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1ºAula O mercantilismo e a fi siocracia Objetivos de aprendizagem Ao término desta aula, vocês serão capazes de: • conhecer a trajetória inicial do Pensamento Econômico. • identificar os aspectos mais importantes das doutrinas do mercantilismo e da fisiocracia. • construir uma base sólida para o estudo da História do Pensamento Econômico. Chegou a hora de iniciarmos nossos estudos sobre a História do Pensamento Econômico. Espero que estejam todos empolgados para conhecerem os principais pensadores econômicos e suas principais teorias que evoluíram os princípios econômicos ao longo dos séculos. Iniciaremos com uma abordagem sobre o mercantilismo e suas principais realizações que tiveram como foco o comércio exterior e a acumulação de riqueza, posteriormente estudaremos a fisiocracia e sua abordagem naturalista e individualista. Bons estudos! História do Pensamento Econômico 6 1 - O Mercantilismo 2 - A Fisiocracia A História é uma ferramenta de grande importância para a humanidade. Com a compreensão da História é possível entender os fatos mais importantes, que acompanharam a humanidade ao longo dos séculos. A História Econômica é de suma importância, tanto a pré-clássica quanto a atual, para que se possa compreender a complexidade da ciência econômica e da sociedade. A partir de 1.776, com a publicação da obra A Riqueza das Nações, de Adam Smith, a Economia surgiu como Ciência. Antes, fazia parte de uma pequena parte da Filosofi a e do Direito. Com o Mercantilismo e a Fisiocracia, ocorreu o desenvolvimento das ideias econômicas. 1 - O Mercantilismo O Mercantilismo se iniciou em um período em que a Europa passava por uma aguda escassez de ouro e prata não tendo condições de atender ao crescente volume do comércio daquela época, devido à escassez da moeda. Algumas políticas mercantilistas foram estipuladas para atrair ouro e prata para um determinado país, mantendo esta riqueza dentro do próprio país, restringindo assim suas exportações, desde o fi m da Idade Média até os séculos XVI e XVII. CURIOSIDADE Grandes transformações ocorrem neste período como o crescimento e o desenvolvimento das cidades tanto em matéria comercial quanto de produção. O pensamento religioso se enfraquecia, surge uma forte centralização política e a criação das nações modernas e das monarquias absolutas. Assim, enriquecer não constituía mais um pecado. O Mercantilismo juntamente com o Renascimento cultural e científi co, mudaram os horizontes da Europa a partir de 1.450. A exaltação do individualismo, da atividade econômica e do êxito material deu grande impulso à Economia (SANCHES, 2010). MERCANTILISMO Uma das primeiras doutrinas econômicas, muito usada até o fi nal do século XVIII. Não foi uma doutrina consistente e coerente, mas um conjunto de ideias econômicas de cunho protecionista, desenvolvidas em diversos países, as quais variavam um pouco em função dos interesses de cada país (LACOMBE, 2004). Assim, transformações ocorreram na Europa, no âmbito político, ocasionando o enfraquecimento dos feudos e a centralização da política nacional. Aos poucos, a economia nacional, integrada ao Estado, foi se formando. Internacionalmente, as grandes descobertas marítimas e o Seções de estudo grande afl uxo de metais preciosos para a Europa, acabaram deslocando o eixo econômico do Mediterrâneo para novos centros como Londres, Amsterdã, Lisboa, Madri, etc. Até então, a ideia mercantilista dominante era a de que a riqueza de um país era auferida pela concentração e afl uxo de metais preciosos (SANCHES, 2010). VALE A PENA REPETIR! A ideia mercantilista dominante era a de que a riqueza de um país pudesse ser medida pela concentração e afl uxo de metais preciosos. Desta forma, os mercantilistas sugeriam que se aumentassem as exportações e controlassem as importações, garantiriam um afl uxo positivo de ouro e prata para seu país. Surge, na França, a proteção à indústria, com o fi m de assegurar exportações mais regulares e com maior valor. Com o objetivo de maximizar o saldo comercial e o afl uxo de metais preciosos, as Metrópoles estabeleceram um “pacto colonial” com suas colônias. Por meio desse “pacto”, todas as importações da colônia passaram a ser provenientes de sua Metrópole, assim como todas as suas exportações seriam destinadas a ela exclusivamente. Assim, o transporte dessas mercadorias também seria monopolizado pela Metrópole. IMPORTANTE! O Mercantilismo contribuiu decisivamente para estender as relações comerciais de âmbito internacional, constituindo uma fase de transição entre o feudalismo e o capitalismo moderno. Segundo Sanches (2010) o catolicismo, que estava presente no mercantilismo, e que condenava a aquisição de bens materiais, fazia um contraponto negativo, ou seja, entrava em confl ito com os interesses dos mercadores- capitalistas. Assim, aos poucos, o Estado passou a ocupar o lugar da Igreja na função de supervisionar o bem-estar social. Gradativamente, os governos foram sendo infl uenciados pelo pensamento mercantilista. Desta forma, o Mercantilismo causou grandes distorções, como: • êxodo da agricultura em benefício da indústria; • excessiva regulamentação; • intervencionismo exagerado do Estado na atividade econômica. Aos poucos, foram surgindo novas teorias sobre o comportamento humano, de cunho liberal e individualista, mais de acordo com as necessidades da expansão capitalista (SANCHES, 2010). 2 - A Fisiocracia A Fisiocracia constitui a primeira escola econômica de caráter científi co, que foi liderada pelo médico francês François Quesnay (1694-1774), fundador da corrente fi siocrata e autor da obra Tableau Economique (O Quadro Econômico: análise das variações do rendimento de uma nação), publicada em 1758 em que apresenta a primeira análise sistêmica da formação de uma economia no formato macro. Quesnay tem uma grande importância na economia e foi o mais infl uente representante 7 da fi siocracia. CURIOSIDADE Fisiocracia signifi ca “poder da natureza”. Dentre suas principais características, destacam-se: • Comércio como atividade dominante; • Comércio interno como prioridade; • O Estado operava como um monopólio (toda atividade era comandada e controlada pelo Estado). FISIOCRACIA Foi um grupo de economistas franceses do século XVIII que arguiu as ideias mercantilistas e formulou, pela primeira vez, uma Teoria do Liberalismo Econômico. Segundo a Fisiocracia, a sociedade era formada por três classes: • a classe produtiva (agricultores); • a classe dos proprietários de terras; • a classe estéril (todos os que se ocupam do comércio, da indústria e dos serviços). VOCÊ SABIA! Que o objeto da investigação dos fi siocratas é o sistema econômico em seu conjunto, sendo este conjunto regido por uma ordem natural, à semelhança da ordem que rege a natureza física. Para os fi siocratas, a agricultura era considerada produtiva por ser a única fonte de geração de valor. A ideia de classe estéril resultou da reação fi siocrática contra a doutrina mercantilista. A moeda passou a ter apenas função de troca e não reserva de valor, pois esta se encontra na agricultura. A indústria e o comércio constituem desdobramentos da agricultura, pois apenas transformam e transportam valores. A terra produz valor por sua fertilidade, seguindo uma ordem natural e providencial. Desta forma, a agricultura precisava ser estimulada para aumentar o produto social. Contudo, os homens precisavam agir livremente, mesmo com uma lei natural regulando a situação econômica. Qualquer intervenção do Estado inibiria essa ordem natural, ao criar obstáculos à circulação de pessoas e de bens. Assim, o Estado indicava a redução da regulamentação ofi cial, para aumentar a produtividade da economia, e a eliminação de barreiras ao comércio interno e a promoção das exportações. Por outro lado, para manter baixos os preços das manufaturas e benefi ciar os consumidores, propunham o combate aos oligopólios e ofi m das restrições às importações (SANCHES, 2010). IMPORTANTE! A Fisiocracia formulou a Teoria do Liberalismo Econômico, que se manifestou em sua doutrina do laissez-faire, laissez-passer ... (deixai fazer, deixai passar). Desta forma, podemos entender que o pensamento fi siocrático foi uma resposta direta ao mercantilismo, concedendo, à ordem da natureza, uma economia inteiramente de mercado (capitalista), na qual cada um trabalha para os demais, ainda que acredite que trabalhe apenas para si mesmo. Retomando a aula Chegamos ao fi nal de nossa primeira aula, sobre a História do Pensamento Econômico. Esperamos que tenha fi cado mais claro o entendimento de vocês sobre estas duas doutrinas, Mercantilismo e Fisiocracia, que são a base para os estudos de História do Pensamento Econômico. Acreditamos que relendo o material, você irá expandir seus conhecimentos sobre o assunto já abordado. Por hora, vamos então, recordar! 1 - O Mercantilismo Entendemos que a doutrina Mercantilista foi uma das primeiras a vigorar no cenário econômico e que se estendeu até o final do século XVIII. Trata-se de uma doutrina que se baseava em um conjunto de ideias, econômicas, de cunho protecionista, desenvolvidas em diversos países, que variavam, conforme os interesses da época. 2 - A Fisiocracia O objetivo principal da fisiocracia era o sistema econômico, regido pela ordem natural, à semelhança da ordem que rege a natureza física. Combateu as ideias mercantilistas e formulou a Teoria do Liberalismo Econômico, priorizando o comércio (metrópole e colônia) e o monopólio do Estado. BRUE, S. L. História do Pensamento Econômico. Tradução Luciana Penteado Miguelino. São Paulo: Thompson Learning, 2006. https://www.youtube.com/watch?v=NRYtjAi- M2uY&list=PLPR0JNIMZL3grZJ05yS89zTwP1yUQIl- B1&index=4. Vale a pena assistir Vale a pena Minhas anotações 2ºAula A Escola Clássica de Smith, Malthus, Say e Ricardo Objetivos de aprendizagem Ao término desta aula, vocês serão capazes de: • conhecer um pouco mais sobre a evolução do Pensamento Econômico; • identificar os aspectos mais importantes acerca das teorias propostas pela Escola Clássica; • compreender as principais contribuições dos pensadores que marcaram a Escola Clássica: Adam Smith, Thomas Robert Malthus, Jean-Baptiste Say e David Ricardo. Conforme estudamos em nossa primeira aula, as doutrinas do Mercantilismo e da Fisiocracia nos forneceram a base necessária para entendermos o início dos estudos econômicos. Ao longo dos séculos estas ideias foram sendo estudadas por outros pensadores e foram sendo aperfeiçoadas, conforme veremos a seguir. Em nossa segunda aula, aprenderemos um pouco mais sobre a História do Pensamento Econômico estudando as teorias propostas pela Escola Clássica e seus principais Pensadores: Adam Smith, Thomas Robert Malthus, Jean-Baptiste Say e David Ricardo. Bons estudos! História do Pensamento Econômico 10 1 - A Escola Clássica de Adam Smith 2 - Thomas Robert Malthus 3 - Jean-Baptiste Say 4 - David Ricardo 1 - A Escola Clássica de Adam Smith Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Adam_Smith. Acesso em: 21/03/2020. Adam Smith (1723-1790) nasceu na Escócia, cursou as universidades de Glasgow e Oxford (1737-1746) e foi professor em Glasgow, de 1751 a 1764. Em 1759, publicou uma de suas duas principais obras: The Theory of Moral Sentiments, um tratado de fi losofi a social e moral. Passou dois anos na França, de 1764 a 1766, onde entrou em contato com os principais intelectuais franceses, dentre eles os fi siocratas Quesnay e Turgot. Em 1776, publicou sua obra mais importante: A Riqueza das Nações. Estabeleceu as bases científi cas da Economia Moderna ao atribuir como elemento essencial da riqueza, o trabalho produtivo, ao contrário dos mercantilistas e fi siocratas, que consideravam os metais preciosos e a terra como os geradores de riqueza nacional. Assim o valor pode ser gerado fora da agricultura. Aliado ao liberalismo e ao individualismo dos clássicos, o bem comum estava associado para contribuir na obtenção do máximo bem-estar social, ou seja, na maximização da satisfação pessoal, com o mínimo de dispêndio ou esforço. Segundo Adam Smith, esta harmonização seria feita por uma espécie de mão invisível. Seções de estudo IMPORTANTE A teoria da “mão invisível” do mercado foi peça crucial nas ideias de Adam Smith. O pensamento clássico fundamenta-se, no individualismo, na liberdade e no comportamento racional dos agentes econômicos, com a mínima presença do Estado, que teria como funções fundamentais a defesa, a justiça e a manutenção de certas obras públicas. A Escola Clássica priorizou a produção, deixando a oferta e a demanda para segundo plano. Para Adam Smith, considerado o maior dos clássicos e o pai da Ciência Econômica, o objeto da economia é estender bens e riquezas a uma nação. Nesse sentido, entende que a riqueza somente pode ser conseguida mediante a posse do valor de troca. Valor de troca, para Smith é a capacidade de obter riqueza, ou seja, a capacidade que a posse de determinado objeto oferece de comprar, com ele, outras mercadorias (SANCHES, 2010). VALE A PENA REPETIR! Para Adam Smith, o Valor de troca é a capacidade de obter riqueza, em outras palavras, a capacidade que a posse de determinado objeto oferece de comprar (trocar), com ele, outras mercadorias. Sanches (2010), nos proporciona um resumo das ideias defendidas pela Escola Clássica: • A mais ampla liberdade individual; • O direito inalienável à propriedade; • A livre iniciativa e a livre concorrência; • A não intervenção do Estado na economia. Adam Smith ensinou que a Economia Política tem como objetivo gerar riqueza para o indivíduo e o Estado, para o provimento de suas necessidades básicas. A riqueza aumenta pelo trabalho produtivo, fecundado pelo capital (SANCHES, 2010). Segundo Adam Smith, “são o trabalho e o esforço das pessoas que, por si sós, geram riqueza e tornam[…] o comércio lucrativo para a nação” (HUNT e LAUTZENHEISER, 2005 p. 68). Assim, o valor vem do trabalho e pode ser gerado fora da agricultura, desde que o preço de mercado supere o preço natural (ou custo de produção). A geração de riqueza de uma nação depende, portanto, da proporção entre o trabalho produtivo (que gera um excedente de valor sobre o seu custo de reprodução) e o trabalho improdutivo (como o dos criados). O emprego de trabalho produtivo depende da divisão do trabalho, e esta, da extensão dos mercados. A ampliação das trocas comerciais entre os países proporciona maior divisão do trabalho e especialização dos trabalhadores, aumentando a produtividade e o produto global (SANCHES, 2010). [...] “o valor das … (mercadorias), quando são trocadas umas pelas outras, é regulado pela quantidade de trabalho necessária e comumente usada em sua produção; e seu valor ou preço, quando são compradas e vendidas e comparadas com um meio comum, será determinado pela quantidade de trabalho empregada e pela maior ou menor quantidade 11 do meio ou da medida comum” (HUNT e LAUTZENHEISER, 2005 p. 69). Assim, Adam Smith afi rmou que o pré-requisito para qualquer mercadoria ter valor era que ela fosse o produto do trabalho humano. Entretanto, a teoria do valor-trabalho vai, além disso, afi rmando que o valor de troca de uma mercadoria é determinado pela quantidade de trabalho contido nessa mercadoria, mais a alocação relativa, em diferentes ocasiões, da mão de obra indireta (o trabalho que produziu os meios usados na produção da mercadoria) e da mão de obra direta (o trabalho que usa os meios para a produção da mercadoria) usadas na produção (HUNT e LAUTZENHEISER, 2005). 2 - Thomas Robert Malthus Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Thomas_Malthus - Acesso em: 21/03/2020. Thomas Robert Malthus (1766-1834) foi educado na Universidade de Cambridge, pois era fi lho de uma família inglesa de posses. Ocupou a primeira cátedra inglesa de Economia Política em 1834. Suas obrasrefl etem sua posição com relação aos confl itos existentes em sua época. Primeiro a Revolução Industrial, que só foi possível com sacrifícios e sofrimentos da classe operária e em segundo lugar, a antiga classe proprietária de terra ainda tinha o controle efetivo do Parlamento inglês travando um intenso confl ito entre as classes (HUNT e LAUTZENHEISER, 2005). Malthus escreveu muitos livros, panfl etos e ensaios durante sua vida. Seus escritos podem ser divididos em dois períodos, caracterizados por sua respectiva preocupação social dominante e por sua abordagem teórica. Na década de 1790 e no início da década de 1800, sua principal preocupação era com a inquietação dos trabalhadores e com os esquemas que estavam sendo defendidos por intelectuais radicais, com relação à reestruturação da sociedade, a fi m de promover o bem-estar e a felicidade dos trabalhadores. Estes esquemas, conforme Malthus percebeu corretamente, só poderiam tentar promover a causa dos trabalhadores em detrimento da riqueza e do poder das duas classes de proprietários, os capitalistas e os proprietários de terras (BRUE, 2006). CURIOSIDADE Malthus era defensor declarado dos ricos, e sua teoria da população serviu de arcabouço para defendê-los. Por volta de 1814 em diante, a principal preocupação de Malthus passou a ser com relação às Leis dos Cereais e à luta entre os proprietários de terras e os capitalistas. Nesse período, ele sempre defendeu os interesses da classe dos proprietários de terras. Em seu primeiro Ensaio, havia dois temas dominantes. O primeiro era o argumento de que, independente do êxito conseguido pelos reformadores, em suas tentativas de modifi car o capitalismo, a atual estrutura de proprietários ricos e trabalhadores pobres reapareceria inevitavelmente. Essa divisão de classes era, segundo Malthus, uma consequência inevitável da lei natural (HUNT e LAUTZENHEISER, 2005). O segundo tema que estava sempre presente em sua teoria da população era que a pobreza e o sofrimento desprezível eram o destino inevitável da maioria das pessoas, em toda sociedade. A teoria da população em que Malthus baseava essas conclusões era relativamente simples. Ele acreditava que quase todas as pessoas eram atraídas por um desejo quase que insaciável de prazer sexual e que, por isso, as taxas de reprodução, quando incontidas, levariam a aumentos em progressão geométrica da população (HUNT e LAUTZENHEISER, 2005). IMPORTANTE Para Malthus, a população duplicaria a cada geração, ele argumentava que “todos os animais têm uma capacidade de se reproduzir em progressão geométrica”. Era óbvio, para Malthus, que em nenhuma sociedade a população tinha crescido nesse ritmo durante muito tempo, porque, em muito pouco tempo, cada metro quadrado da terra estaria habitado. Então, a questão central a qual ele procurou responder se prendia às forças que tinham atuado para conter o crescimento da população no passado e quais as forças que, provavelmente, atuariam no futuro. A resposta mais imediata e óbvia era que a população de qualquer território era limitada pela quantidade de alimentos (HUNT e LAUTZENHEISER, 2005). VALE A PENA REPETIR! A população de qualquer território era limitada pela quantidade de alimentos. Isto, por si só, iria conter o crescimento populacional. A teoria da população de Malthus teria uma enorme infl uência intelectual. Inspirou Charles Darwin a formular sua teoria da evolução e algumas variantes dessa teoria da população são amplamente aceitas hoje em dia, principalmente em teorias que tratam dos países menos desenvolvidos. A orientação normativa da teoria continua existindo para nos convencer de que a pobreza é inevitável, de que pouco ou História do Pensamento Econômico 12 quase nada pode ser feito a seu respeito e de que ela é, em termos gerais, devida à fraqueza ou à inferioridade moral dos pobres (HUNT e LAUTZENHEISER, 2005). 3 - Jean-Baptiste Say Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jean-Baptiste_Say - Acesso em: 21/03/2020. Jean-Baptiste Say (1767-1832) considerava-se discípulo de Adam Smith. Dizia estar simplesmente sistematizando as ideias de Smith e corrigindo alguns pequenos erros por ele cometidos. A correção desses pequenos erros, porém, acabou levando ao abandono de algumas das ideias mais importantes de Smith e ao estabelecimento de uma base para uma tradição bastante diferente de teoria econômica. Say afi rmava que o preço ou o valor de troca de qualquer mercadoria dependia inteiramente de seu valor de uso ou utilidade. Para ele: O valor que a humanidade atribui aos objetos se origina do uso que deles possa fazer… Tomarei a liberdade de associar o termo utilidade à capacidade de certas coisas satisfazerem os vários desejos da humanidade… A utilidade das coisas é a base do seu valor e seu valor constitui riqueza… (HUNT e LAUTZENHEISER, 2005 p. 201). Rejeitando a noção de que o trabalho era a fonte do valor e insistindo em que só a utilidade criava valor, Say não só se desviou visivelmente das ideias de Smith e de Ricardo, como também inseriu a orientação da utilidade no contexto de uma abordagem metodológica e de uma fi losofi a social, que mostram ser ele, juntamente com Nassau Senior, os mais importantes precursores da tradição neoclássica que veio a dominar a economia em fi ns do século XIX e no século XX. VALE A PENA REPETIR! Say rejeitou a noção de que o trabalho era a fonte do valor. Para ele, só a utilidade criava valor. Nos escritos de Smith e Ricardo, fi ca claro que as rendas do trabalho são fundamentalmente diferentes das rendas baseadas na propriedade dos meios de produção. Reconhecendo a fonte dessa diferença, eles foram levados a concluir que o confl ito de classes caracterizava o capitalismo. Vimos, porém, que, quando eles retornaram à abordagem da troca ou da utilidade da teoria econômica, foram levados a concluir que o capitalismo de livre-mercado era, intrinsecamente, um sistema de harmonia social. Say resolveu esse dilema rejeitando completamente a perspectiva da produção ou a abordagem da teoria do valor- trabalho. Com base na utilidade, suprimiu totalmente a distinção teórica entre a renda das diferentes classes sociais. Em vez de ver o processo produtivo como uma série de trabalhos humanos visando à transformação de matérias- primas em bens utilizáveis, Say garantiu a existência de diferentes “agentes de produção”, que se combinavam para produzir as mercadorias. O que esses agentes de produção estavam produzindo era, em última análise, “utilidade”, e cada agente era igualmente responsável pela produção da utilidade. Esses agentes de produção incluíam “a capacidade humana, com a ajuda do capital e dos agentes naturais e das propriedades” e, juntos, criavam “todo tipo de utilidade, que é a fonte primária do valor”. Em outras palavras, não havia qualquer diferença qualitativa, na criação de utilidade, entre, de um lado, o esforço feito no trabalho humano e, de outro, a propriedade de capital, terra e outras propriedades. Say procurou defender a semelhança essencial entre o trabalho e a propriedade, argumentando que as mercadorias “tinham valor por causa da necessidade de dar alguma coisa em troca de sua obtenção”. IMPORTANTE Só se conseguiam objetos de riqueza com sacrifício humano. Say mostrou que os donos dos meios de produção recebiam suas rendas em troca de sacrifícios (HUNT e LAUTZENHEISER, 2005). Ele afi rmou que a sobriedade era a fonte da propriedade do capital, que exigia tanto sacrifício quanto o trabalho. Tendo, assim, argumentado que o trabalho e a propriedade do capital envolviam sacrifícios semelhantes e que trabalhadores e capitalistas tinham justifi cativas morais semelhantes para auferir suas rendas. Say foi um precursor da teoria neoclássica da distribuição, revendo inteiramente a relação que Smith e Ricardo tinham percebido entre distribuição de renda e valor das mercadorias. Enquanto Smith e Ricardo argumentaram que ospreços das mercadorias refl etiam o nível de salários e a taxa de lucro (embora, para Ricardo, essa infl uência tivesse importância secundária) e que os salários e a taxa de lucro eram determinados por outras considerações sociais e técnicas (isto é, a subsistência dos trabalhadores e a produtividade total do trabalho), Say argumentava que os salários e a taxa de lucro eram determinados pelas contribuições relativas para a criação de utilidade, dadas pelo trabalho e pelo capital. Outro aspecto importante dos escritos de Say era sua crença de que um mercado livre sempre se ajustaria automaticamente, em um equilíbrio em que todos os recursos, inclusive o trabalho, seriam plenamente utilizados, quer dizer, 13 em um equilíbrio com o pleno emprego, tanto do trabalho quanto da capacidade produtiva. 4 - David Ricardo Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/David_Ricardo - Acesso em: 21/03/2020. O britânico David Ricardo (1772 – 1823) foi o terceiro de 17 fi lhos de imigrantes judeus que se mudaram da Holanda para a Inglaterra. Desde cedo foi educado para os negócios de corretagem de ações de seu pai, em que ingressou aos 14 anos de idade. Aos 21 anos, casou-se com uma mulher quacre (membro de seita religiosa protestante inglesa) e abandonou as crenças judaicas. Após ter tomado tal decisão, seu pai o repudiou, embora eles tenham se reconciliado mais tarde. Posteriormente, conseguiu empréstimos por meio de banqueiros que o conheciam e que confi avam nele, Ricardo, muito jovem, ingressou no mercado de ações por conta própria. Em poucos anos, tinha acumulado mais riqueza do que seu pai e, aos 43 anos, aposentou-se dos negócios. Todavia, continuou cuidando de seus negócios ate morrer, aos 51 anos, deixando uma grande fortuna, dois terços dela em propriedades de terras e hipotecas (BRUE, 2006). Em sua obra Princípios de Economia Política e Tributação (1817), afi rmava que o maior problema da Economia Política está na distribuição do produto entre as classes sociais (proprietários da terra, capitalistas arrendatários e trabalhadores). Isso ocorre porque a proporção do produto total destinado a cada classe varia no tempo, uma vez que depende da fertilidade do solo, da acumulação do capital, do crescimento demográfi co e da tecnologia. Assim, determinar as leis que regulam essa distribuição é a principal questão da Economia. Ricardo transferiu o centro do problema da análise econômica da produção para a distribuição, sendo uma de suas grandes contribuições à teoria do valor. Ele se interessou pelos preços relativos mais que pelos absolutos; queria descobrir a base da relação de troca entre as mercadorias. A mercadoria obtém seu valor de duas fontes: de sua escassez e da quantidade de trabalho necessário para obtê-las. Sobre a Teoria do Valor, Ricardo afi rma que : Seu valor é totalmente independente da quantidade de trabalho originalmente necessária para a sua produção e varia em razão da riqueza e das tendências mutantes daqueles que estão ansiosos para possuí-las (BRUE, 2006 p. 107). Ricardo desenvolveu, de forma mais clara e completa, a noção da Lei dos Rendimentos Decrescentes. Ao utilizar esse conceito para desenvolver sua Teoria da Renda, se tornou o primeiro economista a formular um principio marginal na análise econômica. Sua teoria da renda, portanto, é produtiva para a posterior promoção da escola marginalista, ocupando lugar de destaque em sua análise. IMPORTANTE Segundo Ricardo, “renda é aquela porção da produção da terra que é paga aos seus proprietários pelo uso dos poderes originais e indestrutíveis do solo” (BRUE, 2006). Assim, as diferenças na qualidade da terra determinariam que, enquanto os proprietários das terras férteis obteriam rendas cada vez mais altas, a produção nas terras de qualidade pior geraria só o sufi ciente para cobrir os custos e não produziria renda. Segundo Ricardo: Desse modo, pode-se argumentar que a renda e os lucros poderiam ser isolados, considerando o caso da terra sem renda, na qual o rendimento consistiria inteiramente nas entradas derivadas de capital (SANCHES, 2010 p. 15). Ricardo pensava que o aumento da população acompanhava o crescimento econômico, e este crescimento traria consigo um aumento das necessidades de alimentos, que poderiam ser satisfeitas só a custos mais altos. Para manter os salários reais no seu nível anterior, seriam necessários salários monetários mais altos, o que faria a participação dos lucros no produto diminuir. Assim, Ricardo demonstrou que o processo de expansão econômica poderia minar suas próprias bases. Contudo, a função de produção ricardiana apresenta rendimentos decrescentes e a economia caminha para um estado de estagnação no longo prazo. O grande problema para os economistas clássicos era a sociedade atingir esse estado estacionário, de crescimento zero, sem que a população tenha atingido o máximo bem-estar (SANCHES, 2010). Ricardo foi também o primeiro que desenvolveu a teoria dos custos comparativos, defendendo que cada país deveria especializar-se naqueles produtos que têm um custo comparativo mais baixo, e importar aqueles cujo custo comparativo fosse mais alto. Essa é sua base da política de livre comércio, para bens manufaturados. Segundo essa política, cada país deve dedicar seu capital e trabalho aquelas produções que se mostram mais lucrativas. Dessa forma, o História do Pensamento Econômico 14 Sobre a vida e obra dos principais economistas em: http://www.pensamentoeconomico.ecn.br/. Economia (Adam Smith): https://www.economiabr. net/economia/1_hpe4.html. Escola Clássica: https://www.youtube.com/watch?v=M4WcIHv tWPY&list=PLPR0JNIMZL3grZJ05yS89zTwP1yUQIl B1&index=3. Vale a pena assistir Vale a pena trabalho seria distribuído com maior efi ciência e, ao mesmo tempo, aumentaria a quantidade total de bens, o que contribui para o bem-estar geral. A teoria dos custos comparativos harmoniza os interesses dos diferentes países nos assuntos internacionais (SANCHES, 2010). Retomando a aula Finalizamos nossa aula sobre a Escola Clássica e seus principais pensadores. Assim, avançamos um pouco mais sobre as características e as teorias que marcaram a Escola Clássica na fi gura de seus principais pensadores. Esperamos que você tenha gostado da leitura até aqui e que tenha fi cado mais claro o entendimento sobre esta parte da História do Pensamento Econômico. Assim que possível, releia atentamente o material para que consiga expandir, um pouco mais, seus conhecimentos. Por hora, vamos então, recordar! 1 - A Escola Clássica de Adam Smith A Escola Clássica traça uma linha de pensamento econômico baseada em Adam Smith e David Ricardo. Desta forma e Economia adquiriu caráter científico, à medida que passou a centralizar a abordagem de Adam Smith para a teoria do valor-trabalho, que identificava no trabalho, em geral, sua única fonte de valor. 2 - Thomas Robert Malthus A mais famosa de suas ideias, dizia que, enquanto a população tinha tendência a crescer de forma geométrica, os alimentos cresciam de forma aritmética. 3 - Jean-Baptiste Say Após ter estudado profundamente a obra de Adam Smith, Say acreditava na liberdade do mercado e criou uma lei que acabou levando o seu nome, “A Lei de Say”, que diz o seguinte: a oferta cria sua própria demanda, ou em outras palavras, a própria produção estimula o crescimento da produção. 4 - David Ricardo Um dos mais importantes pensadores da Corrente Clássica, David Ricardo, em oposição ao mercantilismo, formulou um sistema de livre comércio e produção de bens que permitiria a cada país se especializar na fabricação dos produtos nos quais tivesse vantagem comparativa, também chamado de Sistema de Custos Comparativos. Minhas anotações 3ºAula A nova concepção de valor de William Stanley Jevons, Jeremy Bentham, Frédéric Bastiat e John Stuart Mill Objetivos de aprendizagem Ao término desta aula, vocês serão capazes de: • compreender maisuma fase na evolução da História do Pensamento Econômico; • identificar um pouco mais os aspectos de relevância acerca das teorias propostas pela Escola Clássica, na ótica de dois novos pensadores (Bentham e Mill); • estudar as principais contribuições da Escola Marginalista através dos estudos sobre William Stanley Jevons e Frédéric Bastiat. Em nossa segunda aula, aprendemos mais sobre a História do Pensamento Econômico estudando as teorias propostas pela Escola Clássica e seus principais pensadores: Adam Smith, Thomas Robert Malthus, Jean-Baptiste Say e David Ricardo. Nesta terceira aula, aprenderemos um pouco mais sobre a Escola Clássica através dos estudos sobre Jeremy Bentham e John Stuart Mill. Além da Escola Clássica, também discutiremos a chamada Escola Marginalista, através dos estudos sobre William Stanley Jevons e Frédéric Bastiat. Vamos então avançar um pouco mais na sequência da evolução histórica das teorias econômicas. Bons estudos! História do Pensamento Econômico 16 1 - A nova concepção de valor de William Stanley Jevons 2 - Jeremy Bentham 3 - Frédéric Bastiat 4 - John Stuart Mill 1 - A nova concepção de valor de William Stanley Jevons Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/William_ Stanley_Jevons – Acesso em: 21/03/2020. William Stanley Jevons (1835-1882) nasceu em Liverpool, na Inglaterra. Passou cinco anos na Austrália como avaliador na Casa da Moeda, onde ganhou o sufi ciente para voltar a Inglaterra e prosseguir seus estudos. Ficou desapontado quando não ganhou o prêmio de economia política na University College, em Londres, e atribuiu sua derrota ao preconceito de seus professores em relação às novas ideias que estava desenvolvendo. Publicou vários livros sobre lógica e tornou-se professor de economia política, fi losofi a e também de lógica, primeiro em Manchester e depois na University College. Ele inventou uma máquina lógica, exibida para a Sociedade Real, em 1870, capaz de produzir mecanicamente uma conclusão a partir de qualquer conjunto defi nido de premissas. Jevons também fi cou famoso como historiador de ciência e contribuiu bastante para o desenvolvimento dos números- índices. Ele era extremamente introvertido e não teve muita infl uência sobre seus colegas ou estudantes mais imediatos. INTERESSANTE Jevons simpatizava com a análise econômica apresentada por Sênior. Ele aprimorou a Teoria do Valor levando em consideração a utilidade. Em suas palavras: A refl exão e o questionamento contínuos Seções de estudo levaram-me à opinião, de certa forma nova, de que o valor depende totalmente da utilidade. As opiniões correntes consideram o trabalho, em vez da utilidade, a origem do valor. Por outro lado, existem também aqueles que afi rmam que a mão-de-obra é a causa do valor. Diferentemente, eu mostro que temos somente de escrever cuidadosamente as leis naturais da variação da utilidade, como dependendo das quantidades de nossas posses, para chegar a uma teoria de troca satisfatória, das quais as leis comuns de oferta e demanda sejam consequências necessárias. Essa teoria está em harmonia com os fatos e, sempre que houver qualquer motivo aparente para se acreditar que a mão-de-obra seja a causa do valor, obteremos uma explicação sobre a razão. Normalmente, considera-se que o trabalho é que determina o valor, mas somente de forma indireta, variando o grau de utilidade da mercadoria por meio de um aumento ou uma limitação da oferta (BRUE, 2006 P.232). Para explicar a teoria do valor de Jevons, é preciso começar através de sua teoria da lei de utilidade marginal decrescente. Então, voltaremos nossa atenção para essas noções de comportamento racional do consumidor, troca individual e comercial e total otimizado do trabalho. CURIOSIDADE Jevons rejeitava a comparação da intensidade dos prazeres e dos esforços entre pessoas diferentes. Segundo Jevons, a utilidade marginal: Seu grau varia de acordo com a quantidade da mercadoria e, consequentemente, diminui à medida que a quantidade aumenta. Não há mais nenhuma medida que continuamos a desejar com a mesma força, seja qual for a quantidade já em uso ou possuída (BRUE, 2006 p. 233). A lei da utilidade marginal decrescente resolveu o paradoxo da água e do diamante que confundia alguns dos economistas clássicos. Adam Smith acreditava que a utilidade não tem nada a ver com a grandeza do valor de troca, porque a água é mais útil que o diamante, embora os diamantes sejam mais valiosos do que a água. O princípio da utilidade marginal decrescente revela que, embora a utilidade total da água seja maior que a utilidade total dos diamantes, o “grau fi nal de utilidade” ou a utilidade marginal do diamante é bem maior que a utilidade marginal da água. Deveríamos preferir ter toda a água do mundo e nenhum diamante, em vez do contrário; contudo, preferimos ter um diamante extra a uma unidade extra de água, uma vez que temos um grande estoque dela. Assim, Jevons utilizou a noção da utilidade fi nal (utilidade marginal) para formalizar uma teoria geral da escolha racional. Abordou também a Teoria da troca e o Trabalho. 17 2 - Jeremy Bentham Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jeremy_Bentham - Acesso em: 21/03/2020. O inglês, Jeremy Bentham teve uma carreira longa como autor e teórico social que durou mais de 60 anos (1770 - 1832), ele escreveu e publicou muitos escritos sobre tópicos econômicos ao longo dos anos. VOCÊ SABIA QUE: “Bentham não foi apenas um adepto entusiasta da escola clássica, mas também deu algumas contribuições válidas para a fi losofi a e a economia” (BRUE, 2006 p. 122). Em 1780, um de seus trabalhos, An Introduction to the Principles of Morals and Legislation, teve grande infl uência sobre a teoria econômica do século XIX. Mesmo que seu trabalho não trate, de forma direta, de teoria econômica, ele contém uma apresentação bem elaborada da fi losofi a social utilitarista, que se tornaria a base fi losófi ca da economia neoclássica nas últimas décadas do século XIX. IMPORTANTE: O tema central do pensamento de Bentham é chamado de utilitarismo ou princípio da felicidade maior. A respeito de seu trabalho, Bentham descreve alguns fundamentos do utilitarismo como podemos notar abaixo: A natureza colocou a humanidade sob o domínio de dois mestres soberanos, a dor e o prazer. Só eles podem mostrar o que devemos fazer, bem como determinar o que faremos… Eles nos governam em tudo o que fazemos, em tudo o que dizemos, em tudo o que pensamos… O princípio da utilidade reconhece essa sujeição e a aceita como o fundamento (de sua teoria social) (BRUE, 2006 p. 123). Desta forma, afi rmou que toda motivação humana, pode ser reduzida a um único princípio, o desejo de maximizar a utilidade. Utilidade quer dizer a propriedade de qualquer objeto que tenda a produzir algum benefício, vantagem, prazer, bem ou felicidade (tudo isso, no caso, equivale à mesma coisa) ou (o que de novo equivale à mesma coisa) a impedir danos, dor, mal ou infelicidade à parte cujo interesse esteja sendo considerado (HUNT e LAUTZENHEISER, 2005 p. 194). Essas motivações, segundo Bentham, eram apenas manifestações de desejo, do prazer e também da tentativa de evitar a dor. Como a dor era uma forma de prazer negativo, o princípio da utilidade de Bentham também podia ser expresso como “toda atividade humana é derivada do desejo de maximizar o prazer”. Bentham acabou reduzindo todos os motivos humanos a um único princípio achando ter encontrado a chave da elaboração de uma ciência do bem-estar ou da felicidade humana, que pudesse ser expressa matematicamente e que pudesse ser elaborada com a mesma exatidão numérica que a ciência Física. Para ele, “os prazeres… e a fuga à dor são… fi ns” – argumentava ele – que podem ser quantifi cados de modo tal que possamos “entender seu valor” (BRUE, 2006). VALE A PENA LEMBRAR! Para Bentham, “os seres humanos eram vistos como maximizadores calculistas do prazer, e também comofundamentalmente individualistas” (BRUE, 2006 p. 124). Assim, pode-se mencionar que a obra de Bentham acabou priorizando o individualismo. Em suas palavras: em todo coração humano o interesse próprio predomina sobre todos os outros interesses em conjunto… A preferência por si mesmo tem lugar em toda parte (HUNT e LAUTZENHEISER, 2005 p. 195). Ele acreditava que as pessoas também fossem essencialmente preguiçosas. Qualquer tipo de trabalho era considerado penoso e, portanto, o trabalho nunca seria feito sem a promessa de grande prazer ou de evitar dor maior. Conforme seus escritos: Aversão – é a emoção – a única emoção – que o trabalho, considerado em si mesmo, é capaz de gerar… Na medida em que o trabalho seja entendido em seu sentido apropriado, a expressão amor ao trabalho implica uma contradição de termos (HUNT e LAUTZENHEISER, 2005 p. 195). Suas ideias viriam a se tornar importantes no desenvolvimento subsequente da teoria do valor-utilidade. Adam Smith, conforme nos lembramos, rejeitou a noção de que a utilidade pudesse ser sistematicamente relacionada com o valor de troca. Embora Smith, Ricardo e Marx tenham percebido que as mercadorias deveriam ter valor de uso, a fi m de obterem valor de troca, não achavam que se pudesse encontrar uma explicação científi ca para a magnitude do valor de troca, examinando-se o valor de uso de uma mercadoria. Os proponentes posteriores da teoria do valor-utilidade rejeitariam o exemplo de Smith, argumentando que não era a utilidade total de uma mercadoria que determinava seu valor de troca, mas sua utilidade marginal, isto é, a utilidade História do Pensamento Econômico 18 adicional conseguida com um aumento pequeno, marginal, da mercadoria. Mais uma vez, Bentham foi um importante precursor dos teóricos posteriores da utilidade: Os termos riqueza e valor se explicam mutuamente. Um artigo só entra na composição de uma riqueza se possui algum valor. A riqueza se mede de acordo com os graus desse valor. Todo valor se baseia na utilidade… Onde não há utilidade, não pode haver valor algum (HUNT e LAUTZENHEISER, 2005 p. 195). Havia concordância, por parte de Smith e Ricardo, de que o valor de uso era uma condição necessária para o valor de troca, mas, como insistia Ricardo, quando se considera o valor fruto do trabalho, um aumento da produtividade do trabalho baixa o valor de uma mercadoria e aumenta a riqueza geral. Quando Bentham afi rmou que “a riqueza se mede pelo grau desse valor”, estava falando a partir da perspectiva da teoria da utilidade, na qual um aumento da utilidade aumenta o valor de uma mercadoria e, consequentemente, aumenta a riqueza de seu dono. Um pouco mais adiante Bentham criticou Smith e, consequentemente, chegou muito perto da elaboração explícita do princípio da utilidade marginal, que, mais tarde, deveria tornar-se o pilar da economia neoclássica. Segundo Bentham, “o valor de uso é a base do valor de troca… Essa distinção vem de Adam Smith, mas ele não associou a ela concepções claras” (BRUE, 2006 p. 196). Assim, Bentham não só formulou os fundamentos fi losófi cos da tradição posterior dos economistas neoclássicos, como também chegou muito perto de elaborar uma teoria da relação entre utilidade marginal e preço. VALE A PENA LEMBRAR! Conforme a teoria da utilidade, um aumento da utilidade aumenta o valor de uma mercadoria e, consequentemente, aumenta a riqueza de seu dono. O desenvolvimento de suas ideias também foi o prenúncio de uma importante cisão na abordagem ortodoxa da economia baseada na utilidade. No fi nal do século XVIII, ele era um porta-voz de uma política de laissez-faire, acreditando que o livre-mercado alocaria recursos e mercadorias da maneira socialmente mais benéfi ca possível. Em seus últimos escritos, alterou fundamentalmente sua posição. 3 - Frédéric Bastiat Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Fr%C3%A 9d%C3%A9ric_Bastiat. Acesso em: 21/03/2020. Frédéric Bastiat (1801 - 1850), francês, foi jornalista, fi lósofo, político e panfl etário, que viveu na primeira metade do século XVIII. Publicou seu livro, Economic Harmonies, em 1850, que representava o produto fi nal do utilitarismo econômico puro. A infl uência do socialismo francês estava se expandindo rapidamente na década de 1840. Nesse contexto, Bastiat procurou estabelecer a santidade da propriedade privada, do capital, do lucro e da distribuição da riqueza existente, o capitalismo concorrencial e o laissez-faire. Fez isso estendendo coerentemente os princípios do utilitarismo à teoria econômica (embora, conforme veremos depois, a teoria do valor-utilidade só tenha recebido sua formulação fi nal mais de duas décadas depois, em resposta à infl uência crescente das ideias socialistas). Seu livro mostrou a importância atribuída à rejeição da noção de que o confl ito de classes era inerente ao capitalismo. Em defesa de suas doutrinas, ele (como Sênior) apelou para a autoridade da Ciência. Discutindo a distinção entre Economia Política “científi ca” (em que seus favoritos eram, claramente, Say e Sênior) e o socialismo (em que seu oponente mais desprezado era, obviamente, Proudhon). Bastiat escreveu: O que estabelece a grande divisão entre as duas escolas é a diferença de método. O socialismo, como a Astrologia ou a Alquimia, adota a imaginação; a Economia Política, como a Astronomia e a Química, adota o método da observação.... Os economistas observam o homem, as leis de sua natureza e as relações sociais que se originam dessas leis. Os socialistas pensam numa sociedade usando a imaginação e, depois, concebem um coração humano que se enquadre nessa sociedade (HUNT e LAUTZENHEISER, 2005 p. 260). Priorizando a superioridade científi ca e religiosa de suas ideias, ele começou a desenvolver coerentemente a economia utilitarista. REFLEXÃO Bastiat é incisivo ao demonstrar que Deus nos deu a vida como presente, e que “foi pelo fato de a vida, a liberdade e a propriedade existirem antes que os homens foram levados a fazer as leis” (HUNT e LAUTZENHEISER, 2005 p. 260). Para ele, a utilidade de ambos os indivíduos aumenta depois da troca, sendo que a unanimidade prevalece. Bastiat citou Condillac, com aprovação: O próprio fato de ser feita uma troca é prova de que tem de haver lucro para ambas as partes contratantes; caso contrário, a troca não seria feita. Por isso, toda troca representa dois ganhos para a humanidade (HUNT e LAUTZENHEISER, 2005 p. 261). Assim, o utilitarismo requer unanimidade. Uma vez aceita a distribuição inicial de “coisas trocáveis”, a troca voluntária é um dos poucos aspectos da vida social no qual existe essa 19 unanimidade entre pessoas que interagem socialmente. Tanto a exigência de unanimidade quanto seu cumprimento no ato da troca são de grande importância para a moderna economia neoclássica. Na economia neoclássica utilitarista, todas as interações econômicas, políticas e sociais dos seres humanos se reduzem a atos de troca. Uma vez feita essa redução, o resultado é óbvio (HUNT e LAUTZENHEISER, 2005 p. 261). A teoria econômica utilitarista reduz-se a este silogismo: • Todas as trocas são mutuamente benéfi cas para todas as partes. • Todas as interações humanas podem ser reduzidas a trocas. • Logo, todas as interações humanas são benéfi cas para todas as partes. Através dos escritos de Bastiat que a orientação da utilidade foi formulada de forma coerente pela primeira vez, de modo a reduzir toda a teoria econômica a uma mera análise de troca no mercado (HUNT e LAUTZENHEISER, 2005 p. 262). Com relação às trocas, Bastiat declarou que “a troca é a Economia Política, é a própria sociedade, pois é impossível conceber a sociedade sem troca ou a troca sem a sociedade” (HUNT e LAUTZENHEISER, 2005 p. 262). Ele tentou provar que “os impulsos de todos os homens, quando motivados pelo interesse próprio e legítimo, se enquadram num padrão social harmonioso”, dizendo que “o interesse próprio é a molamestra da ação humana”. Os desejos ou as necessidades humanas eram insaciáveis, mas os meios para sua satisfação eram limitados: “O desejo vem à frente, ao passo que os meios fi cam para trás” (BRUE, 2006). 4 - John Stuart Mill Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/John_Stuart_Mill. Acesso em: 21/03/2020. John Stuart Mill (1806-1873) foi o último grande economista da escola clássica, sem dúvida o maior desde a morte de Ricardo, em 1823. Ele fez importantes e legítimas contribuições sistematizando e popularizando o pensamento econômico de seus predecessores. A escola clássica já estava em declínio e Mill baseou seu trabalho em alguns dos conceitos-chave construídos na estrutura clássica por Adam Smith e Ricardo. Antes de sua morte, a economia neoclássica tinha entrado em cena, fi nalmente, para mostrar seus ascendentes neoclássicos. Sua grande obra, Principles of political economy, publicada pela primeira vez em 1848 e reimpressa nos Estados Unidos em 1920, foi o principal resumo na área, pelo menos até a publicação de Principles of economics, de Alfred Marshall, em 1890. CURIOSIDADE Mill, começou a estudar lógica muito cedo e, aos 13 anos, passou a estudar economia política. Mill rejeitou o limitado e dogmático utilitarismo de Bentham, pois considerava também limitado seu ponto de vista de que os seres humanos são motivados, em sua conduta, por nada mais do que o amor-próprio e o desejo pela própria recompensa. Ele desprezou alguns conceitos de Bentham, como a busca do ser humano pela perfeição, honra e outros fi ns inteiramente por seus próprios objetivos, porém não abandonou as ideias utilitaristas, preferiu modifi cá-las. Estava preocupado, por exemplo, com a qualidade do prazer tanto quanto com a quantidade. VOCÊ SABIA! Mill fez a última grande tentativa de integrar a teoria do valor-trabalho e a perspectiva utilitarista. Mill foi o precursor da escola econômica neoclássica marshalliana, muito mais moderada, e que, quase sempre, defende reformas liberais e a intervenção governamental. Ele tinha um academicismo vasto e um estilo elegante, equivalentes à obra de Smith, A Riqueza das Nações, ele era eclético e suas doutrinas continham grandes incoerências. Iniciou seus Princípios com uma afi rmação que contradizia a maioria dos economistas teóricos anteriores a ele e que contradiz a economia neoclássica contemporânea. IMPORTANTE Mill escreveu: “A produção da riqueza não é, evidentemente, uma coisa arbitrária. Tem condições necessárias” (HUNT e LAUTZENHEISER, 2005 p. 272). Com isso, ele queria dizer que as leis da matéria e as consequências materiais de determinadas técnicas físicas de produção eram as mesmas, em todas as sociedades. Ele dizia que: “diversamente das leis da produção, as leis da distribuição são, em parte, uma instituição humana, isso porque a forma de distribuição da riqueza, em qualquer sociedade, depende dos regulamentos ou dos usos vigentes nessa sociedade” (HUNT e LAUTZENHEISER, 2005 p. 272). Com isso, ele queria dizer que as leis da propriedade e outras instituições que afetavam a distribuição da riqueza eram instituições humanas que tinham sido mudadas no passado e que, segundo ele, mudariam no futuro. Com essa rejeição da noção de que a propriedade privada era sagrada e mais a rejeição dos dois axiomas básicos do utilitarismo, não é de admirar que Mill tenha recusado a encarar a troca como o centro da economia política. Assim ele escreveu: A troca não é a lei básica da distribuição… da produção mais do que as estradas e as História do Pensamento Econômico 20 carruagens são as leis essenciais do movimento. É, simplesmente, parte da máquina de distribuição. Confundir essas ideias parece-me não só um erro lógico, como também um erro prático (HUNT e LAUTZENHEISER, 2005 p. 273). Para todos os utilitaristas coerentes, desde Bastiat até os contemporâneos, a troca tem sido o ponto central de toda a teoria econômica. A rejeição de Mill a essa abordagem seguiu- se à sua rejeição de dois princípios centrais do utilitarismo. Ele sempre professou ser discípulo de Bentham, e uma das obras mais conhecidas de Mill chamava-se Utilitarismo. Veremos mais adiante em nossa discussão, que Mill não acreditava que todos os atos fossem motivados pelo interesse próprio. Acreditava apenas que a maioria das pessoas, cujas personalidades fossem moldadas por uma cultura capitalista concorrencial, agia com base no interesse próprio, em seu comportamento econômico. Mill também insistiu em que alguns prazeres poderiam ser considerados moralmente superiores a outros. Se isso for verdade, e é claro que concordamos com Mill nesse ponto, terá de haver algum princípio superior ao princípio do prazer do utilitarismo pelo qual se tornem possíveis julgamentos morais de diferentes prazeres. É óbvio que esse princípio mais elevado, e não o princípio do prazer utilitarista, é que seria a fonte de julgamentos éticos. Mill afi rmou, repetidas vezes, que “alguns tipos de prazer são mais desejáveis e mais valiosos do que outros”. Em outras palavras, independentemente da quantidade de prazer envolvida, a poesia pode ser considerada mais desejável e mais valiosa do que apertar parafusos. É óbvio que isso é contrário ao utilitarismo. O prazer, segundo esse enfoque, não é o critério normativo fi nal. Mill não tinha dúvida alguma de que “era melhor ser um Sócrates insatisfeito do que um tolo satisfeito”. Isso destrói por completo a base sobre a qual os economistas utilitaristas, a partir de Bastiat, construíram teorias econômicas normativas procurando demonstrar a vantagem universal da troca. Podemos concluir que Mill tinha um ponto de vista utilitarista e apesar do utilitarismo ter infl uenciado signifi cativamente suas ideias, ele não era, com toda certeza, um utilitarista convicto. Mill apresentou a perspectiva da teoria do trabalho, onde dizia que a produção consistia, simplesmente, no trabalho transformando os recursos naturais. Para ele: Os requisitos da produção são dois: o trabalho e objetos naturais apropriados… Em quase todos os casos… a não ser em alguns casos sem importância, os objetos oferecidos pela natureza são apenas instrumentais para as necessidades humanas, após terem sido, de certa maneira, transformados pelo esforço humano (HUNT e LAUTZENHEISER, 2005 p. 275). Portanto, o valor das mercadorias depende, principalmente, da quantidade de trabalho necessária para sua produção (HUNT e LAUTZENHEISER, 2005). Assim, de acordo com a afi rmação de que era discípulo de Ricardo, Mill parecia ter proposto uma teoria do valor-trabalho, mas a última frase da citação anterior é importante. Ele afi rmou, ainda, que, embora o trabalho fosse o mais importante determinante do valor, não era o único. Assim como suas qualifi cações do princípio do prazer de Bentham, acabaram constituindo-se numa crítica contrária ao utilitarismo, suas qualifi cações da teoria do valor-trabalho culminaram com uma rejeição a essa teoria. Mill argumentava que, a teoria do valor-trabalho só era válida quando as razões capital/trabalho fossem as mesmas, em todas as indústrias, nesse caso, os custos de produção seriam proporcionais ao trabalho incorporado às várias mercadorias. Isso, porém, não ocorria com a maioria das mercadorias. Retomando a aula Finalizamos mais uma aula sobre a História do Pensamento Econômico. Por aqui, nosso foco foi fi nalizar a compreensão do estudo da Escola Clássica e adicionar o estudo da Escola Marginalista. Desta forma conseguimos avançar um pouco mais sobre as características e as teorias que marcaram estas duas Escolas e seus principais nomes. Para que nosso conteúdo seja melhor aproveitado, releia, assim que possível, todo material para que consiga expandir, um pouco mais, seus conhecimentos. Por hora, vamos então, recordar! 1 - A nova concepção de valor de William Stanley Jevons Jevons desenvolveu a Teoria do valor levando em consideração a utilidade, assim, desenvolveua Teoria da Utilidade Marginal Decrescente, onde utilizou a noção da utilidade final (utilidade marginal) para formalizar uma teoria geral da escolha racional, abordando também a Teoria da troca e o Trabalho. 2 - Jeremy Bentham O tema central do pensamento de Bentham é chamado de utilitarismo ou princípio da felicidade maior. Desta forma, afirmou que toda motivação humana, pode ser reduzida a um único princípio, o desejo de maximizar a utilidade. Sua teoria contém uma apresentação bem elaborada da filosofia social utilitarista, que se tornaria a base filosófica da economia neoclássica. 3 - Frédéric Bastiat Sua teoria procurou estabelecer a santidade da propriedade privada, do capital, do lucro e da distribuição da riqueza existente, o capitalismo concorrencial e o laissez-faire. Bastiat é incisivo ao demonstrar que Deus nos deu a vida como presente, e que “foi pelo fato de a vida, a liberdade e a 21 propriedade existirem antes que os homens foram levados a fazer as leis”. 4 - John Stuart Mill Mill fez a última grande tentativa de integrar a teoria do valor-trabalho e a perspectiva utilitarista, foi o precursor da escola econômica neoclássica marshalliana defendendo reformas liberais e a intervenção governamental. Rejeitou a noção de que a propriedade privada era sagrada e mais a rejeição dos dois axiomas básicos do utilitarismo, não é de admirar que Mill tenha recusado a encarar a troca como o centro da economia política. HEILBRONER, Robert. A História do Pensamento Econômico. Ed. Nova Cultural. 1996. GENNARI, Adilson Marques e OLIVEIRA, Roberson. História do Pensamento Econômico. São Paulo: Saraiva, 2009. Sobre a vida e obra dos principais economistas em: http://www.pensamentoeconomico.ecn.br/. Vale a pena assistir Vale a pena Minhas anotações 4ºAula Fundamentos do pensamento marxista Objetivos de aprendizagem Ao término desta aula, vocês serão capazes de: • compreender mais uma fase na evolução da História do Pensamento Econômico através dos estudos dos fundamentos do pensamento marxista; • identificar os principais aspectos e pontos mais relevantes do pensamento marxista; • conhecer a visão socialista do pensamento econômico. Aprendemos até aqui sobre as teorias propostas pela Escola Clássica e seus principais Pensadores: Adam Smith, Thomas Robert Malthus, Jean-Baptiste Say, David Ricardo, Jeremy Bentham e John Stuart Mill. Aprendemos também sobre a chamada Escola Marginalista através dos estudos sobre William Stanley Jevons e Frédéric Bastiat, assim como suas peculiaridades com relação à Escola Clássica. Nesta quarta aula, vamos avançar um pouco mais na sequência da evolução histórica das teorias econômicas abordando os estudos sobre os fundamentos do pensamento marxista, assim como, sua visão socialista. Bons estudos! História do Pensamento Econômico 24 1 - Fundamentos do pensamento marxista 1 - Fundamentos do pensamento marxista Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Karl_Marx - Acesso em: 21/03/2020. O revolucionário Karl Marx (1818-1883) nasceu em Trier, na Renânia, e foi o fundador do socialismo científi co. Pertencia a uma família burguesa de origem judaica. Era formado em Direito e conclui, para sua formação, que necessitava de um sistema fi losófi co onde se interessa por Hegel. Sob infl uência de Gans, professor de Direito Penal na Faculdade de Direito de Berlim, que Marx frequentava, começam a surgir, entre os jovens hegelianos, tendências esquerdistas. A renovação do hegelianismo iniciara-se, em 1835, com a publicação da “Vida de Jesus”, de David Strauss, grande sucesso entre a juventude alemã. Aos 19 anos, Marx assimilou a fi losofi a de Hegel estabelecendo relações com a esquerda hegeliana. O ano de 1841, marca uma nova fase na evolução intelectual de Marx, com a publicação de “A Essência do Cristianismo”, de Feuerbach. Ao conhecimento da fi losofi a materialista junta-se a atividade jornalística na Gazeta Renana, mas em 1843 a Gazeta é proibida de circular e Marx parte para Paris, após se casar. Em Paris relaciona-se, entre outros, com Proudhon e Engels. Friedrich Engels era hegeliano de esquerda e socialista, estudara economia política, conhecia a doutrina socialista de Owen e possuía já uma visão esquemática da interpretação materialista da história tendo uma preparação teórica muito diferente da de Marx. Assim, o marxismo é efetivamente, uma obra comum de Marx e Engels. Em 1843, no seu livro “Introdução à Crítica da Filosofi a do Direito de Hegel”, Marx confronta Feuerbach com Hegel e destaca a contradição inerente ao Estado hegeliano e as coerências entre o idealismo de Hegel e suas opiniões reacionárias. Em 1846 inicia uma crítica ao trabalho de Proudhon “Filosofi a da Miséria”, rompendo relações com o socialismo francês. Marx e Engels prosseguem com intensa atividade teórica Seções de estudo e política, expondo em 1848, sua doutrina no “Manifesto Comunista”, que se torna famoso levando à expulsão de Marx da Bélgica, onde acabou se refugiando em Paris. Posteriormente, segue para a Alemanha, juntamente com Engels, para participar nos acontecimentos revolucionários de 1848. INTERESSANTE! Em 1849 Marx é exilado novamente, passando a viver na França e na Inglaterra, onde funda a Associação Internacional dos Trabalhadores. É na Inglaterra que ele inicia o estudo da economia política. As doutrinas da Escola Clássica, o desenvolvimento industrial do país e as crises cíclicas, proporcionam a Marx um vasto campo de estudo. Em 1859 publica a “Crítica da Economia Política”, que é uma profunda introdução a “O Capital”, a sua obra decisiva, cujo volume I aparece em 1867. A fusão do movimento operário alemão lhe propicia uma oportunidade para criticar fortemente o socialismo reformista. Os demais volumes de “O Capital” só foram publicados após a morte de Marx, em 1883, por Engels, mais precisamente em 1885 e 1889. Em 1904, Kautsky publicou “Teorias da Mais-Valia” a partir das notas de Marx para o volume IV de “O Capital”. Em suas palavras, Marx asseverava que: As minhas investigações conduziram à conclusão de que as relações jurídicas – assim como as formas de Estado – não podiam ser compreendidas nem em si, nem pela chamada evolução geral do espírito humano, mas que, inversamente, tinham as suas raízes nas condições materiais da existência [...]. [...] na produção social da sua existência, os homens entram em relações determinadas, necessárias, independentes da sua vontade, relações de produção que correspondem a um determinado grau de desenvolvimento das suas forças produtivas materiais. O conjunto destas relações constitui a estrutura jurídica e política, à qual correspondem formas de consciência social determinadas. O modo de produção da vida material condiciona o processo da vida social, política e intelectual em geral. Não é a consciência dos homens que determina o seu ser; é, inversamente, o seu ser social que determina a sua consciência. Num certo estádio de desenvolvimento as forças produtivas materiais da sociedade entram em contradição com as relações de produção existentes, ou, o que não é senão a sua expressão jurídica, com as relações de propriedade no meio das quais até então tinham evoluído. De formas de desenvolvimento das forças produtivas que eram, estas relações tornam- se obstáculos ao seu desenvolvimento. Então inicia-se uma época de revolução social. A mudança na base econômica transforma, mais ou menos, toda a superestrutura (HUNT e LAUTZENHEISER, 2005 p. 297). Utilizando seu método dialético, de um conhecimento 25 profundo da economia política inglesa, Marx analisa a estrutura econômica da sociedade capitalista. Ele escreveu, “o que caracteriza a economia política burguesa” é o fato de “ver na ordem capitalista não uma fase transitória do progresso histórico, mas a forma absoluta e defi nitiva da produção social” (HUNT e LAUTZENHEISER, 2005 p. 297). Marx verifi ca que a vida econômica na épocacapitalista consiste em um “sistema de trocas”. E ao contrário dos clássicos, conclui que esse sistema não é um sistema de trocas equivalentes. Se assim fosse, não se dariam, regularmente, crises de superprodução. É da periodicidade das crises que Marx deduz que não existe uma tendência natural para a harmonia e o equilíbrio econômico, mas uma tendência permanente para o desequilíbrio. A origem do lucro, não pode ser explicada, para Marx, através da teoria da troca. Para ele, o problema das crises é a investigação do verdadeiro caráter do lucro que levam Marx ao estudo do valor. IMPORTANTE Marx atribui ao trabalho a origem do valor. O valor de uma mercadoria é determinado pela quantidade de trabalho social médio que essa mercadoria representa. Para ele: O tempo socialmente necessário à produção das mercadorias é o que exige qualquer trabalho, executado com o grau médio de habilidade e de intensidade e em condições [...] normais (HUNT e LAUTZENHEISER, 2005 p. 298). A aparência econômica nos dá a ilusão de que o dinheiro se troca por dinheiro, ou por coisas que valem dinheiro. Na realidade, a troca estabelece a passagem de uma mão para outra de trabalho humano incorporado nos produtos da atividade humana e isso segundo certas relações históricas e sociais que constituem a estrutura de cada sociedade diferenciada (comunidade tribal, sociedade senhorial, sociedade capitalista, etc.) VALE A PENA LEMBRAR! A consagração de Marx vem após a publicação de “O Capital”. A simples troca de mercadorias forma uma operação complexa, iguala o que é desigual, realiza um movimento dialético. Quando as máquinas se tornam fundamentais para a produção, o que acontece no capitalismo industrial, a troca através do verdadeiro capitalismo, se complica. O desgaste das máquinas entra no valor do produto, assim como o valor dos salários e o lucro. Ao capital investido nas máquinas, nas instalações e nas matérias-primas, Marx dá o nome de capital constante, enquanto que ao capital gasto em salários e do qual provém o lucro, chama capital variável. A proporção entre os capitais é designada por composição orgânica do capital, variando de acordo com o ramo de produção. Duas mercadorias que resultem do mesmo tempo de trabalho social não são trocadas com o mesmo valor senão quando a composição orgânica do capital dos dois ramos de produção for igual. IMPORTANTE O assalariado não vende ao capitalista “o seu trabalho”, mas a sua força de trabalho, o seu tempo de trabalho. O salário representa, ao trabalhador individual, a quantidade de trabalho necessário à sociedade para ela se alimentar, vestir, alojar, etc. Que é inferior ao tempo de trabalho social médio que representa o seu tempo de trabalho individual. Se não o fosse, o trabalho de cada indivíduo não seria produtivo, seria o trabalho sufi ciente para assegurar a sua manutenção. O salário revela, e dissimula, uma operação complexa: a troca da força de trabalho, paga pelo seu valor, pelo valor criado pela força de trabalho. O capitalista guarda a diferença entre o salário e o valor do produto. O lucro deixa então de ser um mistério social, é a mais-valia adquirida pelo capital no decurso do processo de produção. O capitalismo surge como uma troca de não equivalentes. Assim, em vez de harmonia e equilíbrio, se manifesta no seu seio forças de desequilíbrio e ruptura. A massa dos produtores não pode consumir o que produz. IMPORTANTE Para Marx, a contradição principal não é a que existe entre produção e consumo, mas entre o caráter socialmente produtivo do trabalho e a apropriação privada dos produtos do trabalho. As crises periódicas revelam o confl ito interno entre as forças de equilíbrio e as forças de ruptura. O ciclo apresenta tendência para a sobreprodução que, ao atingir a fase aguda, se manifesta pela crise, pela queda das vendas, pelo desemprego, pela destruição de estoques, de parte das máquinas, etc. Fazendo diminuir a produção, a crise se equilibra com o nível imposto pelas possibilidades de consumo. Vem então o equilíbrio, a animação econômica, que dura algum tempo, até nova crise. O equilíbrio interno do capitalismo se obtém por intermédio das crises, que resolvem a contradição entre as forças de equilíbrio e as forças de ruptura. Retomando a aula Finalizamos mais uma aula sobre a História do Pensamento Econômico. Assim, estudamos os fundamentos do pensamento marxista, sua visão socialista e oposição ao capitalismo e a Escola Clássica. Não se esqueça de reler o material para que a expansão do conhecimento não cesse. Por hora, vamos então, recordar! 1 - Os fundamentos do pensamento marxista Marx baseia sua doutrina no “Manifesto Comunista”, e sua consagração vem após a publicação de “O Capital”. Ele História do Pensamento Econômico 26 Minhas anotações verifi ca que a vida econômica na época capitalista consiste em um “sistema de trocas”. E ao contrário dos clássicos, conclui que esse sistema não é um sistema de trocas equivalentes. Se assim fosse, não se dariam, regularmente, crises de superprodução. É da periodicidade das crises que Marx deduz que não existe uma tendência natural para a harmonia e o equilíbrio econômico, mas uma tendência permanente para o desiquilíbrio. Para ele, a origem do lucro, não pode ser explicada através da teoria da troca, portanto, o problema das crises é a investigação do verdadeiro caráter do lucro que levam Marx ao estudo do valor. Sobre a vida e obra dos principais economistas em: http://www.pensamentoeconomico.ecn.br/ Adam Smith, David Ricardo, Karl Marx: https://www. youtube.com/watch?v=taiKSqF0-NM. Vale a pena assistir Vale a pena 5ºAula A Escola Neoclássica. As críticas de Schumpeter e Keynes aos neoclássicos. A revolução keynesiana Objetivos de aprendizagem Ao término desta aula, vocês serão capazes de: • identificar as principais contribuições da Escola Neoclássica para a História do Pensamento Econômico; • conhecer as críticas de Joseph Alois Schumpeter e John Maynard Keynes sobre os neoclássicos; • analisar a teoria keynesiana e sua revolução; • estudar as contribuições da Escola Austríaca através de Friederich A. Hayek e Ludwig Von Mises. Nas aulas anteriores, aprendemos sobre a chamada Escola Marginalista através dos estudos sobre William Stanley Jevons e Frédéric Bastiat, assim como suas peculiaridades com relação à Escola Clássica. Outro avanço que fizemos, na evolução histórica das teorias econômicas, foi quando abordamos os estudos sobre os fundamentos do pensamento marxista e sua visão socialista, tema de nossa última aula. Agora, iniciaremos mais um tema que nos mostrará as bases da Escola Neoclássica através dos estudos sobre Alfred Marshall, seu precursor. Veremos ainda as críticas de Joseph Alois Schumpeter e John Maynard Keynes sobre os neoclássicos e também a revolução keynesiana. Por fim, estudaremos também as contribuições da Escola Austríaca através de Friederich A. Hayek e Ludwig Von Mises. Bons estudos! História do Pensamento Econômico 28 1 - A escola neoclássica 2 - As críticas de Joseph Alois Schumpeter e John Maynard Keynes aos neoclássicos 3 - A revolução keynesiana 4 - Friederich A. Hayek e Ludwig Von Mises 1 - A escola neoclássica A economia neoclássica, de hoje, surgiu através da transformação do pensamento marginalista. Como neo signifi ca “novo”, neoclassicismo implica uma nova forma de classicismo. Os economistas neoclássicos eram “marginalistas”, pois destacavam a tomada de decisões e a determinação dos preços na margem. Contudo, podemos perceber três diferenças entre os marginalistas e os neoclássicos. • o pensamento neoclássico salientava a oferta e a demanda para determinar os preços de bens, serviços e recursos no mercado, enquanto os marginalistas reforçavam somente a demanda; • os economistas neoclássicos evidenciaram o papel da moeda na economia do que os antigos marginalistas; • os economistas neoclássicos ampliaram a análise marginalpara as estruturas do mercado além da livre-concorrência, do monopólio e do duopólio. A primeira dessas diferenças é evidente nas obras de Alfred Marshall, a maior fi gura da escola neoclássica. Alfred Marshall (1842 – 1924) Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Alfred_Marshall - Acesso em: 23/03/2020. Filho de um funcionário do Banco da Inglaterra que desejava guia-lo para uma carreira eclesiástica. Mesmo com as pressões paternas, rejeitou uma bolsa de estudos em Oxford, onde deveria fazer os cursos para o desempenho de suas funções religiosas. Apoiado por um tio rico estudou matemática em Cambridge, disciplina para a qual confi rmou seu grande talento, além de estudar paralelamente moral e ética. Iniciou seus estudos em economia em 1867, procurando contribuir através da matemática e da geométrica para as análises de Ricardo e Mill. Seções de estudo IMPORTANTE Chegou à conclusão de que a utilidade não deveria ser estudada do ponto de vista da utilidade total, mas da perspectiva dos seus efeitos em termos de pequenos incrementos. Em 1890, estava ensinando economia em Cambridge quando publicou sua principal obra, Principles of economics, que se tornou o principal manual de economia por décadas, infl uenciando a formação de gerações de economistas. IMPORTANTE Marshall foi um grande sintetizador, combinando o melhor da economia clássica com o pensamento marginalista, criando assim a economia neoclássica. A abordagem da utilidade do sistema de Marshall lida com prazeres, esforços, desejos, aspirações e incentivos para se tomar uma atitude. Como podemos medir a utilidade de tais bens intangíveis? Ele audaciosamente afi rmava: “com dinheiro”. Os primeiros marginalistas afi rmavam que a força das preferências de uma pessoa determina o total de dinheiro que ela está disposta a gastar para adquirir um produto ou o total de trabalho que está disposta a sacrifi car para atingir um determinado objetivo. No entanto, Marshall inverteu a relação para medir as preferências de acordo com a escala fi nanceira de pagamentos. CURIOSIDADE Marshall realizou uma reforma cautelosa, levando de forma modesta, o abandono ao laissez-faire (BRUE, 2006). Os marginalistas diriam que, se os sapatos são duas vezes mais úteis do que um chapéu, você se dispõe a pagar o dobro pelos sapatos. Marshall diria que, como você está disposto a pagar o dobro pelos sapatos, comparando-os ao preço do chapéu, podemos concluir que os sapatos produzem duas vezes mais utilidade para você. A medida exata em dinheiro das preferências ou motivos na vida dos negócios torna a economia a mais exata das ciências sociais. Esse dispositivo de aferição da economia, aproximado e imperfeito como é, é o melhor dispositivo que temos para calcular os motivos psicológicos das pessoas, da forma expressa no mercado. O dinheiro mede a utilidade na margem, no ponto em que as decisões são tomadas. Marshall afi rmava, conforme podemos observar: Se desejarmos comparar a satisfação física, não devemos fazê-lo de forma direta, mas sim indireta, por meio das motivações que eles produzem para a ação. Se os desejos de realizar um dos prazeres induzem as pessoas que se encontram em circunstancias similares a fazer uma hora extra ou induzem os homens do mesmo estilo de vida e com os mesmos meios a pagar um xelim por ele, podemos dizer que esses prazeres são iguais em seus propósitos, porque os desejos em relação a eles são motivações igualmente fortes para as pessoas em condições semelhantes (BRUE, 29 2006 p. 276). Assim, Marshall indaga a difi culdade em generalizar a utilidade marginal para pessoas de diferentes situações fi nanceiras, atrelando a isso a felicidade, como assevera abaixo: Um aumento no dinheiro, como uma unidade adicional de bens, possui uma utilidade marginal maior para uma pessoa pobre do que para uma pessoa rica, porque o pobre tem menos dinheiro inicialmente (BRUE, 2006 p. 277). Evoluindo em seus estudos, Marshall deslocou a discussão em torno da resolução do valor da esfera da produção para a esfera do mercado, asseverando que o valor dependia da utilidade marginal, assim, uma teoria do valor determinada pela produção sucedeu outra, determinada pela troca. O modelo analítico de Marshall considera dois agentes econômicos, um consumidor e um produtor, agindo para maximizarem a utilidade e o lucro num sistema de concorrência perfeita no qual todas as demais variáveis externas à análise continuavam constantes (ceteris paribus). Em sua análise da demanda, Marshall partia da lei da utilidade marginal decrescente, para qual a satisfação e a utilidade proporcionadas por um bem diminuem à medida que se adquirem unidades adicionais desse bem. A aplicação do conceito da utilidade marginal na análise econômica dependia da defi nição de uma medida para a utilidade, assim, o preço poderia ser tomado como uma medida aproximada da utilidade. IMPORTANTE Marshall também foi o criador do conceito de elasticidade. Esse conceito quantifi ca o efeito da variação de uma variável em outra. Marshall apresentou uma de suas grandes contribuições quando analisou o lado da oferta por meio de instrumentos e conceitos simétricos aos utilizados para a análise da demanda, criando uma teoria integrada. Outra inovação consiste na maneira como ele abordou o fator tempo na análise econômica. Os economistas analisavam as mudanças econômicas no tempo, até a chegada de sua contribuição. Além disso, ele passou a considerar os efeitos que a passagem do tempo produz e as interferências da duração na vida econômica. Por fi m, ele reconheceu os custos de produção como um dos determinantes do preço, ao lado da demanda, reformulando a teoria do valor marginalista (GENNARI e OLIVEIRA, 2009). 2 - As críticas de Joseph Alois Schumpeter e John Maynard Keynes aos neoclássicos Schumpeter teve bastante infl uência de Marx e também foi infl uenciado pelas descobertas que marcaram sua época. De Marx herdou a visão do processo de desenvolvimento. Teve concepções próprias em relação a alguns pontos da análise econômica, que o distinguem dos demais neoclássicos, por exemplo, a questão da soberania do consumidor, dos determinantes do investimento e poupança (juros, lucros, salários). Contudo, o que mais o distingue dos neoclássicos é sua visão mais “geral” do processo de desenvolvimento, bem como o fato de ter sido o primeiro neoclássico a tentar explicar o processo da variação econômica. Assim, o pensamento schumpeteriano tem grande contemporaneidade, mostrando a importância de suas refl exões para procurar compreender os movimentos da modernidade (MORICOCHI e GONÇALVES, 1994). Keynes repudia a “Lei de Say” respaldada por Ricardo e aceita por Marshall, fazendo questionamentos acerca da função da oferta agregada, pois era quem importava e deixando de lado a função da demanda agregada. Assim, Keynes cria o Princípio da Demanda Efetiva e não faz críticas rigorosas aos neoclássicos, pois observou que, quanto ao grande enigma da demanda efetiva não há “qualquer menção, uma vez sequer, em toda a obra de Marshall e demais teóricos que deram à teoria clássica a sua forma mais defi nitiva” (CARVALHO e CARVALHO, 2013). 3 - A revolução keynesiana Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/John_ Maynard_Keynes - Acesso em: 23/03/2020. John Maynard Keynes (1883-1946) em sua obra, A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, de 1936, refutou a ideia de equilíbrio com pleno emprego de fatores, pela rigidez de salários e preços. Segundo ele, há desemprego involuntário e em função disso, a economia opera com capacidade ociosa. De forma a elevar os níveis de emprego e de renda, maximizando-se o bem-estar social, é necessário estimular a propensão a investir dos empresários, sendo que através do Estado, realizando políticas monetárias e fi scais, pode-se estimular a economia. Desta forma o Estado realizaria gastos e infl uenciaria as expectativas empresariais e também o
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