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historia_da_educacao (1)

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Prévia do material em texto

História da Educação
LUCIANA LAMBLET PEREIRA
1ª Edição
Brasília/DF - 2019
Autores
Luciana Lamblet Pereira
Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e 
Editoração
Sumário
Organização do Livro Didático........................................................................................................................................4
Introdução ..............................................................................................................................................................................6
Capítulo 1
Por quê? E Para onde? A importância da História da Educação da/na prática docente .......................9
Capítulo 2
Com toda humildade e por amor a Deus, devem aprender com perseverança: educação na Roma 
Antiga e na Idade Média .......................................................................................................................................... 23
Capítulo 3
O indivíduo é controlado a partir do corpo, mas para tornar dócil, também, e sobretudo, a sua 
consciência: a educação no período de transição da Época Moderna .................................................... 39
Capítulo 4
Éramos um país de doutores e analfabetos: a educação entre o Brasil Imperial e 
Republicano ............................................................................................................................................ 53
Capítulo 5
Um imenso ponto de estrangulamento: o sistema educacional brasileiro entre as décadas de 
1940 e 1970 ................................................................................................................................................................. 67
Capítulo 6
É como se tivéssemos acendido a luz e uma farra estivesse acontecendo: redemocratização, 
avanços e novos desafios ....................................................................................................................................... 81
Referêcias ............................................................................................................................................................................ 94
4
Organização do Livro Didático
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em capítulos, de forma didática, objetiva e 
coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros 
recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, 
fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.
A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização do Livro Didático.
Atenção
Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a 
síntese/conclusão do assunto abordado.
Cuidado
Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o 
aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado.
Importante
Indicado para ressaltar trechos importantes do texto.
Observe a Lei
Conjunto de normas que dispõem sobre determinada matéria, ou seja, ela é origem, 
a fonte primária sobre um determinado assunto.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa 
e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. 
É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus 
sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas 
conclusões.
5
ORgAnIzAçãO DO LIvRO DIDátICO
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes 
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor 
conteudista.
Saiba mais
Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões 
sobre o assunto abordado.
Sintetizando
Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o 
entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.
Sugestão de estudo complementar
Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, 
discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.
Posicionamento do autor
Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o 
aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado.
6
Introdução
Prezada aluna, prezado aluno,
Neste Livro Didático, convidamos você a mergulhar nas análises e reflexões acerca da História 
da Educação. 
Num primeiro momento, discutiremos a importância de se pensar historicamente o 
ensino, as escolas, o olhar sobre a educação. Como compreender o processo histórico que 
desembocou em nosso mundo contemporâneo pode contribuir para a sua prática docente 
no século XXI?
Depois seguiremos viagem pelo Egito, Grécia e Roma na Antiguidade. Observaremos como a 
família e o Estado se relacionaram no processo de ensino de seus filhos. Como, para quê e para 
quem ocorria a educação? Qual o propósito de se educar?
Em seguida, olharemos a Idade Média em suas complexas construções sociais, no ensino 
quase que monopolizado pela Igreja Católica, na criação das Universidades, nas corporações 
de ofício e no ensino cavalheiresco. Neste momento, abordaremos o método escolástico que 
tanto marcou o ensino em nosso Brasil colonial.
Partindo dos conflitos e das contradições do medievo, analisaremos as transformações 
advindas com a Idade Moderna: o humanismo que se contrapôs à escolástica, o método 
científico que defendeu a primazia da observação, da empiria e da relação intrínseca 
entre prática e teoria. Também durante este período, veremos as disputas na cristandade 
e o surgimento de ordens missionárias, como a Companhia de Jesus, cuja proposta 
educativa impactou na construção de nosso imaginário, na formação dos nossos grupos 
dominantes e na dominação sob a cultura nativa indígena.
Discutiremos o Brasil independente e a ausência de um projeto de organização nacional da 
educação. Quais impactos a falta dessa política pública ocasionou para o avanço do ensino 
no país? Quais resquícios da educação colonial ainda se fizeram presentes no Império e nas 
primeiras décadas da República?
Passaremos então para a relação entre processo de industrialização e avanço na organização 
educacional do Brasil. Analisaremos como o crescimento das indústrias no país e, 
consequentemente, da urbanização, demandou a expansão do ensino. A necessidade de 
mão de obra qualificada, de ampliação dos setores administrativos e de serviços, bem como o 
crescimento da classe média foram fatores fundamentais que pressionaram o Estado a pensar 
políticas nacionais para a educação.
7
Nasceram aí o dualismo educacional e o “ponto de estrangulamento”. A partir de determinadas 
escolhas de políticas públicas na educação, o ensino brasileiro passou a se bifurcar em escolas 
voltadas para as camadas empobrecidas e escolas para as classes média e alta. Além disso, há 
diversos problemas que persistiram, tais como o analfabetismo, a evasão escolar, a reprovação. 
Grupos reduzidos conseguiam avançar para o ensino secundário. Menos ainda conquistavam 
uma vaga nas universidades do país. 
Com o processo de redemocratização do Brasil, veremos os significativos avanços da 
nossa estrutura educacional: a ampliação das escolas, o combate ao analfabetismo e à 
evasão escolar, a ampliação das universidades e escolas técnicas, a melhoria nos índices 
de qualidade. Mas, também veremos que há muito a percorrer para conseguirmos atingir 
uma educação de excelência. Também há muitos desafios novos com a chegada do século 
XXI. Novas e velhas questões estão presentes na educação brasileira.
Esperamos que a reflexão do processo histórico da educação contribua justamente para que 
você encare essas questões e esses desafios, que o auxilie a pensar o ensino, as suas práticas 
pedagógicas, a sua atuação docente e, especialmente, a função social da escola.
Vamos lá?
Objetivos
 » Permitir que as reflexões acerca da Históriada Educação auxiliem no debate sobre 
as funções sociais da escola e a atuação docente. 
 » Compreender as diferentes organizações educacionais, relacionando-as com a 
conjuntura vigente.
 » Contribuir para a percepção de que somos sujeitos históricos e fazemos parte 
de um processo histórico.
8
9
Introdução
O nosso primeiro capítulo será dividido em duas grandes partes. 
Na primeira, falaremos um pouco sobre História. Por que você precisa estudar a História da 
Educação para lecionar no século XXI? Qual a importância dessa disciplina para a sua prática 
pedagógica? O que o século V a.C. tem a nos dizer sobre educação?
Essas são perguntas que você mesmo deve ter realizado quando iniciou a disciplina. E nós 
vamos respondê-las na primeira parte deste capítulo, onde discutiremos a importância do 
conhecimento histórico, as suas especificidades e finalidades na prática docente.
Na segunda parte deste Capítulo 1, iniciaremos de fato a nossa travessia discutindo 
como egípcios e gregos pensaram e organizaram a educação na antiguidade. Baseados 
especialmente em textos da época, vamos conhecer o olhar de diferentes sociedades sobre 
a educação e os métodos de ensino.
Objetivos
 » Discutir a importância da disciplina História da Educação para a prática docente.
 » Contribuir para a construção do pensamento histórico do discente.
 » Apresentar as principais características da educação na sociedade do Egito antigo.
 » Expor as principais características da educação na Grécia antiga.
Por que estudar a História da Educação?
Já lembrava Croce: fazer história é sempre fazer história contemporânea, mas 
– podemos acrescentar -, para fazer história contemporânea, temos de reler o 
presente sobre o fundo do passado e de um passado reconstruído à part entière, 
1
CAPÍTULO
POR QUÊ? E PARA OnDE? A 
IMPORtÂnCIA DA HIStÓRIA DA 
EDUCAçãO DA/nA PRátICA DOCEntE
10
CAPÍTULO 1 • POR QUÊ? E PARA OnDE? A IMPORtÂnCIA DA HIStÓRIA DA EDUCAçãO DA/nA PRátICA DOCEntE
isto é, inteiramente, em todas as suas possibilidades e ramificações, até mesmo 
nos seus silêncios, nas repressões sofridas, nos seus atalhos interrompidos.
(CAMBI, 1999, p. 40)
Figura 1. Sankofa.
Fonte: <http://todosnegrosdomundo.com.br/memorias-da-africa-em-ferro-a-mensagem-subliminar-esculpida-em-antigos-
portoes/>. Acesso em: 5/1/2019.
Sankofa é um pássaro que faz parte da simbologia do povo Akan, situado na antiga Costa do 
Ouro e atual Gana. Sua cabeça está voltada para trás e seu bico segura um ovo. A palavra, em 
sua tradução literal para o português, significaria algo como “volte e pegue” e está associada ao 
provérbio: “Não é tabu voltar para trás e recuperar o que você perdeu”. 
Você já viu esse pássaro em algum lugar? Como você interpretaria esse símbolo? Por que um 
pássaro teria sua cabeça voltada para trás? O que significaria, do ponto de vista simbólico, “volte 
e pegue”?
Sankofa traz um ensinamento fundamental: a importância de nos voltarmos para o passado. 
E não é uma ideia de ficarmos presos a ele. É uma defesa de que não devemos desprezá-lo se 
desejamos ressignificar e compreender o presente. E, mais ainda, se desejamos construir o futuro. 
A cabeça voltada para trás simboliza a necessidade de olhar para o passado para compreendermos 
de que forma fomos constituídos individual e coletivamente. A necessidade de buscarmos 
conhecer e resgatar a nossa ancestralidade, a nossa História e fazer disso instrumentos para nos 
compreendermos melhor hoje. 
Provavelmente você já ouviu que “quem vive de passado é museu”. Esta é uma ideia muito perigosa. 
Negar a historicidade das relações sociais, das nossas sociedades é estorvar um caminho para 
nos conhecermos melhor. É deixar carente a nossa própria identidade. Assim, Sankofa vem nos 
ensinar que devemos voltar ao passado não por ele em si, mas pelo nosso presente e também 
pelo nosso futuro. Não à toa, o pássaro está com um ovo na boca, que representa o que virá.
11
POR QUÊ? E PARA OnDE? A IMPORtÂnCIA DA HIStÓRIA DA EDUCAçãO DA/nA PRátICA DOCEntE • CAPÍTULO 1
Nesse primeiro momento de nossa disciplina vamos discutir um pouco sobre o que é História, 
qual a sua importância e porque devemos, enquanto professores, independente da disciplina, 
conhecer a História da Educação.
Provocação
Antes de seguirmos, leia atentamente este texto do professor Jaime Pinsky, presente no livro Por que gostamos de 
História (2013): 
Educação em tempos de crise
História está de novo na moda. [...] O fato é que livros de história são cada vez mais lidos – inclusive romances 
históricos, verdadeiro subgênero de ficção. E, mais ainda, historiadores vêm sendo procurados pelo poder público 
e por empresas para ajudar em projetos estratégicos. Esses mesmos projetos para os quais já se percebeu que 
economistas, por falta de instrumental, não vêm dando conta ...
A história está presente em quase todas as manifestações do ser humano. Mesmo padrões estéticos, como apreciar 
pessoas mais magras ou mais robustas, gente de olho claro ou escuro, pele branca como o leite ou bronzeada pelo 
sol, precisam ser percebidos em relação às variações tempo/espaço. O que é belo hoje pode ser considerado feio ou 
mesmo doentio amanhã. Queiramos ou não, somo seres em parte explicados pela Biologia, em parte pela História. 
A grande diferença entre seres humanos e os demais animais é que a História Natural não dá conta de nos explicar 
como explica os chamados irracionais.
Veja-se o caso da educação. Educar não é natural, é histórico. Um animal é treinado, desde os seus primeiros dias 
de vida, a caminhar, escavar, fugir ou caçar para sobreviver. Os pais de um ser humano frequentemente não têm a 
competência para habilitá-lo no exercício de sobrevivência: eles mesmos não sabem plantar, colher, coletar, construir 
abrigos ou costurar roupas. Da mesma forma como compram produtos e serviços essenciais à sua sobrevivência, 
acabam “terceirizando” o processo de ensino, entregando seus filhos em idade cada vez menor a escolas, creches 
e outras instituições educacionais. Cada sociedade determina como deve ser a intervenção social que deseja fazer 
em seus novos membros em função de valores, crenças e padrões de comportamento que ela tenha, imagina ter ou 
sonha em vir a ter.
Daí a historicidade do sistema educacional. Aquilo que uma sociedade pode julgar essencial para suas crianças e 
jovens será desprezado por outra em outro lugar ou em outra época. Dirão alguns que a educação formal já não é 
mais tão importante quanto foi no tempo em que informações circulavam principalmente pela palavra escrita no 
papel. Hoje, as pessoas se informam pela televisão e pela internet e torna-se quase impossível para pais e educadores 
“controlarem qualidade e quantidade de dados absorvidos pelos mais jovens”. Dirão, ainda, que a sociedade tornou-
se extremamente competitiva; ela “exige” acesso contínuo e intenso aos bens materiais que têm valor objetivo ou 
simbólico. Como lidar com essa realidade que foge do controle dos educadores? Nisso tudo, o que pode fazer o 
professor, que é o principal encarregado de passar valores de uma geração para outra? Não mentir é um bom começo, 
não ser moralista, nem agir como oráculo. Cabe-lhe ajudar o aluno a compreender, com clareza, o funcionamento da 
sociedade em que vivemos, com suas contradições e incoerências. Em seguida, revelar ao jovem a historicidade dos 
valores, a transitoriedade de padrões de comportamento.
(PINSKY, 2013, pp. 153-155)
Um ponto central da nossa disciplina será refletir sobre o seguinte aspecto: qual é o objetivo da educação nessa 
sociedade? Para que se educa? Quem se educa?
12
CAPÍTULO 1 • POR QUÊ? E PARA OnDE? A IMPORtÂnCIA DA HIStÓRIA DA EDUCAçãO DA/nA PRátICA DOCEntE
Vamos começar então com uma pergunta básica: o que é História? Você saberia definir? 
É uma ciência? Qual o objeto de pesquisa dela? Não é uma ciência? São meras narrativas 
do passado?
Segundo o historiador francês Marc Bloch (2001), a História é a ciência dos seres humanos no 
tempo.Portanto, é mais do que a clássica definição de uma disciplina que estuda o passado. Vamos 
destrinchar a definição de Bloch a partir das três palavras centrais: ciência, homem e tempo:
1. A História é uma ciência porque possui metodologia, pesquisa, análise de fontes. A 
produção de um historiador é baseada em muita leitura, em rigor ao observar as fontes, 
em critérios científicos de análise. Não é ficção e não é o famoso “achismo”. 
2. O objeto de pesquisa da História não é o passado. A História estuda o ser humano. É 
este o foco do historiador: a humanidade, as sociedades, as relações sociais.
3. Mas este objeto, o ser humano, está situado em um determinado tempo. A maneira como 
nos relacionamos varia de acordo com a temporalidade (e a espacialidade também). 
Portanto, o tempo é um instrumento fundamental para escrever História.
Figura 2. tempo: instrumento essencial da História.
Fonte: <https://br.depositphotos.com/96307658/stock-photo-hourglass-on-a-white-background.html>. Acesso em: 
9/1/2019.
No texto acima, Pinsky afirma que a educação não é natural, mas historicamente construída. O que deve ser 
ensinado, de que maneira e a quem são escolhas e decisões demandadas pela sociedade num determinado tempo 
e espaço. Ou seja, a educação não é um sistema suspenso e à parte das relações sociais. Ela está inserida em um 
contexto, em uma conjuntura social e vai dialogar com ela e ser, ao mesmo tempo, produto e produtora dessa 
sociedade.
Ao final, o autor acredita que as novas exigências de uma sociedade competitiva e conectada trazem novas demandas 
para a educação e, consequentemente, para os professores. O que e como ensinar diante do advento da internet e 
disseminação? Como a escola pode se repensar diante dessa nova conjuntura? Ela tinha a mesma função? Devemos 
utilizar os mesmos métodos de ensino? A escola ainda faz sentido?
Jaime Pinsky acredita que a escola ainda tem muito a ensinar aos alunos e propõe os caminhos. Reflita sobre as 
propostas do autor: você concorda com elas? Por quê?
13
POR QUÊ? E PARA OnDE? A IMPORtÂnCIA DA HIStÓRIA DA EDUCAçãO DA/nA PRátICA DOCEntE • CAPÍTULO 1
A ampulheta é um dos símbolos da História, ressaltando a importância do elemento tempo 
para a disciplina.
O que faremos em nossa disciplina será um recorte temático: estudaremos a forma como a 
educação foi pensada e organizada ao longo do tempo histórico, desde a Antiguidade até os 
dias atuais. 
Agora que já definimos História, cabe ainda discutirmos a questão das fontes. Como podemos 
saber o que ocorria na educação do Império Romano? De onde o historiador da educação coleta 
as informações sobre períodos tão longínquos e distintos dos nossos?
O historiador da educação, como o de qualquer outra temática, tem as fontes históricas como 
ferramenta principal para construir o conhecimento. E o que seriam fontes? Tudo, tudo mesmo, 
o que foi produzido pela humanidade. Todo e qualquer vestígio deixado pela sociedade pode ser 
utilizado como fonte histórica: poesia, música, vestimentas, diários, cartas, discursos, documentos 
oficiais, ou como diria Marc Bloch, tudo o que tem cheiro de ser humano. 
Importante ressaltar que a fonte não é a história. A fonte é o instrumento que o historiador utiliza 
para construir o conhecimento histórico. É somente a partir da análise e da crítica das fontes que 
se produz história. Aqui em nossa disciplina traremos para você alguns desses vestígios, dessas 
fontes para que você possa se aproximar ainda mais do tempo histórico estudado. 
Vamos para um terceiro ponto a ser discutido sobre a história. Qual é a relação dessa ciência com 
o passado, o presente e o futuro? Você já ouviu falar que estudamos o passado para compreender 
o presente? Será essa a função da História? Você concorda com ela?
Dizer que a história nos ajuda a conhecer o passado e, portanto, compreender o presente não é 
exatamente errado. Mas, digamos que seja uma afirmativa incompleta. Isso porque essa estrada 
é uma via de mão dupla: ao mesmo tempo em que o conhecimento do passado nos leva a uma 
melhor compreensão do presente, uma melhor compreensão do presente também nos leva 
a conhecer o passado. Mas como pode isso? Pense aqui conosco: hoje, no presente, você está 
estudando a história da Educação. Ou seja, você está conhecendo como as sociedades em diferentes 
momentos pensaram e organizaram a educação. Mas para isso você não fará uma viagem do 
tempo, você jamais poderá estar de fato nesses tempos históricos. Portanto, é necessário conhecer 
o seu momento atual para saber fazer as perguntas ao passado. O que buscamos conhecer lá 
atrás diz muito sobre o que buscamos para o nosso presente (talvez esse ponto fique ainda mais 
evidente quando você estudar seu capítulo 6).
E o que dizer do futuro? A história pode prever o futuro? Conhecendo melhor os processos 
educacionais de sociedades anteriores à nossa, você poderá prever como será a educação 
brasileira nos próximos 50 anos?
14
CAPÍTULO 1 • POR QUÊ? E PARA OnDE? A IMPORtÂnCIA DA HIStÓRIA DA EDUCAçãO DA/nA PRátICA DOCEntE
Não, a história não prevê o futuro. Então qual a sua relação com ele? Há alguma relação? Há, 
sim. Vamos refletir juntos! O historiador espanhol Josep Fontana (1998) escolheu o seguinte 
título para um dos seus livros: História: análise do passado e projeto social. Se, como vimos, o 
conhecimento acerca de sociedades passadas nos ajuda a conhecer o presente, é somente a 
partir do entendimento do nosso momento que podemos projetar (no sentido de construir 
projetos) para o futuro. A luta e construção por uma educação de qualidade, democrática e justa 
deve partir de um conhecimento crítico do presente que é construído também a partir de um 
conhecimento crítico do passado.
Como bem disse Franco Cambi em sua História da Pedagogia (1999):
[...] compreender o presente e para nele ler as possibilidades do futuro, mesmo que 
seja de um futuro a construir; a escolher; a tornar possível. [...], a focalização do 
passado que anima o presente e o condiciona, como também o reconhecimento 
das suas possibilidades sufocadas ou distantes ou interrompidas, e portanto das 
expectativas que se projetam do passado-presente para o futuro, que estabelece 
o horizonte de sentido de nossa ação, de nossas escolhas. A memória não é 
absolutamente o exercício de uma fuga do presente nem uma justificação 
genealógica daquilo que é, e tampouco o inventário mais ou menos sistemático 
dos monumentos de um passado encerrado e definitivo que se pretende reativar 
por intermédio da nostalgia: não, é a imersão na fluidez do tempo e o traçado 
de seus múltiplos – e também interrompidos – itinerários, a recomposição de 
um desenho que, retrospectivamente, atua sobre o hoje projetando-o para o 
futuro, através da indicação de um sentido, de uma ordem ou desordem, de uma 
execução possível ou não.
(CAMBI, 1999, p. 35)
Temos ainda um último ponto antes de nos voltarmos para o passado educacional de distintas 
sociedades. É o último, mas tão importante quanto os demais: a história não julga, compreende. 
Quando estudamos história, precisamos distinguir muito bem dois verbos: julgar e compreender. 
Parece muito óbvia a diferença entre os dois. Mas, é muito comum cairmos em armadilhas, 
especialmente nas do julgamento. Temos uma tendência quase natural a compararmos e a partir 
daí julgarmos outras pessoas, outros projetos, outras sociedades. Mas não devemos fazer isso 
dentro do conhecimento histórico. A história não é um tribunal. Não condena e não absolve, 
ela compreende o processo. Ou seja, ela está o tempo todo perguntado: qual foi o caminho 
percorrido para se chegar até este ponto? Portanto, atenção! Não usaremos palavras como bom, 
ruim, melhor, pior, atrasado, evoluído. Estes são julgamento de valor. 
É importante que você entenda que compreender os processos históricos (por mais dolorosos 
que sejam, como, por exemplo, os genocídios e a escravidão) não significa legitimá-los. Significa 
compreender os diversos elementos que resultaramem ações, decisões e relações sociais. Para 
isso, segundo Edward Carr (1996), o historiador está sempre fazendo duas perguntas centrais: “por 
quê?” e “para onde?”. A primeira diz respeito às múltiplas causas que levaram a um determinado 
15
POR QUÊ? E PARA OnDE? A IMPORtÂnCIA DA HIStÓRIA DA EDUCAçãO DA/nA PRátICA DOCEntE • CAPÍTULO 1
processo ou momento histórico. A segunda pergunta abarca os resultados e impactos que os 
primeiros elementos geraram em uma determinada sociedade. 
Esperamos que todo esse momento inicial da disciplina tenha contribuído para oferecer a 
você instrumentos para pensar historicamente a educação, percebendo a importância deste 
conhecimento para a sua prática pedagógica. Afinal, quando entrar em sala de aula haverá ali, 
naquele espaço, naquelas relações, nos conteúdos, a presença deste processo histórico. 
Para refletir
Quando está caminhando, você costuma observar as placas nas ruas, nos museus, teatros? O nome da sua rua 
homenageia alguém? Se sim, você conhece a história dessa pessoa?
Qual era o nome da sua escola? O nome dela se relacionava de alguma maneira com o projeto pedagógico da 
instituição? 
Leia o texto abaixo escrito por Peter Burke e reflita sobre as questões levantadas:
O que há em um nome de rua?
Em países diferentes, pessoas têm maneiras diferentes de lembrar o passado. Para alguns, como os britânicos, o mito 
da continuidade é especialmente importante, enquanto outros, como os franceses (e eu sugeriria os brasileiros), 
preferem o mito da revolução. Uma maneira como são reveladas essas importantes diferenças na memória social ou 
cultural é na escolha dos nomes de ruas, um detalhe minúsculo da paisagem urbana, mas certamente significativo. 
Na França, ruas e praças foram batizadas e rebatizadas por motivos políticos durante a revolução, e o exemplo francês 
foi amplamente seguido desde então. [...]
Num nível mais grandioso, cidades ou países inteiros têm sido rebatizados em honra de pessoas famosas. A tradição 
remonta ao mundo antigo (a Alexandria de Alexandre Magno, por exemplo), mas se tornou muito mais comum a 
partir do século XVIII, como nos casos de Bolívia e Colômbia, em homenagem a Bolívar e Colombo, Washington D.C. 
e Jefferson City (Missouri), Leningrado e Stalingrado, Florianópolis e João Pessoa. No entanto, essa prática é ainda 
mais visível no nível das ruas, permitindo a transeuntes que leiam a cidade no sentido literal, bem como metafórico, 
aprender algo sobre os intelectuais da nação [...] ou sobre os políticos principais [...].
Ao lado dos nomes de heróis e vitórias nacionais, muitas ruas e praças são batizadas segundo datas significativas da 
história nacional ou local. [...]
Em suma, a resposta do historiador cultural à pergunta de Shakespeare, ou, no caso, de Julieta, “O que há num 
nome?” é “Mais do que se poderia imaginar”. A história se revela ao ar livre, bem como nas bibliotecas, e as ruas 
podem ser lidas como livros – ao menos pelos pedestres.
(BURKE, 2009, pp. 278-282)
Por vezes pensamos na história como algo distante de nós, trancada em bibliotecas ou museus. Mas ela está em 
nosso cotidiano, tanto na forma de hábitos, costumes e mentalidades, quanto nas diversas homenagens que povoam 
nossa cidade em suas ruas, praças e monumentos. Os prédios, nos quais por vezes diariamente entramos e sequer 
observamos a sua arquitetura pode conter muito da história da sua região.
Convido você a caminhar por sua cidade prestando atenção às homenagens, à história que ela conta pelos nomes das 
ruas, dos bustos nas praças, das construções históricas. Percorra bairros antigos e novos e observe as diferenças. Vá 
até o centro comercial e financeiro, sente em um banco e observe a forma como as pessoas se relacionam, se vestem, 
compram e andam. Ao final desse processo, você terá construído uma bela aula de História.
16
CAPÍTULO 1 • POR QUÊ? E PARA OnDE? A IMPORtÂnCIA DA HIStÓRIA DA EDUCAçãO DA/nA PRátICA DOCEntE
Educa teu filho um homem obediente: a educação no Egito 
antigo.
Figura 3. tumba egípcia. 
Fonte: <https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2018/12/tumba-de-4-mil-anos-e-descoberta-quase-intacta-no-
egito.html>. Acesso em: 20/1/2019.
As tumbas egípcias são ótimas fontes de estudo. Elas têm representações da vida cotidiana 
em família, do trabalho, do governo e também das formas de organização da educação.
As fontes mais antigas que temos sobre a educação vêm do Egito, datadas do século XXVII a.C. São 
escritos que contém preceitos morais e comportamentais. Ou seja, são basicamente conselhos 
de como o filho ou o discípulo deveria se portar na sociedade, numa relação pedagógica baseada 
na autoridade dos mais velhos que prezava pela memorização e repetição dos ensinamentos. 
Diferente dos ensinamentos curriculares como conhecemos hoje, estas primeiras fontes egípcias 
são conselhos de sabedoria prática, de como agir em determinadas situações.
Vamos a alguns exemplos?
Se tu sentas com um glutão, começa a comer quando a vontade dele tiver 
passado. Se bebes com um beberrão, bebe só quando o coração dele está 
saciado...
Início do ensinamento feito pelo príncipe Hergedef, filho do rei, para o próprio 
filho que ele educa, de nome Auibra, ao qual se seguem os habituais conselhos 
ético-comportamentais:
Emenda-te perante teus olhos. Cuida para que outros não te corrijam... Cria um 
lar: casa com uma mulher forte, nascerá para ti um filho macho. Constrói para 
teu filho uma casa... Torna tua morada ilustre na necrópole. Procure adquirir 
uma propriedade de campos que recebam a inundação...
(MANACORDA, 2010, p. 25 E[e 26)
17
POR QUÊ? E PARA OnDE? A IMPORtÂnCIA DA HIStÓRIA DA EDUCAçãO DA/nA PRátICA DOCEntE • CAPÍTULO 1
Tais ensinamentos morais eram destinados aos grupos dominantes e, portanto, misturavam-se 
também conselhos políticos, pois, cada vez mais o propósito dos ensinamentos visava formar 
o homem político e, portanto, d[o orador. Assim, uma das grandes preocupações educacionais 
do período era o “falar bem”, que se identificava aqui com a arte de governar:
Se a sua boca procede com palavras indignas, tu deves domá-lo em sua boca, 
inteiramente... A palavra é mais difícil do que qualquer trabalho, e seu conhecedor 
é aquele que sabe usá-la a propósito. São artistas aqueles que falam no conselho... 
Reparem todos que são eles que aplacam a multidão, e que sem eles não se 
consegue nenhuma riqueza...
(MANACORDA, 2010, p. 27)
Outra questão muito presente nas fontes do período é a obediência. Comandar e obedecer eram, 
nesta lógica, duas faces da mesma moeda, pois estamos falando de um governo autocrático, 
com grande concentração de poder. Portanto, muitos discursos educativos determinavam a 
total obediência ao rei:
Se és um homem de qualidade, forma um filho que seja sempre a favor do rei... 
Curva as costas perante o teu superior, o teu superintendente no palácio real... 
É prejudicial para quem se opõe ao seu superior... É útil ouvri para um filho 
que ouve, e quem ouve torna-se um homem obediente... Educa em teu filho 
um homem obediente. Um filho obediente é um servidor de Hórus, o faró... Sê 
absolutamente escrupuloso para com o teu superior... Age de tal modo que o 
superior dele possa dizer: Como é admirável aquele que seu pai educou!
(MANACORDA, 2010, p. 28)
Mais tarde, a educação passou por um processo de institucionalização com pessoas que se 
dedicavam profissionalmente aos educandos. Mas esta institucionalização não foi acompanhada 
de uma ampliação da educação. Ela continuou limitada à corte e reservada aos príncipes e nobres, 
já que tinha como objetivo a formação do homem que iria governar. Houve também a ascensão 
e valorização da escrita, na formação de um corpo burocrático que auxiliava na governança, na 
figura do escriba, que ganhou certa importância no contexto egípcio da antiguidade.
A escola se constituiu aqui em um espaço de imitação. Crianças e jovens iam a um determinado 
local para imitar os adultos, para assimilar a sabedoria dos antigos. Além da escrita,do falar bem 
e da transmissão de tradições, há também relatos que apontam para ensinamentos matemáticos, 
geométricos, de engenharia, geografia, esportivos e militares, tais como corrida, caça, pesca e 
tiro com arco.
Assim sendo, segundo Mario Manacorda (2010), a educação no Egito antigo era destinada aos 
grupos sociais dominantes, aos nobres e aos funcionários e tinha dois objetivos principais: inculcar 
valores ético-comportamentais e instruir profissionalmente os administradores do Estado.
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CAPÍTULO 1 • POR QUÊ? E PARA OnDE? A IMPORtÂnCIA DA HIStÓRIA DA EDUCAçãO DA/nA PRátICA DOCEntE
A resposta descabida trazia uma punição. o autor era mordido no polegar 
pelo irene”: A educação na grécia antiga entre o militarismo e a paideia
Figura 4. Imagem representativa da educação na grécia Antiga.
Figura 5. Educação na grécia Antiga.
Fonte: <https://educacaonantiguidade.files.wordpress.com/2017/01/jarro.jpg?w=768>. Acesso em: 20/1/2019.
A cerâmica é uma das fontes que podemos utilizar para conhecer as representações do ensino 
na Grécia Antiga. 
Em suas origens, a educação na Grécia antiga esteve baseada no que Franco Cambi chamou 
de “uma pedagogia do exemplo”, ilustrada especialmente pela mitologia que deveria servir de 
exemplo ético-moral. 
A Grécia era dividida em cidades-Estado (pólis) e a educação variou de cidade para cidade. 
Porém, de certa forma, a Grécia conseguiu manter uma determinada unidade especialmente 
pelo viés de uma identidade cultural articulada e até certo ponto comum. Na construção da 
comunidade da pólis três elementos eram fundamentais: as leis, os ritos e a educação. Essas 
dimensões ensinavam e inspiravam comportamentos e estavam presentes em atividades como 
os jogos e o teatro. Ambos com profundo valor educativo. 
19
POR QUÊ? E PARA OnDE? A IMPORtÂnCIA DA HIStÓRIA DA EDUCAçãO DA/nA PRátICA DOCEntE • CAPÍTULO 1
Como exemplos educacionais tomemos aqui as duas cidades que mais se destacaram na 
questão política e militar durante muito tempo na Grécia: Esparta e Atenas. Segundo Cambi:
Esparta e Atenas deram vida a dois ideais de educação: um baseado no 
conformismo e no estatismo, outro na concepção de paideia, de formação 
humana livre e nutrida de experiências diversas, sociais, mas também culturais 
e antropológicas.
(CAMBI, 1999, p. 82)
Esparta era uma cidade de economia predominantemente agrária, governada por um conselho 
e dois reis. Ficou conhecida na história por sua forte educação militar, onde as crianças do 
sexo masculino, a partir dos sete anos, eram retiradas da tutela de suas famílias e colocadas em 
escolas-ginásio para formação militar que ia até os dezesseis anos. A educação aqui era confiada 
ao Estado e realizada não de forma individual, mas coletivamente nas tropas. 
Saiba mais
Observe o relato de Plutarco sobre a educação espartana:
Quando uma criança nascia, o pai não tinha direito de cria-la: devia leva-la a um 
lugar chamado lesche. Lá assentavam-se os Anciãos da tribo. Eles examinavam o 
bebê. Se o achavam bem encorpado e robusto, eles o deixavam. Se era mal nascido e 
defeituoso, jogavam-no no que se chama os Apotetos, uma abismo ao pé do Taigeto. 
Julgavam que era melhor, para ele mesmo e para a cidade, não deixar viver um ente 
que, desde o nascimento, não estava destinado a ser forte e saudável...
Os filhos dos espartanos não tinham por domésticos, escravos ou assalariados, 
Licurgo proibira-o. Ninguém tinha permissão para criar e educar o filho a seu 
gosto. Quando os meninos completavam sete anos, ele próprio os tomava sob sua 
direção, arregimentava-os em tropas, submetia-os a um regulamento e a um regime 
comunitário para acostumá-los a brincar e trabalhar juntos. Na chefia, a tropa punha 
aquele cuja inteligência sobressaía e que se batia com mais arrojo. Este era seguido 
com os olhos, suas ordens eram ouvidas e punia sem contestação. Assim sendo, a 
educação era um aprendizado da obediência. [...] Ensinavam a ler e escrever apenas o 
necessário. O resto da educação visava acostumá-los à obediência, torná-los duros à 
adversidade e fazê-los vencer no combate. [...]
As crianças tomam tanto cuidado em não ser apanhadas quando roubam, que uma 
delas, conforme se conta, depois de roubar uma raposa que tinha enrolado no seu 
agasalho, se deixou arrancar o ventre pela fere que lhe cravou os dentes e as garras. 
Para não ser descoberta, resistiu até a morte. [...] Assim, eles eram treinados para 
apreciar o valor e interessar-se pela vida da cidade desde a meninice. Se a criança a 
que se perguntava quem era um bom cidadão ou quem era indigno de estima não 
sabia responder, via-se aí índice de uma alma lerda e pouco ciosa do valor. Além 
disso, a resposta deveria conter sua razão e sua justificativa, condensadas numa 
fórmula breve e concisa. A resposta descabida trazia uma punição. O autor era 
mordido no polegar pelo irene. [...]
(PLUTARCO, 2003)
Este relato nos traz algumas reflexões: educamos para fins próprios ou para a sociedade? A criança e o jovem devem 
ser educados para ocupar posições sociais e prestar sua contribuição para a sociedade?
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CAPÍTULO 1 • POR QUÊ? E PARA OnDE? A IMPORtÂnCIA DA HIStÓRIA DA EDUCAçãO DA/nA PRátICA DOCEntE
Já em Atenas a educação esteve ligada ao desenvolvimento da humanidade em cada indivíduo, na 
tentativa de atingir a excelência através da palavra, da leitura e da escrita, permeadas pelas ideias 
de bom e belo. Ou seja, havia a perspectiva de que a educação era instrumento de amadurecimento 
individual, semeando e cultivando excelências. Assim, o objetivo da educação aqui seria nutrir e 
desenvolver as potencialidades humanas que não seriam naturais, mas adquiridas pelo estudo e 
pelo empenho. Segundo Manacorda, esta visão trouxe à tona um grande conflito entre a excelência 
por nascimento e a excelência adquirida, entre o que é inato e o que é aprendido, ou seja, entre 
natureza e educação. Esta questão não deve ser separada dos conflitos sociais entre os grupos 
dominantes e dominados, entre governantes e governados. Se as virtudes e excelências podem 
ser adquiridas, o que legitimaria o poder?
No século VI a.C. nasceu a escola de Pitágoras que compreendia a existência de bens 
transmissíveis e bens não transmissíveis. A beleza, a coragem, a saúde e a força faziam parte 
deste segundo grupo. Já a propriedade e os cargos faziam parte do primeiro. Porém, quem 
os transmite, os perde. Mas há um bem que pode ser transmitido sem perdê-lo: a educação, 
a paideia.
Em síntese, a definição de paideia, pensamento que se tornou hegemônico e gerou frutos 
posteriores, é que a educação é o desenvolvimento de um espírito que diferencia o homem da 
brutalidade e o grego dos bárbaros. Era um ideal de desenvolvimento moral, em busca de um 
suposto homem completo.
Para refletir
Leia atentamente o que Aristóteles pensava sobre educação:
É claro que o jovem deve aprender entre as matérias úteis aquelas indispensáveis, 
não todas, porém, tendo em vista a distinção entre obras liberais e obras não liberais; 
e deve, portanto, cultivar entre as obras úteis, aquelas que não tornam ignóbil a 
pessoa que as cultiva. Devem ser consideradas vis todas as obras, os ofícios, as 
habilidades que tornam o corpo e a inteligência dos homens livres inaptos para a 
prática da virtude. Portanto, todos os ofícios que por sua natureza deterioram as 
condições do corpo são considerados desprezíveis, como também todos os trabalhos 
com fins lucrativos, porque tolhem a liberdade da mente e a tornam mesquinha. 
Quanto às ciências liberais, interessar-se por algumas delas, dentro de certos limites, 
não é indigno de um homem livre, mas ocupar-se em demasia e com excesso traz os 
mesmos prejuízos.
É muito importante também considerar o fim pelo qual cada um age ou aprende: agir 
em vista de si mesmo ou dos amigos ou por amor à virtude é digno de um homem 
livre; mas, quem faz estas mesmas coisas para os outros, muitas vezes parecerá que 
está agindo de maneira servil e mercenária. Os estudos comumente reconhecidos,como dissemos, tendem para os dois sentidos.
(Pol., VIII, 1337 b, Apud. MANACORDA, 2010, pp. 84 e 85)
Em nossa sociedade atual, quem decide o que é útil aprender ou não? Como definir o que deve e o que não deve estar 
em nossos currículos escolares? Quais saberes valorizamos e quais saberes desprezamos em nossas salas de aula?
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POR QUÊ? E PARA OnDE? A IMPORtÂnCIA DA HIStÓRIA DA EDUCAçãO DA/nA PRátICA DOCEntE • CAPÍTULO 1
Com o passar dos séculos, o ensino na Grécia contou com um corpo de aprendizagem técnico 
e programado, além de profissionais pagos para tal atividade. 
Com o desenvolvimento da democracia em Atenas, a educação se abriu para todos os cidadãos 
– e não apenas para os grupos dominantes, e nasceu a escola de escrita. Nesse processo, as 
escolas se tornaram cada vez mais públicas e menos privadas, estando, portanto, sob a tutela 
do Estado. 
E, como era visto quem ensina? De maneira geral, os professores tinham certo grau de prestígio, 
mas isto poderia variar de cidade e de condição civil do professor. Quando o mestre era alguém 
escravizado, sua posição social não era equivalente aos de professores que chegaram a enriquecer 
com o ofício. Em algumas regiões, o mestre era socialmente valorizado desde que não cobrasse 
e não lucrasse com o ensino. Muitas vezes era tido como indigno aquele que cobrasse por 
ensinamentos. 
Para Cambi, três aspectos do ensino na Grécia antiga são importantes para a tradição ocidental 
da educação:
1. a noção de paideia, que universalizou e tornou socialmente mais independente 
e finalizado para o sujeito-pessoa o processo de formação, entendido como um 
formar-se universalizando-se e desenvolvendo a própria humanitas, por meio 
de um comércio estreito, constante e pessoal com a cultura e sua história; 2. a 
pedagogia como teoria, tornada autônoma por referentes históricos contingentes 
e destinada a universalizar e tornar rigoroso (no sentido racional) o tratado dos 
problemas educativos: nasce um saber da educação no sentido próprio, com 
todos os riscos de abstração, de teorismo, de normativismo que isto comporta; 
3. a problematização da relação educativa, que supera o nexo pedagogo-pais 
e docente–discente, relação autoritária e formalista, abstrata e geralmente 
impessoal. [...]
(CAMBI, 1999, p. 102) 
Assim, podemos dizer que absorvemos dos gregos (embora seja 
ressignificada constantemente) a ideia de que a educação contribui 
para o aprimoramento humano. Ou seja, de que, a partir do ensino e da 
aprendizagem, podemos desenvolver potencialidades que não são inatas, 
mas adquiridas por meio do processo educacional. 
22
CAPÍTULO 1 • POR QUÊ? E PARA OnDE? A IMPORtÂnCIA DA HIStÓRIA DA EDUCAçãO DA/nA PRátICA DOCEntE
Sintetizando
Vimos até agora:
 » A história da educação nos ajuda a conhecer o processo histórico da organização educacional ao longo do tempo e, 
com isso, contribui para a melhor compreensão das questões presentes.
 » Ao compreendermos de forma crítica o presente, temos instrumentos para pensar, projetar e construir um futuro 
onde a educação seja de fato democrática, plural e acolhedora.
 » A educação no Egito Antigo esteve limitada aos grupos dominantes, uma vez que era compreendida como uma 
aprendizagem para governar. Suas características principais estavam na valorização das tradições, na obediência, 
na arte do bem falar e na escrita administrativa e burocrática.
 » A educação em Esparta concentrava-se na questão militar e era gerenciada pelo Estado. 
 » Em Atenas, o pensamento da paideia compreendia que a educação era um instrumento para desenvolver 
potencialidades humanas, num caminho para a excelência do homem.
23
Introdução
A queda do Império Romano inaugurou a chamada Idade Média, período que até hoje olhamos 
muitas vezes a partir de estereótipos. O mais conhecido deles é a Idade das Trevas.
Neste capítulo vamos apresentar as formas de aprender e ensinar da Roma Antiga e como a 
educação, a partir da queda do Império, se transformou em um quase monopólio da Igreja 
Católica durante a Idade Média. Como, para quê e para quem a Igreja medieval educou? 
Te convido a perceber como a educação romana internalizou a paideia grega e como esta se 
tornou uma paideia cristã quando a Igreja ocupou o lugar do Estado na estrutura educacional, 
já que, num momento de intensas guerras, ascensão e destruição de reinos, era ela unificadora, 
forte e estável. 
Vamos lá?
Objetivos
 » Analisar a forma como a educação no Império Romano absorveu a visão grega da 
paideia.
 » Apresentar os objetivos e os métodos da educação na Roma Antiga.
 » Discutir a ascensão do poder da Igreja Católica na estrutura educacional durante a 
passagem do Império Romano para a Idade Média.
 » Compreender os diferentes espaços educacionais presentes na Idade Média: mosteiros, 
universidades, corporações de ofício, educação cavalheiresca;Entender as críticas 
humanistas à escolástica e sua proposta educacional.
2
CAPÍTULO
COM tODA HUMILDADE E POR AMOR 
A DEUS, DEvEM APREnDER COM 
PERSEvERAnçA: EDUCAçãO nA ROMA 
AntIgA E nA IDADE MÉDIA
24
CAPÍTULO 2 • COM tODA HUMILDADE E POR AMOR A DEUS, DEvEM APREnDER COM PERSEvERAnçA: EDUCAçãO nA ROMA AntIgA E nA IDADE MÉDIA
Fez educar seus filhos em todas as artes segundo a 
educação grega: a educação na Roma antiga
Observe a imagem a seguir:
Figura 6. A educação romana.
Fonte: <https://classicgrandtour.com/2015/12/28/inocentes/>. Acesso em: 30/1/2019.
Voltando seu olhar para a criança em sua relação com os adultos da cena, como você interpretaria o 
processo educacional neste período da Roma da antiguidade? Quem primeiro acolhe essa criança? 
Depois ela é passada para a responsabilidade de quem? O que você acha que era ensinado a ela? 
É um menino ou uma menina? A quem se destinava a educação e para quê?
Esta peça está atualmente no Museu do Louvre, em Paris. É parte do sarcófago de M. Cornélio 
Estácio. Nele podemos perceber as fases da educação na Roma antiga. Num primeiro momento, 
a mãe cuida do filho e o pai apenas observa, depois, ao crescer, o pai assume a responsabilidade 
sobre a criação e ensina o filho em disputas de jogos e também na aprendizagem, tomando-lhe 
a lição como na última imagem.
Na Roma Aantiga, durante muito tempo, a educação na primeira infância era responsabilidade 
do pater familias. Ou seja, segundo Manacorda:
[...] desde os primeiros tempos da cidade, a autonomia da educação paterna 
era uma lei do estado: o pai é dono e artífice de seus filhos. De fato, a antiga 
monarquia romana era uma república de patres, patrícios ou donos de terra 
e das familae, isto é, dos núcleos rurais, dos quais faziam parte sob o mesmo 
título as mulheres, os filhos, os escravos, os animais e qualquer outro bem. [...] 
O próprio pater é a patria : a antiga lei das Doze Tábuas, do início da república 
até metade do século V a.C., permite, entre outras coisas, que o pai mate os filhos 
anormais, prenda, flagele, condene aos trabalhos agrícolas forçados, venda ou 
mate os filhos rebeldes, mesmo quando, já adultos, ocupam cargos públicos. 
Não é surpreendente, portanto, que na Roma antiga não tenha existido durante 
muito tempo nenhuma forma de educação pública para a primeira infância [...]
(MANACORDA, 2010, p. 97)
25
COM tODA HUMILDADE E POR AMOR A DEUS, DEvEM APREnDER COM PERSEvERAnçA: EDUCAçãO nA ROMA AntIgA E nA IDADE MÉDIA • CAPÍTULO 2
Desta forma, a criança dos grupos sociais mais abastados crescia em casa, recebendo os 
cuidados da mãe ou da nutriz, desfrutando da companhia de colegas, brinquedos e das primeiras 
aprendizagens. A partir dos sete anos, o pai se tornava o tutor da criança, ensinando os saberes 
rudimentares, as tradições familiares, exercícios físicos e militares.
A família, portanto, exercia papel central na educação, tendo o pai o papel prioritário, servindo 
também de guia e exemplo. Com o passar do tempo e a expansão de Roma, tornando-se um 
império, essa educação vai gradualmente passando das mãos do pai para um pedagogo ou ummestre, tendo como principal objetivo a formação do cidadão, do político, a preparação para a 
guerra ou para paz, a legislatura e as letras.
Roma foi pouco a pouco construindo um grande império e entrando em contato com diferentes 
culturas, artes, ciências e filosofias. Os gregos foram um dos muitos povos conquistados 
pelos romanos. Parte considerável desta população subjugada se tornou escravo-mestre 
das crianças romanas. Assim, a educação em Roma, inicialmente restrita aos ensinamentos 
paternos, passou para a mão de mestres escravos, ainda no seio da família. Somente os jovens 
iam para a escola.
Esse é um ponto fundamental da educação e cultura romanas: houve muita influência grega, 
numa espécie de helenização do estilo de vida romano. E isto ocorreu na pedagogia também. 
Você se lembra que no capítulo anterior estudamos o ideal da paideia? Este conceito entendia que 
a formação humana se daria pela cultura e, portanto, o ensino servia para elevar ao máximo as 
potencialidades e virtudes dos homens. A paideia é incorporada pelos romanos. Eram, portanto, 
pedagogias fortemente ligadas ao saber filosófico, à retórica e à perspectiva enciclopédica do 
saber. Ao ponto de Demarato de Corinto, pai do primeiro rei etrusco romano afirmar: “faz educar 
seus filhos em todas as artes segundo a educação grega” (MANACORDA, 2010, p. 103).
Essa influência grega na educação romana foi amplamente debatida entre os estudiosos, 
administradores e governantes romanos: até que ponto a influência grega é benéfica a Roma? 
Deve-se manter a tradição ou é importante incorporar novos conhecimentos e visões de mundo?
Outro ponto de debate era o público que estas escolas deveriam atingir: a quem educar? Os 
governantes mais velhos e conservadores olhavam com alarme o crescimento do número 
de jovens que participavam das escolas recentemente implementadas. Isto porque, como 
vimos, muito da educação era uma preparação para a vida pública, para o governo, para a 
fala nos conselhos e nas assembleias. Assim, com a ascensão e consolidação do império, as 
escolas foram se constituindo enquanto espaços exclusivos para determinados grupos sociais, 
afastando os populares delas.
Nestas escolas, o método de ensino era a repetição e a memória, o melhor instrumento para a 
aprendizagem. 
26
CAPÍTULO 2 • COM tODA HUMILDADE E POR AMOR A DEUS, DEvEM APREnDER COM PERSEvERAnçA: EDUCAçãO nA ROMA AntIgA E nA IDADE MÉDIA
Aprendem de cor um grande número de versos, porque acham um sacrilégio 
pôr aquelas coisas por escrito, embora para outras coisas usem as letras gregas.
Porque não querem que nem suas doutrinas sejam divulgadas, nem aquele 
que estuda, confiando na escrita, acabe descuidando da memória; coisa que 
acontece à maioria que, servindo-se das letras, afrouxa a diligência para aprender 
a memorizar.
(MANACORDA, 2010, p. 119)
Até mesmo o ensino da escrita era mecânico: imitando incessantemente um modelo preestabelecido 
pelo mestre. Somado a isso, também há relatos da utilização de castigos físicos com varas e 
chicotes. Também era central na educação romana a preparação físico-militar, encarada como 
um dos fundamentos da formação do cidadão.
Outra questão discutida é que a grande memorização de textos, a didática enfadonha e os 
conteúdos distantes da vida diária levavam a uma visão de insignificância da escola. E isto leva 
a uma pergunta central: qual a função da escola?
[...] numa sociedade que recebeu a escola de uma tradição alheia, efetivando 
uma ruptura com as próprias tradições, e em que a finalidade “impudente” da 
conquista de hegemonia política das massas através da cultura se revela ilusória, 
nessa sociedade inevitavelmente a escola e sua cultura acabam por se fechar 
em si mesmas, numa idolatria exclusiva de suas tradições estranhas e fechadas.
(MANACORDA, 2010, p. 121)
A educação também teve como função e resultado a construção de uma romanização no Império 
Romano, através da língua e da literatura, mas também pelas escolas de direito, conferindo certa 
unidade espiritual num espaço político tão amplo e diverso que ia do Norte Europeu, passando 
pelo Oriente Próximo e chegando ao Norte da África. 
Importante
Foi durante a expansão do Império Romano que surgiu uma nova religiosidade: o cristianismo. Sendo, como toda 
e qualquer doutrina religiosa, uma forma de ver e sentir o mundo, organizando modos de conduta, de ser e agir no 
cotidiano, o cristianismo impactou também o campo da educação. Em suas origens, o cristianismo apresentou ao 
mundo uma nova concepção de homem, de família, de trabalho e de política baseada nos valores da igualdade, do 
amor, da solidariedade, da colaboração, da compaixão, da tolerância e da paz. Estes eram valores que se encontravam 
em franca oposição à cultura hegemônica vigente na época. É justamente a partir dessa subversão de valores a 
da institucionalização do cristianismo, via Igreja Católica, que a educação começou a ser modificada no Império 
Romano. O pedagogo Franco Cambi afirma que a paideia grega foi questionada e paulatinamente substituída por 
uma paideia christiana.
Com a expansão da Igreja após da adoção do cristianismo como religião oficial do Império, aquela passa a organizar 
e regular a educação da comunidade, tomando cada vez mais do Estado o papel de provedor e administrador de 
escolas. Vamos observar algumas dessas mudanças?
27
COM tODA HUMILDADE E POR AMOR A DEUS, DEvEM APREnDER COM PERSEvERAnçA: EDUCAçãO nA ROMA AntIgA E nA IDADE MÉDIA • CAPÍTULO 2
Com as crises internas do Império e as invasões bárbaras, o sistema de ensino das escolas romanas 
sofreu um grande baque. Num cenário de guerras e penúria, as famílias tentavam proteger seus 
filhos e muitas delas optaram por uma educação estritamente familiar. Por parte dos bárbaros, 
havia uma crítica à educação voltada para o dizer, para as letras e uma ênfase nos ensinamentos 
ligados à função militar. A educação deveria ser, portanto, treinamento:
Todos os notáveis se reuniram, foram a Amalasunta e começaram e repreendê-la 
pelo fato de que o rei não estava sendo educado numa forma justa e adequada, 
segundo eles. As letras – diziam eles – não têm nada a ver com o valo, e os 
ensinamentos de pessoas anciãs têm, em geral, a covardia e a permissividade 
como efeito; era necessário, portanto, que um menino destinado a ser exemplo 
de coragem e a adquirir grande fama se libertasse do medo dos mestres e se 
exercitasse antes de tudo nas armas. Acrescentaram que nem Teodorico permitira 
aos godos enviar os filhos à escola de letras humanas, antes dizia a todos que, 
uma vez dominados pelo medo do chicote, nunca teriam ousado enfrentar com 
coragem o perigo da espada e da lança... Portanto, querida soberana – diziam 
a ela -, manda para aquele lugar esses pedagogos e põe tu mesma ao lado de 
Atalarico alguns coetâneos: estes, crescendo junto com ele, o impelirão para a 
coragem e a valentia segundo o uso dos bárbaros. 
(MANACORDA, 2010, p. 170)
Portanto, havia neste período um embate entre os resquícios de uma educação romana (muito 
influenciada pelos gregos, como vimos), a força e os valores da Igreja Católica que se colocava 
cada vez mais como uma instituição que unifica e estabiliza e, por fim, as propostas bárbaras 
que se faziam presentes, especialmente no que tange ao treinamento militar. Havia aí um ponto 
muito interessante de convergências:
Nesta situação de destruições e de adaptações, que muda de um lugar para 
outro, a cultura continua sendo tarefa dos romanos, que procuram conservar a 
cultura tradicional romana. [...] É verdade que os primeiros bárbaros chegam em 
território imperial já aculturados à civilização romana e a maioria já convertidos 
Primeiro ponto: o papel do educador, que se tornou responsável não somente pela educação intelectual, mas 
também pelo crescimento espiritual do seu aluno. Este educador valorizava a formação filosófica, literária e artística 
de seus discípulos, mas esta cultura tinha um objetivo: servir a Deus. 
Segundo ponto: a formaçãode mosteiros. Esses espaços tiveram especial importância na Europa medieval com a 
reprodução de textos, a preservação de manuscritos, a educação do clero. Foram importantes centros educativos e 
também de debates da fé e da filosofia cristã. 
Terceiro ponto: as obras de Santo Agostinho, que trouxeram a filosofia platônica para o cristianismo, especialmente 
na visão da verdade e seu inatismo, e no dualismo entre corpo e alma. Santo Agostinho também influenciou na 
educação cristã com sua rígida ascese, baseada no senso do pecado. Sua perspectiva pedagógica compreendia que 
a ascensão a Deus estava diretamente ligada a um processo de autoeducação do indivíduo a partir do uso da sua 
racionalidade para corrigir erros e pecados. Assim, o bom cristão deveria realizar, sob sua direção, o crescimento 
interior educativo que o aproximasse de Deus.
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CAPÍTULO 2 • COM tODA HUMILDADE E POR AMOR A DEUS, DEvEM APREnDER COM PERSEvERAnçA: EDUCAçãO nA ROMA AntIgA E nA IDADE MÉDIA
ao cristianismo e há, portanto, uma mentalidade cristã comum aos velhos povos 
romanizados e aos novos povos bárbaros. [...] Mas o que mais interessa aqui é que 
exatamente esta sensibilidade e cultura de inspiração cristã que se inseriu entre 
os romanos, antes ainda das invasões bárbaras, ao lado da cultura helênica, já 
criara a situação dissociada já referida. Se é uma coisa, mas também se é outra: se 
é cristão, mas ao lado da participação na catequese e na liturgia da nova religião, 
se continua a educar na escola com textos de tradição clássica.
(MANACORDA, 2010, p. 136)
Neste cenário de intensas disputas ocorreu um processo conhecido como encastelamento ou 
feudalização na Europa Ocidental. Frente às crises internas do Império Romano do Ocidente, sua 
queda definitiva, a construção e decadência de reinos bárbaros, o continente se viu mergulhado 
em guerras, violências e muita instabilidade. A população passou então a buscar proteção 
nos feudos forjados e protegidos pelas casas nobres. Assim, muito da estrutura educacional 
construída pelo Império Romano se esfacelou e perdeu certa organicidade. Mas, neste campo, o 
que especialmente nos chama a atenção é a permanência da Igreja enquanto vínculo e unidade. 
Se, como já vimos anteriormente, o Estado foi perdendo espaço no controle e organização do 
ensino, com a queda do Império Romano, a Igreja Católica se tornou ainda mais senhora dos 
corações e mentes. É especialmente este domínio que vamos discutir no próximo tópico. 
nas páginas sagradas encontram-se imagens, metáforas e 
outras coisas do gênero: a educação na Idade Média.
Você já ouviu dizer que a Idade Média foi a Idade das Trevas? Já assistiu a algum filme ou 
documentário que apresentava esse período de forma obscurantista, permeado por pessoas 
ignorantes, cujas crenças nos fariam rir hoje? Já ouviu histórias que retratavam a Idade Média 
como um período de doenças, fome e mortes? Provavelmente, sim. Esses estereótipos foram 
construídos posteriormente por sociedades e culturas que desejavam se contrapor ao medievo. 
Como todo e qualquer estereótipo, ele reduz as características de um período tão rico e complexo.
Há divergências entre os historiadores sobre a temporalidade da Idade Média, mas utilizaremos 
aqui a datação mais clássica que aponta a queda do Império Romano do Ocidente como seu 
início, e a queda de Constantinopla como seu fim. Ou seja, um período que vai do século V ao 
século XV. Portanto, estamos falando de mil anos de história. Muita coisa aconteceu nesse período 
e nos marca até hoje. Veremos, por exemplo, a fundação das universidades, tão importantes na 
nossa sociedade atual. Assim, o que gostaríamos que você mantivesse em mente durante no seu 
estudo é que essa época foi extremamente dinâmica e complexa, bem diferente dos estereótipos, 
e, portanto, muito rica e interessante. 
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COM tODA HUMILDADE E POR AMOR A DEUS, DEvEM APREnDER COM PERSEvERAnçA: EDUCAçãO nA ROMA AntIgA E nA IDADE MÉDIA • CAPÍTULO 2
Como dissemos no tópico anterior, após a queda do Império Romano do Ocidente, a Igreja se 
tornou definitivamente a principal protagonista e organizadora da educação na Europa. Vamos 
ver como se deu essa relação entre Igreja e educação na Idade Média?
Nos turbulentos anos de ascensão e queda de impérios bárbaros e reorganização de principados, 
ducados e reinos, a Igreja se manteve forte e relativamente coesa para tomar para si a função de 
reorganizar a cultura e a escola europeias. 
E considerando que a Igreja já tem uma dupla estrutura organizacional, isto 
é, vivendo ela em parte no meio do povo através dos bispados e das paróquias 
(clero secular) e em parte longe dele nos mosteiros (clero regular), é nessa dupla 
estrutura eclesial que devemos procurar os primeiros testemunhos do surgimento 
de novas iniciativas da educação cristã, ao lado das remanescentes ilhas livres 
de romanidade clássica.
(MANACORDA, 2010, p. 144)
A partir da citação acima, podemos perceber um primeiro desafio para a Igreja: como conciliar 
a educação de ordem moral católica com a cultura e escola romanas que muito beberam dos 
gregos? Houve um embate entre a Igreja e a cultura clássica. Alguns repudiavam, como o papa 
Gregório I que afirmou:
Ficamos sabendo, e não podemos lembrar isso sem sentir vergonha, que a tua 
fraternidade ensina a alguns a gramática; isto é muito grave, porque os louvores 
de Cristo não podem estar na mesma boca com os louvores de Júpiter
(MANACORDA, 2010, p. 155)
Mas havia também aqueles que tentavam conciliar o classicismo com o cristianismo, estando 
o primeiro a serviço do segundo. Ou seja, os instrumentos, os conhecimentos, as artes liberais 
advindas das épocas pagãs deveriam contribuir para o conhecimento e reafirmação da fé e dos 
valores cristãos. Vejamos um exemplo:
[...] não somente não devem negligenciar os estudos literários, mas, com toda 
humildade e por amor a Deus, devem aprender com perseverança para poder 
penetrar de forma mais fácil e correta os mistérios das escrituras. E, já que nas 
páginas sagradas encontram-se imagens, metáforas e outras coisas do gênero, 
evidentemente entenderá melhor seu sentido espiritual quem com maior 
profundidade tiver se instruído no magistério das letras.
(MANACORDA, 2010, pp. 164-165)
A cultura clássica, portanto, foi aceita e estimulada desde que cumprisse o propósito de contribuir 
para que o cristão se aproximasse mais das obras de Deus. A partir desta questão, podemos 
perceber que a educação defendida pela Igreja Católica durante a Idade Média se baseou em 
uma dupla preocupação: a moral e a instrução.
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CAPÍTULO 2 • COM tODA HUMILDADE E POR AMOR A DEUS, DEvEM APREnDER COM PERSEvERAnçA: EDUCAçãO nA ROMA AntIgA E nA IDADE MÉDIA
Neste momento, existiam basicamente três tipos de escola: uma voltada para os leigos e 
administrada pelo Estado; outra administrada pela Igreja situada nas paróquias e que recebia 
também os leigos, ou episcopal, voltada para a formação de clérigos; e uma terceira situada 
nos mosteiros. Havia uma grande preocupação por parte da Igreja relacionada à formação dos 
clérigos. Pelos relatos, cartas e concílios, podemos observar que muitos eclesiásticos não tinham 
os conhecimentos rudimentares da leitura e escrita. 
Com a queda do Império Carolíngio, as tensões entre Império e Igreja findaram e esta última 
conquistou, segundo Manacorda, o monopólio da instrução, tanto no ensino religioso quanto 
no literário, tanto para leigos quanto para eclesiásticos.
Importante
Uma das principais criações da Idade Média foi a universidade. Acredita-se que sua origem esteve ligada aos mestres 
livres. Esses eram clérigos ou leigos que tinham licença para ensinar e se fortaleceram especialmente a partir do 
crescimento das cidades e do fortalecimento dos grupos sociais mercantis. Também entende-se que o nascimento 
dessas instituições esteja vinculado aos clérigos vagantes que se reuniam para ouvir os ensinamentos dos licenciados. 
Eles tinham associações, as universis, sendo, portanto, universitates.Nem sempre esses clérigos eram bem-vindos nas 
cidades onde se hospedavam. Os relatos contam muitos casos de bebedeiras e arruaças que complicavam a vida dos 
moradores. Artes liberais, medicina, jurisprudência e teologia foram os principais campos de ensino das primeiras 
universidades.
Figura 7. Universidade de Oxford.
Fonte: <https://brasilescola.uol.com.br/historia/universidades-na-idade-media.htm>. Acesso em: 30/1/2019.
Universidade de Oxford – fundada em 1096 é a mais antiga do mundo anglófono e a segunda mais antiga da Europa. 
Ainda em funcionamento, é considera uma das melhores universidades do Ocidente.
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Figura 8. Universidade de Paris.
Fonte: <https://brasilescola.uol.com.br/historia/universidades-na-idade-media.htm>. Acesso em: 30/1/2019.
Universidade de Paris – fundada em 1170 a partir de uma escola situada na Catedral de Notre-Dame. Atualmente, está 
dividida em treze universidades independentes. 
Aproveitando-se da expansão comercial e do desenvolvimento das cidades, essas instituições, que começaram a 
partir de aulas esparsas ou em pequenos locais de ensino independentes, foram ganhando força e fôlego. Diante 
dessa novidade, governantes e Igreja tentaram de certa forma controlar e regular estas novas instituições, observando 
seu conteúdo e método e organizando administrativamente. É nesse momento, por exemplo, que surge a figura 
do Reitor (existente até nossos dias) que deve observar a qualidade dos mestres e do ensino, bem como garantir os 
currículos e métodos de ensino da universidade.
Segundo o historiador Jacques Verger, em seu verbete “Universidade” no Dicionário Analítico do Ocidente Medieval 
(2017), a despeito da vigilância da Igreja Católica, as universidades medievais tinham grande autonomia e liberdade. 
Cada instituição poderia elaborar seus estatutos com regras e disciplinas internas. As assembleias de mestres 
decidiam os programas, os cursos, os exames e até mesmo as questões relativas às colações de grau. Era a própria 
instituição que decidia pela entrada dos alunos e pela admissão de novos mestres. Outra característica interessante 
da universidade medieval foi o seu caráter universalista: a partir da cultura clássica (acrescida dos conhecimentos 
advindos do contato com os árabes) e do saber da revelação cristã, o ensino tinha as mesmas bases.
Isso foi possível porque tais universidades estiveram ligadas ao poder, também universalista, do papa. Era esta 
autoridade que legitimava e confirmava a existência, o funcionamento e a organização das instituições universitárias 
medievais.
Ainda segundo Verger, as universidades cresceram também para atender a uma demanda social cada vez mais 
complexa das cidades que, como vimos, cresceram e se fortaleceram. A necessidade da formação para atuar em 
diversos e complexos setores sociais pressionou para a ampliação das universidades. Eram necessários secretários, 
médicos, pregadores cultos e, especialmente, juristas. Importante ressaltar, porém, que o acesso à educação 
universitária era restrito aos grupos sociais que poderiam arcar com seus custos. Apenas poucos alunos recebiam 
alguma ajuda de custo de ordens religiosas. A grande maioria era proveniente dos grupos mais abastados. 
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CAPÍTULO 2 • COM tODA HUMILDADE E POR AMOR A DEUS, DEvEM APREnDER COM PERSEvERAnçA: EDUCAçãO nA ROMA AntIgA E nA IDADE MÉDIA
Fora dos mosteiros, das escolas eclesiásticas e das universidades, esse período contou ainda 
com duas importantes formas de ensino: a educação cavalheiresca e as corporações de ofício. 
A primeira esteve ligada aos nobres que deveriam não apenas focar nos exercícios militares e 
guerreiros, mas também na aprendizagem das “boas maneiras”, da gentileza e dos costumes. 
Nesse sentido, a honra, vista a partir de uma visão comportamental da nobreza, tornou-se ideal 
chave para a compreensão das relações cavalheirescas. 
Nunca de conseguirá 
disciplinar alguém com varas:
para quem zela de sua honra
a palavra vale quanto uma pancada.
Guardai vossa línguas:
é isto que convém ao jovem;
trancai a cadeado a porta,
para que não sai uma palavra má.
Guardai vosso olhos:
olhai à vontade os costumes
que merecem ser vosso modelos;
mas os maus costumes desprezai-os.
Figura 9. Universidade medieval.
Fonte: <https://brasilescola.uol.com.br/historiag/universidades-medievais.htm>. Acesso em: 30/1/2019.
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Guardai vosso ouvido:
para não vos tornades tolos.
Não deis atenção às más conversas,
elas serão a vossa infâmia.
Oh, guardai-os bem esses três,
porque estão muito livres.
Línguas, olhos, ouvidos são
indisciplinados e não têm honra.
(MONACORDA, 2010, p. 197)
A educação cavalheiresca esteve voltada para a aprendizagem dos modos de se comportar na 
corte, as chamadas “boas maneiras”: tocar um instrumento, compor versos, jogar xadrez, conhecer 
leis, cerimonial, diplomacia e políticas. Não era uma preparação de forte cunho intelectual, mas 
a preparação de pessoas para ocuparem um determinado papel na sociedade: nobres. Havia aí 
um profundo desprezo pela cultura livresca e erudita e a valorização da cultura guerreira, como 
as caçadas e os jogos de arma. 
Já as corporações de ofício, no que tange a aprendizagem, visava juntar ciência e trabalho. Eram 
associações de pessoas que exerciam o mesmo ofício, elaborando regras, estatutos e formas de 
ensino. Os aprendizes tinham mestres que lhes ensinavam o ofício específico daquela corporação, 
não havendo separação entre trabalhar e aprender.
Essa diferenciação pode ser assim sintetizada:
A educação das aristocracias se ritualiza, mas também se classiciza, separando-
se nitidamente da sociedade com suas lutas e suas necessidades; a popular 
mergulha nessa realidade, carrega-se de realismo, articula-se em conhecimentos 
técnicos (do fazer) e contrapõe-se àquela outra, separada e artificial, das classes 
altas; age nos espaços abertos do social (na oficina, na praça, na festa) e não 
naqueles espaços separados, dos castelos ou da cela do mosteiro. Uma sociedade 
rigidamente hierárquica separa e contrapõe – hierarquizando-os – também os 
modelos educativos e culturais.
(CAMBI, 1999, p. 151) 
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CAPÍTULO 2 • COM tODA HUMILDADE E POR AMOR A DEUS, DEvEM APREnDER COM PERSEvERAnçA: EDUCAçãO nA ROMA AntIgA E nA IDADE MÉDIA
Saiba mais
Tendemos a associar educação apenas à escola. Ou seja, institucionalizamos o educar compreendendo que o único 
espaço possível de aprendizagem é a escola. Mas, na verdade, a unidade escolar é apenas um dos muitos locais 
educadores. Vejamos agora outras práticas educadoras no medievo.
Durante a Idade Média, a grande maioria da população era formada de analfabetos. Seus conhecimentos estavam 
atrelados às crenças, tradições e sabedoria do senso comum. Assim, como forma de educar essa população, outras 
estratégias pedagógicas foram utilizadas: o teatro, as imagens e as festas. 
As festas poderiam ser pagãs, agrícolas ou religiosas e tinham cânticos, mitos, teatro, ritos. Quanto ao teatro, havia o 
sacro e o popular. No teatro sacro, valores cristãos impregnavam as peças que visavam demonstrar para a população 
a moral correta e virtuosa, delimitar o que é bom e o que é mau.
Figura 10. teatro medieval.
Fonte: <https://www.todamateria.com.br/teatro-medieval/>. Acesso em: 30/1/2019.
Já no teatro popular, podemos encontrar a ironia, o deboche, a subversão da ordem, o burlesco e até mesmo o 
grotesto (assim também como em muitas festas, como, por exemplo, o Carnaval). Abaixo segue um trecho de uma 
peça popular do dramaturgo francês Rutebeuf, intitulada O pregão das Ervas, escrita por volta do século XIII 
 “Respeitáveis senhores, que me dais ouvidos
Grandes e pequenos, jovens ou vividos
Vós fostes pela sorte favorecidos
Pois ireis, agora, a verdadeencontrar
Sabendo que este médico não vos pode enganar
Uma vez que por vós mesmos podeis comprovar
O poder destas ervas antes do fim
Vamos fazendo a roda em torno de mim
Sem ruído, em silêncio, é bem assim...
Eu, aqui, sou é pesquisador
E tenho servido a muito imperador
Até mesmo lá do Cairo, o senhor
Muito poderoso, ele faz questão
de me contratar todo verão
Pagando para mim um salariozão.”
Fonte: <https://www.todamateria.com.br/teatro-medieval/>. Acesso em: 30/1/2019.
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A partir do fim do medievo, e, especialmente, no período de transição entre Idade Média e 
Idade Moderna, ocorre a ascensão de uma nova classe social: a burguesia. Fortalecida no 
comércio, nos transportes, nos bancos e nas manufaturas, esse grupo também demandou 
ensino, educação e aprendizagem para seus filhos. 
A burguesia construiu uma nova visão de mundo que foi sendo ressignificada ao longo dos 
séculos e ganhando novos espaços e dimensões, mantendo uma base voltada para a laicidade 
e a afirmação do homem e suas potencialidades. Muitos contratavam mestres para educarem 
As imagens também tinham grande potencial educador, especialmente nas Igrejas. Para um público 
majoritariamente analfabeto, as imagens nos vitrais cumpriam o papel de contar histórias bíblicas e ensinar a moral e 
a fé cristãs aos seus fiéis frequentadores. 
Você já teve a oportunidade de entrar em igrejas com vitrais? Se na sua cidade houver igrejas com vitrais, não 
perca a oportunidade de ir admirá-las. São verdadeiras obras de arte e nos ajudam a perceber múltiplas formas 
de comunicação e educação para além da leitura, escrita e oralidade. Abaixo, seguem dois exemplos de vitrais da 
Catedral de Chartres, na França:
Figura 11. vitral medieval.
Fonte: <https://catedraismedievais.blogspot.com/2013/04/vitrais-da-catedral-de-chartres.html>. Acesso em: 
30/1/2019.
Figura 12. vitral da Catedral de Chartres.
Fonte: <https://catedraismedievais.blogspot.com/2013/04/vitrais-da-catedral-de-chartres.html>. Acesso em: 
30/1/2019.
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CAPÍTULO 2 • COM tODA HUMILDADE E POR AMOR A DEUS, DEvEM APREnDER COM PERSEvERAnçA: EDUCAçãO nA ROMA AntIgA E nA IDADE MÉDIA
seus filhos, mediante pagamento em moedas, numa ideia de contratação de um serviço. Essa 
aprendizagem esteve ligada às ideias utilitárias. Ou seja, uma educação voltada para o que seria 
“produtivo”. Vejamos alguns exemplos:
Messer Giannozzo Manetti nasceu no ano de 1393... O pai..., Bernardo, mandou-o, 
ainda de poucos anos, segundo o costume da cidade, a aprender a ler e a escrever; 
tendo aprendido em pouco tempo quanto é necessário para ser um bom mercador, 
passou-o para o ábaco e em poucos meses tornou-se tão douto naquela ciência 
quanto um profissional da mesma. Aos dez anos foi posto no banco e em poucos 
meses lhe foi entregue a conta da caixa. Depois que ficou, conforme o costume, 
algum tempo no caixa, lhe foram entregues os livros e ficou neste exercício vários 
anos. Feito isso, começou a pensar consigo mesmo se seria possível conquistar, 
naquilo que estava fazendo, fama ou glória para si e sua família, mas não viu essa 
possibilidade e chegou à conclusão de que o único meio para tanto era o estudo 
das letras: e por isso determinou absolutamente de, proposta qualquer outra 
preocupação, dedicar-se a esses assuntos. Tinha já vinte e cinco anos.
Sejam os meus filhos mandados às escolas, a fim de que saibam falar e escrever 
bem segundo as letras; sejam enviados a aprender o ábaco para que saibam 
ocupar-se do comércio; e, se for possível, aprendam os autores, a lógica e a 
filosofia: é isto que desejo; mas não se tornem nem médicos, nem juristas, mas 
só negociantes.
(MANACORDA, 2010, pp. 210-211)
Neste sentido, a educação burguesa era voltada para a especialização, para a ampliação às 
diferentes camadas (veremos isto mais detidamente no capítulo 5) e pela laicidade, separando 
do predomínio eclesiástico o campo educacional. Assim, mestres e escolas formaram-se à 
revelia dos governantes e da Igreja, atendendo especialmente as necessidades das corporações 
de ofícios e dos burgueses. 
Que obra de arte é o homem – Humanismo e a crítica ao 
ensino escolástico
No século XV surgiram as críticas humanistas à educação hegemônica na Idade Média. Defendia-
se um retorno aos clássicos da antiguidade greco-romana, criticava-se o uso da memória e de 
metodologias repetitivas para a aprendizagem, repudiava-se a relação de submissão que se tinha 
aos manuais e compêndios.
O humanismo tinha como principal característica a crença nas potencialidades do homem. Sua 
educação se contrapôs às universidades e seu ensino escolástico, optando como espaço para a 
criação e o debate cultural as novas academias e livre associações.
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A proposta educação humanista passou pela leitura direta dos textos, especialmente os clássicos 
da antiguidade greco-romana; a ênfase na poesia; a quebra do rigor disciplinar que impunha 
castigos físicos e uma rígida separação entre mestres e discípulos; e, especialmente, uma grande 
variedade de áreas do saber. O homem do renascimento prezava pela multiplicidade dos saberes. 
Um grande exemplo deste ideal, você deve conhecer: Leonardo da Vinci, que durante a sua 
vida foi pintor, escultor, astrônomo, engenheiro, arquiteto, inventor e um grande estudioso da 
anatomia humana. 
Outro ponto que Da Vinci ilustrou muito bem foi o momento pelo qual a Europa passava: vemos 
uma mudança de olhar sobre o conhecimento, o início da transição para uma perspectiva 
metodológica e científica (que iremos trabalhar no próximo capítulo) baseada na matemática, 
na mecânica, na observação e na experimentação. Veja exemplos do pensamento de Da Vinci:
Mas parece-me que essas ciências sejam vãs e cheias de erros, porque não 
nasceram da experiência, mãe de toda certeza, nem levam a determinada 
experiência, isto é, sua origem, meio ou fim não passam por nenhum dos cinco 
sentidos...
Nenhuma investigação humana pode ser considerada verdadeira ciência se essa 
não passa pelas demonstrações matemáticas. Aquele que despreza a máxima 
certeza das matemáticas, apascenta-se na confusão e nunca conseguirá acabar 
com a confusão das sofísticas ciência... o que não podem fazer as falsas ciências 
mentais, pelas quais se aprende um eterno gritar.
(MANACORDA, 2010, p. 226)
Figura 13. O homem vitruviano.
Fonte: <https://www.historiadasartes.com/sala-dos-professores/o-homem-vitruviano-leonardo-da-vinci/>. Acesso em: 
30/1/2019.
O Homem Vitruviano, de cerca de 1492, desenhado em lápis e tinta sobre papel, Leonardo da 
Vinci, Gallerie dell’Accademia, Veneza, Itália. 
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CAPÍTULO 2 • COM tODA HUMILDADE E POR AMOR A DEUS, DEvEM APREnDER COM PERSEvERAnçA: EDUCAçãO nA ROMA AntIgA E nA IDADE MÉDIA
Observe que aqui, Da Vinci tenta comprovar a simetria do corpo humano, estudando as suas 
proporções a partir de uma perspectiva matemática. Isto corrobora com a máxima do pensamento 
renascentista: “O homem é a medida de todas as coisas”.
Porém, mais uma vez encontramos um dos questionamentos centrais da história da educação e, 
portanto, da nossa disciplina: para quê e para quem se educa? A educação humanista, embora 
abarcasse um universo de temáticas e disciplinas, e assinalasse para um movimento que visava 
a relação teoria e prática, ainda carregava em si uma cultura livresca, uma valorização do saber 
teórico, que pouco ou quase nada se relacionava com a prática e o cotidiano da grande maioria 
da população. Importante ressaltar também que o movimento humanista esteve particularmente 
restrito a pequenos círculos de nobres, mecenas e eclesiásticos
O interessante aqui é perceber que muitos humanistas fizeram esta autocrítica. Nicolau 
Maquiavel foi um deles. Para o autor do famoso tratado O Príncipe, o saber precisava conduzir 
para

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