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síntese cap 02 Raízes do Brasil Trabalho Aventura

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Fichamento de leitura N° 1 
Laura Luzia Araújo Fiuza 
BUARQUE DE HOLANDA, Sérgio. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. II. Trabalho e Aventura 
Resumo 
Em Raízes do Brasil, o autor tenta encontrar a origem dos problemas políticos, sociais e econômicos da sociedade brasileira. No segundo capítulo, Buarque de Holanda explora a colonização portuguesa e a falta nesses de um orgulho de raça, o sistema de produção agrícola, e a organização dos trabalhos — especialmente da agricultura e do artesanato— no Novo Mundo. Ele afirma que o português aventureiro vinha à colônia buscar riqueza sem muito trabalho, e devido a isso, perpetua até hoje a desvalorização de trabalhos sem ganho imediato e dos cuidados com a terra em que se cultiva. 
 
Sérgio Buarque procura evidenciar, como e de onde vêm os hábitos dos brasileiros. Nesse capítulo, ele aborda a característica preguiçosa que se instaurou aqui no período do Brasil colônia. No âmbito da vida coletiva, ele divide as pessoas em dois grupos: trabalhadoras e aventureiras. Sendo termos opostos, o primeiro grupo comporta, segundo o autor, quem pretende “colher o fruto sem plantar a árvore” (pág. 44/1995), já o segundo, é quem reconhece primeiro o empecilho no caminho, e não o ponto de chegada. Com essa distinção, ele pretendia fazer entender que nas colonizações, o ideal trabalhador não teria tido muita participação, principalmente no que diz respeito à exploração de bens naturais, o que agrupa os portugueses à ética aventureira. O autor defende ainda que esses dois princípios não existem fora do mundo das ideias e que as pessoas não são puramente nem um nem outro. 
A exploração latifundiária e a monocultura aqui utilizados, caracterizam a organização das colônias europeias. A terra nas colônias era fértil e abundante, mas os nativos não dispunham de meios avançados de agricultura e eles raramente se adaptavam ao trabalho menos manual e fiscalizado, sendo assim, incapazes de aprender a exercer trabalhos metódicos. A auto indisposição para o trabalho sem compensação próxima e o fracasso das tentativas do uso de mão-de-obra indígena, levam os colonizadores aventureiros a perceber a “necessidade” da mão de obra barata e abundante, que apenas o sistema escravocrata seria capaz de suprir. O uso das técnicas europeias no processo de exploração contribuiu para a degradação do solo, porque não visavam em momento nenhum reparar os danos causados. O uso de arado é destacado pelo autor por ter tido pouca eficácia sendo rapidamente descartado em grande parte do país. 
Para o sociólogo, os portugueses não tinham orgulho de raça, ou seja, não se viam como superiores aos negros africanos. Para comprovar seu ponto, ele assegura a existência de escravizados africanos em Portugal antes de 1500, e garante que se tal orgulho existisse entre os colonizadores, a “mestiçagem” —atualmente melhor descrita por miscigenação— não teria sido (em partes) “incentivada”, como ocorreu na América espanhola, onde a segregação foi pesada e carrega traços fortes até os dias atuais. Para o autor, a ausência dessa segregação e a eficácia do trabalho escravo em “trabalhos de baixa reputação que degradam o indivíduo que o exerce” (pág.56/1955), era o que justificava a escolha de se escravizar africanos.  
Uma das consequências da escravidão que é citada no livro, é a ausência de outras atividades de produção como o artesanato e ofícios que necessitam de dedicação permanente. O predomínio do trabalho escravo tornava quase nula a existência de outros ofícios no Brasil, uma vez que ao escravo não se pagava. A valorização de ofícios veio tardia e ainda assim, por costume, estabeleceu-se um desprezo e uma intolerância por ofícios de baixa reputação social. O autor diz que “os ofícios urbanos, visavam o ganho fácil que caracterizam no Brasil, os trabalhos rurais” (pág. 58/1995) e que faltou no brasileiro, desde o início, ideais de empreendedores, dispostos a colher frutos à longo prazo.  
É mencionada também, as formas coletivas de se realizar algumas tarefas, como construções populares, onde pode se perceber a ânsia pela ideia de ser parte de uma comunidade unida, cooperativa, mesmo que o ponto de chegada não fosse o que de fato importava, e sim os sentimentos que envolviam quem ajuda e quem precisava de amparo. O problema da falta de impessoalidade é retratado melhor no quinto capítulo. 
Ainda no segundo capítulo, está presente uma crítica aos holandeses que falharam ao tentar colonizar o Brasil. O escritor afirma que os portugueses tiveram sucesso na colonização por serem “menos exclusivistas” e “simpáticos”. Ele sustenta que, o fato de o catolicismo ser mais universal e fazer uso de imagens e outros artifícios que não envolvessem apenas a língua, favoreceu a sociabilidade na hora de converter e colonizar indígenas e negros. Por outro lado, sem o incentivo ao uso da imaginação, com o empecilho da língua — que Sérgio Buarque julga ter sido, para os habitantes do Brasil mais difícil de ser compreendida— e com o teor menos humanista, o protestantismo e a colonização holandesa não tiveram êxito aqui.  
O historiador retorna à fala de que os portugueses não possuem orgulho de raça, mas, se realmente não o tivessem, a escravidão se daria por motivos diversos e não por escolha do grupo escravizado. Ao dizer que a escravidão se deu pelo tipo de trabalho que cada grupo era “capaz” de executar, ele coloca o trabalho antes do ser, o que se torna uma contradição no momento em que ele afirma que os indígenas não foram capazes de aprender a forma de trabalho europeu. Se é algo que pode ser ensinado, não precede a existência.  
Sérgio Buarque usou dos tipos ideais Weberianos para estabelecer, nesse capítulo, o contraste entre pessoal e o impessoal e o trabalho e a aventura, criando ali, conceitos até hoje utilizados. Ele se consagrou como autor de uma leitura obrigatória ao expor características hereditárias em torno da sociedade brasileira.

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