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1ºAula Expansão europeia e descobrimento do Brasil: o período pré-colonial e o pacto colonial Objetivos de aprendizagem Ao término desta aula, vocês serão capazes de: • compreender a expansão europeia em perspectiva sistêmica; • entender o processo de chegada dos Portugueses ao Brasil; • observar a constituição do primeiro pacto colonial. Quando estudamos a expansão europeia e a consequente chegada dos europeus na América a partir de uma perspectiva de história econômica, devemos colocar em perspectiva as abordagens sistêmicas do Sistema-Mundo. Em outras palavras, ao nos debruçarmos sobre os elementos que compõem a expansão marítima europeia nas figuras de Portugal e Espanha em uma perspectiva de história econômica, é preciso que observemos esse fenômeno a partir da noção de que a expansão europeia constituía um moderno sistema-mundo. À vista disso, vamos estudar nesta aula a expansão europeia e a chegada à América, em particular, aproximando-se de nosso objeto central, a chegada dos portugueses no Brasil e o primeiro pacto colonial. Bons estudos! Figura 1: chega dos portugueses ao Brasil. Disponível em: https://s1.static.brasilescola.uol.com. br/be/conteudo/images/desembarque-cabral-em-porto-seguro-oscar-pereira-silva-4f0db8f70e78b. jpg. Acesso em: Janeiro/2020. 6História Econômica do Brasil 1 – Expansão europeia: a constituição do sistema-mundo 2 – Período pré-colonial 3 – Portugueses no Brasil e o primeiro Pacto Colonial 1 - Expansão europeia: a constituição do sistema-mundo O moderno sistema mundo pode ser entendido como uma economia-mundo capitalista, que se formou no século XVI na Europa e na América, no qual se estabeleceu uma estrutura mundial colonial moderna e capitalista a partir da exploração da América Latina, caracterizada pela formação de um padrão global de controle do trabalho e dos recursos, de modo que se articulava, assim, o capitalismo mundial (WALLERSTEIN, 2001; QUIJANO, 2005). Wallerstein (1974) defi ni um sistema-mundo com ampla divisão do trabalho, em que a distribuição não é igualitária no sistema. Esse fato se dá pela organização social do trabalho, que legitima a capacidade de alguns grupos para explorar o trabalho de outros. Assim, essa noção de sistema mundial é mais voltada para perspectiva econômica, possuindo uma lógica de acumulação específi ca distribuída geografi camente, de maneira que se estabelecem relações de dependência. Nesse sentido, observa-se uma economia mundo em que a estrutura política tende a se conectar com a cultura em um âmbito espacial – geocultura. A explicação para essa conexão se dá a partir da expansão capitalista da Europa enquanto centro desse sistema: tendo o controle do mercado, pôde expandir seu domínio colonial de maneira global, assimilando as diferentes culturas ao seu padrão de poder, ocasionando nessas regiões dominadas uma redefi nição de suas identidades, na medida em que eram impostas novas identidades geoculturais (QUIJANO, 2005). Arrighi (2003) aponta que o sistema mundial moderno tem sua formação e sua expansão a partir das reestruturações sistêmicas marcadas pela liderança e governança de ciclos de dominação de Estados hegemônicos. Esses Estados podem formatar o sistema mundial moderno em dois sentidos: o territorialista e o capitalista. O primeiro identifi ca o poder na extensão de seus domínios, vendo a riqueza/capital como um meio para se alcançar a expansão territorial. Já para o segundo, o poder está ligado ao seu controle sobre os recursos escassos, de modo que a expansão territorial é um meio para se acumular capital. Assim sendo, o moderno sistema mundial tem como expressão principal a “[...] oposição constante entre as lógicas capitalista e territorialista do poder, bem como a recorrente resolução de suas contradições através da reorganização do espaço político-econômico mundial pelo principal Estado capitalista de cada época” (ARRIGHI, 2013, p. 36). Para Telo (1996), Portugal e Espanha são grandes expoentes desse primeiro sistema mundial, que é marcado, também, pelo desenvolvimento da técnica de navegação, permitindo a navegação em mar aberto e o fortalecimento das redes marítimas e do estudo das rotas, bem como o conhecimento mais completo do planeta. Essa técnica dá Seções de estudo condições para que Espanha e Portugal dominem importantes rotas de comércio marítimo e desenvolvam técnicas ainda mais apuradas na virada do século. A abertura de novas rotas oceânicas traz consigo um processo de colonialismo: o impacto profundo nas culturas e mentalidades em outros continentes. O principal questionamento é como Portugal, consideravelmente inferior em capacidades materiais, conseguiu manter-se estável para conquista da região que hoje é o Brasil. O argumento central é que Portugal, apesar de se caracterizar enquanto periferia daquela ordem, tinha uma unidade nacional bem constituída. Essa unidade foi conquistada a partir da concentração do poder real e da formação de uma consciência nacional precoce desenvolvida desde o século XIV em Portugal, com a Revolução de Avis no ano de 1383 (TELO, 1996). A Espanha, por sua vez, conseguiu ser protagonista tanto nas disputas pelo poder nos confl itos internos da Europa quanto na busca por poder fora da Europa (ARRIGHI, 2003). Nesse sentido, Dussel (2005) coloca a Espanha como a primeira nação moderna, abrindo a primeira fase do mercantilismo mundial. Uma vez que apontamos que Portugal era periferia, pois não estava envolvido nos confl itos centrais da Europa, cabe- nos traçar um sucinto panorama do confl ito europeu ao longo dos anos XV e no século XVI. As guerras que se desenvolveram na Europa no decorrer do século XV se caracterizam por confl itos mais localizados como, por exemplo, as lutas entre os Estados italianos e as desavenças entre ingleses e franceses refl etidas na guerra dos Cem anos. No século XVI essas lutas mais centralizadas passam a se confi gurar como luta pela hegemonia continental, que se dividiram basicamente em dois momentos: as lutas religiosas a partir da ascensão da Contrarreforma, que potencializou as rivalidades monárquicas já existentes no continente; e a formação da dinastia dos Habsburgos, que tinha como principal adversário a dinastia de Valois na França (KENNEDY, 1989). O confl ito entre ambas as dinastias tinha contornos “[...] ideológico e militar, que caracterizou o sistema dos Estados na Europa [...]” (MAINKA, 2003, p. 188). Os Valois ensejavam expandir seus domínios para as Cidades-Estados italianas, contudo as possessões dos Habsburgos freavam as possibilidades de seu avanço e, por conseguinte, “[...] o objetivo dos franceses, na Europa, nos dois séculos seguintes, seria romper a infl uência dos Habsburgos” (KENENEDY, 1989, p. 41). Essas desavenças desembocariam na guerra dos Trinta anos que oporia os Habsburgos da Espanha e da Áustria às coalizões de outras potências europeias em um confl ito que durou até a Paz de Westfália, em 1648 (KENNEDY, 1989; MAINKA, 2003). Nesse contexto, a Espanha estava focada nas batalhas por terra no centro da Europa, na medida em que estava inserida mais diretamente no contexto da guerra dos Trinta anos e também na luta para barrar o islã no mediterrâneo (KENNEDY, 1989; TELO, 1996). As guerras europeias se apresentam em dois sentidos analíticos em relação ao avanço das técnicas navais de Portugal: primeiro, Portugal se afastou dessas guerras e focou no seu projeto ultramarino; e segundo, os países envolvidos nas guerras europeias, que tinham maiores recursos em termos 7 de capacidades materiais em relação a Portugal, fi caram compromissados com os confl itos – principalmente com a ambição de conquistarem a hegemonia europeia – e não levaram a cabo a possibilidade de frear o avanço português, nem desenvolver suas próprias técnicas (TELO, 1996). Contudo, a Espanha, ainda que tivesse que dividir a atenção de sua expansão ultramarina com as guerras europeias,contava com um aspecto fundamental para aumento de sua importância juntamente com Portugal no sistema mundial: sua posição geográfi ca. Pois, “O papel que o Estado pode representar nas relações internacionais é amplamente afetado pelo lugar que ele ocupa no mapa do mundo. Graças à sua situação geográfi ca, Estados de pequena dimensão puderam marcar, na história, vestígios não deixados por Estados mais vastos, dotados de recursos muito superiores.” (RENOUVIN; DUROSELLE, 1967, p. 20). Nesse sentido, a vantagem geográfi ca central dos países ibéricos era seu acesso ao mar, afi nal: O território com uma fachada litorânea possui vantagens do ponto de vista comercial: o mar oferece facilidades de circulação a preço barato, ao passo que a construção de vias de comunicação terrestre é onerosa; ele assegura, a despeito dos riscos de navegação, uma segurança maior nas relações com o exterior, porque no mar é mais fácil que em terra escapar a um inimigo que quisesse interditar a passagem (RENOUVIN; DUROSELLE, 1967, p. 20). Todavia, o controle do primeiro sistema por Portugal e Espanha não pode ser somente creditado às suas vantagens geográfi cas e ao desenvolvimento astucioso das suas técnicas de navegação. Estaríamos sendo reducionistas se não levássemos em conta que é a partir da exploração da América, principalmente dos seus metais preciosos, utilizando mão de obra gratuita do trabalho indígena e negro, que os brancos – lê-se, a priori, os ibéricos e, posteriormente, outras potências europeias – conseguem vantagens únicas para o controle do comércio mundial (QUIJANO, 2005). E, controlando o comércio mundial, puderam investir em diferentes áreas, incluindo as técnicas navais. O poderio naval ibérico começa a dar sinais de esgotamento a partir da metade do século XVI, na medida em que os países do Norte, que até então não tinham se voltado para a estratégia ultramarina, entram nesse processo fi nanciados pela iniciativa privada (TELO, 1996). Trata-se de um movimento histórico que deslocava a hegemonia do eixo ibérico para o Atlântico norte-ocidental (QUIJANO, 2005). 2 - Período pré-colonial Quando falamos das sociedades pré-colombianas, uma das principais curiosidades que surge é: “como os povos ameríndios chegaram à América?”. As investigações antropológicas com maior aceitação são as que defendem a tese de que a povoação do continente aconteceu a partir da Ásia Oriental, em que populações migraram da Sibéria ao Alaska pelo Estreito de Bering, o qual, supostamente, estava seco quando da migração. Estima-se que esses fl uxos migratórios ocorreram entre 30 000 ou 50 000 anos. Chegando ao Alaska, esses grupos deslocavam-se mais ao sul em busca de melhores condições climáticas. Essas populações baseavam-se na caça e na coleta, entretanto, no decorrer de milênios, esses grupos populacionais passaram por paulatinas transformações culturais: para além da caça e da coleta, desenvolveram técnicas mais complexas de agricultura seminômade, bem como de agricultura sedentária. A esse aspecto, soma-se o aumento populacional desses grupos, estimando-se um volume populacional por volta de 30 a 50 milhões de pessoas no período pré-conquista (BOERSNER, 1996). Nesse contexto, os povos que ocupavam as sub-regiões da meso-América e da peruano-boliviana constituíram sociedades com alto grau de urbanização, impulsionadas, principalmente, por fatores geográfi cos favoráveis, tais como a fertilidade dos solos, a exuberância de recursos hídricos, além de facilidade de trocas comerciais e culturais entre os povos que compunham a região. Desse modo, as civilizações dessas regiões desenvolveram importantes técnicas de agricultura sedentária com irrigação artifi cial, o que contribuiu para a constituição de complexas estruturas sociais. Há de se pontuar algumas especifi cidades de cada região: os Incas, situados na região andina, tiveram melhor desempenho no que se refere à tecnologia, o que, por conseguinte, proporcionou ao Império Inca ampla estabilidade e efi ciência. Sobre os Incas, Favre (1987, p. 6) pontua que: Quando os espanhóis chegaram ao Peru, em 1532, os Incas já haviam estabelecido o seu domínio sobre o planalto e a planície costeira dos Andes. Seu Império estendia-se desde Cuzco até a Colômbia, ao norte; e até o Chile e a Argentina, ao sul. O brilho de sua civilização atingia o Panamá e chegava mesmo às longínquas praias atlânticas do Brasil, sob a forma de utensílios de cobre ou ornamentos de ouro e prata transportados de tribo em tribo, através da fl oresta amazônica. Em toda a América do Sul, vivendo ainda na Idade da Pedra, somente a Terra do Fogo escapava ao fascínio de sua magnifi cência, que deveria dar origem ao mito do Eldorado quando os espanhóis, por sua vez, foram por ela atraídos. Os Maias e os Astecas, que ocupavam a sub-região mesoamericana, por sua vez, tiveram ampla ascendência na matemática, nas questões místico-religiosas, bem como na arte. Nesse sentido, é importante assinalar que as civilizações que ocupavam a meso-América tiveram que enfrentar intempéries naturais pelas quais as civilizações andinas não passaram: períodos de seca e erosões, que impossibilitavam essas civilizações de dominarem o meio que viviam, difi cultando seu abastecimento de proventos. Essa situação gerou nessas civilizações uma percepção trágica do cotidiano, refl etida em sacrifícios humanos, culto à morte e guerra entre povos e classes (BOERSNER, 1996) No que se refere aos Astecas, Soustelle apresenta que: Os astecas (azteca) ou mexicanos (mexica) 8História Econômica do Brasil dominavam com esplendor a maior parte do México quando os conquistadores espanhóis ali chegaram, em 1519. Sua língua e sua religião tinham-se imposto sobre imensas extensões de terra desde o Atlântico até o Pacífi co e das regiões áridas setentrionais até a Guatemala. O nome de seu soberano Motecuhzoma era venerado ou temido de uma ponta à outra daquele vasto território. Seus comerciantes com suas caravanas de carregadores percorriam o país em todos os sentidos. Seus funcionários recebiam impostos de todos os lados. Nas fronteiras, as guarnições astecas mantinham a distância as populações insubmissas. Em Tenochtitlán (México), sua capital, a arquitetura e a escultura haviam alcançado um impulso extraordinário, enquanto o luxo crescia no vestuário, à mesa, nos jardins e na ourivesaria. (2002, p. 8). Os Maias, de acordo com Gendrop (1987, p. 32), [...] da mesma forma que os demais povos da Meso-América, não dispunham senão de uma tecnologia bastante limitada, sob muitos aspectos exatamente comparável ao estágio dito “neolítico”, não conhecendo o uso da roda nem do torno, e não dispondo de animal algum de tração. Desconheciam o trabalho em metais, e assim permaneceram até o fi nal do período clássico. Tudo isso, porém, em nossa opinião, não torna senão mais admiráveis as suas conquistas em outros domínios, visto que – por um desses prodígios da inteligência humana, e superando condições muito adversas, tanto naturais como inerentes às suas próprias limitações tecnológicas – os Maias deveriam revelar-se como um dos povos mais bem dotados para a astronomia, como também para certos ramos da matemática, sem contar suas aptidões artísticas. Na imagem abaixo, vocês podem observar com maior clareza os territórios que pertenciam a cada uma das civilizações que acabamos de conhecer brevemente: Fonte: https://slideplayer.com.br/slide/5614215/. Acesso em: 23/01/2019. 3 - Portugueses no Brasil e o primeiro Pacto Colonial Quando falamos em pacto colonial, estamos nos referindo ao domínio que as metrópoles exerciam sobre as colônias. Assim, o pacto colonial refere-se à relação político- econômica das metrópoles com suas possessões coloniais. No que se refere à colonização ibérica em geral e, particularmente, à portuguesa,o pacto colonial foi marcado por relações econômicas de exploração fundamentadas no mercantilismo e por relações políticas igualmente exploratórias, de domínio e submissão. Quando nos referimos aos portugueses no Brasil, estamos tratando do sistema colonial que implementaram para exploração das terras coloniais. Desde o princípio esse sistema colonial se notabilizou pelos empreendimentos exploratórios das riquezas econômicas coloniais. Diante disso, instaurou-se um sistema fundamentado em estruturas de caráter vertical e rígido. Nesse sentido, a introdução das instituições espanholas e, em menor medida, portuguesas nas colônias levavam o selo da Idade Média, além da feição absolutista e de economia escravocrata. Formaram-se, assim, estruturas verticais, que eram barreiras para os processos de troca e progresso. Cabe ressaltar que Portugal ainda apresentava uma estrutura colonial mais fl exível que a espanhola, ao passo que a coroa de Portugal dava maior autonomia para a administração local colonial, enquanto a Espanha mantinha uma administração mais monopolista, em que as decisões das províncias nas colônias deveriam passar antes pela metrópole (BOERSNER, 1996). De igual modo, podemos destacar que o projeto colonial de Portugal e Espanha tinha por objetivo fundamental um caráter exploratório, em que se buscava o maior acúmulo de capital possível investindo-se o mínimo necessário. Retomando a aula Chegamos, assim, ao fi nal de nossa primeira aula. Espero que, a partir das discussões e revisões que foram apresentadas, você tenha compreendido os aspectos gerais da expansão europeia, atentando-se para a discussão que traçamos a partir de uma perspectiva sistêmica. De igual modo, espero que você tenha apreendido, de maneira geral, as características das populações pré-colombianas. Finalmente, espero que tenha fi cado claro os aspectos do pacto colonial 1 – Expansão europeia: a constituição do sistema- mundo Nesta seção, discutimos a expansão europeia e a construção do sistema-mundo. Assim analisamos em perspectiva sistêmica o avanço dos europeus até a América, apontando questões relativas à economia, política e civilizacional da conquista do Novo Mundo. 9 2 – período pré-colonial Aqui, estudamos, de maneira ampla, as sociedades pré-coloniais, suas organizações política, social, econômica. Apesar de fi gurarem na América hispânica, o estudo dos povos originários é imprescindível para o desenvolvimento de análises acerca da colonização. 3 – Portugueses no Brasil e o primeiro Pacto Colonial Finalmente, estudamos questões relativas ao primeiro pacto colonial. Nesse sentido, apresentamos os termos desse pacto e como, a partir de uma perspectiva de organização colonial, estruturou-se a colonização ibérica, em especial, a portuguesa. Livro: “As veias abertas da América Latina”. Eduardo Galeano. Vale a pena ler Filme: 1492 - A Conquista do Paraíso. Data de lançamento: 1992. Direção: Ridley Scott. Vale a pena assistir Vale a pena Minhas anotações 2ºAula A economia brasileira no período colonial: formação, desenvolvimento e crise da economia colonial Objetivos de aprendizagem Ao término desta aula, vocês serão capazes de: • entender as principais características da economia brasileira no período colonial; • compreender a formação, evolução e crise da economia colonial. A economia colonial brasileira pode ser dividida em diferentes ciclos. Nesses ciclos estão contidos processos incipientes de formação, desenvolvimento e crise. Fundamentada, desde os primórdios, em mão de obra escrava, a economia colonial teve como traços, desde o primeiro pacto colonial, a exploração do território brasileiro e, de igual modo, os massivos lucros da metrópole portuguesa e da elite econômica local. Diante dessa conjuntura, vamos estudar os principais aspectos da economia colonial brasileira, buscando observar sua formação desenvolvimento e crise. Nesse sentido, esta aula vai caminhar cronologicamente até a crise da economia colonial e de sua consequente derrocada. Portanto, os eventos e processos econômicos que formos analisando aqui serão feitos em caráter mais amplo. Mas não se preocupem, nas aulas que se seguem, vamos adentrar cuidadosamente nos diferentes ciclos da economia colonial, como o ciclo da cana e do ouro. Bons estudos! Figura 2: colheita da cana-de-açúcar. Disponível em: https:// escolaeducacao.com.br/wp-content/uploads/2018/08/ciclo-d- a%C3%A7ucar-750x367.jpg. Acesso em: Janeiro/2020. 12História Econômica do Brasil 1 – Formação e desenvolvimento da economia colonial 2 – Crise da economia colonial 1 - Formação e desenvolvimento da economia colonial Quando tratamos da formação da economia colonial no Brasil, devemos remontar à chegada dos portugueses às terras brasileiras. Isso, entretanto, já fi zemos na aula anterior, quando discutimos o primeiro pacto colonial. 1.1 O ciclo do pau-brasil Sabemos, pois, que desde fi ns do século XV os portugueses chegavam à costa brasileira. Nesse contexto, não tardaria para que os navegantes portugueses – em busca obviamente de riquezas para justifi car suas explorações marítimas – procurassem formas de explorar economicamente as terras recém-descobertas. Essa busca pela exploração econômica do território americano ocorria muito em conta de pressões de outras potências europeias sobre Espanha e Portugal, pois segundo Furtado (2005, n.p), “O início da ocupação econômica do território brasileiro é em boa medida uma consequência da pressão política exercida sobre Portugal e Espanha pelas demais nações europeias. Nestas últimas prevalecia o princípio de que espanhóis e portugueses não tinham direito senão àquelas terras que houvessem efetivamente ocupado.” Sobre esse processo incipiente de ocupação territorial na América para os empreendimentos econômicos, Furtado (2005, n.p) apresenta que: A exploração econômica das terras americanas deveria parecer, no século XVI, uma empresa completamente inviável. Por essa época nenhum produto agrícola era objeto de comércio em grande escala na Europa. O principal produto da terra - o trigo – dispunha de abundantes fontes de abastecimento dentro do continente. Os fretes eram de tal forma elevados - em razão da insegurança no transporte a grandes distâncias - que somente os produtos manufaturados e as chamadas especiarias do Oriente podiam comportá- los. Demais, era fácil imaginar os enormes custos que não teria de enfrentar uma empresa agrícola nas distantes terras da América. É fato universalmente conhecido que aos portugueses coube a primazia nesse empreendimento. Se seus esforços não tivessem sido coroados de êxito, a defesa das terras no Brasil ter-se-ia transformado em ônus demasiado grande e – excluída a hipótese de antecipação na descoberta do ouro difi cilmente Portugal teria perdurado como grande potência colonial na América. Seções de estudo Enquanto os espanhóis encontravam no eixo México- Peru algum sucesso com a exploração mineral, o sucesso da empreitada colonial portuguesa ainda era uma incógnita, na medida em que Portugal ainda não desenvolvera uma atividade econômica verdadeiramente organizada, senão a extração do pau-brasil, caracterizada enquanto “[...] uma exploração rudimentar que não deixou traços apreciáveis [...]”, a não ser pela “margem de lucros que era considerável, pois a madeira alcançava grandes preços na Europa. O negócio, sem comparar-se embora com os que se realizavam no Oriente, não era desprezível, e despertou bastante interesse.” (PRADO JR. 1981, n.p). A principal mão de obra para exploração do pau-brasil era a indígena. Segundo Prado Jr. (1981), se não fosse pelo trabalho das comunidades nativas, o sucesso da exploração do pau-brasil não seria o mesmo, pois, em troca de diversos objetos, os índios faziam um árduo trabalho de cortar os troncos de um metro dediâmetro. A grande questão da formação econômica entorno do pau-brasil refere-se ao fraco potencial de povoamento que a atividade promovia. Isto é, enquanto a exploração mineral dos espanhóis, a agricultura e a pecuária fomentavam a sedentarização e, por conseguinte, a ocupação de uma área territorial de maneira defi nitiva, a atividade econômica baseada na extração do pau-brasil “[...] não serviu em nada para fi xar qualquer núcleo de povoamento no país. Nem era de esperá- lo. Não havia interesse em localizar-se num ponto, quando a madeira procurada se espalhava aos azares da natureza e se esgotava rapidamente pelo corte intensivo. A indústria extrativa do pau-brasil tinha necessariamente de ser nômade; não era capaz, por isso, de dar origem a um povoamento regular e estável.” (PRADO JR., 1981, n.p). Por se tratar de uma atividade econômica não sustentável, isto é, a extração implicava na diminuição paulatina de árvores à disposição, o ciclo logo deu sinais de esgotamento. Essa condição inerente ao extrativismo fez com que o ciclo do pau-brasil fosse curto e, em algumas décadas de exploração, a devastação de fl orestas nativas reduziu drasticamente a condição de exploração da madeira. Nesse sentido, Prado Jr. (1981, n.p) apresenta que: Foi rápida a decadência da exploração do pau-brasil. Em alguns decênios esgotara-se o melhor das matas costeiras que continham a preciosa árvore, e o negócio perdeu seu interesse. Assim mesmo continuar-se-á a explorar esporadicamente o produto, sempre sob o regime do monopólio real, realizando uma pequena exportação que durará até princípios do século passado. Mas não terá mais importância alguma apreciável, nem em termos absolutos, nem relativamente aos outros setores da economia brasileira. Pensando na formação econômica, o pau-brasil foi a primeira atividade econômica do Brasil colônia, afi nal, por mais que contribuísse pouco para o povoamento na região, confi gurava-se enquanto uma atividade capaz de movimentar as transações comerciais e, além disso, de maneira indireta, foi a atividade que permitiu o estabelecimento de algumas povoações na região litorânea, principalmente as militares 13 para fazer frente à concorrência francesa na exploração da matéria-prima em questão. O primeiro ciclo econômico e o nome Brasil O nome da nossa Pátria originou-se, sem dúvidas, do pau-brasil. Foi o primeiro gênero de comércio da terra achada em 1500 que, vencendo outras denominações, inclusive de oficiais, acabou por dominar exclusivo, como nome de um dos mais extensos territórios da América. Ilha de Vera Cruz (1500), Terra Nova (1501), Terra de Vera Cruz (1503), Terra do Brasil (1505), Terra de Santa Cruz do Brasil (1527) e, pelo imperativo do mínimo esforço, simplesmente Brasil. [...] Predominou afinal o nome Brasil; [...] madeira que foi a nossa primeira riqueza permutável, a razão das primeiras lutas ao longo da nossa costa, o motivo das primeiras preocupações política em torno de nosso território, fulcro do primeiro ciclo da nossa evolução econômica. SOUZA, Bernadino José. O Pau-Brasil na história nacional. Comanhia editora. Rio de Janeiro, 1939. 1.2 A economia açucareira: uma introdução Como vimos, o ciclo do pau-brasil, por rentável que fosse, foi curto. Ainda no século XVI o ciclo econômico do pau-brasil dava lugar ao da cana-de-açúcar nas colônias portuguesas. Nesse período introduziu-se a mão de obra escrava africana. A nova variável do trabalho escravo trouxe efeitos distributivos tanto econômicos quanto sociais no que refere à ocupação territorial: há uma expansão da ocupação do espaço com os engenhos de açúcar e, além disso, a ampliação da base da pirâmide social que, além dos indígenas, aglutinaria grandes populações africanas. No que se refere à introdução de mão de obra escrava indígena e africana, Prado Jr. (1981, n.p) apresenta que: Assinalei que no Brasil se recorreu, a princípio, ao trabalho dos indígenas. Estes já se tinham iniciado na tarefa no período anterior da extração do pau-brasil; prestar-se- iam agora, mais ou menos benevolentemente, a trabalharem na lavoura de cana. Mas esta situação não duraria muito. Em primeiro lugar, à medida que afluíam mais colonos, e portanto as solicitações de trabalho, ia decrescendo o interesse dos índios pelos insignificantes objetos com que eram dantes pagos pelo serviço. Tornam-se aos poucos mais exigentes, e a margem de lucro do negócio ia diminuindo em proporção. Chegou-se a entregar-lhes armas, inclusive de fogo, o que foi rigorosamente proibido, por motivos que se compreendem. Além disto, se o índio, por natureza nômade, se dera mais ou menos bem com o trabalho esporádico e livre da extração do pau-brasil, já não acontecia o mesmo com a disciplina, o método e os rigores de uma atividade organizada e sedentária como a agricultura. O processo de substituição do índio pelo negro prolongar-se-á até o fim da era colonial. Far-se-á rapidamente em algumas regiões: Pernambuco, Bahia. Noutras será muito lento, e mesmo imperceptível em certas zonas mais pobres, como no Extremo-Norte (Amazônia), e até o séc. XIX em São Paulo. A economia açucareira encontrou meios de se estabelecer especialmente por dois fatores, um de caráter natural, que consiste nas boas condições de solo para o plantio da cana-de- açúcar, e outro de caráter propriamente comercial, que se refere ao valor do açúcar no mercado europeu. Economicamente, portanto, o açúcar se apresentava como um produto muito rentável, afinal havia demanda em larga escala na Europa, que somente com o açúcar produzido por Portugal nas ilhas do atlântico não era suficientemente abastecida. Além disso, a presença da mão de obra escrava de indígenas, a priori, e de africanos sustentou os exorbitantes lucros dos engenhos de açúcar. Em termos de economia internacional, o Brasil colônia tinha na cana-de-açúcar sua base econômica e era o principal produtor mundial de açúcar, realidade que perduraria até o século XVII, quando se intensificou a concorrência da América Central e das Antilhas. No que se refere ao povoamento colonial a partir da atividade econômica açucareira, a ocupação portuguesa do território se intensificou sobremaneira, na medida em que a ocupação territorial passou a se estender por mais espaços na faixa litorânea, conduzida sempre pela extensão da plantação da cana-de-açúcar. Nesse contexto, tratando dos núcleos de povoamento entorno da atividade açucareira, pode-se perceber uma ocupação territorial que se estende do nordeste ao sudeste, com caráter essencialmente litorâneo. O mapa a seguir ilustra essa característica geográfica da ocupação territorial a partir da atividade econômica ligada à cana-de-açúcar. Notem que a ocupação territorial em decorrência da cana-de-açúcar é essencialmente litorânea, começando a adentrar o espaço interiorano a partir da pecuária. Isso, entretanto, é assunto para nossa próxima aula. Figura 2.1: mapa dos ciclos econômicos. Disponível em: https://2.bp.blogspot. com/-Eva5y7juliE/UT4WZCoHz5I/AAAAAAAAEp8/I9Zji78lWvU/s1600/ Economia+do+s%C3%A9culo+XVII.jpg. Acesso em: Janeiro/2020. O ciclo do pau-brasil fora fundamental para formação incipiente da economia colonial, o ciclo da cana, por sua 14História Econômica do Brasil vez, primordial para o desenvolvimento em larga escala da atividade econômica e, de igual modo, para ocupação efetiva do território. Mais tarde, a descoberta do ouro traria novo fôlego à economia colonial diante da queda do valor econômico do açúcar, ocasionado pelo aumento da oferta do produto com a concorrência na América Central e Antilhas. 2 - Crise da economia colonial A gênese da crise do colonialismo ibérico está associada a um contexto internacional de transformações e confl itos intensos no campo político, social e econômico. Em termos políticosa Europa vivia o auge das invasões napoleônicas na passagem do século XVIII para o XIX. Antes, no campo social, vivera-se a Revolução Francesa e o enfraquecimento do absolutismo monárquico. Em termos econômicos, o capital mercantil perdia espaço para a ascensão do capital industrial. Nesse ínterim, Portugal e Espanha encontravam substanciais difi culdades em manter seu poderio na Europa e, consequentemente, em manter sob seus domínios as colônias americanas. 2.1 – Crise das colônias espanholas A Espanha, por sua vez, no início do século XIX passava por problemas domésticos importantes: devido a certa desagregação de seu poder interno, a Espanha tinha pouco controle dos processos que ocorriam nas colônias. Nesse sentido, ocorria um isolamento da metrópole em relação às colônias, principalmente devido ao controle que a Inglaterra exercia no Atlântico. Desse modo, tornavam-se precárias as condições para se administrar as colônias seguindo o modelo espanhol de grande centralização político-administrativa e econômica, como vimos na primeira aula. Assim sendo, a administração espanhola optou por uma saída mais fl exível, aumentando a abertura do comércio colonial e concedendo maior liberdade aos colonos para as práticas comerciais (DONGHI, 2012). Em 1805, a Espanha passava pela batalha de Trafalgar, o que acarretou a severa redução das comunicações além- mar espanholas. Além disso, em 1807 começava a Guerra de Independência espanhola, a qual se estenderia até 1814. Como consequências práticas desses processos, a economia colonial perdeu condições de escoar os seus produtos, produzindo anos de recessão econômica. Diante da crise que se instaurara, os efeitos apontavam para o questionamento mais profundo da legitimidade, ou das vantagens do sistema colonial. Nesse sentido, havia uma aspiração de autonomia crescente nas colônias, principalmente pelo fato de terem fi cado isoladas, visto que a Espanha era incapaz de geri-las a contento, bem como pela relativa liberdade que conquistaram diante da inabilidade da administração espanhola em sustentar a forte burocracia administrativa colonial. 2.2 – Crise da colônia portuguesa No caso de Portugal, a vinda da família real para o Brasil em 1808, tornou-se, posteriormente, um imperativo que impulsionou a independência da colônia. Alguns historiadores argumentam que durante a estadia da família real no Brasil, a região não era a colônia, de modo que as vantagens da metrópole foram vividas pelas elites locais, e, quando a coroa retornou a Portugal, essas elites não aceitaram voltar ao status de colônia. Assim sendo: É vital reconhecer, portanto, que no 7 de setembro de 1822, nas margens do Ipiranga, nos arredores de São Paulo, quando Dom Pedro, herdeiro do trono português, gritou Independência ou morte”, estava exagerando. A questão, em setembro de 1822, não era certamente a morte e, apenas indiretamente, a independência. O Brasil havia sido independente, para todas as intenções e propósitos, desde 1808; desde 16 de dezembro de 1815 o Brasil fazia parte de um reino unido, em pé de igualdade com Portugal. O que estava em jogo no início da década de 1820 era mais uma questão de monarquia, estabilidade, continuidade e integridade territorial do que de revolução colonial (KENNETH, 2000, p. 2). Tratavam-se, pois, de coroas em decadência que, a despeito disso, ainda mantinham um dos territórios mais economicamente rentáveis de todo o mundo. Pensando em termos econômicos, a crise colonial dos ibéricos e, em especial, de Portugal, está inserida em uma conjuntura econômica internacional que remete à ascensão do capital industrial e da crise do capital comercial. Assim sendo, A situação voltar-se-á inteiramente contra as monarquias ibéricas na segunda metade do séc. XVIII. O antigo sistema colonial, fundado naquilo que se convencionou chamar o pacto colonial, e que representa o exclusivismo do comércio das colônias para as respectivas metrópoles, entra em declínio. Prende- se isto a uma transformação econômica profunda: é o aparecimento do capitalismo industrial em substituição ao antigo e decadente capitalismo comercial (PRADO JR. 1981, n.p). A centralidade do capitalismo industrial passou a dominar a economia mundial, relativizando o monopólio comercial de Portugal – e Espanha – a partir de seus domínios coloniais. Nesse contexto, o capitalismo industrial, liderado pela Inglaterra, buscava novos mercados. O pacto colonial (que vimos na aula anterior) fundamentado no monopólio e no mercantilismo tornou-se um impeditivo ao capital industrial. Daí a ação da hegemonia inglesa no sentido de enfraquecer o monopólio português sobre as colônias. Com o progresso do capital industrial e, por conseguinte, o avanço da hegemonia inglesa, bem como as guerras europeias, as quais já fi z alusão acima, os impérios coloniais ibéricos entram em declínio, passando, primeiro, por uma crise de conservação do monopólio e, posteriormente, por uma crise de incapacidade de administrar suas colônias. O colapso da economia colonial portuguesa é, portanto, 15 a crise de um modo de produção do capitalismo histórico, isto é, a crise está no esgotamento do capitalismo mercantil e, por outro lado, na ascensão do capitalismo industrial liderado pela hegemonia britânica. Retomando a aula Chegamos ao fi nal da nossa segunda aula. Espero que nossas discussões tenham esclarecido o processo de formação e desenvolvimento da economia colonial brasileira. De igual modo, espero que vocês tenham compreendido o processo de crise da economia colonial brasileira. 1 – Formação e desenvolvimento da economia colonial Nesta seção, discutimos o processo de formação e desenvolvimento da economia colonial. Nesse sentido, observamos as principais características do início da exploração colonial do Brasil, atentando-nos, inicialmente, para o ciclo do pau-brasil e, posteriormente, da cana-de-açúcar e do ouro. 2 – Crise da economia colonial Aqui, estudamos o processo de crise conjuntural dos impérios coloniais na América, apontando que a crise se deu por diversos fatores estruturais: revoluções sociais, invasões e guerras nas metrópoles, o que impedia a continuidade do pacto colonial fundamentado no monopólio ibérico nas colônias. De igual modo, vimos que a ascensão do capital industrial contribuiu para o esgotamento do modelo colonial fundamentado no capital mercantil. “História da América”. Autor: Tulio Halperin Donghi. Vale a pena ler Vale a pena Minhas anotações 3ºAula O ciclo do açúcar e a pecuária Objetivos de aprendizagem Ao término desta aula, vocês serão capazes de: • compreender os principais aspectos do ciclo econômico do açúcar; • observar a ascensão da economia açucareira e seu declínio; • entender a importância da pecuária para o avanço do povoamento para o interior. O açúcar foi uma das atividades econômicas de maior lucratividade no Brasil colônia. A vantagem da produção açucareira não consistia somente na grande demanda vinda dos mercados europeus, mas também pela condição de povoamento do território que essa atividade propiciava, afinal, a partir do cultivo da cana-de- açúcar, tornava-se possível estabelecer cultivos de maneira permanente, contribuindo para um povoamento sistemático das regiões coloniais. Essa forma de povoação substituía a pouca capacidade de povoamento da atividade centrada na extração do pau-brasil, o que contribuía para os interesses econômicos da coroa e, de igual modo, freava o ímpeto das invasões estrangeiras, especialmente os franceses, nas regiões antes não povoadas. É pensando na importância econômica do ciclo do açúcar – sem obviamente colocar em segundo plano o caráter predatório e exploratório dos latifúndios coloniais – que vamos discutir nesta aula as principais características da economia colonial brasileira centrada na produção de açúcar. Bons estudos! Figura 3: engenho de açúcar.Disponível em: https:// conhecimentocientifi co.r7.com/wp-content/uploads/2018/11/voce-sabia- que-a-economia-acucareira-fi nanciou-a-colonizacao-brasileira.jpg. Acesso em: Janeiro/2020. 18História Econômica do Brasil 1 – Economia açucareira: formação, desenvolvimento e declínio 2 – A pecuária e o povoamento 1 - Economia açucareira: formação, desenvolvimento e declínio De maneira preliminar, fi zemos alusão aos motivos que levaram à escolha do cultivo da cana-de-açúcar como atividade econômica no Brasil colônia. Em primeiro lugar, devemos ter clareza do que estava em jogo naquele contexto histórico: desde a descoberta das novas terras, a questão da ocupação da terra era urgente, pois as potências europeias, tais como Holanda, França e Inglaterra exerciam uma pressão velada argumentando que as terras somente seriam de posse de Portugal ou Espanha se estivessem ocupadas. Para Espanha, o retorno econômico da invasão das novas terras foi mais imediato: conseguia explorar os metais preciosos à disposição, principalmente nas regiões do México e do Peru. Isso permitia uma ocupação do território mais contundente nas colônias espanholas. Portugal, por outro lado, não tinha a mesma tranquilidade que tivera a Espanha: a exploração de metais preciosos somente seria um horizonte quando do esfacelamento do ciclo do açúcar. Portanto, o empreendimento incipiente foi a extração do pau-brasil, como vimos. Isso, todavia, não era sufi ciente para afastar as intenções de outras potências europeias sobre as possessões portuguesas. À vista deste cenário, a administração portuguesa optou pela introdução da exploração agrícola, isto é, da cana- de-açúcar, nas terras brasileiras, visando uma atividade ao mesmo tempo rentável e que contribuísse para a ocupação territorial (FURTADO, 2005). O início do ciclo econômico da cana-de-açúcar trouxe, segundo Furtado (2005, p. 18), uma transformação importante para o que era a economia colonial brasileira até o ciclo do pau-brasil: “De simples empresa espoliativa e extrativa - idêntica à que na mesma época estava sendo empreendida na costa da África e nas índias Orientais - a América passa a constituir parte integrante da economia reprodutiva europeia, cuja técnica e capitais nela se aplicam para criar de forma permanente um fl uxo de bens destinados ao mercado europeu.” 1.1 – O início da economia açucareira Mas, quando os portugueses optaram pelo empreendimento agrícola do plantio de cana, eles não o fi zeram a esmo. De início, é importante dizer que as condições naturais encontradas nas terras brasileiras foram primordiais para essa escolha, isto é, clima quente, chuvas abundantes, solo de massapé na região nordestina. Além disso, a empreitada açucareira no Brasil não era a primeira experiência dos portugueses no ramo: haviam cultivado, com sucesso, a cana-de-açúcar na ilha da madeira e no arquipélago Seções de estudo de Açores. Nesse sentido, Furtado apresenta que: Um conjunto de fatores particularmente favoráveis tomou possível o êxito dessa primeira grande empresa colonial agrícola europeia. Os portugueses haviam já iniciado há algumas dezenas de anos a produção, em escala relativamente grande, nas ilhas do Atlântico, de uma das especiarias mais apreciadas no mercado europeu: o açúcar. Essa experiência resultou ser de enorme importância, pois, demais de permitir a solução dos problemas técnicos relacionados com a produção do açúcar, fomentou o desenvolvimento em Portugal da indústria de equipamentos para os engenhos açucareiros. Se se têm em conta as difi culdades que se enfrentavam na época para conhecer qualquer técnica de produção e as proibições que havia para exportação de equipamentos, compreende-se facilmente que, sem o relativo avanço técnico de Portugal nesse setor, o êxito da empresa brasileira teria sido mais difícil ou mais remoto (2005, p. 19). O sucesso econômico do empreendimento açucareiro deve-se a uma série de fatores. Os fatores incipientes como localização geográfi ca propícia e conhecimento do ramo já estão claros para nós. Além desses fatores, há de se destacar a participação holandesa na comercialização do açúcar no comércio no continente europeu. Ocorre que os canais de entrada do açúcar português na Europa se dava por intermédio dos comerciantes das cidades-estados italianas, que monopolizavam boa parte do comércio europeu; todavia, o novo estopim produtivo do açúcar não era sufi cientemente escoado por esses canais tradicionais, gerando uma crise de superprodução no início do ciclo açucareiro. Entretanto, a intensifi cação da produção dos portugueses gerou outro efeito distributivo importante: o monopólio exercido pelos comerciantes italianos no mediterrâneo rompia-se paulatinamente, na medida em que os portugueses passavam a escoar sua produção pelos Flandres (FURTADO, 2005). O fato é que existia ampla demanda no mercado europeu para o açúcar produzido nas colônias, uma vez que, antes da intensifi cação da produção, o açúcar era uma iguaria pesado por gramas nas boticas europeias (PRADO JR., 1981). Nesse sentido, os holandeses passaram a atuar juntamente com os portugueses na comercialização do açúcar, inserindo o produto no mercado interno europeu. Nesse contexto, podemos dizer de acordo com Furtado (2005, p. 20) que: A contribuição dos fl amengos - particularmente dos holandeses - para a grande expansão do mercado do açúcar, na segunda metade do século XVI, constitui um fator fundamental do êxito da colonização do Brasil. Especializados no comércio intraeuropeu, grande parte do qual fi nanciavam, os holandeses eram nessa época o único povo que dispunha de sufi ciente organização comercial para criar um mercado de grandes dimensões para um produto praticamente novo, como era o açúcar. 19 1.2 – Mão de obra escrava Todavia, a economia açucareira jamais seria tão lucrativa se não tivesse contato com um contingente enorme de mão de obra gratuita. O trabalho escravo de indígenas, em um primeiro momento, e posteriormente de africanos é variável fundamental para o sucesso econômico dos engenhos de açúcar. Sobre a introdução da mão de obra africana, podemos destacar que com uma drástica redução de contingente indígena, tanto pela exploração massiva, quanto pela morte provocada por epidemias, os portugueses buscaram “[...] formas alternativas de trabalho, utilizando uma experiência já havida no Portugal metropolitano e nas ilhas atlânticas, optou- se pela escravidão africana, originando um lucrativo tráfi co de escravos entre as costas da África, a Bahia, Pernambuco e o Rio de Janeiro” (LINHARES, 1999 apud COTRIM, 2005, p. 212). Sobre as causas apontadas pela escolha da utilização de mão de obra africana estão, além das que já citamos, a ideia por parte dos colonos de que os negros eram mais hábeis no trato com trabalhos agrícolas, a oposição da igreja à escravidão indígena, as fugas massivas dos índios e os lucros exorbitantes proveniente do tráfi co negreiro e do comércio de escravos. Sobre esse contexto, Shwartz (1988, p. 68) apresenta que: A transição da predominância indígena para a africana na composição da força de trabalho escrava ocorreu aos poucos ao longo de aproximadamente meio século. Quando os senhores de engenho, individualmente acumulavam recursos fi nanceiros sufi cientes, compravam alguns cativos africanos, e iam acrescentando outros à medida que capital e credito tornavam-se disponíveis. Em fi ns do século XVI, a mão de obra dos engenhos era mista do ponto de vista racial, e a proporção foi mudando crescentemente em favor dos africanos importados e sua prole. As condições de vida dos escravos nos engenhos eram subumanas. Obrigados a trabalhar sob agressões físicas e temendo castigos mais violentos, os escravos africanos eram constantemente torturados das mais variadas formas. Viviam em senzalas com conforto material inexistente. Eram mal vestidos e,por isso, fi cavam vulneráveis às mudanças climáticas. Eram mal alimentados e, frequentemente, não aguentavam a carga de trabalho por falta de nutrientes (COTRIM, 2005). 1.3 – O declínio da economia açucareira A produção açucareira, nos moldes que acabamos de observar, perdurou por mais de um século e meio como a única base da economia colonial brasileira. Neste período, a produção em terras brasileiras era a maior do mundo, dominando o comércio internacional do açúcar no século XVII. É, entretanto, neste mesmo período, que o açúcar produzido no Brasil colônia começa a enfrentar concorrência de outros centros de produção, principalmente nas colônias holandesas nas Antilhas (PRADO JR., 1981). Para entendermos como isso aconteceu, precisamos inserir a temática em um contexto histórico mais amplo. Entre 1580 e 1640 a coroa portuguesa foi anexada à coroa espanhola, no que fi cou conhecido como União Ibérica. A União Ibérica foi um período de unidade política entre Portugal e Espanha entre 1580 e 1640. Essa união foi estruturada em decorrência da derrota portuguesa na Guerra de Sucessão. Portugal fi cou sob administração espanhola até a guerra de retomada a partir de 1640. Se vocês lembrarem, dissemos que a economia açucareira sob a batuta da coroa portuguesa contava com a participação dos holandeses no processo de comercialização no mercado europeu. Desde a União Ibérica, todavia, os espanhóis impediram os holandeses de comercializarem o açúcar, estabelecendo um monopólio mais intenso sobre o setor. Ocorre que os holandeses conheciam não só a dinâmica comercial do açúcar, mas também as técnicas de cultivo da cana e de produção do açúcar. Diante disso, os holandeses começaram a produzir o açúcar nas Antilhas e, em pouco tempo, desbancaram a hegemonia do açúcar das colônias brasileiras no mercado internacional. Enfrentando essa forte concorrência, o ciclo econômico do açúcar entrou em baixa, apesar de perdurar como principal atividade econômica até a descoberta do ouro no século XVIII. 2 - A pecuária e o povoamento Figura 3.1: escravo conduzindo tropas. Disponível em: https://3.bp. blogspot.com/__5wjLMTrtsQ/SplgvSsqOQI/AAAAAAAAAAs/r1fhWDe 8J1M/s320/pecuaria+sulina.jpg. Acesso em: Janeiro/2020. A atividade econômica da pecuária não tinha grande importância no comércio internacional, mas era primordial para o desenvolvimento colonial domesticamente, uma vez que abastecia a população com carne e couro e, de igual modo, servia como meio de transporte. Além disso, a pecuária tinha uma característica importante: sua atividade contribuía para a expansão territorial. Essa feição da pecuária se reforçou, sobremaneira, no Brasil a partir de 1701 quando a metrópole portuguesa proibiu a criação de gado num raio de 80 quilômetros do litoral, visando estimular a produção açucareira, uma vez que a atividade pecuarista não se voltava para exportação e, desse modo, não era lucrativa à metrópole. Com isso, os pecuaristas passaram a adentrar o interior do território, estabelecendo criações onde o solo 20História Econômica do Brasil não era fértil ao cultivo canavieiro (COTRIM, 2005). Nesse sentido, Prado Jr. (1981, p. 28) apresenta que a pecuária: [...] também se destina a satisfazer as necessidades alimentares da população. A carne de vaca será um dos gêneros fundamentais do consumo colonial. Mas a pecuária, apesar da importância relativa que atinge, e do grande papel que representa na colonização e ocupação de novos territórios, é assim mesmo uma atividade nitidamente secundária e acessória. Havemos de observá- lo em todos os caracteres que a acompanham: o seu lugar será sempre de segundo plano, subordinando-se às atividades principais da grande lavoura, e sofrendo-lhe de perto todas as contingências. Duas regiões, antes remotas e não povoadas, foram o palco de desenvolvimento da pecuária no Brasil colonial: a caatinga nordestina e as campinas sulinas. No que se refere à pecuária nordestina, avançou na criação para o sertão, sempre margeando rios e afl uentes. De início, seu objetivo voltava-se para o abastecimento dos engenhos nordestinos com carne e couro. Mais tarde, já no ciclo do ouro, abastecia as demandas das regiões de mineração. O declínio da atividade na região nordestina deu-se por dois fatores: a concorrência com o início da criação na região de Minas Gerais e duas poderosas secas em 1791 e 1793, que inviabilizaram a rentabilidade da atividade no nordeste (COTRIM, 2005). No território do Rio Grande do Sul, as condições eram as mais favoráveis à criação de gado. Economicamente, o principal insumo consumido da criação era o couro, usado em artigos acessórios e, até mesmo, nas construções, como portas e janelas. Já no último quartel do século XVIII surgiu a indústria do charque, a famosa carne de sol, que era cortada em tiras, salgadas e deixadas ao sol para secar, o que contribuía para conservação e evitava desperdícios (COTRIM, 2005). Retomando a aula Chegamos, assim, ao fi nal da terceira aula. Espera- se que vocês tenham compreendido as principais características do ciclo econômico do açúcar e sua importância, principalmente, na economia internacional do período colonial. De igual modo, espero que vocês tenham apreendido as fases de ascensão e declínio da economia açucareira. Por fi m, vocês puderam observar a importância da pecuária para o mercado interno colonial e, principalmente, sua condição de ocupação territorial. 1 – Economia açucareira: formação, desenvolvimento e declínio Nesta seção, estudamos o ciclo da cana-de-açúcar no Brasil colonial. Nesse sentido, pudemos observar como o início do empreendimento açucareiro foi fator importante para o povoamento mais efetivo do território pertencente a Portugal. De igual modo, vimos como a economia açucareira despontou como a principal atividade econômica colonial, caracterizando-se enquanto atividade muito lucrativa para metrópole portuguesa. Por fi m, observamos que a concorrência estrangeira ao açúcar produzido no Brasil condicionou a queda do ciclo econômico do açúcar em meados do século XVIII. 2 – A pecuária e o povoamento Aqui, vimos que a pecuária enquanto uma atividade econômica secundária na economia brasileira colonial, que pela restrição imposta pela administração colonial, teve de estabelecer criação em territórios inabitados. Esse fator contribuiu fundamentalmente para o povoamento do interior do território brasileiro. De igual modo, a atividade representava parcela importante do abastecimento de atividades econômicas prioritárias: abastecia os engenhos de açúcar e, mais tarde, passou a abastecer a economia mineradora. Livro: “Segredos Internos: engenhos e escravos na sociedade colonial”. Stuart B. Schwartz. Vale a pena ler Filme: “12 anos de escravidão”. Direção: Steve McQueen. Vale a pena assistir Vale a pena Minhas anotações 4ºAula Ciclo do ouro: economia escravista mineira Objetivos de aprendizagem Ao término desta aula, vocês serão capazes de: • entender as principais características do ciclo do ouro; • observar a formação e desenvolvimento da economia aurífera; • compreender sua crise e seu declínio. Bons estudos! Desde o fim da União Ibérica em 1640 e da crise que varrera a hegemonia do açúcar português do mercado europeu com a concorrência do açúcar das Antilhas, a metrópole portuguesa viu-se em dificuldades em face aos séculos de lucros exorbitantes do açúcar. Essa conjuntura reavivou o sonho de encontrar ouro nas terras brasileiras. Foi no final do século XVII descobriram-se as primeiras jazidas do ouro aluvião. A partir da descoberta do ouro, a mineração se tornou o carro chefe da economia colonial, o que perduraria por quase um século. Figura 4: mineração no Brasil. Disponível em: https://www. todoestudo.com.br/wp-content/uploads/2016/08/Ciclo-do- Ouro.jpg. Acesso em: Janeiro/2020. 22História Econômica do Brasil 1 – Economia Aurífera: formação e desenvolvimento2 – Crise do ciclo do ouro 1 - Economia Aurífera: formação e desenvolvimento Vimos que o ciclo do ouro começara no fi m do século XVII, quando as primeiras jazidas foram encontradas, entre os anos de 1693 e 1695. Nesse sentido, Prado Jr. (1981, p. 37) apresenta que “Lá por 1696 fazem-se as primeiras descobertas positivas de ouro no centro do que hoje constitui o Estado de Minas Gerais (onde atualmente se acha a cidade de Ouro Preto). Os achados depois se multiplicaram sem interrupção até meados do séc. XVIII, quando a mineração do ouro atinge no Brasil sua maior área de expansão geográfi ca, e alcança o mais alto nível de produtividade.” O impacto da descoberta do ouro foi imediato no mundo colonial: os empreendimentos deixaram o já pouco lucrativo açúcar, dirigindo-se massivamente para o empreendimento de mineração. A região que compreende as Minas Gerais sofreu um rápido processo de povoamento: Com tanta gente chegando, a região passou por rápidas transformações. No sertão, a corrida do ouro contribuiu para o surgimento, em poucos anos, de vilas e cidades, como Vila Rica, Ribeirão do Carmo, São João del Rei e Sabará. A população de Minas Gerais continuou crescendo em todo o século do ouro. Em 1786, calcula-se que havia na capitania aproximadamente 394 mil habitantes, correspondendo a cerca de 15% da população total do Brasil (COTRIM, 2005, p. 245). Se pensarmos no valor econômico do ouro em comparação com o pau-brasil e o açúcar, não é de se admirar que, desde os primórdios da mineração, a metrópole tenha imposto rígida disciplina sobre a exploração aurífera. Nesse sentido, o detentor das minas, está claro, era a coroa portuguesa, que concedia lotes para exploração dos mineradores, os quais, em troca, pagavam um quinto de todo ouro que mineravam. O principal órgão administrativo desse modelo era a chamada Intendência das Minas de 1702, que tinha por atribuições distribuir os lotes e cobrar impostos. O controle sobre a atividade do ouro era difícil, pois o contrabando não era tarefa das mais difíceis, uma vez que esconder o ouro em pó ou em pequenas pepitas era prático. Para controlar essa situação, a coroa criou as Casas de Fundição, que proibia a circulação de ouro em pó sob o risco de severas penas e obrigava todos os mineradores a fundirem seu ouro e, no ato da fundição, já depositarem o quinto (a quinta parte de impostos). De lá, já saiam as barras com o selo real, que podiam ser negociadas. Sobre as Casas de Fundição, Seções de estudo Prado Jr. (1981, p. 39) apresenta que: [...] aí se fundia, e depois de deduzido o quinto e reduzido a barras marcadas com o selo real (chamava-se isto “quintar ouro”) era devolvido ao proprietário. Somente nestas barras quintadas (de que até hoje se conservam muitos exemplares) podia o ouro circular livremente. O manuseio do ouro sob outra forma — em pó ou em pepitas, como é encontrado na natureza, ou em barras não marcadas — era rigorosa e severamente proibido. Quem fosse encontrado com ele sofria penas severas, que iam do confi sco de todos os bens até o degredo perpétuo para as colônias portuguesas da África. Em termos organizacionais, a prospecção do ouro era dividida em dois tipos: as lavras e os faiscadores. As lavras representam a mineração em seus tempos áureos, eram compostas de aparelhamento especializado e fazia-se a mineração em larga escala com mão de obra praticamente composta somente por escravos africanos. Os faiscadores, por sua vez, eram empreendimentos individuais de mineração, os quais não se fi xavam em um lote específi co, buscando ouro em diferentes lugares não ocupados. Esse modelo sempre existiu na atividade econômica do ouro, mas sua presença aumentou quando o ciclo do ouro já estava em decadência e as minas não ofereciam mais tantas riquezas (PRADO JR., 1981). 1.1 – O auge do ciclo do ouro no Brasil Podemos dizer que o auge do ciclo do ouro no Brasil durou por volta de 75 anos, do fi m do século XVII até o último quarto do século XVIII. Já vimos que, em decorrência da presença do ouro, a região de Minas Gerais recebeu enorme contingente pessoas, razão pela qual se presenciou a rápida ascensão da vida urbana na região. Como apresenta Furtado (2005, p. 78), essas pessoas não eram oriundas somente de outras regiões do Brasil, mas também da Europa, que rumavam às minas gerais para trabalharem na mineração: A economia mineira abriu um ciclo migratório europeu totalmente novo para a colônia. Dadas suas características, a economia mineira brasileira oferecia possibilidades a pessoas de recursos limitados, pois não se exploravam grandes minas - como ocorria com a prata no Peru e no México -, e sim o metal de aluvião que se encontrava depositado no fundo dos rios. Não se conhecem dados precisos sobre o volume da corrente emigratória que, das ilhas do Atlântico e do território português, se formou com direção ao Brasil no correr do século XVIII. Sabe- se, porém, que houve alarme em Portugal, e que se chegou a tomar medidas concretas para difi cultar o fl uxo migratório. Se se têm em conta as condições de estagnação econômica que prevaleciam em Portugal - 23 particularmente na primeira metade do século XVIII, quando se desorganizaram suas poucas manufaturas -, para que a emigração suscitasse uma forte reação evidentemente deveria alcançar grandes proporções. Com efeito, tudo indica que a população colonial de origem europeia decuplicou no correr do século da mineração Em termos econômicos, Minas Gerais tornou-se um grande mercado consumidor, principalmente de alimentos, ferramentas, produtos têxteis etc. Diferentemente das regiões produtoras do açúcar, que constituíram sociedades fundamentalmente rurais, a exploração do ouro constituiu uma sociedade basicamente urbana composta por comerciantes, funcionários da coroa, mineradores e, majoritariamente, escravos. Os escravos, aliás, eram a variável que se mantinha constante desde a economia açucareira, isto é, continuavam sendo brutalmente explorados e submetidos a exaustivas jornadas de trabalho (COTRIM, 2005). No auge da economia do ouro, os senhores ricos fi caram mais ricos, enquanto o sonho do ouro empobrecia a maior parte dos mineiros, apesar da pujança econômica que a região das Minas Gerais presenciava. O fato é que, do ponto de vista da administração colonial, a pobreza que arrebatava a maior parte dos mineiros devia-se ao contrabando, às técnicas rudimentares de prospecção do ouro e à falta de mão de obra. Por outro lado, a exploração da coroa com a cobrança de impostos também pode ser uma explicação para pouca mobilidade social que a atividade mineradora apresentava. No ponto alto da produção aurífera no Brasil, a quantidade de ouro explorada em 70 anos superou em quantidade de metal explorado em quase quatro séculos de exploração espanhola na América hispânica. Todo esse ouro, entretanto, como é característico das explorações colônias, não foi revertido para estímulos econômicos nas colônias. É certo que durante a alta do ciclo do ouro, as Minas Gerais tiveram um crescimento econômico interessante, mas pouco face ao que fora prospectado em ouro. Nesse sentido, tratando do auge do ciclo do ouro, Furtado (2005, p. 82) aponta que: “A exportação de ouro cresceu em toda a primeira metade do século e alcançou seu ponto máximo em torno de 1760, quando atingiu cerca de 2,5 milhões de libras. Entretanto, o declínio no terceiro quartel do século foi rápido e, já por volta de 1780, não alcançava 1 milhão de libras. O decênio compreendido entre 1750 e 1760 constituiu o apogeu da economia mineira, e a exportação se manteve então em torno de 2 milhões de libras.” Pensando na conjuntura econômica internacional desse período, podemos dizer que as relações assimétricas entre Portugal e Inglaterrarepresentaram um canal de escoamento importante do ouro brasileiro. Portugal necessitara dos ingleses para se libertar do domínio espanhol em 1640, os ingleses, em troca, “prenderam” Portugal a uma série de tratos econômicos favoráveis à economia inglesa. Além disso, Portugal não produzia produtos manufaturados, adquirindo- os junto aos ingleses. A principal forma de pagamento desses produtos eram as riquezas extraídas da colonização brasileira, dentre elas o ouro (COTRIM, 2005). 2 - Crise do ciclo do ouro A crise do ouro, assim como qualquer atividade extrativista não sustentável, deu-se em decorrência do esgotamento das jazidas de ouro aluvião. Nesse sentido, Prado Jr. (1981, p. 40) apresenta que: O ouro brasileiro é, na maior parte, de aluvião, e se encontra sobretudo no leito dos cursos de água e nas suas margens mais próximas. Ele resulta de um processo geológico milenar em que a água, tendo atacado as rochas matrizes onde antes se concentrava o metal, o espalhou por uma área superfi cial extensa. Daí a pequena concentração em que foi encontrado e o esgotamento rápido dos depósitos, mesmo os mais importantes. O que sobra é de um teor aurífero tão baixo que não paga trabalhos de vulto, e dá apenas para o sustento individual de modestos faiscadores isolados. Com a queda brusca da quantidade de ouro, a coroa portuguesa julgou que o problema estava no contrabando e enrijeceu a cobrança de impostos e as penalizações aos mineradores. Diante disso, a coroa portuguesa determinou uma cota anual de 100 arrobas por minerador, quantidade que, na medida em que o ouro se tornava mais escasso, difi cilmente era atingida. Para cobrar os impostos atrasados em decorrência das metas não atingidas, a coroa determinou em 1765 a chamada derrama, que consistia na cobrança desses impostos através do confi sco dos bens dos mineradores. Nesse período, o empobrecimento dos mineradores foi acentuado (COTRIM, 2005). Além do esgotamento natural das jazidas, outro fator importante para o declínio do ciclo do ouro foi a incapacidade técnica dos mineradores para explorarem os recursos disponíveis. Ocorre que, esgotado o ouro superfi cial, era necessário um aparato técnico mais sofi sticado para explorar as jazidas mais profundas. Para tanto, era necessário aprofundamento de pesquisas para se descobrirem novas formas de extrair o ouro. Para esta conjuntura pode-se dizer que a maior culpada foi, de fato, a coroa, pois, segundo Prado Jr. (1981, p. 41), a administração: [...] manteve a colônia num isolamento completo; e não tendo organizado aqui nenhum sistema efi ciente de educação, por mais rudimentar que fosse, tornou inacessível aos colonos qualquer conhecimento técnico relativo às suas atividades. O baixo nível intelectual na colônia, que não tem talvez paralelo na América, não cabe em nosso assunto; mas é preciso lembrá-lo porque interfere aqui diretamente com a economia do país. Não resta a menor dúvida que a 24História Econômica do Brasil ignorância dos colonos portugueses sempre constituiu um óbice muito sério oposto ao desenvolvimento de suas atividades econômicas; [...] Não se deu um passo para introduzir na mineração quaisquer melhoramentos; em vez de técnicos para dirigi-la, mandavam-se para cá cobradores fi scais. O pessoal com que se formavam as intendências eram burocratas gananciosos e legistas incumbidos de interpretar e aplicar os complicados regulamentos que se destinavam, quase unicamente, a garantirem os interesses do fi sco. Não se encontra nelas, durante um século de atividade, uma só pessoa que entendesse de mineração. E enquanto os mineradores se esgotavam com o oneroso tributo que sobre eles pesava, qualquer crítica, objeção ou simples dúvida era imediatamente punida com castigos severos. Como vimos, a maior parte dos recursos provenientes da mineração foram escoados pela coroa para suprir suas relações comerciais assimétricas com a Inglaterra, bem como para manter os privilégios da corte portuguesa na metrópole. À vista disso, a atividade mineradora não pôde ser reorganizada em seu momento de baixa, porque, durante seu auge, não se produzira reserva de recursos. A seguir, vocês podem ver uma explanação sobre o Tratado de Mathuen, que representa os acordos comerciais assimétricos, que aludimos acima, pois reforçava a dinâmica desigual nas balanças comerciais, isto é, enquanto Portugal exportava produtos de baixo valor agregado, era obrigado a importar produtos manufaturados mais caros. Vejamos: O acordo de Methuen O acordo de Methuen constitui um ponto de referência importante na análise do desenvolvimento econômico de Portugal e do Brasil. Esse acordo foi celebrado ao término de um período de grandes difi culdades econômicas para Portugal, coetâneas da decadência das exportações açucareiras do Brasil. Ao prolongar-se essa decadência e ao reduzir-se tão persistentemente a capacidade para importar, começou a prevalecer em Portugal o ponto de vista de que era necessário produzir internamente aquilo que o açúcar permitira antes importar em abundância. Tem início assim um período de fomento direto e indireto da instalação de manufaturas. Durante dois decênios, a partir de 1684, o país conseguiu praticamente abolir as importações de tecidos. Essa política estava perfeitamente dentro do espírito da época, pois seis anos antes a Inglaterra proibira todo comércio com a França para evitar a entrada de manufaturas francesas. Contudo, é provável que fosse grande a reação Centro de Portugal, particularmente dos poderosos produtores e exportadores de vinhos, grupo dominante no país. Os ingleses trataram de aliar- se a esse grupo para derrogar a política protecionista portuguesa. Com efeito, o acordo de 1703 concede aos vinhos portugueses, no mercado inglês, uma redução de um terço do imposto pago pelos vinhos franceses. Em contrapartida, Portugal retirava o embargo às importações de tecidos ingleses. FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. Companhia editora: São Paulo, 2005. Retomando a aula Chegamos, assim, ao fi nal da quarta aula. Espera- se que você tenha compreendido os aspectos econômicos gerais do ciclo do ouro no Brasil colônia. Nesse sentido, espero que vocês tenham apreendido os pontos de formação e desenvolvimento da atividade aurífera no Brasil e, de igual modo, seu declínio econômico. 1 – Economia Aurífera: formação e desenvolvimento Nesta seção, estudamos o processo de descoberta do ouro na região das Minas Gerais, observando os principais aspectos desse momento incipiente da exploração aurífera no Brasil. De igual modo, estudamos o processo de formação econômica desse ciclo e seu desenvolvimento, observando a estruturação administrativa entorno da atividade, bem como o progresso que a região vivenciou, principalmente no que se refere à constituição de uma sociedade urbana. 2 – Crise do ciclo do ouro Aqui, estudamos o processo de crise do ciclo do ouro no Brasil. Nesse sentido, nos debruçamos nas principais causas que levaram ao esfacelamento da economia aurífera. Dentre as razões principais da crise, vimos uma causa natural, que foi o esgotamento das jazidas de ouro, e outra causa relativa à incapacidade da administração portuguesa de desenvolver estruturas de capacitação técnica para aprimoramento da mineração. Além disso, observamos que o escoamento massivo dos recursos provenientes do ouro para a Europa, em geral, e, especialmente, para Inglaterra confi gurou- se enquanto variável econômica importante para a crise e consequente declínio do ciclo do ouro no Brasil. Livro: “Opulência e miséria nas minas gerais” Laura Vergueiro. Vale a pena ler Curta-metragem: “Ouro e Cobiça (Ouro Preto, 1719) - Histórias do Brasil episódio 5. Disponível em: http:// tvbrasil.ebc.com.br/historiasdobrasil/episodio/ouro-e-cobica-episodio-5. Vale a pena assistir Vale a pena 5ºAula O problema da escravidão e transição para o trabalho assalariado Objetivos de aprendizagem Ao término desta aula, vocês serão capazes de: • compreender a crise da economia escravocrata; • observar os processos que conduziram à abolição da escravatura; • entender a conjuntura econômica de transição do trabalho escravo para o trabalho assalariado. Depois de três séculos de escravidão, o trabalho escravo foi finalmente abolido em 1888. Os mais otimistas, ou desconhecedores da história, poderão dizer que a partir desse momento histórico se resolvia o problema da exploração que perdurara por 300 anos, o que não é verdade. O fato é que a abolição tirou o escravo de uma condição de subserviência e exploração total e o colocou em um mercado de trabalho sem as mínimas condições para absolver a mão de obra emergente. O resultado prático disso foi, por um lado, a miséria total com a falta de trabalho e renda e, por outro, trabalhos que não passavam de uma situação análoga à escravidão de outrora. Diante disso, nesta aula vamos discutir a contexto histórico que provocou a crise da economia escravocrata e seu consequente declínio no Brasil, em 1888. De igual modo, vamos estudar a conjuntura econômica da transição do trabalho escravo para o trabalho assalariado. Bons estudos! Figura 5: abolição da escravidão. Disponível em: https://encrypted- tbn0.gstatic.com/images?q=tbn%3AANd9GcTPt0UnvexmQMDMP- 9skiWDOXO6X6Kc1PKR4m_hQEpqdFqdMvtx. Acesso em: Janeiro/2020. 26História Econômica do Brasil 1 – Crise e declínio da economia escravocrata 2 – Transição do trabalho escravo para o trabalho assalariado 1 - Crise e declínio da economia escravocrata O entendimento da crise e declínio da economia escravocrata brasileira deve ser inserido em um ciclo de transformações econômicas de longa duração. Isto é, para compreendermos as mudanças estruturais que culminaram na abolição da escravatura brasileira, precisamos remontar a eventos mais longínquos. Possuem papel central na crise do escravismo, a Revolução Industrial liderada pela hegemonia inglesa, a fuga da família real portuguesa para o Brasil em 1808, a Guerra do Paraguai e uma série de movimentos da burguesia nacional contribuíram para o declínio da economia fundamentada na mão de obra escrava. 1.1 – A Revolução Industrial e Hegemonia Britânica Ainda no século XVIII, o mundo conhecia a revolução produtiva que transformaria a organização econômica mundial: a economia global saíra de um modo de produção fundamentalmente mercantilista e entrara em uma nova dinâmica da produção em maior escala e da intensifi cação da comercialização internacional dessa produção. Nesse sentido, a revolução produtiva era liderada pela hegemonia inglesa, que desde a revolução gloriosa no século XVII levara à instituição da monarquia constitucional inglesa e, desse modo, ao relativo fortalecimento das forças liberais em conjunto com a monarquia protestante. Precursora do liberalismo, fortemente amparada em termos políticos e econômicos, a Inglaterra foi a potência hegemônica mundial durante os séculos XVIII e XIX. Despontando com a ampla produção industrial, os britânicos ampliavam sua zona de infl uência global, buscando prospectar mercados consumidores para seus produtos industrializados. Nesse contexto, Portugal foi, sobremaneira, um país muito subjulgado pela hegemonia inglesa, atuando em grande medida pela infl uência britânica. Assim, não tardou para que a Inglaterra começasse a impor difi culdades à continuidade do tráfi co negreiro português. Novos escravos e a continuidade da escravidão representavam menor quantidade de mercados consumidores aos produtos manufaturados dos britânicos e, diante disso, a Inglaterra passaria a atuar ativamente durante o século XVIII e XIX para impedir a continuidade da economia escravocrata portuguesa no Brasil. 1.2 – 1808: a invasão napoleônica e a fuga da família real para o Brasil Fugindo da invasão napoleônica em Portugal, a corte real Seções de estudo portuguesa desembarcaria no Brasil em 22 de Janeiro de 1808. Vocês podem questionar qual a importância disso na crise da economia escravocrata brasileira. Ocorre que o período em que família real esteve no Brasil contribuiu para o processo de emancipação político-econômico, uma vez que o Brasil não mais era colônia portuguesa, senão a própria metrópole. Isso contribuiu diretamente para a independência em 1822 e, mais tarde, para questionamento do pacto colonial. Assim sendo, podemos dizer que a presença da família real no Brasil de 1808 até meados de 1820 constitui um período em que a colônia ainda mantinha o status de colônia explorada, mas na prática funcionou como o centro administrativo de Portugal. Isso, indubitavelmente, construiu o ambiente necessário para que, dois anos mais tarde, o Brasil declarasse independência de Portugal. No que se refere à situação econômica, com a presença da família real no Brasil, Prado Jr. (1981) apresenta que a economia se aquecera principalmente pelos índices do comércio exterior que quase triplicaram em oito anos da presença da corte portuguesa no Brasil. Nesse sentido, “[...] o progresso econômico do país é geral, e em todos os setores sente-se o infl uxo da grande transformação operada pela revogação da política de restrições que até 1808 pesara sobre a colônia.” (PRADO JR., 1981, p. 95). 1.3 – 1822 e a independência do Brasil Alguns historiadores argumentam que durante a estadia da família real no Brasil, a região não era a colônia, de modo que as vantagens da metrópole foram vividas pelas elites locais, e, quando a coroa retorna a Portugal, essas elites não aceitaram voltar ao status de colônia. Assim sendo: É vital reconhecer, portanto, que no 7 de setembro de 1822, nas margens do Ipiranga, nos arredores de São Paulo, quando Dom Pedro, herdeiro do trono português, gritou Independência ou morte”, estava exagerando. A questão, em setembro de 1822, não era certamente a morte e, apenas indiretamente, a independência. O Brasil havia sido independente, para todas as intenções e propósitos, desde 1808; desde 16 de dezembro de 1815 o Brasil fazia parte de um reino unido, em pé de igualdade com Portugal. O que estava em jogo no início da década de 1820 era mais uma questão de monarquia, estabilidade, continuidade e integridade territorial do que de revolução colonial (KENNETH, 2000, p. 2). Diante da resistência das elites locais em retroceder ao posto de colônia, fez-se crescer sobre o príncipe regente, D. Pedro, pressões políticas para emancipação do Brasil de Portugal. Não tardaria, pois, para que D. Pedro proclamasse a independência do Brasil de Portugal. D. Pedro seria proclamado D. Pedro I, imperador do Brasil. É interessante notar que a independência do Brasil não foi um movimento por mudanças das estruturas econômicas, 27 sociais e políticas. Liderada pelos interesses da elite, o processo independentista procurava emancipar o Brasil das tentativas da corte portuguesa de recolonizar a região e, portanto, reestabelecer o domínio da metrópole sobre a colônia. Assim sendo, a preocupação estava em garantir que a elite se emancipasse, mas as estruturas socioeconômicas exploratórias se manteriam, isto é, o trabalho escravo e as profundas desigualdades do sistema colonial não se alterariam. O reconhecimento da soberania no pós-independência, entretanto, não dependia somente de forças políticas internas, mas, igualmente, dependia do reconhecimento das principais potências da época, em especial a Inglaterra. Ocorre que esse reconhecimento de soberania não vinha desacompanhado da compensação econômica. Com a Inglaterra, o Brasil teve que assinar dois tratados que apontavam para o enfraquecimento da economia escravocrata: em 1826 foi assinado um tratado que proibia o tráfico negreiro. A Inglaterra ainda costurou a renovação do Tratado de Comércio de
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