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apelação pratica

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1º Peça
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1º VARA CÍVEL DA COMARCA Y/SP.
Nº do processo: XXXXXXXXXX
SORAIA, já qualificada nos autos da AÇÃO PELO PROCEDIMENTO COMUM, de numero em epígrafe , vem por intermédio de sua advogada e procuradora que este subscreve, nos autos da Ação de Indenização por Danos Morais e Estéticos que promove em face de eletrônicos S/A, vem tempestivamente e respectivamente a presença de Vossa Excelência interpor RECURSO DE APELAÇÃO, nos termos do artigo 1.009 do Código Processual Civil.
Requer ainda, a juntada da inclusa guia de preparo.
Termos em que,
Pede Deferimento.
Campinas, 11, Novembro e 2020.
Anna Luiza Basso 
OAB/SP 
2ª Peça
RAZÕES DA APELAÇÃO 
Apelante: SORAIA 
Apelado: Eletrônicos S/A
Origem: 1ª Vara Cível da Comarca Y, autos n. xxxxxxxxxxxxx
EGRÉGIO TRIBUNAL
EMÉRITOS JULGADORES
1. DA AÇÃO PROPOSTA E A SENTENÇA RECORRIDA
 A Autora, ora apelante, em junho de 2013, promoveu a presente demanda, pelo procedimento comum, ação de indenização por danos morais e estéticos em razão do acidente de consumo, ocorrido em junho de 2009, atraindo a responsabilidade pelo fato do produto.
 Em síntese, ocorre que após a explosão do aparelho de TV da marca do apelado, adquirido pela genitora da apelante, esta perdeu a visão do olho direito, no entanto na época tinha apenas 13 anos de idade, sendo absolutamente incapaz, razão pela qual requer a condenação da recorrida ao pagamento da quantia de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) a título de danos morais e R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) pelos danos estéticos sofridos. No mais, destaca-se ser desnecessário a delação probatória, uma vez que realizou a juntada de todas as provas documentais que pretende produzir, inclusive laudo pericial elaborado na época, apontando o defeito do produto.
Após o oferecimento da contestação, o magistrado proferiu julgamento antecipado, decretando improcedente os pedidos formulados pelo requerente.
No entanto, como será demonstrado a seguir, a sentença não merece prosperar, devendo ser reformada.
2. DA TEMPESTIVIDADE DO RECURSO DA APELAÇÃO 
A RECORRENTE foi intimada da decisão ora combatida no (dia) do (mês) de (ano).
Logo, na forma do art. 1.009 e seguintes do CPC, o prazo para apresentação do recurso de apelação é de quinze dias, se encerra na presente, podendo ser protocolizado até as 24:00H do dia de hoje, dessa forma o presente recurso de apelação é tempestivo. 
3. DO DIREITO 
3.1 ) Do Cerceamento da Defesa
Conforme narrado, foi indeferida a Prova Pericial pelo Juiz “a quo” no Despacho Saneador, afastando o Magistrado prova essencial para a comprovação dos fatos narrados na inicial.
Diante disto, temos disposto pelo Código de Processo Civil, em seu art. 369:
Art. 369. As partes têm o direito de empregar todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, para provar a verdade dos fatos em que se funda o pedido ou a defesa e influir eficazmente na convicção do juiz.
Desta forma, o indeferimento da Prova Pericial, representa claro Cerceamento de Defesa. 
O cerceamento do direito á produção de prova constitui grave violação dos direitos processuais da parte e insuportável menosprezo aos direitos que, ao mesmo tempo em que são protegidos pela ordem jurídica, estão no cerne da própria concepção do Estado de direito democrático. 
A Constituição Federal se torna clara ao dizer em seu art. 5, XXXII, estabelecendo que o Estado proverá, na forma da lei, a defesa do consumidor, porém, ocorrendo o cerceamento da defesa foi ferido tal direito. Ainda importante mencionar em seu art. 170, V, que diz: 
“Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
(...)
    V -  defesa do consumidor;
(...)”
No arcabouço jurídico que fornece os contornos e os fundamentos do Estado democrático, o Poder, qualquer que seja o plano de manifestações, não se exerce de forma unilateral e autoritária, própria dos regimes autocráticos, mas, sim, com a participação dos legitimados pelo ordenamento jurídico positivo. No processo judicial, a manifestação e o exercício democrático do Poder Jurisdicional requerem a garantia de participação das partes, em simétrica paridade, nas fases preparatórias do provimento. 
O indeferimento da Prova Pericial corrompe os princípios processuais defendidos pelo ordenamento jurídico pátrio, uma vez que impediu a parte recorrente de comprovar a total extensão da responsabilidade da Recorrida. 
3.2) Aplicabilidade do CDC
O Código de Defesa do Consumidor em seu artigo 2º, caput, estabelece o conceito de consumidor, caracterizando o mesmo como: 
Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. 
Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.
 Afastando a alegação do juízo sentenciante de que é improcedente a ação da autora, por não ter participado de relação contratual com a ré, o que não é visto, segundo exposto no transcrito artigo como impedimento para caracterização da relação de consumo, também nos fica esclarecido ao artigo 3º do mesmo código o conceito de fornecedor: 
Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.
Ainda, no CDC , presente ao artigo 17º, reforça a existência desta relação consumista ao estabelecer que equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento, como podemos observar: 
Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento. Conforme o dispositivo, responsabilidade do fornecedor não se limita ao consumidor direto, ou seja, aquele que adquiriu o produto ou serviço, mais sim, a todas outras pessoas afetadas pelo bem de consumo.
Nesse sentido o TJ -SP já se manifestou: 
“ APELAÇÃO RESPONSABILIDADE CIVIL. ACIDENTE DE CONSUMO. CO SUMIDOR POR EQUIPARAÇÃO. Queda de portão instalado nas dependências da ré que provocou fratura no pé da autora. Acidente ocorrido no momento em que a autora se deslocava ao seu posto de trabalho. PRELIMINAR. CERCEAMENTO DE DEFESA. Alegação de necessidade de prova oral para comprovar a dinâmica do acidente. Inutilidade do meio de prova. Fato incontroverso que dispensa a prova requerida.
Preliminar rejeitada, MÉRITO. Dono que responde pelos danos resultantes da ruina do seu edifício. ART 937 do CC. Queda de portão. Dever de indenizar reconhecido. CONSUMIDORA POR EQUIPARAÇÃO. 
Irrelevância de autora não ter contratado os serviços da ré. Autora que é considerada consumidora por equiparação ( art. 17 do CDC). Aplicabilidade e de Código de Defesa do Consumidor. ACIDENTE DE CONSUMO. Dever de indenizar do fornecedor de serviços por defeito de produto instalado em suas dependências. Queda de portão sobre o pé da autora no momento em que ela se deslocava ao seu posto de trabalho localizado no interior do estabelecimento de ensino. Comprovação do acidente de consumo nas dependências da ré. Dever de indenizar reconhecido. DANOS MATERIAIS. Inexistência de provas dos danos emergentes. Ressarcimento indevido. DANOS MORAIS CONFIGURADOS. Indenização devida. Correção monetária . Termo inicial. Data do arbitramento da verba condenatória. Súmula n. 362 do STJ. Juros de mora. Termo inicial. Data da ofensa. Súmula n. 54 do STJ. HONORARIOS ADVOCATÍCIOS SUCUMBENCIAIS. Reciprocidade. Sentença reformada. Recurso provido em parte.”
(TJ-SP – APL: 1002933462018260299 SP 1002933-46.2016.8.26.0299, Relator: Hamid Bdine, Data do Julgamento: 14/09/2017, 4 Câmara de Direito Privado, data da publicação: 19/09/2017)
Necessário falar também que o artigo 12 do CDC, tratasobre a responsabilidade objetiva da ré : 
Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.
Que independente da existência de culpa, pelo dano causado em consequência do defeito do produto, inclusive, incluídos aos autos do processo laudo pericial apontando o defeito do produto, existindo portanto a relação entre o dano.
3.3) PRESCRIÇÃO 
Em relação ao segundo fundamento da sentença, deve-se pretender o afastamento da prescrição, isso porque não corre prescrição contra absolutamente incapaz de acordo com o artigo 198, inciso I do código Civil:
Art. 198. Também não corre a prescrição:
I - contra os incapazes de que trata o art. 3o;
 Do qual anula a tese do juízo “ a quo” que fundamentou a prescrição prescreve em 3 (três) anos, conforme o artigo 206, § 3º do Código Civil:
Art. 206. Prescreve:
§ 3º Em três anos:
 Assim como o artigo 3º CC, que relata os absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos.
Deste modo a autora, ora apelante, efetivou- se em 2012, quando a mesma completou 16 (dezesseis) anos, tornando-se relativamente capaz. Dessa forma, a prescrição de sua pretensão ocorreria apenas em 2017, conforme o artigo 27 do CDC:
Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do produto ou do serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria.
Diferente do disposto pelo magistrado o prazo prescricional que deve ser adotado não é o de três anos, disposto no Código Civil, e sim o de cinco anos disposto no Código de Defesa do Consumidor, isto porque, conforme demonstrado acima, existe sim uma relação de consumo entre as partes.
Diante disso, a RECORRENTE ingressou com Ação no quarto ano do prazo, lhe sobrando ainda um ano para a propositura. 
3.4) JURISPRUDÊNCIA
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS, MORAIS E ESTÉTICOS - DEFEITO DO PRODUTO - RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO FABRICANTE - ART. 12 DO CDC - CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA - NÃO CONFIGURAÇÃO - DEVER DE INDENIZAR - OCORRENCIA - DANO MORAL E ESTÉTICO - QUANTUM INDENIZATÓRIO. Conforme artigo 12 do CDC, o fabricante do produto responde objetivamente pela segurança deste, ou seja, pelos eventuais defeitos que porventura sejam constatados, independentemente da existência de culpa. Havendo prova do prejuízo financeiro sofrido, há que ser dado provimento ao pedido de condenação ao pagamento de indenização por danos materiais. Danos morais e estéticos, apesar de se referirem à lesão de direitos da personalidade, são institutos distintos que não se confundem. Para a fixação de indenizações por danos morais e estéticos, o Julgador deve levar em consideração a natureza e extensão das lesões sofridas pelo ofendido, a capacidade econômica do ofensor, o caráter punitivo e compensatório da medida e os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, de modo a não gerar enriquecimento ilícito, nem reparação insuficiente.
(TJ-MG - AC: 10604140023754001 MG, Relator: Mônica Libânio, Data de Julgamento: 29/01/0020, Data de Publicação: 04/02/2020)
O tratamento dos incapazes no Código Civil Brasileiro e a Lei n. 13.146/2015
Pode-se notar que, atualmente, os absolutamente incapazes são apenas os menores de dezesseis anos. Nessa toada, Tartuce afirma de forma clara e objetiva: “Não corre a prescrição contra os absolutamente incapazes, constantes do art. 3º da codificação, atualmente apenas os menores de 16 anos” (TARTUCE...PRESCRIÇÃO. DOENTE MENTAL NÃO INCAPAZ. 1. São inaplicáveis à Fazenda Pública os efeitos da revelia ( CPC , art. 320 -II). Precedentes do TFR e do TFR/1ª Região. 2.
4 - DO PEDIDO DE PROVIMENTO
Pelo exposto, o recorrente requer: 
I. Que seja conhecido como provido o presente recurso de apelação, conhecendo – se a existência de Cerceamento de Defesa, tomando-se assim nula a sentença combatida e remetendo-se os autos a primeira instancia para que a fase introdutória seja seguida de maneira equânime, com a produção de Prova Pericial a contendo da parte RECORRENTE;
II. Caso se chegue ao entendimento que o afastamento da Prova Pericial não configurou Cerceamento de Defesa, que se afaste o fenômeno da Prescrição da Referida Sentença combatida com o provimento dos pedidos realizados a exordial, quais sejam a condenação a titulo de danos morais e estéticos no importante de R$ 100.000,00 ( CEM MIL REAIS);
III. A majoração dos honorários advocatícios sucumbenciais fixado pelo Juiz “ a quo”, com finalidade de condenar a RECORRIDA no pagamento correspondente a 20%( vinte por cento) do valor da causa atualizado. 
Nesses termos, pede Deferimento.
Campinas, data, mês e 2020
Anna Luiza Basso 
OAB/SP

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