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Flávia Licia Mendes de Assis 1 Carcinogênese 1- Caracterizar o processo de Carcinogênese. 1.1 Mecanismo Bases genéticas do câncer O dano genético não letal encontra-se no cerne da carcinogênese; - O dano inicial (mutação) pode ser causada por exposições ambientais, pode ser herdada na linhagem germinativa, ou pode ser espontânea e aleatória; - Ambiental: refere-se a qualquer mutação adquirida causada por agentes exógenos; - Um tumor é formado pela expansão clonal de uma única célula precursora que sofreu dano genético (tumores são clonais); - Alterações no DNA são hereditárias – passadas para as células-filhas → todas as células dentro de um tumor partilham do mesmo conjunto de mutações que estavam presentes no momento da transformação. Genes envolvidos no câncer Quatro classes de genes reguladores normais são os principais alvos de mutações de câncer: ➢ Oncogenes As mutações que ativam proto- oncogenes geralmente causam um aumento excessivo em uma das funções do produto gênico codificado ou confere uma função nova para o produto gênico. Como essas mutações causam “ganho de uma função”, elas podem transformar células apesar da presença de uma cópia normal do mesmo gene. Oncogenes são dominantes em relação as suas contrapartes normais. ➢ Genes supressores de tumor As mutações que afetam os genes supressores de tumor geralmente causam uma “perda de função” e, na maioria dos casos, ambos os alelos devem ser danificados antes que a transformação possa ocorrer. - Genes supressores de tumor com mutação normalmente se comportam de uma forma recessiva; - Algumas vezes, a perda de um simples alelo de um gene supressor de tumor – haploinsuficiência – reduz a atividade da proteína codificada suficientemente para que os freios sobre a proliferação e sobrevida celular sejam liberados. ➢ Genes que regulam a apoptose Genes reguladores de apoptose podem adquirir anomalias que resultam em menos mortes e maior sobrevida das células. Essas alterações incluem mutações de ganho de função em genes cujos produtos suprimem a apoptose e mutações de perda de função em genes cujos produtos promovem a morte celular. ➢ Genes de reparo do DNA Mutações de perda de função que afetam genes de reparo de DNA contribuem indiretamente para a carcinogênese, prejudicando a capacidade da célula de reconhecer e repara danos genéticos não-letais em outros genes. Obs: As células afetadas adquirem mutações a uma taxa acelerada, um estado designado por um fenótipo mutante que é marcada pela instabilidade genômica; A carcinogênese resulta do acúmulo de mutações complementares de forma gradual ao longo do tempo. Atributos fenotípicos do câncer Resultam de alterações genômicas que alteram a expressão e função de genes fundamentais e que lhe conferem um fenótipo maligno ➢ Crescimento excessivo ➢ Invasividade local ➢ Capacidade de formar metástases distantes. As mutações que contribuem para o desenvolvimento do fenótipo são referidas como mutações condutoras: A primeira mutação condutora que inicia uma célula no caminho para a malignidade; ➢ É a mutação iniciadora, que normalmente é mantida em todas as células o câncer subsequente. ➢ O desenvolvimento de um câncer requer que a célula “iniciada”, adquira um número de mutações condutoras adicionais, cada uma da quais contribui também para o desenvolvimento de câncer. ➢ As células iniciadas atuam como células tronco do câncer, que têm capacidade de autorrenovação e persistência a longo prazo. Proto- oncogenes – promotores crescimento Genes supressores de tumor – inibem o crescimento Genes que regulam a apoptose Genes reparo do DNA Flávia Licia Mendes de Assis 2 Células tronco do câncer São responsáveis por originar as diferentes linhagens de células tumorais; ➢ A existência de células-tronco em neoplasias explica a heterogeneidade morfológica da neoplasia. ➢ As células progenitoras têm capacidade limitada de proliferação, admite-se que somente células-tronco do tumor. ➢ Podem permanecer quiescentes no seu nicho, o que, em parte, pode explicar, por exemplo, sua resistência aos quimioterápicos e à radioterapia (que atuam mais em células que estão no ciclo celular). ➢ Aparecimento de metástases tardias após retirada do tumor primitivo, as quais se originam em células- tronco que permanecem quiescentes nos órgãos para os quais migraram. Obs: As mutações que levam à instabilidade genômica não só aumentam a probabilidade de adquirir mutações condutoras, como também aumentam a frequências de mutações que não possuem consequências fenotípicas – mutações passageiras; Ou seja, no momento em que a célula adquire todas as mutações condutoras necessárias para o comportamento maligno, ela pode já possuir centenas ou milhares de mutações adquiridas. Uma vez estabelecidos, tumores evoluem geneticamente durante seu crescimento e progressão sob a pressão de seleção darwiniana. Logo no início, todas as células em um tumor são geneticamente idênticas. No entanto, quando o tumor atrai atenção clinica há competição entre células tumorais para o acesso a nutrientes e nichos microanbientais. - Subclones com capacidade para cobrir seus antecessores tendem a ganhar a seleção natural e dominar a massa tumoral, ou seja, tendência do tumor se tornar mais agressivo (progressão tumoral). Propriedades adquiridas durante a carcinogênese As células neoplásicas adquirem as seguintes características fenotípicas: ____________________________________________________ Autossuficiência nos sinais de crescimento Os tumores apresentam capacidade de proliferação sem estímulos externos, em geral como consequência da ativação de proto-oncogenes, oncogenes e oncoproteínas. Proto- oncogenes: ➢ Possuem múltiplas funções celulares relacionados ao crescimento e proliferação; ➢ Suas proteínas codificadas podem atuar como fatores de crescimento ou como seus receptores, como transdutores de sinal, como fatores de transcrição ou como componentes do ciclo celular. Oncogenes: ➢ Genes que promovem o crescimento celular autônomo nas células cancerosas ➢ São criados por mutações nos proto-oncogenes ➢ Suas contrapartes não mutadas são chamadas proto- oncogenes ➢ Se caracterizam pela capacidade de promover o crescimento celular na ausência de sinais promotores de crescimento normal. Os produtos dos oncogenes são as oncoproteínas: ➢ As oncoproteínas são frequentemente desprovidas de importantes elementos reguladores internos ➢ Suas produções nas células transformadas não dependem de fatores de crescimento ou de outros sinais externos ➢ As oncoproteínas capacitam a célula com a autossuficiência no crescimento ➢ São comparadas a aceleradores que precipitam a replicação de células e seu DNA. Resulta de mutações ativadoras em oncogenes, que são frequentes em: 1) Genes de fatores de crescimento (ex: PDGF); 2) Seus receptores (p. ex., EGFR no carcinoma da mama); 3) Moléculas transdutoras de sinal (ex: RAS no carcinoma colorretal); 4) Amplificação em genes que acionam o ciclo celular (p. ex., ciclina D 1). 1. Fatores de crescimento Necessários para a estimulação de proliferação em células normais. ➢ Muitas células neoplásicas adquirem a habilidade de sintetizar os mesmos F.C., gerando uma alça autócrina; ➢ O próprio gene que codifica o F.C. pode não estar mutado e apenas os produtos de outros Oncogenes que estão ao longo de muitas vias transdutoras de sinal (Ex.: RAS) provocam a superexpressão de genes de F.C. Flávia Licia Mendes de Assis 3 ➢ A produção aumentada de fatores de crescimento, por si só, não é suficiente para a transformação neoplásica;➢ A proliferação provocada por fatores de crescimento contribui para o fenótipo maligno por meio do aumento do risco de mutações espontâneas ou induzidas nas populações celulares em proliferação. 2. Receptor de fator de crescimento Receptores de fator de crescimento são as proteínas transmembrana com um domínio de ligação externa e um domínio citoplasmático do tipo tirosina-cinase. ➢ Vários Oncogenes codificam os receptores de F.C. ➢ Receptores mais importantes -> tirosina cinase. Forma normal ➢ A atividade de cinase do receptor é ativada transitoriamente pela ligação de um fator de crescimento específico para o domínio extracelular, induzindo a rápida mudança da conformação do receptor para um estado ativo dimérico. ➢ O receptor ativado autofosforila os resíduos de tirosina na sua própria cauda intracelular, e esses resíduos modificados servem como locais para o recrutamento de uma série de moléculas se sinalização incluindo a RAS e a PI3K. Forma anormal do receptor – oncoproteínas ➢ Mutações que conduzem à atividade constitutiva de tirosina cinase independente de fatores de crescimento ➢ Receptores mutantes liberam sinais mitogênicos contínuos, mesmo na ausência de fatores de crescimento Mecanismos que ativam receptores tirosina-cinase em tumores: ➢ Mutações pontuais → ERBB1 codifica → EGFR (receptor d fator de crescimento epidérmico) → Resulta na ativação constitutiva da tirosina cinase do EGFR ➢ Rearranjos gênicos → "uma deleção no cromossomo 5 funde parte do gene ALK com a parte de um outro gene chamado EML4 → O gene de fusão resultante EML4-ALK codifica uma proteína quimérica EML4- ALK, com atividade constitutiva tirosina-cinase ➢ Amplificação gênica → ERBB2 codifica → HER2 → leva a superexpressão do receptor HER2 e atividade constitutiva da tirosina-cinase. 3. Proteínas transdutoras de sinais ➢ São proteínas que estão localizadas internamente na membrana plasmática, de onde recebem sinais de fora da célula e os transmitem para o núcleo celular ➢ Oncoproteínas que mimetizam a função de proteínas citoplasmáticas transdutoras de sinais ➢ O exemplo mais bem estudado de uma oncoproteína transdutora de sinal é a família RAS de proteínas de ligação as trifosfato de guanina (GTP) (proteínas G) ➢ Alternam entre um estado ativado de transmissão de sinal no qual são ligadas ao GTP e um estado de repouso no qual são ligadas ao GDP ➢ Via de sinalização da tirosina cinase ➢ Transdutor RAS ➢ Via proteína cinase – MAPK ➢ Via do fosfoinositol -3- cinase (PI3K)/AKT Os cânceres possuem defeitos moleculares que afetam um ou mais componentes dessas vias. ➢ Mutações na RAS ➢ reduzem a atividade GTPase da RAS | perda de função das GAPs ➢ RAS “presa” na forma ligada à GTP ativada → célula recebe continuamente sinais de pró-crescimento 4. Mutações oncogenicas do BRAF e da PI3K Mutações no gene BRAF: ➢ A BRAF é uma proteína cinase serina/treonina que se aloja no topo de uma cascata de outras cinases serina/treonina da família do MAPK ➢ As mutações ativadoras de BRAF estimulam cada uma dessas cinases à jusante e ativam os fatores de transcrição Mutações da família de proteínas PI3K: ➢ O PI3K é um heterodímero composto por uma subunidade reguladora e outra catalítica ➢ As mutações de PI3K afetam as subunidades catalíticas e geralmente resultam em um aumento na atividade enzimática Flávia Licia Mendes de Assis 4 ➢ Regulação do PI3K: regulado negativamente pelo PTEN – ANTAGONISTA ➢ Já o PTEN é um gene supressor de tumor cuja função é perdida através de mutação ou silenciamento epigenético. 5. Fatores de transcrição Os fatores de transcrição contêm sequências de aminoácidos específicos que permitem sua ligação ao DNA: ➢ A ligação dessas proteínas a sequências específicas no DNA genômico ativa a transcrição dos genes ➢ A autonomia do crescimento pode então ocorrer como consequência das mutações que afetam os genes que regulam a transcrição ➢ As vias de transdução de sinal convergem para o núcleo → ativação de genes responsivos que organizam o avanço ordenado da célula através do ciclo mitótico ➢ O resultado final da sinalização através de oncogenes como o RAS ou o ABL é a estimulação inadequada e contínua de fatores de transcrição nucleares que guiam os genes promotores do crescimento ➢ Uma multidão de oncoproteínas, incluindo produtos dos oncogenes MYC, MYB, JUN, FOS e REL, são fatores de transcrição que regulam a expressão de genes promotores do crescimento, como as ciclinas Oncogenes MYC – fator de transcrição mais comum envolvido nos tumores: ➢ Resposta imediata - São rapidamente induzidos quando as células quiescentes recebem um sinal para se dividirem ➢ Acredita-se que o MYC esteja envolvido na carcinogênese através da ativação de genes que estão envolvidos na proliferação ➢ As atividades modulada pelo MYC são muito amplas e incluem: a acetilação das histonas, a redução da adesão celular, o aumento da motilidade celular, o aumento da atividade da telomerase, o aumento da síntese de proteínas, a diminuição da atividade de proteinase e outras alterações no metabolismo celular que permitem uma alta taxa de divisão celular. ➢ A superexpressão do MYC pode levar à ativação de mais fontes do que o necessário para a divisão celular normal, ou superar os pontos de checagem envolvidos na replicação, provocando danos genômicos e acúmulo de mutações ➢ Podem agir em consonância para reprogramar as células somáticas em células-tronco multipotentes ➢ O MYC também pode aumentar a autorrenovação, bloquear a diferenciação, ou ambos ➢ A desregulação da expressão do MYC resultante da translocação do gene ocorre no linfoma de Burkitt, um tumor de células B. Ciclinas e cinases dependentes de ciclinas: ➢ A progressão ordenada das células através do ciclo celular é orquestrada pelas CDKs que são ativadas pela ciclinas e inibidas pelas CKIs ➢ Mutações de ganho de função em genes de ciclina D e CDK4 → oncogenes que promovem a progressão de G1/S ➢ Genes de ciclinas (D, D1, D2 e D3) sofrem translocações cromossômicas e amplificação de genes em várias mutações de cânceres ____________________________________________________ Insensibilidade aos sinais inibidores do crescimento ➢ Os tumores podem não responder a moléculas que inibem a proliferação de células normais, devido a inativação de genes supressores de tumores Os produtos da maioria dos genes supressores de tumores aplicam freios na proliferação celular, e anomalias nesses genes levam à insuficiência da inibição de crescimento; ➢ As proteínas supressoras de tumor formam uma rede de pontos de checagem que evitam o crescimento descontrolado ➢ Muitos supressores de tumor, como RB e p53, são parte de uma rede regulatória que reconhece o estresse genotóxico de qualquer fonte e respondem através da finalização da proliferação Funções dos produtos dos genes supressores de tumor ➢ Fatores de transcrição ➢ Inibidores do ciclo células ➢ Moléculas transdutoras de sinal ➢ Receptores de superfície celular ➢ Reguladores da resposta celular ao dano ao DNA Proteina RB- Reguladora da proliferação ➢ Regulador negativo na transição do ciclo celular G1/S → para o ciclo ➢ Controla a diferenciação celular ➢ Estado ativo – hipofosforilado e inativo – hiperfosforilado Flávia Licia Mendes de Assis 5 ➢ Função pode ser comprometida de 2 formas ➢ Mutações de perda de função envolvendo ambos os alelos do gene RB ➢ Uma mudança do estado ativo hipofosforilado para o estado inativo hiperfosforilado por mutações A perda do controle do ciclo celular normal é fundamental para a transformaçãomaligna ➢ P53 (TPR3 – GENE) ➢ Localizada no cromossomo 17 → são o alvo mais comum de alterações genéticas A p53 desempenha seu papel na prevenção do câncer ➢ Detecta o estresse celular, principalmente danos no DNA, o encurtamento dos telômeros, a hipóxia e o estresse causado pelo excesso de sinalização pró- crescimento (células com mutações de RAS ou MYC) ➢ Uma vez ativada, a p53 impede a transformação neoplásica por indução ou interrupção transitória do ciclo celular, ou morte celular programada (apoptose) Interrupção transitória do ciclo celular induzida por p53: ➢ 1º resposta ➢ Ativa p21 → inibe complexo ciclina-CDK ➢ Essa pausa permite os reparos no DNA – A p53 induz a GADD45 → melhoram o reparo no DNA ➢ Reparos bem sucedidos → os níveis de P53 caem. Apoptose induzida por p53: ➢ Células com danos irreversíveis no DNA; níveis elevados de P53 ➢ A p53 conduz a transcrição de vários genes pró- apoptóticos como o BAX e o PUMA → morte celular por via intrínseca ➢ Com a perda de função da p53, o dano no DNA segue sem ser reparado, as mutações condutoras se acumulam em oncogenes e outros genes, e a célula faz um caminho perigoso às cegas que leva à transformação maligna ➢ Geralmente as mutações estão presentes em ambos os alelos e são adquiridas nas células somáticas ➢ Muitos tumores sem mutações de TP53 apresentam outras mutações que afetam as proteínas que regulam a função da p53 ➢ MDM2 → estimula a degradação (via ubiquitina- proteassoma) da p53. E- CADERINA ➢ Proteina, com 2 funções: Adesão celular, inibição da mobilidade celular ➢ A perda da inibição de contato por mutações no eixo E-caderina/β-catenina é uma característica-chave dos carcinomas ➢ A perda das caderinas pode favorecer o fenótipo maligno por permitir a fácil desagregação das células, que podem então provocar invasão local ou metástase ➢ Bases moleculares da expressão reduzida de E- CADERINA: mutações no gene da e-caderina (CDH1) OU efeito secundário de mutações gene beta-catenina CDKN2A – p16/INK4a e p14/ARF ➢ Função p16/INK4a → Regulador negativo de cinase dependente de ciclina - bloqueia a fosforilação da RB mediada por ciclina D/ CDK2, mantendo o ponto de checagem da RB no seu lugar ➢ Função p14/ARF→ ativador indireto da p53 – inibe a proteína MDM2, evita a destruição da P53 ➢ Logo, a mutação ou silenciamento desse gene → impacto na via RB e na via P53 VIA DE TGF- β ➢ Células normais: inibidor da proliferação → ligação a um complexo de serina-treonina cinase ➢ A sinalização por TGF-β leva à repressão do C-MYC, da CDK2, da CDK4, das ciclinas A e E → DIMINUI FOSFORILAÇÃO RB e interrupção do ciclo celular ➢ Câncer: mutações na via de sinalização do TGF-β → vias mediadas por TGF-β são prejudicadas PTEN ➢ Proteína Homólogo de fosfatase e tensina; associada a membrna ➢ Função: Inibidor da sinalização da PI3K/AKT, logo, age como um freio da via tirosina cinase receptora ➢ Função é perdida por mutação, deleção ou silenciamento epigenético NF1 Flávia Licia Mendes de Assis 6 ➢ Proteina Neurofibromina-1 ➢ Função: Inibidora da sinalização de RAS/MAPK – regula ativação ➢ A neurofibromina facilita a conversão de RAS de seu estado ativo para o estado inativo. Com a perda da função da neurofibromina, a RAS fica aprisionada em seu estado ativo → continua recebendo estimulo NF2 ➢ PROTEINA MERLINA ➢ Função: Estabilidade de citoesqueleto, Via de sinalização Hippo ➢ As células que não possuem tal proteína não são capazes de estabelecer junções célula-célula estáveis e são insensíveis aos sinais de interrupção do crescimento normais PTCH – PATCHED ➢ PTCH1 e PTCH2 são genes supressores de tumor que codificam uma proteína da membrana celular (PATCHED) ➢ Função: Inibidor da sinalização de Hedgehog (regula diversos genes, incluindo o TGF-β, e PDGFRA e PDGFRB) VHL ➢ A proteína VHL é parte de um complexo da ubiquitina ligase ➢ FUNÇÃO: Inibidora dos fatores de transcrição induzidos por hipóxia (p. ex., HIF1α → ativa fatores angiogênicos – fator de crescimento vascular endotelial (VEGF) ➢ A falta de atividade da VHL evita a ubiquitinação e a degradação da HIF1α e está associada a níveis aumentados de fatores de crescimento angiogênicos. ____________________________________________________ Metabolismo celular alterado Um tumor em crescimento necessita de nutrientes em abundância para gerar as unidades fundamentais para fazer novas macromoléculas. Dessa forma, as células tumorais consomem glicose avidamente, importando-a do sangue a uma taxa que pode chegar a ser cem vezes maior do que a das células normais vizinhas. ➢ Apenas uma pequena fração dessa glicose é utilizada para a produção de ATP por fosforilação oxidativa. ➢ Em vez disso, uma grande quantidade de lactato é produzida, e muitos dos átomos de carbono remanescentes da glicose são desviados para serem utilizados na síntese de proteínas, ácidos nucleicos e lipídeos necessários ao crescimento tumoral. Obs: Foi mostrado que essa tendência que as células tumorais têm de desviar a ênfase da fosforilação oxidativa, mesmo quando o oxigênio é abundante, ao mesmo tempo em que consomem elevadas quantidades de glicose, resulta na promoção do crescimen-to dessas células cancerosas, tendo sido denominada efeito Warburg. ____________________________________________________ Evasão da apoptose Os tumores são resistentes à morte celular programada: ➢ A apoptose pode ser iniciada por meio de vias intrínsecas ou extrínsecas, ambas as quais resultam na ativação de uma cascata proteolítica de caspases que destroem a célula ➢ Resulta da inibição de genes próapoptóticos, de hiperexpresão de genes antiapoptóticos ➢ As anomalias de ambas as vias são encontradas em células cancerígenas, mas as lesões que incapacitam a via intrínseca (mitocondrial) parecem ser mais comuns. ➢ A superexpressão de outros membros da família BCL2 como a MCL-1 também está ligada à sobrevida da célula cancerígena e à resistência as drogas. ____________________________________________________ Potencial de replicação ilimitado (imortalidade) Os tumores possuem capacidade proliferativa irrestrita, uma propriedade similar às células-tronco que permite que as células tumorais evitem a senescência celular e a catástrofe mitótica. ➢ Os tumores possuem capacidade proliferativa irrestrita, uma propriedade similar às células-tronco que permite que as células tumorais evitem a senescência celular e a catástrofe mitótica ➢ Insensibilidade a sinais inibidores de mitose e evasão de apoptose e de senescência replicativa conferem às células neoplásicas a propriedade de imortalidade, possibilitando sua multiplicação indefinida ➢ Deve-se a ativação de telomerase (enzima que impede o encurtamento de telômeros), permitindo a duplicação do DNA – EVASÃO SENESCENCIA REPLICATIVA ____________________________________________________ Angiogênese mantida Flávia Licia Mendes de Assis 7 Células tumorais não crescem sem suprimento vascular para trazer oxigênio e nutrientes e remover os produtos do catabolismo. Indução de Angiogênese. ➢ Células tumorais não crescem sem suprimento vascular para trazer oxigênio e nutrientes e remover os produtos do catabolismo. ➢ A vascularização de tumores é essencial para seu crescimento e é controlada pelo equilíbrio entre os fatores angiogênicos e antiangiogênicos que são produzidos pelas células tumorais e estromáticas. ➢ A hipoxia desencadeia a angiogênese através das ações do HIF-1α na transcrição do fator pró- angiogênico VEGF. ➢ Outros fatores regulam a angiogênese: ➢ P53 induz a síntese do inibidorda angiogênese trombospondina-1 ➢ Sinalização de RAS, MYC, e MAPK regula positivamente a expressão de VEGF e estimula a angiogênese. ____________________________________________________ Capacidade de invadir e metastatizar: A capacidade de invadir tecidos, um marco da malignidade, ocorre em quatro etapas: ➢ O relaxamento dos contatos célula-célula, a degradação da MEC, a ligação a novos componentes da MEC e a migração das células tumorais. ➢ Deve-se à ativação de genes que favorecem a produção de metaloproteases (MMP) e inibição de genes que estimulam inibidores de MMP (TIMP) ➢ Em células cancerosas, existem alterações em genes que codificam moléculas de adesão, de modo a facilitar que as células se destaquem da massa primitiva e se desloquem na MEC ➢ Nesse processo, é importante o fenômeno de transição epiteliomesenquimal, em que células ectodérmicas adquirem o fenótipo de células mesenquimais móveis. ____________________________________________________ Capacidade de evadir da resposta imune Não permite o reconhecimento de suas oncoproteínas mutadas. A interação complexa entre células transformadas, células do estroma e células do sistema imunitário, que cria um microambiente supressor da resposta imunitária citotóxica. ____________________________________________________ Instabilidade genômica A instabilidade genômica ocorre quando ambas as cópias dos genes de reparo de DNA são perdidas ➢ Defeitos em três tipos de sistemas de reparo de DNA que contribuem para a instabilidade genômica ➢ Reparo do pareamento errôneo ➢ Reparo de excisão de nucleotídeos ➢ Reparo de recombinação ➢ Por causa de um estresse oxidativo durante a duplicação do DNA, favorece quebras no DNA em sítios frágeis ➢ As lesões induzidas por estresse mitótico não mais emitem sinais para parada do ciclo celular e para apoptose ➢ Instabilidade genômica persistente facilita alterações na regulação genética e epigenética Vias da Carcinogênese ➢ Via Clássica: Mais comum - Associada a mutações numerosas e aditivas em oncogenes, genes supressores de tumor etc... - Em geral, envolve deleções cromossômicas em regiões cruciais. ➢ Via do Fenótipo Mutador: - Relacionada com defeitos no sistema de reparo do DNA (instabilidade genômica). - Esses defeitos favorecem o acúmulo de mutações em sítios críticos que resultam em transformação neoplásica - Em algumas neoplasias, os tumores associados ao fenótipo mutador têm menor atividade proliferativa e, portanto, melhor prognóstico do que os originados pela via clássica. Etapas da carcinogênese Nas diferentes etapas do processo, surgem alterações fenotípicas que podem ser detectadas por aspectos morfológicos ou histoquímicos, o que possibilita a demonstração da evolução de alguns tumores; Iniciação: Corresponde à transformação celular ➢ Mudanças induzidas por cancerígenos físicos, químicos ou biológicos; ➢ A célula iniciada torna-se menos responsiva a: Fatores que inibem a proliferação celular, indutores de diferenciação celular e a apoptose Flávia Licia Mendes de Assis 8 ➢ Não origina tumor ➢ Isoladamente não é tumorigênica, mas, quando seguida de promoção, resulta em tumores; Agentes iniciadores: São substâncias mutagênicas, de ação irreversível, que possui caráter eletrofílico, ou seja, tem afinidade com compostos nucleofílicos (proteínas, RNA e DNA). Por terem ação irreversível, os agentes iniciadores podem gerar tumores quando administrados de uma única vez ou em doses fracionadas (as doses têm efeitos cumulativo e somatório). Processo: Os agentes químicos são capazes de ativar proto- oncogenes ou inativar genes supressores de tumor. - A iniciação corresponde a uma alteração genômica em célula- tronco de baixa replicação que mantém essa alteração nas gerações seguintes. - A célula afetada pelo iniciador e cujo defeito no DNA não foi corrigido precisa sofrer pelo menos uma divisão para que a iniciação ocorra. - Quando estimulada por agentes promotores, começa a proliferar e dá origem às células transformadas. - A iniciação promove alteração irreversível no DNA (mutação). - Uma célula iniciada pode transformar-se em tumor mesmo quando o promotor é aplicado certo tempo depois. Promoção Proliferação ou expansão das células iniciadas ➢ Fenômeno indispensável para a "fixação" da genômica e para o aparecimento da neoplasia. ➢ A multiplicação celular aumenta a probabilidade de novas mutações ➢ É um processo demorado, ao contrário da iniciação. Agentes promotores: São substâncias que têm a capacidade de irritar tecidos e gerar reações inflamatória e proliferativa. - Sua ação é reversível, pois, caso sua aplicação seja interrompida antes de completada a promoção, o efeito não se manifesta - O mais conhecido é o TPA, sabe-se que ele tem a propriedade de modular a expressão gênica, o crescimento e a diferenciação celular - Todo agente que produz hiperplasia pode comportar-se como promotor. Ex: ésteres de forbol, hormônios, medicamentos, calor, traumatismos etc. Obs: Não se liga ao DNA e nem provoca mutações, ao contrário do iniciador. Progressão Modificações biológicas que tornam o câncer cada vez mais agressivo e maligno; ➢ Está relacionada com sucessivas modificações na expressão gênica das células neoplásicas, o que se deve a mutações sucessivas; ➢ A partir do clone original da neoplasia vão surgindo outros, mais ou menos adaptados, que são diferentes sob os aspectos: - Citogenéticos - Imunogenicidade - Velocidade de crescimento - Receptores de superfície - Poder de invasão e metastatização - Resistência a medicamentos. ➢ As células malignas são mais suscetíveis a diversas anormalidades cromossômicas, por serem geneticamente instáveis. A progressão depende de fatores do hospedeiro: ➢ Resposta imunitária: Pois se os novos clones adquirirem forte antigenicidade, provavelmente serão eliminados. ➢ Estado Hormonal: Presente como elemento de evolução em tumores de mama e próstata. 2- Conhecer as principais fatores e síndromes genéticas. 2.1 Externos Química ➢ Hidrocarbonetos policíclicos aromáticos São os carcinógenos químicos mais potentes e os mais estudados. Derivam da combustão incompleta do carvão mineral, petróleo, tabaco etc., sendo todos cancerígenos indiretos; portanto, dependem de ativação prévia por sistemas enzimáticos. Ex: 9,10-dimetil-1,2-benzantraceno (DMBA), metilcolantreno e benzopireno. O mecanismo de atuação é a formação de epóxidos que se ligam ao DNA. - Exposição ao benzopireno resulta em transversão do tipo G:T; - Já o DMBA provoca transição A:G ou C:T. Flávia Licia Mendes de Assis 9 Outro modo de ação mutagênica dos compostos cíclicos é sua propriedade hidrofóbica e planar, por meio da qual se intercalam entre as bases do DNA; distorções provocadas na estrutura da dupla fita de DNA facilitam a ocorrência de inserções/deleções durante a replicação. ➢ Aminas aromáticas Incluem alguns derivados da anilina que, para causarem tumores, precisam sofrer ativação nos hepatócitos pelo sistema citocromo P-450. A β-naftilamina é hidroxilada no fígado e depois conjugada com o ácido glicurônico, que a torna inativa como cancerígeno. No entanto, por ação de uma glicuronidase urinária, libera-se o composto β-hidroxilado, que é oncogênico para o epitélio vesical. ➢ Alquilantes Representam um grupo heterogêneo de substâncias que têm em comum a propriedade de doar um grupo alquila (metila ou etila) a um substrato. São carcinógenos diretos mas de baixa potência. Sua ligação ao O6 da guanina altera a ligação com o hidrogênio, leva a erro de leitura pela DNA polimerasee resulta em transição G:A. Agentes alquilantes podem causar mutações puntiformes no códon 12 do gene RAS. ➢ Aflatoxinas São produzidas por algumas cepas de Aspergillus flavus, um fungo que contamina alimentos, principalmente cereais; A aflatoxina hepatocarcinogênica mais potente é a aflatoxina B1, que é metabolizada no retículo endoplasmático liso, originando o 8,9-epóxido de aflatoxina, que normalmente é transformado em aflatoxicol (por ação da epóxido-hidrolase e da glutationa-S-transferase), que é eliminado na urina. O 8,9-epóxido é nucleofílico, liga-se à guanosina e induz troca desta por timina, no códon 249 do gene TP53, mutação que inativa a proteína p53. Em pessoas com deficiência de epóxido-hidrolase e/ou de glutationa-S-transferase, esse efeito mutagênico da aflatoxina é exacerbado, favorecendo o aparecimento de carcinoma hepatocelular. Radiação Os raios UVB são os mais implicados em tumores da pele. O alvo principal da radiação é o DNA, no qual podem ser produzidas várias alterações, das quais a formação de dímeros de timina é a mais importante. Trata-se da formação de uma mutação puntiforme que pode afetar oncogenes ou genes supressores de tumor; em cânceres humanos ou experimentais, encontram-se mutações nos genes RAS e TP53 associadas a exposição a UVB. Pelo menos em animais, radiação UV estimula linfócitos T supressores a inibir a resposta imunitária, o que também pode favorecer o aparecimento de neoplasias. 2.2 Síndromes ❖ Neoplasia endócrina múltipla tipo I (NEM 1) É uma síndrome hereditária, causada por 1 mutação inativadora do gene que codifica a transcrição da proteína nuclear menin; >500 mutações desse gene foram identificadas. A função exata da menin é desconhecida, mas parece ter efeitos de supressão tumoral. Acredita-se que algumas mutações estão associadas a maior taxa de desenvolvimento de tumores neuroendócrinos pancreáticos, uma taxa mais alta de metástases à distância e doenças mais agressivas. Cerca de 40% dos casos de NEM 1 apresentam tumores em todas as 3 glândulas comprometidas: ➢ Paratireoides ➢ Pâncreas ➢ Hipófise ❖ Neoplasia endócrina múltipla tipo 2A (NEM-2A) É uma síndrome hereditária provocadas por mutações nos genes que codificam o fator de transcrição tirosina-cinase RET, caracterizada por carcinoma medular da tireoide, feocromocitoma, hiperparatireoidismo e, ocasionalmente, liquen amiloide. As características clínicas dependem dos elementos glandulares afetados. O carcinoma medular familiar da tireoide é uma variante distinta da NEM-2A. ❖ Li Fraumeni É considerada uma síndrome rara. Se caracteriza pelo risco aumentado de tumores múltiplos, incluindo osteossarcoma, câncer de mama, câncer de intestino, carcinoma adrenocortical, leucemia, linfoma e câncer cerebral. É causada por mutações na linha germinativa do gene supressor de tumor P53, detectável na grande maioria dos pacientes. Essa é uma síndrome altamente penetrante, o que significa que os portadores têm 90% de chance de ter câncer até os 60 anos. ❖ Polipose adenomatosa familiar Flávia Licia Mendes de Assis 10 É uma desordem hereditária autossômica dominante provocada por uma mutação do gene supressor de tumor da polipose adenomatosa colônica (APC) APC: É um membro da classe de supressores de tumores que funcionam através da regulação negativa das vias de sinalização promotora de crescimento – faz a inibição da sinalização WNT; WNT: Papel principal no controle do destino celular, na adesão e na polaridade celular durante o desenvolvimento embrionário Mutações de perda de função nas linhagens germinativas envolvendo o lócus do APC (5q21) estão associadas à polipose adenomatosa familiar → todos os indivíduos nascidos com alelo mutante desenvolvem milhares de pólipos adenomatosos no cólon. ❖ Retinoblastoma na infância Portadores de um gene supressor de tumor RB mutante possuem um aumento de 10.000 vezes no risco de desenvolver um retinoblastoma. - Possuem um risco grandemente aumentado de desenvolver um segundo câncer, particularmente o osteossarcoma. ❖ Xeroderma pigmentoso (XP) É um distúrbio autossômico recessivo do reparo do DNA, que causa uma acentuada sensibilidade à radiação ultravioleta (UV). O XP é causado por mutações que afetam, principalmente, a via de reparo global do genoma por excisão de nucleotídeos. Essa via é a responsável pela correção de lesões volumosas na dupla-hélice de DNA, como os dímeros de pirimidina. No caso do xeroderma pigmentoso, é afetada uma endonuclease responsável pela primeira etapa desse reparo e, assim, impede o reparo direto causado pela formação de dímeros de pirimidina provenientes da exposição à luz solar. Com isso, o indivíduo tem aumento do risco do desenvolvimento de tumores malignos de pele. ❖ Ataxia-telangiectasia (AT/ Louis-Bar) É uma doença autossômica recessiva, as mutações acometem o gene da proteína ataxia-telangiectasia mutada (ATM). Estas são proteínas quinases que, em condições normais, percebem as lesões no DNA e aumentam a atividade das enzimas de reparo adequadas. A ATM está envolvida na geração de sinais intracelulares que soam como alarme em resposta a diversos tipos de lesões no DNA e promovem a fosforilação de uma série de outras proteínas que estão envolvidas tanto com reparo quanto com o avanço do ciclo celular. ❖ Síndrome de Bloom É uma doença autossômica recessiva, causada pela perda de atividade do gene BML, que codifica uma DNA helicase, que são as proteínas responsáveis pelo desenrolamento da dupla hélice de DNA durante a replicação. A falta do produto do gene BML parece desestabilizar outras enzimas que participam da replicação, do reparo e da recombinação homóloga.
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