o êxito da colonização portuguesa não decorreu de um 
empreendimento metódico e racional, não emanou de uma vontade construtora 
e enérgica. É uma herança atrasada, em via de superação,mas foi a base da nacio-
nalidade, constituiu as “raízes do Brasil”. Não se pode nem se deve, simplesmente, 
recusá-la e negá-la, mas sim transformá-la.
Sobre o processo de colonização do Brasil, analise as afirmativas a seguir:
I. O modelo estabelecido foi uma colônia de exploração baseada no plantation, 
que tem como características, a produção de um único produto em pequenas 
propriedades, pautada na mão de obra escrava e voltada para a exportação.
II. O fluxo de recursos financeiros gerado na economia açucareira estava desti-
nado para o mercado externo, seja em forma de comissionamento dos holan-
deses, comerciantes, impostos para a coroa portuguesa e os próprios senhores 
de engenho, que importavam grande parte dos produtos para sua manutenção. 
III. A sociedade brasileira foi se delineando com uma grande diversidade e misci-
genação entre povos indígenas, portugueses e africanos.
Considerando o contexto apresentado, é correto o que se afirma em:
a. I e II, apenas.
b. I e III, apenas.
c. II e III, apenas.
d. I, II e III.
e. II, apenas.
26
Seção 2
Da economia cafeeira à industrialização
Diálogo aberto
Vários questionamentos podem ser levantados sobre o que estudamos 
na seção anterior, dentre eles: quais foram as implicações do ciclo do açúcar 
e do ouro em termos econômicos para a superação dos limites do modelo 
baseado na exportação de um único produto primário e na importação de 
produtos industrializados, com o mercado de trabalho sendo maciçamente 
formado por mão de obra escrava? Como reerguer os ganhos de Portugal e 
retomar o fluxo de recursos financeiros?
Nesta seção, vamos estudar a crise do sistema colonial e o processo de 
gestação da economia cafeeira, que envolve a questão da mão de obra, com 
a abolição da escravidão e o incentivo à imigração europeia. Além disso, 
também vamos entender a discussão dos limites do modelo econômico brasi-
leiro, a partir dos choques externos (Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e 
a Crise de 1929), e o início do processo de industrialização por substituição 
de importações.
Para nos ajudar a assimilar esses conteúdos, voltaremos à história do Sr. 
Afonso, que analisa o material doado pelo Sr. Francisco Gonçalves Santiago à 
universidade para a qual trabalha. Nessa exploração, o Sr. Afonso se surpre-
ende ao abrir a segunda e a terceira carta: na segunda, ele encontra o relato, 
décadas mais tarde, do filho mais novo do Sr. José (lembra dele, que organi-
zava a cobrança de impostos em Minas Gerais?), o Pedro Santiago, único que 
decidiu permanecer no Brasil, após a morte do pai, tendo escolhido se mudar 
para a cidade do Rio de Janeiro junto com sua família. No Rio de Janeiro, 
Pedro, um comerciante visionário, decidiu investir parte de sua herança 
na compra de terras e escravos para iniciar a produção de um produto que 
estava em alta na Europa e havia acabado de chegar ao Brasil: o café. Pedro 
iniciou uma grande plantação em suas terras e dividia seu tempo na atuação 
como comissário na praça do Rio de Janeiro, auxiliando no financiamento 
e comercialização de café de vários produtores. Ele alcançou uma grande 
prosperidade e seus filhos deram continuidade aos negócios. Na terceira 
carta, Afonso encontra a história do bisneto do Sr. José, o João Santiago, que 
expandiu os negócios da família para a região oeste paulista, onde prome-
tiam terras mais férteis e um novo modelo de relações de trabalho se formava 
após a abolição da escravatura, já que os imigrantes europeus chegavam no 
Brasil para trabalhar nas lavouras de café. 
27
Ao ler as cartas, o Sr. Afonso se lembrou de uma notícia que havia assis-
tido no jornal do dia anterior, que mostrava que o preço internacional do café 
havia diminuído, devido a uma safra recorde ocorrida nos países produtores 
(inclusive o Brasil). Nesse momento, ele se questiona: será que durante o ciclo 
do café, essa diminuição do preço internacional do café também aconteceu? 
Caso tenha acontecido, de que forma os produtores conseguiam superar 
esse obstáculo da queda do preço do produto? Será que esses problemas nos 
preços internacionais do café contribuíram para o início da industrialização 
brasileira (ocorrida no período seguinte)? 
Para chegar a uma solução sobre esses questionamentos, utilize os 
conceitos que envolvem a questão da mão de obra na cafeicultura, as carac-
terísticas da classe cafeicultora e o desenvolvimento do mercado interno. Por 
isso, faça uma leitura de maneira reflexiva e crítica, com indagações sobre os 
desdobramentos de cada fase da formação de nossa economia. 
Bons estudos!
Não pode faltar
Na seção anterior, verificamos como ocorreu o auge e o declínio dos ciclos 
do açúcar e do ouro e as modificações que esses ciclos deixaram como legado 
para a economia colonial. Agora, vamos ver como a crise que se instalou 
no sistema colonial no final do século XVIII levou a uma série de conflitos 
entre as elites locais e o poder metropolitano, entendendo o ponto central da 
insatisfação que girava em torno do Pacto Colonial.
Inicialmente, para compreendermos o contexto, vamos ver o que estava 
ocorrendo em Portugal e na Europa naquela época. Em 1750, assumia, como 
Primeiro Ministro do governo português, o Marquês de Pombal, que ficou no 
cargo até 1777. Tendo como objetivo modernizar as estruturas de Portugal 
(por meio da racionalização do processo de produção e do envio de riquezas 
da colônia para a metrópole), ele implementou uma série de medidas que 
atingiam a colônia brasileira, dentre elas: o fim das capitanias hereditá-
rias, a proibição da escravidão indígena, a expulsão dos jesuítas, a criação 
de companhias de comércio (para aumentar a exploração de riquezas) e o 
estabelecimento da derrama em Minas Gerais (um imposto que servia para 
complementar as dívidas que os mineradores contraíam com a Coroa portu-
guesa, principalmente, em momentos de diminuição da extração do ouro). 
É possível notar que a política pombalina piorou o quadro de crise do Pacto 
Colonial, impulsionando as revoltas dos colonos.
28
Na Europa, o final do século XVIII e início do século XIX foi um 
momento bastante conturbado. A Revolução Francesa (1789-1799) impul-
sionava os ideais iluministas e a ruptura com o sistema absolutista, que 
culminou com a fundação da Primeira República na França. No início do 
século XIX, Napoleão Bonaparte tomou o poder (tornando-se imperador), 
iniciando várias batalhas no continente europeu contra as alianças das nações 
europeias. Em 1806, ele estabeleceu o Bloqueio Continental, que barrava o 
comércio dos outros países com a Inglaterra. 
Portugal se recusou a aceitar o bloqueio, pois tinha várias relações comerciais 
com a Inglaterra, inclusive dívidas e, como resultado dessa negativa, Napoleão 
Bonaparte invadiu o território português, no final de 1807, e Dom João VI, 
auxiliado pelos ingleses, decidiu levar toda a corte portuguesa para o Brasil.
Com a chegada da família real portuguesa ao Brasil, em 1808, Dom João 
VI firmou alguns acordos comerciais com a Inglaterra, tais como a abertura 
dos portos (1808) e a redução de tarifas aduaneiras (1810), tendo findado, 
assim, o Pacto Colonial. Os tratados não foram vantajosos para Portugal, 
pois retiraram a exclusividade sobre a comercialização da colônia, reduzindo 
a lucratividade dos lusitanos. Para o Brasil, em um primeiro momento, 
ocorreram reflexos positivos para uma maior dinamização comercial, 
surgindo maiores oportunidades para a importação de produtos ingleses 
e a redução no custo de vida. Entretanto, de acordo com Furtado (1989), 
esse “favorecimento” aos ingleses foi um instrumento criador de privilégios, 
pois a Inglaterra preocupava-se em alocar seus produtos nas terras tupini-
quins, em detrimento dos produtos brasileiros. Assim, os preços dos tecidos 
importados da Inglaterra eram muito baixos, fazendo com que o tecido feito 
no Brasil não conseguisse concorrer com aqueles, deixando os artesãos da 
colônia sem espaço para trabalhar.
Reflita
Diante dos tratados que influenciaramo processo de industriali‐
zação brasileiro, é importante refletir um pouco sobre as diferenças e 
semelhanças em relação ao processo de industrialização do Brasil e dos 
EUA.
Os EUA iniciaram seu processo industrial no século XIX e o Brasil iniciará 
seu processo industrial, apenas no século XX. Por que o Brasil não se 
industrializou no mesmo período? Será que o tipo de colônia de explo‐
ração que aconteceu no Brasil (em vez de uma colônia de povoamento 
como no caso norte-americano) influenciou nesse processo? Será que 
a experiência técnica industrial dos colonos ingleses favoreceu a indus‐
trialização mais precoce dos EUA? Reflita sobre o assunto.
29
Na economia brasileira, na primeira metade do século XIX, houve uma 
abrupta redução da renda gerada, pois além das atividades econômicas 
permanecerem em um nível praticamente de subsistência, havia uma grande 
dificuldade em conseguir recursos externos para as atividades internas da 
colônia. Além disso, uma grave crise fiscal (déficit nas contas do governo) 
assolou o Brasil, pois a família real gastava muito dinheiro para financiar 
regalias e alguns serviços básicos, como higiene e urbanismo, sem contar a 
guerra na Guiana Francesa, em 1809.
Diante desse quadro, qual seria a alternativa para a situação? A industria-
lização? Outro produto primário para exportação? Bem, como pontos favorá-
veis para uma retomada produtiva tinha-se uma grande disponibilidade de 
terras férteis e um grande contingente de escravos. Nesse momento, a única 
alternativa viável parecia ser o investimento (novamente) em um modelo de 
único produto para exportação, que utilizasse as terras abundantes e a mão 
de obra escrava disponível.
(...) O problema brasileiro consistia em encontrar produtos 
de exportação em cuja produção entrasse como fator 
básico a terra. Com efeito, a terra era o único fator de 
produção abundante no país. Capitais praticamente não 
existiam e a mão-de-obra era basicamente constituída por 
um estoque de pouco mais de dois milhões de escravos, 
parte substancial dos quais permaneciam imobilizados 
na indústria açucareira ou prestando serviços domésticos 
(FURTADO, 1989, p.115).
O café, uma bebida bastante apreciada na Europa e nos Estados 
Unidos, já era cultivado no Brasil, desde meados do século XVIII, para o 
consumo local. Naquela época, o grande produtor mundial de café era o 
Haiti (colônia francesa na América), que passava por disputas com relação 
a sua independência que comprometiam a produção. Isso fez com que o 
preço do café subisse no mercado internacional, estimulando o Brasil a 
cultivá-lo, aproveitando as terras e o clima propensos. Dessa forma, o 
Brasil iniciou o cultivo do café, em maior escala, em meados do século 
XIX, na região do Vale do Rio Paraíba (leste do estado de São Paulo e sul 
do estado do Rio de Janeiro), uma região montanhosa que reunia condi-
ções favoráveis para a cultura cafeeira (terra, clima e mão de obra ociosa 
proveniente do fim da mineração) e que estava próxima do porto para o 
escoamento da produção, além da existência da pecuária, com mulas para 
o transporte (FURTADO, 1989).
30
Exemplificando
O cultivo do café no Brasil foi tão bem-sucedido que, atualmente, o país 
é o maior produtor mundial de café. Em 2018, a produção anual foi de 
mais 60 milhões de sacas, sendo que dessas, mais de 30 milhões foram 
exportadas (SAFRA..., 2018).
A cultura cafeeira tinha uma estrutura com um menor custo de produção 
em comparação à produção açucareira, por ser uma cultura permanente 
e não necessitar de reposição a cada ciclo produtivo, apesar do pé de café 
levar em torno de 5 anos até que esteja formado e atinja seu ápice produtivo. 
A produção no Vale do Paraíba se pautou nas condições pré-existentes da 
localidade, sem grandes investimentos em equipamentos ou técnicas produ-
tivas, ou seja, uma produção rudimentar nas encostas. Nesse ponto, você 
pode estar se fazendo a seguinte pergunta: quem eram os homens que inves-
tiram na cultura cafeeira? 
A classe comercial que se formou no Rio de Janeiro com a chegada da 
corte portuguesa consistia em homens da própria região, que foram os 
grandes responsáveis por abastecer a cidade e por impulsionar a produção 
cafeeira. Essa nova classe tinha uma grande relação com o comércio, diferen-
temente da classe açucareira, que não participava da comercialização do 
açúcar. De acordo com Furtado (1989, p. 117), “muitos desses homens, que 
haviam acumulado alguns capitais no comércio e transporte de gêneros e 
de café, passaram a interessar-se pela produção deste, vindo a constituir a 
vanguarda da expansão cafeeira”.
Assimile
Nesse período, não existiam órgãos oficiais de financiamento, assim 
os comerciantes de café (comissários) eram os grandes provedores de 
recursos para a formação e cultivo das lavouras cafeeiras. Em contra‐
partida, havia uma fidelidade do produtor, que lhe garantia a entrega da 
produção para comercialização, e o comissário recebia uma comissão 
que girava em torno de 3% (REGO et al., 2010).
Note que, entre os anos de 1820 e 1840, o café já despontava como o 
principal produto das exportações brasileiras. Dessa forma, o crescimento 
da economia cafeeira, regado pelo aumento dos preços internacionais do 
café, aumentou a demanda pela mão de obra. No entanto, as péssimas condi-
ções de vida limitavam o crescimento vegetativo da população de escravos 
(FURTADO, 1989). Diante disso, iniciou-se uma disputa por mão de obra 
entre as regiões (no caso entre Sudeste e Nordeste), que foi intensificada 
31
com a assinatura da Lei Eusébio de Queiróz (1850), que proibiu o tráfico de 
escravos para o Brasil.
Assimile
A questão da escravidão no Brasil sempre foi um ponto de discussão 
entre Portugal e Inglaterra, pois, como sabemos, a Inglaterra passava 
pelo processo de Revolução Industrial (1750) e buscava novos mercados 
consumidores. Com a Independência do Brasil em 1822, a Inglaterra, 
cada vez mais, pressionava a abolição da escravidão brasileira. Assim, 
foram firmados alguns tratados de proibição sobre o comércio negreiro 
e, em 1850, criou-se lei que proibia o tráfico negreiro para o Brasil. 
Posteriormente, vieram a Lei do Ventre Livre (1871) e a Lei do Sexage‐
nário (1885), por meio das pressões dos movimentos abolicionistas, 
mas, somente em 1888, com a Lei Áurea, é que definitivamente a escra‐
vidão foi abolida. A forma como foi conduzida a abolição dos escravos 
trouxe muitas dificuldades econômicas e sociais aos recém libertos, que 
deixaram os negros à margem da sociedade, desde àquela época
A desagregação do regime escravocrata e senhorial se 
operou, no Brasil, sem que se cercasse a destituição 
dos antigos agentes de trabalho escravo de assistência 
e garantias que os protegessem na transição para o 
sistema de trabalho livre. Os senhores foram eximidos 
da responsabilidade pela manutenção e segurança 
dos libertos, sem que o Estado, a Igreja ou qualquer 
outra instituição assumisse encargos especiais, que 
tivessem por objeto prepará-los para o novo regime de 
organização da vida e do trabalho. (...) Essas facetas da 
situação (...) imprimiram à Abolição o caráter de uma 
espoliação extrema e cruel (FERNANDES, 2008, p.28).
Retomando a questão da mão de obra na produção cafeeira, a região do 
Vale do Paraíba iria se deparar com o dilema da mão de obra e do esgota-
mento do solo na região, devido às práticas rudimentares de produção nas 
encostas, o que levou à diminuição da produtividade no local no final do 
século XIX. Assim, outra frente de produção se iniciava na região oeste 
paulista, incentivando o processo de imigração dos europeus para o Brasil, 
que substituiriam a mão de obra escrava no campo.
Naquele momento, países como a Itália passavam por grandes atribula-
ções sociais, o que foi um incentivo para que as pessoas de lá viessem tentar 
32
uma melhoria de vida no Brasil. Os imigrantes europeus chegaram ao país e 
foram submetidos a dois regimes de trabalho: o sistema de parceria, em que 
metade do valorda colheita seria dos imigrantes, após a dedução dos custos 
de transporte, impostos e comissões; e o regime de colonato, no qual ocorria 
o pagamento direto ao colono, que ainda recebia um pedaço de terra para o 
plantio de alimentos para subsistência. Este último se aproximava de uma 
relação de trabalho assalariado. 
Nesse sistema dinâmico que se instalava no oeste paulista, ocorreu o 
incentivo de alguns produtores, inicialmente, e, depois, do próprio governo 
imperial, para a vinda de um grande contingente de imigrantes para o país. 
A grande imigração europeia se concretizou no final do século XIX, sendo 
que cerca de 800 mil imigrantes chegaram ao estado de São Paulo, no último 
quartel do século XIX; só de italianos tínhamos algo em torno de 570 mil 
pessoas (FURTADO, 1989).
Assim, a produção cafeeira no oeste paulista atingiu uma grande prospe-
ridade, pautada em um modelo produtivo empres , com técnicas produtivas 
mais modernas, trabalho assalariado e a implantação das ferrovias para o 
escoamento da produção. Note que, o ponto de inflexão do ciclo do café 
no oeste paulista será o desenvolvimento de uma extensa malha ferroviária 
ligando o interior ao litoral de Santos. 
Com o estabelecimento do trabalho assalariado ocorreu uma profunda 
mudança no fluxo de recursos financeiros dentro da economia brasileira. 
Com o pagamento de salários, houve um impulsionamento no consumo 
e, consequentemente, no crescimento do mercado interno, sendo que 
esse movimento retroalimentava a economia e intensificava o processo de 
urbanização. No entanto, a questão da má distribuição da renda também foi 
observada no período, já que havia um grande abismo entre os rendimentos 
dos cafeicultores e os níveis salariais dos trabalhadores. Isso ocorreu, pois o 
aumento de produtividade das lavouras (e, consequentemente, da lucrativi-
dade) não foi repassado aos salários. 
A economia cafeeira, apesar de continuar estruturada em um modelo 
vulnerável tanto às oscilações externas (variações dos preços internacionais) 
como à concentração produtiva em único produto primário (semelhante aos 
ciclos do açúcar e do ouro), conseguiu se diversificar um pouco, já que os 
cafeicultores, por estarem mais ligados com os setores empresarial e comer-
cial, buscaram algumas alternativas ao café; no caso, a industrialização. 
Dessa forma, no início do século XX, algumas iniciativas com recursos 
deslocados da cafeicultura foram destinadas à produção industrial de bens 
de consumo (têxtil e alimentícia), em um processo de substituição de impor-
tações, que consistia em produzir bens de consumo internamente, em vez 
33
de importá-los. Esse movimento surgiu, principalmente, nos momentos de 
estrangulamento externo, que dificultavam tanto a exportação do café como 
a importação de mercadorias, como aconteceu durante a Primeira Guerra 
Mundial. As constantes crises que o café enfrentou nos primeiros anos do 
século XX também contribuíram para esse cenário. 
Antes de prosseguirmos, é preciso compreender como se delineava a 
questão política no Brasil no final do século XIX. Esse foi um período bastante 
intenso no campo político: em 1888, foi promulgada a Lei Áurea, que aboliu a 
escravidão, e, em 1889, foi proclamada a República. Na sequência, em 1891, 
foi promulgada a Constituição da República Federativa do Brasil, que estabe-
leceu o regime federativo, eleições gerais para presidente (com voto popular) 
e a separação entre o Estado e a Igreja (Estado laico). A República sofria 
grande influência dos produtores cafeeiros, sendo que alguns historiadores 
denominaram o período de 1889 a 1930 como Política do Café com Leite, 
uma alusão ao poder dos produtores de café de São Paulo e de leite de Minas 
Gerais, que se revezavam ocupando a presidência do país naquela época. 
Da mesma forma como havia ocorrido nos dois modelos anteriores, a 
economia cafeeira sofreu no final do século XIX com a queda na demanda 
mundial, em especial dos EUA, que era um dos grandes compradores do café 
brasileiro e enfrentou efeitos mais prolongados da crise (FURTADO, 1989). 
Tudo isso levou a uma grande redução nos preços internacionais do café, já 
que a oferta era maior do que a demanda, justamente no momento em que 
que a produção brasileira continuava crescendo (por ser uma cultura perma-
nente não é tão simples reduzir a produção rapidamente). Você se lembra das 
influências dos produtores cafeeiros na política? Pois bem, várias medidas 
para diminuir essas oscilações de preços e que podem ser divididas em dois 
tipos: desvalorização cambial e política de valorização do café. O objetivo era 
proteger os produtores e garantir a sobrevivência da economia brasileira que 
dependia do café. 
Veja que são estabelecidas políticas de “socialização das perdas”, sendo 
que, em um primeiro momento, são realizadas medidas de desvalorização 
do câmbio (a moeda nacional é desvalorizada para manter o poder de 
compra dos cafeicultores, assim, mesmo que o preço internacional do café 
caia, internamente, reduz-se o impacto negativo na lucratividade do cafei-
cultor em moeda nacional).
Exemplificando
O processo de desvalorização da moeda nacional proporcionou a 
manutenção da renda dos cafeicultores. Para exemplificar como isso 
funcionava, acompanhe no Quadro 1.1, que ilustra uma situação em 
34
que, inicialmente, o preço internacional do café era de 15 libras por saca, 
o que proporcionava uma renda de 210 mil réis (em moeda nacional) 
para o produtor, ou seja, a taxa de câmbio era de 14 mil réis por cada 
libra. Agora, pense que, devido ao excesso de oferta (ou escassez de 
demanda) no mercado mundial do café, o preço internacional da saca 
caísse para 10 libras por saca, o que traria uma queda de renda ao cafei‐
cultor, caso a taxa de câmbio continuasse a mesma, já que vendendo 
uma saca ele passaria a receber 140 mil réis (redução de recebimentos 
em moeda brasileira de 33%). No entanto, se nesse momento de queda 
do preço internacional do café o governo promovesse uma desvalori‐
zação da moeda nacional, e a taxa de câmbio passasse a ser de 21 mil 
réis por cada libra. Nesse caso, o cafeicultor conseguiria manter a sua 
receita em moeda nacional com a exportação de uma saca de café com 
preço de venda de 10 libras multiplicado por 21 mil réis (taxa de câmbio), 
totalizando, assim, 210 mil réis (valor da venda, em moeda nacional).
Quadro 1.1 | Desvalorização da moeda nacional e impacto na receita do cafeicultor
Preço 
internacional 
da Saca de 
Café (em 
libras)
Taxa de Câmbio 
(mil réis por cada 
libra)
Arrecadação pela 
venda de cada 
saca de café (em 
mil réis)
Variação da renda 
de acordo com a da 
taxa de câmbio
15 14 210 Situação inicial
10 14 140 Redução da renda em 33%
10 21 210 Manutenção da renda
Fonte: Elaborado pela autora.
Essa foi uma medida socialmente justa? Provavelmente não, pois, com 
a desvalorização da moeda nacional, os brasileiros passaram a pagar mais 
pelos produtos que precisavam comprar de fora. Assim, houve uma transfe-
rência de renda para os cafeicultores, e quem acabava pagando a conta era 
a sociedade, já que teria que arcar com preços mais elevados pelos produtos 
importados; sem contar que esse processo contribuía ainda mais para a 
concentração de renda.
Como a desvalorização cambial camuflava a situação real do mercado, a 
produção cafeeira continuou crescendo e os preços no mercado internacional 
caindo. Em 1905, houve uma safra recorde e uma crise de superprodução (a 
produção ofertada era bem maior do que a demanda internacional pelo café) 
e, novamente, o governo criou uma medida para solucionar a crise por meio 
da política de valorização do café com o Convênio de Taubaté. Essa medida 
35
consistia na compra pelo governo (e, muitas vezes, na queima do café) dos 
excedentes produzidos. A retenção de parte dos estoques diminuía a oferta 
de café no mercado, contribuindo para que não houvesse excesso de merca-
doria, o que forçava os preços para baixo. Além disso, houve outras medidascomo uma maior tarifação sobre a saca de café e uma política de incentivo à 
redução da produção (FURTADO, 1989).
Vale destacar que a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) também 
impactou na demanda mundial por café, fazendo com que essas medidas 
de proteção ao setor cafeeiro continuassem sendo realizadas pelo governo. 
O limite da intervenção do Estado, entretanto, ocorreu com a Crise de 1929 
(que devastou a economia mundial, inclusive com a quebra da bolsa de 
valores de Nova York), pois ela reduziu drasticamente a demanda interna-
cional por café e colocou em xeque as finanças do governo brasileiro que 
dependiam dos fluxos de recursos internacionais para financiar sua política 
de manutenção dos preços (FURTADO, 1989).
Para concluir esta seção, é importante salientar que o ciclo do café foi um 
marco para a economia brasileira, com importante desenvolvimento da infra-
estrutura de transportes na região Sudeste, geração de renda e fluxo finan-
ceiro no mercado interno (a partir do trabalho assalariado), apesar da histó-
rica vulnerabilidade externa do modelo primário-exportador permanecer. 
Os dois grandes choques que ocorreram no período, a Primeira Guerra 
e a Crise de 1929, mostraram os limites do modelo. No entanto, diferente-
mente dos ciclos do ouro e do açúcar, nesse período houve uma nova forma 
de diversificação do modelo produtivo, que se deu de maneira espontânea. 
Isso se deve às condições apresentadas pelos ambientes interno e externo nas 
primeiras décadas do século XX, com várias iniciativas de deslocamento dos 
recursos financeiros da cafeicultura para um incipiente processo de indus-
trialização por substituição de importações. 
As ferrovias foram um marco desse período, e o processo de produção 
interna de bens de consumo, como a indústria têxtil, alimentícia e algumas 
outras manufaturas, começou a despontar na economia brasileira em resposta 
aos choques externos e à redução da capacidade de importação. No entanto, 
esse é um assunto para ser tratado na próxima seção, em que veremos as 
políticas do governo Vargas para o incentivo da produção industrial no país.
Pesquise mais
Para aprofundar os estudos sobre a influência da economia cafeeira 
para a industrialização brasileira, pesquise mais em:
36
ALMEIDA, G. F. A.; ENGEL, V. A Influência da Economia Cafeeira no 
processo de Industrialização do Brasil na República Velha. Revista de 
Desenvolvimento Econômico – RDE – Ano XVIII, V. 2, n. 34, ago. 2016, 
Salvador, p. 581‐592.
Sem medo de errar
Nesta seção, vimos as indagações que o Sr. Afonso realiza ao ler as cartas 
da família do Sr. José, relacionando-as com uma reportagem que viu sobre a 
queda no preço internacional do café, devido a uma safra recorde: será que 
durante o ciclo do café, essa diminuição do preço internacional do produto 
também aconteceu? Caso tenha acontecido, de que forma os produtores 
conseguiam superar esse obstáculo da queda do preço do produto? Será que 
esses problemas nos preços internacionais do café contribuíram para o início 
da industrialização brasileira (ocorrida no período seguinte)? 
A situação-problema retrata os caminhos percorridos pelos descendentes 
do Sr. José Santiago que saem da região mineira, após o declínio da produção, 
e buscam nas terras do Vale do Paraíba e, depois, do Oeste Paulista uma 
nova forma de enriquecimento, a partir da cultura cafeeira. O ciclo cafeeiro 
era bastante semelhante aos anteriores, pautado na monocultura em grandes 
propriedades agrícolas, mão de obra escrava e voltado para exportação, ou 
seja, o modelo primário-exportador. No entanto, algumas características o 
diferem dos modelos anteriores, em especial, a classe empresarial cafeeira que 
estava ligada, não só à produção mas também à comercialização do produto. 
Os choques externos (crise mundial no final do século XIX, Primeira Guerra 
Mundial e a Crise de 1929) levaram a diminuições na demanda internacional 
por café e, consequentemente, queda nos preços desse produto (assim como 
o Sr. Afonso assistiu em uma reportagem). Como a economia brasileira 
dependia muito do mercado cafeeiro, o governo, para proteger os cafeicul-
tores, realizou várias políticas de desvalorização da moeda nacional e valori-
zação do café (compra e, muitas vezes, queima, de estoques excedentes), o 
que manteve, de maneira artificial, os ganhos do sistema cafeeiro. 
No entanto, o ciclo do café foi um pouco diferente dos ciclos do açúcar 
e do ouro. Na segunda fase da produção cafeeira, no Oeste Paulista, houve 
um ponto de inflexão do modelo, com o uso da mão de obra assalariada 
e o incentivo à imigração europeia. Essa modificação para a mão de obra 
assalariada gerou um fluxo de recursos financeiros na economia (com o 
aumento da demanda por bens de consumo) e intensificou o desenvolvi-
mento do mercado interno. Aliado a isso, o desenvolvimento do sistema de 
transportes ferroviário trouxe uma nova atmosfera na dinâmica econômica. 
37
Tais condições apresentadas na economia interna, aliadas às dificuldades do 
governo em manter os ganhos artificiais dos cafeicultores, impulsionaram o 
deslocamento dos recursos financeiros para o início do processo de indus-
trialização de bens de consumo não duráveis no país. O objetivo era produzir 
internamente alguns produtos (tecidos e alimentos) que, até então, eram 
importados das nações industrializadas.
Avançando na prática
A política de socialização das perdas
O presidente da República Afonso Pena recebeu de seu antecessor, 
Rodrigues Alves, um grande dilema ou “abacaxi”: assinar ou não o Convênio 
de Taubaté, que havia sido acordado entre os governadores dos estados de São 
Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. O presidente questiona seu ministro da 
economia sobre a viabilidade de se assinar um convênio que irá aumentar 
os gastos do governo em um momento de dificuldades financeiras. Qual a 
viabilidade desse acordo? Quais são os prós e contras para o país?
Resolução da situação-problema
Para responder aos questionamentos do presidente, o ministro da economia 
deve deixar claro o que foi proposto no Convênio de Taubaté, mostrando as 
principais solicitações dos produtores cafeeiros, que pleiteavam uma política 
de valorização do produto, tendo em vista a queda dos preços internacionais e a 
grande produção do período. Como ponto positivo desse Convênio, o ministro 
pode dizer ao presidente que o acordo conseguiria manter a renda dos cafei-
cultores e, consequentemente, o produto mais importante da economia brasi-
leira continuaria sendo produzido, garantindo o emprego e a renda de muitos 
trabalhadores assalariados. No entanto, o Convênio de Taubaté iria trazer um 
alto custo para o governo e para a sociedade, pois o governo ampliaria muito 
os gastos públicos para adquirir a produção excedente de café, enquanto a 
sociedade teria que pagar um preço cada vez mais caro pelas mercadorias que 
importava (em razão da desvalorização da moeda nacional).
Faça valer a pena
1. A produção do café no oeste paulista apresentou duas formas bem marcadas 
de utilização da mão de obra imigrante: o sistema de parceria (momento inicial de 
38
inserção dos imigrantes) e o sistema de colonato (que inaugurou as bases de relações 
capitalistas de produção no país).
Assinale a alternativa que apresenta as características corretas de um dos tipos de 
utilização de mão de obra imigrante, visto ao longo do ciclo do café:
a. O sistema de colonato consistia em um regime de recebimento direto do 
pagamento pela produção, em que o colono recebia um pedaço de terra para 
cultivar produtos para sua subsistência.
b. O sistema de parceria consistia em um modelo em que ocorria o pagamento 
direto ao colono, que ainda recebia um pedaço de terra para o plantio de 
alimentos para subsistência. 
c. O sistema de colonato era aquele em que metade do valor da colheita seria dos 
imigrantes, após a dedução dos custos de transporte, impostos e comissões 
d. No sistema de parceria, o colono recebia um salário pago diretamente, 
independentemente

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