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1 Notas de Aula de Formação Econômica do Brasil: Período 1500 até 1930. O mapa do Brasil no período colonial - Mapoteca do Itamaraty Trechos da Canção do Expedicionário Você sabe de onde eu venho? Venho do morro, do Engenho, Das selvas, dos cafezais, Da boa terra do coco, Da choupana onde um é pouco, Dois é bom, três é demais, Venho das praias sedosas, Das montanhas alterosas, Dos pampas, do seringal, Das margens crespas dos rios, Dos verdes mares bravios Da minha terra natal. Eu venho da minha terra, Da casa branca da serra E do luar do meu sertão; Venho da minha Maria Cujo nome principia Na palma da minha mão, Braços mornos de Moema, Lábios de mel de Iracema Estendidos para mim. Ó minha terra querida Da Senhora Aparecida E do Senhor do Bonfim! Você sabe de onde eu venho? E de uma Pátria que eu tenho No bojo do meu violão; Que de viver em meu peito Foi até tomando jeito De um enorme coração. Deixei lá atrás meu terreno, Meu limão, meu limoeiro, Meu pé de jacarandá, Minha casa pequenina Lá no alto da colina, Onde canta o sabiá. Venho do além desse monte Que ainda azula o horizonte, Onde o nosso amor nasceu; Do rancho que tinha ao lado Um coqueiro que, coitado, De saudade já morreu. Venho do verde mais belo, Do mais dourado amarelo, Do azul mais cheio de luz, Cheio de estrelas prateadas Que se ajoelham deslumbradas, Fazendo o sinal da Cruz! Por mais terras que eu percorra, Não permita Deus que eu morra Sem que eu volte para lá! 2 Recado ao aluno(a) O objetivo deste trabalho é apenas substituir a rotina de “ditar a matéria” em sala de aula. Além de cansativo, perdemos muito tempo com todo o trabalho de ditar, copiar e ditar de novo... Também não queria deixar os alunos sem um material de fácil acesso e conteúdo mais simples e sintético. Assim, aproveitei que alguns alunos digitavam a matéria de sala e, com algumas correções e acrescentando alguns detalhes, estas notas de aula nasceram. Agradeço muito a todos aqueles que me forneceram suas “anotações digitais” para compor este trabalho. Veja: não se trata de uma apostila, livro texto ou coisa do gênero. O que você tem em mãos é apenas um conjunto de anotações, por isso “notas de aula”. Não substitui a leitura da bibliografia indicada no curso. Apenas economiza trabalho manual e nos poupa tempo! Assim, leve sempre estas notas para a aula. Você poderá acompanhar melhor o curso e, se quiser, fazer mais anotações e complementar o seu material de estudo. Bom estudo e bom semestre! Data PP PF 3 PROGRAMA DA DISCIPLINA 4 Sumário 1. ANTECEDENTES HISTÓRICOS ..........................................................................................6 1.1. Transição Feudalismo – Capitalismo (Um breve resumo) ................................ 6 1.2. Mercantilismo .................................................................................................. 10 1.3. A Economia e Sociedade em Portugal ............................................................. 12 2. ECONOMIA PRÉ-COLONIAL ........................................................................................... 14 2.1. Um pouco mais de (revisão) de História .............................................................. 18 Capitanias Hereditárias ............................................................................................ 18 Governo Geral .......................................................................................................... 19 União Ibérica ............................................................................................................ 19 3. TIPOS DE COLÔNIAS .......................................................................................................... 21 4. DROGAS DO SERTÃO ......................................................................................................... 23 5. O EMPREENDIMENTO AÇUCAREIRO ......................................................................... 25 6. O CICLO ANCILAR DO GADO ......................................................................................... 29 7. MINEIRAÇÃO ......................................................................................................................... 31 8. PRIMEIRO IMPÉRIO ............................................................................................................ 34 8.1. Processo de Independência................................................................................... 34 8.2. Primeiro Reinado.................................................................................................. 37 9. SEGUNDO IMPÉRIO ............................................................................................................ 38 9.1. Economia do Café ................................................................................................ 40 9.2. Crise do Segundo Império e Proclamação da República ..................................... 43 Questão abolicionista ............................................................................................... 45 Questão religiosa ...................................................................................................... 45 Questão militar ......................................................................................................... 46 10. NEOCOLONIALISMO E IMPERIALISMO ................................................................. 46 10.1. Tipos de Neocolonialismo .................................................................................. 49 O Imperialismo na África ........................................................................................ 49 O Imperialismo na Ásia ........................................................................................... 50 O Imperialismo na América ..................................................................................... 51 11. CLASSE SOCIAIS BRASILEIRAS EM FLORESTAN FERNANDES & CAIO PRADO JÚNIOR ........................................................................................................................... 52 12. O INÍCIO DA REPÚBLICA VELHA .............................................................................. 56 12.1. O Encilhamento .................................................................................................. 56 5 13. O GOVERNO PRUDENTE DE MORAES (1894 – 1898).......................................... 59 13.1. Política de saneamento e reerguimento econômico ........................................... 59 14. O GOVERNO CAMPOS SALES (1898 – 1902) ........................................................... 60 15. O GOVERNO RODRIGUES ALVES (1902 – 1906) ................................................... 61 16. O GOVERNO AFONSO PENA (1906 – 1909) ............................................................. 62 17. O GOVERNO NILO PEÇANHA (1909 – 1910) ........................................................... 63 17.1. Financiamento da atividade cafeeira .................................................................. 63 17.2. Política de Valorização do Café ......................................................................... 64 18. HERMES DA FONSECA (1910 – 1914) ........................................................................ 65 19. VENCESLAU BRÁS (1914 – 1918) ................................................................................ 65 20. OS ANOS 20 .......................................................................................................................... 67 21. ORIGENS DA INDÚSTRIA .............................................................................................. 70 21.1. A Industrialização Brasileira antes de 1930 ....................................................... 72 22. A CRISE DE 1929 ................................................................................................................74 23. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 77 6 1. ANTECEDENTES HISTÓRICOS 1.1. Transição Feudalismo – Capitalismo (Um breve resumo) A Baixa Idade Média é o período da história Medieval que vai do século XIII ao XV. Corresponde a fase em que as principais características da Idade Média, principalmente o feudalismo, estavam em transição. Ou seja, é uma época em que o sistema feudal estava entrando em crise. Muitas mudanças econômicas, religiosas, políticas e culturais ocorrem nesta fase. Fatos relevantes: A partir do século X e XI, com o fim das invasões bárbaras e com o surgimento de novas tecnologias no campo, houve um aumento significativo na produção agrícola. Com uma maior disponibilidade de alimentos houve, por consequência, um aumento demográfico; O desenvolvimento do arado de ferro com rodas, do moinho hidráulico e a utilização da atrelagem dos animais (bois e cavalos) pelo peito representaram uma evolução agrícola importante, trazendo um aumento significativo na produção dos gêneros agrícolas; Movimentos na Europa cristã: Guerra de Reconquista contra os mouros, na Península Ibérica; Cruzadas, no Oriente Próximo; e avanço alemão no litoral sul do Mar Báltico, tendo como ponta-de-lança a ordem religiosa e militar dos Cavaleiros Teutônicos; Com as idas e vindas do Oriente, muitas rotas comerciais que haviam desaparecido com o fim do Império Romano Ocidental ressurgiram, como também apareceram novas rotas que ligavam o Ocidente do Oriente. O surgimento / renascimento de rotas comerciais com o Oriente, aliada à existência de um excedente agrícola comerciável permitiu que ocorresse um importante fenômeno para o surgimento do capitalismo: a Revolução Comercial. Renascimento comercial e urbano da Europa no século XI, XII e XII; O processo de urbanização que gerou a expansão do comércio, promovendo novas relações de trabalho, como o regime assalariado; Durante o século XIV, a Guerra dos 100 Anos, associada à peste negra e à fome, afetou não apenas a economia feudal, já decadente, mas também o dinâmico comércio 7 mediterrâneo, verificando-se aí, o que se convencionou chamar na História de "crise de retração" do comércio europeu, Com o crescente comércio e com o renascimento das atividades urbanas surgia também uma nova classe de pessoas: os burgueses. Inicialmente as cidades que cresciam perto dos castelos dos senhores feudais eram chamadas de burgos, e o termo burguesia se referia a todas as pessoas que habitavam os burgos. Mas com o tempo, a burguesia passou a referenciar uma classe de pessoas que se destacavam nas atividades comerciais urbanas, detendo domínio do capital e dos meios de produção. As atividades artesanais que se desenvolviam no inicio da Revolução Comercial foram, pouco a pouco, se tornando dependentes da burguesia. Neste ponto da história da humanidade ocorre o surgimento de uma nova relação de produção muito importante para o surgimento do capitalismo, o surgimento dos assalariados. O processo de substituição dos laços servis por trabalho assalariado não ocorreu, entretanto, em todos os lugares onde predominavam as relações feudais. A ―transformação da terra em mercadoria‖ é um passo necessário para que os produtos da terra sejam pensados como valores, ou seja, passíveis de um cálculo econômico de maximização de "retorno", sendo este "retorno" por sua vez mensurado em termos de poder de compra. Ao mesmo tempo, a transformação da terra em propriedade privada sem a mediação do Estado, ou seja, a ―transformação da terra em mercadoria" e a instauração de um cálculo econômico maximizante em termos de valores é apenas um aspecto da nova relação que se instaura entre cidade e campo. Uma vez que as forças produtivas materiais se desenvolvam por completo, as relações de produção, que antes eram o motor de tal desenvolvimento, passam a se tornar obstáculos, daí a necessidade de uma mudança, geralmente sob a forma de crises e/ou revoluções. Portanto, a expansão de relações assalariadas, a revolução comercial e o surgimento da burguesia, não significam só uma mudança na formação social, mas também o surgimento de um novo modo de produção. Este é caracterizado por esta nova relação social de produção, necessária ao desenvolvimento das novas forças produtivas materiais que surgem na sociedade. Com o renascimento do comércio as terras perderam o ser caráter autossuficiente, pois até então sua produção era voltada para suprir as necessidades do feudo e do senhor feudal. Desta forma, o campo deixou de produzir alimentos para produzir matéria-prima para subordinar-se às necessidades da cidade. 8 Mas esta sociedade pré-capitalista produtora de mercadorias seria incapaz de se generalizar. Apesar de ser "bastante forte para minar e desintegrar o feudalismo (era) fraco demais para desenvolver uma estrutura independente própria: tudo o que poderia realizar de produtivo era preparar o terreno para o avanço vitorioso do capitalismo nos séculos XVII e XVIII‖. Devemos notar que o feudalismo produziu uma variedade de formas e resultados em toda a Europa, e um desses resultados foi o capitalismo. Por outro lado, deve-se notar que não havia um mercado único e unificado, e princípios não-capitalistas de comércio coexistiam com formas de exploração não-capitalistas. Há um debate sobre esta transição que é a discussão acerca de se o feudalismo europeu foi destruído basicamente em função de forças exógenas (posição que defenderia Sweezy) ou em função de forças endógenas (posição que defenderia Dobb e seus seguidores). Dobb defendeu a necessidade de examinar o desenvolvimento das relações de produção no interior do feudalismo, onde estaria a chave para a crise do sistema. Não resta dúvida para o autor que não só a destruição em si como a forma da destruição do feudalismo com o desenvolvimento em seu interior das relações mercantis é ele mesmo resultado da própria estrutura de produção feudal. Segundo Dobb, foram as contradições internas do modo de produção feudal, centradas no antagonismo entre senhores feudais e servos, que levaram à sua dissolução. A crescente necessidade dos senhores feudais por maiores rendimentos os levou a intensificara exploração sobre os servos, fato que acentuou a luta de classes e determinou, em longo prazo, a dissolução da economia feudal. Explicando melhor: com o declínio do feudalismo as cidades começam a reaparecer junto a um êxodo rural. Isso diminui a quantidade de mão-de-obra no campo, levando a superexploração da força de trabalho. Isso fez com que houvesse um colapso no feudalismo, segundo a teoria de Dobb, ―os servos desertaram das propriedades senhorias em massa, e os que permaneceram eram muitos poucos e demasiadamente sobrecarregados para permitir que o sistema se mantivesse na sua antiga base.‖ (p.37). Essa fuga de servos para as cidades que segundo a Teoria de Dobb, ocorreu e que se caracterizou como uma causa importante na declínio das relações feudais, assim esta pode ser explicada como se este processo fosse interno ao sistema feudal. 9 Neste sentido, o comércio e a emergência das cidades não foram os fatores decisivos no declínio do feudalismo, pois estão restritos aos limites do modo de produção feudal. Para Dobb, a razão central da dissolução do modo de produção feudal: Encontra-se na revolta dos pequenos e médios produtores contra a exploração feudal, [o que] acabou resulta ndo em sua independência parcial‖. Consequentemente, houve a transformação da apropriação do excedente, ou seja, os produtores imediatos foram separados dos meios de produção transformando-se em trabalhadores livres para venderem sua força de trabalho, característica central do modo de produção capitalista. (Dobb, 1977, 59) Já Sweezy, ao se contrapor à tese defendidapor Dobb, afirma que a principal característica da economia feudal é a de produzir valores de uso. Assim, o desenvolvimento das relações de troca no seio de uma sociedade produtora de valores de uso foi o principal fator de sua desestabilização. Assim, Sweezy destaca que a produção bizantina e oriental em geral, cujo grau de desenvolvimento mercantil e relativamente superior ao da Europa Ocidental influenciou a transição desta última para o capitalismo. O comércio à longa distância operou como uma força externa às margens da sociedade feudal da seguinte maneira: o desenvolvimento do comércio intensificou as forças produtivas e promoveu uma organização racional da sociedade e o aprimoramento da divisão do trabalho. Decorreu daí uma maior produtividade que minou as relações servis de produção (os servos abandonaram suas terras procurando melhores condições de trabalho) e gradualmente as formas de trabalho livre e assalariado se estabeleceram Paul Sweezy irá discordar de Dobb e dirá que ―os servos não podiam simplesmente desertar das senhorias, não importa quão severos pudessem tornar-se seus senhores, a menos que tivessem para onde ir‖ (Sweezy, 1977, p. 39). Aí está a chave da questão para Paul Sweezy, que considera que o processo não pode ser considerado apenas interno e sim, também externo, para ele com o crescimento do comércio de longa distância como parte externa da desarticulação, o feudalismo declinou, e tomando de empréstimo alguns dos argumentos de Maurice Dobb, irá dizer que, com a entrada de produtos cada vez mais sofisticados, a superexploração da força de trabalho aumentou, gerando assim uma fuga de servos para as cidades. Talvez tal ideia não possa explicar a transição de forma completa, mas questionar a influência de Bizâncio/Oriente sobre a Europa é indicar para o fato de que as distintas formações econômicas e sociais concretas não estão dentro de uma concha, mas se influencia mutuamente. Assim, tal fator é relevante, sem explicar totalmente a 10 mudança feudalismo/capitalismo, isto porque cremos que Sweezy superestima o grau de desenvolvimento comercial de Bizâncio (que possuía também um sistema de produção, se bem que distinto do feudalismo) ao mesmo tempo que subestima o desenvolvimento do comércio na Europa feudal. Em maior ou menor grau, todos os críticos de Sweezy (incluindo Dobb) insistem igualmente no argumento da generalidade da produção para a troca em todas as formações econômicas e sociais passadas, ignorando que para lá de uma simples alteração em termos quantitativos, a produção mercantil capitalista envolve e pressupõe uma alteração na qualidade e no significado desta troca. Dobb não negará que o crescimento das cidades mercantis e do comércio desempenharam importante papel na aceleração da desintegração do antigo modo de produção. O que afirmo é que o comércio exerceu sua influência na medida em que acentuou os conflitos internos no antigo modo de produção (Dobb, 1977, p. 60). Ou seja, conflitos internos no antigo modo de produção seriam o fator preponderante, no qual resultaria um processo de mudança no sistema feudal, fazendo com que as cidades crescessem, incorporando com isso um comércio, começando a surgir assim uma diferenciação social neste pequeno modo de produção. Vale ressaltar que somente com o surgimento das cidades que o artesanato, através das guildas começa a ganhar ares de produção para troca, antes disso ele tinha um caráter de produção para uso, percebe-se, portanto que os dois autores concordam neste ponto, a sua diferença persiste na força motriz desse processo de transição. 1.2. Mercantilismo O Mercantilismo 1 é entendido como um conjunto de práticas, adotadas pelo Estado Absolutista 2 na época moderna, (entre o século XV e o final do século XVIII) com o objetivo de obter e preservar riqueza. A concepção predominante parte da premissa de que ―a riqueza da nação é determinada pela quantidade de ouro e prata que ela pode acumular‖. Isso valia também para a riqueza individual. Como o próprio nome diz, o comércio como o principal ponto gerador de riqueza. Vemos um conceito de riqueza finita e que é concebido tendo como base o mundo concreto. Ao mesmo tempo, os governantes consideravam que a riqueza que existia no mundo era fixa, não poderia ser aumentada, portanto, para um país enriquecer 1 O nome mercantilismo foi criado por Adam Smith em 1776. 2 O Absolutismo, ou Antigo Regime, é uma teoria política que defende que uma pessoa (em geral, o monarca) deve deter um poder absoluto, isto é, independente de outro órgão, seja ele judicial, legislativo, religioso ou eleitoral. Os Estados Absolutistas existiram na Europa, entre os séculos XV e XIX. 11 outro deveria empobrecer. Essa concepção foi responsável pelo acirramento das disputas entre as nações. As nações europeias adotaram uma política intervencionista, ou seja, as regras da economia eram ditadas pelo Estado, fato aparentemente lógico na época, pois o Estado era absolutista e, portanto exercia forte controle sobre a economia. O Estado passou adotar medidas para diminuir a saída de ouro e prata, como forma de manter a riqueza no país. Para ampliar esse acúmulo de metais preciosos, várias medidas eram tomadas, tais: Metalismo: o ouro e a prata eram metais que deixavam uma nação muito rica e poderosa, portanto os governantes faziam de tudo para acumular estes metais. Além do comércio externo, que trazia moedas para a economia interna do país, a exploração de territórios conquistados era incentivada neste período. Foi dentro deste contexto histórico, que a Espanha explorou toneladas de ouro das sociedades indígenas da América como, por exemplo, os maias, incas e astecas; Colbertismo3 ou Industrialismo: alguns governos estimulavam o desenvolvimento de indústrias em seus territórios (principalmente na França e Inglaterra). Como o produto industrializado era mais caro do que matérias-primas ou gêneros agrícolas, exportar manufaturados era certeza de um melhor resultado financeiro; Protecionismo Alfandegário: os reis criavam impostos e taxas para evitar ao máximo a entrada de produtos vindos do exterior. Era uma forma de estimular a indústria nacional e também evitar a saída de moedas para outros países; Pacto Colonial: as colônias europeias deveriam fazer comércio (comprar e vender) apenas com suas metrópoles. Era uma garantia de vender caro e comprar barato, obtendo ainda produtos não encontrados na Europa. Dentro deste contexto histórico ocorreu o ciclo econômico do açúcar no Brasil Colonial; Balança Comercial Favorável: o esforço era para exportar mais do que importar, desta forma entraria mais moedas do que sairia, deixando o país em boa situação financeira. 3 Teorizado e promovido por Jean-Baptiste Colbert, controlador geral das finanças do rei Luís XIV. Uma vez que a maior parte do comércio internacional se fazia por meio de metais, como o ouro e a prata, o colbertismo propunha que o volume de exportações fosse maior que o de importações para que se obtivesse uma balança comercial favorável. As consequências desta política foram um protecionismo rígido que visava, entre outras coisas, o incremento da produção de manufaturados; por outro lado, uma série de conflitos econômicos e guerras sangrentas aconteceram neste período. O maior legado das desvantagens desse tipo de política econômica foi o endurecimento das estruturas econômicas e os processos e a redução do espaço para a inovação, através de uma rede de regulamentos e de controles meticulosos. 12 1.3. A Economia e Sociedade em Portugal Os portugueses foram os primeiros europeus a se lançar ao mar no período das Grandes Navegações Marítimas, nos séculos XV e XVI. O primeiro motivo que levou os portuguesesao empreendimento das Grandes está relacionado à Reconquista (séc. XI ao XV), processo que ocorreu na Península ibérica com o objetivo de expulsar os mouros (árabes) que haviam se fixado na região, a partir do séc. VIII. Sendo assim, foi possível observar neste processo a participação de diversos segmentos da sociedade portuguesa. Ocorreu, portanto, uma união entre o povo, a burguesia nascente e a nobreza em torna da figura do Rei a da consolidação de um Estado Português. Portugal foi considerado o primeiro reino europeu unificado, ou seja, foi o primeiro Estado Nacional Moderno da história da Europa. Além do fato da unificação portuguesa, a Revolução de Avis consolidou a força da burguesia mercantil que, conforme vimos acima, investiu pesadamente nas Grandes Navegações. Esta situação explica porque quando ocorreu a Revolução de Avis (1383- 1385), após a morte do último rei da dinastia de Borgonha, D. Fernando, formaram-se em Portugal dois grupos: um liderado pela burguesia portuguesa, que apoiava a ascensão do Mestre de Avis, filho bastardo do pai de D. Fernando de Borgonha, representante dos interesses desta contra a nobreza; e outro, liderado pela nobreza que apoiava a anexação de Portugal ao reino de Castela, pois a filha de D. Fernando era casada com o rei de Castela. Com a ascensão do Mestre de Avis, coroado como D. João I, temos o início da dinastia de Avis que marcou a vitória dos interesses burgueses. Como se pode observar a unificação do território português deu-se paralelamente ao fortalecimento do poder real – dinastia de Borgonha – e, a Revolução de Avis marcou o início de um período na história portuguesa onde a burguesia terá grande influência sobre este Estado criando as condições necessárias para a expansão marítima. Outro ponto importante foi a progressiva participação lusitana no comércio europeu no século XV, em razão da ascensão de uma burguesia enriquecida que investiu nas navegações no intuito de comercializar com diferentes partes do mundo. Os portos de boa qualidade que eram existentes no país influenciaram bastante no processo do pioneirismo português. Outro motivo não menos fundamental que os outros expostos, que ajudou no processo do empreendimento português, foi o 13 estudo náutico realizado na Escola de Sagres, sob o comando do astuto infante D. Henrique, o navegador (1394-1460). A Escola de Sagres foi consolidada na residência de D. Henrique e se tornou uma referência para estudiosos como cosmógrafos, cartógrafos, mercadores, aventureiros entre outros. Iniciando o processo de conquistas pelos mares, os portugueses no ano de 1415 dominaram Ceuta, considerada primeira conquista dos europeus durante a Expansão Marítima. O principal objetivo que os navegadores portugueses desejavam alcançar era dar a volta no continente africano, ou seja, realizar o périplo africano. Desta maneira, Portugal foi conquistando várias concessões na África. No ano de 1488, Bartolomeu Dias, navegador português, havia conseguido chegar ao Cabo da Boa Esperança, provando para o mundo que existia uma passagem para outro oceano. Finalmente, no ano de 1498, o navegador português Vasco da Gama alcançou as Índias; em 1500, outro navegador lusitano, Pedro Álvares Cabral, deslocou-se com uma grande frota de embarcações para fazer comércio com o Oriente, acabou chegando ao chamado ‗Novo Mundo‘ - o continente americano. Com o desenvolvimento dos estudos marítimos (Escola de Sagres), os portugueses se tornaram grandes comerciantes, prosperando e produzindo novas embarcações e formando grandes navegadores. Portugal se transformou em um dos mais importantes entrepostos (armazém de depósito de mercadorias - que esperam comprador ou que se vão reembarcar) comerciais durante as Grandes Navegações Marítimas. Após a deflagração da Revolução de Avis, Portugal passou por um processo de mudanças onde a nacionalização dos impostos, leis e exércitos favoreceram a ascendência das atividades comerciais de sua burguesia mercantil. A prosperidade material alcançada por meio desse conjunto de medidas ofereceu condições para o investimento em novas empreitadas mercantis. Nesse período, as principais rotas comerciais estavam voltadas no trânsito entre a Ásia (China, Pérsia, Japão e Índia) e as nações mercantilistas europeias. Parte desse câmbio de mercadorias era intermediada pelos muçulmanos que, via Mar Mediterrâneo, introduziam as especiarias orientais na Europa. Pelas vias terrestres, os comerciantes italianos monopolizavam a entrada de produtos orientais no continente. A burguesia portuguesa, buscando se livrar dos altos preços cobrados por esses intermediários e almejando maiores lucros, tentaram consolidar novas rotas 14 marítimas que fizessem o contato direto com os comerciantes orientais. Patrocinados pelo interesse do infante Dom Henrique, vários navegadores, cartógrafos, cosmógrafos e homens do mar foram reunidos na região de Sagres, que se tornou um grande centro da tecnologia marítima da época. Em 1415, a Conquista de Ceuta iniciou um processo de consolidação de colônias portuguesas na costa africana e de algumas ilhas do Oceano Atlântico. Esse primeiro momento da expansão marítima portuguesa alcançou seu ápice quando os navios portugueses ultrapassaram o Cabo das Tormentas (atual Cabo da Boa Esperança), que até então era um dos limites do mundo conhecido. É interessante notar que mesmo com as inovações tecnológicas e o grande interesse comercial do mundo moderno, vários mitos Antigos e Medievais faziam da experiência ultramarina um grande desafio. Os marinheiros e navegadores da época temiam a brutalidade dos mares além das Tormentas. Diversos relatos fazem referência sobre as temperaturas escaldantes e as feras do mar que habitavam tais regiões marítimas. No ano de 1497, o navegador Vasco da Gama empreendeu as últimas explorações que concretizaram a rota rumo às Índias, via a circunavegação do continente africano. Com essa descoberta o projeto de expansão marítima de Portugal parecia ter concretizado seus planos. No entanto, o início das explorações marítimas espanholas firmou uma concorrência entre Portugal e Espanha que abriu caminho para um conjunto de acordos diplomáticos (Bula Intercoetera e Tratado de Tordesilhas) que preestabeleceram os territórios a serem explorados por ambas as nações. O processo de expansão marítima português chegou ao seu auge quando, em 1500, o navegador Pedro Álvares Cabral anunciou a descoberta das terras brasileiras. 2. ECONOMIA PRÉ-COLONIAL A árvore conhecida como PAU-BRASIL também já recebeu o nome de Pau-de-Pernambuco, porém, seu nome científico é Caesalpinia echinata. Ele era frequentemente encontrado na região da Mata Atlântica brasileira, que se estendia por faixas de terra que iam de estados como o Rio Grande do Norte ao Rio de Janeiro. Essa árvore possui propriedades que fizeram dela o primeiro produto realmente valioso no período da montagem do sistema colonial português. 15 Na ocasião do descobrimento, chamou a atenção dos navegantes portugueses uma árvore de cujo lenho era preparada uma tinta de cor vermelha empregada no tingimento de penas. ―Ibirapitanga‖ era o nome usado pelos nativos, que significa, em tupi, madeira vermelha. Este corante de imediato passou a ser utilizado pelos europeus, em substituição a outro similar produzido com o ―sappan 4 ‖ para tingir tecidos. (AGUIAR; PINHO, 2007. p. 16). Tal propriedade de tingimento avermelhado, associada à utilidade que a madeira do pau-brasil oferecia na confecção de instrumentos musicais, móveis e outros utensílios domésticos feitos de madeira, resultou na exploração de tal matéria-prima logo nos anos iniciais da colonização. Por volta de 1503 já havia um sistema complexo montado em torno da extração de pau-brasil. A metrópole portuguesa concedia o monopólio da extração da madeiraa empreendedores particulares, que se encarregavam de organizar-se em sistemas de feitorias, isto é, espécies de armazéns fortificados onde era estocado o produto e de onde partia para abastecer os navios que tinham por destino a coroa portuguesa. O trabalho de extração do pau-brasil era feito com mão de obra indígena, obtida a partir da prática do escambo, ou seja, da troca de mercadorias e bugigangas europeias pelo trabalho pesado. Os índios encarregavam-se de derrubar as madeiras, cortá-las em toras, transportá-las para as feitorias e acomodá-las; em troca, recebiam objetos como miçangas, tecidos, vestimentas diversas, canivetes, facas e outros utensílios desse gênero. Caio Prado Junior descreve o povoamento colonial, afirmando que inicialmente o povoamento da América não é interessante. Os interesses europeus no continente são estritamente comercias. ―Nestas condições, colonizar ainda era entendido como aquilo que dantes se praticava; fala-se em colonização, mas o que o termo envolve não é mais que o estabelecimento de feitorias comerciais‖ (Prado Junior, 1978, p. 16). Esta afirmação é de comum acordo com a de Celso Furtado em Formação Econômica do Brasil de que a ocupação da colônia atendia a uma necessidade expansionista do capital comercial europeu. A decadência da exploração de matéria-prima, principalmente no que se refere ao Pau-Brasil, foi rápida e teve como principal motivo o esgotamento das reservas naturais. 4 Caesalpinia sappan é uma árvore florida nativa do sudoeste da Ásia. 16 O mais importante é notar que durante o chamado período pré-colonial (1500/1530) Portugal ainda era competitivo dentro do comércio internacional. Todavia, com o passar do tempo outros países, como Inglaterra e Holanda, se tornaram mais eficientes no comércio e transporte internacional o que dificultou a competição para os portugueses. Portugal não conseguiu fazer a transição de uma economia baseado no comércio para uma economia industrial. Fatores da sociedade portuguesa impediram o avanço da burguesia local e impediu o processo de transformação social. Podemos trazer a luz alguns motivos: A burguesia portuguesa vai lentamente cedendo passos na condução do processo à aristocracia feudal (ou o que dela restava) que, embora não contrariando o movimento expansionista, conseguirá, no entanto, introduzir lhe uma componente mais guerreira e de rapina, ao invés das intenções mais ―comerciais‖ das camadas burguesas; Uma classe média não existia em Portugal em número ou força bastante para poder dominar e continuar a expansão econômica; Em vez de depender de iniciativas privadas apoiadas ou fortalecidas pelo Estado, a expansão portuguesa foi essencialmente uma empresa estatal, a que não se mostraram indiferentes interesses e iniciativas particulares. Nada havia de errado nisto, se a Coroa conseguisse atuar como um autêntico mercador ou uma companhia de comércio; A Coroa assentava diretamente numa estrutura feudal baseada no privilégio e na renda, que permitia à nobreza retirar a maior parte dos lucros em proveito próprio. Faltando-lhe a mentalidade burguesa, nobres preferiam investir os seus novos capitais em terra, em atividades de construção (prédios públicos, igrejas, monumentos etc.) e em luxo; Como consequência, também, o Estado viu-se perante uma escassez permanente de capitais para a manutenção do Império, sendo forçado a apelar para dinheiro e iniciativas estrangeiras, aumentando a dependência do país com relação a outras nações. Assim, com a ascensão do processo de expansão marítima de outras nações europeias e a decadência dos empreendimentos comercias portugueses no Oriente, as terras do Brasil tornaram-se o principal foco do mercantilismo português. Isso faz com que a Coroa Portuguesa tome medidas para se apossar de forma efetiva do território e iniciar a exploração/colonização. Em 1530, com o propósito de realizar uma política de colonização efetiva, Dom João III, "O Colonizador", organizou uma expedição ao Brasil. A esquadra 17 de cinco embarcações, bem armada e aparelhada, reunia quatrocentos colonos e tripulantes. Comandada por Martim Afonso de Sousa, tinha uma tríplice missão: combater os traficantes franceses, penetrar nas terras na direção do Rio da Prata para procurar metais preciosos e, ainda, estabelecer núcleos de povoamento no litoral. Portanto, iniciar o povoamento das terras brasileiras. Para isto traziam ferramentas, sementes, mudas de plantas (incluindo cana-de-açúcar, originária da África) e animais domésticos. Martim Afonso possuía amplos poderes. Designado capitão - mor da esquadra e do território descoberto, deveria fundar núcleos de povoamento, exercer justiça civil e criminal, tomar posse das terras em nome do rei, nomear funcionários e distribuir sesmarias. Durante dois anos o Capitão percorreu o litoral, armazenando importantes conhecimentos geográficos. Ao chegar no litoral pernambucano, em 1531, conseguiu tomar três naus francesas carregadas de pau-brasil. Dali dirigiu-se para o sul da região, indo até a foz do Rio da Prata. Fundou a primeira vila da América portuguesa: São Vicente, localizada no litoral paulista. Ali distribuiu lotes de terras aos novos habitantes, além de dar início à plantação de cana-de-açúcar. Montou o primeiro engenho da Colônia, o "Engenho do Governador", situado no centro da ilha de São Vicente, região do atual estado de São Paulo. Enquanto Portugal reorganizava sua política para estabelecer uma ocupação efetiva no litoral brasileiro, os espanhóis impunham sua conquista na América, chegando quase à exterminação dos grupos indígenas: os astecas, no atual México, os maias, na América Central e os incas, no atual Peru. Martim Afonso de Souza retornou para Portugal em 1533, pois a coroa portuguesa estava planejando um novo sistema administrativo para o Brasil, com o objetivo de acelerar o processo de ocupação do território brasileiro: Este novo sistema ficou conhecido como Capitânias Hereditárias 5 . 5 Tal ideia não era exatamente nova, pois tal política já tinha sido usada antes. As capitanias hereditárias, insulares, começaram a ser instituídas por volta de 1370, com a doação do rei D. Fernando I a seu vassalo, o genovês Lanzarotto Malocello, das ilhas Gomera e Lanzarote, nas Canárias. Outro italiano, Bartolomeu Perestrello, tornou-se capitão-donatário da ilha de Porto Santo, descoberta em 1418, no arquipélago da Madeira, posteriormente (1419) divido em capitanias, cabendo a de Funchal a João Gonçalves Zarco, e a de Machico, a Tristão Vaz. 18 2.1. Um pouco mais de (revisão) de História Capitanias Hereditárias As Capitanias hereditárias foi um sistema de administração territorial criado pelo rei de Portugal, D. João III, em 1534. Este sistema consistia em dividir o território brasileiro em grandes faixas e entregar a administração para particulares (principalmente nobres com relações com a Coroa Portuguesa). Este sistema foi criado pelo rei de Portugal com o objetivo de colonizar o Brasil, evitando assim invasões estrangeiras. Ganharam o nome de Capitanias Hereditárias, pois eram transmitidas de pai para filho (de forma hereditária). Estas pessoas que recebiam a concessão de uma capitania eram conhecidas como donatários. Tinham como missão colonizar, proteger e administrar o território. Por outro lado, tinham o direito de explorar os recursos naturais (madeira, animais, minérios). O sistema não funcionou muito bem. Apenas as capitanias de São Vicente e Pernambuco conseguiram algum desenvolvimento. Podemos citar como motivos do fracasso: a grande extensão territorial para administrar (e suas obrigações), falta de recursos econômicos, o isolamento entre as capitanias e o descaso dos donatários que não atuaramrealmente para o desenvolvimento dos territórios. 19 O sistema de Capitanias Hereditárias fracassou no mundo real, mas legalmente vigorou até o ano de 1759, quando foi extinto pelo Marquês de Pombal. Governo Geral Respondendo ao fracasso do sistema das capitanias hereditárias, o governo português realizou a centralização da administração colonial com a criação do governo-geral, em 1548. Em vias gerais, o governador-geral deveria viabilizar a criação de novos engenhos, a integração dos indígenas com os centros de colonização, o combate do comércio ilegal, construir embarcações, defender os colonos e realizar a busca por metais preciosos. Mesmo que centralizadora, essa experiência não determinou que o governador cumprisse todas essas tarefas por si só. De tal modo, o governo-geral trouxe a criação de novos cargos administrativos. O governador-geral era nomeado diretamente pelo rei por um período de quatro anos e contava com o concurso de três auxiliares, que com ele formavam o Conselho de Governo. Destes três auxiliares, o ouvidor-mor era responsável pela Justiça, o provedor-mor, pelas finanças e o capitão-mor, pela defesa do litoral. União Ibérica No ano de 1578, durante a batalha contra os mouros marroquinos em Alcácer-Quibir, o rei português dom Sebastião desapareceu. Esse evento iniciou uma das mais complicadas crises sucessórias do trono português, tendo em vista que o jovem rei não teve tempo suficiente para deixar um descendente em seu lugar. Nos dois anos seguintes, o cardeal dom Henrique, seu tio-avô, assumiu o Estado português, mas logo morreu sem também deixar herdeiros. Imediatamente, Filipe II, rei da Espanha e neto do falecido rei português D. Manuel I, se candidatou a assumir a vaga deixada na nação vizinha. Para alcançar o poder, além de se valer do fator parental, o monarca hispânico chegou a ameaçar os portugueses com seus exércitos para que pudesse exercer tal direito. Com isso, observamos o estabelecimento da União Ibérica, que marca a centralização dos governos espanhol e português sob um mesmo governo. São diversas as consequências do domínio espanhol sobre Portugal, quase todas implicando o agravamento da crise que se abatia sobre o reino, desde as 20 primeiras déca-das do século XVI. Mesmo os seus empreendimentos coloniais sofreram os efeitos negativos do domínio filipino. No caso do Brasil, devem ser destacadas as seguintes ocorrências: O fechamento dos portos ibéricos aos navios holandeses, inclusive nas colônias, desarticulou o comércio açucareiro. O boicote e confisco dos navios flamengos, levado à termo pela Espanha, acarretaram as invasões dos holandeses à Bahia e a Pernambuco. O litoral brasileiro foi marcado pelos ataques de corsários estrangeiros, principalmente ingleses. No Maranhão, os franceses tentaram criar um segundo estabelecimento colonial, a França Equinocial. A supressão temporária dos limites de Tordesilhas, por outro lado, possibilitou a expansão territorial na colônia. A interrupção do tráfico negreiro no contexto das invasões holandesas e o consequente incremento da escra-vidão indígena acabaram por estimular o bandeirismo pau-lista. Os portugueses deram fim à União Ibérica e empossaram o duque de Bragança, agora dom João IV, como o novo rei de Portugal. Nesse momento, a necessidade de se recuperar do desgaste econômico gerado pela dominação espanhola colocava como urgente a recuperação do território colonial brasileiro, então dominado pela Holanda. Ao mesmo tempo em que tal mudança acontecia, a relação entre os holandeses e os colonizadores brasileiros também apontava para novos rumos. Se anteriormente, a presença dos holandeses se colocava como oportunidade no desenvolvimento da economia açucareira, agora, os senhores de engenhos se mostravam claramente insatisfeitos com a exigência holandesa em pagar os empréstimos contraídos e ampliar a produção das lavouras imediatamente. Nesse clima de forte tensão, eclode em 1645, a chamada Insurreição Pernambucana. Tal conflito marcou a mobilização dos grandes proprietários de terra em favor da expulsão dos holandeses do Nordeste brasileiro. Após muitos conflitos e rodadas de negociações, os holandeses finalmente deixaram o nordeste brasileiro no ano de 1654 6 . 6 Holandeses ocuparam durante 24 anos o nordeste brasileiro: Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Itamaracá. (1630-1654). Nesse período, Pernambuco se transformou numa verdadeira metrópole, com 21 A expulsão dos holandeses do Brasil gerou sérios problemas para a economia da Colônia portuguesa na América. Eles passaram a produzir açúcar nas Antilhas, região da América Central, comercializando-o a um preço mais baixo na Europa. Além disso, detinham o domínio sobre os mercados consumidores europeus. A concorrência do açúcar antilhano provocou a queda do preço do açúcar em cerca de 50% e determinou o fim do monopólio português sobre o produto. Foi o início da decadência da empresa açucareira no Brasil. Apenas lembrando que em 1640 houve a Restauração: Portugal libertou- se do domínio espanhol. Ainda nesse ano, o governador-geral da colônia passou a usar o título de vice-rei do Brasil. Chamava-se D. Jorge de Mascarenhas. O último governador-geral e vice-rei do Brasil foi o oitavo Conde dos Arcos, que governou até 1808. Nesse ano chegou ao Brasil o príncipe Dom João que assumiu o governo. Quando Dom João voltou para Portugal, em 1821, em lugar de nomear, para o Brasil, um governador-geral, deixou seu próprio filho, Dom Pedro, como príncipe regente. 3. TIPOS DE COLÔNIAS As colônias de povoamento são, geralmente, terras utilizadas para moradia e subsistências dos colonizadores. São, basicamente, nações descobertas e desenvolvidas com o povoamento e o aprimoramento de suas estruturas básicas. Para resumir, a colonização de povoamento tinha características bem particulares: Devido a uma colonização de médias e pequenas fazendas, os colonos trabalhavam e desenvolviam os locais, gerando prosperidade econômica. Tudo que era feito servia a colônia internamente, a produção agrícola regia a economia. uma vida cultural intensa, onde poetas, cientistas e filósofos tornar o Brasil num centro intelectual único na América do Sul. Nesse contexto, os judeus puderam constituir uma comunidade com escolas, sinagogas e cemitério, dando sua contribuição ao enriquecimento da vida cultural da região. No ano de 1654, os portugueses reconquistaram o Nordeste e os holandeses foram expulsos. Junto com os holandeses, foram também expulsos cerca de 600 judeus. Após sofrerem várias vicissitudes durante a viagem, vinte e três brasileiros; homens, mulheres e crianças, conseguiram chegar a uma insignificante vila numa ilha semideserta que foi batizada de Nova Amsterdã. Após várias perseguições e brigas e de ter construído um muro para se defender um acordo foi celebrado com a Coroa Inglesa. Assim, a cidade foi rebatizada, passando a chamar-se Nova York na Ilha de Manhattan. O muro foi derrubado e construíram uma rua no local onde ele ficava. Se a História tivesse sido diferente, será que teríamos hoje uma metrópole como Nova York no nordeste brasileiro? Nunca saberemos... 22 Liberdade para o trabalho Autonomia comercial, não sendo totalmente dependente da metrópole. Independência política e atitude libertadora de seus membros Reunião de trabalhadores em assembleias para discutir o futuro da terra Política que atraía mais e mais trabalhadores. Eram colônias atípicas - não ajudavam na balança comercial e não interessavam tanto à metrópole; Faziam a prática da policultura Os seus produtos eram semelhantesaos da metrópole Coexistência de comércio e manufaturas Mercado interno e uma economia de subsistência; Pacto Colonial mitigado; Fixação do homem ao solo – necessidade de criar escolas, igrejas, fábricas, etc. O segundo caso são as ‗colônias de exploração‘, nas quais a metrópole tem como interesse apenas explorar os recursos naturais da colônia para enriquecer e levar todo lucro a seu país de origem. Neste caso não há preocupação com a terra colonizada. Um exemplo de colônia de exploração é o próprio Brasil, pois a Coroa Portuguesa, percebendo o potencial de lucro dos recursos naturais brasileiros e a mão- de-obra indígena, aplicou o seguinte sistema de colonização: ocupou o país com representantes do interesse da metrópole, assim, criou leis, obrigações, impostos e instituições que somente atendiam os interesses da metrópole. Sendo assim, os colonizados não tinham a ínfima autonomia para exigir seus direitos ou impor suas vontades contra a Coroa. Do ponto de vista econômico, a colônia visava explorar de imediato as regiões mais favorecidas para atividades agrárias rentáveis. O objetivo dos portugueses era apenas um retorno rápido de lucro que suprisse as demandas do mercado europeu. Então, o desenvolvimento local e os habitantes da colônia ficavam em segundo plano. Resumindo, de novo, uma colônia de exploração possui basicamente cinco características principais, os três primeiros ficaram conhecidas por ‗plantation‘: Latifúndio, as terras eram distribuídas em enormes propriedades agrícolas. Monocultura: havia um produto principal e toda produção acontecia em torno dele (caso do açúcar, café e borracha no Brasil). 23 Agro-exportação: toda a produção era para suprir as necessidades do mercado exterior. Não havia preocupações maiores com a formação de um mercado interno, que leva a um enfraquecimento das atividades econômicas locais. Trabalho escravo. Destacamos, por fim, que o conceito básico das colônias de povoamento e/ou exploração é contestado por alguns historiadores, para eles, não existe como colonizar uma terra sem explora-la e não há outra forma de exploração na qual não seja feito um povoamento do lugar. Assim, o conceito de colônia de povoamento foi inventado pelos Europeus para amenizar o próprio sentido da colonização, que nada mais é do que a exploração de outras nações. 4. DROGAS DO SERTÃO No período em que o Brasil foi colonizado, os portugueses verificaram, na Amazônia, a existência de uma grande variedade de recursos naturais que incluíam raízes, frutas e diversos tipos de plantas. Uma das formas com que os colonizadores aumentavam este conhecimento era o contato com os nativos da terra, que já faziam uso 24 e sabiam do potencial culinário e curativo de vegetais, que ficaram conhecidos como drogas do sertão. No início do século XVI, a colonização das Américas ainda não era efetiva. Na Europa, havia uma imensa procura por especiarias que, até então, eram buscadas nas Índias. Os europeus utilizavam estes produtos para comer, temperar, fabricar manufaturas e como remédios. A procura por estes recursos naturais era tão grande que os conquistadores ibéricos buscavam uma rota que ligasse o comércio das Índias à Europa. Os portugueses, ao verificarem a presença destes produtos na Amazônia, acabaram encontrando uma solução para substituir as especiarias das Índias. As terras amazônicas apresentavam uma grande riqueza de recursos naturais. Pode-se considerar como drogas do sertão os seguintes produtos: gordura do peixe-boi, ovos de tartaruga, araras e papagaios vivos, jacarés, lontras, peles de felinos, castanhas, ervas com propriedades curativas, fibras, tinturas, baunilha, poaia, urucum, guaraná, cravo, cacau e outros condimentos. O valor destas especiarias era tão grande que também estimulava atividades ilegais. Margaret Presser, no livro ―Pequena Enciclopédia para Descobrir o Brasil‖, explica esse processo: ―O valor que tinham na Europa não era ignorado por traficantes e contrabandistas de várias origens. Desde o século XVI eles já chegavam à Amazônia pelo rio Amazonas e comercializavam com os indígenas. Foi para combatê- los, aliás, que as autoridades portuguesas mandaram construir o forte do Castelo e a cidade de Belém do Pará, em 1616, e o forte São José do Macapá, no Amapá, em 1764‖. Para a extração destes recursos, as missões de jesuítas utilizavam o conhecimento e o trabalho dos nativos. Entre todas as drogas encontradas na Amazônia, a mais importante foi o cacau, que chegou, até mesmo, a ser utilizado como moeda. Após algum tempo, o marquês de Pombal inicia um programa de cultivo da agricultura que incentivava a atividade por meio das companhias comerciais. A decadências do ―ciclo das drogas‖ no país deu-se com a atitude do Marquês de Pombal em expulsar os jesuítas . Além disso, existiam muitas divergências entre os clérigos e os colonos. Apesar da diminuição da extração destes recursos, alguns continuaram a ser explorados, como a borracha. 25 5. O EMPREENDIMENTO AÇUCAREIRO As instituições feudais, que Portugal, já na etapa do mercantilismo, transmitiu à colônia sofreram adaptação e, consequentemente, transformações, e ela, na sua formação, não podia reproduzir fielmente a estrutura econômica, social e política da metrópole. Mas mentalidade feudal, com seus valores permaneceu e cristalizou-se, na classe dominante da colônia. A montagem do Sistema Colonial português e espanhol em terras americanas se deu a partir do século XVI, principalmente através da produção e comercialização de açúcar e da extração de metais preciosos por Portugal e Espanha, respectivamente. No caso da colônia portuguesa, o Nordeste brasileiro, sobretudo regiões como as do atual estado do Pernambuco, era o centro da atividade econômica açucareira. Entretanto, ainda no século XVI, Portugal passou a contar com a participação da eficiência holandesa, sobretudo de judeus holandeses, no âmbito do comércio de açúcar. Essa participação implicava desde financiamento de engenhos até o refinamento do produto (açúcar) em território holandês. A máquina econômica colonial portuguesa estava a todo vapor. E, sendo assim, tornava-se necessária a precaução contra as tentativas de usurpação que outras nações promoviam contra Portugal, o que era típico no sistema mercantilista. No sistema mercantilista, as colônias – como o Brasil – eram encaradas como extensões de suas metrópoles – os países europeus, como Portugal, de modo que estas pretendiam exercer controle efetivo e total sobre o que aquelas produziam. Isto era encarado pelas metrópoles como uma ―missão‖ ou ―intervenção civilizadora‖. Essa relação de dominação integral da colônia pela metrópole constituiu uma das características do mercantilismo que foi denominada Pacto Colonial. O Pacto Colonial consistia num conjunto de regras e acordos firmados entre a metrópole e os colonos, que tinha por objetivo assegurar que a exclusividade dos lucros da produção colonial seria remetido tão somente à sua metrópole de origem. Essa política ficou conhecida como exclusivo metropolitano ou exclusivo colonial. Associava-se ao Pacto Colonial a acumulação de metais preciosos e moedas (de ouro e prata) para garantir à metrópole uma valorização de sua economia e de seu estado. Isso ficou conhecido como Metalismo. A Espanha, por ter encontrado 26 outro e prata com maior facilidade, passou a dominar o acúmulo de metais na época e a atrair investimentos de outras metrópoles, como a portuguesa e a inglesa. Soma-se a essas características organizadoras do Pacto Colonial, a busca pela balança comercial favorável à metrópole, o que implicava a política do protecionismo, que consistia na criação de dificuldades para a entrada de produtos na metrópole que procedessem de outros reinos. Isso garantia um monopólio da venda do produtoque era trabalhado a partir da exploração das colônias. O Pacto Colonial só terminou com o advento de outra forma de economia na modernidade, mais complexa que o sistema mercantilista; isto é: o sistema capitalista que, com o desenvolvimento da indústria, a partir do século XVIII, mudou os eixos do sistema de produção, distribuição e consumo de produtos. Fato que transformou radicalmente a relação entre as nações do continente europeu e suas colônias – que se tornaram ex-colônias através de insurreições, revoltas e guerras políticas. Os principais centros de produção açucareira do Brasil se encontravam onde hoje se localizam os estados de Pernambuco, Bahia e São Paulo (São Vicente). 27 A colonização no Brasil do Século XVI estava ligada fundamentalmente à indústria açucareira. Em sua fase inicial de colonização, Portugal encontrou na produção de cana-de-açúcar no Brasil e a Espanha, na extração de ouro de suas colônias da América do Sul e Central as fontes de riqueza que garantiam a manutenção de seus empreendimentos coloniais. No Brasil, a existência de uma economia de plantation está bastante relacionada com os interesses dos proprietários das melhores terras que lucravam enormemente com as culturas de exportação. Foi esse processo que consolidou, do Brasil Colônia até o presente momento, o latifúndio, isto é, a grande propriedade rural, a vinculação dependente do país em relação ao exterior, a monocultura de exportação, a escravidão e suas consequências. No Brasil, a colônia de exploração prosperou graças ao sucesso comercial da produção da cana-de-açúcar. Essa, talvez, tenha sido uma das principais causas do insucesso na implantação da colônia de povoamento caracterizada pela existência da pequena e média propriedade dedicada ao autoconsumo e /ou ao mercado interno nos moldes da que se instalou nos Estados Unidos. A inviabilidade na implantação da colônia de povoamento no Brasil decorreu, também, do fato de: Que em Portugal, a população era tão insuficiente que a maior parte de seu território se achava ainda, em meados do Século XVI, inculto e abandonado; faltavam braços por toda parte, e empregava-se em escala crescente mão-de- obra escrava (PRADO JÚNIOR, 1987, p.30). É preciso destacar que o processo de escravidão no Brasil foi o mais amplo e prolongado registrado nos últimos cinco séculos. ―O sistema escravista vigeu ao longo de quase 400 anos e a sua abolição não representou uma ruptura radical com ele. Além da escravização do índio, foram trazidos da África entre quatro a cinco milhões de negros‖ (BRUM, 1888, p.145). Com efeito, para subsistir sem trabalho escravo, seria necessário que os colonos se organizassem em comunidades dedicadas a produzir para autoconsumo, o que só seria possível se a imigração houvesse sido organizada em bases totalmente distintas daquela que foi implantada. O que significa dizer que o Brasil teria que se constituir em colônia de povoamento, como a dos Estados Unidos, ao invés de colônia de exploração. Na economia açucareira, a renda gerada no processo produtivo revertia em sua quase totalidade às mãos do empresário. A totalidade dos pagamentos aos fatores de produção mais os gastos com a reposição do equipamento e dos escravos 28 importados expressava-se no valor das importações. A diferença entre o dispêndio total monetário e o valor das importações traduziria o movimento das reservas monetárias e a entrada líquida de capitais, além do serviço financeiro daqueles fatores de produção de propriedade de pessoas não residentes na colônia. O fluxo de renda se estabelecia, portanto, entre a unidade produtiva, considerada em conjunto, e o exterior. A cooperação comercial e financeira holandesa foi fundamental para que o empobrecido e pequeno reino de Portugal continuasse como grande potência colonial na segunda metade do século XVII. Segundo Celso Furtado: Existem indícios abundantes de que os capitais holandeses não se limitaram a financiar a refinação e comercialização do produto. Tudo indica que capitais flamengos participaram no financiamento das instalações produtivas no Brasil bem como no da importação da mão-de-obra escrava (FURTADO, 2007, p. 34). O crescimento da produção do açúcar no Brasil foi considerável durante todo um século e se realizava sem que houvesse modificações sensíveis na estrutura do sistema econômico. Cabe observar que crescimento significava, nesse caso, ocupação de novas terras e aumento das importações. O seu oposto, a decadência, vinha a ser a redução dos gastos em bens importados e na reposição da força de trabalho (também importada), com diminuição progressiva, mas lenta, no ativo da empresa, que assim minguava sem se transformar estruturalmente. A guerra que moveu a Holanda contra a Espanha no Século XVII, em sua luta pelo controle do açúcar, repercutiu profundamente no Brasil. Nesse período, houve a ocupação pelos holandeses, durante um quarto de século, de grande parte da região produtora de açúcar no Brasil. Durante sua permanência no Brasil, os holandeses adquiriram o conhecimento de todos os aspectos técnicos e organizacionais da indústria açucareira. Esses conhecimentos vão constituir a base para a implantação e desenvolvimento de uma indústria concorrente, de grande escala, na região do Caribe. Com a saída dos holandeses do Brasil, Portugal retomou o controle da produção açucareira, mas, com o desenvolvimento de uma indústria concorrente nas Antilhas, perdeu o monopólio que exercia anteriormente em conjunto com os holandeses do mercado mundial do açúcar. Em meados do século XVII, a Holanda invadirá a região de Pernambuco. Nesta época os holandeses já estavam vivendo a fase de um capitalismo financeiro e necessitavam reinvestir os capitais acumulados, as companhias holandesas que invadiram o Brasil eram privadas e financiadas por seu próprio sistema financeiro 29 Na segunda metade do século XVII, quando se desorganizou o mercado do açúcar e teve início a forte concorrência antilhana, os preços do açúcar se reduziram à metade. A economia açucareira do Nordeste do Brasil, que dependia fundamentalmente da procura externa, passou a enfrentar um processo de decadência resistindo por mais de três séculos às mais prolongadas depressões, logrando recuperar- se sempre que permitiam as condições do mercado externo, sem sofrer nenhuma modificação estrutural expressiva. Por sua vez, a economia mineira, que se expandiria no centro-sul do país, atraindo a mão-de-obra especializada e elevando os preços do escravo, reduziria ainda mais a rentabilidade da empresa açucareira que entrou em uma letargia secular e só voltou a funcionar na plenitude ao surgirem novas condições favoráveis no início do século XIX. Ressalte-se que a economia açucareira constituía um mercado de dimensões relativamente grandes que poderia ter atuado como fator altamente dinâmico do desenvolvimento de outras regiões do país. No entanto, a existência de um mercado interno pouco expressivo tendeu a desviar para o exterior em sua quase totalidade esse impulso dinâmico. Na Bahia, a economia açucareira não contribuiu para dinamizar o restante de suas regiões. Além disso, a evolução da economia nordestina brasileira estava condicionada pela fluidez de sua fronteira. A essa abundância de terras se deve a criação, no próprio Nordeste, de um segundo sistema econômico, dependente da economia açucareira, baseado na criação de gado em que a ocupação da terra era extensiva. Essa atividade econômica induzia a uma permanente expansão, fato esse que fez com que se transformasse em um fator fundamental de penetração e ocupação do interior brasileiro. Esse mesmo fenômeno se reproduziu também na Bahia. 6. O CICLO ANCILAR DO GADO A atividade pecuária foi trazida ao Brasil pelos europeus, mais precisamente por Tomé de Sousa, no século XVI. A atividadepecuária não contava com mão de obra escrava, pois os trabalhos eram realizados por vaqueiros. Geralmente, a pecuária necessitava de um pequeno número de trabalhadores e tinha sua mão-de-obra composta por trabalhadores livres de origem branca, negra, indígena ou mestiça. Além disso, o pagamento pelos serviços prestados era comumente realizado com o repasse de novos animas que surgiam no rebanho. 30 A conquista do sertão nordestino e dos limites ao sul 7 do Brasil foram, em grande parte, uma obra da pecuária. Por ser uma atividade econômica viável longe do litoral, ajudou a deslocar a população rumo ao interior. As tropas foram abrindo trilhas e semeando currais, pousadas, feiras e povoados por todo o país. O gado logo se transformou no principal meio de transporte de carga e um importante aporte na alimentação e no trabalho nas minas e engenhos canavieiros. Ressalte-se que a economia açucareira constituía um mercado de dimensões relativamente grandes que poderia ter atuado como fator altamente dinâmico do desenvolvimento de outras regiões do país. No entanto, a existência de um mercado interno pouco expressivo tendeu a desviar para o exterior em sua quase totalidade esse impulso dinâmico. Na Bahia, a economia açucareira não contribuiu para dinamizar o restante de suas regiões. Além disso, a evolução da economia nordestina brasileira estava condicionada pela fluidez de sua fronteira. A essa abundância de terras se deve a criação, no próprio Nordeste, de um segundo sistema econômico, dependente da economia açucareira, baseado na criação de gado em que a ocupação da terra era extensiva. Essa atividade econômica induzia a uma permanente expansão, fato esse que fez com que se transformasse em um fator fundamental de penetração e ocupação do interior brasileiro. Esse mesmo fenômeno se reproduziu também na Bahia. Cabe observar que a criação do gado, pelo menos em sua fase inicial, tinha rentabilidade baixa e era uma atividade induzida pela economia açucareira. A mão-de-obra utilizada era fundamentalmente indígena. A renda gerada por essa atividade era proveniente da venda do gado no litoral e do couro para exportação. A condição fundamental para sua expansão era o aumento vegetativo da população animal e a disponibilidade de terras. Dada a natureza dos pastos do sertão nordestino, a carga que suportavam essas terras era extremamente baixa. Devido a esse fato, os rebanhos penetraram no interior cruzando o rio São Francisco e alcançando o rio Tocantins e, para o norte, o Maranhão no início do século XVII. Ao contrário da economia açucareira, a criação de gado representava um mercado de ínfimas dimensões, restrito à própria subsistência de sua população. Era incontestável o fato de que essa economia pecuária nunca teve maior expressão na 7 Com o surgimento das atividades mineradoras nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, a pecuária ampliou seu mercado consumidor estabelecendo novas frentes de expansão no Nordeste e na região Sul do território. 31 economia colonial, nem para o próprio Nordeste, nem para o resto da Colônia. Além disso, destaca o fato de que tal economia extensiva não podia dar lugar senão a uma estrutura social pobre, pouco diferenciada, cuja posição na estrutura de poder regional não chegava a ser notada. Cabe ressaltar que a estagnação da produção açucareira na segunda metade do século XVII contribuiu decisivamente para que parte da população não- escrava ou livre fosse atraída pela fronteira móvel do interior onde se localizava a criação de gado. Dessa forma, quanto menos favoráveis fossem as condições da economia açucareira maior era a tendência à emigração populacional para o interior. As possibilidades da pecuária para receber novos contingentes de população, quando existia abundância de terras, eram bastante grandes. Em épocas de depressão da economia açucareira, havia também a intensificação do uso da pecuária em economia de subsistência. A penetração dos portugueses em pleno estuário do Rio da Prata, onde em 1680 fundaram a Colônia do Sacramento, constituiu assim outro episódio da expansão territorial do Brasil ligada às vicissitudes da etapa de decadência da economia açucareira e a criação de gado. 7. MINEIRAÇÃO Embora o Brasil não tivesse revelado grandes depósitos auríferos na fase do descobrimento ao longo do tempo e com a colonização seguindo cada vez mais ao interior começou a aparecer ouro de aluvião na capitania de São Vicente. Brás Cubas localizou em 1560 terrenos aluviais nas ribeiras da Baixada Santista, que se estendiam de Santos até Iguape e Paranaguá alcançando planalto de Curitiba. Porém a agroindústria açucareira e seus lucros absorviam os meios de produção da colônia e mantinham o colono preso a seus interesses na faixa litorânea. Mas quando a economia açucareira deu os primeiros sinais de estagnação o governo português deu maior atenção a mineração e então foram enviados para o Brasil experientes especialistas da Europa para ensinar as técnicas de localização de minas aos bandeirantes, os quais logo se tornaram hábeis pesquisadores. Entre os especialistas estava o mineralogista frei Pedro de Souza que ao pesquisar a região de Araçoiaba (SP) motivou as primeiras tentativas de exploração de minério de ferro. A partir de 1660 começou a se tornar mais frequente a descoberta de depósitos aluvionarios no altiplano da Mantiqueira, Bahia, Pernambuco e São Paulo. 32 Em 1664 Lourenço Castanho Taques foi elogiado em Carta Régia pela descoberta de minas nos campos de Cataguases e nos sertões de Caetés. Em 1680 houve um surto de mineração em Paranaguá atraindo bandeirantes para a região durante algum tempo. Em 1694 a lei reinol garantiu posse das minas aos seus descobridores e por falta de maiores incentivos a Coroa Portuguesa em Carta Régia de 1696 concedeu privilégios e status de nobreza aos que se ocupassem do trabalho de mineração, assim sendo criando uma aristocracia dos bandeirantes que primeiro localizavam e exploravam as minas de ouro e diamante. A partir de então, a mineração passou a ser a atividade econômica mais importante da colônia. Foram descobertas minas de ouro também em Mato Grosso e em Goiás, ainda na primeira metade do século XVIII. Assim, com a descoberta das minas gerais, iniciam-se modificações na economia brasileira, pois há transferência de parte da mão-de-obra das plantações de açúcar para as jazidas. O eixo econômico colonial é transferido do nordeste para a região da mineração. Nas minas existiam dois tipos de trabalhadores: os das lavras, mão-de-obra escrava, e os faiscadores, livres e autônomos. Os escravos em sua maioria eram deslocados dos engenhos, atendendo a necessidade de exploração das jazidas. As minas gerais exigiram a criação de uma economia secundária de abastecimento aos mineradores. ―A agricultura e mais em particular a pecuária desenvolver-se-ão grandemente nestas regiões‖ (PRADO JUNIOR, 1978, p. 65). Os metais preciosos retirados do solo colonial eram enviados para a metrópole, apesar do alto nível de prosperidade da região, estes metais não geraram grande riqueza à colônia. O governo controlava rigidamente a exploração do ouro, e retinha parte do ouro encontrado: a quinta parte de todo o outro produzido nas minas era destinada ao governo. Este imposto ficou conhecido como ―o Quinto‖. A mineração tomou o lugar do açúcar, era o ciclo do ouro! Portugal encontrou uma nova fonte de recursos, porém acabou perdendo boa parte desta riqueza para a Inglaterra, via uma balança comercial desiquilibrada e uma sangria de recursos para pagar dívidas de inúmeros empréstimos. No país, o eixo da economia mudava, e assim também a capital, que se transferia da Bahia para o Rio de Janeiro. A sociedade mineradora, diferente da açucareira, era um povo mais urbano e diversificado,composto pelos donos das minas, pelos funcionários da Coroa, pelos chamados homens livres (profissões de prestígio 33 como advogados, médicos, religiosos e militares), pela classe dos trabalhadores (profissões mais populares como sapateiros, alfaiates, etc.) e pelos escravos. Ao abrir-se como um grande mercado, a mineração foi responsável pela articulação econômica da colônia, integrando não apenas São Paulo, Rio e Bahia, mas também, através de São Paulo, a região sulina como um todo. A economia mineira possibilitou, portanto, uma efetiva articulação entre as diferentes regiões do sul do país. Na época do ouro houve um grande florescimento da vida artística em Minas Gerais. As irmandades viviam disputando qual delas possuía a igreja mais bonita; e para isso, contratavam poetas, músicos, escultores e pintores para trabalharem em sujas igrejas. Aleijadinho e Mestre Ataíde são os principais exemplos destes artistas barrocos. O Barroco surgiu na Itália e logo se espalhou pelo mundo. No barroco mineiro, uma recriação do modelo europeu, predomina as emoções, os contrastes e a opulência. O Barroco tem uma forte ligação com a religião católica. São nas igrejas que encontramos suas principais realizações, principalmente em cidades como Ouro Preto, Mariana e outras cidades históricas mineiras. Havia, basicamente, dois tipos de ―empresas‖ mineradoras: a lavra (grande extração) e a faiscação (pequena extração). A lavra consistia numa exploração de dimensão relativamente grande em jazidas de importância e utilizava amplamente o trabalho escravo. À medida que essas jazidas iam se esgotando e sua exploração tomava-se antieconômica, ocorria o deslocamento das lavras para outras jazidas, deixando o que restara da anterior para a faiscação, praticada por pequenos mineradores. No Brasil, o ouro encontrava-se depositado na superfície ou em pequenas profundidades: inicialmente exploravam-se os veios (nos leitos dos rios), que eram superficiais; em seguida, os tabuleiros (nas margens), que eram pouco profundos; e, finalmente, as grupiaras (nas encostas), que eram mais profundas. Dizemos, por isso, que predominou o ouro de aluvião, que era depositado no fundo dos rios e de fácil extração, ao contrário das minas de prata do México e do Peru, que dependiam de profundas escavações. A extração do ouro de aluvião era, portanto, mais simples, mas de esgota-mento mais rápido. Por essa razão, mesmo na organização das lavras, as empresas eram concebidas de modo a poderem se mobilizar constantemente, conferindo à atividade mineradora um caráter nômade. Por conseguinte, o investimento em termos de equipamento não podia ser de grande vulto. Seguindo as características de toda a economia colonial, a mineração era igualmente extensiva e utilizava o trabalho escravo. 34 A técnica de extração, por sua vez, era rudimentar e mesmo o número de escravos para cada lavra era reduzido, embora haja notícias de lavras com mais de cem escravos. Na realidade, a manutenção de uma em-presa com elevado e permanente número de escravos era incompatível com a natureza incerta das descobertas e da produtividade das minas. O declínio da mineração. A partir da segunda metade do século XVIII, a atividade mineradora começou a declinar, com a interrupção das descobertas e o gradativo esgotamento das minas em operação. O predomínio do ouro de aluvião, de fácil extração, não requeria uma tecnologia sofisticada. Porém, à medida que esses depósitos aluvionais se esgotavam, era necessário passar para a exploração das rochas matrizes (quartzo itabirito) extremamente duras e que demandavam uma tecnologia com maiores aperfeiçoamentos. Chegando nesse ponto, a mineração entrou em acentuada decadência. A quase completa ignorância dos mineradores (o conhecimento que se tinha era fruto da experiência) e a utilização pouco frequente de novas técnicas, por falta de interes-se e de capital, selaram o destino das minas no Brasil. A atividade se manteve porque a área de exploração era grande e as explorações foram conquistando essa região até que ela se exaurisse completamente nos inícios do século XIX. 8. PRIMEIRO IMPÉRIO 8.1. Processo de Independência Em 1808, a Família Real portuguesa fugiu de Portugal para o Brasil, após a invasão das tropas de Napoleão Bonaparte e contando com o auxílio da Inglaterra. Esse episódio foi extremamente importante para a Independência do Brasil, pois a presença dos membros da Família Real, comandada por Dom João VI, mudou o cenário social e cultural do Rio de Janeiro. Além de permitir a abertura econômica da colônia, possibilitando uma troca de mercadorias, foi responsável por dinamizar a economia e criar uma infraestrutura maior para o aparato de Estado em terras brasileiras. Com a assinatura dos Tratados de 1810 (Comércio e Navegação e Aliança e Amizade - Abertura dos Portos), Portugal perdeu definitivamente o monopólio do comércio brasileiro e o Brasil caiu diretamente na dependência do capitalismo inglês. 35 Celso Furtado (2007) destaca que a Abertura dos Portos leva a economia brasileira a um avanço nunca antes alcançado. A coroa portuguesa, porém, eleva os gastos da colônia. A chegada dos nobres ao Brasil leva a uma grande mudança nos hábitos coloniais, causando uma sofisticação das elites locais. Estas transformações levam a elevação dos custos de importações de produtos de luxo. Nisto o Brasil viverá em constante déficit orçamentário levando à crise do regime servil e fim do tráfico. Na verdade com o advento do capital industrial é necessária uma mudança nas estruturas econômicas coloniais, é preciso estimular o comércio interno que só poderá existir com o surgimento de uma classe de trabalhadores livres, ou seja, não há lugar para a mão-de- obra escrava. Em 1815, os membros da Família Real elevaram o Brasil da condição de colônia portuguesa à de Reino Unido de Portugal e Algarves. A Família Real portuguesa permaneceu no Brasil até 1821, quando em Portugal estourou uma rebelião na cidade do Porto, cujos efeitos se fizeram sentir no Brasil, gerando uma forte oposição à coroa portuguesa. Com a volta de D. João VI a Portugal, seu filho, Pedro de Alcântara de Bragança e Bourbon, permaneceu como príncipe regente no Brasil. A aristocracia rural brasileira encaminhou a independência do Brasil com o cuidado de não afetar seus privilégios, representados pelo latifúndio e escravismo. Dessa forma, a independência foi imposta verticalmente, com a preocupação em manter a unidade nacional e conciliar as divergências existentes dentro da própria elite rural, afastando os setores mais baixos da sociedade representados por escravos e trabalhadores pobres em geral. Em 1820, a burguesia mercantil portuguesa colocou fim ao absolutismo em Portugal com a Revolução do Porto. Implantou-se uma monarquia constitucional, o que deu um caráter liberal ao movimento. Mas, ao mesmo tempo, por tratar-se de uma burguesia mercantil que tomava o poder, essa revolução assume uma postura recolonizadora sobre o Brasil. Dom João VI retorna para Portugal e seu filho aproxima- se ainda mais da aristocracia rural brasileira, que sentia-se duplamente ameaçada em seus interesses: a intenção recolonizadora de Portugal e as guerras de independência na América Espanhola, responsáveis pela divisão da região em repúblicas. Com a volta de Dom João VI para Portugal e as exigências para que também o príncipe regente voltasse, a aristocracia rural brasileira passa a viver sob um difícil dilema: conter a recolonização e ao mesmo tempo evitar que a ruptura com 36 Portugal assumisse o caráter revolucionário-republicano que marcava a independência da América Espanhola, o que evidentemente ameaçaria seus privilégios. Dom Pedro é sondado para ficar no Brasil, pois sua partida poderia representar o esfacelamento do país. Era preciso ganhar o apoio de Dom
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