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Aula 01

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1ºAula
Desenvolvimento Econômico
Objetivos de aprendizagem
Ao término desta aula, vocês serão capazes de: 
• entender o desenvolvimento econômico;
• compreender os conceitos e indicadores de desenvolvimento econômico.
Vamos começar nossa disciplina desvencilhando o termo 
“desenvolvimento econômico”, que surgiu somente no século 
XX, do seu sentido tradicional. Desde então a preocupação 
dos que se ocupavam com as finanças públicas (Governantes) 
era aumentar o poder econômico e militar do país soberano. 
Raramente havia a preocupação com a melhoria de condições 
socioeconômicas da população, mesmo com as altas taxas de 
analfabetismo, falta de comida e da alta mortalidade.
Bons estudos!
6Desenvolvimento Econômico I
Seções de estudo
1- Origens da questão do desenvolvimento econômico
2- Conceito básico sobre desenvolvimento econômico
3- Indicadores de desenvolvimento econômico
1- Origens da questão do 
desenvolvimento econômico
A necessidade por segurança superava os objetivos 
econômicos, pois as agressões estrangeiras eram frequentes, 
no caso do regime feudal, procurava-se combinar a 
subsistência do senhor e a segurança do povo. Esse modelo 
se manteve equilibrado por muito tempo, mas difi cultava as 
mudanças necessárias para o desenvolvimento econômico. 
O surgimento do Estado nacional moderno, as relações 
econômicas geradas com as expansões marítimas e as riquezas 
coloniais desempenharam um importante papel para alavancar 
as economias nacionais europeias (SOUZA, 2008).
A questão do desenvolvimento econômico tem elementos 
empíricos e teóricos, originadas na maior parte dos casos das 
crises econômicas. Alguns autores acreditam que se encontra 
no pacto colonial, derivado do pensamento mercantilista, a 
origem do subdesenvolvimento contemporâneo. 
Em relação às metrópoles, a grande falha do sistema 
evidenciou-se por ter atribuído demasiada importância para 
o afl uxo de metais preciosos como fator de riqueza nacional. 
Com o crescimento do mercantilismo em meados do século 18, 
surgiram, portanto as escolas fi siocrática na França e a clássica 
na Inglaterra, que passaram a se preocupar objetivamente 
com os problemas do crescimento e da distribuição (SOUZA 
2008).
Para Jones (2000) o mundo é formado por economias 
de todas as formas e tamanhos, ou seja, há países muito ricos 
e muito pobres. Algumas economias crescem rapidamente e 
outras simplesmente não crescem. Ao pensar em crescimento 
e desenvolvimento econômico, é útil começar considerando 
os casos extremos: os ricos, os pobres e os que se movem 
rapidamente entre eles. 
O tema crescimento econômico emerge com Adam 
Smith, que identifi cou os fatores da formação da riqueza 
nacional; explica como o mercado opera e qual a importância 
do aumento do tamanho dos mercados para reduzir os custos 
médios e permitir a produção com lucros. Essa expansão de 
mercado aumentam a renda e o emprego. Posteriormente 
Schumpeter diferenciou crescimento e desenvolvimento 
econômico, sendo esse fenômeno atribuído às inovações 
adotadas pelo empresário, com a ajuda do crédito.
Desenvolvimento econômico: Origem nas crises 
econômicas.
Segundo Souza (2008), a noção de desenvolvimento, 
atrelada à questão de distribuição, passou a ser mais enfatizada 
em todos os países. Durante as fases de ocorrência de ondas 
de inovações (tear mecânico, máquinas a vapor, petróleo, 
eletricidade, informática, internet, telefonia móvel), a economia 
dos países inovadores cresce de modo muito mais acelerado. 
Com isso, expandem- se a renda, o emprego, o nível de bem-
estar da população. Em resumo, em outros períodos, com as 
inovações caindo em domínio público, o nível de atividade se 
reduz e as corporações dispensam funcionários.
A crise de 1930 colocou em evidência o grande 
problema social do desemprego. Tornou-se evidente a ação 
do Estado na economia, realizando investimentos diretos e 
ministrando políticas anticíclicas, com a fi nalidade de diminuir 
o desemprego. Constatou-se, por exemplo, que as crises se 
desenrolam com intensidades variadas, segundo diferentes 
setores e regiões (SOUZA, 2008). 
A questão do desenvolvimento econômico acentuou-
se nesse período histórico, com a aplicação da contabilidade 
nacional, nascida com a teoria keynesiana. Com esse 
instrumento, passou-se a comparar a renda per capta dos 
diferentes países, classifi cando-os como “ricos” ou “pobres”, 
dependendo do valor da renda média. Com o aperfeiçoamento 
dos indicadores sociais, passou-se a chamar “subdesenvolvido” 
os países “pobres”, por apresentarem crescimento instável 
e insufi ciente, alta taxa de analfabetismo, elevadas taxas de 
natalidade e mortalidade infantil, predominância da agricultura 
como atividade principal, baixa produtividade, insufi ciência 
de capital, etc.
Com a ampla divulgação das estatísticas ofi ciais sobre 
o tema, podemos notar que o problema é de tamanha 
magnitude, que se tornam necessárias ações humanitárias 
de combate à pobreza e desigualdade social, visto que 2/3 
da população mundial é classifi cada como “pobre”, sendo 
que os países ricos concentram 5/6 da produção mundial, e 
consequentemente a renda per capta de seus cidadãos.
Após a segunda guerra mundial, a macroeconomia 
Keynesiana passou a ser aplicada em todo o mundo. 
Contudo, verifi cou-se sua inadequação para explicar o 
desenvolvimento, por esse ser um modelo de longo prazo. 
Os economistas buscaram, então, na História econômica os 
elementos necessários para a formulação de uma “teoria do 
desenvolvimento”. A primeira constatação foi a de que o 
subdesenvolvimento é derivado do desenvolvimento, ou seja, 
da expansão capitalista de alguns países de ordem oligopolista 
(FURTADO, 1961, p.180).
Embora a visão de Furtado seja passível de críticas, 
observa-se que o principal entrave do desenvolvimento 
econômico na visão marxista era de natureza política, uma vez 
que os países pobres têm uma posição subalterna no contexto 
da divisão internacional do trabalho. Desse modo, esses países 
deveriam produzir matérias-primas de baixa complexidade 
e alimentos baratos para atender os países “centrais” e não 
depreciar sua taxa de lucro. Essa abordagem histórica, feita, 
sobretudo por marxistas ia contra correntes mais tradicionais 
da economia, como os pensadores clássicos. 
Segundo Souza (2008), modelos econômicos atuais 
identifi caram a escassez de capital como a causa fundamental 
do subdesenvolvimento. Os autores de inspiração 
neoclássica enfatizavam, como estratégia de crescimento e 
desenvolvimento, o aumento da poupança interna, o afl uxo de 
capitais externos e a expansão das exportações, fatores esses 
aceitos pela maioria das correntes de pensamento econômico 
contemporâneo.
7
2- Conceito básico sobre 
desenvolvimento econômico
Como toda teoria dentro das ciências sociais aplicadas, 
não há um consenso sobre a defi nição exata do termo 
“desenvolvimento”. Para Souza (2008), há duas correntes 
de economistas, a primeira, de inspiração mais teórica, 
considera crescimento como sinônimo de desenvolvimento. 
Já a segunda corrente, voltada pela realidade empírica, 
entende que o crescimento é condição indispensável para o 
desenvolvimento, porém não sufi ciente. No primeiro grupo 
podemos citar autores como Meade e Solow, Harrod, Domar 
e Kaldor. Na segunda corrente de pensadores pode-se destacar 
Lewis, Hirschman, Myrdal e Nurkse, embora tenham viés 
ortodoxo, realizavam análises empíricas próximas à realidade 
das economias mais emergentes.
Para o mainstream em economia, ou chamados ortodoxos 
(MOLLO, 2016), o desenvolvimento deve ser deixado 
ao mercado que, por meio de preferências individuais e 
tecnologias desenvolvidas pela iniciativa privada, que estão 
por trás das demandas e ofertas nos vários mercados, é 
sufi cientemente efi ciente para buscar a melhor forma. 
O papel do Estado, por meio dos governos, é visto como 
inefi ciente para estimular de forma durável o desenvolvimento, 
tanto com política monetária quanto com política fi scal.No primeiro caso, se por meio de impulsões monetárias, o 
governo busca aumentar o crescimento da economia, o único 
efeito duradouro é a infl ação, já que a ortodoxia supõe que 
a moeda é neutra, não afetando a longo prazo as variáveis 
reais como produção, emprego e renda, suposto que, como 
veremos, será negado pela heterodoxia. Para a ortodoxia 
neoliberal, tais impulsões só levam de forma duradoura à 
infl ação. (MOLO, 2016).
Quanto à política fi scal, para a ortodoxia neoliberal, 
ela não é adequada, porque produz resultados danosos. Se, 
por exemplo, o governo decide investir, e para isso tributa, 
incomoda os agentes econômicos, que reagem reduzindo o 
investimento. Se, alternativamente, o governo se endivida para 
fi nanciar o investimento público, isso eleva a taxa de juros e o 
investimento privado é desestimulado. Trata-se do crowding-out 
do investimento privado pelo público (BLANCHARD, 2008; 
SPENCER; YOHE, 1970). 
Mesmo na correção de externalidades negativas, razão 
aceita pelos ortodoxos para a intervenção estatal, alguns 
colocam que surgirão problemas relativos a comportamentos 
deletérios ou inefi cientes dos agentes privados em razão da 
intervenção estatal. É o caso do chamado rent-seeking behavior 
(KRUEGER, 1974).
Noções de crescimento e desenvolvimento
Se associarmos a noção passada na seção anterior, os 
modelos de tradição neoclássica, que enfatizam a acumulação 
de capital, é solução criticada pelos heterodoxos por mostrar 
um modelo “simplifi cado da realidade” e colocar todos 
os países na mesma condição de igualdade. A ideia é que o 
crescimento econômico, distribuindo diretamente a renda 
entre os proprietários dos fatores de produção, enquadra 
automaticamente a melhoria da qualidade de vida de toda 
população. 
Contudo, para Souza (2008), a experiência empírica tem 
demonstrado que o desenvolvimento econômico não pode 
ser confundido com o crescimento econômico, porque os 
frutos dessa expansão nem sempre benefi ciam a economia 
como um todo e o conjunto da população. Mesmo que a 
economia cresça a taxas elevadas, o desemprego pode não estar 
diminuindo na mesma proporção, tendo em vista a tendência 
da robotização dos termos de produção. O crescimento 
econômico, portanto, pode estar associado a fatores como: a 
transferência do excedente de renda para outros países reduz 
a capacidade de importar e realizar investimentos; os baixos 
salários limitam o crescimento de atividades que produzem 
bens de baixo valor agregado, sobretudo alimentação, 
prejudicando a expansão do setor de mercado interno; há 
difi culdades para implantação de atividades interligadas às 
empresas que mais crescem, exportadoras ou de mercado 
interno.
Para Bresser (2008), o processo do desenvolvimento 
econômico concorre com inúmeros fatores que se encadeiam 
uns aos outros. Como o crescimento decorre da acumulação 
de capital e do progresso técnico, é essencial saber se os 
empresários estão sendo estimulados a investir e inovar. Se não 
existirem estímulos, é sinal de que o problema está na falta de 
uma estratégia nacional de desenvolvimento. Se o problema 
enfrentado pelos empresários for a falta de mão de obra e 
de técnicos, o ponto de estrangulamento estará na educação. 
Se, pelo contrário, for uma taxa de câmbio incompatível com 
o investimento em setores com maior valor adicionado per 
capita, o problema será essencialmente macroeconômico.
A segunda corrente de pensadores, os chamados 
heterodoxos, encara o crescimento econômico como uma 
simples variação quantitativa do produto, não melhorando 
necessariamente o bem-estar da população como um todo, 
enquanto o desenvolvimento econômico caracteriza-se pela 
transformação da economia que não concentre renda a uma 
parcela da população, e que ao mesmo tempo melhore os 
indicadores socioeconômicos de toda população.
Pobreza, miséria e subdesenvolvimento
Esse setor amplia-se, portanto, com a redução a pobreza. 
Estima-se que a população miserável tenha chegado a 1,5 
bilhão de pessoas em 2003, enquanto em 1990 o número não 
passava de 1,3 bilhão. Levando em conta uma renda de até dois 
dólares por dia, chega-se a uma população de miseráveis, que 
em 1997 aumentou em todo o mundo, como na Indonésia, 
Tailândia e Coreia do Sul. A exceção seria a China, onde essa 
população caiu de 280 milhões, em 1990, para 125 milhões, 
em 1997 (Banco Mundial, 2003, Distribuição de renda).
3- Indicadores de desenvolvimento 
econômico
Nos anos de 1990, na América Latina, os indicadores 
sociais melhoraram, apesar do crescimento da divida 
externa e da infl ação. Isso resultou da difusão da educação, 
da conscientização social dos governantes e do aumento da 
renda per capita. A vida média passou de 50 para 65 anos; a 
taxa de mortalidade infantil reduziu-se de 130 por mil para 
50 por mil; a educação primária universalizou-se e a taxa de 
natalidade reduziu-se de 4,5% para 3%, em função do uso 
8Desenvolvimento Econômico I
generalizado de anticoncepcionais (HIRSCHMAN, 1996, p. 
881-890).
Esse mesmo fenômeno parece estar ocorrendo em nível 
mundial. Entre 1980/98, a taxa de mortalidade de menores 
de cinco anos caiu nos países de baixa renda de 177 por mil 
nascidos vivos, para 107 por mil, e de 79 por mil, para 38 
por mil nos países de renda média. Melhoria similar ocorreu 
no número de matriculas nas escolas primárias e secundárias 
(BANCO MUNDIAL, 2003).
O crescimento da renda per capita é fundamental para 
melhorar indicadores sociais. Essa variável correlaciona-se 
com os níveis educacionais e liberdades políticas. Imprensa 
livre e debate público aberto infl uenciam indicadores de bem-
estar (BANCO MUNDIAL, 1991, p. 57). A mortalidade 
infantil declina com o aumento dos níveis de educação 
feminina.
Mães esclarecidas passam a amamentar os recém-
nascidos, a esterilizar a mamadeira e a aplicar soro caseiro, o 
que evita o surgimento de muitas doenças.
Porém, além da renda per capita, devem-se considerar 
indicadores que possam refl etir melhorias sociais e 
econômicas, como alimentação, atendimento médico e 
odontológico, educação, segurança e qualidade do meio 
ambiente. Medidas destinadas a reduzir a pobreza podem 
ser indispensáveis quando for grande o contingente de 
pessoas carentes. A distribuição direta de renda através de 
programas de saúde, educação e alimentação da população 
mais pobre é indispensável para a melhoria dos indicadores 
de desenvolvimento (SOUZA, 2008).
Indicadores econômicos globais do desenvolvimento 
mundial
Alguns indicadores mostram que o nível de vida 
vem aumentando em todo o mundo. Entre 1988/1993, a 
expectativa de vida elevou-se de 60 para 62 anos nos países 
pobres, de 66 para 68 nas economias de renda média e de 76 
para 77 nos países ricos. No período 1985/1990, nesses países, 
o analfabetismo entre adultos reduziu-se, respectivamente, de 
44% para 41%, de 26% para 17% e de 24% para 14%. Entre 
1970/1998, a taxa de mortalidade infantil por mil nascidos 
vivos reduziu-se substancialmente em todo o mundo. Assim, 
entre 1980/1998, essas taxas caíram, respectivamente, de 
97 para 68 nos países pobres, de 60 para 31 nas economias 
de renda média e de 12 para 6 nos países ricos (BANCO 
MUNDIAL, 1990, 1995 e 2003).
“Em 2001, o PIB per capita (ponderado pela paridade do 
poder de compra de cada país) variava de US$ 470 em Serra 
Leoa, o país mais pobre do mundo, a US$ 34.320 nos EUA, o 
país mais rico e poderoso.” Serra Leoa é o país com o menor 
Índice de Desenvolvimento Humano (0,275), a mais alta taxa 
de mortalidade infantil (182 mortes por mil nascidos vivos) 
e a menor média de vida (34,5 anos) (Banco Mundial, 2003).
Nesse mesmo ano, o PIB per capita dos países de baixa 
renda foi de US$ 2.230, grupo no qual se incluem a Índia (US$ 
2.840) e o Paquistão (US$ 1.890), entre outros países. No 
grupo das nações de renda média baixa (US$ 4.674), aparecem 
o Egito (US$ 3.520), o Paraguai (US$ 5.210) e a Turquia (US$ 
5.890). O Brasil (US$ 7.360) encontra-se entre as economias 
com renda médiaalta (US$ 11.377), juntamente com o México 
(US$ 8.430) e a Argentina (US$ 11.320). Entre os países de 
alta renda (US$ 26.989), incluem-se os EUA (US$ 34.320) e 
a maioria dos países europeus (BANCO MUNDIAL, 2003).
Os países com as maiores taxas de crescimento anual 
do PIB per capita, entre 1990/2001, foram China (8,8%) 
e Coreia do Sul (4,7%). Nesse mesmo período, o PIB per 
capita se reduziu em alguns países, como Serra Leoa (-6,6%) e 
Federação Russa (-3,5%). No Brasil, ele ainda aumentou 1,4% 
no período, sendo bastante baixo seu crescimento na África 
do Sul (0,29%), país que ainda tem graves problemas raciais, 
e na Suíça (0,3%), provavelmente por ter chegado a um alto 
nível de desenvolvimento.
Estrangulamentos do desenvolvimento
A difi culdade em diversifi car e expandir as exportações e 
fatores como concentração da renda, educação defasada, falta 
de mão de obra especializada, defi ciência de infraestrutura e 
insufi ciência de poupança interna e de investimentos públicos 
constituem pontos de estrangulamento que precisam ser 
vencidos, sob pena de bloquear o crescimento da economia. 
Geralmente, é o Estado quem exerce uma ação coordenadora 
do desenvolvimento e quem procura vencer esses 
estrangulamentos. Em fases mais avançadas do processo de 
desenvolvimento, os principais estrangulamentos decorrem 
do esgotamento do modelo de substituição de importações, 
em razão da pequena dimensão do mercado interno para 
algumas substituições, como bens de capital, da insufi ciência 
de capital e da concentração da renda. 
A transição de uma economia de subsistência para uma 
economia industrializada, com amplo setor de mercado 
interno, pressupõe a transposição de inúmeros obstáculos 
criados pelo próprio crescimento econômico. Nesse processo, 
o desenvolvimento ocorreria por etapas, começando pela 
economia de subsistência, passando pelas exportações e pelas 
inovações tecnológicas, e terminando pela era do consumo 
em massa (ROSTOW, 1971).
As etapas do desenvolvimento econômico foram 
criticadas por autores como Douglas North. Segundo ele, os 
EUA não teriam seguido um desenvolvimento por etapas, 
porque não conheceram a fase da economia de subsistência; 
esse país teria se formado, desde o início, sob o impulso de 
empreendimentos capitalistas, tendo seu crescimento sido 
impulsionado pelo dinamismo do mercado mundial. A base 
exportadora explicaria o desenvolvimento de cada região. 
E, à medida que os meios de transporte se desenvolviam, 
novos produtos passavam a ser exportados, dinamizando as 
atividades interligadas, o comércio e os serviços (NORTH, 
1977, p. 295).
Na maioria dos países subdesenvolvidos, desde a Grande 
Depressão da década de 1930, as políticas de desenvolvimento 
têm enfatizado a industrialização via substituição de 
importações, com incentivos eventuais às exportações. 
As principais medidas foram: 
a) adoção de barreiras alfandegárias e intervenções no 
mercado cambial, com a manipulação da taxa de 
câmbio e confi sco de divisas; 
b) controle quantitativo de importações, a fi m de 
evitar a fuga de divisas com gastos supérfl uos e 
proporcionar mercado para a indústria nacional 
nascente; 
c) incentivos a indústrias específi cas, através de créditos 
9
subsidiados e renúncias fi scais, com a participação 
de empresas estatais e de empresas estrangeiras;
d) aumento do poder de compra das populações rurais, 
por meio de políticas agrícolas, envolvendo crédito, 
seguro, preços mínimos, estoques reguladores, 
investimentos em estradas rurais, comercialização 
da produção e reforma agrária; e 
e) implantação de infraestrutura de transportes, energia 
e comunicações.
A tendência moderna é o Estado tornar-se menos 
intervencionista, com sua atuação voltada para a orientação 
da economia. Essa coordenação pode ser constituída pela 
montagem de um banco de projetos em áreas de interesse 
estratégico e pela busca de grupos.
Promovemos na presente aula uma discussão 
conceitual sobre o desenvolvimento econômico. Foi 
feita uma introdução sobre o debate teórico entre 
as teorias econômicas acerca do desenvolvimento, 
apontando as diferenças entre os conceitos de crescimento 
e desenvolvimento econômico que perpassam os respectivos 
posicionamentos. Iremos ver ao longo da disciplina o refi namento 
desses conceitos.
Retomando a aula
1- Origens da Questão do desenvolvimento 
econômico
Vimos que modelos econômicos atuais identifi caram 
a escassez de capital como a causa fundamental 
do subdesenvolvimento. Os autores de inspiração 
neoclássica enfatizavam, como estratégia de crescimento e 
desenvolvimento, o aumento da poupança interna, o afl uxo de 
capitais externos e a expansão das exportações, fatores esses 
aceitos pela maioria das correntes de pensamento econômico 
contemporâneo.
2- Conceito básico sobre desenvolvimento 
econômico
O processo do desenvolvimento econômico concorre 
com inúmeros fatores que se encadeiam uns aos outros. 
Como o crescimento decorre da acumulação de capital e 
do progresso técnico, é essencial saber se os empresários 
estão sendo estimulados a investir e inovar. Se não existirem 
estímulos, é sinal de que o problema está na falta de uma 
estratégia nacional de desenvolvimento. Se o problema 
enfrentado pelos empresários for a falta de mão de obra e 
de técnicos, o ponto de estrangulamento estará na educação. 
Se, pelo contrário, for uma taxa de câmbio incompatível com 
o investimento em setores com maior valor adicionado per 
capita, o problema será essencialmente macroeconômico.
3- Indicadores de desenvolvimento econômico
Os países com as maiores taxas de crescimento anual 
do PIB per capita, entre 1990/2001, foram China (8,8%) 
e Coreia do Sul (4,7%). Nesse mesmo período, o PIB per 
capita se reduziu em alguns países, como Serra Leoa (-6,6%) e 
Federação Russa (-3,5%). No Brasil, ele ainda aumentou 1,4% 
no período, sendo bastante baixo seu crescimento na África 
do Sul (0,29%), país que ainda tem graves problemas raciais, 
e na Suíça (0,3%), provavelmente por ter chegado a um alto 
nível de desenvolvimento.
Crescimento e Desenvolvimento Econômico. Disponível em: 
http://www.bresserpereira.org.br/papers/2007/07.22.
crescimentodesenvolvimento.junho19.2008.pdf.
Desenvolvimento econômico regional – uma revisão histórica 
e teórica. Disponível em: https://www.rbgdr.net/revista/
index.php/rbgdr/article/view/679.
Em direção a uma síntese entre o crescimento econômico e 
a justiça social. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0034-75901974000300010.
Vale a pena ler
Vale a pena
Descomplicando a Economia analisa o crescimento 
econômico. Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=By80lBD7iE8&feature=emb_title.
Vale a pena assistir
Minhas anotações
2ºAula
 O desenvolvimento econômico em 
perspectiva histórica
Objetivos de aprendizagem
Ao término desta aula, vocês serão capazes de:
• entender o funcionamento da economia no longo prazo;
• compreender alguns estímulos por trás do crescimento e desenvolvimento econômico contemporâneo.
Vamos discutir, na aula de hoje, alguns fatos sobre o fenômeno 
do crescimento econômico no longo prazo. Em seguida, 
resumirei a experiência histórica de crescimento dos últimos dois 
séculos, dividida em suas principais fases. Por fim, analisaremos a 
distribuição de renda no mundo ao longo da história, com ênfase 
nos últimos 200 anos.
Bons estudos!
12Desenvolvimento Econômico I
Seções de estudo
1- O crescimento econômico na história: alguns fatos 
estilizados
2- O crescimento econômico moderno 
1- O crescimento econômico na 
história: alguns fatos estilizados
Conforme Veloso (2013), vivia-se em um mundo de 
pobreza generalizada, não muito diferente daquele evocado 
por Thomas Hobbes, no Leviatã, para quem a vida do homem 
em seu estado “natural” era “solitária, pobre, sórdida, brutal e 
curta”. Em princípio, a caracterização da história econômica 
mundial como sendo dominada por pobreza generalizada 
parece incompatível com o legadomaterial e cultural das 
gerações passadas, sob a forma de templos, palácios, obras 
de arte etc. que chegaram aos dias atuais. Porém, conforme 
lembra, entre outros, Robert Lucas, era perfeitamente possível 
às sociedades agrárias do passado sustentarem civilizações 
impressionantes a partir da extração de excedentes da maioria 
camponesa e sua posterior canalização aos proprietários de 
terras e às elites urbanas. O que tais sociedades não conseguiam 
proporcionar era um aumento signifi cativo no padrão de vida 
da maioria das pessoas.
Contudo, nos últimos 200 (vale dizer, os 0,2% mais 
recentes da história humana) ou, no máximo, 500 anos, 
tal estado de coisas passou a fi car para trás. Essa mudança 
envolveu o início de um processo que ganharia a designação 
de crescimento econômico “moderno” e que, com o passar do 
tempo, iria permitir ao habitante médio de várias sociedades 
contemporâneas, pela primeira vez na história, gozar de um 
conforto material digno das elites do passado (VELOSO, 
2013).
A história humana de baixa renda média desde sempre, 
de crescimento sustentado dos padrões de vida, pode ser 
representada pela curva de renda per capita exibida no Gráfi co 
1. A curva de PIB per capita resume o primeiro fato estilizado 
a que se referiu na Introdução desta aula, isto é, os séculos de 
baixíssimo (ou nenhum) crescimento dos níveis de renda per 
capita. 
Fonte: Elaboração própria, a partir de dados Maddison(2010) o Livi-Bacci(2007).
Tal situação decorria, fundamentalmente, do fato de o 
crescimento econômico em sociedades agrárias estar limitado 
por uma combinação de dependência extrema de um fator 
relativamente fi xo (a terra) e lento progresso técnico. Sob 
esse regime, épocas de crescimento econômico vinham 
acompanhadas de crescimento demográfi co (por melhoria da 
alimentação ou antecipação dos casamentos, com aumento 
correspondente da fecundidade), daí resultando uma expansão 
do PIB total. A esse fenômeno dá-se o nome crescimento 
extensivo, isto é, aquele que envolve maior uso dos fatores de 
produção (nesse caso, trabalho e terra), principais insumos em 
economias agrárias (VELOSO, 2013). 
Porém, o crescimento demográfi co, ao mesmo tempo, 
colocava pressão sobre recursos fi nitos (e a terra era o 
principal fator de produção em economias pré-industriais), o 
que – em um contexto de progresso técnico lento – implicava 
retornos decrescentes na produção. Ao fi nal, o crescimento 
do PIB total era compensado pelo aumento populacional, de 
tal forma que, no longo prazo, não havia – em um mundo 
pré-industrial – crescimento duradouro do PIB per capita. As 
sociedades agrárias tradicionais respondiam ao crescimento 
econômico com aumento da população, e não dos padrões de 
vida. Como resultado, os níveis de renda médios tenderam a 
gravitar em torno de um patamar baixo, não signifi cativamente 
distinto do que prevalecia, por exemplo, na Antiguidade 
(VELOSO, 2013)
O padrão de estagnação que caracterizava todas as 
sociedades agrárias, pré-industriais – envolvendo altos e baixos 
de uma renda média pouco acima da renda de subsistência –, 
dá-se o nome “regime malthusiano”, em alusão ao celebrado 
pastor inglês, autor do Ensaio sobre o princípio da população, de 1798.
Segundo a teoria de Malthus (1798), existe um potencial 
na espécie humana de se reproduzir mais rapidamente que 
seus meios de subsistência. Isso levou Malthus a concluir 
que o embate entre essas duas forças levaria inevitavelmente 
a crises de mortalidade – os chamados controles “positivos” 
–, nas quais o crescimento demográfi co seria limitado pela 
desnutrição, doenças e morte. Tal destino seria universal 
e inescapável, segundo o autor, a não ser que as sociedades 
cultivassem práticas visando a limitar o crescimento 
demográfi co através de hábitos morais – os chamados 
controles “preventivos”. Assim, para Malthus, a chave para 
tal prudência passava pela restrição ao acesso à instituição do 
casamento, por exemplo, via celibato.
Existe grande controvérsia na literatura especializada 
acerca da prevalência, antes da Revolução Industrial, de uma 
relação negativa entre crescimento demográfi co e padrão de 
vida (renda per capita). Em outras palavras, em que medida 
o mundo pré-industrial era universal e inescapavelmente 
malthusiano é matéria para acalorados debates na academia. A 
noção de crescimento “smithiano” (que será abordada na aula 
3) está associada aos ganhos de efi ciência proporcionados pela 
especialização. A ideia é que, quanto maiores a população e a 
demanda, maiores os incentivos para uma intensifi cação da 
divisão do trabalho na qual os indivíduos se especializam em 
fazer determinada tarefa. Com a especialização, aumentam 
as possibilidades de ganhos de comércio, proporcionando 
aumento da efi ciência alocativa na economia (VELOSO, 
2013).
13
Mesmo tais ganhos advindos da maior divisão do 
trabalho não são sustentáveis ao longo do tempo, porém. Em 
algum momento, uma economia experimentando os ganhos 
de especialização irá se estabilizar em um nível de efi ciência 
mais elevado, mas deixará de apresentar aumentos da renda 
per capita.
Contudo, os ganhos de produtividade associados à 
especialização não se esgotam aí. Conforme argumenta Karl 
G. Persson, a maior divisão do trabalho, estimulada pelo 
crescimento demográfi co também abre a possibilidade para 
ganhos de efi ciência associados ao aprendizado (learning by 
doing). Tais ganhos podem ser percebidos quando se atenta para 
o fato de que, à medida que um indivíduo adquire experiência 
na produção, maiores os ganhos potenciais advindos da 
observação de regularidades no processo produtivo, do acaso 
e da tentativa e erro. O conhecimento novo (e útil) assim 
adquirido permite alargamento do conhecimento técnico 
e irá gerar maior produção e/ou melhoria na qualidade dos 
produtos para um dado emprego de insumos. Em outras 
palavras, permite aumentos de efi ciência (produtividade) 
(VELOSO, 2013).
As sociedades pré-industriais se deparavam com dois 
tipos de forças opostas: as primeiras, de natureza malthusiana 
(Aprofundaremos os conceitos na aula 3), puxavam-nas na 
direção da estagnação; as segundas, via maior divisão do 
trabalho e learning by doing na produção, empurravam-na para a 
frente lentamente, com ganhos de renda per capita. A Figura a 
seguir resume essa ideia.
Nesse sentido (energético), a Revolução Industrial foi 
um divisor de águas na história da humanidade, ao permitir 
o rompimento defi nitivo das amarras que prendiam as 
economias orgânicas. A partir dela, as sociedades passariam 
a dispor, crescentemente, de fontes (quase) ilimitadas de 
energia que não competiam com a produção de alimentos 
pela ocupação de terras agricultáveis. Mas não foi apenas 
nesse sentido que a Revolução Industrial mudou o mundo. 
O caráter verdadeiramente revolucionário da Revolução 
Industrial manifesta-se em, pelo menos, duas outras formas: 
na economia e na demografi a. No primeiro caso, ele reside no 
fato de a Revolução Industrial ter alterado os parâmetros do 
crescimento econômico (VELOSO, 2013). 
Havia progresso técnico antes da Revolução Industrial, 
mas seu papel no crescimento econômico era modesto. Já 
durante a Revolução Industrial e após, o crescimento passou a 
ser cada vez mais dominado por melhorias na tecnologia. Esta, 
ao contrário de outras formas de crescimento econômico, 
não incorria em rendimentos decrescentes e, portanto, 
poderia se sustentar no tempo. O resultado desse novo 
tipo de crescimento, acumulado nos últimos 200 anos, é a 
enorme prosperidade de que desfruta parcela considerável da 
humanidade nos dias atuais. Já do ponto de vista demográfi co 
– o segundo aspecto revolucionário que se deseja enfatizar 
–, nota-se também uma infl exão na trajetória da população 
mundial a partir da virada do século XVIII para o XIX (ver 
a curva correspondente no gráfi co1), coincidindo, portanto, 
com a Revolução Industrial e, em parte, decorrente dela 
(VELOSO, 2013). 
Sendo assim, nos 175 anosda era Cristã anteriores à 
Revolução Industrial, estima-se que a população mundial 
tenha passado de 250 para 770 milhões de habitantes (isto 
é, uma taxa de crescimento média de 0,06% a.a.). Nos dois 
séculos a partir de 1750, essa taxa de crescimento praticamente 
multiplicou-se 10 vezes (para 0,6% a.a.)
 Se, conforme visto até aqui, existe grande debate na 
literatura quanto ao ritmo e à natureza do crescimento 
econômico no período pré-industrial, a disponibilidade de 
estimativas mais confi áveis para a renda per capita de diversas 
partes do mundo a partir de 1820 permite uma interpretação 
ligeiramente menos controversa dos fatos desde então. A 
próxima seção se dedica justamente a descrever e interpretar 
o crescimento econômico mundial – e das principais regiões 
– nos últimos 200 anos, vale dizer, a história do crescimento 
econômico moderno disseminado por vários países 
(VELOSO, 2013).
2- O crescimento econômico moderno
O desenvolvimento da tecnologia é a fonte que permite 
o crescimento econômico, mas é apenas um potencial. Uma 
condição necessária, mas não sufi ciente. Para que a tecnologia 
seja utilizada efi ciente e amplamente, e, de fato, para que sua 
utilização estimule seu próprio desenvolvimento, devem ser 
feitas adaptações institucionais e ideológicas, pois são estas 
que ocasionam o uso apropriado das inovações geradas 
pela acumulação crescente do conhecimento humano. Para 
citar exemplos do crescimento moderno: a energia a vapor e 
elétrica e as usinas de larga escala necessárias para explorá-las 
não são compatíveis com empresa familiar, analfabetismo ou 
escravidão - tudo isso predominava antigamente, mesmo na 
maior parte do mundo desenvolvido (KUZNETS, 1985).
 Não obstante, a multiplicação dos níveis de renda per 
capita ao longo dos dois séculos de crescimento econômico 
moderno não se deu de forma homogênea no tempo ou 
no espaço. Em outras palavras, países/regiões diferentes 
cresceram a taxas distintas em períodos diferentes. A Tabela 
1 deixa isso claro, ao dividir a experiência de crescimento 
econômico do mundo e de suas principais regiões desde a 
Revolução Industrial, segundo seis períodos, a saber: 1820-
1870, 1870-1913, 1913-1950, 1950-1973, 1973-1990 e 1990-
2008 (VELOSO, 2013)
14Desenvolvimento Econômico I
 Tabela 1 
Fonte: Veloso, 2013.
Observando a tabela acima podemos verifi car que a renda 
média por habitante do mundo se multiplicou no período por 
mais de 11 vezes em termos reais. Esse desempenho equivale 
a uma taxa de crescimento médio anual da renda per capita de 
1,3% ou, ainda, a uma renda individual que dobrou a cada 55 
anos. Insistindo nesse ponto: comparada à virtual estagnação 
dos padrões de vida médios no mundo pré-industrial, tem-se 
a real dimensão do avanço material observado nos últimos 
dois séculos.
Quanto aos diversos subperíodos, um primeiro exame dos 
dados da Tabela 1 revela taxa de crescimento da renda per capita 
entre 1820 e 1870 já em ritmo claramente “moderno”, mesmo 
que à época vários países ainda estivessem presos ao regime 
malthusiano. Essa taxa se acelera durante a primeira onda 
de globalização (1870-1913) para arrefecer no entreguerras. 
A chamada Era de Ouro (1950- 1973), por sua vez, irá se 
caracterizar pelas mais elevadas taxas de crescimento do PIB 
per capita na história, após o que a expansão desse indicador se 
dará em um ritmo mais lento – ainda que um pouco superior 
ao que prevaleceu nas décadas que antecederam a Primeira 
Guerra (VELOSO, 2013).
Raramente fi ca claro se alguma distinção deve ser feita 
entre teoria econômica e modelo econômico, contudo, alguns 
têm argumentado que o termo teoria deve ser reservado para 
afi rmações refutáveis ou irrefutáveis não ambíguas sobre os 
complexos inter-relacionamentos do mundo econômico real, 
enquanto que o termo modelo, reservado para abstrações, 
construções lógicas (e usualmente matemáticas) que elaboram 
uma “teoria” inicial ou, com base num conjunto de postulados 
iniciais, geram uma afi rmação teóricas (JONES, 1979).
Já os determinantes “últimos” do crescimento são 
muitos, mas a literatura tem enfatizado a importância de 
três, a saber: a geografi a (latitude, proximidade a cursos 
de água, clima etc.); o comércio internacional (no sentido 
amplo, incluindo benefícios e custos de participar dos fl uxos 
internacionais de mercadorias, serviços, capitais e mão de 
obra); e as instituições (defi nidas como arranjos sociopolíticos 
formais e informais que desempenham importante papel em 
promover ou retardar o crescimento)
 A geografi a infl uencia as taxas de crescimento econômico 
através de diversos canais. Diretamente, através da existência 
de depósitos de recursos naturais comercializáveis, a exemplo 
de petróleo, diamantes e outros minerais que sirvam de fonte 
de renda para um país. A qualidade do solo e a pluviosidade, 
por sua vez, determinam a produtividade da terra e, em última 
instância, a renda. A geografi a também infl uencia o ambiente 
epidemiológico de um país, com efeitos sobre morbidade 
e crescimento. Indiretamente, ela afeta o crescimento 
econômico via dois outros canais (VELOSO, 2013). 
Primeiramente, ao limitar a extensão em que um país 
consegue se integrar ao mercado internacional (pensar em 
países montanhosos e sem acesso ao mar, como a Bolívia 
e o Butão). Em segundo lugar, ao ajudar a moldar as 
instituições de um país, a exemplo do que ocorreu com as 
colônias de povoamento que viriam a dar origem aos Estados 
Unidos, contrastadas com a América portuguesa tropical, 
típica colônia de exploração, com instituições (posse de 
terra, acesso ao voto etc.) distintas daquelas vigentes nas 13 
colônias britânicas na América do Norte. Parte da literatura 
dá destaque ao papel da integração na economia mundial 
(isto é, comércio) como sendo um fator adicional por trás 
do crescimento econômico. Segundo esse argumento, o grau 
de abertura de uma economia tem impacto positivo sobre o 
crescimento, através dos ganhos de especialização e do poder 
das importações de forçar um aumento na produtividade dos 
produtores domésticos (Veloso, 2013)
Considerando a variação e intensidade dos mecanismos 
de transmissão do padrão negativo entre a dotação de 
recursos naturais e o crescimento econômico, em decorrência 
do tipo de recurso natural de maior dotação, em que pese 
especialmente àqueles incluídos como exportadores de 
petróleo e outras fontes de energia, a literatura aponta que 
haverá quatro canais proeminentes de transmissão conforme 
Carvalho (2018):
1) existência do que fi cou convencionado chamar de 
“Dutch Disease”, que signifi ca um efeito perverso 
das exportações dos recursos naturais, sobre a 
taxa de câmbio e o salário real, elevando-os, com 
um consequente aumento da volatilidade da taxa 
de câmbio – vulnerabilidade externa, e efeito 
detrimental sobre outros setores da economia; 
2) conformação de um comportamento social, de 
natureza “rentseeking”, por parte dos produtores, 
muito estimulada por um comportamento 
protecionista e estratégias de desenvolvimento 
lideradas pelo estado; 
3) agentes com falsa sensação de segurança, e 
um governo mergulhado em uma inefi ciência 
burocrática e mesmo corrupção no gerenciamento 
desses recursos, em geral haveria, portanto, uma 
baixa qualidade das instituições e; 
4) pelas características da economia, intensiva no uso 
de recursos naturais em consonância com uma 
mão de obra não qualifi cada, são realizados poucos 
investimento em capital humano, com efeito na 
redução dos setores mais inovadores, bem como, 
decréscimo da produtividade (média) do trabalho
Finalmente, as instituições têm recebido atenção 
crescente da literatura de crescimento, à medida que, 
por exemplo, o respeito aos direitos de propriedade, a 
existência de estruturas regulatórias adequadas, a qualidade 
15
e independência do poder judiciário e a capacidade da 
burocracia estatal são elementos importantes para o início 
do processo de crescimento econômico e sua sustentação no 
tempo.Esses três determinantes “últimos” servirão de base, 
no restante desta seção, para uma breve análise do crescimento 
econômico agregado e das principais regiões do mundo nos 
seis subperíodos em que se dividiu a história moderna. O 
crescimento econômico no “longo século XIX” (isto é, até as 
vésperas da Primeira Guerra) comporta duas fases distintas, 
separadas pelo ano de 1870 (VELOSO, 2013).
Entre 1820 e 1870, o crescimento da renda per 
capita mundial se deu em ritmo mais lento, ainda que 
notavelmente superior ao observado nos séculos anteriores 
à Revolução Industrial. O resultado até 1870 deveu-se, quase 
exclusivamente, ao desempenho dos primeiros países a se 
industrializarem, na Europa e Estados Unidos. Por seu turno, 
os chamados países “retardatários” continuavam, em sua 
maioria, ainda imersos em um mundo malthusiano de pouco 
avanço na renda per capita (e, em alguns casos, possíveis recuos, 
como na Ásia e América Latina). O ritmo de crescimento da 
maior parte das economias iria se acelerar a partir dos anos 
1870, fruto dos avanços tecnológicos trazidos pela chamada 
Segunda Revolução Industrial, combinados aos ganhos 
trazidos pela maior integração entre as economias (VELOSO, 
2013).
Para a intensificação do comércio internacional no século 
XIX (quando cresceu em um ritmo quatro vezes superior 
ao da economia), contribuiu uma combinação de avanços 
tecnológicos e institucionais. Entre os primeiros destacam-se 
melhoramentos na tecnologia de transportes e comunicações 
(ferrovias e navios a vapor; telégrafo elétrico) Do lado 
institucional, ressaltam-se: o desmantelamento gradativo 
das restrições mercantilistas que emperravam as trocas até 
então (ver os processos de independência nas Américas e o 
fim das restrições coloniais); a redução das tarifas médias de 
importação (até o final dos anos 1870); e, a partir de 1871, a 
consolidação do sistema de padrão-ouro internacional (e as 
taxas de câmbio fixas a ele associadas) (VELOSO, 2013).
 É provável que, mais que em qualquer outra época, 
tenha sido durante o século XIX que a geografia exerceu um 
papel decisivo na determinação das trajetórias de crescimento 
econômico das diversas regiões do globo. Nessa linha, Jeffrey 
Williamson argumenta que os padrões de especialização 
produtiva dos países – determinados pela dotação relativa 
de fatores e, em última instância, por condições climáticas, 
tipos de solo etc. – foram reforçados durante o período. 
Para o autor, os ganhos generalizados proporcionados pela 
chamada “grande especialização” da época (na qual os países 
do “centro” se especializaram na produção e exportação de 
manufaturados e os da “periferia” na produção e exportação 
de commodities) se deram na direção “correta” prevista pelo 
modelo ricardiano de vantagens comparativas. 
O primeiro fator é facilmente explicado. Diante do 
barateamento dos custos de produção na indústria têxtil 
algodoeira (o principal setor industrial à época) trazido 
pela Revolução Industrial, países com expressiva produção 
baseada em manufaturas rurais passaram a sofrer a 
concorrência avassaladora de têxteis britânicos produzidos 
por maquinofaturas (fábricas).
O resultado foi a expansão das exportações têxteis 
britânicas, solapando não apenas a produção doméstica 
naqueles países como também o predomínio de têxteis indianos 
no mercado internacional. Já os outros dois fatores ressaltados 
por Williamson exigem um pouco mais de elaboração. O 
primeiro caso (práticas de rent-seeking por parte da elite de 
fazendeiros e donos de minas) decorre da especialização que 
se seguiu ao início da globalização “clássica”, na segunda 
metade do século XIX. Países asiáticos e latino-americanos, 
em particular, passariam crescentemente a produzir e 
exportar commodities, movimento que seria impulsionado, 
ainda, pela melhoria dos termos de troca dos países primário-
exportadores então observada. Consequentemente, reforçou-
se, nesses países, o poder de grandes proprietários rurais e de 
minas, que impuseram domesticamente políticas que excluíam 
a maior parte da população do acesso ao voto e, crucialmente, 
à educação (VELOSO, 2013).
 Por fim, o terceiro ponto destacado por Williamson 
envolve a chamada “loteria das commodities”. A ideia aqui é que 
as dotações climáticas e geográficas dos países da periferia os 
levaram a se especializar na produção e exportação de uns 
poucos produtos primários. Isso, por sua vez, tornava o 
investimento (cujos recursos provinham, em geral, dos lucros 
derivados do comércio exterior) muito suscetível à oscilação 
dos preços internacionais daqueles produtos. Ao final, países 
como Cuba (açúcar) e, em menor grau, Brasil e Colômbia 
(café) enfrentaram – por força da maior volatilidade (e, no 
caso do açúcar, tendência inequívoca de queda) dos preços 
desses produtos comparativamente, por exemplo, a lã, trigo 
e carnes exportados pela Argentina e Uruguai – taxas de 
investimento igualmente voláteis, prejudicando assim a sua 
trajetória de crescimento no longo prazo (VELOSO, 2013). 
Seja como for, a globalização “clássica” do século XIX 
chegaria ao fim com a eclosão da Primeira Guerra Mundial e 
o freio imposto ao comércio internacional de bens, capitais e 
mão de obra. À destruição física trazida pelo conflito bélico 
e a retomada descoordenada do padrão-ouro nos anos 
1920 seguiram-se a crise de 1930 (a Grande Depressão) e 
o colapso da cooperação internacional, com a maior parte 
dos países implementando medidas comerciais e cambiais 
protecionistas, visando a “empobrecer o vizinho”. Esse 
processo de “desglobalização”, revertendo a integração dos 
mercados de bens e fatores observada na segunda metade do 
século XIX, contribuiu para desacelerar ainda mais o ritmo de 
crescimento econômico. Uma nova guerra em escala mundial, 
de proporções ainda mais destruidoras, ajudou a compor um 
quadro de baixo crescimento médio no mundo no período 
1913-1950 (0,88% a.a., contra 1,3% a.a. entre 1870-1913).
As políticas de desenvolvimento não devem enfatizar 
apenas o fortalecimento e a dinamização do mercado interno, 
uma vez que investimentos em atividades econômicas 
ligadas à exportação, mesmo que isolados, podem induzir o 
crescimento de atividades a ela vinculadas, em decorrência dos 
efeitos de encadeamento que elas propiciam. Portanto, deve-
se induzir o investimento em atividades que são dotadas de 
elevados índices de encadeamento, de forma que parcela do 
investimento induzido resultaria em efeitos de encadeamento 
para frente (forward effects) ou para trás (feedback effects). Assim, 
o planejamento de investimentos tem, necessariamente, 
16Desenvolvimento Econômico I
de considerar também as external economies resultantes dos 
efeitos em cadeia e da infraestrutura criada pelo Estado, que 
reduzem os custos de produção e impulsionam os processos 
de desenvolvimento (HIRSCHMAN, 1961).
Enquanto o entreguerras confi gura subperíodo de 
crescimento da renda per capita mundial atipicamente lento, as 
duas décadas e meia do pós-Segunda Guerra entrariam para a 
história como a Era de Ouro (1950-1973), assim chamada por 
ter testemunhado as mais elevadas taxas de crescimento do 
PIB per capita na Europa Ocidental, Estados Unidos, Japão e 
diversas economias em desenvolvimento (inclusive o Brasil). 
Com efeito, todas as regiões e principais economias do mundo 
à época se benefi ciaram dessa fase de crescimento, fossem elas 
capitalistas ou socialistas, países do (então) chamado Primeiro, 
Segundo ou Terceiro Mundo. Assim, entre 1950 e 1973, 
o PIB per capita mundial aumentou, em média, 2,92% a.a., 
com desempenho particularmente elevado na Europa (tanto 
Ocidental como Oriental) e, sobretudo, no Japão. O PIB 
per capita dos Estados Unidos e da América Latina também 
cresceu a taxas recordes nesse período – respectivamente, de 
2,45% a.a. e 2,58% a.a., tendo o Brasil crescido ainda mais 
(3,73% a.a.), conforme se vê na Tabela 1 (VELOSO, 2013).
Um dos propulsores dessa fase foi a retomada dos fl uxos 
de comércio,em mais um exemplo do papel desse último 
como determinante “último” do crescimento. A criação e 
posterior ampliação da Comunidade Econômica Europeia 
– um novo arranjo institucional, favorecendo o comércio no 
continente – reforçam esse ponto.
No curto prazo, conforme Blanchard (2010) “as variações 
no produto originam se das variações na demanda por 
bens”, ou seja, é a demanda quem determinada a produção. 
Relacionando a produção, renda e gasto em bens, Dornbusch 
(2009, p. 186) afi rma que “o gasto determina o produto e a 
renda, mas o produto e a renda também determinam o gasto”, 
onde a demanda é o impulsionador.
No médio prazo, importante para a produção é o lado 
da oferta, ou seja, o quanto a economia pode produzir. Isso 
depende do grau de avanço da tecnologia do país, de quanto 
capital está sendo usado, e do tamanho e da qualifi cação de 
sua força de trabalho. Esses fatores são os determinantes 
fundamentais do nível de produto de um país. Já, no longo 
prazo, os determinantes do produto são fatores como o 
sistema de ensino de um país, a taxa de poupança e a qualidade 
do governo. Portanto, se quisermos entender o que determina 
o nível de produto, a longo prazo, devemos examinar esses 
fatores (BLANCHARD, 2010)
Os modelos de crescimento que buscam explicar a 
elevação da capacidade produtiva ao longo do tempo são 
tratados na literatura como modelos de crescimento de 
longo prazo. Assim sendo, partindo do entendimento de que 
crescimento é a expansão do produto real ao longo do tempo 
e, se a curto prazo, agregados como o consumo ou gastos do 
governo são importantes para a expansão do produto, a longo 
prazo o crescimento é dado, pela acumulação de capital, 
inovações tecnológicas ou elevação da efi ciência do trabalho 
(LOPES e VASCONCELOS, 2009)
A Era de Ouro chegou ao fi m devido a uma combinação 
de choques adversos (colapso do sistema de taxas de câmbio 
fi xas sob Bretton Woods e primeiro choque do petróleo) 
e, nos casos europeu e japonês, ao próprio esgotamento 
dos benefícios, em termos de aumento da produtividade, 
trazidos pela transferência de recursos da agricultura para a 
indústria. Os retornos decrescentes associados às estratégias 
de desenvolvimento econômico voltadas “para dentro”, 
tanto em sua versão socialista como entre os países em 
desenvolvimento que seguiram o modelo de industrialização 
por substituição de importações (ISI), também se tornaram 
explícitos ao fi nal do período 1973-1990 (Veloso, 2013).
 Os resultados concretos sobre as taxas de expansão 
do PIB per capita, dessa estratégia liberalizante nos anos 1990 
não foram os esperados nos países em desenvolvimento 
e, nas economias em transição (ex-socialistas), podem ser 
considerados muito ruins. Assim, enquanto a América 
Latina jamais retomou as taxas de expansão do PIB per capita 
observadas nos anos 1950 e 1960, as ex-repúblicas soviéticas 
cresceriam menos de 0,8% a.a. entre 1990 e 2008.31 Já 
nas economias industriais avançadas (exceto o Japão), o 
crescimento do PIB per capita entre 1990 e 2008 ocorreu em 
um ritmo ligeiramente inferior – mas ainda bastante razoável 
(VELOSO, 2013).
 Também na década de 1990, ganhou corpo importante 
fenômeno na Ásia, na qual o crescimento espetacular da 
economia da China (e, em menor ritmo, da Índia) contrasta 
com o início de longa estagnação da economia japonesa, até 
então um exemplo de “milagre” econômico. Dado o ritmo 
em que vem se dando o crescimento dos dois gigantes 
asiáticos – compreendendo cerca de 40% da população global 
–, seus efeitos se fazem sentir sobre as diversas regiões do 
globo. Em particular, a América Latina e a África, tradicionais 
fornecedores de matérias-primas no mercado mundial, foram 
claramente benefi ciadas pela expansão asiática; suas taxas 
de crescimento econômico no período 1990-2008 (de 1,8% 
e 1,2% a.a., respectivamente), se não são extraordinárias, ao 
menos representam avanço em relação à virtual estagnação 
do período anterior. A especialização no fornecimento 
de commodities agrícolas e os ganhos obtidos a partir daí são 
testemunho, outra vez, de dois dos determinantes “últimos” 
referidos do crescimento (a geografi a e o comércio) 
(VELOSO, 2013).
 Da breve história do crescimento econômico 
moderno vista aqui, fi ca claro o padrão desigual daquele 
fenômeno, tanto no tempo como no espaço. Experiências 
de crescimento regional em ritmos diversos em diferentes 
períodos, ao longo de quase 200 anos de história, teriam de 
resultar, inevitavelmente, em níveis distintos de renda per capita 
nos países. Assim, tomadas em conjunto, as Tabelas 1 e 2 
permitem concluir que as rendas per capita de todas as regiões 
do mundo cresceram nos últimos dois séculos, embora 
algumas tenham crescido mais que outras (VELOSO, 2013)
Trabalhando com as chamadas “tabelas sociais” (social 
tables) – conjuntos de estimativas de renda média e população 
de diferentes classes sociais de determinada sociedade, feitas 
por contemporâneos –, Branko Milanovic, Peter Lindert 
e Jeffrey Williamson conseguiram estimar indicadores de 
concentração de renda em 28 economias pré-industriais, indo 
desde Roma antiga (no ano 14 d. C.) à Índia às vésperas de sua 
independência, em 1947 (Veloso, 2013).
Vamos citar três conceitos de desigualdade defi nidos na 
17
literatura conforme (Veloso, 2013).
Conceito 1: desigualdade internacional não ponderada; 
nesse caso, cada país entra com uma renda per capita única 
e o coefi ciente de Gini é calculado como se todos os países 
tivessem o mesmo tamanho. 
Conceito 2: permanece a hipótese de que todos os 
habitantes de determinado país recebem o equivalente à sua 
renda per capita; diferentemente do conceito 1, porém, cada 
país entra com um número de observações proporcional à 
sua população.
Conceito 3: a unidade de análise deixa de ser os países e 
passa a ser os indivíduos; é como se estivéssemos interessados 
na distribuição de renda entre cidadãos do mundo e não 
(como nos conceitos 1 e 2) na distribuição de renda entre 
brasileiros, chineses, argelinos etc. “médios”.
Na prática, os dois primeiros conceitos buscam medir 
o que se pode designar como desigualdade internacional 
(entre nações) e estão na base da enorme literatura acerca da 
existência (ou não) de divergência entre a renda per capita dos 
diversos países. Já o conceito 3 capta o grau de desigualdade 
global (isto é, entre indivíduos, independentemente de 
seu país de residência) no mundo. O Gráfi co 2 mostra o 
comportamento, ao longo dos últimos 200 anos, desses três 
conceitos de desigualdade de renda.
A globalização implica, obviamente, em que a 
desigualdade entre a humanidade global esteja recebendo mais 
atenção. Somente com o desenvolvimentismo pós-Segunda 
Guerra Mundial, a desigualdade entre as nações do mundo 
recebeu atenção pública. A atual onda de globalização está 
provocando a comparação entre outras categorias humanas, 
como as mulheres do mundo, as crianças do mundo, 
domicílios em todo planeta.
Começando pela medida de desigualdade internacional 
(conceitos 1 e 2), percebe-se nítido fenômeno de divergência 
após a Revolução Industrial à medida que uns poucos países 
europeus (acrescidos dos Estados Unidos) começavam a se 
industrializar e auferir os benefícios, sobre os níveis de renda 
per capita, do crescimento econômico moderno. A maior parte 
dos demais, por seu turno, ainda estava presa à dinâmica 
malthusiana, apresentando renda per capita estagnada no 
século XIX. Como resultado, a diferença da renda média dos 
países mais ricos para os mais pobres, que era de, no máximo, 
4:1 em 1820, saltou para mais de 60:1 no início do século XXI 
(Veloso, 2013).
Gráfi co 2
Da combinação de crescimento moderno de uns poucos 
e estagnação (ou crescimento lento) da maior parte dos países 
resultou um aumento contínuo (brevemente interrompido no 
entreguerras) do coefi ciente de Gini, segundo o conceito 1. 
Já a desigualdade internacional medida pelo conceito 
2 apresenta trajetória ligeiramente distinta:um salto mais 
abrupto no pós-guerra seguido de recuo modesto a partir da 
década de 1980 (em função, sobretudo, dos avanços na renda 
per capita de dois países pobres e populosos: China e Índia). 
Não obstante, o sucesso recente dos dois gigantes asiáticos, 
o grau de desigualdade internacional de renda observado no 
início do século XXI é o mais elevado da história (ao menos 
segundo o conceito 1) (VELOSO, 2013).
 Com relação à medida de desigualdade global de 
renda (captada pelo conceito 3), a série se inicia em um 
patamar signifi cativamente mais elevado que nos outros dois 
indicadores e cresce ininterruptamente até os dias atuais, 
quando revela um nível de desigualdade também superior ao 
indicado pelos outros dois conceitos.
 Como se vê, entre o início do século XIX e o início do 
XXI, houve um aumento de cerca de 20 p.p. no coefi ciente 
de Gini (conceito 3). Adicionalmente, ocorreu uma mudança 
na natureza dos determinantes desse conceito de desigualdade 
global. Enquanto no início do século XIX o principal 
determinante da desigualdade entre cidadãos do mundo eram 
as diferenças de renda dentro dos países, no início do século 
XXI ela decorre majoritariamente de diferenças nas rendas 
per capita entre os países. Nos termos de Branko Milanovic, até 
o século XIX a posição de um indivíduo na distribuição da 
renda global era determinada, principalmente, por sua classe 
social; modernamente, o que conta é, sobretudo, o seu local 
de residência (VELOSO, 2013).
 Já a estabilidade recente (ainda que em um patamar 
nitidamente elevado com um Gini em torno de 0,70) desse 
indicador de desigualdade é resultante de três forças que vêm 
atuando nas últimas décadas, duas no sentido de agravar a 
desigualdade e outra a atenuando.
As duas primeiras referem-se ao aumento da 
desigualdade dentro dos principais países do mundo (Estados 
Unidos, China e Índia, por exemplo), ao qual se soma a 
divergência na renda média dos diferentes países (já que os 
países muito pobres vêm crescendo menos que os demais nas 
últimas décadas). Agindo em sentido contrário está o rápido 
crescimento da renda per capita de China e Índia, dois países 
que ainda são pobres, no sentido de que sua renda per capita é 
inferior à renda média mundial. Do comportamento da renda 
per capita desses dois países dependerá a tendência futura da 
desigualdade global.
Esta aula abordou, sob uma perspectiva histórica, o 
desenvolvimento econômico em suas duas principais 
dimensões: o crescimento e a distribuição de renda.
Retomando a aula
1- O crescimento econômico na história: alguns 
fatos estilizados
O resultado desse novo tipo de crescimento, acumulado 
18Desenvolvimento Econômico I
nos últimos 200 anos, é a enorme prosperidade de que 
desfruta parcela considerável da humanidade nos dias atuais. 
Já do ponto de vista demográfi co – o segundo aspecto 
revolucionário que se deseja enfatizar –, nota-se também uma 
infl exão na trajetória da população mundial a partir da virada 
do século XVIII para o XIX coincidindo, portanto, com a 
Revolução Industrial e, em parte, decorrente dela.
2- O crescimento econômico moderno
Enquanto no início do século XIX, tal desigualdade 
decorria, sobretudo, das diferenças de renda (classe) dentro 
dos países, crescentemente a desigualdade de renda global 
é explicada pela divergência da renda per capita dos diversos 
países.
O caminho do desenvolvimento econômico. 
Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=yWAgvoWGgRA.
Vale a pena assistir
Sociedade e Economia: estratégias de crescimento 
e desenvolvimento. Disponível em: http://repositorio.
ipea . g ov.b r/b i t s t r eam/11058/3225/1/L iv ro_
SociedadeeEconomia.pdf.
Crescimento Econômico X Desenvolvimento 
Econômico. Disponível em: http://www.academicoadm.
com.br/2018/03/03/crescimento-economico-x-
desenvolvimento-economico/.
Vale a pena ler
Vale a pena
Minhas anotações
3ºAula
Desenvolvimento Econômico 
Segundo os Pensadores Clássicos
Objetivos de aprendizagem
Ao término desta aula, vocês serão capazes de:
• compreender a origem das crises capitalistas e compreender as variáveis que afetam a acumulação de capitais;
• emprego e crescimento econômico;
• reconhecer os aspectos do crescimento econômico na visão dos economistas clássicos.
Esta aula tem como objetivo mostrar como os economistas 
clássicos abordaram a questão do desenvolvimento econômico 
e quais as teorias por traz de cada escola. Vamos procurar 
delimitar as origens das crises capitalistas que afetam 
principalmente a acumulação de capitais, o nível de emprego e 
o crescimento econômico.
Bons estudos!
20Desenvolvimento Econômico I
Seções de estudo
1- Os precursores: mercantilistas e fi siocratas
2- Desenvolvimento segundo Adam Smith
3- Desenvolvimento segundo David Ricardo
1- Os precursores: mercantilistas e 
fi siocratas
Mercantilistas
Para os mercantilistas, a riqueza das nações depende 
do afl uxo externo de metais preciosos. Essa ideia levou à 
expansão do comércio internacional, provocando crescimento 
econômico entre as nações envolvidas. A grande crítica 
do sistema era desconsiderar o papel das importações no 
processo de desenvolvimento econômico. Procurava-se então 
sobrevalorizar as exportações e comprimir as importações.
Isso provocou o protecionismo da atividade econômica 
interna contra os produtos importados, que no longo prazo 
mostrava-se prejudicial ao desenvolvimento. Ao longo 
dos anos constatou-se que essa política difi cultou a difusão 
tecnológica e a adoção de processos de redução de custos. 
Dentro do mercantilismo, tudo era feito para a acumulação 
de ouro e prata assim, o Estado deveria pautar suas ações para 
tal.
Na França, cujos principais expoentes foram 
Montchrétien, Cantillon e Colbert, o sistema mercantilista 
adquiriu a forma industrialista. Procurava-se incentivar a 
indústria como forma de se obter uma balança comercial 
superavitária. Nesse sentido, o Estado concedia & monopólio 
a alguns indivíduos para a produção de determinados bens, 
fi xava a taxa de juros e estabelecia salários máximos, a fi m 
de manter a competitividade das exportações. Normas 
governamentais limitavam o consumo interno de bens de 
luxo cortados, tais como tapeçarias, cristais, louças, tecidos e 
couros manufaturados (SOUZA, 2008).
Colbert (1619-1683) procurou conquistar os mercados 
externos pelo aprimoramento da qualidade dos produtos 
franceses. Aos poucos, a ênfase em poucos, a ênfase em 
relação à moeda foi passando para a esfera da produção, 
com as grandes nações fazendo de tudo para aumentar o seu 
poder comercial, Nesse sentido, cada metrópole estabeleceu 
um pacto colonial com suas colônias. Mediante esse pacto, 
todo o comércio externo das colônias efetuava-se apenas 
com a metrópole, que fi xava os preços e as quantidades dos 
produtos comercializados (HUGON, 1988). 
Os preços das manufaturas importadas pelas colônias 
deveriam ser os mais elevados possíveis, enquanto eram 
fi xados em níveis extremamente baixos os preços das matérias-
primas e alimentos adquiridos pela metrópole. Da mesma 
forma, somente os navios metropolitanos transportavam 
os bens comercializados entre as colônias e a metrópole 
respectiva (Hugon, 1988, P. 79). Essa política promoveu uma 
Revolução Comercial na Europa e consolidou as economias 
nacionais dos grandes países europeus, mas estabeleceu as 
raízes do subdesenvolvimento contemporâneo.
Contudo, o sistema mercantilista tinha sua coerência 
interna. De um lado, a preocupação em expandir as 
exportações contribuía para desafogar os estoques de 
mercadorias e elevar o nível de renda e de emprego; de outro 
lado, o afl uxo de moeda ajudava a reduzir a taxa de juros e, 
com isso, estimulava o nível do investimento e o crescimento 
econômico (SOUZA, 2008).
O pensamento mercantilista considerava que “uma 
taxa de juros indevidamente alta era o maior obstáculo ao 
desenvolvimento da riqueza; e os mercantilistas haviam 
também compreendido que a taxa de juros dependia 
da preferência pela liquideze da quantidade de moeda” 
(KEYNES, 1990, p. 262).
Entre os mercantilistas ingleses, destacaram-se Thomas 
Mun e John Law. Thomas Mun (1571-1641) defendeu a 
reexportação, quando o valor vier a superar as importações 
realizadas para esse fi m. Ele deu um passo além da concepção 
mercantilista de então, ao afi rmar que o fundamental do 
enriquecimento de um país está no comércio exterior, por 
desenvolver a atividade Econômica interna, Então na simples 
acumulação de reservas (SOUZA, 2008). 
John Law (1671-1729) acreditava que a escassez de 
“metais preciosos” poderia ser sanada com a emissão de 
papel-moeda sem o lastro correspondente. Fundou o Banco 
Royale, na França, em 1716, desencadeando um processo 
visionário, uma vez que não houve o aumento simultâneo 
da produção. Segundo Hugon (1988, p. 77), esse fato foi o 
responsável pela rejeição do crédito durante todo o século 18, 
o que prejudicou o desenvolvimento dos bancos e da própria 
atividade produtiva.
Fisiocratas
Os fi siocratas, conhecidos como “Os Economistas”, 
combatiam a doutrina mercantilista ao propor uma conduta 
liberal por parte do Estado é ao transferir a atenção da análise 
da órbita do comércio para a da produção. Segundo eles, a 
indústria e o comércio apenas transformam e transportam 
valores; o produto líquido somente é gerado na agricultura, 
por meio do fator terra, que é uma dádiva da natureza. 
Há uma funcionalidade entre os setores econômicos, e a 
riqueza circula entre as três classes sociais: classe produtiva 
(capitalistas e trabalhadores da agricultura), classe estéril 
(capitalistas e trabalhadores dos demais setores) e a classe 
ociosa (proprietários de terras) (SOUZA, 2008). 
O “Tableau Économique”, do Dr. Quesnay, tem 
exatamente a fi nalidade de pôr em evidência essa ordem 
natural. A sociedade se compõe de três classes: uma 
“produtiva”, formada de agricultores; outra, constituída pelos 
proprietários imobiliários, e, fi nalmente, a classe chamada 
“estéril”, compreendendo os que se dedicam ao comércio, 
à indústria, aos serviços domésticos e às profi ssões liberais. 
A fome e as epidemias dizimavam periodicamente grande 
número de pessoas. Segundo os fi siocratas, a terra produz 
valor por sua fertilidade, seguindo leis físicas. Com essa lei 
natural regulando a ordem econômica, os agentes precisariam 
poder agir livre e naturalmente. Ao criar obstáculos à circulação 
de pessoas e de bens, o Estado estaria inibindo essa ordem 
natural. Argumentavam que “as relações econômicas Hluem 
21
no organismo social como o sangue no corpo humano” 
(HUGON, 1988, p. 91).
Até fi ns do século 19, as taxas de mortalidade eram 
extremamente altas. As principais causas dessas altas taxas 
eram: escassez de alimentos, grande incidência de doenças 
transmissíveis, defi ciências de saneamento, falta de higiene 
e baixos padrões materiais de vida. Contribuíram para 
reduzir a taxa de mortalidade o uso generalizado do sabão, 
o aumento da produção de alimentos e o progresso material 
proporcionado pela Revolução Industrial, bem como o 
progresso da medicina, a partir das descobertas de Pasteur em 
1870 (existência de bactérias) e do emprego de antibióticos e 
inseticidas (Mirador, 1995, 9138). o aumento da demanda de 
produtos agrícolas; e (c) estímulo ao comércio exterior, para 
escoar a produção agrícola (SOUZA, 2008).
Os fi siocratas consideravam a despesa do consumidor 
como o principal determinante da renda. Com maior consumo, 
os preços agrícolas aumentariam, estimulando a acumulação 
de capital. Desse modo, vs preços dos produtos agrícolas”, 
deveriam ser altos, para estimular o aumento da produção e 
da produtividade. Esta é a doutrina do caro e abundante, ou 
teoria do bom preço. O bom preço é aquele que elimina” “a 
lucro puro e é fi xado pela concorrência no mercado.
Com preços mais altos, os consumidores precisam ser 
compensados pela redução da carga tributária, através de 
um imposto único sobre a atividade agrícola. Essa proposta 
justifi cava-se porque, segundo os fi siocratas, não teria sentido 
tributar uma atividade que não produzisse excedente de valor 
sobre o seu custo de produção. À ideia social subjacente da 
redução da pressão sobre os pobres era a de que os produtores 
seriam benefi ciados pelo aumento da produção, do consumo 
e dos lucros. A arrecadação pública deveria crescer pelo 
aumento do produto nacional e pela redução da evasão fi scal 
(SOUZA, 2008). 
Não obstante à preferência pela atividade agrícola, 
fi siocratas defendiam a manutenção de uma importante 
atividade manufatureira como instrumento de elevação geral 
do nível de renda. Em relação aos preços das manufaturas, 
a postura fi siocrática era oposta”, eles deveriam ser baixos 
para estimular o consumo, o que se refl etiria no aumento da 
produção n reg or nível de renda provocaria a manufatureira 
e na maximização da renda agregar expansão do consumo 
dos produtos agrícolas, induzindo novos investimentos na 
agricultura e o crescimento dos demais setores de atividade.
Entretanto, os fi siocratas consideravam os gastos em 
bens de luxo prejudiciais a noção do bom preço. Quanto 
maiores os gastos com bens de luxo, tanto menos se elevariam 
os preços agrícolas, levando a agricultura à dispor de menos 
recursos para investimentos, Essa doutrina fi siocrática do 
bom preço para os produtos agrícolas contrastará com a 
doutrina do barato e abundante dos economistas clássicos, 
como será redução do excesso de regulação (SOUZA, 2008)
A esse respeito, Quesnay é formal e afi rma: “Não se 
deve impedir, de forma alguma, o comércio exterior dos 
produtos da terra; porque tal é a venda, tal é a reprodução. 
Que por forma alguma se faça baixar o preço dos gêneros 
e das mercadorias no reino; porque o comércio recíproco 
com o estrangeiro se tornaria desvantajoso para a nação” 
(QUESNAY, 1978, p. 117-118).
2- Desenvolvimento segundo Adam 
Smith
O grande livro de Smith constitui um marco na história 
da Economia Política. O economista alemão, Roscher, 
referindo-se a essa obra, disse haver ela “tornado inútil tudo 
o que a precedera e inspirado tudo quanto se lhe seguira”. 
A primeira parte desse juízo é exagerada e falsa; a segunda, 
perfeitamente exata: a esse título participa Smith, com os 
fi siocratas, da paternidade da Economia Política. Smith cria 
uma ciência econômica que apresenta inúmeros pontos de 
semelhança com a dos fi siocratas (HUGON, 1988). 
Tal como estes, busca estabelecer as leis naturais 
explicativas dos fenômenos econômicos e das suas relações. 
E como eles, acaba também no liberalismo. Mas soube, 
melhor que eles, assentar solidamente o estudo dos problemas 
econômicos em bases mais científi cas e vastas (SOUZA, 
2008).
Partindo de um ponto de vista menos acanhado que o 
dos fi siocratas, amplia o seu campo: ao invés da produtividade 
agrícola toma como problema econômico central o 
trabalho, entendido como “trabalho ajudado pelo capital”, 
ou seja, atividade produtiva. E, fazendo do trabalho, assim 
compreendido, a fonte da riqueza, reage contra a concepção 
metalista dos mercantilistas e a noção exageradamente agrária 
dos fi siocratas (SOUZA, 2008).
A fi losofi a da psicologia individual
Para Smith, o fundamento metafísico deve ser posto 
de lado: a psicologia individual explica, por si só, resultar o 
interesse geral — espontânea e não mais providencialmente 
— da soma dos interesses pessoais. O liberalismo econômico 
assenta-se sobre essa base: uma vez que o interesse individual 
coincide com o interesse geral, deve-se, na prática, deixar 
plena liberdade de ação aos interesses privados (HUGON, 
1988). 
Para Hugon (1988), o liberalismo não só se impõe, mas 
também muda de caráter: laiciza-se. Daí por diante a ciência 
econômica, graças a essa motivação psicológica, poderá, com 
maior fl exibilidade, evoluir no sentido de tornar mais exatas 
suas concepções, as quais, aliás muito posteriormente à Escola 
Clássica, vão-se tornar bem precisas nas teorias modernas das 
escolas hedonistas.
Essa divisãodo trabalho, cuja efi cácia Smith aponta, 
não pode, entretanto ser aplicada ou levada ao extremo 
em qualquer lugar ou em qualquer tempo. Ela requer a 
existência prévia de duas condições imperativas: a extensão 
do mercado e a abundância dos capitais. Para poder produzir 
em abundância, indispensável é ter mercados sufi cientes à 
disposição: a produção de uma nação depende da extensão 
de seus mercados.
No entanto, enquanto o liberalismo dos fi siocratas tinha 
origem na harmonia das leis da natureza, o de Adam Smith 
explicava-se pela psicologia individual. Nesse último caso, a 
ideia é a de que o interesse coletivo fi ca assegurado quando 
os particulares procuram benefício próprio. Por exemplo, o 
interesse particular na exportação benefi cia a coletividade, 
pela ampliação dos mercados, aumento da divisão do trabalho 
e a maior efi ciência produtiva resultante (SOUZA, 2008). 
22Desenvolvimento Econômico I
Na busca de vantagens pessoais, o homem estaria 
voltando-se para si próprio, em um egoísmo aparente, 
porque, ao agir assim, estaria contribuindo para o aumento 
do produto e do bem-estar social. Os interesses individuais, 
realizados livremente, em cada mercado de produto ou 
fator, seriam harmonizados coletivamente por uma espécie 
de “mão invisível”. Essa fi losofi a de Adam Smith vem 
da escola escocesa do senso moral inato, segundo a qual o 
comportamento humano resulta da interação de instintos 
egoístas e altruístas. À doutrina utilitarista de Jeremy Bentham 
(1748-1832), segundo a qual o consumidor deseja um 
produto por sua utilidade na satisfação de uma necessidade, 
indica da mesma forma que o homem age infl uenciado pela 
comparação de prazer e pena que resultam de seus atos. O 
aspecto comum da teoria utilitarista e da escola escocesa do 
senso moral inato é o princípio da harmonia de interesses, 
resultante da interação dos indivíduos em sociedade.
Apesar de entender que mais gastos expandem a renda 
e o emprego, Adam Smith defendeu a parcimônia porque 
aumenta o estoque do capital fi nanceiro, fator necessário 
para contratar trabalhadores produtivos e aumentar o nível 
do produto. Isso era necessário, porque para Adam Smith, 
como para os demais economistas clássicos, a programação 
de aumento da produção precisava ser acompanhada de um 
“fundo de salários” para contratar trabalhadores produtivos, 
matérias-primas e bens de capital. Tendo em vista que o 
interesse coletivo resulta das ações individuais privadas, pela 
teoria individualista de Adam Smith, torna-se indispensável 
assegurar a cada indivíduo o direito de procurar seus próprios 
interesses, livre de pressões de grupos, mas sempre dentro da 
lei e da ordem (MEIER e BALDWIN, 1968, p. 39).
Sendo assim, para maximizar a riqueza das nações, não 
se pode, sob hipótese alguma, tolher a liberdade individual 
para empreender e empregar trabalho produtivo; no mesmo 
sentido, não se deve bloquear o desenvolvimento dos demais 
elementos fundamentais, que permitem a expansão do 
emprego, como a abertura de novos mercados, a divisão do 
trabalho e a acumulação de capital (SOUZA, 2008).
A riqueza das nações
O fator primordial da riqueza nacional, o trabalho 
produtivo, aparece em evidência no primeiro parágrafo da 
obra de Adam Smith, A riqueza das nações: investigação sobre sua 
natureza e suas causas, de 1776: “O trabalho anual de cada nação 
constitui o fundo que originalmente lhe fornece todos os bens 
necessários e os confortos materiais que consome anualmente. 
O mencionado fundo consiste, sempre, na produção imediata 
do referido trabalho ou naquilo que com essa produção é 
comprado de outras nações” (SMITH, 1983, v. 1, p. 35). 
O trabalho torna-se fertilizado, ou produtivo, pela 
adição de mais capital, que aumenta sua produtividade e o 
valor do produto total. São as trocas e o aumento das áreas 
de mercado que criam a demanda, possibilitando maior 
volume de produção, com menor custo e emprego de 
trabalho produtivo e capitais adicionais. O trabalho útil, ou 
produtivo, em oposição ao trabalho improdutivo, defi ne-se 
como o trabalho que produz um excedente de valor sobre 
seu custo de reprodução. Desse modo, a riqueza deriva da 
quantidade de trabalho produtivo empregada no processo 
produtivo, em relação à população total. Quanto maior for 
essa relação, assim como a produtividade do trabalho, maior 
será o produto social de uma economia. A produção de cada 
ano será tanto maior quanto mais trabalhadores produtivos 
forem contratados, a qual depende da divisão do trabalho e 
do estoque de capital, que permite aumentar a produtividade 
do trabalho (SOUZA, 2008).
O uso da máquina aumenta a destreza do trabalhador 
e reduz o tempo para a fabricação de um objeto. Com o 
aumento da produção por trabalhador, dispõe-se de maiores 
quantidades de bens para trocar, em relação às necessidades 
individuais de consumo. Segundo Adam Smith, o princípio 
que dá origem à divisão do trabalho é a propensão humana à 
troca. Nenhum trabalhador pode ser autossufi ciente a ponto 
de produzir todos os bens de que necessita, porque alguns 
produtos requerem habilidades especiais. Assim, ele produz 
aqueles bens para os quais possui maiores habilidades, ou 
maiores recursos produtivos, adquirindo os produtos para os 
quais as difi culdades de obtenção são maiores, refl etindo-se 
em maiores custos de produção. Essa habilidade na produção 
de bens provém da especialização do trabalhador em tarefas 
específi cas, proporcionada pela divisão do trabalho (SOUZA, 
2008).
A pequena dimensão do mercado interno limita a divisão 
do trabalho. Isso explica por que certos tipos de trabalho só 
podem ser realizados em cidades grandes. Desse modo, a 
dispersão espacial da população rural difi culta à especialização 
dos trabalhadores. Depreende-se em Adam Smith que a 
industrialização aparece ligada ao fenômeno da urbanização. A 
aglomeração espacial da população condiciona o surgimento 
das atividades; a concentração econômica e a localização dos 
recursos naturais e outros fatores ampliam os fl uxos migratórios 
de fatores que aumentam as desigualdades regionais. No início 
da formação das regiões, as populações tendem a concentrar-
se junto aos rios e mares, principalmente na proximidade de 
portos marítimos ou Hluviais. Consciente disso, Adam Smith 
enfatizou a importância do aperfeiçoamento dos meios de 
transporte para reduzir seus custos e estender os mercados 
(SOUZA, 2008).
Mercados mais amplos possibilitam que alguém produza 
um produto específi co, demandando maior especialização. 
Muitas vezes, a produção de um bem, como alfi netes ou 
pregos, apenas para o mercado local torna-se tão pequena, 
que ela não se justifi ca. Quando o mercado torna-se regional, 
nacional e internacional, torna-se viável alguém produzir 
esses bens em larga escala; os custos médios se reduzem com 
a subdivisão do processo produtivo em tarefas mais simples, 
desde a operação de estender o arame, cortar, fazer a cabeça, 
afi ar a ponta, empacotar, expedir aos clientes, cobrar etc. 
A redução dos custos de transporte aumenta o alcance dos 
bens, que passam a ser exportados para regiões ou países 
mais distantes. Menores custos de produção agem no mesmo 
sentido, porque aumentam a competitividade das empresas e 
elas passam a atuar em novos mercados.
3- Desenvolvimento segundo David 
Ricardo
Os Principies of Political Economy and Taxation”, publicados 
em 1817, constituem a obra principal de Ricardo e sua 
23
principal contribuição à Escola Clássica. Escreveu-os por 
imposição dos fatos: na época entre os interesses da indústria 
e os da agricultura. Esse antagonismo se acirra ao ser suspenso 
o bloqueio continental: percebe a Inglaterra que, por diversas 
razões, entre elas o monopólio da navegação, se haviam 
desenvolvido nos anos anteriores, no continente, indústrias 
que faziam agora concorrência às exportações inglesas. Para 
poder competir nos mercados exteriores, necessário seria às 
indústrias britânicas reduzir o preço de venda e, portanto,

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