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2ºaula Tributação objetivos de aprendizagem Ao término desta aula, vocês serão capazes de: • assimilar as principais funções do Estado; • compreender os principais princípios tributários; • entender os efeitos dos impostos. Caros(as) alunos(as), nesta aula, vamos dar continuidade ao nosso curso de Economia do Setor Público, aprofundando um conceito muito importante nas finanças públicas: a tributação. Iniciaremos com uma introdução, dando prosseguimento aos principais princípios tributários e enfocando os pontos da Incidência Tributária. Bons estudos! 14Economia do Setor Público Seções de estudo 1 - Introdução 2 - Princípios Tributários 3 - Incidência Tributária 1 - introdução Vimos na aula anterior que há situações em que o mercado é ineficiente e se faz necessária a presença do Setor Público para eliminar ou mitigar determinadas falhas de Mercado. A intervenção do governo na economia foi legitimada a partir da Grande Depressão de 1929, quando ficou claro que a economia de mercado não tinha mais condições de se autorregular. Portanto, relembrando conceitos já estudados na disciplina de Finanças Públicas, são três as funções do Setor Público na atividade econômica: função alocativa, distributiva e estabilizadora. Função Alocativa: está associada à alocação de recursos na economia, principalmente fornecimento e regulando os bens públicos ou semipúblicos. Como já vimos, os bens públicos são não rivais e não excludentes e, portanto, o seu fornecimento não é interessante para as empresas privadas. Logo, fica a cargo do Estado ofertar esses bens, com o objetivo de melhorar a eficiência econômica. Para isso, o governo pode produzir diretamente os bens e serviços para a sociedade, pode financiar recursos para que o mercado produza ou pode regular as atividades econômicas por meio de normas e fiscalização para aumentar o bem-estar da sociedade. Assim, não necessariamente o Setor Público deve produzir os bens e serviços, ele pode regular ou incentivar essa produção. Na eficiência alocativa, o principal objetivo é utilizar os recursos da economia de forma a atender ao maior número de necessidades/desejos da sociedade. Função Distributiva: está associada à busca da redução da desigualdade de renda através de uma distribuição justa. Para tanto, a atuação do Governo se dá através da tributação progressiva, de subsídios para consumidores de baixa renda e de gastos públicos direcionados para áreas mais carentes. Portanto, a função distributiva irá organizar a forma que a renda gerada pelos fatores de produção (capital, trabalho e terra) é distribuída na sociedade. Função Estabilizadora: está relacionada à intervenção do Estado na economia para alterar o comportamento dos preços e emprego, ou seja, utilizar políticas macroeconômicas (fiscal e monetária) para manter a inflação sob controle e obter um elevado nível de emprego e renda. Dadas às funções do Setor Público em busca da eficiência econômica, se faz necessário o financiamento do Governo para fazer frente aos seus gastos. A principal fonte de receita do governo é através da arrecadação tributária, ou seja, a tributação é utilizada como ferramenta para diminuir os desequilíbrios conjunturais e melhorar as taxas de crescimento e desenvolvimento econômico. Vimos também na aula anterior que se faz necessário o debate para entender qual deve ser a alíquota de um imposto que tem como objetivo reduzir as externalidades negativas. Logo, a discussão avança no sentido de entender como a tributação deve ser implementada de forma que esta seja considerada justa, ou seja, quais são os princípios que norteiam aquela que seria uma tributação ideal. 2 - Princípios Tributários Vocês se lembram da definição de tributo? Vamos relembrar??? TRIBUTO: Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda, ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada. Os tributos relevantes aqui nesta disciplina são aqueles presentes na Constituição Federal: impostos, taxas e contribuições (de melhoria e para seguridade social). As taxas são os tributos vinculados a uma contraprestação do Estado, ou seja, para arrecadar o Estado precisa dar algo em troca, seja o fornecimento de um bem público ou a concessão de alvará, por exemplo. A contribuição de melhoria é aquele tributo cobrado pelo Estado em consequência de uma obra pública que irá proporcionar uma valorização no imóvel, ou seja, assim como a taxa, esse tributo também é vinculado. A contribuição para a seguridade social (o famoso COFINS), incide sobre a receita das empresas e é destinada a financiar a seguridade social (previdência social, saúde e assistência social), ou seja, também é um tributo vinculado. Por último, mas não menos importante, temos os impostos que são os únicos tributos que não têm vinculação, ou seja, o imposto é um tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação independente da atividade do Estado específica relativa ao contribuinte. Considerando a importância da tributação para o custeio das atividades públicas visando o bem-estar da sociedade, os princípios de tributação são diretrizes para orientar o poder público para obter máxima eficiência, afetando o mínimo possível as atividades econômicas. Esses princípios são teóricos, ou seja, eles devem ser sempre observados, embora nem sempre seja viável. 2.1 Princípio da Equidade O princípio da equidade relaciona a cobrança do tributo com a capacidade de pagamento do contribuinte, ou seja, a tributação deve tratar de forma igual aqueles que são iguais e dar um tratamento diferenciado para os desiguais. Assim, cada indivíduo em tese deve contribuir com uma parcela justa de impostos. Portanto, um argumento válido é que cada indivíduo 15 deveria contribuir proporcionalmente para os benefícios gerados pelo consumo do bem público em questão. Esse princípio é simples do ponto de vista teórico, mas difícil de medir, porque o Estado não conhece a preferência do indivíduo, que não é revelada no seu consumo, somente nos processos eleitorais, e, ainda assim, com distorções. Além disso, como cada indivíduo tem preferências diferenciadas conforme sua renda, posição social, cultura etc., seria impossível definir um padrão de cobrança válido para toda a sociedade. Esse princípio está relacionado à busca pela justiça fiscal e um exemplo de aplicação de tal princípio é o IRPF (Imposto de Renda para Pessoa Física). O IRPF cobra porcentuais diferentes para diferentes faixas de renda e percentuais iguais para as mesmas faixas de renda. 2.2 Princípio da Progressividade Consideramos esse princípio intimamente associado ao princípio da equidade estudado anteriormente. Pelo princípio da progressividade, o tributo deve possuir alíquota de tributação que se eleva quando aumenta o nível de renda. Isso nos diz que, as pessoas que ganham mais, pagarão mais impostos, já que as alíquotas irão subir de acordo com o nível de renda. Você pensou em algum imposto que é progressivo? Isso mesmo, o IRPF é um ótimo exemplo de tributo que atende ao princípio da progressividade. Esse princípio está relacionado à equidade vertical, que consiste em indivíduos com capacidades desiguais arcarem com cargas tributárias diferentes. Ao tributar mais quem possui renda maior, o governo, através da sua função distributiva, poderá prestar serviços públicos para a sociedade em geral ou direcionar aos mais necessitados. Os tributos podem ser progressivos ou regressivos. Como vimos, a progressividade de um tributo está associada à alíquota de tributação que se eleva quando aumenta a renda. Por outro lado, um imposto regressivo é aquele que implica uma contribuição maior da parcela da população de mais baixa renda, vis a vis, a população de mais alta renda. Assim, o número de alíquotas de um imposto influencia diretamente a suanatureza progressiva ou regressiva, quanto maior o número de alíquotas, mais progressivo ele será. É claro que os impostos regressivos não são impostos deliberadamente, mas, sim, indiretamente. Um exemplo de imposto regressivo é o ICMS. Imagina que para comprar uma televisão você paga 20% de ICMS. Se a televisão custa R$2.500,00, você irá pagar R$500,00 de ICMS. Se você ganha R$5.000,00, isso representa 10% da sua renda. Agora, imagina que o Neymar irá comprar a mesma televisão. Ele irá pagar os mesmos R$ 500,00 de ICMS (20% sobre 2.500), mas sabendo que a renda dele é muito maior do que a sua, sabemos que esse imposto vai representar muito menos do que 10% da renda dele. No Brasil, além do ICMS, outro exemplo de imposto regressivo é o ISS (Imposto Sobre Serviços). RELEMBRANDO! Princípio do benefício: cada indivíduo contribui com um montante proporcional ao seu usufruto (ou benefício) do bem ou serviço ofertado pelo governo. Quanto maior o benefício, maior seria a contribuição, e vice-versa. Princípio da capacidade de pagamento: distribui o ônus da tributação entre os indivíduos da sociedade de acordo com a sua capacidade de pagamento. Além disso, ele permite a formulação de uma regra geral que deve contemplar a equidade em dois sentidos complementares: • equidade vertical (segundo a qual indivíduos com diferentes capacidades de pagamento devem pagar diferentes níveis de impostos); • equidade horizontal (que nos diz que contribuintes com igual capacidade de pagamento devem pagar o mesmo nível de impostos). 2.3 Princípio da Neutralidade Pelo princípio da neutralidade, um tributo é dito neutro quando não interfere na tomada de decisão dos agentes econômicos em relação à alocação dos recursos. Isso nos diz que, de acordo com esse princípio, o sistema de tributação deve ser otimizado de modo a interferir o mínimo possível na alocação de recursos da economia. Na prática, a tributação neutra é aquela que, ao ser implementada, causa a menor distorção possível, ou seja, não altera os preços relativos e, consequentemente, não possui efeito substituição (só possui efeito renda) e, portanto, não causa excesso de carga e perda de peso morto. Desse modo, o tributo que atende a esse princípio não deve comprometer a competição entre as empresas. Exemplos teóricos: imposto lump-sum, imposto per capita, imposto geral sobre o consumo e imposto geral sobre a renda. Os impostos do tipo lump-sum são aqueles cobrados em um montante fixo por pessoa, independentemente de qualquer circunstância. Esse tipo de imposto é regressivo, pois pessoas com menor renda pagarão o mesmo montante que as pessoas com maior renda. Por outro lado, o lump-sum é considerado como imposto que atende ao princípio da neutralidade, pois não gera distorções nos preços dos produtos e, dessa forma, não influencia a escolha dos consumidores, nem dos produtores. 2.4 Princípio da Simplicidade O princípio da simplicidade nos diz que a legislação tributária deve ser a mais simples possível, ou seja, esse princípio relaciona-se diretamente à facilidade na operacionalização da cobrança dos tributos. Por um lado, o imposto deve ser de simples recolhimento para quem paga e, por outro, não deve acarretar um processo de fiscalização que implique em custos administrativos elevados demais para o governo. O objetivo fundamental deve ser facilitar a operacionalização na cobrança do tributo. Portanto, o sistema tributário deve ser de fácil compreensão para a sociedade, bem como de fácil operacionalização pelo governo, atingindo assim a maior eficiência possível na arrecadação. Com um sistema simples, é possível até para estimular a autoarrecadação do imposto, permitindo que o próprio contribuinte arrecade ou auxilie na arrecadação do tributo. Esse princípio pode ser buscado principalmente na etapa de instituição legal do tributo, ou seja, de sua criação por meio de lei. 16Economia do Setor Público 3 - incidência Tributária Como vimos, quando falamos de impostos é preciso se preocupar com quem vai arcar com a carga tributária e quais são os fatores capazes de influenciar essa distribuição. Para analisar os efeitos dos impostos é necessário considerar as interações entre o mercado sobre o qual foi instituído o imposto e todos os outros mercados e também considerar o tempo (modelos de curto, médio e longo prazo). 3.1 incidência Tributária em Mercados competitivos Mercados competitivos são aqueles independentes, ou seja, o que acontece em um deles não afeta os demais. Mas, qual será o novo equilíbrio no caso de um imposto específico sobre as vendas? O que acontece com os preços ao vendedor e ao comprador? E com a Receita tributária? Primeiro é importante definir imposto específico como aquele aplicado por quantidade, ou seja, representa um valor fixo por unidade vendida, independentemente do valor da mercadoria, por exemplo, aqueles aplicados no cigarro (ex: R$2,00 por maço, independentemente do preço). O primeiro exercício é entender o que acontece no equilíbrio se esse imposto (imagine que seja t reais) for de responsabilidade do vendedor. Podemos verificar na figura a seguir que antes do imposto, o ponto de equilíbrio (preço e quantidade) é na interseção da curva de oferta e de demanda. Portanto o ponto de equilíbrio é o ponto E, a quantidade de equilíbrio é Q0 e o preço de equilíbrio é P0. Com a incidência do imposto t de responsabilidade dos vendedores, estes têm os seus custos marginais aumentados do mesmo montante de t, deslocando a curva de oferta para cima, aumentando o preço que o produtor deseja receber por esse bem na mesma quantidade do imposto t, ou seja, para o produtor o preço de equilíbrio será P0 + t. Fonte: BIDERMAN, Ciro; ARVATE, Paulo Roberto. Economia do setor público no Brasil. rio de Janeiro: Elsevier, 2004. No novo equilíbrio (ponto A), temos Pc e Q1 como preço e quantidade de equilíbrio. Observe que nesse novo equilíbrio Pc é maior que P0, mas não é igual ao valor do imposto. O vendedor recebe efetivamente o valor de Pv (Pc - Pv), que é igual ao valor do imposto t e é pago ao governo). Logo, podemos dizer que esse imposto é parcialmente repassado ao consumidor (Pc > P0) e parcialmente assumido pelo vendedor (Pv < P0). E o que ocorreria se o imposto fosse pago pelo comprador? Importante notar que, se estamos falando de algo pago pelo comprador, a influência será na curva de demanda. Logo, é a curva de demanda que irá se deslocar para a esquerda, diminuindo a quantidade de equilíbrio e o preço de equilíbrio. Fonte: BIDERMAN, Ciro; ARVATE, Paulo Roberto. Economia do setor público no Brasil. rio de Janeiro: Elsevier, 2004. O equilíbrio que antes era no ponto E, agora passa a ser no ponto B. Assim, a nova quantidade de equilíbrio de mercado é novamente Q1, e a receita tributária RT representada graficamente pela área retangular ABPVPC é a mesma obtida quando o imposto foi cobrado dos vendedores. Os preços aos compradores (PC) e aos vendedores (PV) também serão os mesmos. Portanto, num mercado competitivo, a incidência de um imposto específico não é afetada pela sua incidência estatutária. Em outras palavras, não importa se o imposto deve ser recolhido aos cofres públicos pelo comprador ou pelo vendedor. Vamos ver outro exemplo. Suponha um determinado mercado em que as curvas de demanda e oferta são dadas, respectivamente, por Qd = lOOO - 25P e Qo= 2OO + 25P. Nessas circunstâncias, o equilíbrio inicial é obtido quando PO = l6 e QO = 6OO, veja: 17 Suponha, que o governo institua um imposto específico de R$ 4,00 por unidade vendida a ser cobrado do vendedor. Quais seriam as novas condições de equilíbrio e quais seriam os preços ao vendedor e ao consumidor? Qual seria a receita tributária arrecadada? Com a adoção do imposto sobre o vendedor, a nova curva de oferta se desloca para Q = 2OO + 25 (P - 4), e a nova condição de equilíbrio passa a ser dada por P1 = 18 e Q1 = 550. Veja:Assim, o preço pós-imposto ao consumidor é Pc = P1 = 18 e ao vendedor é Pv= P1 - 4 = 14. A receita tributária arrecadada seria dada por RT = t × Q = 4 × 55O = 22OO. Vocês podem perceber que as condições de equilíbrio não se alteram se o mesmo imposto for cobrado do consumidor. Vimos no exemplo anterior o efeito de um imposto específico. Mas, e se estivermos diante de um imposto ad valorem? Esse imposto é estabelecido como um percentual do preço do produto ou da base de incidência, muito comum no Brasil como o ICMS. Será que esse imposto apresenta resultado diferente do imposto específico estudado anteriormente? Vamos supor que em um imposto ad valorem a alíquota t seja instituída de modo a fornecer a mesma receita tributária que o imposto específico anteriormente estudado. A figura a seguir ilustra esse caso específico, no qual a área ABPVPC, representando a receita tributária, permanece a mesma que no caso do imposto específico. Fonte: BIDERMAN, Ciro; ARVATE, Paulo Roberto. Economia do setor público no Brasil. rio de Janeiro: Elsevier, 2004. Como o imposto foi aplicado sobre o comprador, a curva de demanda se deslocou para baixo, girando em torno do ponto P = 0, pois agora o deslocamento é proporcional ao preço, dado por t × P. Conforme pode ser observado, o imposto ad valorem tem os mesmos efeitos sobre a quantidade de equilíbrio e sobre os preços aos compradores e vendedores que um imposto específico. Portanto, num mercado competitivo, a incidência de um imposto ad valorem é idêntica à de um imposto específico. Portanto, num mercado competitivo, a incidência real independe do tipo de imposto (se específico ou ad valorem) e da incidência legal (se sobre os vendedores ou os compradores). Vimos também que, de um modo geral, parte do imposto é paga pelos compradores e parte é paga pelos vendedores. A questão seguinte é: como se dá a distribuição da carga tributária entre compradores e vendedores, ou seja, quem paga mais? Quais são os fatores que determinam essa distribuição? Se a carga do imposto for totalmente suportada pelos compradores, temos duas situações possíveis: uma oferta perfeitamente elástica (o produtor consegue repassar para os preços todos os aumentos nos seus custos) ou uma demanda perfeitamente inelástica (o consumidor consome a mesma quantidade independentemente do preço). Veja nos gráficos abaixo: Fonte: BIDERMAN, Ciro; ARVATE, Paulo Roberto. Economia do setor público no Brasil. rio de Janeiro: Elsevier, 2004. Por outro lado, se a curva de oferta é vertical (oferta perfeitamente inelástica) ou quando a curva de demanda é horizontal (demanda perfeitamente elástica), o preço de equilíbrio não é alterado e toda a carga do imposto é suportada pelos vendedores. Isso ocorre porque, no caso de 18Economia do Setor Público a oferta ser perfeitamente inelástica, os vendedores ofertarão sempre a mesma quantidade, independentemente do preço; e, no caso da demanda perfeitamente elástica, os consumidores só estarão dispostos a comprar qualquer quantidade desse produto ao seu preço de mercado original, não acatando, pois, quaisquer repasses de aumento nos custos para os preços. Fonte: BIDERMAN, Ciro; ARVATE, Paulo Roberto. Economia do setor público no Brasil. rio de Janeiro: Elsevier, 2004. Assim, de uma forma geral, quanto mais inclinada (mais próxima da vertical) for a curva de demanda ou menos inclinada (mais próxima da horizontal) for a curva de oferta, maior será a parcela do imposto suportada pelos consumidores. Por outro lado, quanto menos inclinada (mais próxima da horizontal) for a curva de demanda ou mais inclinada (mais próxima da vertical) for a curva de oferta, maior será a parcela do imposto suportada pelos vendedores. 3.2 Incidência Tributária em Mercados Não Competitivos Quando estudamos estruturas de mercado, vimos que estruturas como o monopólio e o oligopólio exercem uma forte influência sobre os preços de mercado. Mas, será que essas estruturas afetam a incidência tributária? No monopólio, o único produtor pode aumentar seu preço reduzindo a produção. Sua tentativa de repassar aos consumidores o imposto que incide sobre o seu produto vem acompanhada de produção mais baixa e redução nas vendas. O monopolista pode compensar a redução nas vendas com o aumento do preço de seu produto, maximizando os lucros quando os custos marginais se igualam à receita marginal. A Figura abaixo mostra a situação para uma curva de demanda linear e um monopolista com custos unitários constantes. Fonte: BIDERMAN, Ciro; ARVATE, Paulo Roberto. Economia do setor público no Brasil. rio de Janeiro: Elsevier, 2004. ATENÇÃo: A distribuição da carga tributária entre vendedores e compradores dependerá das elasticidades-preço de oferta e demanda do mercado em análise. Quanto mais elástica for a oferta (maior a Es) ou menos elástica for a demanda (menor Ed), maior será a fração do imposto paga pelos compradores. O monopolista aumentará o preço em função da instituição do imposto, reduzindo a sua produção. O resultado é que o preço ao consumidor aumenta em um montante menor que o valor total do imposto, enquanto o preço líquido do imposto, cai. O monopolista suporta parte da carga do imposto, enquanto sob competição perfeita, conforme foi visto na seção anterior, os vendedores não suportam qualquer parcela do imposto quando seus custos são constantes. Quando a demanda é linear, se o imposto for ad valorem, a carga é igualmente repartida entre o monopolista e os consumidores. Mas, se a demanda não for linear, o preço aumentará em função da elasticidade-preço da demanda. Por exemplo, se Ep = 2, o aumento no preço é duas vezes o imposto. Além disso, diferentemente dos mercados competitivos, no monopólio a diferença entre os impostos específicos e ad valorem é relevante para esta análise. Para qualquer aumento de receita obtido pelo governo com a adoção de um imposto sobre um mercado monopolista, a produção nesse mercado será mais alta com um imposto ad valorem do que com um imposto específico. IMPORTANTE! Para o aprofundamento e demonstração matemática, consulte o capítulo 9 no livro Economia do Setor Público no brasil (biDERMAN, ciro; ARVATE, Paulo Roberto. Economia do setor público no brasil.Rio de Janeiro: Elsevier, 2004). Em relação à estrutura oligopolística, situada entre os extremos da competição perfeita e do monopólio aqui analisados, não há uma teoria de comportamento da firma que seja amplamente aceita e que torne possível fazer quaisquer previsões acerca da incidência tributária nesse mercado. 19 A progressividade do sistema tributário brasileiro Oficialmente, o Brasil tem um sistema tributário progressivo. No entanto, parece existir um consenso geral de que ele é muito menos progressivo do que a legislação tributária sugere, havendo até mesmo aqueles que o acham regressivo. Algumas razões justificam tal afirmação. São elas: 1ª - o imposto de renda é menos progressivo do que o legalmente estabelecido, porque certos tipos de rendas ou categorias de indivíduos podem escapar parcialmente da tributação. 2ª - o imposto de renda é apenas um dos vários tributos que compõem os diversos sistemas tributários nacionais, e a maioria dos outros tributos, como aqueles sobre as vendas, propriedade ou sobre a folha de pagamentos, é bem menos progressiva, ou até mesmo regressiva. 3ª - A incidência de muitos tributos difere daquela sobre quem o tributo foi imposto. o que se observa é que os trabalhadores normalmente sofrem os efeitos dos tributos que foram instituídos sobre outros contribuintes. Chegamos, assim, ao final da segunda aula. Espero que vocês saibam diferenciar as principais funções do Setor Público retomando a aula 1- Introdução Na primeira seção fizemos uma diferenciação entre as funções alocativa, distributiva e estabilizadora. 2- Princípios Tributários Na segunda seção retomamos o conceito de tributo e sua importância para o custeio das atividades públicas.Vimos também os principais princípios tributários: equidade, progressividade, neutralidade e simplicidade. 3- Incidência Tributária Na terceira seção, identificamos os agentes que arcam com a carga tributária e como a incidência tributária é distribuída. Vimos a incidência tributária em mercados competitivos e não competitivos, finalizando com uma explicação sobre a progressividade no sistema tributário brasileiro. BECkER, Howard Saul. Sociological work. Transaction publishers, 1971. BIDERMAN, Ciro; ARVATE, Paulo Roberto. Economia do setor público no Brasil. Elsevier, 2004. Vale a pena ler Vale a pena GIAMBIAGI, Fabio; ALEM, Ana; PINTO, Sol Garson Braule. Finanças públicas. Elsevier Brasil, 2017. MANkIw, N. Gregory. Introdução à economia. Cengage Learning, 2009. PEREIRA, Luiz Carlos Bresser. Instituições, bom estado e Reforma da Gestão Pública. Revista eletrônica sobre a reforma do Estado, v. 1, n. 1, p. 1-17, 2005. REZENDE, Fernando et al. Finanças públicas. São Paulo: Atlas, 2001. RIANI, Flávio. Economia do Setor Público: Uma Abordagem Introdutória. Grupo Gen-LTC, 2000. minhas anotações