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Expansão europeia

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1ºAula
Expansão europeia e descobrimento 
do Brasil: o período pré-colonial e o 
pacto colonial
Objetivos de aprendizagem
Ao término desta aula, vocês serão capazes de: 
• compreender a expansão europeia em perspectiva sistêmica; 
• entender o processo de chegada dos Portugueses ao Brasil; 
• observar a constituição do primeiro pacto colonial. 
Quando estudamos a expansão europeia e a consequente chegada 
dos europeus na América a partir de uma perspectiva de história 
econômica, devemos colocar em perspectiva as abordagens sistêmicas 
do Sistema-Mundo. Em outras palavras, ao nos debruçarmos sobre os 
elementos que compõem a expansão marítima europeia nas figuras de 
Portugal e Espanha em uma perspectiva de história econômica, é preciso 
que observemos esse fenômeno a partir da noção de que a expansão 
europeia constituía um moderno sistema-mundo.
 À vista disso, vamos estudar nesta aula a expansão europeia e 
a chegada à América, em particular, aproximando-se de nosso objeto 
central, a chegada dos portugueses no Brasil e o primeiro pacto colonial. 
Bons estudos!
Figura 1: chega dos portugueses ao Brasil. Disponível em: https://s1.static.brasilescola.uol.com.
br/be/conteudo/images/desembarque-cabral-em-porto-seguro-oscar-pereira-silva-4f0db8f70e78b.
jpg. Acesso em: Janeiro/2020.
6História Econômica do Brasil
1 – Expansão europeia: a constituição do sistema-mundo
2 – Período pré-colonial
3 – Portugueses no Brasil e o primeiro Pacto Colonial
1 - Expansão europeia: a constituição 
do sistema-mundo
O moderno sistema mundo pode ser entendido como 
uma economia-mundo capitalista, que se formou no século 
XVI na Europa e na América, no qual se estabeleceu uma 
estrutura mundial colonial moderna e capitalista a partir da 
exploração da América Latina, caracterizada pela formação 
de um padrão global de controle do trabalho e dos recursos, 
de modo que se articulava, assim, o capitalismo mundial 
(WALLERSTEIN, 2001; QUIJANO, 2005).
Wallerstein (1974) defi ni um sistema-mundo com ampla 
divisão do trabalho, em que a distribuição não é igualitária no 
sistema. Esse fato se dá pela organização social do trabalho, que 
legitima a capacidade de alguns grupos para explorar o trabalho 
de outros. Assim, essa noção de sistema mundial é mais 
voltada para perspectiva econômica, possuindo uma lógica de 
acumulação específi ca distribuída geografi camente, de maneira 
que se estabelecem relações de dependência. Nesse sentido, 
observa-se uma economia mundo em que a estrutura política 
tende a se conectar com a cultura em um âmbito espacial – 
geocultura. A explicação para essa conexão se dá a partir da 
expansão capitalista da Europa enquanto centro desse sistema: 
tendo o controle do mercado, pôde expandir seu domínio 
colonial de maneira global, assimilando as diferentes culturas 
ao seu padrão de poder, ocasionando nessas regiões dominadas 
uma redefi nição de suas identidades, na medida em que eram 
impostas novas identidades geoculturais (QUIJANO, 2005).
Arrighi (2003) aponta que o sistema mundial moderno 
tem sua formação e sua expansão a partir das reestruturações 
sistêmicas marcadas pela liderança e governança de ciclos de 
dominação de Estados hegemônicos. Esses Estados podem 
formatar o sistema mundial moderno em dois sentidos: o 
territorialista e o capitalista. O primeiro identifi ca o poder na 
extensão de seus domínios, vendo a riqueza/capital como um 
meio para se alcançar a expansão territorial. Já para o segundo, 
o poder está ligado ao seu controle sobre os recursos escassos, 
de modo que a expansão territorial é um meio para se acumular 
capital. Assim sendo, o moderno sistema mundial tem como 
expressão principal a “[...] oposição constante entre as lógicas 
capitalista e territorialista do poder, bem como a recorrente 
resolução de suas contradições através da reorganização do 
espaço político-econômico mundial pelo principal Estado 
capitalista de cada época” (ARRIGHI, 2013, p. 36).
Para Telo (1996), Portugal e Espanha são grandes 
expoentes desse primeiro sistema mundial, que é marcado, 
também, pelo desenvolvimento da técnica de navegação, 
permitindo a navegação em mar aberto e o fortalecimento 
das redes marítimas e do estudo das rotas, bem como o 
conhecimento mais completo do planeta. Essa técnica dá 
Seções de estudo
condições para que Espanha e Portugal dominem importantes 
rotas de comércio marítimo e desenvolvam técnicas ainda 
mais apuradas na virada do século. A abertura de novas rotas 
oceânicas traz consigo um processo de colonialismo: o impacto 
profundo nas culturas e mentalidades em outros continentes.
O principal questionamento é como Portugal, 
consideravelmente inferior em capacidades materiais, 
conseguiu manter-se estável para conquista da região que 
hoje é o Brasil. O argumento central é que Portugal, apesar 
de se caracterizar enquanto periferia daquela ordem, tinha 
uma unidade nacional bem constituída. Essa unidade foi 
conquistada a partir da concentração do poder real e da 
formação de uma consciência nacional precoce desenvolvida 
desde o século XIV em Portugal, com a Revolução de Avis 
no ano de 1383 (TELO, 1996). A Espanha, por sua vez, 
conseguiu ser protagonista tanto nas disputas pelo poder nos 
confl itos internos da Europa quanto na busca por poder fora 
da Europa (ARRIGHI, 2003). Nesse sentido, Dussel (2005) 
coloca a Espanha como a primeira nação moderna, abrindo a 
primeira fase do mercantilismo mundial.
Uma vez que apontamos que Portugal era periferia, pois 
não estava envolvido nos confl itos centrais da Europa, cabe-
nos traçar um sucinto panorama do confl ito europeu ao longo 
dos anos XV e no século XVI. 
As guerras que se desenvolveram na Europa no decorrer 
do século XV se caracterizam por confl itos mais localizados 
como, por exemplo, as lutas entre os Estados italianos e as 
desavenças entre ingleses e franceses refl etidas na guerra 
dos Cem anos. No século XVI essas lutas mais centralizadas 
passam a se confi gurar como luta pela hegemonia continental, 
que se dividiram basicamente em dois momentos: as lutas 
religiosas a partir da ascensão da Contrarreforma, que 
potencializou as rivalidades monárquicas já existentes no 
continente; e a formação da dinastia dos Habsburgos, que 
tinha como principal adversário a dinastia de Valois na França 
(KENNEDY, 1989). O confl ito entre ambas as dinastias tinha 
contornos “[...] ideológico e militar, que caracterizou o sistema 
dos Estados na Europa [...]” (MAINKA, 2003, p. 188).
Os Valois ensejavam expandir seus domínios para 
as Cidades-Estados italianas, contudo as possessões dos 
Habsburgos freavam as possibilidades de seu avanço e, 
por conseguinte, “[...] o objetivo dos franceses, na Europa, 
nos dois séculos seguintes, seria romper a infl uência dos 
Habsburgos” (KENENEDY, 1989, p. 41). 
Essas desavenças desembocariam na guerra dos Trinta 
anos que oporia os Habsburgos da Espanha e da Áustria às 
coalizões de outras potências europeias em um confl ito que 
durou até a Paz de Westfália, em 1648 (KENNEDY, 1989; 
MAINKA, 2003). 
Nesse contexto, a Espanha estava focada nas batalhas 
por terra no centro da Europa, na medida em que estava 
inserida mais diretamente no contexto da guerra dos Trinta 
anos e também na luta para barrar o islã no mediterrâneo 
(KENNEDY, 1989; TELO, 1996). 
As guerras europeias se apresentam em dois sentidos 
analíticos em relação ao avanço das técnicas navais de 
Portugal: primeiro, Portugal se afastou dessas guerras e focou 
no seu projeto ultramarino; e segundo, os países envolvidos 
nas guerras europeias, que tinham maiores recursos em termos 
7
de capacidades materiais em relação a Portugal, fi caram 
compromissados com os confl itos – principalmente com 
a ambição de conquistarem a hegemonia europeia – e não 
levaram a cabo a possibilidade de frear o avanço português, 
nem desenvolver suas próprias técnicas (TELO, 1996). 
Contudo, a Espanha, ainda que tivesse que dividir a 
atenção de sua expansão ultramarina com as guerras europeias,contava com um aspecto fundamental para aumento de sua 
importância juntamente com Portugal no sistema mundial: 
sua posição geográfi ca. Pois, “O papel que o Estado pode 
representar nas relações internacionais é amplamente afetado 
pelo lugar que ele ocupa no mapa do mundo. Graças à sua 
situação geográfi ca, Estados de pequena dimensão puderam 
marcar, na história, vestígios não deixados por Estados mais 
vastos, dotados de recursos muito superiores.” (RENOUVIN; 
DUROSELLE, 1967, p. 20).
Nesse sentido, a vantagem geográfi ca central dos países 
ibéricos era seu acesso ao mar, afi nal:
O território com uma fachada litorânea possui 
vantagens do ponto de vista comercial: o 
mar oferece facilidades de circulação a preço 
barato, ao passo que a construção de vias de 
comunicação terrestre é onerosa; ele assegura, 
a despeito dos riscos de navegação, uma 
segurança maior nas relações com o exterior, 
porque no mar é mais fácil que em terra 
escapar a um inimigo que quisesse interditar 
a passagem (RENOUVIN; DUROSELLE, 
1967, p. 20).
Todavia, o controle do primeiro sistema por Portugal e 
Espanha não pode ser somente creditado às suas vantagens 
geográfi cas e ao desenvolvimento astucioso das suas técnicas 
de navegação. Estaríamos sendo reducionistas se não 
levássemos em conta que é a partir da exploração da América, 
principalmente dos seus metais preciosos, utilizando mão de 
obra gratuita do trabalho indígena e negro, que os brancos – 
lê-se, a priori, os ibéricos e, posteriormente, outras potências 
europeias – conseguem vantagens únicas para o controle 
do comércio mundial (QUIJANO, 2005). E, controlando 
o comércio mundial, puderam investir em diferentes áreas, 
incluindo as técnicas navais.
O poderio naval ibérico começa a dar sinais de 
esgotamento a partir da metade do século XVI, na medida 
em que os países do Norte, que até então não tinham se 
voltado para a estratégia ultramarina, entram nesse processo 
fi nanciados pela iniciativa privada (TELO, 1996). Trata-se de 
um movimento histórico que deslocava a hegemonia do eixo 
ibérico para o Atlântico norte-ocidental (QUIJANO, 2005).
2 - Período pré-colonial
Quando falamos das sociedades pré-colombianas, uma 
das principais curiosidades que surge é: “como os povos ameríndios 
chegaram à América?”. As investigações antropológicas com 
maior aceitação são as que defendem a tese de que a povoação 
do continente aconteceu a partir da Ásia Oriental, em que 
populações migraram da Sibéria ao Alaska pelo Estreito 
de Bering, o qual, supostamente, estava seco quando da 
migração. Estima-se que esses fl uxos migratórios ocorreram 
entre 30 000 ou 50 000 anos. Chegando ao Alaska, esses 
grupos deslocavam-se mais ao sul em busca de melhores 
condições climáticas. Essas populações baseavam-se na caça 
e na coleta, entretanto, no decorrer de milênios, esses grupos 
populacionais passaram por paulatinas transformações 
culturais: para além da caça e da coleta, desenvolveram 
técnicas mais complexas de agricultura seminômade, bem 
como de agricultura sedentária. A esse aspecto, soma-se 
o aumento populacional desses grupos, estimando-se um 
volume populacional por volta de 30 a 50 milhões de pessoas 
no período pré-conquista (BOERSNER, 1996). 
Nesse contexto, os povos que ocupavam as sub-regiões 
da meso-América e da peruano-boliviana constituíram 
sociedades com alto grau de urbanização, impulsionadas, 
principalmente, por fatores geográfi cos favoráveis, tais como 
a fertilidade dos solos, a exuberância de recursos hídricos, além 
de facilidade de trocas comerciais e culturais entre os povos 
que compunham a região. Desse modo, as civilizações dessas 
regiões desenvolveram importantes técnicas de agricultura 
sedentária com irrigação artifi cial, o que contribuiu para a 
constituição de complexas estruturas sociais. Há de se pontuar 
algumas especifi cidades de cada região: os Incas, situados na 
região andina, tiveram melhor desempenho no que se refere à 
tecnologia, o que, por conseguinte, proporcionou ao Império 
Inca ampla estabilidade e efi ciência. Sobre os Incas, Favre 
(1987, p. 6) pontua que:
Quando os espanhóis chegaram ao Peru, 
em 1532, os Incas já haviam estabelecido 
o seu domínio sobre o planalto e a planície 
costeira dos Andes. Seu Império estendia-se 
desde Cuzco até a Colômbia, ao norte; e 
até o Chile e a Argentina, ao sul. O brilho 
de sua civilização atingia o Panamá e chegava 
mesmo às longínquas praias atlânticas do 
Brasil, sob a forma de utensílios de cobre ou 
ornamentos de ouro e prata transportados de 
tribo em tribo, através da fl oresta amazônica. 
Em toda a América do Sul, vivendo ainda 
na Idade da Pedra, somente a Terra do Fogo 
escapava ao fascínio de sua magnifi cência, 
que deveria dar origem ao mito do Eldorado 
quando os espanhóis, por sua vez, foram por 
ela atraídos.
 
Os Maias e os Astecas, que ocupavam a sub-região 
mesoamericana, por sua vez, tiveram ampla ascendência na 
matemática, nas questões místico-religiosas, bem como na 
arte. Nesse sentido, é importante assinalar que as civilizações 
que ocupavam a meso-América tiveram que enfrentar 
intempéries naturais pelas quais as civilizações andinas não 
passaram: períodos de seca e erosões, que impossibilitavam 
essas civilizações de dominarem o meio que viviam, 
difi cultando seu abastecimento de proventos. Essa situação 
gerou nessas civilizações uma percepção trágica do cotidiano, 
refl etida em sacrifícios humanos, culto à morte e guerra entre 
povos e classes (BOERSNER, 1996)
No que se refere aos Astecas, Soustelle apresenta que:
Os astecas (azteca) ou mexicanos (mexica) 
8História Econômica do Brasil
dominavam com esplendor a maior parte do 
México quando os conquistadores espanhóis 
ali chegaram, em 1519. Sua língua e sua 
religião tinham-se imposto sobre imensas 
extensões de terra desde o Atlântico até o 
Pacífi co e das regiões áridas setentrionais 
até a Guatemala. O nome de seu soberano 
Motecuhzoma era venerado ou temido de 
uma ponta à outra daquele vasto território. 
Seus comerciantes com suas caravanas de 
carregadores percorriam o país em todos 
os sentidos. Seus funcionários recebiam 
impostos de todos os lados. Nas fronteiras, 
as guarnições astecas mantinham a distância 
as populações insubmissas. Em Tenochtitlán 
(México), sua capital, a arquitetura e a 
escultura haviam alcançado um impulso 
extraordinário, enquanto o luxo crescia 
no vestuário, à mesa, nos jardins e na 
ourivesaria. (2002, p. 8).
Os Maias, de acordo com Gendrop (1987, p. 32),
[...] da mesma forma que os demais povos 
da Meso-América, não dispunham senão de 
uma tecnologia bastante limitada, sob muitos 
aspectos exatamente comparável ao estágio 
dito “neolítico”, não conhecendo o uso da 
roda nem do torno, e não dispondo de animal 
algum de tração. Desconheciam o trabalho em 
metais, e assim permaneceram até o fi nal do 
período clássico. Tudo isso, porém, em nossa 
opinião, não torna senão mais admiráveis as 
suas conquistas em outros domínios, visto 
que – por um desses prodígios da inteligência 
humana, e superando condições muito 
adversas, tanto naturais como inerentes às 
suas próprias limitações tecnológicas – os 
Maias deveriam revelar-se como um dos povos 
mais bem dotados para a astronomia, como 
também para certos ramos da matemática, 
sem contar suas aptidões artísticas. 
Na imagem abaixo, vocês podem observar com 
maior clareza os territórios que pertenciam a cada uma das 
civilizações que acabamos de conhecer brevemente:
Fonte: https://slideplayer.com.br/slide/5614215/. Acesso em: 23/01/2019.
3 - Portugueses no Brasil e o primeiro 
Pacto Colonial
Quando falamos em pacto colonial, estamos nos 
referindo ao domínio que as metrópoles exerciam sobre as 
colônias. Assim, o pacto colonial refere-se à relação político-
econômica das metrópoles com suas possessões coloniais.
No que se refere à colonização ibérica em geral e, 
particularmente, à portuguesa,o pacto colonial foi marcado 
por relações econômicas de exploração fundamentadas 
no mercantilismo e por relações políticas igualmente 
exploratórias, de domínio e submissão.
Quando nos referimos aos portugueses no Brasil, 
estamos tratando do sistema colonial que implementaram para 
exploração das terras coloniais. Desde o princípio esse sistema 
colonial se notabilizou pelos empreendimentos exploratórios 
das riquezas econômicas coloniais. Diante disso, instaurou-se 
um sistema fundamentado em estruturas de caráter vertical e 
rígido. Nesse sentido, a introdução das instituições espanholas 
e, em menor medida, portuguesas nas colônias levavam o selo 
da Idade Média, além da feição absolutista e de economia 
escravocrata. Formaram-se, assim, estruturas verticais, 
que eram barreiras para os processos de troca e progresso. 
Cabe ressaltar que Portugal ainda apresentava uma estrutura 
colonial mais fl exível que a espanhola, ao passo que a coroa 
de Portugal dava maior autonomia para a administração local 
colonial, enquanto a Espanha mantinha uma administração 
mais monopolista, em que as decisões das províncias nas 
colônias deveriam passar antes pela metrópole (BOERSNER, 
1996).
De igual modo, podemos destacar que o projeto colonial 
de Portugal e Espanha tinha por objetivo fundamental um 
caráter exploratório, em que se buscava o maior acúmulo de 
capital possível investindo-se o mínimo necessário. 
Retomando a aula
Chegamos, assim, ao fi nal de nossa primeira aula. 
Espero que, a partir das discussões e revisões que 
foram apresentadas, você tenha compreendido os 
aspectos gerais da expansão europeia, atentando-se 
para a discussão que traçamos a partir de uma perspectiva sistêmica. 
De igual modo, espero que você tenha apreendido, de maneira geral, 
as características das populações pré-colombianas. Finalmente, 
espero que tenha fi cado claro os aspectos do pacto colonial
1 – Expansão europeia: a constituição do sistema-
mundo
Nesta seção, discutimos a expansão europeia e a 
construção do sistema-mundo. Assim analisamos em 
perspectiva sistêmica o avanço dos europeus até a América, 
apontando questões relativas à economia, política e 
civilizacional da conquista do Novo Mundo.
9
2 – período pré-colonial
Aqui, estudamos, de maneira ampla, as sociedades 
pré-coloniais, suas organizações política, social, econômica. 
Apesar de fi gurarem na América hispânica, o estudo dos 
povos originários é imprescindível para o desenvolvimento 
de análises acerca da colonização.
3 – Portugueses no Brasil e o primeiro Pacto Colonial
Finalmente, estudamos questões relativas ao primeiro 
pacto colonial. Nesse sentido, apresentamos os termos desse 
pacto e como, a partir de uma perspectiva de organização 
colonial, estruturou-se a colonização ibérica, em especial, a 
portuguesa. 
Livro: “As veias abertas da América Latina”. Eduardo 
Galeano.
Vale a pena ler
Filme: 1492 - A Conquista do Paraíso. Data de 
lançamento: 1992. Direção: Ridley Scott.
Vale a pena assistir
Vale a pena
Minhas anotações
2ºAula
A economia brasileira no 
período colonial: formação, 
desenvolvimento e crise da 
economia colonial
Objetivos de aprendizagem
Ao término desta aula, vocês serão capazes de:
• entender as principais características da economia brasileira no período colonial; 
• compreender a formação, evolução e crise da economia colonial.
A economia colonial 
brasileira pode ser 
dividida em diferentes 
ciclos. Nesses ciclos 
estão contidos processos 
incipientes de formação, 
desenvolvimento e crise. 
Fundamentada, desde os 
primórdios, em mão de 
obra escrava, a economia 
colonial teve como traços, 
desde o primeiro pacto colonial, a exploração do território brasileiro e, de igual 
modo, os massivos lucros da metrópole portuguesa e da elite econômica local.
Diante dessa conjuntura, vamos estudar os principais aspectos da economia 
colonial brasileira, buscando observar sua formação desenvolvimento e crise. 
Nesse sentido, esta aula vai caminhar cronologicamente até a crise da economia 
colonial e de sua consequente derrocada. Portanto, os eventos e processos 
econômicos que formos analisando aqui serão feitos em caráter mais amplo. Mas 
não se preocupem, nas aulas que se seguem, vamos adentrar cuidadosamente 
nos diferentes ciclos da economia colonial, como o ciclo da cana e do ouro.
Bons estudos!
Figura 2: colheita da cana-de-açúcar. Disponível em: https://
escolaeducacao.com.br/wp-content/uploads/2018/08/ciclo-d-
a%C3%A7ucar-750x367.jpg. Acesso em: Janeiro/2020.
12História Econômica do Brasil
1 – Formação e desenvolvimento da economia colonial
2 – Crise da economia colonial
1 - Formação e desenvolvimento da 
economia colonial
Quando tratamos da formação da economia colonial 
no Brasil, devemos remontar à chegada dos portugueses às 
terras brasileiras. Isso, entretanto, já fi zemos na aula anterior, 
quando discutimos o primeiro pacto colonial.
1.1 O ciclo do pau-brasil
Sabemos, pois, que desde fi ns do século XV os 
portugueses chegavam à costa brasileira. Nesse contexto, 
não tardaria para que os navegantes portugueses – em busca 
obviamente de riquezas para justifi car suas explorações 
marítimas – procurassem formas de explorar economicamente 
as terras recém-descobertas. Essa busca pela exploração 
econômica do território americano ocorria muito em conta 
de pressões de outras potências europeias sobre Espanha 
e Portugal, pois segundo Furtado (2005, n.p), “O início da 
ocupação econômica do território brasileiro é em boa 
medida uma consequência da pressão política exercida 
sobre Portugal e Espanha pelas demais nações europeias. 
Nestas últimas prevalecia o princípio de que espanhóis e 
portugueses não tinham direito senão àquelas terras que 
houvessem efetivamente ocupado.”
Sobre esse processo incipiente de ocupação territorial 
na América para os empreendimentos econômicos, Furtado 
(2005, n.p) apresenta que:
A exploração econômica das terras 
americanas deveria parecer, no século XVI, 
uma empresa completamente inviável. Por 
essa época nenhum produto agrícola era objeto 
de comércio em grande escala na Europa. O 
principal produto da terra - o trigo – dispunha 
de abundantes fontes de abastecimento 
dentro do continente. Os fretes eram de tal 
forma elevados - em razão da insegurança no 
transporte a grandes distâncias - que somente 
os produtos manufaturados e as chamadas 
especiarias do Oriente podiam comportá-
los. Demais, era fácil imaginar os enormes 
custos que não teria de enfrentar uma 
empresa agrícola nas distantes terras da 
América. É fato universalmente conhecido 
que aos portugueses coube a primazia nesse 
empreendimento. Se seus esforços não 
tivessem sido coroados de êxito, a defesa 
das terras no Brasil ter-se-ia transformado 
em ônus demasiado grande e – excluída a 
hipótese de antecipação na descoberta do 
ouro difi cilmente Portugal teria perdurado 
como grande potência colonial na América.
Seções de estudo
Enquanto os espanhóis encontravam no eixo México-
Peru algum sucesso com a exploração mineral, o sucesso 
da empreitada colonial portuguesa ainda era uma incógnita, 
na medida em que Portugal ainda não desenvolvera uma 
atividade econômica verdadeiramente organizada, senão 
a extração do pau-brasil, caracterizada enquanto “[...] uma 
exploração rudimentar que não deixou traços apreciáveis 
[...]”, a não ser pela “margem de lucros que era considerável, 
pois a madeira alcançava grandes preços na Europa. O 
negócio, sem comparar-se embora com os que se realizavam 
no Oriente, não era desprezível, e despertou bastante 
interesse.” (PRADO JR. 1981, n.p).
A principal mão de obra para exploração do pau-brasil 
era a indígena. Segundo Prado Jr. (1981), se não fosse pelo 
trabalho das comunidades nativas, o sucesso da exploração 
do pau-brasil não seria o mesmo, pois, em troca de diversos 
objetos, os índios faziam um árduo trabalho de cortar os 
troncos de um metro dediâmetro. 
A grande questão da formação econômica entorno do 
pau-brasil refere-se ao fraco potencial de povoamento que 
a atividade promovia. Isto é, enquanto a exploração mineral 
dos espanhóis, a agricultura e a pecuária fomentavam a 
sedentarização e, por conseguinte, a ocupação de uma área 
territorial de maneira defi nitiva, a atividade econômica baseada 
na extração do pau-brasil “[...] não serviu em nada para fi xar 
qualquer núcleo de povoamento no país. Nem era de esperá-
lo. Não havia interesse em localizar-se num ponto, quando a 
madeira procurada se espalhava aos azares da natureza e 
se esgotava rapidamente pelo corte intensivo. A indústria 
extrativa do pau-brasil tinha necessariamente de ser nômade; 
não era capaz, por isso, de dar origem a um povoamento 
regular e estável.” (PRADO JR., 1981, n.p).
Por se tratar de uma atividade econômica não sustentável, 
isto é, a extração implicava na diminuição paulatina de árvores 
à disposição, o ciclo logo deu sinais de esgotamento. Essa 
condição inerente ao extrativismo fez com que o ciclo do 
pau-brasil fosse curto e, em algumas décadas de exploração, 
a devastação de fl orestas nativas reduziu drasticamente a 
condição de exploração da madeira. Nesse sentido, Prado Jr. 
(1981, n.p) apresenta que:
Foi rápida a decadência da exploração do 
pau-brasil. Em alguns decênios esgotara-se o 
melhor das matas costeiras que continham a 
preciosa árvore, e o negócio perdeu seu 
interesse. Assim mesmo continuar-se-á a 
explorar esporadicamente o produto, sempre 
sob o regime do monopólio real, realizando 
uma pequena exportação que durará até 
princípios do século passado. Mas não terá 
mais importância alguma apreciável, nem 
em termos absolutos, nem relativamente 
aos outros setores da economia brasileira. 
 
Pensando na formação econômica, o pau-brasil foi a 
primeira atividade econômica do Brasil colônia, afi nal, por 
mais que contribuísse pouco para o povoamento na região, 
confi gurava-se enquanto uma atividade capaz de movimentar 
as transações comerciais e, além disso, de maneira indireta, 
foi a atividade que permitiu o estabelecimento de algumas 
povoações na região litorânea, principalmente as militares 
13
para fazer frente à concorrência francesa na exploração da 
matéria-prima em questão. 
O primeiro ciclo econômico e o nome Brasil
O nome da nossa Pátria originou-se, sem dúvidas, do pau-brasil. 
Foi o primeiro gênero de comércio da terra achada em 1500 que, 
vencendo outras denominações, inclusive de oficiais, acabou por 
dominar exclusivo, como nome de um dos mais extensos territórios 
da América. Ilha de Vera Cruz (1500), Terra Nova (1501), Terra de 
Vera Cruz (1503), Terra do Brasil (1505), Terra de Santa Cruz do Brasil 
(1527) e, pelo imperativo do mínimo esforço, simplesmente Brasil. 
[...] 
Predominou afinal o nome Brasil; [...] madeira que foi a nossa 
primeira riqueza permutável, a razão das primeiras lutas ao longo 
da nossa costa, o motivo das primeiras preocupações política em 
torno de nosso território, fulcro do primeiro ciclo da nossa evolução 
econômica.
SOUZA, Bernadino José. O Pau-Brasil na história nacional.
Comanhia editora. Rio de Janeiro, 1939.
1.2 A economia açucareira: uma 
introdução
Como vimos, o ciclo do pau-brasil, por rentável que fosse, 
foi curto. Ainda no século XVI o ciclo econômico do pau-brasil 
dava lugar ao da cana-de-açúcar nas colônias portuguesas. Nesse 
período introduziu-se a mão de obra escrava africana. A nova 
variável do trabalho escravo trouxe efeitos distributivos tanto 
econômicos quanto sociais no que refere à ocupação territorial: 
há uma expansão da ocupação do espaço com os engenhos de 
açúcar e, além disso, a ampliação da base da pirâmide social que, 
além dos indígenas, aglutinaria grandes populações africanas. 
No que se refere à introdução de mão de obra escrava indígena 
e africana, Prado Jr. (1981, n.p) apresenta que:
Assinalei que no Brasil se recorreu, a 
princípio, ao trabalho dos indígenas. Estes 
já se tinham iniciado na tarefa no período 
anterior da extração do pau-brasil; prestar-se-
iam agora, mais ou menos benevolentemente, 
a trabalharem na lavoura de cana. Mas esta 
situação não duraria muito. Em primeiro 
lugar, à medida que afluíam mais colonos, 
e portanto as solicitações de trabalho, 
ia decrescendo o interesse dos índios 
pelos insignificantes objetos com que eram 
dantes pagos pelo serviço. Tornam-se aos 
poucos mais exigentes, e a margem de lucro 
do negócio ia diminuindo em proporção. 
Chegou-se a entregar-lhes armas, inclusive de 
fogo, o que foi rigorosamente proibido, por 
motivos que se compreendem. Além disto, se 
o índio, por natureza nômade, se dera mais 
ou menos bem com o trabalho esporádico 
e livre da extração do pau-brasil, já não 
acontecia o mesmo com a disciplina, o 
método e os rigores de uma atividade 
organizada e sedentária como a agricultura. 
O processo de substituição do índio pelo negro 
prolongar-se-á até o fim da era colonial. 
Far-se-á rapidamente em algumas regiões: 
Pernambuco, Bahia. Noutras será muito 
lento, e mesmo imperceptível em certas 
zonas mais pobres, como no Extremo-Norte 
(Amazônia), e até o séc. XIX em São Paulo. 
A economia açucareira encontrou meios de se estabelecer 
especialmente por dois fatores, um de caráter natural, que 
consiste nas boas condições de solo para o plantio da cana-de-
açúcar, e outro de caráter propriamente comercial, que se refere 
ao valor do açúcar no mercado europeu. Economicamente, 
portanto, o açúcar se apresentava como um produto muito 
rentável, afinal havia demanda em larga escala na Europa, que 
somente com o açúcar produzido por Portugal nas ilhas do 
atlântico não era suficientemente abastecida. Além disso, a 
presença da mão de obra escrava de indígenas, a priori, e de 
africanos sustentou os exorbitantes lucros dos engenhos de 
açúcar. 
Em termos de economia internacional, o Brasil colônia 
tinha na cana-de-açúcar sua base econômica e era o principal 
produtor mundial de açúcar, realidade que perduraria até 
o século XVII, quando se intensificou a concorrência da 
América Central e das Antilhas.
 No que se refere ao povoamento colonial a partir da 
atividade econômica açucareira, a ocupação portuguesa do 
território se intensificou sobremaneira, na medida em que a 
ocupação territorial passou a se estender por mais espaços na 
faixa litorânea, conduzida sempre pela extensão da plantação 
da cana-de-açúcar. Nesse contexto, tratando dos núcleos 
de povoamento entorno da atividade açucareira, pode-se 
perceber uma ocupação territorial que se estende do nordeste 
ao sudeste, com caráter essencialmente litorâneo.
O mapa a seguir ilustra essa característica geográfica da 
ocupação territorial a partir da atividade econômica ligada 
à cana-de-açúcar. Notem que a ocupação territorial em 
decorrência da cana-de-açúcar é essencialmente litorânea, 
começando a adentrar o espaço interiorano a partir da 
pecuária. Isso, entretanto, é assunto para nossa próxima aula.
Figura 2.1: mapa dos ciclos econômicos. Disponível em: https://2.bp.blogspot.
com/-Eva5y7juliE/UT4WZCoHz5I/AAAAAAAAEp8/I9Zji78lWvU/s1600/
Economia+do+s%C3%A9culo+XVII.jpg. Acesso em: Janeiro/2020.
O ciclo do pau-brasil fora fundamental para formação 
incipiente da economia colonial, o ciclo da cana, por sua 
14História Econômica do Brasil
vez, primordial para o desenvolvimento em larga escala 
da atividade econômica e, de igual modo, para ocupação 
efetiva do território. Mais tarde, a descoberta do ouro traria 
novo fôlego à economia colonial diante da queda do valor 
econômico do açúcar, ocasionado pelo aumento da oferta do 
produto com a concorrência na América Central e Antilhas. 
2 - Crise da economia colonial
A gênese da crise do colonialismo ibérico está associada 
a um contexto internacional de transformações e confl itos 
intensos no campo político, social e econômico. Em termos 
políticosa Europa vivia o auge das invasões napoleônicas 
na passagem do século XVIII para o XIX. Antes, no campo 
social, vivera-se a Revolução Francesa e o enfraquecimento 
do absolutismo monárquico. Em termos econômicos, o 
capital mercantil perdia espaço para a ascensão do capital 
industrial. Nesse ínterim, Portugal e Espanha encontravam 
substanciais difi culdades em manter seu poderio na Europa e, 
consequentemente, em manter sob seus domínios as colônias 
americanas. 
2.1 – Crise das colônias espanholas
A Espanha, por sua vez, no início do século XIX passava 
por problemas domésticos importantes: devido a certa 
desagregação de seu poder interno, a Espanha tinha pouco 
controle dos processos que ocorriam nas colônias. Nesse 
sentido, ocorria um isolamento da metrópole em relação às 
colônias, principalmente devido ao controle que a Inglaterra 
exercia no Atlântico. Desse modo, tornavam-se precárias as 
condições para se administrar as colônias seguindo o modelo 
espanhol de grande centralização político-administrativa e 
econômica, como vimos na primeira aula. Assim sendo, a 
administração espanhola optou por uma saída mais fl exível, 
aumentando a abertura do comércio colonial e concedendo 
maior liberdade aos colonos para as práticas comerciais 
(DONGHI, 2012).
Em 1805, a Espanha passava pela batalha de Trafalgar, 
o que acarretou a severa redução das comunicações além-
mar espanholas. Além disso, em 1807 começava a Guerra de 
Independência espanhola, a qual se estenderia até 1814. 
Como consequências práticas desses processos, a 
economia colonial perdeu condições de escoar os seus 
produtos, produzindo anos de recessão econômica. 
Diante da crise que se instaurara, os efeitos apontavam 
para o questionamento mais profundo da legitimidade, 
ou das vantagens do sistema colonial. Nesse sentido, 
havia uma aspiração de autonomia crescente nas colônias, 
principalmente pelo fato de terem fi cado isoladas, visto que 
a Espanha era incapaz de geri-las a contento, bem como pela 
relativa liberdade que conquistaram diante da inabilidade 
da administração espanhola em sustentar a forte burocracia 
administrativa colonial.
2.2 – Crise da colônia portuguesa
No caso de Portugal, a vinda da família real para o Brasil 
em 1808, tornou-se, posteriormente, um imperativo que 
impulsionou a independência da colônia. Alguns historiadores 
argumentam que durante a estadia da família real no Brasil, 
a região não era a colônia, de modo que as vantagens da 
metrópole foram vividas pelas elites locais, e, quando a coroa 
retornou a Portugal, essas elites não aceitaram voltar ao status 
de colônia. Assim sendo:
É vital reconhecer, portanto, que no 7 de 
setembro de 1822, nas margens do Ipiranga, 
nos arredores de São Paulo, quando Dom 
Pedro, herdeiro do trono português, gritou 
Independência ou morte”, estava exagerando. 
A questão, em setembro de 1822, não era 
certamente a morte e, apenas indiretamente, 
a independência. O Brasil havia sido 
independente, para todas as intenções e 
propósitos, desde 1808; desde 16 de dezembro 
de 1815 o Brasil fazia parte de um reino unido, 
em pé de igualdade com Portugal. O que 
estava em jogo no início da década de 1820 era 
mais uma questão de monarquia, estabilidade, 
continuidade e integridade territorial do que 
de revolução colonial (KENNETH, 2000, p. 
2).
Tratavam-se, pois, de coroas em decadência que, a 
despeito disso, ainda mantinham um dos territórios mais 
economicamente rentáveis de todo o mundo. 
Pensando em termos econômicos, a crise colonial dos 
ibéricos e, em especial, de Portugal, está inserida em uma 
conjuntura econômica internacional que remete à ascensão do 
capital industrial e da crise do capital comercial. Assim sendo, 
A situação voltar-se-á inteiramente contra 
as monarquias ibéricas na segunda metade do 
séc. XVIII. O antigo sistema colonial, fundado 
naquilo que se convencionou chamar o pacto 
colonial, e que representa o exclusivismo do 
comércio das colônias para as respectivas 
metrópoles, entra em declínio. Prende-
se isto a uma transformação econômica 
profunda: é o aparecimento do capitalismo 
industrial em substituição ao antigo e 
decadente capitalismo comercial (PRADO JR. 
1981, n.p). 
A centralidade do capitalismo industrial passou a dominar 
a economia mundial, relativizando o monopólio comercial de 
Portugal – e Espanha – a partir de seus domínios coloniais. 
Nesse contexto, o capitalismo industrial, liderado pela 
Inglaterra, buscava novos mercados. O pacto colonial (que 
vimos na aula anterior) fundamentado no monopólio e no 
mercantilismo tornou-se um impeditivo ao capital industrial. 
Daí a ação da hegemonia inglesa no sentido de enfraquecer o 
monopólio português sobre as colônias.
Com o progresso do capital industrial e, por conseguinte, 
o avanço da hegemonia inglesa, bem como as guerras 
europeias, as quais já fi z alusão acima, os impérios coloniais 
ibéricos entram em declínio, passando, primeiro, por uma 
crise de conservação do monopólio e, posteriormente, por 
uma crise de incapacidade de administrar suas colônias.
O colapso da economia colonial portuguesa é, portanto, 
15
a crise de um modo de produção do capitalismo histórico, isto 
é, a crise está no esgotamento do capitalismo mercantil e, por 
outro lado, na ascensão do capitalismo industrial liderado pela 
hegemonia britânica. 
Retomando a aula
Chegamos ao fi nal da nossa segunda aula. Espero que 
nossas discussões tenham esclarecido o processo de 
formação e desenvolvimento da economia colonial 
brasileira. De igual modo, espero que vocês tenham 
compreendido o processo de crise da economia colonial brasileira.
1 – Formação e desenvolvimento da economia 
colonial
Nesta seção, discutimos o processo de formação e 
desenvolvimento da economia colonial. Nesse sentido, 
observamos as principais características do início da exploração 
colonial do Brasil, atentando-nos, inicialmente, para o ciclo do 
pau-brasil e, posteriormente, da cana-de-açúcar e do ouro.
2 – Crise da economia colonial
Aqui, estudamos o processo de crise conjuntural dos 
impérios coloniais na América, apontando que a crise se deu 
por diversos fatores estruturais: revoluções sociais, invasões 
e guerras nas metrópoles, o que impedia a continuidade do 
pacto colonial fundamentado no monopólio ibérico nas 
colônias. De igual modo, vimos que a ascensão do capital 
industrial contribuiu para o esgotamento do modelo colonial 
fundamentado no capital mercantil.
“História da América”. Autor: Tulio Halperin Donghi.
Vale a pena ler
Vale a pena
Minhas anotações
3ºAula
O ciclo do açúcar e a pecuária
Objetivos de aprendizagem
Ao término desta aula, vocês serão capazes de:
• compreender os principais aspectos do ciclo econômico do açúcar; 
• observar a ascensão da economia açucareira e seu declínio; 
• entender a importância da pecuária para o avanço do povoamento para o interior.
O açúcar foi uma das 
atividades econômicas de 
maior lucratividade no 
Brasil colônia. A vantagem 
da produção açucareira 
não consistia somente na 
grande demanda vinda dos 
mercados europeus, mas 
também pela condição de 
povoamento do território 
que essa atividade 
propiciava, afinal, a partir 
do cultivo da cana-de- 
açúcar, tornava-se possível 
estabelecer cultivos de maneira permanente, contribuindo para um povoamento 
sistemático das regiões coloniais. 
Essa forma de povoação substituía a pouca capacidade de povoamento da 
atividade centrada na extração do pau-brasil, o que contribuía para os interesses 
econômicos da coroa e, de igual modo, freava o ímpeto das invasões estrangeiras, 
especialmente os franceses, nas regiões antes não povoadas.
É pensando na importância econômica do ciclo do açúcar – sem obviamente 
colocar em segundo plano o caráter predatório e exploratório dos latifúndios 
coloniais – que vamos discutir nesta aula as principais características da economia 
colonial brasileira centrada na produção de açúcar.
Bons estudos!
Figura 3: engenho de açúcar.Disponível em: https://
conhecimentocientifi co.r7.com/wp-content/uploads/2018/11/voce-sabia-
que-a-economia-acucareira-fi nanciou-a-colonizacao-brasileira.jpg. Acesso 
em: Janeiro/2020.
18História Econômica do Brasil
1 – Economia açucareira: formação, desenvolvimento e 
declínio 
2 – A pecuária e o povoamento
1 - Economia açucareira: formação, 
desenvolvimento e declínio
De maneira preliminar, fi zemos alusão aos motivos 
que levaram à escolha do cultivo da cana-de-açúcar como 
atividade econômica no Brasil colônia. Em primeiro lugar, 
devemos ter clareza do que estava em jogo naquele contexto 
histórico: desde a descoberta das novas terras, a questão da 
ocupação da terra era urgente, pois as potências europeias, 
tais como Holanda, França e Inglaterra exerciam uma pressão 
velada argumentando que as terras somente seriam de posse 
de Portugal ou Espanha se estivessem ocupadas. 
Para Espanha, o retorno econômico da invasão das 
novas terras foi mais imediato: conseguia explorar os metais 
preciosos à disposição, principalmente nas regiões do México 
e do Peru. Isso permitia uma ocupação do território mais 
contundente nas colônias espanholas. Portugal, por outro 
lado, não tinha a mesma tranquilidade que tivera a Espanha: 
a exploração de metais preciosos somente seria um horizonte 
quando do esfacelamento do ciclo do açúcar. Portanto, o 
empreendimento incipiente foi a extração do pau-brasil, 
como vimos. Isso, todavia, não era sufi ciente para afastar as 
intenções de outras potências europeias sobre as possessões 
portuguesas. À vista deste cenário, a administração portuguesa 
optou pela introdução da exploração agrícola, isto é, da cana- 
de-açúcar, nas terras brasileiras, visando uma atividade ao 
mesmo tempo rentável e que contribuísse para a ocupação 
territorial (FURTADO, 2005). 
O início do ciclo econômico da cana-de-açúcar trouxe, 
segundo Furtado (2005, p. 18), uma transformação importante 
para o que era a economia colonial brasileira até o ciclo do 
pau-brasil: “De simples empresa espoliativa e extrativa - 
idêntica à que na mesma época estava sendo empreendida 
na costa da África e nas índias Orientais - a América passa 
a constituir parte integrante da economia reprodutiva 
europeia, cuja técnica e capitais nela se aplicam para criar de 
forma permanente um fl uxo de bens destinados ao mercado 
europeu.”
1.1 – O início da economia açucareira
Mas, quando os portugueses optaram pelo 
empreendimento agrícola do plantio de cana, eles não 
o fi zeram a esmo. De início, é importante dizer que as 
condições naturais encontradas nas terras brasileiras foram 
primordiais para essa escolha, isto é, clima quente, chuvas 
abundantes, solo de massapé na região nordestina. Além 
disso, a empreitada açucareira no Brasil não era a primeira 
experiência dos portugueses no ramo: haviam cultivado, com 
sucesso, a cana-de-açúcar na ilha da madeira e no arquipélago 
Seções de estudo
de Açores. Nesse sentido, Furtado apresenta que:
Um conjunto de fatores particularmente 
favoráveis tomou possível o êxito dessa primeira 
grande empresa colonial agrícola europeia. Os 
portugueses haviam já iniciado há algumas 
dezenas de anos a produção, em escala 
relativamente grande, nas ilhas do Atlântico, 
de uma das especiarias mais apreciadas no 
mercado europeu: o açúcar. Essa experiência 
resultou ser de enorme importância, pois, 
demais de permitir a solução dos problemas 
técnicos relacionados com a produção do 
açúcar, fomentou o desenvolvimento em 
Portugal da indústria de equipamentos para 
os engenhos açucareiros. Se se têm em conta 
as difi culdades que se enfrentavam na época 
para conhecer qualquer técnica de produção 
e as proibições que havia para exportação 
de equipamentos, compreende-se facilmente 
que, sem o relativo avanço técnico de Portugal 
nesse setor, o êxito da empresa brasileira teria 
sido mais difícil ou mais remoto (2005, p. 19).
O sucesso econômico do empreendimento açucareiro 
deve-se a uma série de fatores. Os fatores incipientes como 
localização geográfi ca propícia e conhecimento do ramo já 
estão claros para nós. Além desses fatores, há de se destacar 
a participação holandesa na comercialização do açúcar no 
comércio no continente europeu. Ocorre que os canais 
de entrada do açúcar português na Europa se dava por 
intermédio dos comerciantes das cidades-estados italianas, 
que monopolizavam boa parte do comércio europeu; todavia, 
o novo estopim produtivo do açúcar não era sufi cientemente 
escoado por esses canais tradicionais, gerando uma crise de 
superprodução no início do ciclo açucareiro. Entretanto, 
a intensifi cação da produção dos portugueses gerou outro 
efeito distributivo importante: o monopólio exercido 
pelos comerciantes italianos no mediterrâneo rompia-se 
paulatinamente, na medida em que os portugueses passavam 
a escoar sua produção pelos Flandres (FURTADO, 2005).
O fato é que existia ampla demanda no mercado europeu 
para o açúcar produzido nas colônias, uma vez que, antes da 
intensifi cação da produção, o açúcar era uma iguaria pesado 
por gramas nas boticas europeias (PRADO JR., 1981). 
Nesse sentido, os holandeses passaram a atuar juntamente 
com os portugueses na comercialização do açúcar, inserindo 
o produto no mercado interno europeu. Nesse contexto, 
podemos dizer de acordo com Furtado (2005, p. 20) que: 
A contribuição dos fl amengos - particularmente 
dos holandeses - para a grande expansão do 
mercado do açúcar, na segunda metade do 
século XVI, constitui um fator fundamental do 
êxito da colonização do Brasil. Especializados 
no comércio intraeuropeu, grande parte do 
qual fi nanciavam, os holandeses eram nessa 
época o único povo que dispunha de sufi ciente 
organização comercial para criar um mercado 
de grandes dimensões para um produto 
praticamente novo, como era o açúcar.
19
1.2 – Mão de obra escrava
Todavia, a economia açucareira jamais seria tão lucrativa 
se não tivesse contato com um contingente enorme de mão 
de obra gratuita. O trabalho escravo de indígenas, em um 
primeiro momento, e posteriormente de africanos é variável 
fundamental para o sucesso econômico dos engenhos de 
açúcar.
Sobre a introdução da mão de obra africana, podemos 
destacar que com uma drástica redução de contingente 
indígena, tanto pela exploração massiva, quanto pela morte 
provocada por epidemias, os portugueses buscaram “[...] 
formas alternativas de trabalho, utilizando uma experiência já 
havida no Portugal metropolitano e nas ilhas atlânticas, optou-
se pela escravidão africana, originando um lucrativo tráfi co de 
escravos entre as costas da África, a Bahia, Pernambuco e o 
Rio de Janeiro” (LINHARES, 1999 apud COTRIM, 2005, p. 
212).
Sobre as causas apontadas pela escolha da utilização de 
mão de obra africana estão, além das que já citamos, a ideia 
por parte dos colonos de que os negros eram mais hábeis no 
trato com trabalhos agrícolas, a oposição da igreja à escravidão 
indígena, as fugas massivas dos índios e os lucros exorbitantes 
proveniente do tráfi co negreiro e do comércio de escravos. 
Sobre esse contexto, Shwartz (1988, p. 68) apresenta que:
A transição da predominância indígena para a 
africana na composição da força de trabalho 
escrava ocorreu aos poucos ao longo de 
aproximadamente meio século. Quando 
os senhores de engenho, individualmente 
acumulavam recursos fi nanceiros sufi cientes, 
compravam alguns cativos africanos, e iam 
acrescentando outros à medida que capital e 
credito tornavam-se disponíveis. Em fi ns do 
século XVI, a mão de obra dos engenhos era 
mista do ponto de vista racial, e a proporção 
foi mudando crescentemente em favor dos 
africanos importados e sua prole.
As condições de vida dos escravos nos engenhos eram 
subumanas. Obrigados a trabalhar sob agressões físicas 
e temendo castigos mais violentos, os escravos africanos 
eram constantemente torturados das mais variadas formas. 
Viviam em senzalas com conforto material inexistente. Eram 
mal vestidos e,por isso, fi cavam vulneráveis às mudanças 
climáticas. Eram mal alimentados e, frequentemente, não 
aguentavam a carga de trabalho por falta de nutrientes 
(COTRIM, 2005).
1.3 – O declínio da economia 
açucareira
A produção açucareira, nos moldes que acabamos 
de observar, perdurou por mais de um século e meio 
como a única base da economia colonial brasileira. Neste 
período, a produção em terras brasileiras era a maior do 
mundo, dominando o comércio internacional do açúcar 
no século XVII. É, entretanto, neste mesmo período, que 
o açúcar produzido no Brasil colônia começa a enfrentar 
concorrência de outros centros de produção, principalmente 
nas colônias holandesas nas Antilhas (PRADO JR., 1981). 
Para entendermos como isso aconteceu, precisamos inserir a 
temática em um contexto histórico mais amplo.
 Entre 1580 e 1640 a coroa portuguesa foi anexada 
à coroa espanhola, no que fi cou conhecido como União 
Ibérica. A União Ibérica foi um período de unidade política 
entre Portugal e Espanha entre 1580 e 1640. Essa união foi 
estruturada em decorrência da derrota portuguesa na Guerra 
de Sucessão. Portugal fi cou sob administração espanhola até 
a guerra de retomada a partir de 1640. 
Se vocês lembrarem, dissemos que a economia 
açucareira sob a batuta da coroa portuguesa contava com a 
participação dos holandeses no processo de comercialização 
no mercado europeu. Desde a União Ibérica, todavia, os 
espanhóis impediram os holandeses de comercializarem o 
açúcar, estabelecendo um monopólio mais intenso sobre o 
setor. Ocorre que os holandeses conheciam não só a dinâmica 
comercial do açúcar, mas também as técnicas de cultivo da 
cana e de produção do açúcar. Diante disso, os holandeses 
começaram a produzir o açúcar nas Antilhas e, em pouco 
tempo, desbancaram a hegemonia do açúcar das colônias 
brasileiras no mercado internacional. Enfrentando essa forte 
concorrência, o ciclo econômico do açúcar entrou em baixa, 
apesar de perdurar como principal atividade econômica até a 
descoberta do ouro no século XVIII.
2 - A pecuária e o povoamento
Figura 3.1: escravo conduzindo tropas. Disponível em: https://3.bp.
blogspot.com/__5wjLMTrtsQ/SplgvSsqOQI/AAAAAAAAAAs/r1fhWDe
8J1M/s320/pecuaria+sulina.jpg. Acesso em: Janeiro/2020.
A atividade econômica da pecuária não tinha grande 
importância no comércio internacional, mas era primordial 
para o desenvolvimento colonial domesticamente, uma vez 
que abastecia a população com carne e couro e, de igual 
modo, servia como meio de transporte. 
Além disso, a pecuária tinha uma característica importante: 
sua atividade contribuía para a expansão territorial. Essa 
feição da pecuária se reforçou, sobremaneira, no Brasil a partir 
de 1701 quando a metrópole portuguesa proibiu a criação de 
gado num raio de 80 quilômetros do litoral, visando estimular 
a produção açucareira, uma vez que a atividade pecuarista não 
se voltava para exportação e, desse modo, não era lucrativa 
à metrópole. Com isso, os pecuaristas passaram a adentrar 
o interior do território, estabelecendo criações onde o solo 
20História Econômica do Brasil
não era fértil ao cultivo canavieiro (COTRIM, 2005). Nesse 
sentido, Prado Jr. (1981, p. 28) apresenta que a pecuária:
[...] também se destina a satisfazer as 
necessidades alimentares da população. 
A carne de vaca será um dos gêneros 
fundamentais do consumo colonial. Mas a 
pecuária, apesar da importância relativa que 
atinge, e do grande papel que representa na 
colonização e ocupação de novos territórios, 
é assim mesmo uma atividade nitidamente 
secundária e acessória. Havemos de observá-
lo em todos os caracteres que a acompanham: 
o seu lugar será sempre de segundo plano, 
subordinando-se às atividades principais da 
grande lavoura, e sofrendo-lhe de perto todas 
as contingências.
Duas regiões, antes remotas e não povoadas, foram o 
palco de desenvolvimento da pecuária no Brasil colonial: a 
caatinga nordestina e as campinas sulinas. No que se refere à 
pecuária nordestina, avançou na criação para o sertão, sempre 
margeando rios e afl uentes. De início, seu objetivo voltava-se 
para o abastecimento dos engenhos nordestinos com carne e 
couro. Mais tarde, já no ciclo do ouro, abastecia as demandas 
das regiões de mineração. O declínio da atividade na região 
nordestina deu-se por dois fatores: a concorrência com o 
início da criação na região de Minas Gerais e duas poderosas 
secas em 1791 e 1793, que inviabilizaram a rentabilidade da 
atividade no nordeste (COTRIM, 2005). 
No território do Rio Grande do Sul, as condições eram 
as mais favoráveis à criação de gado. Economicamente, o 
principal insumo consumido da criação era o couro, usado 
em artigos acessórios e, até mesmo, nas construções, como 
portas e janelas. Já no último quartel do século XVIII surgiu 
a indústria do charque, a famosa carne de sol, que era cortada 
em tiras, salgadas e deixadas ao sol para secar, o que contribuía 
para conservação e evitava desperdícios (COTRIM, 2005).
Retomando a aula
Chegamos, assim, ao fi nal da terceira aula. Espera-
se que vocês tenham compreendido as principais 
características do ciclo econômico do açúcar e 
sua importância, principalmente, na economia 
internacional do período colonial. De igual modo, espero que vocês 
tenham apreendido as fases de ascensão e declínio da economia 
açucareira. Por fi m, vocês puderam observar a importância da pecuária 
para o mercado interno colonial e, principalmente, sua condição de 
ocupação territorial.
1 – Economia açucareira: formação, desenvolvimento 
e declínio 
Nesta seção, estudamos o ciclo da cana-de-açúcar no 
Brasil colonial. Nesse sentido, pudemos observar como o 
início do empreendimento açucareiro foi fator importante 
para o povoamento mais efetivo do território pertencente a 
Portugal. De igual modo, vimos como a economia açucareira 
despontou como a principal atividade econômica colonial, 
caracterizando-se enquanto atividade muito lucrativa 
para metrópole portuguesa. Por fi m, observamos que a 
concorrência estrangeira ao açúcar produzido no Brasil 
condicionou a queda do ciclo econômico do açúcar em 
meados do século XVIII. 
2 – A pecuária e o povoamento
Aqui, vimos que a pecuária enquanto uma atividade 
econômica secundária na economia brasileira colonial, que 
pela restrição imposta pela administração colonial, teve de 
estabelecer criação em territórios inabitados. Esse fator 
contribuiu fundamentalmente para o povoamento do interior 
do território brasileiro. De igual modo, a atividade representava 
parcela importante do abastecimento de atividades econômicas 
prioritárias: abastecia os engenhos de açúcar e, mais tarde, 
passou a abastecer a economia mineradora.
Livro: “Segredos Internos: engenhos e escravos na 
sociedade colonial”. Stuart B. Schwartz. 
Vale a pena ler
Filme: “12 anos de escravidão”. Direção: Steve 
McQueen.
Vale a pena assistir
Vale a pena
Minhas anotações
4ºAula
Ciclo do ouro:
economia escravista mineira
Objetivos de aprendizagem
Ao término desta aula, vocês serão capazes de:
• entender as principais características do ciclo do ouro; 
• observar a formação e desenvolvimento da economia aurífera;
• compreender sua crise e seu declínio.
Bons estudos!
Desde o fim da União 
Ibérica em 1640 e da crise que 
varrera a hegemonia do açúcar 
português do mercado europeu 
com a concorrência do açúcar das 
Antilhas, a metrópole portuguesa 
viu-se em dificuldades em face 
aos séculos de lucros exorbitantes 
do açúcar. Essa conjuntura 
reavivou o sonho de encontrar 
ouro nas terras brasileiras. 
Foi no final do século XVII 
descobriram-se as primeiras 
jazidas do ouro aluvião. A partir 
da descoberta do ouro, a mineração se tornou o carro chefe da economia colonial, 
o que perduraria por quase um século. 
Figura 4: mineração no Brasil. Disponível em: https://www.
todoestudo.com.br/wp-content/uploads/2016/08/Ciclo-do-
Ouro.jpg. Acesso em: Janeiro/2020.
22História Econômica do Brasil
1 – Economia Aurífera: formação e desenvolvimento2 – Crise do ciclo do ouro 
1 - Economia Aurífera: formação e 
desenvolvimento
Vimos que o ciclo do ouro começara no fi m do século 
XVII, quando as primeiras jazidas foram encontradas, entre 
os anos de 1693 e 1695. Nesse sentido, Prado Jr. (1981, p. 37) 
apresenta que “Lá por 1696 fazem-se as primeiras descobertas 
positivas de ouro no centro do que hoje constitui o Estado 
de Minas Gerais (onde atualmente se acha a cidade de Ouro 
Preto). Os achados depois se multiplicaram sem interrupção 
até meados do séc. XVIII, quando a mineração do ouro atinge 
no Brasil sua maior área de expansão geográfi ca, e alcança o 
mais alto nível de produtividade.”
 O impacto da descoberta do ouro foi imediato no mundo 
colonial: os empreendimentos deixaram o já pouco lucrativo 
açúcar, dirigindo-se massivamente para o empreendimento de 
mineração. A região que compreende as Minas Gerais sofreu 
um rápido processo de povoamento:
Com tanta gente chegando, a região passou 
por rápidas transformações. No sertão, a 
corrida do ouro contribuiu para o surgimento, 
em poucos anos, de vilas e cidades, como 
Vila Rica, Ribeirão do Carmo, São João del 
Rei e Sabará. A população de Minas Gerais 
continuou crescendo em todo o século do 
ouro. Em 1786, calcula-se que havia na 
capitania aproximadamente 394 mil habitantes, 
correspondendo a cerca de 15% da população 
total do Brasil (COTRIM, 2005, p. 245).
Se pensarmos no valor econômico do ouro em 
comparação com o pau-brasil e o açúcar, não é de se admirar 
que, desde os primórdios da mineração, a metrópole tenha 
imposto rígida disciplina sobre a exploração aurífera. Nesse 
sentido, o detentor das minas, está claro, era a coroa portuguesa, 
que concedia lotes para exploração dos mineradores, os quais, 
em troca, pagavam um quinto de todo ouro que mineravam. 
O principal órgão administrativo desse modelo era a chamada 
Intendência das Minas de 1702, que tinha por atribuições 
distribuir os lotes e cobrar impostos.
O controle sobre a atividade do ouro era difícil, pois o 
contrabando não era tarefa das mais difíceis, uma vez que 
esconder o ouro em pó ou em pequenas pepitas era prático. 
Para controlar essa situação, a coroa criou as Casas de 
Fundição, que proibia a circulação de ouro em pó sob o risco 
de severas penas e obrigava todos os mineradores a fundirem 
seu ouro e, no ato da fundição, já depositarem o quinto (a 
quinta parte de impostos). De lá, já saiam as barras com o selo 
real, que podiam ser negociadas. Sobre as Casas de Fundição, 
Seções de estudo
Prado Jr. (1981, p. 39) apresenta que:
[...] aí se fundia, e depois de deduzido o 
quinto e reduzido a barras marcadas com o 
selo real (chamava-se isto “quintar ouro”) 
era devolvido ao proprietário. Somente 
nestas barras quintadas (de que até hoje se 
conservam muitos exemplares) podia o ouro 
circular livremente. O manuseio do ouro sob 
outra forma — em pó ou em pepitas, como 
é encontrado na natureza, ou em barras 
não marcadas — era rigorosa e severamente 
proibido. Quem fosse encontrado com ele 
sofria penas severas, que iam do confi sco de 
todos os bens até o degredo perpétuo para as 
colônias portuguesas da África.
Em termos organizacionais, a prospecção do ouro era 
dividida em dois tipos: as lavras e os faiscadores. As lavras 
representam a mineração em seus tempos áureos, eram 
compostas de aparelhamento especializado e fazia-se a 
mineração em larga escala com mão de obra praticamente 
composta somente por escravos africanos. Os faiscadores, por 
sua vez, eram empreendimentos individuais de mineração, os 
quais não se fi xavam em um lote específi co, buscando ouro 
em diferentes lugares não ocupados. Esse modelo sempre 
existiu na atividade econômica do ouro, mas sua presença 
aumentou quando o ciclo do ouro já estava em decadência 
e as minas não ofereciam mais tantas riquezas (PRADO JR., 
1981).
1.1 – O auge do ciclo do ouro no 
Brasil
Podemos dizer que o auge do ciclo do ouro no Brasil 
durou por volta de 75 anos, do fi m do século XVII até o 
último quarto do século XVIII. Já vimos que, em decorrência 
da presença do ouro, a região de Minas Gerais recebeu 
enorme contingente pessoas, razão pela qual se presenciou 
a rápida ascensão da vida urbana na região. Como apresenta 
Furtado (2005, p. 78), essas pessoas não eram oriundas 
somente de outras regiões do Brasil, mas também da Europa, 
que rumavam às minas gerais para trabalharem na mineração:
A economia mineira abriu um ciclo migratório 
europeu totalmente novo para a colônia. 
Dadas suas características, a economia 
mineira brasileira oferecia possibilidades a 
pessoas de recursos limitados, pois não se 
exploravam grandes minas - como ocorria 
com a prata no Peru e no México -, e sim o 
metal de aluvião que se encontrava depositado 
no fundo dos rios. Não se conhecem 
dados precisos sobre o volume da corrente 
emigratória que, das ilhas do Atlântico e do 
território português, se formou com direção 
ao Brasil no correr do século XVIII. Sabe-
se, porém, que houve alarme em Portugal, 
e que se chegou a tomar medidas concretas 
para difi cultar o fl uxo migratório. Se se 
têm em conta as condições de estagnação 
econômica que prevaleciam em Portugal - 
23
particularmente na primeira metade do século 
XVIII, quando se desorganizaram suas 
poucas manufaturas -, para que a emigração 
suscitasse uma forte reação evidentemente 
deveria alcançar grandes proporções. Com 
efeito, tudo indica que a população colonial de 
origem europeia decuplicou no correr do 
século da mineração
Em termos econômicos, Minas Gerais tornou-se um 
grande mercado consumidor, principalmente de alimentos, 
ferramentas, produtos têxteis etc. Diferentemente das 
regiões produtoras do açúcar, que constituíram sociedades 
fundamentalmente rurais, a exploração do ouro constituiu uma 
sociedade basicamente urbana composta por comerciantes, 
funcionários da coroa, mineradores e, majoritariamente, 
escravos. Os escravos, aliás, eram a variável que se mantinha 
constante desde a economia açucareira, isto é, continuavam 
sendo brutalmente explorados e submetidos a exaustivas 
jornadas de trabalho (COTRIM, 2005).
No auge da economia do ouro, os senhores ricos fi caram 
mais ricos, enquanto o sonho do ouro empobrecia a maior 
parte dos mineiros, apesar da pujança econômica que a região 
das Minas Gerais presenciava. O fato é que, do ponto de 
vista da administração colonial, a pobreza que arrebatava a 
maior parte dos mineiros devia-se ao contrabando, às técnicas 
rudimentares de prospecção do ouro e à falta de mão de 
obra. Por outro lado, a exploração da coroa com a cobrança 
de impostos também pode ser uma explicação para pouca 
mobilidade social que a atividade mineradora apresentava.
No ponto alto da produção aurífera no Brasil, a 
quantidade de ouro explorada em 70 anos superou em 
quantidade de metal explorado em quase quatro séculos de 
exploração espanhola na América hispânica. Todo esse ouro, 
entretanto, como é característico das explorações colônias, 
não foi revertido para estímulos econômicos nas colônias. É 
certo que durante a alta do ciclo do ouro, as Minas Gerais 
tiveram um crescimento econômico interessante, mas pouco 
face ao que fora prospectado em ouro. Nesse sentido, tratando 
do auge do ciclo do ouro, Furtado (2005, p. 82) aponta que:
“A exportação de ouro cresceu em toda a 
primeira metade do século e alcançou seu ponto 
máximo em torno de 1760, quando atingiu 
cerca de 2,5 milhões de libras. Entretanto, 
o declínio no terceiro quartel do século foi 
rápido e, já por volta de 1780, não alcançava 
1 milhão de libras. O decênio compreendido 
entre 1750 e 1760 constituiu o apogeu 
da economia mineira, e a exportação se 
manteve então em torno de 2 milhões de 
libras.”
Pensando na conjuntura econômica internacional desse 
período, podemos dizer que as relações assimétricas entre 
Portugal e Inglaterrarepresentaram um canal de escoamento 
importante do ouro brasileiro. Portugal necessitara dos 
ingleses para se libertar do domínio espanhol em 1640, os 
ingleses, em troca, “prenderam” Portugal a uma série de 
tratos econômicos favoráveis à economia inglesa. Além disso, 
Portugal não produzia produtos manufaturados, adquirindo-
os junto aos ingleses. A principal forma de pagamento desses 
produtos eram as riquezas extraídas da colonização brasileira, 
dentre elas o ouro (COTRIM, 2005).
2 - Crise do ciclo do ouro 
A crise do ouro, assim como qualquer atividade extrativista 
não sustentável, deu-se em decorrência do esgotamento das 
jazidas de ouro aluvião. Nesse sentido, Prado Jr. (1981, p. 40) 
apresenta que:
O ouro brasileiro é, na maior parte, de 
aluvião, e se encontra sobretudo no leito dos 
cursos de água e nas suas margens mais 
próximas. Ele resulta de um processo 
geológico milenar em que a água, tendo atacado 
as rochas matrizes onde antes se concentrava 
o metal, o espalhou por uma área superfi cial 
extensa. Daí a pequena concentração em que 
foi encontrado e o esgotamento rápido dos 
depósitos, mesmo os mais importantes. O 
que sobra é de um teor aurífero tão baixo que 
não paga trabalhos de vulto, e dá apenas para 
o sustento individual de modestos faiscadores 
isolados.
Com a queda brusca da quantidade de ouro, a coroa 
portuguesa julgou que o problema estava no contrabando 
e enrijeceu a cobrança de impostos e as penalizações aos 
mineradores. Diante disso, a coroa portuguesa determinou 
uma cota anual de 100 arrobas por minerador, quantidade 
que, na medida em que o ouro se tornava mais escasso, 
difi cilmente era atingida. Para cobrar os impostos atrasados 
em decorrência das metas não atingidas, a coroa determinou 
em 1765 a chamada derrama, que consistia na cobrança desses 
impostos através do confi sco dos bens dos mineradores. 
Nesse período, o empobrecimento dos mineradores foi 
acentuado (COTRIM, 2005).
Além do esgotamento natural das jazidas, outro 
fator importante para o declínio do ciclo do ouro foi a 
incapacidade técnica dos mineradores para explorarem os 
recursos disponíveis. Ocorre que, esgotado o ouro superfi cial, 
era necessário um aparato técnico mais sofi sticado para 
explorar as jazidas mais profundas. Para tanto, era necessário 
aprofundamento de pesquisas para se descobrirem novas 
formas de extrair o ouro. Para esta conjuntura pode-se dizer 
que a maior culpada foi, de fato, a coroa, pois, segundo Prado 
Jr. (1981, p. 41), a administração:
[...] manteve a colônia num isolamento 
completo; e não tendo organizado aqui 
nenhum sistema efi ciente de educação, por 
mais rudimentar que fosse, tornou inacessível 
aos colonos qualquer conhecimento técnico 
relativo às suas atividades. O baixo nível 
intelectual na colônia, que não tem talvez 
paralelo na América, não cabe em nosso 
assunto; mas é preciso lembrá-lo porque 
interfere aqui diretamente com a economia 
do país. Não resta a menor dúvida que a 
24História Econômica do Brasil
ignorância dos colonos portugueses sempre 
constituiu um óbice muito sério oposto 
ao desenvolvimento de suas atividades 
econômicas; [...] Não se deu um passo 
para introduzir na mineração quaisquer 
melhoramentos; em vez de técnicos para 
dirigi-la, mandavam-se para cá cobradores 
fi scais. O pessoal com que se formavam as 
intendências eram burocratas gananciosos 
e legistas incumbidos de interpretar e 
aplicar os complicados regulamentos que se 
destinavam, quase unicamente, a garantirem 
os interesses do fi sco. Não se encontra nelas, 
durante um século de atividade, uma só 
pessoa que entendesse de mineração. E 
enquanto os mineradores se esgotavam 
com o oneroso tributo que sobre eles pesava, 
qualquer crítica, objeção ou simples dúvida era 
imediatamente punida com castigos severos.
Como vimos, a maior parte dos recursos provenientes da 
mineração foram escoados pela coroa para suprir suas relações 
comerciais assimétricas com a Inglaterra, bem como para 
manter os privilégios da corte portuguesa na metrópole. À 
vista disso, a atividade mineradora não pôde ser reorganizada 
em seu momento de baixa, porque, durante seu auge, não se 
produzira reserva de recursos. 
A seguir, vocês podem ver uma explanação sobre o 
Tratado de Mathuen, que representa os acordos comerciais 
assimétricos, que aludimos acima, pois reforçava a dinâmica 
desigual nas balanças comerciais, isto é, enquanto Portugal 
exportava produtos de baixo valor agregado, era obrigado a 
importar produtos manufaturados mais caros. Vejamos:
O acordo de Methuen
O acordo de Methuen constitui um ponto de referência importante 
na análise do desenvolvimento econômico de Portugal e do Brasil. 
Esse acordo foi celebrado ao término de um período de grandes 
difi culdades econômicas para Portugal, coetâneas da decadência 
das exportações açucareiras do Brasil. Ao prolongar-se essa 
decadência e ao reduzir-se tão persistentemente a capacidade para 
importar, começou a prevalecer em Portugal o ponto de vista de 
que era necessário produzir internamente aquilo que o açúcar 
permitira antes importar em abundância. Tem início assim um 
período de fomento direto e indireto da instalação de manufaturas. 
Durante dois decênios, a partir de 1684, o país conseguiu 
praticamente abolir as importações de tecidos. Essa política estava 
perfeitamente dentro do espírito da época, pois seis anos antes a 
Inglaterra proibira todo comércio com a França para evitar a entrada 
de manufaturas francesas. 
Contudo, é provável que fosse grande a reação Centro de Portugal, 
particularmente dos poderosos produtores e exportadores de 
vinhos, grupo dominante no país. Os ingleses trataram de aliar-
se a esse grupo para derrogar a política protecionista portuguesa. 
Com efeito, o acordo de 1703 concede aos vinhos portugueses, no 
mercado inglês, uma redução de um terço do imposto pago pelos 
vinhos franceses. Em contrapartida, Portugal retirava o embargo às 
importações de tecidos ingleses.
FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil.
Companhia editora: São Paulo, 2005.
 
Retomando a aula
Chegamos, assim, ao fi nal da quarta aula. Espera-
se que você tenha compreendido os aspectos 
econômicos gerais do ciclo do ouro no Brasil colônia. 
Nesse sentido, espero que vocês tenham apreendido 
os pontos de formação e desenvolvimento da atividade aurífera no 
Brasil e, de igual modo, seu declínio econômico.
1 – Economia Aurífera: formação e desenvolvimento 
Nesta seção, estudamos o processo de descoberta do 
ouro na região das Minas Gerais, observando os principais 
aspectos desse momento incipiente da exploração aurífera no 
Brasil. De igual modo, estudamos o processo de formação 
econômica desse ciclo e seu desenvolvimento, observando a 
estruturação administrativa entorno da atividade, bem como 
o progresso que a região vivenciou, principalmente no que se 
refere à constituição de uma sociedade urbana.
2 – Crise do ciclo do ouro 
Aqui, estudamos o processo de crise do ciclo do ouro no 
Brasil. Nesse sentido, nos debruçamos nas principais causas 
que levaram ao esfacelamento da economia aurífera. Dentre 
as razões principais da crise, vimos uma causa natural, que 
foi o esgotamento das jazidas de ouro, e outra causa relativa 
à incapacidade da administração portuguesa de desenvolver 
estruturas de capacitação técnica para aprimoramento da 
mineração. Além disso, observamos que o escoamento 
massivo dos recursos provenientes do ouro para a Europa, 
em geral, e, especialmente, para Inglaterra confi gurou-
se enquanto variável econômica importante para a crise e 
consequente declínio do ciclo do ouro no Brasil.
Livro: “Opulência e miséria nas minas gerais” Laura 
Vergueiro.
Vale a pena ler
Curta-metragem: “Ouro e Cobiça (Ouro Preto, 1719) 
- Histórias do Brasil episódio 5. Disponível em: http://
tvbrasil.ebc.com.br/historiasdobrasil/episodio/ouro-e-cobica-episodio-5.
Vale a pena assistir
Vale a pena
5ºAula
O problema da escravidão 
e transição para o trabalho 
assalariado
Objetivos de aprendizagem
Ao término desta aula, vocês serão capazes de:
• compreender a crise da economia escravocrata; 
• observar os processos que conduziram à abolição da escravatura;
• entender a conjuntura econômica de transição do trabalho escravo para o trabalho assalariado.
Depois de três 
séculos de escravidão, 
o trabalho escravo foi 
finalmente abolido em 
1888. Os mais otimistas, 
ou desconhecedores da 
história, poderão dizer que 
a partir desse momento 
histórico se resolvia o 
problema da exploração 
que perdurara por 300 
anos, o que não é verdade. 
O fato é que a abolição 
tirou o escravo de uma condição de subserviência e exploração total e o colocou em 
um mercado de trabalho sem as mínimas condições para absolver a mão de obra 
emergente. O resultado prático disso foi, por um lado, a miséria total com a falta de 
trabalho e renda e, por outro, trabalhos que não passavam de uma situação análoga à 
escravidão de outrora.
Diante disso, nesta aula vamos discutir a contexto histórico que provocou a crise 
da economia escravocrata e seu consequente declínio no Brasil, em 1888. De igual 
modo, vamos estudar a conjuntura econômica da transição do trabalho escravo para o 
trabalho assalariado.
Bons estudos!
Figura 5: abolição da escravidão. Disponível em: https://encrypted-
tbn0.gstatic.com/images?q=tbn%3AANd9GcTPt0UnvexmQMDMP-
9skiWDOXO6X6Kc1PKR4m_hQEpqdFqdMvtx. Acesso em: Janeiro/2020.
26História Econômica do Brasil
1 – Crise e declínio da economia escravocrata 
2 – Transição do trabalho escravo para o trabalho 
assalariado
1 - Crise e declínio da economia 
escravocrata
O entendimento da crise e declínio da economia 
escravocrata brasileira deve ser inserido em um ciclo de 
transformações econômicas de longa duração. Isto é, para 
compreendermos as mudanças estruturais que culminaram 
na abolição da escravatura brasileira, precisamos remontar a 
eventos mais longínquos. Possuem papel central na crise do 
escravismo, a Revolução Industrial liderada pela hegemonia 
inglesa, a fuga da família real portuguesa para o Brasil em 
1808, a Guerra do Paraguai e uma série de movimentos da 
burguesia nacional contribuíram para o declínio da economia 
fundamentada na mão de obra escrava.
1.1 – A Revolução Industrial e 
Hegemonia Britânica
Ainda no século XVIII, o mundo conhecia a revolução 
produtiva que transformaria a organização econômica 
mundial: a economia global saíra de um modo de produção 
fundamentalmente mercantilista e entrara em uma nova 
dinâmica da produção em maior escala e da intensifi cação da 
comercialização internacional dessa produção.
Nesse sentido, a revolução produtiva era liderada pela 
hegemonia inglesa, que desde a revolução gloriosa no século 
XVII levara à instituição da monarquia constitucional inglesa 
e, desse modo, ao relativo fortalecimento das forças liberais 
em conjunto com a monarquia protestante. Precursora do 
liberalismo, fortemente amparada em termos políticos e 
econômicos, a Inglaterra foi a potência hegemônica mundial 
durante os séculos XVIII e XIX. 
Despontando com a ampla produção industrial, os 
britânicos ampliavam sua zona de infl uência global, buscando 
prospectar mercados consumidores para seus produtos 
industrializados. Nesse contexto, Portugal foi, sobremaneira, 
um país muito subjulgado pela hegemonia inglesa, atuando 
em grande medida pela infl uência britânica. Assim, não 
tardou para que a Inglaterra começasse a impor difi culdades à 
continuidade do tráfi co negreiro português. Novos escravos e a 
continuidade da escravidão representavam menor quantidade 
de mercados consumidores aos produtos manufaturados 
dos britânicos e, diante disso, a Inglaterra passaria a atuar 
ativamente durante o século XVIII e XIX para impedir a 
continuidade da economia escravocrata portuguesa no Brasil.
1.2 – 1808: a invasão napoleônica e 
a fuga da família real para o Brasil
Fugindo da invasão napoleônica em Portugal, a corte real 
Seções de estudo
portuguesa desembarcaria no Brasil em 22 de Janeiro de 1808. 
Vocês podem questionar qual a importância disso na crise da 
economia escravocrata brasileira. Ocorre que o período em 
que família real esteve no Brasil contribuiu para o processo de 
emancipação político-econômico, uma vez que o Brasil não 
mais era colônia portuguesa, senão a própria metrópole. Isso 
contribuiu diretamente para a independência em 1822 e, mais 
tarde, para questionamento do pacto colonial. 
Assim sendo, podemos dizer que a presença da 
família real no Brasil de 1808 até meados de 1820 constitui 
um período em que a colônia ainda mantinha o status de 
colônia explorada, mas na prática funcionou como o centro 
administrativo de Portugal. Isso, indubitavelmente, construiu 
o ambiente necessário para que, dois anos mais tarde, o Brasil 
declarasse independência de Portugal. 
No que se refere à situação econômica, com a presença 
da família real no Brasil, Prado Jr. (1981) apresenta que 
a economia se aquecera principalmente pelos índices do 
comércio exterior que quase triplicaram em oito anos da 
presença da corte portuguesa no Brasil. Nesse sentido, “[...] 
o progresso econômico do país é geral, e em todos os setores 
sente-se o infl uxo da grande transformação operada pela 
revogação da política de restrições que até 1808 pesara sobre 
a colônia.” (PRADO JR., 1981, p. 95).
1.3 – 1822 e a independência do 
Brasil
Alguns historiadores argumentam que durante a estadia 
da família real no Brasil, a região não era a colônia, de modo 
que as vantagens da metrópole foram vividas pelas elites 
locais, e, quando a coroa retorna a Portugal, essas elites não 
aceitaram voltar ao status de colônia. Assim sendo:
É vital reconhecer, portanto, que no 7 de 
setembro de 1822, nas margens do Ipiranga, 
nos arredores de São Paulo, quando Dom 
Pedro, herdeiro do trono português, gritou 
Independência ou morte”, estava exagerando. 
A questão, em setembro de 1822, não era 
certamente a morte e, apenas indiretamente, 
a independência. O Brasil havia sido 
independente, para todas as intenções e 
propósitos, desde 1808; desde 16 de dezembro 
de 1815 o Brasil fazia parte de um reino unido, 
em pé de igualdade com Portugal. O que 
estava em jogo no início da década de 1820 era 
mais uma questão de monarquia, estabilidade, 
continuidade e integridade territorial do que 
de revolução colonial (KENNETH, 2000, p. 
2).
Diante da resistência das elites locais em retroceder ao 
posto de colônia, fez-se crescer sobre o príncipe regente, 
D. Pedro, pressões políticas para emancipação do Brasil de 
Portugal. Não tardaria, pois, para que D. Pedro proclamasse 
a independência do Brasil de Portugal. D. Pedro seria 
proclamado D. Pedro I, imperador do Brasil.
É interessante notar que a independência do Brasil não 
foi um movimento por mudanças das estruturas econômicas, 
27
sociais e políticas. Liderada pelos interesses da elite, o 
processo independentista procurava emancipar o Brasil 
das tentativas da corte portuguesa de recolonizar a região 
e, portanto, reestabelecer o domínio da metrópole sobre a 
colônia. Assim sendo, a preocupação estava em garantir que 
a elite se emancipasse, mas as estruturas socioeconômicas 
exploratórias se manteriam, isto é, o trabalho escravo e as 
profundas desigualdades do sistema colonial não se alterariam. 
O reconhecimento da soberania no pós-independência, 
entretanto, não dependia somente de forças políticas internas, 
mas, igualmente, dependia do reconhecimento das principais 
potências da época, em especial a Inglaterra. Ocorre que esse 
reconhecimento de soberania não vinha desacompanhado da 
compensação econômica. Com a Inglaterra, o Brasil teve que 
assinar dois tratados que apontavam para o enfraquecimento 
da economia escravocrata: em 1826 foi assinado um tratado 
que proibia o tráfico negreiro. A Inglaterra ainda costurou 
a renovação do Tratado de Comércio de

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