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Formação Econômica do Brasil

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1 
 
Notas de Aula de Formação Econômica do Brasil: 
Período 1500 até 1930. 
 
O mapa do Brasil no período colonial - Mapoteca do Itamaraty 
Trechos da Canção do Expedicionário 
Você sabe de onde eu venho? 
Venho do morro, do Engenho, 
Das selvas, dos cafezais, 
Da boa terra do coco, 
Da choupana onde um é pouco, 
Dois é bom, três é demais, 
Venho das praias sedosas, 
Das montanhas alterosas, 
Dos pampas, do seringal, 
Das margens crespas dos rios, 
Dos verdes mares bravios 
Da minha terra natal. 
Eu venho da minha terra, 
Da casa branca da serra 
E do luar do meu sertão; 
 
Venho da minha Maria 
Cujo nome principia 
Na palma da minha mão, 
Braços mornos de Moema, 
Lábios de mel de Iracema 
Estendidos para mim. 
Ó minha terra querida 
Da Senhora Aparecida 
E do Senhor do Bonfim! 
 
Você sabe de onde eu venho? 
E de uma Pátria que eu tenho 
No bojo do meu violão; 
Que de viver em meu peito 
Foi até tomando jeito 
De um enorme coração. 
Deixei lá atrás meu terreno, 
Meu limão, meu limoeiro, 
Meu pé de jacarandá, 
Minha casa pequenina 
Lá no alto da colina, 
Onde canta o sabiá. 
 
Venho do além desse monte 
Que ainda azula o horizonte, 
Onde o nosso amor nasceu; 
Do rancho que tinha ao lado 
Um coqueiro que, coitado, 
De saudade já morreu. 
Venho do verde mais belo, 
Do mais dourado amarelo, 
Do azul mais cheio de luz, 
Cheio de estrelas prateadas 
Que se ajoelham deslumbradas, 
Fazendo o sinal da Cruz! 
 
Por mais terras que eu percorra, 
Não permita Deus que eu morra 
Sem que eu volte para lá!
 
2 
 
Recado ao aluno(a) 
O objetivo deste trabalho é apenas substituir a rotina de “ditar a 
matéria” em sala de aula. Além de cansativo, perdemos muito tempo com todo 
o trabalho de ditar, copiar e ditar de novo... 
Também não queria deixar os alunos sem um material de fácil 
acesso e conteúdo mais simples e sintético. Assim, aproveitei que alguns 
alunos digitavam a matéria de sala e, com algumas correções e acrescentando 
alguns detalhes, estas notas de aula nasceram. Agradeço muito a todos 
aqueles que me forneceram suas “anotações digitais” para compor este 
trabalho. 
Veja: não se trata de uma apostila, livro texto ou coisa do gênero. 
O que você tem em mãos é apenas um conjunto de anotações, por isso “notas de 
aula”. Não substitui a leitura da bibliografia indicada no curso. Apenas 
economiza trabalho manual e nos poupa tempo! 
Assim, leve sempre estas notas para a aula. Você poderá 
acompanhar melhor o curso e, se quiser, fazer mais anotações e complementar 
o seu material de estudo. 
Bom estudo e bom semestre! 
 Data 
PP 
PF 
 
3 
 
PROGRAMA DA DISCIPLINA 
 
 
4 
 
Sumário 
1. ANTECEDENTES HISTÓRICOS ..........................................................................................6 
1.1. Transição Feudalismo – Capitalismo (Um breve resumo) ................................ 6 
1.2. Mercantilismo .................................................................................................. 10 
1.3. A Economia e Sociedade em Portugal ............................................................. 12 
2. ECONOMIA PRÉ-COLONIAL ........................................................................................... 14 
2.1. Um pouco mais de (revisão) de História .............................................................. 18 
Capitanias Hereditárias ............................................................................................ 18 
Governo Geral .......................................................................................................... 19 
União Ibérica ............................................................................................................ 19 
3. TIPOS DE COLÔNIAS .......................................................................................................... 21 
4. DROGAS DO SERTÃO ......................................................................................................... 23 
5. O EMPREENDIMENTO AÇUCAREIRO ......................................................................... 25 
6. O CICLO ANCILAR DO GADO ......................................................................................... 29 
7. MINEIRAÇÃO ......................................................................................................................... 31 
8. PRIMEIRO IMPÉRIO ............................................................................................................ 34 
8.1. Processo de Independência................................................................................... 34 
8.2. Primeiro Reinado.................................................................................................. 37 
9. SEGUNDO IMPÉRIO ............................................................................................................ 38 
9.1. Economia do Café ................................................................................................ 40 
9.2. Crise do Segundo Império e Proclamação da República ..................................... 43 
Questão abolicionista ............................................................................................... 45 
Questão religiosa ...................................................................................................... 45 
Questão militar ......................................................................................................... 46 
10. NEOCOLONIALISMO E IMPERIALISMO ................................................................. 46 
10.1. Tipos de Neocolonialismo .................................................................................. 49 
O Imperialismo na África ........................................................................................ 49 
O Imperialismo na Ásia ........................................................................................... 50 
O Imperialismo na América ..................................................................................... 51 
11. CLASSE SOCIAIS BRASILEIRAS EM FLORESTAN FERNANDES & CAIO 
PRADO JÚNIOR ........................................................................................................................... 52 
12. O INÍCIO DA REPÚBLICA VELHA .............................................................................. 56 
12.1. O Encilhamento .................................................................................................. 56 
5 
 
13. O GOVERNO PRUDENTE DE MORAES (1894 – 1898).......................................... 59 
13.1. Política de saneamento e reerguimento econômico ........................................... 59 
14. O GOVERNO CAMPOS SALES (1898 – 1902) ........................................................... 60 
15. O GOVERNO RODRIGUES ALVES (1902 – 1906) ................................................... 61 
16. O GOVERNO AFONSO PENA (1906 – 1909) ............................................................. 62 
17. O GOVERNO NILO PEÇANHA (1909 – 1910) ........................................................... 63 
17.1. Financiamento da atividade cafeeira .................................................................. 63 
17.2. Política de Valorização do Café ......................................................................... 64 
18. HERMES DA FONSECA (1910 – 1914) ........................................................................ 65 
19. VENCESLAU BRÁS (1914 – 1918) ................................................................................ 65 
20. OS ANOS 20 .......................................................................................................................... 67 
21. ORIGENS DA INDÚSTRIA .............................................................................................. 70 
21.1. A Industrialização Brasileira antes de 1930 ....................................................... 72 
22. A CRISE DE 1929 ................................................................................................................74 
23. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 77 
 
6 
 
1. ANTECEDENTES HISTÓRICOS 
 
1.1. Transição Feudalismo – Capitalismo (Um breve resumo) 
 
A Baixa Idade Média é o período da história Medieval que vai do século 
XIII ao XV. Corresponde a fase em que as principais características da Idade Média, 
principalmente o feudalismo, estavam em transição. Ou seja, é uma época em que o 
sistema feudal estava entrando em crise. Muitas mudanças econômicas, religiosas, 
políticas e culturais ocorrem nesta fase. 
Fatos relevantes: 
 A partir do século X e XI, com o fim das invasões bárbaras e com o surgimento de 
novas tecnologias no campo, houve um aumento significativo na produção agrícola. 
Com uma maior disponibilidade de alimentos houve, por consequência, um aumento 
demográfico; 
 O desenvolvimento do arado de ferro com rodas, do moinho hidráulico e a 
utilização da atrelagem dos animais (bois e cavalos) pelo peito representaram uma 
evolução agrícola importante, trazendo um aumento significativo na produção dos 
gêneros agrícolas; 
 Movimentos na Europa cristã: Guerra de Reconquista contra os mouros, na 
Península Ibérica; Cruzadas, no Oriente Próximo; e avanço alemão no litoral sul do Mar 
Báltico, tendo como ponta-de-lança a ordem religiosa e militar dos Cavaleiros 
Teutônicos; 
 Com as idas e vindas do Oriente, muitas rotas comerciais que haviam desaparecido 
com o fim do Império Romano Ocidental ressurgiram, como também apareceram novas 
rotas que ligavam o Ocidente do Oriente. 
 O surgimento / renascimento de rotas comerciais com o Oriente, aliada à existência 
de um excedente agrícola comerciável permitiu que ocorresse um importante fenômeno 
para o surgimento do capitalismo: a Revolução Comercial. 
 Renascimento comercial e urbano da Europa no século XI, XII e XII; 
 O processo de urbanização que gerou a expansão do comércio, promovendo novas 
relações de trabalho, como o regime assalariado; 
 Durante o século XIV, a Guerra dos 100 Anos, associada à peste negra e à fome, 
afetou não apenas a economia feudal, já decadente, mas também o dinâmico comércio 
7 
 
mediterrâneo, verificando-se aí, o que se convencionou chamar na História de "crise de 
retração" do comércio europeu, 
Com o crescente comércio e com o renascimento das atividades urbanas 
surgia também uma nova classe de pessoas: os burgueses. Inicialmente as cidades que 
cresciam perto dos castelos dos senhores feudais eram chamadas de burgos, e o termo 
burguesia se referia a todas as pessoas que habitavam os burgos. Mas com o tempo, a 
burguesia passou a referenciar uma classe de pessoas que se destacavam nas atividades 
comerciais urbanas, detendo domínio do capital e dos meios de produção. 
As atividades artesanais que se desenvolviam no inicio da Revolução 
Comercial foram, pouco a pouco, se tornando dependentes da burguesia. Neste ponto da 
história da humanidade ocorre o surgimento de uma nova relação de produção muito 
importante para o surgimento do capitalismo, o surgimento dos assalariados. 
O processo de substituição dos laços servis por trabalho assalariado não 
ocorreu, entretanto, em todos os lugares onde predominavam as relações feudais. 
A ―transformação da terra em mercadoria‖ é um passo necessário para 
que os produtos da terra sejam pensados como valores, ou seja, passíveis de um cálculo 
econômico de maximização de "retorno", sendo este "retorno" por sua vez mensurado 
em termos de poder de compra. Ao mesmo tempo, a transformação da terra em 
propriedade privada sem a mediação do Estado, ou seja, a ―transformação da terra em 
mercadoria" e a instauração de um cálculo econômico maximizante em termos de 
valores é apenas um aspecto da nova relação que se instaura entre cidade e campo. 
Uma vez que as forças produtivas materiais se desenvolvam por 
completo, as relações de produção, que antes eram o motor de tal desenvolvimento, 
passam a se tornar obstáculos, daí a necessidade de uma mudança, geralmente sob a 
forma de crises e/ou revoluções. 
Portanto, a expansão de relações assalariadas, a revolução comercial e o 
surgimento da burguesia, não significam só uma mudança na formação social, mas 
também o surgimento de um novo modo de produção. Este é caracterizado por esta 
nova relação social de produção, necessária ao desenvolvimento das novas forças 
produtivas materiais que surgem na sociedade. 
Com o renascimento do comércio as terras perderam o ser caráter 
autossuficiente, pois até então sua produção era voltada para suprir as necessidades do 
feudo e do senhor feudal. Desta forma, o campo deixou de produzir alimentos para 
produzir matéria-prima para subordinar-se às necessidades da cidade. 
8 
 
Mas esta sociedade pré-capitalista produtora de mercadorias seria 
incapaz de se generalizar. Apesar de ser "bastante forte para minar e desintegrar o 
feudalismo (era) fraco demais para desenvolver uma estrutura independente própria: 
tudo o que poderia realizar de produtivo era preparar o terreno para o avanço vitorioso 
do capitalismo nos séculos XVII e XVIII‖. 
Devemos notar que o feudalismo produziu uma variedade de formas e 
resultados em toda a Europa, e um desses resultados foi o capitalismo. Por outro lado, 
deve-se notar que não havia um mercado único e unificado, e princípios não-capitalistas 
de comércio coexistiam com formas de exploração não-capitalistas. 
Há um debate sobre esta transição que é a discussão acerca de se o 
feudalismo europeu foi destruído basicamente em função de forças exógenas (posição 
que defenderia Sweezy) ou em função de forças endógenas (posição que defenderia 
Dobb e seus seguidores). 
Dobb defendeu a necessidade de examinar o desenvolvimento das 
relações de produção no interior do feudalismo, onde estaria a chave para a crise do 
sistema. Não resta dúvida para o autor que não só a destruição em si como a forma da 
destruição do feudalismo com o desenvolvimento em seu interior das relações mercantis 
é ele mesmo resultado da própria estrutura de produção feudal. 
Segundo Dobb, foram as contradições internas do modo de produção 
feudal, centradas no antagonismo entre senhores feudais e servos, que levaram à sua 
dissolução. A crescente necessidade dos senhores feudais por maiores rendimentos os 
levou a intensificara exploração sobre os servos, fato que acentuou a luta de classes e 
determinou, em longo prazo, a dissolução da economia feudal. 
Explicando melhor: com o declínio do feudalismo as cidades começam a 
reaparecer junto a um êxodo rural. Isso diminui a quantidade de mão-de-obra no campo, 
levando a superexploração da força de trabalho. Isso fez com que houvesse um colapso 
no feudalismo, segundo a teoria de Dobb, ―os servos desertaram das propriedades 
senhorias em massa, e os que permaneceram eram muitos poucos e demasiadamente 
sobrecarregados para permitir que o sistema se mantivesse na sua antiga base.‖ (p.37). 
Essa fuga de servos para as cidades que segundo a Teoria de Dobb, ocorreu e que se 
caracterizou como uma causa importante na declínio das relações feudais, assim esta 
pode ser explicada como se este processo fosse interno ao sistema feudal. 
9 
 
Neste sentido, o comércio e a emergência das cidades não foram os 
fatores decisivos no declínio do feudalismo, pois estão restritos aos limites do modo de 
produção feudal. Para Dobb, a razão central da dissolução do modo de produção feudal: 
Encontra-se na revolta dos pequenos e médios produtores contra a exploração feudal, 
[o que] acabou resulta ndo em sua independência parcial‖. Consequentemente, houve 
a transformação da apropriação do excedente, ou seja, os produtores imediatos foram 
separados dos meios de produção transformando-se em trabalhadores livres para 
venderem sua força de trabalho, característica central do modo de produção 
capitalista. (Dobb, 1977, 59) 
Já Sweezy, ao se contrapor à tese defendidapor Dobb, afirma que a 
principal característica da economia feudal é a de produzir valores de uso. Assim, o 
desenvolvimento das relações de troca no seio de uma sociedade produtora de valores 
de uso foi o principal fator de sua desestabilização. 
Assim, Sweezy destaca que a produção bizantina e oriental em geral, 
cujo grau de desenvolvimento mercantil e relativamente superior ao da Europa 
Ocidental influenciou a transição desta última para o capitalismo. 
O comércio à longa distância operou como uma força externa às margens 
da sociedade feudal da seguinte maneira: o desenvolvimento do comércio intensificou 
as forças produtivas e promoveu uma organização racional da sociedade e o 
aprimoramento da divisão do trabalho. Decorreu daí uma maior produtividade que 
minou as relações servis de produção (os servos abandonaram suas terras procurando 
melhores condições de trabalho) e gradualmente as formas de trabalho livre e 
assalariado se estabeleceram 
Paul Sweezy irá discordar de Dobb e dirá que ―os servos não podiam 
simplesmente desertar das senhorias, não importa quão severos pudessem tornar-se seus 
senhores, a menos que tivessem para onde ir‖ (Sweezy, 1977, p. 39). Aí está a chave da 
questão para Paul Sweezy, que considera que o processo não pode ser considerado 
apenas interno e sim, também externo, para ele com o crescimento do comércio de 
longa distância como parte externa da desarticulação, o feudalismo declinou, e tomando 
de empréstimo alguns dos argumentos de Maurice Dobb, irá dizer que, com a entrada de 
produtos cada vez mais sofisticados, a superexploração da força de trabalho aumentou, 
gerando assim uma fuga de servos para as cidades. 
Talvez tal ideia não possa explicar a transição de forma completa, mas 
questionar a influência de Bizâncio/Oriente sobre a Europa é indicar para o fato de que 
as distintas formações econômicas e sociais concretas não estão dentro de uma concha, 
mas se influencia mutuamente. Assim, tal fator é relevante, sem explicar totalmente a 
10 
 
mudança feudalismo/capitalismo, isto porque cremos que Sweezy superestima o grau de 
desenvolvimento comercial de Bizâncio (que possuía também um sistema de produção, 
se bem que distinto do feudalismo) ao mesmo tempo que subestima o desenvolvimento 
do comércio na Europa feudal. 
Em maior ou menor grau, todos os críticos de Sweezy (incluindo Dobb) 
insistem igualmente no argumento da generalidade da produção para a troca em todas as 
formações econômicas e sociais passadas, ignorando que para lá de uma simples 
alteração em termos quantitativos, a produção mercantil capitalista envolve e pressupõe 
uma alteração na qualidade e no significado desta troca. 
Dobb não negará 
que o crescimento das cidades mercantis e do comércio desempenharam importante 
papel na aceleração da desintegração do antigo modo de produção. O que afirmo é 
que o comércio exerceu sua influência na medida em que acentuou os conflitos 
internos no antigo modo de produção (Dobb, 1977, p. 60). 
Ou seja, conflitos internos no antigo modo de produção seriam o fator 
preponderante, no qual resultaria um processo de mudança no sistema feudal, fazendo com que 
as cidades crescessem, incorporando com isso um comércio, começando a surgir assim uma 
diferenciação social neste pequeno modo de produção. 
Vale ressaltar que somente com o surgimento das cidades que o artesanato, 
através das guildas começa a ganhar ares de produção para troca, antes disso ele tinha um 
caráter de produção para uso, percebe-se, portanto que os dois autores concordam neste ponto, a 
sua diferença persiste na força motriz desse processo de transição. 
 
1.2. Mercantilismo 
O Mercantilismo
1
 é entendido como um conjunto de práticas, adotadas 
pelo Estado Absolutista
2
 na época moderna, (entre o século XV e o final do século 
XVIII) com o objetivo de obter e preservar riqueza. A concepção predominante parte da 
premissa de que ―a riqueza da nação é determinada pela quantidade de ouro e prata que 
ela pode acumular‖. Isso valia também para a riqueza individual. 
Como o próprio nome diz, o comércio como o principal ponto gerador de 
riqueza. Vemos um conceito de riqueza finita e que é concebido tendo como base o 
mundo concreto. Ao mesmo tempo, os governantes consideravam que a riqueza que 
existia no mundo era fixa, não poderia ser aumentada, portanto, para um país enriquecer 
 
1
 O nome mercantilismo foi criado por Adam Smith em 1776. 
2
 O Absolutismo, ou Antigo Regime, é uma teoria política que defende que uma pessoa (em geral, o 
monarca) deve deter um poder absoluto, isto é, independente de outro órgão, seja ele judicial, legislativo, 
religioso ou eleitoral. Os Estados Absolutistas existiram na Europa, entre os séculos XV e XIX. 
11 
 
outro deveria empobrecer. Essa concepção foi responsável pelo acirramento das 
disputas entre as nações. 
As nações europeias adotaram uma política intervencionista, ou seja, as 
regras da economia eram ditadas pelo Estado, fato aparentemente lógico na época, pois 
o Estado era absolutista e, portanto exercia forte controle sobre a economia. O Estado 
passou adotar medidas para diminuir a saída de ouro e prata, como forma de manter a 
riqueza no país. Para ampliar esse acúmulo de metais preciosos, várias medidas eram 
tomadas, tais: 
 Metalismo: o ouro e a prata eram metais que deixavam uma nação muito rica e 
poderosa, portanto os governantes faziam de tudo para acumular estes metais. Além do 
comércio externo, que trazia moedas para a economia interna do país, a exploração de 
territórios conquistados era incentivada neste período. Foi dentro deste contexto 
histórico, que a Espanha explorou toneladas de ouro das sociedades indígenas da 
América como, por exemplo, os maias, incas e astecas; 
 Colbertismo3 ou Industrialismo: alguns governos estimulavam o desenvolvimento 
de indústrias em seus territórios (principalmente na França e Inglaterra). Como o 
produto industrializado era mais caro do que matérias-primas ou gêneros agrícolas, 
exportar manufaturados era certeza de um melhor resultado financeiro; 
 Protecionismo Alfandegário: os reis criavam impostos e taxas para evitar ao 
máximo a entrada de produtos vindos do exterior. Era uma forma de estimular a 
indústria nacional e também evitar a saída de moedas para outros países; 
 Pacto Colonial: as colônias europeias deveriam fazer comércio (comprar e vender) 
apenas com suas metrópoles. Era uma garantia de vender caro e comprar barato, 
obtendo ainda produtos não encontrados na Europa. Dentro deste contexto histórico 
ocorreu o ciclo econômico do açúcar no Brasil Colonial; 
 Balança Comercial Favorável: o esforço era para exportar mais do que importar, 
desta forma entraria mais moedas do que sairia, deixando o país em boa situação 
financeira. 
 
3
 Teorizado e promovido por Jean-Baptiste Colbert, controlador geral das finanças do rei Luís XIV. Uma 
vez que a maior parte do comércio internacional se fazia por meio de metais, como o ouro e a prata, o 
colbertismo propunha que o volume de exportações fosse maior que o de importações para que se 
obtivesse uma balança comercial favorável. As consequências desta política foram um protecionismo 
rígido que visava, entre outras coisas, o incremento da produção de manufaturados; por outro lado, uma 
série de conflitos econômicos e guerras sangrentas aconteceram neste período. O maior legado das 
desvantagens desse tipo de política econômica foi o endurecimento das estruturas econômicas e os 
processos e a redução do espaço para a inovação, através de uma rede de regulamentos e de controles 
meticulosos. 
12 
 
1.3. A Economia e Sociedade em Portugal 
Os portugueses foram os primeiros europeus a se lançar ao mar no 
período das Grandes Navegações Marítimas, nos séculos XV e XVI. O primeiro motivo 
que levou os portuguesesao empreendimento das Grandes está relacionado à 
Reconquista (séc. XI ao XV), processo que ocorreu na Península ibérica com o objetivo 
de expulsar os mouros (árabes) que haviam se fixado na região, a partir do séc. VIII. 
Sendo assim, foi possível observar neste processo a participação de diversos segmentos 
da sociedade portuguesa. Ocorreu, portanto, uma união entre o povo, a burguesia 
nascente e a nobreza em torna da figura do Rei a da consolidação de um Estado 
Português. 
Portugal foi considerado o primeiro reino europeu unificado, ou seja, foi 
o primeiro Estado Nacional Moderno da história da Europa. Além do fato da unificação 
portuguesa, a Revolução de Avis consolidou a força da burguesia mercantil que, 
conforme vimos acima, investiu pesadamente nas Grandes Navegações. 
Esta situação explica porque quando ocorreu a Revolução de Avis (1383-
1385), após a morte do último rei da dinastia de Borgonha, D. Fernando, formaram-se 
em Portugal dois grupos: um liderado pela burguesia portuguesa, que apoiava a 
ascensão do Mestre de Avis, filho bastardo do pai de D. Fernando de Borgonha, 
representante dos interesses desta contra a nobreza; e outro, liderado pela nobreza que 
apoiava a anexação de Portugal ao reino de Castela, pois a filha de D. Fernando era 
casada com o rei de Castela. Com a ascensão do Mestre de Avis, coroado como D. João 
I, temos o início da dinastia de Avis que marcou a vitória dos interesses burgueses. 
Como se pode observar a unificação do território português deu-se 
paralelamente ao fortalecimento do poder real – dinastia de Borgonha – e, a Revolução 
de Avis marcou o início de um período na história portuguesa onde a burguesia terá 
grande influência sobre este Estado criando as condições necessárias para a expansão 
marítima. 
Outro ponto importante foi a progressiva participação lusitana no 
comércio europeu no século XV, em razão da ascensão de uma burguesia enriquecida 
que investiu nas navegações no intuito de comercializar com diferentes partes do 
mundo. 
Os portos de boa qualidade que eram existentes no país influenciaram 
bastante no processo do pioneirismo português. Outro motivo não menos fundamental 
que os outros expostos, que ajudou no processo do empreendimento português, foi o 
13 
 
estudo náutico realizado na Escola de Sagres, sob o comando do astuto infante D. 
Henrique, o navegador (1394-1460). 
A Escola de Sagres foi consolidada na residência de D. Henrique e se 
tornou uma referência para estudiosos como cosmógrafos, cartógrafos, mercadores, 
aventureiros entre outros. Iniciando o processo de conquistas pelos mares, os 
portugueses no ano de 1415 dominaram Ceuta, considerada primeira conquista dos 
europeus durante a Expansão Marítima. 
O principal objetivo que os navegadores portugueses desejavam alcançar 
era dar a volta no continente africano, ou seja, realizar o périplo africano. Desta 
maneira, Portugal foi conquistando várias concessões na África. No ano de 1488, 
Bartolomeu Dias, navegador português, havia conseguido chegar ao Cabo da Boa 
Esperança, provando para o mundo que existia uma passagem para outro oceano. 
Finalmente, no ano de 1498, o navegador português Vasco da Gama alcançou as Índias; 
em 1500, outro navegador lusitano, Pedro Álvares Cabral, deslocou-se com uma grande 
frota de embarcações para fazer comércio com o Oriente, acabou chegando ao chamado 
‗Novo Mundo‘ - o continente americano. 
Com o desenvolvimento dos estudos marítimos (Escola de Sagres), os 
portugueses se tornaram grandes comerciantes, prosperando e produzindo novas 
embarcações e formando grandes navegadores. Portugal se transformou em um dos 
mais importantes entrepostos (armazém de depósito de mercadorias - que esperam 
comprador ou que se vão reembarcar) comerciais durante as Grandes Navegações 
Marítimas. 
Após a deflagração da Revolução de Avis, Portugal passou por um 
processo de mudanças onde a nacionalização dos impostos, leis e exércitos favoreceram 
a ascendência das atividades comerciais de sua burguesia mercantil. A prosperidade 
material alcançada por meio desse conjunto de medidas ofereceu condições para o 
investimento em novas empreitadas mercantis. 
Nesse período, as principais rotas comerciais estavam voltadas no 
trânsito entre a Ásia (China, Pérsia, Japão e Índia) e as nações mercantilistas europeias. 
Parte desse câmbio de mercadorias era intermediada pelos muçulmanos que, via Mar 
Mediterrâneo, introduziam as especiarias orientais na Europa. Pelas vias terrestres, os 
comerciantes italianos monopolizavam a entrada de produtos orientais no continente. 
A burguesia portuguesa, buscando se livrar dos altos preços cobrados por 
esses intermediários e almejando maiores lucros, tentaram consolidar novas rotas 
14 
 
marítimas que fizessem o contato direto com os comerciantes orientais. Patrocinados 
pelo interesse do infante Dom Henrique, vários navegadores, cartógrafos, cosmógrafos 
e homens do mar foram reunidos na região de Sagres, que se tornou um grande centro 
da tecnologia marítima da época. 
Em 1415, a Conquista de Ceuta iniciou um processo de consolidação de 
colônias portuguesas na costa africana e de algumas ilhas do Oceano Atlântico. Esse 
primeiro momento da expansão marítima portuguesa alcançou seu ápice quando os 
navios portugueses ultrapassaram o Cabo das Tormentas (atual Cabo da Boa 
Esperança), que até então era um dos limites do mundo conhecido. 
É interessante notar que mesmo com as inovações tecnológicas e o 
grande interesse comercial do mundo moderno, vários mitos Antigos e Medievais 
faziam da experiência ultramarina um grande desafio. Os marinheiros e navegadores da 
época temiam a brutalidade dos mares além das Tormentas. Diversos relatos fazem 
referência sobre as temperaturas escaldantes e as feras do mar que habitavam tais 
regiões marítimas. 
No ano de 1497, o navegador Vasco da Gama empreendeu as últimas 
explorações que concretizaram a rota rumo às Índias, via a circunavegação do 
continente africano. Com essa descoberta o projeto de expansão marítima de Portugal 
parecia ter concretizado seus planos. No entanto, o início das explorações marítimas 
espanholas firmou uma concorrência entre Portugal e Espanha que abriu caminho para 
um conjunto de acordos diplomáticos (Bula Intercoetera e Tratado de Tordesilhas) que 
preestabeleceram os territórios a serem explorados por ambas as nações. 
O processo de expansão marítima português chegou ao seu auge quando, 
em 1500, o navegador Pedro Álvares Cabral anunciou a descoberta das terras 
brasileiras. 
 
2. ECONOMIA PRÉ-COLONIAL 
A árvore conhecida como PAU-BRASIL também já recebeu o nome de 
Pau-de-Pernambuco, porém, seu nome científico é Caesalpinia echinata. Ele era 
frequentemente encontrado na região da Mata Atlântica brasileira, que se estendia por 
faixas de terra que iam de estados como o Rio Grande do Norte ao Rio de Janeiro. Essa 
árvore possui propriedades que fizeram dela o primeiro produto realmente valioso no 
período da montagem do sistema colonial português. 
15 
 
Na ocasião do descobrimento, chamou a atenção dos navegantes 
portugueses uma árvore de cujo lenho era preparada uma tinta de cor vermelha 
empregada no tingimento de penas. ―Ibirapitanga‖ era o nome usado pelos nativos, 
que significa, em tupi, madeira vermelha. Este corante de imediato passou a ser 
utilizado pelos europeus, em substituição a outro similar produzido com o ―sappan
4
‖ 
para tingir tecidos. (AGUIAR; PINHO, 2007. p. 16). 
Tal propriedade de tingimento avermelhado, associada à utilidade que a 
madeira do pau-brasil oferecia na confecção de instrumentos musicais, móveis e outros 
utensílios domésticos feitos de madeira, resultou na exploração de tal matéria-prima 
logo nos anos iniciais da colonização. Por volta de 1503 já havia um sistema complexo 
montado em torno da extração de pau-brasil. A metrópole portuguesa concedia o 
monopólio da extração da madeiraa empreendedores particulares, que se encarregavam 
de organizar-se em sistemas de feitorias, isto é, espécies de armazéns fortificados onde 
era estocado o produto e de onde partia para abastecer os navios que tinham por destino 
a coroa portuguesa. 
O trabalho de extração do pau-brasil era feito com mão de obra indígena, 
obtida a partir da prática do escambo, ou seja, da troca de mercadorias e bugigangas 
europeias pelo trabalho pesado. Os índios encarregavam-se de derrubar as madeiras, 
cortá-las em toras, transportá-las para as feitorias e acomodá-las; em troca, recebiam 
objetos como miçangas, tecidos, vestimentas diversas, canivetes, facas e outros 
utensílios desse gênero. 
Caio Prado Junior descreve o povoamento colonial, afirmando que 
inicialmente o povoamento da América não é interessante. Os interesses europeus no 
continente são estritamente comercias. ―Nestas condições, colonizar ainda era entendido 
como aquilo que dantes se praticava; fala-se em colonização, mas o que o termo 
envolve não é mais que o estabelecimento de feitorias comerciais‖ (Prado Junior, 1978, 
p. 16). 
Esta afirmação é de comum acordo com a de Celso Furtado em 
Formação Econômica do Brasil de que a ocupação da colônia atendia a uma 
necessidade expansionista do capital comercial europeu. A decadência da exploração de 
matéria-prima, principalmente no que se refere ao Pau-Brasil, foi rápida e teve como 
principal motivo o esgotamento das reservas naturais. 
 
4
 Caesalpinia sappan é uma árvore florida nativa do sudoeste da Ásia. 
16 
 
O mais importante é notar que durante o chamado período pré-colonial 
(1500/1530) Portugal ainda era competitivo dentro do comércio internacional. Todavia, 
com o passar do tempo outros países, como Inglaterra e Holanda, se tornaram mais 
eficientes no comércio e transporte internacional o que dificultou a competição para os 
portugueses. 
Portugal não conseguiu fazer a transição de uma economia baseado no 
comércio para uma economia industrial. Fatores da sociedade portuguesa impediram o 
avanço da burguesia local e impediu o processo de transformação social. Podemos 
trazer a luz alguns motivos: 
 A burguesia portuguesa vai lentamente cedendo passos na condução do processo à 
aristocracia feudal (ou o que dela restava) que, embora não contrariando o movimento 
expansionista, conseguirá, no entanto, introduzir lhe uma componente mais guerreira e 
de rapina, ao invés das intenções mais ―comerciais‖ das camadas burguesas; 
 Uma classe média não existia em Portugal em número ou força bastante para poder 
dominar e continuar a expansão econômica; 
 Em vez de depender de iniciativas privadas apoiadas ou fortalecidas pelo Estado, a 
expansão portuguesa foi essencialmente uma empresa estatal, a que não se mostraram 
indiferentes interesses e iniciativas particulares. Nada havia de errado nisto, se a Coroa 
conseguisse atuar como um autêntico mercador ou uma companhia de comércio; 
 A Coroa assentava diretamente numa estrutura feudal baseada no privilégio e na 
renda, que permitia à nobreza retirar a maior parte dos lucros em proveito próprio. 
Faltando-lhe a mentalidade burguesa, nobres preferiam investir os seus novos capitais 
em terra, em atividades de construção (prédios públicos, igrejas, monumentos etc.) e em 
luxo; 
 Como consequência, também, o Estado viu-se perante uma escassez permanente de 
capitais para a manutenção do Império, sendo forçado a apelar para dinheiro e 
iniciativas estrangeiras, aumentando a dependência do país com relação a outras nações. 
Assim, com a ascensão do processo de expansão marítima de outras 
nações europeias e a decadência dos empreendimentos comercias portugueses no 
Oriente, as terras do Brasil tornaram-se o principal foco do mercantilismo português. 
Isso faz com que a Coroa Portuguesa tome medidas para se apossar de forma efetiva do 
território e iniciar a exploração/colonização. 
Em 1530, com o propósito de realizar uma política de colonização 
efetiva, Dom João III, "O Colonizador", organizou uma expedição ao Brasil. A esquadra 
17 
 
de cinco embarcações, bem armada e aparelhada, reunia quatrocentos colonos e 
tripulantes. Comandada por Martim Afonso de Sousa, tinha uma tríplice missão: 
combater os traficantes franceses, penetrar nas terras na direção do Rio da Prata para 
procurar metais preciosos e, ainda, estabelecer núcleos de povoamento no litoral. 
Portanto, iniciar o povoamento das terras brasileiras. Para isto traziam ferramentas, 
sementes, mudas de plantas (incluindo cana-de-açúcar, originária da África) e animais 
domésticos. 
Martim Afonso possuía amplos poderes. Designado capitão - mor da 
esquadra e do território descoberto, deveria fundar núcleos de povoamento, exercer 
justiça civil e criminal, tomar posse das terras em nome do rei, nomear funcionários e 
distribuir sesmarias. 
Durante dois anos o Capitão percorreu o litoral, armazenando 
importantes conhecimentos geográficos. Ao chegar no litoral pernambucano, em 1531, 
conseguiu tomar três naus francesas carregadas de pau-brasil. Dali dirigiu-se para o sul 
da região, indo até a foz do Rio da Prata. Fundou a primeira vila da América 
portuguesa: São Vicente, localizada no litoral paulista. Ali distribuiu lotes de terras aos 
novos habitantes, além de dar início à plantação de cana-de-açúcar. Montou o primeiro 
engenho da Colônia, o "Engenho do Governador", situado no centro da ilha de São 
Vicente, região do atual estado de São Paulo. 
Enquanto Portugal reorganizava sua política para estabelecer uma 
ocupação efetiva no litoral brasileiro, os espanhóis impunham sua conquista na 
América, chegando quase à exterminação dos grupos indígenas: os astecas, no atual 
México, os maias, na América Central e os incas, no atual Peru. 
Martim Afonso de Souza retornou para Portugal em 1533, pois a coroa 
portuguesa estava planejando um novo sistema administrativo para o Brasil, com o 
objetivo de acelerar o processo de ocupação do território brasileiro: Este novo sistema 
ficou conhecido como Capitânias Hereditárias
5
. 
 
 
5
 Tal ideia não era exatamente nova, pois tal política já tinha sido usada antes. As capitanias hereditárias, 
insulares, começaram a ser instituídas por volta de 1370, com a doação do rei D. Fernando I a seu vassalo, 
o genovês Lanzarotto Malocello, das ilhas Gomera e Lanzarote, nas Canárias. Outro italiano, Bartolomeu 
Perestrello, tornou-se capitão-donatário da ilha de Porto Santo, descoberta em 1418, no arquipélago da 
Madeira, posteriormente (1419) divido em capitanias, cabendo a de Funchal a João Gonçalves Zarco, e a 
de Machico, a Tristão Vaz. 
18 
 
2.1. Um pouco mais de (revisão) de História 
Capitanias Hereditárias 
As Capitanias hereditárias foi um sistema de administração territorial 
criado pelo rei de Portugal, D. João III, em 1534. Este sistema consistia em dividir o 
território brasileiro em grandes faixas e entregar a administração para particulares 
(principalmente nobres com relações com a Coroa Portuguesa). 
Este sistema foi criado pelo rei de Portugal com o objetivo de colonizar o 
Brasil, evitando assim invasões estrangeiras. Ganharam o nome de Capitanias 
Hereditárias, pois eram transmitidas de pai para filho (de forma hereditária). 
Estas pessoas que recebiam a concessão de uma capitania eram 
conhecidas como donatários. Tinham como missão colonizar, proteger e administrar o 
território. Por outro lado, tinham o direito de explorar os recursos naturais (madeira, 
animais, minérios). 
O sistema não funcionou muito bem. Apenas as capitanias de São 
Vicente e Pernambuco conseguiram algum desenvolvimento. Podemos citar como 
motivos do fracasso: a grande extensão territorial para administrar (e suas obrigações), 
falta de recursos econômicos, o isolamento entre as capitanias e o descaso dos 
donatários que não atuaramrealmente para o desenvolvimento dos territórios. 
 
19 
 
O sistema de Capitanias Hereditárias fracassou no mundo real, mas 
legalmente vigorou até o ano de 1759, quando foi extinto pelo Marquês de Pombal. 
 
Governo Geral 
Respondendo ao fracasso do sistema das capitanias hereditárias, o 
governo português realizou a centralização da administração colonial com a criação do 
governo-geral, em 1548. 
Em vias gerais, o governador-geral deveria viabilizar a criação de novos 
engenhos, a integração dos indígenas com os centros de colonização, o combate do 
comércio ilegal, construir embarcações, defender os colonos e realizar a busca por 
metais preciosos. Mesmo que centralizadora, essa experiência não determinou que o 
governador cumprisse todas essas tarefas por si só. De tal modo, o governo-geral trouxe 
a criação de novos cargos administrativos. 
O governador-geral era nomeado diretamente pelo rei por um período de 
quatro anos e contava com o concurso de três auxiliares, que com ele formavam o 
Conselho de Governo. Destes três auxiliares, o ouvidor-mor era responsável pela 
Justiça, o provedor-mor, pelas finanças e o capitão-mor, pela defesa do litoral. 
 
União Ibérica 
No ano de 1578, durante a batalha contra os mouros marroquinos em 
Alcácer-Quibir, o rei português dom Sebastião desapareceu. Esse evento iniciou uma 
das mais complicadas crises sucessórias do trono português, tendo em vista que o jovem 
rei não teve tempo suficiente para deixar um descendente em seu lugar. Nos dois anos 
seguintes, o cardeal dom Henrique, seu tio-avô, assumiu o Estado português, mas logo 
morreu sem também deixar herdeiros. 
Imediatamente, Filipe II, rei da Espanha e neto do falecido rei português 
D. Manuel I, se candidatou a assumir a vaga deixada na nação vizinha. Para alcançar o 
poder, além de se valer do fator parental, o monarca hispânico chegou a ameaçar os 
portugueses com seus exércitos para que pudesse exercer tal direito. Com isso, 
observamos o estabelecimento da União Ibérica, que marca a centralização dos 
governos espanhol e português sob um mesmo governo. 
São diversas as consequências do domínio espanhol sobre Portugal, 
quase todas implicando o agravamento da crise que se abatia sobre o reino, desde as 
20 
 
primeiras déca-das do século XVI. Mesmo os seus empreendimentos coloniais sofreram 
os efeitos negativos do domínio filipino. 
No caso do Brasil, devem ser destacadas as seguintes ocorrências: 
 O fechamento dos portos ibéricos aos navios holandeses, inclusive nas colônias, 
desarticulou o comércio açucareiro. O boicote e confisco dos navios flamengos, levado 
à termo pela Espanha, acarretaram as invasões dos holandeses à Bahia e a Pernambuco. 
 O litoral brasileiro foi marcado pelos ataques de corsários estrangeiros, 
principalmente ingleses. 
 No Maranhão, os franceses tentaram criar um segundo estabelecimento colonial, a 
França Equinocial. 
 A supressão temporária dos limites de Tordesilhas, por outro lado, possibilitou a 
expansão territorial na colônia. 
 
 A interrupção do tráfico negreiro no contexto das invasões holandesas e o 
consequente incremento da escra-vidão indígena acabaram por estimular o bandeirismo 
pau-lista. 
Os portugueses deram fim à União Ibérica e empossaram o duque de 
Bragança, agora dom João IV, como o novo rei de Portugal. Nesse momento, a 
necessidade de se recuperar do desgaste econômico gerado pela dominação espanhola 
colocava como urgente a recuperação do território colonial brasileiro, então dominado 
pela Holanda. 
Ao mesmo tempo em que tal mudança acontecia, a relação entre os 
holandeses e os colonizadores brasileiros também apontava para novos rumos. Se 
anteriormente, a presença dos holandeses se colocava como oportunidade no 
desenvolvimento da economia açucareira, agora, os senhores de engenhos se mostravam 
claramente insatisfeitos com a exigência holandesa em pagar os empréstimos contraídos 
e ampliar a produção das lavouras imediatamente. 
Nesse clima de forte tensão, eclode em 1645, a chamada Insurreição 
Pernambucana. Tal conflito marcou a mobilização dos grandes proprietários de terra em 
favor da expulsão dos holandeses do Nordeste brasileiro. Após muitos conflitos e 
rodadas de negociações, os holandeses finalmente deixaram o nordeste brasileiro no ano 
de 1654
6
. 
 
6
 Holandeses ocuparam durante 24 anos o nordeste brasileiro: Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte 
e Itamaracá. (1630-1654). Nesse período, Pernambuco se transformou numa verdadeira metrópole, com 
21 
 
A expulsão dos holandeses do Brasil gerou sérios problemas para a 
economia da Colônia portuguesa na América. Eles passaram a produzir açúcar nas 
Antilhas, região da América Central, comercializando-o a um preço mais baixo na 
Europa. Além disso, detinham o domínio sobre os mercados consumidores europeus. A 
concorrência do açúcar antilhano provocou a queda do preço do açúcar em cerca de 
50% e determinou o fim do monopólio português sobre o produto. Foi o início da 
decadência da empresa açucareira no Brasil. 
Apenas lembrando que em 1640 houve a Restauração: Portugal libertou-
se do domínio espanhol. Ainda nesse ano, o governador-geral da colônia passou a usar o 
título de vice-rei do Brasil. Chamava-se D. Jorge de Mascarenhas. 
O último governador-geral e vice-rei do Brasil foi o oitavo Conde dos 
Arcos, que governou até 1808. Nesse ano chegou ao Brasil o príncipe Dom João que 
assumiu o governo. Quando Dom João voltou para Portugal, em 1821, em lugar de 
nomear, para o Brasil, um governador-geral, deixou seu próprio filho, Dom Pedro, 
como príncipe regente. 
 
3. TIPOS DE COLÔNIAS 
As colônias de povoamento são, geralmente, terras utilizadas para 
moradia e subsistências dos colonizadores. São, basicamente, nações descobertas e 
desenvolvidas com o povoamento e o aprimoramento de suas estruturas básicas. 
Para resumir, a colonização de povoamento tinha características bem 
particulares: 
 Devido a uma colonização de médias e pequenas fazendas, os colonos trabalhavam 
e desenvolviam os locais, gerando prosperidade econômica. 
 Tudo que era feito servia a colônia internamente, a produção agrícola regia a 
economia. 
 
uma vida cultural intensa, onde poetas, cientistas e filósofos tornar o Brasil num centro intelectual único 
na América do Sul. Nesse contexto, os judeus puderam constituir uma comunidade com escolas, 
sinagogas e cemitério, dando sua contribuição ao enriquecimento da vida cultural da região. 
No ano de 1654, os portugueses reconquistaram o Nordeste e os holandeses foram expulsos. Junto com os 
holandeses, foram também expulsos cerca de 600 judeus. 
Após sofrerem várias vicissitudes durante a viagem, vinte e três brasileiros; homens, mulheres e crianças, 
conseguiram chegar a uma insignificante vila numa ilha semideserta que foi batizada de Nova Amsterdã. 
Após várias perseguições e brigas e de ter construído um muro para se defender um acordo foi celebrado 
com a Coroa Inglesa. Assim, a cidade foi rebatizada, passando a chamar-se Nova York na Ilha de 
Manhattan. O muro foi derrubado e construíram uma rua no local onde ele ficava. 
Se a História tivesse sido diferente, será que teríamos hoje uma metrópole como Nova York no nordeste 
brasileiro? Nunca saberemos... 
22 
 
 Liberdade para o trabalho 
 Autonomia comercial, não sendo totalmente dependente da metrópole. 
 Independência política e atitude libertadora de seus membros 
 Reunião de trabalhadores em assembleias para discutir o futuro da terra 
 Política que atraía mais e mais trabalhadores. 
 Eram colônias atípicas - não ajudavam na balança comercial e não interessavam 
tanto à metrópole; 
 Faziam a prática da policultura 
 Os seus produtos eram semelhantesaos da metrópole 
 Coexistência de comércio e manufaturas 
 Mercado interno e uma economia de subsistência; 
 Pacto Colonial mitigado; 
 Fixação do homem ao solo – necessidade de criar escolas, igrejas, fábricas, etc. 
O segundo caso são as ‗colônias de exploração‘, nas quais a metrópole 
tem como interesse apenas explorar os recursos naturais da colônia para enriquecer e 
levar todo lucro a seu país de origem. Neste caso não há preocupação com a terra 
colonizada. 
Um exemplo de colônia de exploração é o próprio Brasil, pois a Coroa 
Portuguesa, percebendo o potencial de lucro dos recursos naturais brasileiros e a mão-
de-obra indígena, aplicou o seguinte sistema de colonização: ocupou o país com 
representantes do interesse da metrópole, assim, criou leis, obrigações, impostos e 
instituições que somente atendiam os interesses da metrópole. Sendo assim, os 
colonizados não tinham a ínfima autonomia para exigir seus direitos ou impor suas 
vontades contra a Coroa. 
Do ponto de vista econômico, a colônia visava explorar de imediato as 
regiões mais favorecidas para atividades agrárias rentáveis. O objetivo dos portugueses 
era apenas um retorno rápido de lucro que suprisse as demandas do mercado europeu. 
Então, o desenvolvimento local e os habitantes da colônia ficavam em segundo plano. 
Resumindo, de novo, uma colônia de exploração possui basicamente 
cinco características principais, os três primeiros ficaram conhecidas por ‗plantation‘: 
 Latifúndio, as terras eram distribuídas em enormes propriedades agrícolas. 
 Monocultura: havia um produto principal e toda produção acontecia em torno dele 
(caso do açúcar, café e borracha no Brasil). 
23 
 
 Agro-exportação: toda a produção era para suprir as necessidades do mercado 
exterior. 
 Não havia preocupações maiores com a formação de um mercado interno, que leva 
a um enfraquecimento das atividades econômicas locais. 
 Trabalho escravo. 
Destacamos, por fim, que o conceito básico das colônias de povoamento 
e/ou exploração é contestado por alguns historiadores, para eles, não existe como 
colonizar uma terra sem explora-la e não há outra forma de exploração na qual não seja 
feito um povoamento do lugar. Assim, o conceito de colônia de povoamento foi 
inventado pelos Europeus para amenizar o próprio sentido da colonização, que nada 
mais é do que a exploração de outras nações. 
 
 
4. DROGAS DO SERTÃO 
 
No período em que o Brasil foi colonizado, os portugueses verificaram, 
na Amazônia, a existência de uma grande variedade de recursos naturais que incluíam 
raízes, frutas e diversos tipos de plantas. Uma das formas com que os colonizadores 
aumentavam este conhecimento era o contato com os nativos da terra, que já faziam uso 
24 
 
e sabiam do potencial culinário e curativo de vegetais, que ficaram conhecidos como 
drogas do sertão. 
No início do século XVI, a colonização das Américas ainda não era 
efetiva. Na Europa, havia uma imensa procura por especiarias que, até então, eram 
buscadas nas Índias. Os europeus utilizavam estes produtos para comer, temperar, 
fabricar manufaturas e como remédios. A procura por estes recursos naturais era tão 
grande que os conquistadores ibéricos buscavam uma rota que ligasse o comércio das 
Índias à Europa. 
Os portugueses, ao verificarem a presença destes produtos na Amazônia, 
acabaram encontrando uma solução para substituir as especiarias das Índias. As terras 
amazônicas apresentavam uma grande riqueza de recursos naturais. Pode-se considerar 
como drogas do sertão os seguintes produtos: gordura do peixe-boi, ovos de tartaruga, 
araras e papagaios vivos, jacarés, lontras, peles de felinos, castanhas, ervas com 
propriedades curativas, fibras, tinturas, baunilha, poaia, urucum, guaraná, cravo, cacau e 
outros condimentos. 
O valor destas especiarias era tão grande que também estimulava 
atividades ilegais. Margaret Presser, no livro ―Pequena Enciclopédia para Descobrir o 
Brasil‖, explica esse processo: ―O valor que tinham na Europa não era ignorado por 
traficantes e contrabandistas de várias origens. Desde o século XVI eles já chegavam à 
Amazônia pelo rio Amazonas e comercializavam com os indígenas. Foi para combatê-
los, aliás, que as autoridades portuguesas mandaram construir o forte do Castelo e a 
cidade de Belém do Pará, em 1616, e o forte São José do Macapá, no Amapá, em 
1764‖. 
Para a extração destes recursos, as missões de jesuítas utilizavam o 
conhecimento e o trabalho dos nativos. Entre todas as drogas encontradas na Amazônia, 
a mais importante foi o cacau, que chegou, até mesmo, a ser utilizado como moeda. 
Após algum tempo, o marquês de Pombal inicia um programa de cultivo da agricultura 
que incentivava a atividade por meio das companhias comerciais. 
A decadências do ―ciclo das drogas‖ no país deu-se com a atitude do 
Marquês de Pombal em expulsar os jesuítas . Além disso, existiam muitas divergências 
entre os clérigos e os colonos. Apesar da diminuição da extração destes recursos, alguns 
continuaram a ser explorados, como a borracha. 
 
 
25 
 
5. O EMPREENDIMENTO AÇUCAREIRO 
 
As instituições feudais, que Portugal, já na etapa do mercantilismo, 
transmitiu à colônia sofreram adaptação e, consequentemente, transformações, e ela, na 
sua formação, não podia reproduzir fielmente a estrutura econômica, social e política da 
metrópole. Mas mentalidade feudal, com seus valores permaneceu e cristalizou-se, na 
classe dominante da colônia. 
A montagem do Sistema Colonial português e espanhol em terras 
americanas se deu a partir do século XVI, principalmente através da produção e 
comercialização de açúcar e da extração de metais preciosos por Portugal e Espanha, 
respectivamente. 
No caso da colônia portuguesa, o Nordeste brasileiro, sobretudo regiões 
como as do atual estado do Pernambuco, era o centro da atividade econômica 
açucareira. Entretanto, ainda no século XVI, Portugal passou a contar com a 
participação da eficiência holandesa, sobretudo de judeus holandeses, no âmbito do 
comércio de açúcar. Essa participação implicava desde financiamento de engenhos até o 
refinamento do produto (açúcar) em território holandês. 
A máquina econômica colonial portuguesa estava a todo vapor. E, sendo 
assim, tornava-se necessária a precaução contra as tentativas de usurpação que outras 
nações promoviam contra Portugal, o que era típico no sistema mercantilista. No 
sistema mercantilista, as colônias – como o Brasil – eram encaradas como extensões de 
suas metrópoles – os países europeus, como Portugal, de modo que estas pretendiam 
exercer controle efetivo e total sobre o que aquelas produziam. Isto era encarado pelas 
metrópoles como uma ―missão‖ ou ―intervenção civilizadora‖. 
Essa relação de dominação integral da colônia pela metrópole constituiu 
uma das características do mercantilismo que foi denominada Pacto Colonial. O Pacto 
Colonial consistia num conjunto de regras e acordos firmados entre a metrópole e os 
colonos, que tinha por objetivo assegurar que a exclusividade dos lucros da produção 
colonial seria remetido tão somente à sua metrópole de origem. Essa política ficou 
conhecida como exclusivo metropolitano ou exclusivo colonial. 
Associava-se ao Pacto Colonial a acumulação de metais preciosos e 
moedas (de ouro e prata) para garantir à metrópole uma valorização de sua economia e 
de seu estado. Isso ficou conhecido como Metalismo. A Espanha, por ter encontrado 
26 
 
outro e prata com maior facilidade, passou a dominar o acúmulo de metais na época e a 
atrair investimentos de outras metrópoles, como a portuguesa e a inglesa. 
Soma-se a essas características organizadoras do Pacto Colonial, a busca 
pela balança comercial favorável à metrópole, o que implicava a política do 
protecionismo, que consistia na criação de dificuldades para a entrada de produtos na 
metrópole que procedessem de outros reinos. Isso garantia um monopólio da venda do 
produtoque era trabalhado a partir da exploração das colônias. 
O Pacto Colonial só terminou com o advento de outra forma de economia 
na modernidade, mais complexa que o sistema mercantilista; isto é: o sistema capitalista 
que, com o desenvolvimento da indústria, a partir do século XVIII, mudou os eixos do 
sistema de produção, distribuição e consumo de produtos. Fato que transformou 
radicalmente a relação entre as nações do continente europeu e suas colônias – que se 
tornaram ex-colônias através de insurreições, revoltas e guerras políticas. 
Os principais centros de produção açucareira do Brasil se encontravam 
onde hoje se localizam os estados de Pernambuco, Bahia e São Paulo (São Vicente). 
 
27 
 
A colonização no Brasil do Século XVI estava ligada fundamentalmente 
à indústria açucareira. Em sua fase inicial de colonização, Portugal encontrou na 
produção de cana-de-açúcar no Brasil e a Espanha, na extração de ouro de suas colônias 
da América do Sul e Central as fontes de riqueza que garantiam a manutenção de seus 
empreendimentos coloniais. No Brasil, a existência de uma economia de plantation está 
bastante relacionada com os interesses dos proprietários das melhores terras que 
lucravam enormemente com as culturas de exportação. 
Foi esse processo que consolidou, do Brasil Colônia até o presente 
momento, o latifúndio, isto é, a grande propriedade rural, a vinculação dependente do 
país em relação ao exterior, a monocultura de exportação, a escravidão e suas 
consequências. No Brasil, a colônia de exploração prosperou graças ao sucesso 
comercial da produção da cana-de-açúcar. 
Essa, talvez, tenha sido uma das principais causas do insucesso na 
implantação da colônia de povoamento caracterizada pela existência da pequena e 
média propriedade dedicada ao autoconsumo e /ou ao mercado interno nos moldes da 
que se instalou nos Estados Unidos. A inviabilidade na implantação da colônia de 
povoamento no Brasil decorreu, também, do fato de: 
Que em Portugal, a população era tão insuficiente que a maior parte de seu 
território se achava ainda, em meados do Século XVI, inculto e abandonado; 
faltavam braços por toda parte, e empregava-se em escala crescente mão-de-
obra escrava (PRADO JÚNIOR, 1987, p.30). 
É preciso destacar que o processo de escravidão no Brasil foi o mais 
amplo e prolongado registrado nos últimos cinco séculos. ―O sistema escravista vigeu 
ao longo de quase 400 anos e a sua abolição não representou uma ruptura radical com 
ele. Além da escravização do índio, foram trazidos da África entre quatro a cinco 
milhões de negros‖ (BRUM, 1888, p.145). 
Com efeito, para subsistir sem trabalho escravo, seria necessário que os 
colonos se organizassem em comunidades dedicadas a produzir para autoconsumo, o 
que só seria possível se a imigração houvesse sido organizada em bases totalmente 
distintas daquela que foi implantada. O que significa dizer que o Brasil teria que se 
constituir em colônia de povoamento, como a dos Estados Unidos, ao invés de colônia 
de exploração. 
Na economia açucareira, a renda gerada no processo produtivo revertia 
em sua quase totalidade às mãos do empresário. A totalidade dos pagamentos aos 
fatores de produção mais os gastos com a reposição do equipamento e dos escravos 
28 
 
importados expressava-se no valor das importações. A diferença entre o dispêndio total 
monetário e o valor das importações traduziria o movimento das reservas monetárias e a 
entrada líquida de capitais, além do serviço financeiro daqueles fatores de produção de 
propriedade de pessoas não residentes na colônia. O fluxo de renda se estabelecia, 
portanto, entre a unidade produtiva, considerada em conjunto, e o exterior. 
A cooperação comercial e financeira holandesa foi fundamental para que 
o empobrecido e pequeno reino de Portugal continuasse como grande potência colonial 
na segunda metade do século XVII. 
Segundo Celso Furtado: 
Existem indícios abundantes de que os capitais holandeses não se limitaram a financiar 
a refinação e comercialização do produto. Tudo indica que capitais flamengos 
participaram no financiamento das instalações produtivas no Brasil bem como no da 
importação da mão-de-obra escrava (FURTADO, 2007, p. 34). 
O crescimento da produção do açúcar no Brasil foi considerável durante 
todo um século e se realizava sem que houvesse modificações sensíveis na estrutura do 
sistema econômico. Cabe observar que crescimento significava, nesse caso, ocupação 
de novas terras e aumento das importações. O seu oposto, a decadência, vinha a ser a 
redução dos gastos em bens importados e na reposição da força de trabalho (também 
importada), com diminuição progressiva, mas lenta, no ativo da empresa, que assim 
minguava sem se transformar estruturalmente. 
A guerra que moveu a Holanda contra a Espanha no Século XVII, em sua 
luta pelo controle do açúcar, repercutiu profundamente no Brasil. Nesse período, houve 
a ocupação pelos holandeses, durante um quarto de século, de grande parte da região 
produtora de açúcar no Brasil. 
Durante sua permanência no Brasil, os holandeses adquiriram o 
conhecimento de todos os aspectos técnicos e organizacionais da indústria açucareira. 
Esses conhecimentos vão constituir a base para a implantação e desenvolvimento de 
uma indústria concorrente, de grande escala, na região do Caribe. Com a saída dos 
holandeses do Brasil, Portugal retomou o controle da produção açucareira, mas, com o 
desenvolvimento de uma indústria concorrente nas Antilhas, perdeu o monopólio que 
exercia anteriormente em conjunto com os holandeses do mercado mundial do açúcar. 
Em meados do século XVII, a Holanda invadirá a região de Pernambuco. 
Nesta época os holandeses já estavam vivendo a fase de um capitalismo financeiro e 
necessitavam reinvestir os capitais acumulados, as companhias holandesas que 
invadiram o Brasil eram privadas e financiadas por seu próprio sistema financeiro 
29 
 
Na segunda metade do século XVII, quando se desorganizou o mercado 
do açúcar e teve início a forte concorrência antilhana, os preços do açúcar se reduziram 
à metade. A economia açucareira do Nordeste do Brasil, que dependia 
fundamentalmente da procura externa, passou a enfrentar um processo de decadência 
resistindo por mais de três séculos às mais prolongadas depressões, logrando recuperar-
se sempre que permitiam as condições do mercado externo, sem sofrer nenhuma 
modificação estrutural expressiva. 
Por sua vez, a economia mineira, que se expandiria no centro-sul do país, 
atraindo a mão-de-obra especializada e elevando os preços do escravo, reduziria ainda 
mais a rentabilidade da empresa açucareira que entrou em uma letargia secular e só 
voltou a funcionar na plenitude ao surgirem novas condições favoráveis no início do 
século XIX. 
Ressalte-se que a economia açucareira constituía um mercado de 
dimensões relativamente grandes que poderia ter atuado como fator altamente dinâmico 
do desenvolvimento de outras regiões do país. No entanto, a existência de um mercado 
interno pouco expressivo tendeu a desviar para o exterior em sua quase totalidade esse 
impulso dinâmico. Na Bahia, a economia açucareira não contribuiu para dinamizar o 
restante de suas regiões. 
Além disso, a evolução da economia nordestina brasileira estava 
condicionada pela fluidez de sua fronteira. A essa abundância de terras se deve a 
criação, no próprio Nordeste, de um segundo sistema econômico, dependente da 
economia açucareira, baseado na criação de gado em que a ocupação da terra era 
extensiva. Essa atividade econômica induzia a uma permanente expansão, fato esse que 
fez com que se transformasse em um fator fundamental de penetração e ocupação do 
interior brasileiro. Esse mesmo fenômeno se reproduziu também na Bahia. 
 
6. O CICLO ANCILAR DO GADO 
A atividade pecuária foi trazida ao Brasil pelos europeus, mais 
precisamente por Tomé de Sousa, no século XVI. A atividadepecuária não contava com 
mão de obra escrava, pois os trabalhos eram realizados por vaqueiros. Geralmente, a 
pecuária necessitava de um pequeno número de trabalhadores e tinha sua mão-de-obra 
composta por trabalhadores livres de origem branca, negra, indígena ou mestiça. Além 
disso, o pagamento pelos serviços prestados era comumente realizado com o repasse de 
novos animas que surgiam no rebanho. 
30 
 
A conquista do sertão nordestino e dos limites ao sul
7
 do Brasil foram, 
em grande parte, uma obra da pecuária. Por ser uma atividade econômica viável longe 
do litoral, ajudou a deslocar a população rumo ao interior. As tropas foram abrindo 
trilhas e semeando currais, pousadas, feiras e povoados por todo o país. O gado logo se 
transformou no principal meio de transporte de carga e um importante aporte na 
alimentação e no trabalho nas minas e engenhos canavieiros. 
Ressalte-se que a economia açucareira constituía um mercado de 
dimensões relativamente grandes que poderia ter atuado como fator altamente dinâmico 
do desenvolvimento de outras regiões do país. No entanto, a existência de um mercado 
interno pouco expressivo tendeu a desviar para o exterior em sua quase totalidade esse 
impulso dinâmico. Na Bahia, a economia açucareira não contribuiu para dinamizar o 
restante de suas regiões. Além disso, a evolução da economia nordestina brasileira 
estava condicionada pela fluidez de sua fronteira. 
A essa abundância de terras se deve a criação, no próprio Nordeste, de 
um segundo sistema econômico, dependente da economia açucareira, baseado na 
criação de gado em que a ocupação da terra era extensiva. Essa atividade econômica 
induzia a uma permanente expansão, fato esse que fez com que se transformasse em um 
fator fundamental de penetração e ocupação do interior brasileiro. Esse mesmo 
fenômeno se reproduziu também na Bahia. 
Cabe observar que a criação do gado, pelo menos em sua fase inicial, 
tinha rentabilidade baixa e era uma atividade induzida pela economia açucareira. A 
mão-de-obra utilizada era fundamentalmente indígena. A renda gerada por essa 
atividade era proveniente da venda do gado no litoral e do couro para exportação. A 
condição fundamental para sua expansão era o aumento vegetativo da população animal 
e a disponibilidade de terras. Dada a natureza dos pastos do sertão nordestino, a carga 
que suportavam essas terras era extremamente baixa. Devido a esse fato, os rebanhos 
penetraram no interior cruzando o rio São Francisco e alcançando o rio Tocantins e, 
para o norte, o Maranhão no início do século XVII. 
Ao contrário da economia açucareira, a criação de gado representava um 
mercado de ínfimas dimensões, restrito à própria subsistência de sua população. Era 
incontestável o fato de que essa economia pecuária nunca teve maior expressão na 
 
7
 Com o surgimento das atividades mineradoras nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, a pecuária ampliou 
seu mercado consumidor estabelecendo novas frentes de expansão no Nordeste e na região Sul do 
território. 
31 
 
economia colonial, nem para o próprio Nordeste, nem para o resto da Colônia. Além 
disso, destaca o fato de que tal economia extensiva não podia dar lugar senão a uma 
estrutura social pobre, pouco diferenciada, cuja posição na estrutura de poder regional 
não chegava a ser notada. 
Cabe ressaltar que a estagnação da produção açucareira na segunda 
metade do século XVII contribuiu decisivamente para que parte da população não-
escrava ou livre fosse atraída pela fronteira móvel do interior onde se localizava a 
criação de gado. Dessa forma, quanto menos favoráveis fossem as condições da 
economia açucareira maior era a tendência à emigração populacional para o interior. As 
possibilidades da pecuária para receber novos contingentes de população, quando 
existia abundância de terras, eram bastante grandes. 
Em épocas de depressão da economia açucareira, havia também a 
intensificação do uso da pecuária em economia de subsistência. A penetração dos 
portugueses em pleno estuário do Rio da Prata, onde em 1680 fundaram a Colônia do 
Sacramento, constituiu assim outro episódio da expansão territorial do Brasil ligada às 
vicissitudes da etapa de decadência da economia açucareira e a criação de gado. 
 
7. MINEIRAÇÃO 
Embora o Brasil não tivesse revelado grandes depósitos auríferos na fase 
do descobrimento ao longo do tempo e com a colonização seguindo cada vez mais ao 
interior começou a aparecer ouro de aluvião na capitania de São Vicente. Brás Cubas 
localizou em 1560 terrenos aluviais nas ribeiras da Baixada Santista, que se estendiam 
de Santos até Iguape e Paranaguá alcançando planalto de Curitiba. Porém a 
agroindústria açucareira e seus lucros absorviam os meios de produção da colônia e 
mantinham o colono preso a seus interesses na faixa litorânea. 
Mas quando a economia açucareira deu os primeiros sinais de estagnação 
o governo português deu maior atenção a mineração e então foram enviados para o 
Brasil experientes especialistas da Europa para ensinar as técnicas de localização de 
minas aos bandeirantes, os quais logo se tornaram hábeis pesquisadores. Entre os 
especialistas estava o mineralogista frei Pedro de Souza que ao pesquisar a região de 
Araçoiaba (SP) motivou as primeiras tentativas de exploração de minério de ferro. A 
partir de 1660 começou a se tornar mais frequente a descoberta de depósitos 
aluvionarios no altiplano da Mantiqueira, Bahia, Pernambuco e São Paulo. 
32 
 
Em 1664 Lourenço Castanho Taques foi elogiado em Carta Régia pela 
descoberta de minas nos campos de Cataguases e nos sertões de Caetés. Em 1680 houve 
um surto de mineração em Paranaguá atraindo bandeirantes para a região durante algum 
tempo. Em 1694 a lei reinol garantiu posse das minas aos seus descobridores e por falta 
de maiores incentivos a Coroa Portuguesa em Carta Régia de 1696 concedeu privilégios 
e status de nobreza aos que se ocupassem do trabalho de mineração, assim sendo 
criando uma aristocracia dos bandeirantes que primeiro localizavam e exploravam as 
minas de ouro e diamante. 
A partir de então, a mineração passou a ser a atividade econômica mais 
importante da colônia. Foram descobertas minas de ouro também em Mato Grosso e em 
Goiás, ainda na primeira metade do século XVIII. 
Assim, com a descoberta das minas gerais, iniciam-se modificações na 
economia brasileira, pois há transferência de parte da mão-de-obra das plantações de 
açúcar para as jazidas. O eixo econômico colonial é transferido do nordeste para a 
região da mineração. Nas minas existiam dois tipos de trabalhadores: os das lavras, 
mão-de-obra escrava, e os faiscadores, livres e autônomos. 
Os escravos em sua maioria eram deslocados dos engenhos, atendendo a 
necessidade de exploração das jazidas. As minas gerais exigiram a criação de uma 
economia secundária de abastecimento aos mineradores. ―A agricultura e mais em 
particular a pecuária desenvolver-se-ão grandemente nestas regiões‖ (PRADO JUNIOR, 
1978, p. 65). Os metais preciosos retirados do solo colonial eram enviados para a 
metrópole, apesar do alto nível de prosperidade da região, estes metais não geraram 
grande riqueza à colônia. 
O governo controlava rigidamente a exploração do ouro, e retinha parte 
do ouro encontrado: a quinta parte de todo o outro produzido nas minas era destinada ao 
governo. Este imposto ficou conhecido como ―o Quinto‖. A mineração tomou o lugar 
do açúcar, era o ciclo do ouro! Portugal encontrou uma nova fonte de recursos, porém 
acabou perdendo boa parte desta riqueza para a Inglaterra, via uma balança comercial 
desiquilibrada e uma sangria de recursos para pagar dívidas de inúmeros empréstimos. 
No país, o eixo da economia mudava, e assim também a capital, que se 
transferia da Bahia para o Rio de Janeiro. A sociedade mineradora, diferente da 
açucareira, era um povo mais urbano e diversificado,composto pelos donos das minas, 
pelos funcionários da Coroa, pelos chamados homens livres (profissões de prestígio 
33 
 
como advogados, médicos, religiosos e militares), pela classe dos trabalhadores 
(profissões mais populares como sapateiros, alfaiates, etc.) e pelos escravos. 
Ao abrir-se como um grande mercado, a mineração foi responsável pela 
articulação econômica da colônia, integrando não apenas São Paulo, Rio e Bahia, mas 
também, através de São Paulo, a região sulina como um todo. A economia mineira 
possibilitou, portanto, uma efetiva articulação entre as diferentes regiões do sul do país. 
Na época do ouro houve um grande florescimento da vida artística em 
Minas Gerais. As irmandades viviam disputando qual delas possuía a igreja mais bonita; 
e para isso, contratavam poetas, músicos, escultores e pintores para trabalharem em 
sujas igrejas. Aleijadinho e Mestre Ataíde são os principais exemplos destes artistas 
barrocos. O Barroco surgiu na Itália e logo se espalhou pelo mundo. No barroco 
mineiro, uma recriação do modelo europeu, predomina as emoções, os contrastes e a 
opulência. O Barroco tem uma forte ligação com a religião católica. São nas igrejas que 
encontramos suas principais realizações, principalmente em cidades como Ouro Preto, 
Mariana e outras cidades históricas mineiras. 
Havia, basicamente, dois tipos de ―empresas‖ mineradoras: a lavra 
(grande extração) e a faiscação (pequena extração). A lavra consistia numa exploração 
de dimensão relativamente grande em jazidas de importância e utilizava amplamente o 
trabalho escravo. À medida que essas jazidas iam se esgotando e sua exploração 
tomava-se antieconômica, ocorria o deslocamento das lavras para outras jazidas, 
deixando o que restara da anterior para a faiscação, praticada por pequenos mineradores. 
No Brasil, o ouro encontrava-se depositado na superfície ou em pequenas 
profundidades: inicialmente exploravam-se os veios (nos leitos dos rios), que eram 
superficiais; em seguida, os tabuleiros (nas margens), que eram pouco profundos; e, 
finalmente, as grupiaras (nas encostas), que eram mais profundas. Dizemos, por isso, 
que predominou o ouro de aluvião, que era depositado no fundo dos rios e de fácil 
extração, ao contrário das minas de prata do México e do Peru, que dependiam de 
profundas escavações. 
A extração do ouro de aluvião era, portanto, mais simples, mas de 
esgota-mento mais rápido. Por essa razão, mesmo na organização das lavras, as 
empresas eram concebidas de modo a poderem se mobilizar constantemente, conferindo 
à atividade mineradora um caráter nômade. Por conseguinte, o investimento em termos 
de equipamento não podia ser de grande vulto. Seguindo as características de toda a 
economia colonial, a mineração era igualmente extensiva e utilizava o trabalho escravo. 
34 
 
A técnica de extração, por sua vez, era rudimentar e mesmo o número de 
escravos para cada lavra era reduzido, embora haja notícias de lavras com mais de cem 
escravos. Na realidade, a manutenção de uma em-presa com elevado e permanente 
número de escravos era incompatível com a natureza incerta das descobertas e da 
produtividade das minas. 
O declínio da mineração. A partir da segunda metade do século XVIII, a 
atividade mineradora começou a declinar, com a interrupção das descobertas e o 
gradativo esgotamento das minas em operação. O predomínio do ouro de aluvião, de 
fácil extração, não requeria uma tecnologia sofisticada. Porém, à medida que esses 
depósitos aluvionais se esgotavam, era necessário passar para a exploração das rochas 
matrizes (quartzo itabirito) extremamente duras e que demandavam uma tecnologia com 
maiores aperfeiçoamentos. Chegando nesse ponto, a mineração entrou em acentuada 
decadência. 
A quase completa ignorância dos mineradores (o conhecimento que se 
tinha era fruto da experiência) e a utilização pouco frequente de novas técnicas, por falta 
de interes-se e de capital, selaram o destino das minas no Brasil. A atividade se manteve 
porque a área de exploração era grande e as explorações foram conquistando essa região 
até que ela se exaurisse completamente nos inícios do século XIX. 
 
8. PRIMEIRO IMPÉRIO 
 
8.1. Processo de Independência 
Em 1808, a Família Real portuguesa fugiu de Portugal para o Brasil, após 
a invasão das tropas de Napoleão Bonaparte e contando com o auxílio da Inglaterra. 
Esse episódio foi extremamente importante para a Independência do Brasil, pois a 
presença dos membros da Família Real, comandada por Dom João VI, mudou o cenário 
social e cultural do Rio de Janeiro. Além de permitir a abertura econômica da colônia, 
possibilitando uma troca de mercadorias, foi responsável por dinamizar a economia e 
criar uma infraestrutura maior para o aparato de Estado em terras brasileiras. 
Com a assinatura dos Tratados de 1810 (Comércio e Navegação e 
Aliança e Amizade - Abertura dos Portos), Portugal perdeu definitivamente o 
monopólio do comércio brasileiro e o Brasil caiu diretamente na dependência do 
capitalismo inglês. 
35 
 
Celso Furtado (2007) destaca que a Abertura dos Portos leva a economia 
brasileira a um avanço nunca antes alcançado. A coroa portuguesa, porém, eleva os 
gastos da colônia. A chegada dos nobres ao Brasil leva a uma grande mudança nos 
hábitos coloniais, causando uma sofisticação das elites locais. Estas transformações 
levam a elevação dos custos de importações de produtos de luxo. Nisto o Brasil viverá 
em constante déficit orçamentário levando à crise do regime servil e fim do tráfico. Na 
verdade com o advento do capital industrial é necessária uma mudança nas estruturas 
econômicas coloniais, é preciso estimular o comércio interno que só poderá existir com 
o surgimento de uma classe de trabalhadores livres, ou seja, não há lugar para a mão-de-
obra escrava. 
Em 1815, os membros da Família Real elevaram o Brasil da condição de 
colônia portuguesa à de Reino Unido de Portugal e Algarves. A Família Real 
portuguesa permaneceu no Brasil até 1821, quando em Portugal estourou uma rebelião 
na cidade do Porto, cujos efeitos se fizeram sentir no Brasil, gerando uma forte oposição 
à coroa portuguesa. Com a volta de D. João VI a Portugal, seu filho, Pedro de Alcântara 
de Bragança e Bourbon, permaneceu como príncipe regente no Brasil. 
A aristocracia rural brasileira encaminhou a independência do Brasil com 
o cuidado de não afetar seus privilégios, representados pelo latifúndio e escravismo. 
Dessa forma, a independência foi imposta verticalmente, com a preocupação em manter 
a unidade nacional e conciliar as divergências existentes dentro da própria elite rural, 
afastando os setores mais baixos da sociedade representados por escravos e 
trabalhadores pobres em geral. 
Em 1820, a burguesia mercantil portuguesa colocou fim ao absolutismo 
em Portugal com a Revolução do Porto. Implantou-se uma monarquia constitucional, o 
que deu um caráter liberal ao movimento. Mas, ao mesmo tempo, por tratar-se de uma 
burguesia mercantil que tomava o poder, essa revolução assume uma postura 
recolonizadora sobre o Brasil. Dom João VI retorna para Portugal e seu filho aproxima-
se ainda mais da aristocracia rural brasileira, que sentia-se duplamente ameaçada em 
seus interesses: a intenção recolonizadora de Portugal e as guerras de independência na 
América Espanhola, responsáveis pela divisão da região em repúblicas. 
Com a volta de Dom João VI para Portugal e as exigências para que 
também o príncipe regente voltasse, a aristocracia rural brasileira passa a viver sob um 
difícil dilema: conter a recolonização e ao mesmo tempo evitar que a ruptura com 
36 
 
Portugal assumisse o caráter revolucionário-republicano que marcava a independência 
da América Espanhola, o que evidentemente ameaçaria seus privilégios. 
Dom Pedro é sondado para ficar no Brasil, pois sua partida poderia 
representar o esfacelamento do país. Era preciso ganhar o apoio de Dom

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