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TEORIA E PRÁTICA DA NEUROPSICOPEDAGOGIA 1 Sumário NOSSA HISTÓRIA ................................................................................. 2 UM OLHAR TEORICO ........................................................................... 3 A Neuropsicopedagogia no Contexto Escolar ......................................... 3 Alfabetização Com Auxílio da NeuroPsicoPedagogia ......................... 5 A Contribuição dos Pais na Aprendizagem de Alunos que Apresentaram Baixo Rendimento Escolar ............................................................................ 7 Neurociência: Compreendendo o Funcionamento do Sistema Nervoso .................................................................................................................... 10 UM OLHAR MAIS PRATICO A NEUROEDUCAÇÃO E SUAS CONTRIBUIÇÕES ÀS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS CONTEMPORÂNEAS ... 13 SENTIDOS DA INTERVENÇÃO NEUROPSICOPEDAGÓGICA NAS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA PRÉ-ESCOLA ......................... 22 REFERÊNCIAS .................................................................................... 39 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 UM OLHAR TEORICO A Neuropsicopedagogia no Contexto Escolar A Neuropsicopedagogia é um campo do conhecimento que interage de modo coerente com outros conhecimentos e princípios de diferentes partes das Ciências Humanas: Psicológicas, pedagógicas, sociológicas, antropológicas, entre outras, desconstruindo o fracasso escolar, entendendo o erro apresentado pelo indivíduo no processo de construção do seu conhecimento, da aprendizagem significativa e suas interações como fator importante no desenvolvimento das habilidades cognitivas. Desta forma, o profissional da Neuropsicopedagogia assume papel de importância na abordagem e solução do problema da dificuldade de aprendizagem na fase de alfabetização. Como aprender a ler é para a criança enfrentar novos desafios em relação ao conhecimento linguístico, esta tarefa se torna complexa exigindo um trabalho de equipe multidisciplinar cujo objetivo é identificar quais as causas das dificuldades de aprendizagem onde a etiologia da problemática pode ser fundamentada nos vários tipos de transtornos biopsico e sociofamiliar. As dificuldades existentes neste processo são esperadas, pois a relação do sucesso na aprendizagem da leitura e das habilidades intelectuais deve ser considerada. Crianças que apresentam grandes habilidades intelectuais, com certeza terão maiores facilidades para aprender a ler e escrever, ao compararmos com as que têm menores habilidades. Outro fator a ser considerado é a aprendizagem significativa onde os novos conhecimentos que se adquirem relacionam-se com o conhecimento prévio que o aluno possui, cabe ressaltar que este é um processo dinâmico em que o novo conceito formado passa a ser um novo conhecimento que pode servir de futuro ancoradouro para novas aprendizagens (AUSUBEL et al., 1980; MOREIRA, 1999a, 1999b). https://psicologado.com/abordagens/psicologia-cognitiva/a-neuropsicopedagogia-no-contexto-escolar 4 O conhecimento pré-existente na estrutura cognitiva do aluno, Ausubel denominou subsunçor, ou seja, subsunçor é todo o conhecimento prévio do aprendiz que pode servir de ancoragem para uma nova informação relevante para o mesmo; desse modo, existindo uma relação substantiva entre os dois temos a aprendizagem significativa, sem dúvida alguma, um procedimento pedagógico eficaz a ser utilizado em educação. Alguns educadores defendem que os alunos devem aprender significativamente. O conhecimento de linguagem oral que a criança já trás consigo é extremamente importante para seu aprendizado. Pesquisas bibliográficas mostram que este conhecimento deve ser aproveitado pelo educador como forma de interação verbal. O aprendizado deve acontecer nos três espaços da criança: Escola, família e sociedade. Muitas vezes, se supõe, que os problemas socioeconômicos da atualidade e a desestrutura familiar (separação/divórcio) impede a presença ativa dos pais na escola aumentando assim o índice de indisciplina, dificuldades educacionais e, consequentemente a isso, a evasão escolar, problemas que poderiam ser amenizados se a família interagisse mais na vida escolar dos filhos. Comete-se um erro grave quando se pensa que a aprendizagem começa na idade escolar; a verdade é que antes de entrar na escola a criança já desenvolve hipóteses e tem certo conhecimento sobre o mundo, apresentando assim um conteúdo significativo no contexto da aprendizagem. Sabe-se que a influência familiar é fator determinante e decisivo na aprendizagem dos alunos. Pais ausentes, que nunca se interessam pelo dia-a- dia dos filhos, tanto no âmbito escolar como sociofamiliar, expõe estas crianças a conviverem com sentimentos de desvalorização e carência afetiva, gerando desconfiança, insegurança, improdutividade e desinteresse, e consequentemente deixando marcas profundas nestes alunos, que futuramente encontrarão mais dificuldades no processo pedagógico da aprendizagem escolar. 5 A responsabilidade que a sociedade coloca na escola vem desencadeando a inversão de valores. Muitos pais acham que a educação familiar não tem relação com a educação escolar, quando na verdade é justamente o contrário, ou seja, a educação escolar que é um complemento da educação adquirida na família. Alfabetização Com Auxílio da NeuroPsicoPedagogia O processo da alfabetização engloba o desenvolvimento de um conjunto de competências que farão fluir o ler e escrever, obedecendo a uma sequência pré-estabelecida por um currículo de alfabetização, que direcionará o aprender a aprender (metacognição). Segundo Vygotsky, (1988), na etapa inicial da escolarização o aluno está aprendendo a ler; a prioridade, a atenção e o esforço se concentram em quebrar, decifrar o código alfabético, entender o que significam os sinais gráficos, e que palavras querem representar, esta é a etapa do aprender a ler. Na segunda etapa o aluno já decodifica as palavras sem esforço e é capaz de lê-las com fluência, ele vai ler para aprender: aprender o significado das palavras, os conceitos transmitidos num determinado texto, descobrindo novos horizontes. O professor possui papel ativo, sendo capaz de desafiar o aluno para que este se sinta cada vez mais hábil ao realizar uma tarefa considerada difícil. Os educadores detêm o conhecimento, sendo preciso usar diferentes estratégias (metodologias) para alcançar os objetivos propostos, pois os educandos ao serem alfabetizados se diferenciam no que se refere ao tempo e espaço. O que Fazer com Alunos que Parecem não Aprender? Autores renomados ensinamque vários aspectos merecem ser considerados, mas um deles é fundamental: essas crianças precisam de acompanhamento diferenciado e próximo. Mesmo que contem com a ajuda dos colegas nas propostas em duplas, é indispensável a intervenção direta e 6 constante do professor. O apoio será importante, em certos momentos, para incentivá-los a continuar manifestando suas ideias. A relação que se estabelece com a criança e com o que ela produz é fundamental para que ela se sinta capaz de aprender. Em outros momentos, porém, cabem intervenções mais explícitas para que fiquem atentas às características do sistema de escrita. A escola como modo de socialização específico e como lugar onde se estabelecem as formas específicas de relações sociais; ao mesmo tempo que transmite os saberes, os conhecimentos, está fundamentalmente ligada as formas de exercício do poder. Isto não é somente verdade da escola: todo modo de socialização, toda forma de relação social implica ao mesmo tempo na apropriação de saberes (constituídos ou não como tais como saberes objetivados, explícitos, sistematizados, codificados) e a aprendizagem de relações de poder. (Vincent, 1994, p.14) Ainda segundo Gimeno Sacristán (2000, p.211), (...) um método se caracteriza pelas tarefas dominantes que propõe a professores e alunos. Um modelo de ensino, quando se realiza dentro de um sistema educativo se concretiza numa gama particular de tarefas que tem um significado determinado. Uma jornada escolar ou qualquer período de horário diário é uma concatenação singular de tarefas dos alunos e do professor. Por essa óptica, afirma o autor, o número, a variedade e a sequência de tarefas, bem como as peculiaridades na sua aplicação e no sentido que elas assumem para professores e alunos, junto com sua coerência dentro da filosofia educativa adaptada, definem a singularidade metodológica que se pratica em classe. Jogos Educativos Por que utilizar jogos educativos no processo ensino aprendizagem? Piaget e Vygotsky são unânimes em suas teorias sobre a importância da utilização dos jogos no processo de ensino aprendizagem. Para Piaget (1978, p. 370) os jogos têm dupla função: 7 Consolidam as estruturas já formadas (aprendizagens significativas) Dão prazer e/ou equilíbrio emocional à criança. Ele classifica os jogos em várias fases de acordo com as estruturas mentais. As crianças do Ensino Fundamental I (6 a 10 anos) se encontram nas fases pré-operatório e operatório concreto, tornando-se imprescindível o contato com o objeto de aprendizagem o que é favorecido através da utilização de jogos. Vygotsky (2001, p. 59-83 e p. 119-142), realça a influência do lúdico no desenvolvimento infantil, por meio deles as crianças aprendem a agir, tem a curiosidade estimulada e adquirem iniciativa e autoconfiança, proporcionando o desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da concentração. O processo de compreensão da natureza alfabética do sistema de escrita desenvolve nas crianças mecanismos de leitura e de escrita de palavras. Apesar de muitas delas aprenderem esses mecanismos com relativa facilidade, o desenvolvimento das habilidades relacionadas à leitura e à escrita de palavras leva tempo e requer treino por parte das crianças. Para isso, um conjunto de atividades de leitura e escrita de palavras e frases deve fazer parte do planejamento pedagógico das professoras desde o primeiro ano do Ensino Fundamental. A Contribuição dos Pais na Aprendizagem de Alunos que Apresentaram Baixo Rendimento Escolar Sabendo que as dificuldades de aprendizagem e de comportamento vêm crescendo assustadoramente nas escolas, muitos pesquisadores têm direcionado as suas pesquisas para este tema, enfocando a importância da família na aprendizagem escolar. Os resultados obtidos deixam claro que a família tem uma influência muito grande no desempenho escolar dos filhos, podendo intervir no sentido de motivar os alunos para frequentarem a escola, bem como auxiliá-los no desenvolvimento de suas competências e habilidades, através de um relacionamento amigável com os colegas e professores. 8 Segundo vários autores, os pais precisam estar envolvidos com os filhos e com a escola, tendo conhecimento das dificuldades de aprendizagem enfrentadas pelas crianças para poder ajudá-las visando um desenvolvimento global, onde esteja incluída e educação escolar, a social e a formação intelectual do aluno. FUNAYAMA (2005, p. 27-28) nos diz que existem pais que infantilizam a criança e o problema, não se preocupando com as dificuldades dos filhos. SMITH; STRICK (2001, p. 17) nos dizem ser extremamente importante que o pai de crianças com dificuldades de aprendizagem se alie a escola, para que possam trabalhar um plano de desenvolvimento apropriado, voltado para estes alunos, no intuito de garantir as necessidades educacionais de seus filhos. Acreditando que com o passar dos anos o problema se resolverá automaticamente, esses pais só procuram ajuda especializada quando a situação se agrava e o nível de conhecimento e aprendizagem se apresentam muito abaixo do esperado, podendo ser obrigados a repetir o ano letivo. Os pais precisam se conscientizar, que se a criança tem dificuldades para realizar suas tarefas, precisando da ajuda ou da confirmação de outras pessoas, e se junto a isso apresentar algum problema de relacionamento com os colegas, é necessário que procurem ajuda, para que sejam analisados os motivos que levam a este comportamento e assim evitar futuros problemas educacionais dos filhos. Os filhos só seguirão as regras se entenderem o motivo delas. Do mesmo modo, só respeitarão os limites que conhecerem. Caso contrário, farão tudo a seu modo. Por meio de regras claras e bem estabelecidas em casa, o filho saberá exatamente qual é a forma correta de falar, de pensar, de raciocinar e de agir em cada caso, isso dará a ele segurança e tranquilidade. Ter limites bem definidos fará com que ele saiba até que ponto pode ir, e isso lhe trará responsabilidade e caráter. As autoras SMITH; STRICK (2001, p. 36) ainda nos dizem que as crianças com dificuldades de aprendizagem, podem ser brilhantes, criativas e talentosas 9 em outras áreas, mas em nossa sociedade, onde se valoriza muito o desempenho escolar, estas crianças sentem-se fracassadas, principalmente se comparando com as crianças que apresentam um melhor desenvolvimento cognitivo, criando assim um bloqueio cada vez mais acentuado no seu processo de aprendizagem. Paralelo à sociedade, que busca cada vez mais o êxito profissional e a competência a qualquer custo, a escola também segue esta concepção. Aqueles que não conseguem responder às exigências da instituição podem sofrer com um problema de aprendizagem. A busca incansável e imediata pela perfeição leva à rotulação daqueles que não se encaixam nos parâmetros impostos. Para evitar que o aprendizado escolar se torne um paradoxo, os pais têm a responsabilidade e o dever de traçar as regras e os limites, em casa, no intuito de que seus filhos aprendam o respeito e cresçam conhecendo valores éticos e morais. Assim, é preciso entender: há uma grande diferença entre criança “ativa” e criança “mal-educada”. Crianças precisam ter vivacidade, devem brincar, perguntar e até mesmo fazer bagunça. O problema surge quando essas atitudes passam dos limites, quando o filho não respeita aquilo que os pais consideram o mais correto para ele. Os pais têm o dever de educar os filhos. Isso significa, inicialmente, impor as regras essenciais ao seu bom convívio em casa e, em seguida, na sociedade como um todo. Estabelecer horários e agir de modo que deixe claro para as crianças a existência de autoridade e de limites dentro de casa, ajuda a desenvolver elementos fundamentais na formação do caráter. TIBA,(2002, p.183) nos diz que se houver uma parceria entre família e escola, se as duas partes falarem a mesma linguagem e apresentarem valores semelhantes a criança aprenderá sem grandes conflitos. É importante ressaltar que o papel que a família representa na educação da criança é fator primordial na formação da autoestima, e consequentemente na aprendizagem do educando, oportunizando lhes o crescimento como sujeitos capazes de auxiliar na construção de uma sociedade livre e democrática. Quando a família não 10 demonstra interesse nos filhos e na sua vida escolar, a criança não consegue progredir nos estudos, portanto, as crianças aprendem a comportar-se em sociedade ao conviver com outras pessoas, principalmente com os próprios pais. A maioria dos comportamentos infantis é aprendida por meio de imitação, da experimentação e da invenção. A criança precisa receber regras claras e objetivas, que premiam a boa conduta e disciplinam a má, sem gritos nem agressões, apenas fazendo com que as regras sejam respeitadas. Existe uma diferença entre castigo e disciplina. Castigo é punição, agressão, enquanto disciplina é ensino. Educar é transmitir vida. Fazer ameaças às crianças também não resolve, pois nem sempre os pais as cumprem, o que acaba ocasionando perda de autoridade. Assumir a autoridade não tem nada a ver com gritos ou uso de violência. Não é esse o caminho para educar. É preciso ser firme no momento de mostrar os limites às crianças, mas também ser amoroso na hora certa para que elas saibam que as regras lhe estão sendo impostas porque você as ama. Neurociência: Compreendendo o Funcionamento do Sistema Nervoso A Neurociência busca compreender o funcionamento do sistema nervoso, integrando suas diversas funções (movimento, sensação, emoção, pensamento, entre outras). Sabe-se que o sistema nervoso é plástico, ou seja, é capaz de se modificar sob a ação de estímulos ambientais. Esse processo, denominado de plasticidade do sistema nervoso, ocorre graças à formação de novos circuitos neurais, à reconfiguração da árvore dendrítica e à alteração na atividade sináptica de um determinado circuito ou grupo de neurônios. É essa característica de constante transformação do sistema nervoso que nos permite adquirir novas habilidades psicomotriciais, cognitivas e emocionais, e aperfeiçoar as já existentes. O Sistema Nervoso Central é constituído pelo encéfalo e pela medula espinhal, tem um papel fundamental no controle dos sistemas do corpo. As 11 principais partes do encéfalo são: cérebro, tálamo, hipotálamo, mesencéfalo, ponte, cerebelo e a medula oblonga. O cérebro é o centro de controle do sistema nervoso, é a parte mais desenvolvida e a mais volumosa do encéfalo, ele recebe aproximadamente 20% de todo o sangue que é bombeado pelo coração. Apresenta duas substâncias diferentes: uma branca que ocupa o centro e outra cinzenta, que forma o córtex cerebral. O córtex cerebral está dividido em mais de 40 áreas funcionalmente distintas, sendo que cada uma delas controla uma atividade específica. O cérebro se divide em duas metades, o hemisfério esquerdo e o hemisfério direito. O lobo frontal é o responsável pela cognição, o aprendizado. Segundo a Psicopedagoga Maria Irene Maluf em entrevista a Direcional Educador: "O estudo das neurociências deveria ser aplicado nos cursos de especialização de professores". Defende que "não existe aprendizagem que não passe pelo cérebro, a ciência a neurociência e a neuroaprendizagem, através de neuroimagens, são elementos importantes para evitar o fracasso escolar". Afirma que conhecer o funcionamento do cérebro e do Sistema Nervoso é fundamental para entender o processo da aprendizagem. Maluf, (2005), destaca a necessidade de ajustes às características etárias especificas dos alunos para atingir o sucesso escolar. A plasticidade neural é maior nas regiões cerebrais encarregadas da aprendizagem e as áreas do córtex cerebral são simultaneamente ativadas durante a aprendizagem, fatores importantes que devem ser conhecidos pelos profissionais da educação. Os professores terão mais sucesso na arte de ensinar estudando como o cérebro aprende e utilizando estes conhecimentos na educação (grifos da autora). Maluf, (2005), defende que o sucesso escolar depende do apoio familiar como sustentáculo biológico, social e emocional da criança. O apoio aos professores e à escola é indispensável para ajudar no desenvolvimento da capacidade de aprender e alcançar a condição de autonomia, objetivo maior da educação. 12 Conhecer o funcionamento cerebral é fundamental para compreender como se dá a aprendizagem de todas as pessoas, em todas as idades e situações, especialmente na escola, frente à educação formal. Mas é importante ressaltar que como a Neurociência cognitiva objetiva estudar e estabelecer relações entre cérebro e cognição principalmente em áreas relevantes para a educação, o diagnóstico precoce de transtornos de aprendizagem está entre as prioridades da Neuroaprendizagem, o que revelará também melhores métodos pedagógicos de desenvolver a aquisição de informações e conhecimentos em crianças com transtornos e dificuldades do aprender, assim como a identificação de seus estilos individuais de aprendizagem no contexto escolar. Isso tudo se deve primordialmente às descobertas neurocientíficas em torno de como se desenvolvem a atenção, a memória, a linguagem, a emoção e cognição, o que traz valiosas contribuições para se alcançar a educação. (MALUF, 2005). Diante desse complexo sistema neural é que a estrutura pedagógica escolar deve apresentar seu conteúdo programático, sua dinâmica de grupo com a classe e sua dinâmica individual com alunos que apresentam diversidade cognitiva à maioria dos alunos. A didática deve ser direcionada e seletiva procurando compreender se a dificuldade de aprendizagem tem alguma ligação com o ambiente sociofamiliar ou trata-se de um fator de distúrbio neurológico. Considerando a teoria e a dinâmica pedagógica apresentada pelas obras literárias dos autores consultados, cresce a necessidade de reconhecer a importância e incorporar o conhecimento do funcionamento do sistema nervoso e seu desenvolvimento, na prática pedagógica do educador. Analisar a utilização dos recursos Neurocientíficos da Neuropsicopedagogia como fator de identificação das dificuldades na aprendizagem escolar, verificando junto aos professores e coordenadores a estruturação pedagógica, material e metodológica, respeitando o desenvolvimento e as diferenças cognitivas dos alunos. Nessa perspectiva, as experiências, saberes e conhecimentos construídos na educação infantil, supõe-se, sobretudo, servir de parâmetro para as práticas e as intervenções pedagógicas que se pretende construir no novo Ensino Fundamental. Uma questão a ser considerada refere-se ao respeito a 13 essa criança e a seu tempo de vida. Segundo os autores consultados, a escolarização obrigatória não pode dar excessiva centralidade aos conteúdos pedagógicos em detrimento do sujeito e de suas formas de socialização. Essa proposição ganha especial destaque, principalmente se considerarmos as características das sociedades contemporâneas onde a aprendizagem significativa (subsunções) propicia maior desenvolvimento cognitivo. Por outro lado, não podemos perder de vista o direito desse segmento da população ao conhecimento, em particular, o direito de acesso à linguagem escrita. A criança é um sujeito que interage com outros grupos sociais e com suas produções simbólicas, e a linguagem escrita é uma dessas produções com as quais as crianças têm, desde muito pequenas, uma familiaridade e uma curiosidade para conhecer e dela se apropriar. Entretanto, as famílias e os profissionais da educação sabem que assegurar o aprendizadoda leitura e da escrita tem sido um dos maiores desafios para a escola, principalmente considerando que a educação integral deve acontecer nos três espaços da criança: escola, família e sociedade. UM OLHAR MAIS PRATICO A NEUROEDUCAÇÃO E SUAS CONTRIBUIÇÕES ÀS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS CONTEMPORÂNEAS A tarefa de educar dentro da modernidade tem exigido de seus educadores cada vez mais esforços para atender a demanda que lhe é proposta, desde uma boa preparação teórica, ou seja, sua formação, até a incessante busca de atualização profissional e dedicação ao seu respectivo trabalho. O processo de aprendizagem é imprescindível em qualquer etapa na vida do ser humano, bem como, vem se desenvolvendo desde os primórdios de sua vida. A neurociência tem demonstrado o quão promissora pode ser uma parceria 14 com a educação, trazendo todo o seu conjunto de saberes sobre o Sistema Nervoso Central, local onde tudo acontece, desde os comportamentos, pensamentos, emoções e movimentos, e é a partir dos conhecimentos desta área que a educação pode ter um salto quando se fala em efetividade e eficácia, levando em consideração que a partir do surgimento e avanço da neurociência foi possível fornecer melhorias na qualidade de vida da sociedade atual, disponibilizando tratamentos efetivos para variados distúrbios neurológicos, ou seja, contribuiu e tem contribuído significativamente para o desenvolvimento de soluções de diversos transtornos e doenças, incluindo os problemas educacionais. Diante dos avanços tecnológicos e o aumento das pesquisas em neurociência cognitiva, os pesquisadores têm feito descobertas promissoras de como são feitas as conexões neurais que possibilitam o processo de aprendizagem, trazendo também conceitos de plasticidade cerebral que é inerente a este processo, como afirma Rotta (2007), a aprendizagem modifica o sistema nervoso central, e isso nos faz pensar em plasticidade cerebral que é um processo adaptativo dando ao indivíduo possibilidades de aprender, mesmo frente às novas situações ambientais; o que, além disso, tem trazido contribuições de como a mesma pode ser estimulada de forma mais efetiva dentro da educação. Em suma, o princípio básico que rege o neurocientista é a compreensão da maneira como se desenvolvem, a partir de estímulos externos, os mecanismos cerebrais, provendo o desenvolvimento de novas potencialidades. Em geral, esse profissional investiga a dinâmica de integração do sujeito ao ambiente externo, observando e detectando os processos bioquímicos e moleculares internos resultantes desta relação, e as respostas decorrentes disto. Mediante a emergência da neuroeducação na atualidade, o estudo foi realizado como meio de constatar se a mesma pode direcionar de forma eficaz a aprendizagem infantil, tendo também em vista a necessidade de refletir sobre 15 a urgência de disseminar suas potencialidades, fundamentando a pesquisa educacional baseada em metodologia científica. Objetivou-se apontar quais contribuições que a neuroeducação pode oferecer para os processos de ensino- aprendizagem, não como uma forma mágica de acabar com todos os problemas relacionados a educação, mas como uma ferramenta útil que traga o embasamento teórico-científico que possa melhorar o aprendizado, assim como, estimular de forma adequada e diferenciada as potencialidades da criança que cada dia se transforma dentro da modernidade a qual está inserida. A pesquisa foi realizada a partir de uma análise sistemática de livros e periódicos publicados na base de dados Scielo com as palavras chaves: neuroeducação, neurociências e psicologia educacional, sendo de caráter qualitativo, pois acreditamos que através da análise e compreensão dos estudos realizados em livros e periódicos que tratam deste tema, proporcionaremos um esclarecimento maior sobre a questão, de modo a oferecer melhorias no desempenho profissional. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Com as transformações percebidas ao longo dos anos, como a diversidade de alunos com diferentes crenças e etnias; as mudanças culturais; os avanços tecnológicos; as mudanças na estrutura familiar, as quais podem promover ou não para um bom desempenho cognitivo, poder-se-ia perceber desde então os reflexos dessas transformações dentro do âmbito escolar, e consequentemente a necessidade de atualização das práticas educacionais, tanto para que a aprendizagem fosse de fato efetiva dentro das salas de aula, como para preparar estes alunos para as transformações dentro da contemporaneidade. A psicologia foi uma das ciências que começou a contribuir para o processo educacional de aprendizagem, trazendo seu rico arcabouço teórico sobre o comportamento humano, aspectos motivacionais, emocionais, afetivos, 16 e a importância da formação de vínculos, entre outros processos envolvidos na aprendizagem. Quando a psicologia estabeleceu pontes com as neurociências, trazendo abordagens diferenciadas, tanto a pedagogia, como as outras áreas envolvidas no processo educacional, percebendo a necessidade de reanalisar os processos educacionais, começaram a pensar no ser humano a partir de um olhar sistêmico. As áreas que antes agiam independentes uma das outras, começaram a fazer ricas interlocuções, formando uma interdisciplinaridade que mais tarde adquiriu o nome de neuroeducação. A Neuroeducação começa a ganhar corpo, se caracterizando como um campo multi e interdisciplinar, que oferece novas possibilidades tanto à docência, como a pesquisa educacional com a finalidade de abordar o conhecimento e a inteligência, integrando três áreas: a Psicologia, a Educação e as Neurociências, incluindo as áreas que se formaram com a junção dos campos, como a: Neuropsicopedagogia, Neuropsicologia e Psicopedagogia. A NEUROEDUCAÇÃO COMO INTERVENÇÃO A compreensão de como se dá o processo de construção do conhecimento oferece a possibilidade de ações que promovam o desenvolvimento cognitivo dos estudantes. Entender todos os mecanismos envolvidos neste processo, significa se implicar em uma tarefa que por vezes, não é fácil, mas produtiva e gratificante. Para que a aprendizagem seja possível, é necessário ter bem estabelecidos e estimulados mecanismos de atenção, memória e esquecimento, linguagem, ter uma boa alimentação e sono de qualidade, entre outros, esse movimento leva em consideração todos os aspectos do indivíduo, o biológico, social, psicológico, cognitivo. A psicologia cognitiva desde seus primórdios vem tratando destes conceitos, avançando em pesquisas que investigam suas variações e como podem ser estimuladas. A compreensão dos mecanismos do cérebro que estão na base da aprendizagem e da memória, e dos efeitos da genética, do ambiente, das emoções e da idade 17 em que se aprende, pode ser transformada em estratégias educacionais (BLAKEMORE; FRITH, 2009, p. 11). [...] enquanto milhares de estudos foram devotados para explicar vários aspectos da neurociência (como animais, incluindo humanos, aprendem), apenas uns poucos estudos neurocientíficos tentaram explicar como os humanos deveriam ser ensinados, para maximizar o aprendizado. (...) das centenas de dissertações devotadas ao ‘ensino baseado no cérebro’, ou ‘métodos neurocientíficos de aprendizado’, nos últimos cinco anos, a maioria documentou a aplicação destas técnicas, ao invés de justificá-las” (ESPINOSA, 2008, p. 117). São postulados por Espinosa (2008) 14 princípios da neuroeducação, nos quais articulariam diretrizes das respectivas áreas estruturadoras, psicologia, neurociências e educação: [...] estudantes aprendem melhor quando são altamente motivados do que quando não têm motivação; stress impacta aprendizado; ansiedade bloqueia oportunidades de aprendizado; estados depressivos podem impedir aprendizado;o tom de voz de outras pessoas é rapidamente julgado no cérebro como ameaçador ou não-ameaçador; as faces das pessoas são julgadas quase que instantaneamente (i.e., intenções boas ou más); feedback é importante para o aprendizado; emoções têm papel-chave no aprendizado; movimento pode potencializar o aprendizado; humor pode potencializar as oportunidades de aprendizado; nutrição impacta o aprendizado; sono impacta consolidação de memória; estilos de aprendizado (preferências cognitivas) são devidas à estrutura única do cérebro de cada indivíduo; diferenciação nas práticas de sala de aula são justificadas pelas diferentes inteligências dos alunos (ESPINOSA, 2008, p. 78). Para Seixas (2014) uma clarificação sobre os processos, fases, mecanismos de como realmente acontece o desenvolvimento cerebral e os processos diretamente envolvidos na aprendizagem, ou seja, as descrições dos 18 principais estágios de desenvolvimento cerebral, incluindo as fases da formação (neogênese) e migração neuronal, da proliferação dos axónios e dendritos, da sinaptogênese (que permite a comunicação entre neurónios), da mielinização (que permite agilizar a comunicação entre os neurónios), da poda sináptica (onde, face ao excesso de sinapses inicial, as sinapses inúteis são, posteriormente, “podadas”) e, por fim, da apoptose (conhecida como morte celular), se fazem imprescindíveis (SEIXAS, 2004). Guerra (2011) centrada nos desafios e possibilidades de articulação entre as neurociências e a educação, e realçando os avanços na produção de conhecimento ao nível do funcionamento do sistema nervoso, defende que uma prática pedagógica que respeita a forma como o cérebro funciona, se evidencia mais eficiente. A partir dos estudos pôde-se tomar conhecimento do que passou a ser chamados períodos sensíveis, ou janelas de oportunidades, ou seja, são épocas em que o cérebro está orientado para aprendizagem, há um favorecimento para o estabelecimento de conexões entre as distintas áreas cerebrais, imbricadas nos processos cognitivos. O conhecimento destes períodos e exploração de suas respectivas habilidades podem ter resultados surpreendentes a curto, médio e longo prazo. Bartoszeck (2009) ressalta que o termo janelas de oportunidades em muitas mídias tem aparecido de maneira inadequada, sendo consideradas janelas que poderiam se fechar caso não fossem tomadas medidas urgentes nestes períodos ou que não haveria mais possibilidade de ocorrer o aprendizado. Esse período ao qual foi disseminada a ideia errônea em que o cérebro só poderia ser estimulado naquela fase de vida, era denominado período crítico do desenvolvimento. Quando a habilidade não é estimulada no período sensível, não significa dizer que isso não será mais possível, mas sim que será necessário mais empenho para o desenvolvimento da respectiva capacidade. O cérebro adulto não tem a mesma capacidade que o cérebro das crianças, no entanto, estudo da plasticidade neural demonstrou que mesmo 19 diminuída, a capacidade de aprendizagem se mantém pela vida inteira (CONSENZA E GUERRA, 2011). Bartoszeck (2007), pautado nos estudos de Doherty (1997), apresenta as seguintes funções que podem ser estimuladas em determinadas faixas etárias. Peruzzolo e Costa (2015) destacam como algumas estratégias essenciais a serem alcançadas nos períodos sensíveis são: A representação de entretenimentos e jogos que promovam a motivação e interesse da criança a participar de forma ativa; conter elementos de diferenciação que possam prender a atenção da criança durante o processo; possibilitar a estimulação das áreas mais comprometidas da criança, utilizando- se das mais desenvolvidas a fim de tornar a intervenção mais completa possível; eliminação de fatores inibitórios que possam bloquear a estimulação programada (PERUZZOLO; COSTA, 2015, p.7). Estratégias que promovam em sala de aula atividades que desenvolvam o Sistema nervoso central, por meio de estímulos externos, a fim de facilitar as sinapses como o uso de jogos e de músicas em sala de aula, que estimulem várias funções mentais, frisando que atividades prazerosas, lúdicas e desafiadoras também fortalecem as sinapses. Existem ainda alguns empasses no que concerne a uma boa interlocução entre os campos que integram a neuroeducação, ou seja, as neurociências e a educação, e um dos problemas que impedem a comunicação das distintas áreas é a linguagem utilizada por ambas Seixas (2014, p. 51) afirma, “enquanto que a teoria e os dados da educação se referem à esfera comportamental, os dados e a teoria das neurociências assumem diferentes características, condicionadas pela própria natureza do sistema nervoso (elétrica, química, espacial, temporal, etc.)”. Por fim, tem se visto cada vez mais a necessidade de renovação das práticas pedagógicas, pesquisas e mais pesquisas revelando a dificuldade de 20 aprendizagem dos alunos. Educadores que frequentemente tem resultados negativos em relação as suas práticas em sala, o que se constata imprescindível conhecer o funcionamento cerebral normal, para que assim seja possível entender o que está acontecendo com o cérebro lesado, assim como, aperfeiçoar as técnicas para com o cérebro saudável, observando as formas e o momento mais pertinente de estimulação. Dentro de todo o contexto mencionado ressalta-se a importância do respeito da singularidade de cada indivíduo, sua respectiva forma de aprender, levando em consideração suas condições neuroanatomias, fisiológicas, emocionas e cognitivas, que indicarão o melhor e mais adequado caminho a ser trilhado, o que permite ver o indivíduo ali presente como único, e que mesmo com uma dinâmica de funcionamento diferente, seu aprendizado se faz possível com formas alternativas e mais adequadas de abordagem. Sendo assim, percebe-se que a neuroeducação pode trazer variadas contribuições para educação, por exemplo: a formulação e aplicação de programas educacionais como a implementação de atividades e demais projetos de intervenção mais efetivos, na medida em que se demonstram mais focais e interventivos naquilo em que se propõem; provisões para indivíduos com necessidades educacionais especiais de natureza física e/ou sensorial, oferecendo possibilidades de intervenções precoces que visem o desenvolvimento pleno das capacidades cognitivas e emocionais; orientações e entendimento do papel da alimentação no sucesso educacional, orientando como uma nutrição adequada aumenta o potencial de nossa capacidade cognitiva, e como uma inadequada traz limitações e até prejuízos cognitivos; esclarecimento quanto aos neuromitos disseminados pela mídia e demais meios de comunicação, que são equívocos quanto aos conhecimentos das neurociências, informações errôneas que infelizmente ainda circulam constantemente dentro da sociedade e frequentemente no próprio âmbito educacional; prescrições para indivíduos com necessidades educacionais 21 especiais de natureza comportamental e/ou emocional e a investigação inicial para apontar problemas de aprendizagem; a apreensão de técnicas de reforçamento para alunos “difíceis de lidar”, cuja aprendizagem se faz comprometida; o entendimento dos processos motivacionais envolvidos dentro do ensino-aprendizagem, o que está diretamente ligado a liberação de neurotransmissores, a sistemas específicos como o de recompensa e límbico e regiões hipocampos. O surgimento deste campo de conhecimento traz consigo um leque imenso de possibilidades, principalmente quando se fala em educação inclusiva, e que por vezes não é tão inclusiva quanto se fala. Não se trata de afirmar que tudo estará “salvo” a partir disso, mas é o começo de um novo tempo em que caminhos alternativos poderão ser tomados com base científica de efetividade, criançasque possuem empasses em sua constituição cognitiva poderão ter as chances de alcançar níveis intelectuais que até então não era possível se chegar, segundo Cosenza e Guerra (2011, p.139): As neurociências não propõem uma nova pedagogia e nem prometem solução para as dificuldades da aprendizagem, mas ajudam a fundamentar a prática pedagógica que já se realiza com sucesso e orientam ideias para intervenções, demonstrando que estratégias de ensino que respeitam a forma como o cérebro funciona tendem a ser mais eficientes. Algumas pesquisas afirmam sobre uma grande receptividade por parte dos educadores quanto a inserção dos conhecimentos neurocientíficos, e a implementação de suas intervenções, no entanto é necessária uma estruturação mais concreta para que estas práticas sejam inseridas desde a formação do educador, onde o mesmo será capaz de considerar o aluno em sua individualidade, percebendo suas dificuldades, a causa delas e como agir sobre elas. Neste sentido Cosenza (2011, p. 136) aponta que: Os avanços das neurociências possibilitam uma abordagem mais científica do processo ensino-aprendizagem, fundamentada na compreensão 22 dos processos cognitivos envolvidos. Devemos ser cautelosos, ainda que otimistas em relação às contribuições recíprocas entre neurociências e educação[...]descobertas em neurociências não autorizam sua aplicação direta e imediata no contexto escolar, pois é preciso lembrar que o conhecimento neurocientífico contribui com apenas parte do contexto em que ocorre a aprendizagem. Embora ele seja muito importante, é mais um fator em uma conjuntura cultural bem mais ampla. Ainda se sabe que o caminho para a perfeição está longe, e talvez nunca chegue, mas o essencial é a persistência e engajamento para que “voos” maiores sejam alcançados. A principal finalidade da Educação é o pleno desenvolvimento do ser humano em sua dimensão social. Define-se como sendo o veículo das culturas e dos valores, como construção de um espaço de socialização e consolidador de um projeto comum. A educação tem como missão permitir a todos, sem exceção, a frutificação dos talentos e da capacidade de criação, o que implica a responsabilização individual por si mesmo e a realização de seu próprio projeto pessoal (DELORS, 1996, apud ZABALA & ARNAU, 2010, p.60). Diante de tudo o que foi mencionado, abraçar as possibilidades de avanço é fundamental para que a educação na contemporaneidade se torne cada vez mais produtiva e digna de orgulho na sociedade. SENTIDOS DA INTERVENÇÃO NEUROPSICOPEDAGÓGICA NAS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA PRÉ-ESCOLA “Não devemos ter medo dos confrontos Até os planetas se chocam e do caos nascem as estrelas”. (Charles Chaplin) A escola da contemporaneidade é o espaço da diferença e da confluência de culturas e da diversidade. Sob este quadro social, a ampliação e redimensão dos saberes e das práticas educativas com vistas à identificação dos problemas 23 de aprendizagem escolar na pré-escola e as possíveis intervenções especializadas, que levem a recuperação de aprendizagens fragilizadas e evitem um fracasso escolar nas séries futuras, configuram-se como questões fundamentais nas discussões epistemológicas da educação. No campo interventivo, a neuropsicopedagogia desponta como campo epistemológico do saber, advindo da leitura integrada entre pedagogia, psicologia, neuropsicologia psicopedagogia e trabalho clínico. Sua contribuição se dá pela relação estabelecida entre o cérebro e a aprendizagem, como vias dúbias no processo cognitivo. Seus estudos abrangem um vasto conhecimento das bases neurológicas da aprendizagem e do comportamento humano, por meio de estímulos contextuais que deem respostas positivas ao processo de formação do indivíduo, tomando como foco as relações intrínsecas entre atenção, funções motoras, linguagem, memória, cognição e aspectos emocionais, psicológicos e cerebrais. Ela busca ainda, compreender o processo cognitivo do sujeito aprendente, desde os primeiros anos de vida, seus impasses e as principais implicações na aprendizagem humana. A natureza do ser humano é marcada pela individualidade e “cada criança é diferente, mas se detectada precocemente e devidamente ajudada, pode vir a ser um adulto sem problemas” (CORREIA; MARTINS, 2006, p. 01). Partindo desta realidade, entende-se que todos os alunos são diferentes, tanto em capacidades, quanto em motivações, interesses, ritmos evolutivos e estilos de aprendizagem; e todas as dificuldades de aprendizagem são em si mesmas, contextuais e relativas, por isso é necessário intervir no processo de ensino e aprendizagem, considerando que a criança constrói seu conhecimento através de estímulos e o professor é um dos responsáveis em proporcionar meios interventivos que venham sanar as dificuldades que possam surgir no processo de aprendizagem. Nesta perspectiva, este estudo objetiva analisar as dificuldades de aprendizagem que surgem o processo educativo da pré-escola, avaliando a 24 importância da prática docente e da intervenção neuropsicopedagógica, como fator preponderante no desenvolvimento da criança na faixa etária entre quatro e cinco anos, nos aspectos cognitivo, afetivo, social e físico. Este estudo justifica-se pela relevância dada ao trabalho docente e às dificuldades de aprendizagem na pré-escola, buscando construir um referencial teórico-reflexivo para o pensar e o repensar às práticas e ações neste âmbito, contribuindo, assim, para que as intervenções neuropsicopedagógicas sejam compreendidas, planejadas, articuladas e desenvolvidas, como fator positivo no desenvolvimento integral da criança atendida por esse segmento da Educação Infantil, pois segundo Smith; Strick (2001, p. 30), “as condições [...] na escola, na verdade, podem fazer a diferença entre uma leve deficiência e um problema verdadeiramente incapacitante”. O esclarecimento sobre esta temática é favorável ao trabalho do professor (pedagogo, principalmente), com formação em neuropsicopedagogia, na medida em que seu olhar deve ser criterioso e sistêmico, consciente de sua responsabilidade na mediação de situações intencionais, analisando quais metodologias devem ser adotadas, como forma de contribuir positivamente para a superação das dificuldades de aprendizagem apresentadas pelas crianças. A estrutura textual deste estudo atende a seguinte ordem: primeiro, caracteriza-se a pré-escola como espaço que se constrói entre o cuidar, o brincar e o educar; segundo, contextualiza-se a questão das dificuldades de aprendizagem na pré-escola, apontando para aquelas de maior incidência; terceiro, aponta-se para a importância da intervenção neuropsicopedagógica nas dificuldades de aprendizagem, com foco nos processos metodológicos e os reflexos na aprendizagem das crianças; quarto, conclui-se reforçando a importância da intervenção na superação das dificuldades de aprendizagens como questão de preocupação coletiva no âmbito da Educação Infantil. Pré-escola: aprendizagem entre o cuidar, o brincar e o educar 25 A pré-escola caracteriza-se como um espaço de motivação, de desafios e construção de aprendizagens que levem a criança a perceber o contexto escolar como possibilidade de criação, de oportunidades e crescimento pessoal no mundo que a cerca. Constitui-se como uma fase repleta de descobertas e adaptações, tanto para as crianças, quanto para os pais, pois significa o rompimento com um ciclo: o familiar; e o ingresso em outro: a vida escolar, em que a criança vivenciará novas dinâmicas e experiências, com o intuito de desenvolver suas habilidades básicas para a alfabetização formal e a interação social. A educação de crianças baseia-se no princípio teórico de uma aprendizagem ativa, como elemento fundamental para o desenvolvimentopleno do potencial humano e que essa aprendizagem ocorre mais efetivamente, em ambientes que promovam oportunidades apropriadas ao desenvolvimento. Entende-se por aprendizagem ativa, o processo dinâmico e interativo da criança com o mundo, garantindo-lhe a apropriação de conhecimentos e estratégias adaptativas, a partir de suas iniciativas e interesses e dos estímulos que recebe de seu meio social. Portanto, o principal objetivo da educação é o de estabelecer um modelo operacional flexível, com uma estrutura aberta, que garanta o suporte a uma aprendizagem significativa no desenvolvimento da criança, em qualquer ambiente em que ela esteja. Os Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil (BRASIL, 2006a), apontam a caracterização específica dos ciclos básicos de formação do indivíduo: creche, pré-escola e escola. Porém, a principal diferença está no sujeito, no objeto e nas relações estabelecidas por estes: Enquanto a escola tem como sujeito o aluno, e como objeto fundamental o ensino nas diferentes áreas através da aula; a creche e a pré-escola têm como objeto as relações educativas travadas num espaço de convívio coletivo que tem como sujeito a criança de 0 até 6 anos de idade (BRASIL, 2006a, p.17) 26 O documento ainda aponta para a importância de respeitar as singularidades e individualidades de cada criança: diferenças sociais, cognitivas, econômicas, culturais, étnicas e religiosas; no processo de cuidar, brincar e educar, que é o alicerce da Educação Infantil: Assim, “educar” significa propiciar situações de cuidado, brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito, confiança, e o acesso, pelas crianças, aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural. “Cuidar” significa ajudar o outro a se desenvolver como ser humano, valorizar e ajudar a desenvolver capacidades (BRASIL, 1998, p. 23). A pré-escola é, portanto, um dos primeiros espaços sociais sistematizados que a criança convive fora do ambiente familiar, por isso a preocupação deve está centrada na interação, socialização e aprendizado, de forma dinâmica e criativa. A ação da escola precisa objetivar a promoção do desenvolvimento físico, emocional, social e cognitivo, através de situações que promovam autonomia, confiança e segurança para comunicar-se e expressar-se no meio em que vive e para que a criança se sinta livre e espontânea em seu processo de crescimento, ao invés de apresentar-se como barreira de excesso de disciplina e práticas exaustivas e metódicas. Em linhas gerais, espera-se que a escola, enquanto instituição sistematizadora do saber, e neste caso, a pré-escola, cumpra com a função básica de oportunizar a criança, situações de acesso à aprendizagem de maneira formal, institucionalizada e apoiada nos referenciais de ética, cidadania e dignidade, ampliando a cultura trazida pelo aluno e a própria cultura da instituição escolar. Dificuldades de aprendizagem na pré-escola: contextualizando o tema 27 As dificuldades de aprendizagem apresentam-se como um sintoma constante e real no quadro da educação brasileira e toma cada vez maiores dimensões e acentuadas discussões nas pautas de reuniões e planejamentos de ações educativas e escolares. A sociedade precisa estar atenta e acolher, com respeito e maturidade, esta realidade socioeducativa que se apresenta. Isto só será possível, mediante práticas pedagógicas interventivas e eficientes, que tornem o ensino uma proposta nova e inovadora, com sentido e significado social na vida das crianças que apresentam alguma dificuldade. A causa das dificuldades de aprendizagem (Das) costuma ser atribuída a condições intrínsecas a pessoa, como: a herança, a disfunção cerebral mínima, ou os atrasos maturativos; circunstâncias ambientais nas quais se dá o desenvolvimento e/ou a aprendizagem, ambientes familiares e educativos, projetos instrucionais inadequados; a combinação das anteriores em que as condições pessoais são influenciadas de forma positiva ou negativa, pelas circunstâncias ambientais, entre outras. Desse modo, é possível identificar as diferentes formas de entender as dificuldades de aprendizagem. As explicações mais comuns, afirmam que a causa é nada mais que o resultado da influência entre a pessoa e o ambiente. De acordo com Fonseca (1995, p. 71): Dificuldade de aprendizagem é um termo geral que se refere a um grupo heterogêneo de desordens manifestadas por dificuldades significativas na aquisição e utilização da compreensão auditiva, da fala, da leitura, da escrita e do raciocínio matemático. Na pré-escola, as dificuldades de aprendizagem evidenciam-se pelas alterações comportamentais, psicológicas e linguísticas, que podem se manifestar através de dificuldades nos conteúdos pedagógicos, na relação com o professor e com os colegas de turma e em uma menor participação nas atividades escolares, o que poderá inclusive, se transformar em um fracasso escolar nas séries seguintes, caso não haja uma intervenção eficiente, pode 28 gerar uma exclusão social, visto que o próprio sistema social do mundo capitalista de hoje, [...] busca cada vez mais o êxito profissional, a competência a qualquer custo e a escola segue esta concepção. Aqueles que não conseguem responder às exigências da instituição podem sofrer com um problema de aprendizagem. A busca incansável e imediata pela perfeição leva à rotulação daqueles que não se encaixam nos parâmetros impostos (BOSSA, 1992 apud PORTO, 2007, p. 16). Evitar o agravamento de tal quadro, requer a participação e apoio da família, daí a importância de sua presença na infância e no desenvolvimento da criança, pois ela continua sendo a principal instituição no processo de socialização e indispensável no desenvolvimento e equilíbrio de seus membros, principalmente no acompanhamento as crianças com dificuldades de aprendizagem na fase da pré-escola, período de especial cuidado e atenção para o desenvolvimento das habilidades cognitivas. O trabalho com crianças com dificuldades de aprendizagem ou necessidades educativas especiais é tarefa dúbia: da família e da escola, pois “as condições em casa e na escola, na verdade, podem fazer a diferença entre uma leve deficiência e um problema verdadeiramente incapacitante” (SMITH; STRICK, 2001, p. 30). A parceria família e escola favorece o sucesso no processo de ensino e aprendizagem das crianças, como uma interface dialógica, um trabalho de parceria, compromisso e responsabilidade para o desenvolvimento de competências e habilidades, na busca por estratégias e condições favoráveis, que minimizem as dificuldades e favoreçam uma aprendizagem significativa. Em qualquer nível de ensino, as dificuldades de aprendizagem precisam ser enxergadas, levadas em consideração, não como fracassos, mas como oportunidades desafiadoras e instigantes de serem enfrentadas por todos, na 29 busca, não apenas de um ensino melhor, mas da qualidade de vida de cada criança, promovendo condições para que elas possam ser independentes e protagonistas de suas histórias de vida, pois para Freire (2003), o espaço pedagógico é como um texto, que deve ser constantemente “lido”, interpretado, “escrito” e “reescrito”, e nesta leitura, deve haver espaço também, para uma releitura da questão das dificuldades de aprendizagem. A escola não pode ser um mecanismo de construção de insucesso, fracassados, mas de expectativas, esperanças, que precisam contagiar as crianças, através do amor, do carinho e do respeito, pois do contrário, as dificuldades só aumentarão e serão determinantes para uma trajetória de fracassodo aluno. Não se deve pensar em culpados, pois ao se procurar os culpados por não conseguir sanar as dificuldades de aprendizagem, a família e a escola não percebem que os únicos que não têm culpa nenhuma, são as próprias crianças, as quais ficam na expectativa de aprender mais e melhor. Uma dificuldade de aprendizagem não pode ser considerada uma deficiência, pois há um potencial para o aprender, necessitando apenas de uma intervenção adequada. Essa diferença é explicitada por uma definição publicada pela Learning Disabilitties Association of Ontário, Canadá, (2000, p. 01 apud CORREIA, 2004): “As dificuldades de aprendizagem são discapacidades específicas e não discapacidades globais e, como tal, são distintas da deficiência mental”. Conforme Fortes (2003, p. 12), “isoladas por altos muros e grades, ao invés de se tornarem espaço de cooperação entre as pessoas, de construção de identidades, de respeito ao pluralismo e às especificidades culturais, as escolas por vezes se transformam em espaço alheios à comunidade e aos alunos”. De modo que, se não houver uma intervenção eficaz, ainda na pré-escola, este quadro pode representar um abismo para a criança, que se sente alheia e resistente ao novo modelo de vida social que lhe é apresentado, gerando assim conflitos e dificuldades em seu processo de interação social e aprendizagem. 30 Portanto, as dificuldades de aprendizagem podem ser reconhecidas e identificadas como uma maneira diferenciada da criança comportar-se diante do meio no qual interage. As causas para que isso aconteça são muitas, e podem está associadas a diversos fatores, o que suscita o investimento em práticas pedagógicas interventivas e especializadas, de forma a compreender e buscar alternativas para sanar as possíveis dificuldades apresentadas pelas crianças da pré-escola, fase crucial no desenvolvimento saudável de toda a vida escolar. Principais dificuldades de aprendizagem identificadas na pré-escola As crianças que apresentam dificuldades da aprendizagem na pré-escola têm características próprias, que requerem um estudo e intervenção diferenciada das crianças maiores, que já frequentam os níveis mais avançados da educação básica, de forma a compreender suas causas, as “raízes” do problema, que desvelarão os rumos e as prioridades de ações a serem tomadas para, então, melhorar o processo de ensino e aprendizagem. Na pré-escola, as dificuldades se acentuam pela expressão singular de cada criança, em sua forma de ser, estar e relacionar-se com o mundo. Cada uma em situação de dificuldade de aprendizagem requer um olhar e uma atenção mais apurada, que valorize e respeite seu tempo de aprendizagem, como sujeito sociocultural e determinado pelo contexto em que vive. Em via desta realidade, o Ministério da Educação (MEC), tem promovido nas últimas décadas, políticas de educação especial, que buscam atender às demandas da realidade de alunos com necessidades educativas especiais, por apresentarem alguma dificuldade de aprendizagem. A resolução nº. 2/2001 (BRASIL, 2001, p. 2), aponta os grupos que constituem a categoria de necessidades especiais, de acordo com as características e dificuldades de aprendizagem observadas pela escola no desenvolvimento de suas atividades: Consideram-se educandos com necessidades educacionais especiais os que, durante o processo educacional, apresentarem: 31 I – Dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitações no processo de desenvolvimento que dificultem o acompanhamento das atividades curriculares, compreendidas em dois grupos: a) aquelas não vinculadas a uma causa orgânica específica; b) aquelas relacionadas a condições, disfunções, limitações ou deficiências; II – Dificuldades de comunicação e sinalização diferenciadas dos demais alunos, demandando a utilização de linguagens e códigos aplicáveis; III – altas habilidades/superdotação, grande facilidade de aprendizagem que os leve a dominar rapidamente conceitos, procedimentos e atitudes. Esta definição ampliada de necessidades educacionais especiais é reformulada e adota-se uma ainda mais restrita, que delimita apenas a “alunos com deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e altas habilidades/superdotação” (BRASIL, 2008, p. 1; 2009, p. 1). Segundo Correia e Martins (2006), as dificuldades de aprendizagem podem ser explicadas por duas vias: uma focada nos aspectos orgânicos e outra nos aspectos educacionais. A primeira explicação é entendida como desordens neurológicas que interferem no desenvolvimento, como recepção, integração ou extensão da informação, caracterizando-se, em geral, por uma discrepância significativa no potencial estimado do aluno e aquilo que ele realmente consegue realizar. A segunda, relacionada aos aspectos mais educacionais, diz respeito a uma incapacidade ou impedimento para as habilidades de leitura, de escrita, de cálculo ou aptidões e interações sociais diversas. O conceito em uma concepção mais objetiva e aceita internacionalmente, é assim expresso pelos autores: Dificuldades de aprendizagem específica significa uma perturbação num ou mais dos processos psicológicos básicos envolvidos na compreensão ou utilização da linguagem falada ou escrita, que pode manifestar-se por uma aptidão imperfeita de escutar, pensar, ler, escrever, soletrar, ou fazer cálculos 32 matemáticos. O termo inclui condições como problemas perceptivos, lesão cerebral, disfunção cerebral mínima, dislexia e afazia de desenvolvimento. O termo não engloba as crianças que têm problemas de aprendizagem resultantes principalmente de deficiências visuais, auditivas ou motoras, de deficiência mental, de perturbação emocional ou de desvantagem ambientais, culturais ou econômicas (CORREIA; MARTINS, 2006, p. 65). De acordo com Maluf (2011, p. 2), na pré-escola existem alguns sintomas que podem ajudar os profissionais da escola a identificarem as principais dificuldades de aprendizagem apresentadas pelas crianças. A saber: - Persistentes problemas na área da Linguagem: de articulação, aquisição lenta de vocabulário, restrito interesse em ouvir histórias, dificuldade em seguir instruções orais, soletração empobrecida, dificuldade em argumentar, problemas em redigir e resumir, etc.; - Problemas com a Memória: dificuldades na aprendizagem de números, dos dias da semana, em recordar fatos, em adquirir novas habilidades, em recordar conceitos, na memória imediata e de longo tempo, etc.; - Atenção: dificuldade em concentrar-se em algo que não seja de seu interesse pessoal, de planejar, de autocontrole, impulsividade, atenção inconstante, etc.; - Problemas com a Motricidade: problemas na aquisição de comportamentos de autonomia (ex. amarrar os cordões do tênis); relutância para desenhar; problemas grafo-motores da escrita (forma da letra, pressão do traço, etc.); escrita ilegível, lenta ou inconsistente; relutância em escrever; - Lentidão na aquisição das noções de espaço e tempo, domínio pobre de conceitos abstratos; dificuldade na planificação de tarefas; dificuldades na realização de tarefas acadêmicas, provas, etc.; dificuldade de aquisição de de novas aprendizagens cognitivas; problemas sociais. 33 A identificação destas características é responsabilidade de todos que fazem parte da escola, mas geralmente é o professor que logo observa estes comportamentos na criança, já que a relação docente e discente é mais próxima, acontece na dinâmica do dia a dia, através das diferentes tarefas feitas na aula. Ao perceber algum desses comportamentos, o docente deve procurar uma orientação para saber como lidar. A equipe técnica e pedagógica precisa intervir, buscando junto à família, o apoio de profissionais especializados de outras áreas, para traçar um diagnóstico, quando necessário, demodo que a prática pedagógica possa ser revista e readaptada a nova realidade. Estas práticas devem centrar-se no trabalho individual e coletivo. No primeiro caso, onde a criança possa sozinha, desenvolver as atividades, superando desafios e sentindo-se capaz e integrante do processo. No segundo caso, a interação social e o convívio com os colegas é o principal objetivo, que a fará compreender a dinâmica de aprendizagem coletiva e a convivência em grupo, criando vínculos de respeito e cidadania, não apenas só para a criança com dificuldade, mas para as demais, que aprenderão a conviver com a diferença e diversidade cultural. Visto as variáveis que interferem na própria delimitação do conceito de dificuldades de aprendizagem e aquelas que têm maior incidência na fase da pré-escola, destaca-se a importância do desenvolvimento de estratégias de intervenções pedagógicas eficientes, que oportunize a todas as crianças o brincar, o aprender e o desenvolver com dignidade e igualdade de oportunidades, através da assimilação do real e da experiência vivida. Intervenção neuropsicopedagógica às dificuldades de aprendizagem A pesquisa das neurociências, em especial da neuropsicopedagogia, é de fundamental importância na busca por entender os processos neuropsicobiológicos, tomando o cérebro como a fonte do aprendizado humano, todavia, mesmo em face disso, as formulações teóricas acerca da temática ainda são escassas. Por isso, cabe ressaltar que a Neuropsicopedagogia, tanto Clínica 34 como institucional, é um conhecimento que se origina, principalmente da Psicopedagogia, e agregando-se a esta, como uma ciência que atua em diversos contextos sociais, buscando compreender o processo cognitivo do sujeito aprendente, desde os primeiros anos de vida, seus impasses e as principais implicações na aprendizagem humana. Depois de identificadas as dificuldades enfrentadas pela criança na pré- escola, uma intervenção deve ter como objetivos: prevenir e minimizar o fracasso nas séries seguintes, considerando que o aluno não é culpado pela não aprendizagem; e assim, fazendo um chamamento para que a escola repense sua atuação, pois Há o perigo de a Escola, diante de qualquer comportamento divergente de seus alunos, encaminhar essas crianças para as classes especiais, sem antes realizar uma reflexão profunda sobre as mesmas. Qualquer rotulação é uma tendência reducionista, pois muitas vezes rotula-se a criança sem que sejam pesquisadas as condições em que o problema ocorreu [...] não se pode, portanto, colocar crianças em classes especiais, sem a indicação da equipe multiprofissional, cuja orientação é imprescindível (BOLETIM DE EDUCAÇÃO, 1998, p. 12). Por esse motivo é cada vez mais frequente o surgimento de “crianças problemas”, rotuladas como incapazes e fracassadas, e esses problemas passam a fazer parte do histórico de vida da criança, e estas passam a enfrentar sérias dificuldades em qualquer ambiente em que se inseriram. Muitas vezes, as crianças com necessidades especiais, passam a ser identificadas pela característica especial, tendo assim sua identidade negada como sujeito. Em relatório entregue ao Ministério da Educação, Correia (2006), da Universidade do Minho, enfatiza que “os alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem são totalmente entregues à sua sorte, culminando o seu percurso escolar num insucesso total”. 35 A prática pedagógica na pré-escola com crianças que apresentam dificuldades de aprendizagem, envolvendo crianças entre quatro e cinco anos de idade, deve ser diferenciada, adaptada ao tempo e espaço que cada um aprende. Para tanto, é necessário que o professor tenha o conhecimento e domínio de diferentes métodos e formas de ensinar, levando em consideração as múltiplas dificuldades apresentadas em uma sala de aula heterogênea, em que cada sujeito já traz consigo uma convivência de mundo - mundos diferentes. Visto essa diversidade, cabe ao professor promover constantes atividades de interação e respeito ao outro, que permitam o entrelaçamento entre conteúdos didáticos e experiências de vida, fazendo com que a criança sinta-se inserida e participante do processo de aprendizagem, pois a “interação entre o mestre e o estudante é essencial para a aprendizagem, e o mestre consegue essa sintonia, levando em consideração o conhecimento das crianças, fruto de seu meio” (FREINET, 2002, p. 14). O trabalho docente deve está voltado para as potencialidades de cada criança, e não para as dificuldades, pois desta forma, acaba por rotular a criança, numa fase em que isso é injustificável, visto que estas dificuldades podem ser apenas transitórias, e se forem identificadas e houver um trabalho interventivo eficiente, logo serão superadas, pois “o mais importante e bonito do mundo é isto: que as pessoas não são sempre iguais, ainda não forma terminadas, mas que vão sempre mudando. Afinam ou desafinam, verdade maior, é o que a vida me ensinou”, poetiza João Guimarães Rosa, em Grande Sertão: Veredas (2001, p. 24-25). Dentro do espaço escolar, o neuropsicopedagogo tem uma visão sobre as relações entre aprendizagem e as estruturas cerebrais, que danificadas, provocarão alguma dificuldade de aprendizagem. A priori, ele realiza as mesmas atividades estabelecidas para o profissional da Psicopedagogia, mas como sua formação vai além, ele busca intervir, através da compreensão das estruturas cerebrais envolvidas na aprendizagem humana, percebendo de que forma o 36 cérebro gerencia a construção do saber humano, do comportamento emocional, o mapeamento dos transtornos neuropsiquiátricos e estímulo a novas sinapses para uma aprendizagem significativa. A intervenção neuropsicopedagógica contribuirá para a melhoria na ação do professor e na aprendizagem da criança. Ambas devem ser dinâmicas e próximas da realidade, fazendo com que teoria e prática se firmem e tenha sentido para o sujeito que aprende, de maneira articulada e simultânea, buscando, através da exploração de diferentes atividades, desenvolver as habilidades necessárias, promovendo a descoberta e a inserção da criança no mundo, sem que sofra nenhuma marginalização social. Uma intervenção eficiente deve levar em consideração, portanto, o nível de aprendizagem em que o aluno está e as possíveis condições para uma intervenção significativa, que deve ser feita coletivamente, por todos que fazem parte da escola, através de ações pedagógicas investigativas e intencionais, de modo que as situações de aprendizagem devam ser organizadas pela construção de oficinas interativas, que atraiam a atenção das crianças às múltiplas possibilidades dos conteúdos que estão sendo ensinados, fazendo com que elas encontrem sentido, possibilidades e formas de atingirem o conhecimento. Processos metodológicos e mediação docente O trabalho pedagógico na pré-escola requer muita competência e compromisso por parte do professor. Exige a capacidade de instrumentalizar o conteúdo, tornando-o acessível e coerente com a realidade do aluno, levando em consideração as funções de brincar, cuidar e educar da Educação Infantil, em que as crianças devem: “ser auxiliadas nas atividades que não puderem realizar sozinhas: ser atendidas em suas necessidades básicas físicas e psicológicas; ter atenção especial por parte do adulto em momentos peculiares de sua vida” (BRASIL, 2006a, p.18). 37 A aprendizagem deve representar momentos de descoberta, riqueza e alegria para criança, para que ela possa desenvolver-se de maneira livre e espontânea. Aprender é um processo cultural construído pela interação e pelo diálogo entre os integrantes do processo de ensinar e aprender (professor e aluno), pois a construção do conhecimento não é transmissão ou reprodução de informações prontas,mas a problematização destas, de maneira questionadora e inquieta, levantando hipóteses, reformulando ideias, numa proposta de criar e solucionar problemas aparentemente simples, mas que podem ser reinterpretados, conforme a criticidade e leitura de mundo inerente a cada leitor, que ao realizar tal ação, gera novos posicionamentos. O processo de ensino e aprendizagem a crianças com dificuldades de aprendizagem na pré-escola deve estar pautado numa perspectiva de mudança, de transformação social, no respeito as diversidade de raça, classe, gênero ou qualquer outra distinção, como forma de legitimar um fazer pedagógico democrático. O ensino como construção social, precisa contribuir para a formação integral do ser humano, em seus aspectos físicos, motores, cognitivos, psicológicos, entre outras dimensões. A formação de novos valores deve partir do respeito às diferenças e do aprender a conviver com o diferente. A igualdade não é o “normal”: todos somos diferentes. Há necessidade de se ver a pessoa como um todo, respeitar suas diferenças e utilizá-las para a construção de uma sociedade na qual o somatório das diferenças resulte na construção de um todo mais harmonioso e feliz. Assim sendo, todos têm a contribuir uns com os outros para a construção de um novo homem (BRASIL, 2006, p. 12). Apoiado neste fundamento apresentado pela Coleção “Educação infantil: saberes e práticas da inclusão”, conclui-se, que a legitimidade dos processos de ensino e aprendizagem na pré-escola deve pautar-se na ética e respeito, como forma de levar o educando a interpretar o mundo em que vive, dando novos rumos àquilo que vê, a partir do próprio pensamento e da linguagem; e a escola 38 deve ser o lugar para esta provocação e inquietação sobre os problemas sociais que fazem parte e enriquecem a realidade de cada criança. Quando detectada a dificuldade de aprendizagem da criança, o professor precisa agir de maneira ética em relação ao caso, buscando criar estratégias didático-pedagógicas que respondam com eficiência a dificuldade, que na maioria das vezes, pode ser transitória, visto que a criança está em fase de formação, ou seja, tudo ainda é muito indefinido. O trabalho do professor da pré-escola deve está voltado para a efetiva construção de aprendizagens, que tenha sentido e significado para o sujeito que aprende. No caso das crianças com dificuldades de aprendizagem, as situações de aprendizagem devem ser diversificadas, adaptadas às especificidades do aluno, construindo assim, um modo heterogêneo de facilitar a aprendizagem. A proposta que se impõe é a igualdade de possibilidades, como forma de promover a inclusão de todos e em todos os setores sociais, pensando na formação de um homem capaz de apreender o mundo em que vive em condições de transformá-lo e não somente de reproduzi-lo, e essa formação perpassa pela obtenção de habilidades, atitudes e valores, que são oferecidas pelo professor, por isso é tão importante o seu processo contínuo de formação. Em vias das leituras fomentadoras desta escrita, aponta-se para a importância da intervenção neuropsicopedagógica nas dificuldades de aprendizagem na pré-escola, considerando a criança como um ser social, histórico e psicológico, e que o trabalho pedagógico nesta etapa deve basear-se numa teoria construtivista, que conceba sua cultura adjacente, articulando-a com os saberes teóricos da escola, como ponto principal para a construção de uma educação democrática e transformadora da realidade do educando. O fazer docente deve considerar as particularidades e as razões que causam algum déficit na aprendizagem da criança na pré-escola, fase tão importante e determinante na vida estudantil, buscando desenvolver estratégias 39 que deem sentido a aprendizagem, conduzindo o aprendiz pelo caminho da descoberta de novos rumos do saber e potencialidades. As breves e ainda tímidas referências sobre a atuação do neuropsicopedagogo dão, portanto, um direcionamento para sua importância no processo de ensino e aprendizagem. Reconhecida a sua relevância para a compreensão dos problemas e dificuldades de aprendizagem escolar, vislumbra- se cada vez mais, um investimento na valorização e legitimação deste profissional no âmago das ciências educativas, pois que, educar é um processo sensível e complexo, que envolve a interface de saberes múltiplos e a (des) construção de modelos pré-construídos ao longo do domínio de um sistema de ensino linear, burocrático e unilateral, e requer a participação das diferentes cadeias sociais. Este pensamento vai de encontro há uma “necessidade de passar a visão centrada só nos problemas (e, portanto, nas dificuldades) de aprendizagem às dificuldades de ensino, centrando a reflexão nos contextos para modificar objetivos e estratégias de nossa maneira de trabalhar” (ALBERTINI, 2012, p. 1), perspectiva que cunha lugar nos discursos educacionais contemporâneos. Deste modo, é fundamental a adesão a novos conceitos e propostas de ensino e aprendizagem, com foco no atendimento as crianças com dificuldades de aprendizagem na pré-escola. É preciso superar um modelo de ensino autoritário, baseado em metodologias mecânicas e tradicionais e buscar transformar as práticas pedagógicas em caminhos livres e potencializadores, para que as crianças possam manifestar suas reais condições de aprendizagem, apoiadas em princípios e valores comprometidos com a formação integral. REFERÊNCIAS BLAKEMORE, S. J.; FRITH, U. O cérebro que aprende. Lisboa: Gradiva, 2009. 40 CONSEZA, R. M.; GUERRA, L. B. 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