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Marcio rodrigo Delfim Introdução à Redação Jurídica Sumário AGRADECIMENTOS INTRODUÇÃO 1. Algumas observações sobre o “juridiquês” 2. Principais elementos de coesão no discurso jurídico 3. Regras básicas de acentuação após a reforma ortográfica 4. Emprego dos pronomes de tratamento DOCUMENTOS PADRÃO “OFÍCIO” 1. Disposições gerais 2.Aviso e Ofício 3. Memorando 4. Requerimento PRINCIPAIS PEÇAS PROCESSUAIS PENAIS 1. Denúncia 2. Memoriais / Alegações Finais 3. Razões e Contrarrazões Recursais PRINCIPAIS PEÇAS PROCESSUAIS CÍVEIS 1. Petição Inicial – Ação Civil Pública 2. Medidas Cautelares 3. Memoriais / Pareceres 4. Razões e Contrarrazões Recursais DOCUMENTOS JURÍDICOS DIVERSOS 1. Termo de Ajustamento de Conduta 2. Recomendações 3. Termo de Declarações REFERÊNCIAS 3 4 5 7 9 12 15 15 19 20 21 22 22 27 29 33 33 37 38 40 43 43 43 48 50 Introdução à Redação Jurídica 3 Agradecimentos A concretização deste curso somente foi possível graças à contribuição do Dr. Eudes Leonardo Bomtempo, responsável pela elaboração de boa parte do tópico referente à “Denúncia” (item 3.1 deste curso), e à colaboração dos Centros de Apoio Operacional do MP/GO que, gentilmente, cederam os modelos de peças processuais disponibilizados nos próximos tópicos. Introdução à Redação Jurídica 4 Introdução Todos aqueles que militam na seara do Direito sabem muito bem que a finalidade precípua da linguagem jurídica é o convencimento. Porém, para atingir tal objetivo “mister se faz um diálogo constante entre o emitente da mensagem e o leitor (à distância), mediante: 1º) a exposição didática do tema (com títulos e subtítulos nas peças mais longas); 2º) os diversos elementos de persuasão, nomeadamente a ênfase (léxica, sintática, gráfica e de pontuação), bem como os recursos estilísticos propiciados pelas variadas modalidades de expressão da linguagem; e 3º) as intermitentes provocações do receptor, pelos vocativos diretos ou indiretos, a fim de manter o diálogo, aprisionando aquele em fixação constante na mensagem que lhe está sendo transmitida. Ou, em outros termos: quem escreve deve ser uma presença viva. Quem o estiver lendo, vai ter de ouvir sua voz; vai ter de observar seus gestos, seu olhar, sua fisionomia, suas atitudes; vai ter de sentir o vigor de sua argumentação, obrigando-se a discuti-la. Pois escrever é como o rio: nasce sereno de sua fonte (relatório/narração-descrição); enfrenta penhascos e corredeiras pelo trajeto (discussão/argumentação); e supera-os até alcançar sua foz, desaguando serenamente no mar (decisão/conclusão).” (SARAIVA, 2002, pp. 17/18) Dito de outra forma, é possível afirmar que, respeitando o estilo de cada um, este curso tem o objetivo de analisar, de forma simples e prática, os principais aspectos gramaticais da redação jurídica, visando a um maior aprimoramento e eficiência da arte de escrever. As recomendações gramaticais aqui mencionadas se aplicam a todos os documentos, sejam eles formais (petições penais, cíveis ou administrativas, por exemplo) ou informais (e-mail, por exemplo). Introdução à Redação Jurídica 5 O juridiquês e a linguagem jurídica Ademais, é importante esclarecer que, apesar da tendência e relevância atual da oralidade nos procedimentos judiciais, a linguagem escrita ainda tem preponderância, motivo pelo qual enseja especial atenção, até porque, na seara processual, há registro e publicação das peças e documentos. A par disso, existem os chamados níveis de linguagem, que podem ser classificados em: culto, familiar e popular. No âmbito jurídico deve ser utilizado o primeiro (culto). Porém, isso não significa uma redação prolixa. Muito pelo contrário, pois a redação deve ser clara, simples, objetiva e eficiente. 1. Algumas observações sobre o “juridiquês” O uso desnecessário ou excessivo de termos técnicos no âmbito jurídico foi denominado de “juridiquês”, que se traduz em um neologismo (fenômeno linguístico que consiste na criação de uma palavra ou expressão nova, ou na atribuição de um novo sentido a uma palavra já existente). Para uma melhor compreensão a respeito deste assunto é importante analisar o artigo elaborado pela professora Valdeciliana da Silva Ramos Andrade, intitulado “Juridiquês e linguagem jurídica: o certo e o errado no discurso”, que se encontra disponível no seguinte endereço eletrônico: A leitura do referido artigo deixa transparecer que é preciso bom senso na hora de redigir um texto jurídico, pois, apesar de o uso de termos técnicos revelar conhecimento, se o leitor, interlocutor ou destinatário da informação for leigo deve- se redobrar a prudência na utilização de palavras ou expressões jurídicas. http://www.amatra17.org.br/?x=verconteudo&codigo=135 Introdução à Redação Jurídica 6 Também é desaconselhável, em qualquer caso, a utilização de palavras rebuscadas, que tornam o texto enfadonho, truncado e de difícil compreensão, bem como a elaboração de petições desnecessariamente extensas. Apenas para ilustrar o que acaba de ser mencionado também é oportuno dar uma olhada na reportagem intitulada “Trechos inúteis - Petição inicial deve se limitar a fatos ocorridos”, veiculada no dia 28 de outubro de 2012, no site Consultor Jurídico, bem como na própria petição inicial que foi objeto da referida notícia, as quais se encontram disponíveis nos seguintes endereços eletrônicos, respectivamente: Trechos inúteis Modelo de petição inicial para NÃO ser seguido A mencionada peça processual comprova a necessidade de se afastar a ideia de que, no âmbito jurídico, se deve escrever muito e com linguagem difícil. A simples adoção dessas providências pode gerar enormes benefícios aos profissionais da área jurídica, em especial no que diz respeito à otimização do tempo, atualmente tão “escasso” em virtude da quantidade de serviço... A redação forense Dica: Veja o seguinte trecho, extraído da obra “Manual de Português Jurídico”, de autoria do professor Eduardo Sabbag, sobre as técnicas da boa redação forense: http://www.conjur.com.br/2012-out-28/justica-rejeita-peticao-excesso-informacao-falta-conteudo http://s.conjur.com.br/dl/peticao-inicial-emenda.pdf https://dl.dropboxusercontent.com/u/52340770/redacao/Reda%C3%A7%C3%A3o%20Forense%20-%20Eduardo%20Sabbag.pdf Introdução à Redação Jurídica 7 realce inclusão adição negação oposição afeto afirmação igualdade exclusão além disso ainda demais ademais também vale lembrar pois outrossim agora de modo geral por iguais razões em rápidas pincela- das inclusive até é certo é porque é inegável em outras palavras sobremais além desse fator embora não obstante isso de outra face entretanto no entanto ao contrário disso qual nada por outro lado por outro enfoque diferente disso de outro lado de outra parte contudo diversamente disso felizmente infelizmente ainda bem obviamente em verdade realmente em realidade de igual forma do mesmo modo que da mesma sorte de igual forma no mesmo sentido semelhantemente bom é interessante se faz só somente sequer exceto senão apenas excluindo tão somente Nota: comum é encontrar o neologismo de valor discutível “apenasmente” 2. Principais elementos de coesão no discurso jurídico Regina Damião e Antonio Henriques, em seu “Curso de Português Jurídico” esclarecem que, ao se observar atentamente os bons autores jurídicos é possível encontrar, frequentemente, alguns elementos de coesão assecuratórios da unidade textual e consequente coerência. Em seguida os autores citam os seguintes exemplos: Introdução à Redação Jurídica 8 enumeração distribuição continuação retificação explicação fecho conclusão plano em primeiro lugar momento a princípio em seguida depois (depois de) finalmente em linhas gerais neste passo (nesse) neste lanço (nesse) no geral aqui neste momento desde logo em epítome de resto em análise última no caso em tela por sua vez a par disso outrossim nessa esteira entrementes nessa veredapor seu turno no caso presente antes de tudo isto é por exemplo a saber de fato em verdade aliás ou antes ou melhor melhor ainda como se nota como se viu como se observa com efeito como vimos daí por que ao propósito por isso a nosso ver de feito como vimos de ver portanto é óbvio, pois destarte dessarte em suma em remate por conseguinte em análise última concluindo em derradeiro por fim finalmente por tais razões do exposto pelo exposto por tudo isso em razão disso em síntese enfim posto isto (issov) assim consequentemente { As expressões de transição entre parágrafos também desempenham papel muito importante no discurso jurídico, como se pode perceber nos seguintes exemplos: 1. É de verificar-se… 2. Não se pode olvidar… 3. Não há olvidar-se… 4. Como se há verificar… 5. Como se pode notar… 6. E de ser relevado… 7. É bem verdade que… 8. Não há falar-se… 9. Vale ratificar (cumpre)... 10. Indubitável é… 11. Não se pode perder de vista… 12. Convém ressaltar… 13. Posta assim a questão, é de se dizer… 14. Registre-se, ainda… 15. Bom é dizer que… 16. Cumpre-nos assinalar que… 17. Oportuno se torna dizer… 18. Mister se faz ressaltar… 19. Neste sentido deve-se dizer que… 20. Tenha-se presente que… 21. Inadequado seria esquecer, também… 22. Assinale, ainda, que… 23. E preciso insistir também no fato de que… 24. Não é mansa e pacífica a questão, conforme se verá… 25. É de opinião unívoca...; etc. Introdução à Redação Jurídica 9 Regina Damião e Antonio Henriques também trazem à tona a lição do tributarista Eduardo Marcial Ferreira Jardim, em suas “Reflexões sobre a arquitetura do Direito Tributário”, ao elencar um grande número de frases de transição entre parágrafos. Neste momento é importante esclarecer que, muito embora algumas dessas frases sejam, hoje, raramente empregadas, todas elas apresentam seu valor histórico e estilístico, como se pode verificar a seguir: 1. Cumpre observar, preliminarmente, que… 2. Como se depreende… 3. Convém notar, outrossim, que… 4. Verdade seja, esta é… 5. Em virtude dessas considerações… 6. Empós as noções preliminares em breve trecho, podemos… 7. Cumpre examinarmos, neste passo… 8. Consoante noção cediça… 9. Não quer isto dizer, entretanto, que… 10. Ao ensejo da conclusão deste item… 11. Impende observar que… 12. E sobremodo importante assinalar que… 13. A guisa de exemplo podemos citar… 14. A mais das vezes, convém assinalar… 15. No dizer sempre expressivo de… 16. Em consonância com o acatado… 17. A nosso pensar… 18. Roborando o assunto… 19. Cumpre obtemperar, todavia… 20. Em assonância com a lição sempre precisa de… 21. Cai a lance notar que… 22. Convém ponderar, ao demais que…; etc. (DAMIÃO; HENRIQUES, 2007, pp. 129/131). 3. Regras básicas de acentuação após a reforma ortográfica Tipo de palavra ou sílaba Quando acentuar Exemplos (como eram) Observações (como ficaram) Proparoxítonas sempre simpática, lúcido, sólido, cômodo Continua tudo igual ao que era antes da nova ortografia. Observe: Pode-se usar acento agudo ou circunflexo de acordo com a pronúncia da região: acadêmico, fenômeno (Brasil) académico, fenómeno (Portugal). Introdução à Redação Jurídica 10 Paroxítonas Se terminadas em: R, X, N, L, I, IS, UM, UNS, US, PS, Ã, ÃS, ÃO, ÃOS; ditongo oral, seguido ou não de S fácil, táxi, tênis, hífen, próton, álbum(ns), vírus, caráter, látex, bíceps, ímã, órfãs, bênção, órfãos, cárie, árduos, pólen, éden. Continua tudo igual. Observe: 1) Terminadas em ENS não levam acento: hifens, polens. 2) Usa-se indiferentemente agudo ou circunflexo se houver variação de pronúncia: sêmen, fêmur (Brasil) ou sémen, fémur (Portugal). 3) Não ponha acento nos prefixos paroxítonos que terminam em R nem nos que terminam em I: inter- helênico, super-homem, anti-herói, semi- internato. Oxítonas Se terminadas em: A, AS, E, ES, O, OS, EM, ENS vatapá, igarapé, avô, avós, refém, parabéns Continua tudo igual. Observe: 1. terminadas em I, IS, U, US não levam acento: tatu, Morumbi, abacaxi. 2. Usa-se indiferentemente agudo ou circunflexo se houver variação de pronúncia: bebê, purê (Brasil); bebé, puré (Portugal). Monossílabos tônicos (são oxítonas também) terminados em A, AS, E, ES, O,OS vá, pás, pé, mês, pó, pôs Continua tudo igual. Atente para os acentos nos verbos com formas oxítonas: adorá-lo, debatê-lo, etc. Í e Ú em palavras oxítonas e paroxítonas Í e Ú levam acento se estiverem sozinhos na sílaba (hiato) saída, saúde, miúdo, aí, Araújo, Esaú, Luís, Itaú, baús, Piauí 1. Se o i e u forem seguidos de s, a regra se mantém: balaústre, egoísmo, baús, jacuís. 2. Não se acentuam i e u se depois vier 'nh': rainha, tainha, moinho. 3. Esta regra é nova: nas paroxítonas, o i e u não serão mais acentuados se vierem depois de um ditongo: baiuca, bocaiuva, feiura, saiinha (saia pequena), cheiinho (cheio). 4. Mas, se, nas oxítonas, mesmo com ditongo, o i e u estiverem no final, haverá acento: tuiuiú, Piauí, teiú. Ditongos abertos em palavras paroxítonas EI, OI idéia, colméia, bóia Esta regra desapareceu (para palavras paroxítonas). Escreve-se agora: ideia, colmeia, celuloide, boia. Observe: há casos em que a palavra se enquadrará em outra regra de acentuação. Por exemplo: contêiner, Méier, destróier serão acentuados porque terminam em R. Ditongos abertos em palavras oxítonas ÉIS, ÉU(S), ÓI(S) papéis, herói, heróis, troféu, céu, mói (moer) Continua tudo igual (mas, cuidado: somente para palavras oxítonas com uma ou mais sílabas). Introdução à Redação Jurídica 11 Verbos arguir e redarguir (agora sem trema) arguir e redarguir usavam acento agudo em algumas pessoas do indicativo, do subjuntivo e do imperativo afirmativo. Esta regra desapareceu. Os verbos arguir e redarguir perderam o acento agudo em várias formas (rizotônicas): eu arguo (fale: ar-gú-o, mas não acentue); ele argui (fale: ar-gúi), mas não acentue. Verbos terminados em guar, quar e quir aguar enxaguar, averiguar, apaziguar, delinquir, obliquar usavam acento agudo em algumas pessoas do indicativo, do subjuntivo e do imperativo afirmativo. Esta regra sofreu alteração. Observe:. Quando o verbo admitir duas pronúncias diferentes, usando a ou i tônicos, aí acentuamos estas vogais: eu águo, eles águam e enxáguam a roupa (a tônico); eu delínquo, eles delínquem (í tônico). Se a tônica, na pronúncia, cair sobre o u, ele não será acentuado: Eu averiguo (diga averi-gú-o, mas não acentue) o caso. ôo, êe vôo, zôo, enjôo, vêem Esta regra desapareceu. Agora se escreve: zoo, perdoo veem, magoo, voo. Verbos ter e vir na terceira pessoa do plural do presente do indicativo eles têm, eles vêm Continua tudo igual. Ele vem aqui; eles vêm aqui. Eles têm sede; ela tem sede. Derivados de ter e vir (obter, manter, intervir) na terceira pessoa do singular leva acento agudo; na terceira pessoa do plural do presente levam circunflexo ele obtém, detém, mantém; eles obtêm, detêm, mantêm Continua tudo igual. Acento diferencial Esta regra desapareceu, exceto para os verbos: PODER (diferença entre passado e presente. Ele não pôde ir ontem, mas pode ir hoje. PÔR (diferença com a preposição por): Vamos por um caminho novo, então vamos pôr casacos; TER e VIR e seus compostos (ver acima). Observe: 1) Perdem o acento as palavras compostas com o verbo PARAR: Para- raios, para-choque. 2) FÔRMA (de bolo): O acento será opcional; se possível, deve- se evitá-lo: Eis aqui a forma para pudim, cuja forma de pagamento é parcelada. Fonte: http://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/reforma-ortografica-acentuacao-grafica-tabela-traz-regras- -ja-de-acordo-com-a-nova-ortografia.htm Introdução à Redação Jurídica 12 4. Emprego dos pronomes de tratamento De acordo com Paulo Ricardo Gontijo Loyola, o vocativo e o endereçamento das comunicações dirigidas às autoridades tratadas por Vossa Excelência terão a seguinte forma: Vocativo: ExcelentíssimoSenhor Presidente da República; Excelentíssimo Senhor Presidente do Congresso Nacional; Excelentíssimo Senhor Presidente do Supremo Tribunal Federal; Senhor Senador; Senhor Ministro; Senhor Governador; Senhor Desembargador; Senhor Procurador; Senhor Juiz; Senhor Promotor; etc. Endereçamento: A Sua Excelência o Senhor Fulano de Tal Juiz de Direito da 10ª Vara Criminal Rua Beltrano, nº 123 74.000-000 Goiânia/GO Não é apropriado o uso do tratamento digníssimo (DD) para autoridades, pois a dignidade é pressuposto para que se ocupe qualquer cargo público, sendo redundante a sua repetição. Relativamente às autoridades tratadas por Vossa Senhoria, o vocativo e o endereçamento das comunicações terão a seguinte forma: Senhor Fulano de Tal, [...] Ao Senhor Fulano de Tal Rua Beltrano, nº 123 74.000-000 Goiânia/GO Introdução à Redação Jurídica 13 É desnecessário o emprego do superlativo ilustríssimo para as autoridades que recebem o tratamento de Vossa Senhoria e para particulares. Como regra geral, doutor deve ser empregado apenas em comunicações dirigidas a pessoas que tenham concluído doutorado, pois não constitui forma de tratamento, mas sim título acadêmico. Não obstante, é costume designar por doutor os bacharéis, especialmente em Direito e Medicina. Nos demais casos, o tratamento Senhor é o mais adequado. Segue abaixo um quadro geral para o tratamento de autoridades, com o pronome pertinente: Almirante Sua/Vossa Excelência Arcebispo Sua/Vossa Excelência Reverendíssima Bispo Sua/Vossa Excelência Reverendíssima Brigadeiro Sua/Vossa Excelência Cardeal "Sua/Vossa Eminência Reverendíssima (ou Eminência)" Cônego Sua/Vossa Reverendíssima Conselheiro de Tribunal de Contas Sua/Vossa Excelência Cônsul Sua/Vossa Senhoria Coronel Sua/Vossa Senhoria Deputado Sua/Vossa Excelência Embaixador Sua/Vossa Excelência Frade Sua/Vossa Reverendíssima Freira Sua/Vossa Reverendíssima General Sua/Vossa Excelência Governador de Estado Sua/Vossa Excelência Irmã (madre, sóror) Sua/Vossa Reverendíssima Magistrado e membro do MP Sua/Vossa Excelência Major Sua/Vossa Senhoria Marechal Sua/Vossa Excelência Ministro Sua/Vossa Excelência Monsenhor Sua/Vossa Reverendíssima Padre Sua/Vossa Reverendíssima Introdução à Redação Jurídica 14 Papa Sua/Vossa Santidade Patriarca Sua/Vossa Excelência Reverendíssima (ou Beatitude) Prefeito e vice Sua/Vossa Excelência Presidente e vice Sua/Vossa Excelência Reitor (de Universidade) Sua/Vossa Magnificência Secretário de Estado e Secretário Executivo de Ministério Sua/Vossa Excelência Senador Sua/Vossa Excelência Tenente-Coronel Sua/Vossa Senhoria Vereador Sua/Vossa Excelência Demais autoridades, Oficiais e particulares Sua/Vossa Senhoria Fonte: LOYOLA, 2006, pp. 12/14. Introdução à Redação Jurídica 15 Documentos Padrão “Ofício” 1. Disposições gerais Paulo Ricardo Gontijo Loyola, em seu “Manual de Redação do Ministério Público do Estado de Goiás”, tece algumas considerações importantes a respeito dos documentos padrão “ofício”, sendo as principais delas transcritas abaixo. O padrão ofício aplica-se a três tipos de expediente que se diferenciam antes pela finalidade do que pela forma – o ofício, o aviso e o memorando –, para os quais se adota uma diagramação única. No Ministério Público goiano, o ofício é o meio de comunicação oficial mais largamente utilizado, razão pela qual merecerá uma exposição mais detalhada. Os expedientes que observam o padrão ofício – aviso, ofício e memorando –, devem conter as seguintes partes: a) Tipo e número do expediente, seguido da sigla do órgão que o expede. Exemplos: Memorando nº 123/2016-PGJ; Aviso nº 123/2016-PGJ; Ofício nº 123/2016-PGJ. b) Local e data em que foi assinado, por extenso, com alinhamento à direita, uma linha abaixo do tipo e número do expediente. Exemplo: Goiânia/GO, 15 de junho de 2016. c) Assunto: resumo do teor do documento. Exemplo: Curso preparatório dos Promotores substitutos recém-empossados. d) Destinatário: o nome e o cargo da pessoa a quem é dirigida a comunicação. No caso do ofício deve ser incluído também o endereço. Introdução à Redação Jurídica 16 e) Texto: nos casos em que não for de mero encaminhamento de documentos, o expediente deve conter a seguinte estrutura: → Introdução (parágrafo de abertura), na qual é apresentado o assunto que motiva a comunicação. Prefira o emprego da forma direta. → Desenvolvimento, no qual o assunto é detalhado. Cada ideia ou assunto deve ser tratado em parágrafo próprio, para conferir maior clareza à exposição. → Conclusão, na qual se reafirma a posição recomendada sobre o assunto. Os parágrafos do texto devem ser numerados ou organizados em itens, títulos e subtítulos. Quando se tratar de mero encaminhamento de documentos, a estrutura, mais simplificada, pode ser a seguinte: → Introdução: inicia-se com referência ao expediente que solicitou o encaminhamento. Se não for o caso, deve iniciar-se com a informação do motivo da comunicação, que é encaminhar documento, indicando a seguir os dados completos do que está sendo encaminhado (tipo, data, origem – ou signatário – e assunto de que trata) e a razão pela qual está sendo encaminhado, segundo a seguinte fórmula: “Em resposta ao Ofício nº 21, de 1º de junho de 2016, encaminho, anexa, cópia do Ofício nº 24, de 5 de maio de 2016, da Diretoria Geral do Ministério Público do Estado de Goiás.” Outra forma que pode ser utilizada é a seguinte: “Encaminho, para exame e providências, a anexa cópia do Ofício nº 23, de 1º de junho de 2016, do Presidente da Confederação Nacional de Agricultura, a respeito de projeto de desenvolvimento e modernização de técnicas agrícolas não-poluentes.” → Desenvolvimento: se o autor da comunicação desejar fazer algum comentário a respeito do documento que encaminha, poderá acrescentar um parágrafo de desenvolvimento. f) Fecho. Introdução à Redação Jurídica 17 g) Assinatura do autor da comunicação. h) Identificação do signatário. Já em relação à forma de diagramação dos documentos padrão ofício, Loyola lembra que, no âmbito do MP/GO, adota-se a forma estabelecida no “Manual de Redação Oficial da Presidência da República”, cujas principais regras são as seguintes: a) Deve ser utilizada fonte do tipo Times New Roman de corpo 12 no texto em geral, 11 nas citações, e 10 nas notas de rodapé; b) Para símbolos não existentes na fonte Times New Roman, podem-se utilizar as fontes Symbol e Wingdings; c) É obrigatório constar a partir da segunda página o número da página; d) Os ofícios, avisos e memorandos – e os seus anexos – poderão ser impressos em ambas as faces do papel. Neste caso, as margens esquerda e direita terão as distâncias invertidas nas páginas pares (“margem espelho”); e) A logomarca deve estar dentro dos 5,0cm do limite superior da página, devidamente alinhada e colocada somente na primeira página do documento; f) O início de cada parágrafo do texto deve ter 2,5cm de distância da margem esquerda; g) O campo destinado à margem lateral esquerda terá, no mínimo, 3,0cm de largura; h) O campo destinado à margem lateral direita terá 1,5cm; i) Deve ser utilizado espaçamento simples entre as linhas e de 6 pontos após cada parágrafo, ou, se o editor de texto utilizado não comportar tal recurso, de uma linha em branco; j) Não deve haver abuso no uso de negrito, itálico, sublinhado, letras maiúsculas, Introdução à Redação Jurídica 18 sombreado, sombra, relevo, bordas ou qualquer outra forma de formatação que afete a elegância e a sobriedade do documento; k) A impressão dos textos deve ser feita na cor preta em papel branco. A impressão colorida deve ser usada apenas para gráficos e ilustrações; l) Todos os tipos de documentos do padrão ofício devem ser impressos em papel de tamanho A-4, ou seja, 29,7 x 21,0cm; m) Deve ser utilizado, preferencialmente, o formato de arquivo Rich Text nos documentos de texto; n) Dentro do possível, todos os documentos elaborados devem ter o arquivode texto preservado para consulta posterior ou aproveitamento de trechos para casos análogos; o) Para facilitar a localização, os nomes dos arquivos devem ser formados da seguinte maneira: tipo do documento + número do documento + palavras- chaves do conteúdo. Exemplo: “Ofício 123/16 - Curso preparatório dos Promotores Substitutos recém-empossados”. À apresentação acima podem-se acrescentar as seguintes especificações, selecionadas do “Manual de Redação Oficial de Goiás”: a) Entre a data e a indicação do destinatário pode haver variação de espaços, visto que não há definição rígida; b) Entre o destinatário e o assunto deve ter apenas um espaço duplo; c) O assunto deve ser sucinto, usando-se, no máximo, cinco palavras para indicar ao receptor o tema principal do documento; d) Entre o assunto e o vocativo há somente um espaço duplo; e) Entre o vocativo e o texto deve ser utilizado um espaço duplo; Introdução à Redação Jurídica 19 f) Entre os parágrafos deve ser utilizado espaço duplo; g) A margem inferior será de 2,0cm; h) Entre a última linha do texto e o desfecho “Atenciosamente” ou “Respeitosamente” deve haver um espaço duplo; i) Entre o desfecho e o signatário poderá haver variação de espaços; j) O signatário será o nome do emitente, letra tamanho 12, sem negrito, itálico ou outra forma de destaque e, logo abaixo, o cargo ocupado. (LOYOLA, 2006, pp. 20/23) 2. Aviso e Ofício Ao tratar dos documentos intitulados aviso e ofício, Paulo Ricardo Gontijo Loyola esclarece que são modalidades de comunicação oficial muito parecidas. Ambos têm como finalidade o tratamento de assuntos oficiais pelos órgãos da Administração Pública entre si e, no caso do ofício, também com particulares. Como o aviso é expedido exclusivamente por Ministros de Estado, para autoridades de mesma hierarquia, será dada prioridade ao expediente denominado ofício, expedido para e pelas demais autoridades, incluindo membros e servidores do Ministério Público. Quanto à sua forma, o aviso e o ofício seguem o modelo do padrão ofício, com acréscimo do vocativo, que invoca o destinatário, seguido de vírgula. Exemplos: Senhor Procurador-Geral de Justiça; Senhor Diretor Geral; Senhor Promotor; etc. Devem constar do cabeçalho ou do rodapé do documento as seguintes informações do remetente: Introdução à Redação Jurídica 20 • Nome do órgão ou setor; • Endereço postal (se comunicação externa); • Telefone e endereço de correio eletrônico (se comunicação externa). (LOYOLA, 2006, pp. 23/24; 37) Para maiores detalhes a respeito dos principais requisitos que devem constar em um Aviso e em um Ofício veja os seguintes modelos: Modelo de Aviso Modelo de Ofício 3. Memorando Ainda de acordo com Paulo Ricardo Gontijo Loyola, o memorando é a modalidade de comunicação entre unidades administrativas de um mesmo órgão, de igual hierarquia ou não. Trata-se, portanto, de uma forma de comunicação eminentemente interna. A tramitação do memorando em qualquer órgão deve ser rápida, por meio de procedimentos burocráticos simples. Para evitar o desnecessário aumento do número de comunicações, os despachos ao memorando devem ser dados no próprio documento e, no caso de falta de espaço, em folha de continuação. Quanto à sua forma, o memorando segue o modelo do padrão ofício, com a diferença de que o seu destinatário deve ser mencionado pelo cargo que ocupa. Exemplos: Ao Sr. Chefe do Departamento de Informática; Ao Sr. Chefe do https://www.dropbox.com/s/j5l6xblg3384w56/Modelo%20de%20Aviso.pdf?dl=0 https://www.dropbox.com/s/5efz00s7jbp6k04/Modelo%20de%20Of%C3%ADcio.pdf?dl=0 Introdução à Redação Jurídica 21 Departamento de Patrimônio; etc. (LOYOLA, 2006, pp. 24; 39) Para maiores detalhes a respeito dos principais requisitos que devem constar em um Memorando veja o seguinte modelo: Modelo de Memorando 4. Requerimento É o documento pelo qual se dirige a uma autoridade pública para solicitar o reconhecimento de um direito ou a concessão de algo amparado pela lei. Caso indeferido, pode-se reiterar a solicitação em um documento denominado “pedido de reconsideração” – cuja denegação, desta feita, poderá ensejar um outro requerimento, denominado “recurso”, dirigido à instância superior. O requerimento, redigido sempre na terceira pessoa, poderá conter apenas dois parágrafos. O primeiro trará, num só período, a identidade completa do peticionário, inclusive a profissão, residência e domicílio, bem como a explicitação do direito ou da concessão pedida. No segundo, virá a forma terminal, em uma ou duas linhas. A fórmula terminal mais usada é: “Nestes termos, pede deferimento.” (LOYOLA, 2006, p. 28). https://www.dropbox.com/s/iyot7p0fv1wi8xq/Modelo%20de%20Memorando.pdf?dl=0 Introdução à Redação Jurídica 22 Principais Peças Processuais Penais 1. Denúncia A denúncia é a peça acusatória iniciadora da ação penal pública (condicionada ou incondicionada), “consistente em uma exposição por escrito dos fatos que constituem, em tese, ilícito penal, com manifestação expressa da vontade de que se aplique a lei penal a quem é presumivelmente seu autor e a indicação das provas em que se alicerça a pretensão punitiva.” (CAPEZ; COLNAGO, 2009, p. 45) É bom lembrar que tanto na área cível como na esfera criminal, o promotor ou o procurador de justiça, pelo princípio da indivisibilidade, atua em nome da instituição (Ministério Público). Assim, o correto é usar sempre a terceira pessoa do singular (ele). Desse modo, em vez de “denuncio”; “requeiro”; etc., recomenda-se a utilização das seguintes formas: “o Ministério Público oferece a presente denúncia”; “o Ministério Público requer”; “manifesta-se”; “dispensa”; etc. Além disso, é absolutamente desnecessária a utilização de expressões como “(...) através do promotor de justiça com atribuições (...)”; “(...) no uso de suas atribuições (...)”; “(...) com espeque nos artigos (...)”; etc. Basta, em suma, a utilização da expressão “O Ministério Público (...)”, pois, ao final da peça processual, constará o nome e assinatura do promotor ou do procurador de justiça. Ademais, é providencial colocar no preâmbulo a origem e o nº do inquérito. Além disso, no cabeçalho da página deve ser inserida a logomarca do Ministério Introdução à Redação Jurídica 23 Público e a designação da respectiva Promotoria. Já no rodapé da página os seguintes dados devem ser inseridos: endereço, telefone, e-mail e fax da Promotoria. Especificamente falando, os requisitos da denúncia estão previstos no art. 41 do Código de Processo Penal e podem ser resumidos da seguinte forma: a) Descrição do fato, com todas as suas circunstâncias: “a descrição deve apresentar precisão, não se admitindo a imputação vaga e imprecisa. Deve propiciar o contraditório pleno, ou seja, ser clara na exposição e precisa quanto à descrição do fato típico, para ensejar o perfeito conhecimento da imputação penal. Todas as circunstâncias, elementares ou acidentais, que possam influir na apreciação do crime e na fixação e individualização da pena devem constar da peça inicial. A denúncia (...) prolixa dificulta o trabalho dos operadores do direito, em especial no exercício do direito de defesa. Havendo concurso de agentes, a conduta de cada um deverá ser descrita individualmente, muito embora os tribunais tenham admitido uma narração genérica quando essa providência não for possível.” (CAPEZ; COLNAGO, 2009, p. 45) Vale lembrar que no processo penal brasileiro vigora a teoria da substanciação, que se contrapõe à teoria da individuação. Na primeira, o réu se defende dos fatos narrados e não do artigo de lei (capitulação legal) mencionado na denúncia. Já nesta última, a espécie jurídica invocada assume maior importância que os fatos narrados. Ao juiz compete exercer sua função precípua, que é “dizer o direito”. Convém ressaltar que o direito moderno acolheu os aforismos “narra mihi factum dabo tibi jus” (narra-me os fatos e eu lhe darei o direito) e “iura novit curia” (o juiz conheceo direito). Na condição de petição inicial no âmbito criminal, a denúncia expõe (traz a lume) a acusação, ou seja, representa uma manifestação clara e objetiva da pretensão acusatória. Por isso, ela é “sempre narrativa e postulatória; imputa condutas e pede a condenação; nunca argumentativa, como memoriais e razões recursais.” (MANZANO, 2010, pp. 179/180) Introdução à Redação Jurídica 24 Dessa forma, expressões como “o denunciado é imputável”; “tinha consciência da ilicitude”; “lhe era exigível conduta diversa”; etc., são desnecessárias em sede de denúncia. Não convém seja a denúncia muito extensa nem resumida demais, pois, nesse último caso, corre-se o risco dela ser vaga e imprecisa. A narrativa deve ser objetiva e deve alcançar as circunstâncias que interessam no âmbito penal. Ao ler a peça é necessário que se tenha a exata compreensão do crime (tipo penal e circunstâncias), pois só assim será possível se falar em pleno exercício da defesa. Além disso é importante esclarecer que, no “corpo” da denúncia deve constar somente o fato criminoso. Por outro lado, na “cota” (após despacho de vista para oferecimento da denúncia), deverão ser formuladas as diligências; manifestações sobre suspensão condicional do processo (artigo 89 da Lei nº 9.099/95); arquivamento de outros fatos; não inclusão de algum investigado no polo passivo (denúncia); possibilidade de transação penal (artigo 60, parágrafo único, da Lei nº 9.099/95); pedido e manifestação sobre prisão cautelar e liberdade provisória; etc. Também é na “cota” que devem ser esclarecidas as razões da denúncia, como, por exemplo, no caso de desistência voluntária (artigo 15 do CP) que ensejou a denúncia por disparo de arma de fogo e não por homicídio tentado (tentativa branca), como foi indiciado no inquérito policial. Fatos que não foram esclarecidos ou que deverão ser objeto de outra investigação (inquérito complementar) ou, ainda, de ação penal privada, não devem sequer ser aludidos na denúncia. Ou seja, a denúncia deve se ater àquilo (e somente àquilo) que realmente ficou esclarecido. A menção a fatos não apurados deve ser feita somente na “cota” para que fiquem esclarecidas e registradas nos autos quais providências foram adotadas pelo Ministério Público em relação a eles, evitando-se, dessa forma, eventual arquivamento implícito. É fundamental ressaltar que, em nenhuma hipótese, se deve criar situações ou conjecturas. Toda a narrativa precisa de um suporte probatório mínimo. Caso contrário entra-se no campo fictício (beirando-se a leviandade), o que acabará Introdução à Redação Jurídica 25 resultando na rejeição ou improcedência da acusação. Outra recomendação importante refere-se à não utilização de termos e expressões pejorativas para se referir ao denunciado e outros envolvidos, como, por exemplo, meliante, malfeitor, larápio, etc. Por fim, convém lembrar que a reforma do CPP, ocorrida em 2008, alterou o artigo 387, que estabelece em seu inciso IV, a possibilidade de, na sentença, ser fixado “valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido.” Tal dispositivo tem gerado certa polêmica, pois alguns juízes e tribunais têm entendido que se o referido pedido não constar da denúncia, expressamente, a sentença que condenar na reparação dos danos seria “ultra petita”. Assim, para evitar tais questionamentos, ao elaborar a denúncia, recomenda-se fazer menção expressa nesse sentido, o que é perfeitamente cabível nos crimes contra o patrimônio, por exemplo. b) Qualificação do acusado ou fornecimento de dados que possibilitem sua identificação: “qualificar é apontar o conjunto das qualidades pelas quais se possa identificar o denunciado, distinguindo-o das demais pessoas. A qualificação é prescindível, desde que seja possível obter a identidade física do acusado, por traços característicos ou outros dados. Tourinho Filho dá o exemplo de um Promotor de Justiça que ofereceu denúncia contra ‘Fulano de Tal’, preto, alto e magro. Evidentemente que não poderia fazê-lo, porquanto impossível sua individualização.” (CAPEZ; COLNAGO, 2009, p. 45) c) Classificação jurídica do fato: “a correta classificação não é requisito essencial, pois não vincula o Juiz, que poderá dar àquele definição jurídica diversa. O Juiz só está adstrito aos fatos narrados na peça acusatória. O autor deverá indicar o dispositivo legal em que se subsume o fato imputado, não bastando a simples menção ao nomen juris da infração. O demandado defende-se dos fatos a ele imputados, não de sua tipificação legal. Dessa forma, o Juiz não deve rejeitar a peça inicial por entender errada a classificação do crime. A exposição bem Introdução à Redação Jurídica 26 elaborada facilita a tarefa do Magistrado, consistente em dar ao fato descrito solução jurídica adequada: ‘Dá-me o fato, que eu te darei o direito’ (narra mihi factum dabo tibi jus).” (CAPEZ; COLNAGO, 2009, p. 46) Nesse momento é preciso ressaltar que, não obstante o primado pela boa redação jurídica deva existir em qualquer peça processual, os cuidados devem ser redobrados em relação à denúncia, em decorrência da magnitude dos valores tratados na ação penal. Salienta-se, todavia, que eventual inadequação do fato narrado ao respectivo tipo penal não afasta a apreciação da pretensão punitiva, nem impede o exercício da defesa, até porque existe previsão legal de futuras correções da peça inicial (artigos 383 e 569, ambos do CPP). Ademais, em relação à capitulação formulada na denúncia, a prática tem demonstrado que, além do tipo penal, deve constar também o nome do crime (“nomen iuris”) e a respectiva pena. Exemplo: “(…) artigo 12 da Lei nº 9.609/98 (violação de direito autoral de programa de computador), cuja pena é de detenção de 06 (seis) meses a 02 (dois) anos.” d) Rol de testemunhas (se houver): “o Código deixa claro que o arrolamento de testemunhas é facultativo. Todavia, o momento adequado para arrolar testemunhas é o da propositura da ação, não podendo a omissão ser suprida depois, por ter incidido o fenômeno da preclusão. Pode-se arrolar no máximo oito testemunhas, nos crimes cuja sanção seja igual ou superior a quatro anos de pena privativa de liberdade (procedimento ordinário - CPP, art. 394, §1º, I, combinado com o art. 401, ambos com redação determinada pela Lei nº 11.719/2008), não se compreendendo nesse número as que não prestaram compromisso e as referidas (CPP, art. 401, §1º, com redação determinada pela Lei nº 11.719/2008). Nos crimes com sanção inferior a quatro anos e superior a dois anos de pena privativa de liberdade (procedimento sumário, art. 394, §1º, II, com redação determinada pela Lei nº 11.719/2008) poderão ser inquiridas até cinco testemunhas (CPP, art. 532, com redação determinada pela Lei nº 11.719/2008). No procedimento sumaríssimo (Lei nº 9.099/95 - infrações penais de menor potencial ofensivo), há divergência quanto ao número de testemunhas: se cinco ou três.” (CAPEZ; COLNAGO, 2009, p. 46) Introdução à Redação Jurídica 27 e) Pedido de condenação: “não precisa ser expresso, bastando que esteja implícito na peça.” (CAPEZ; COLNAGO, 2009, p. 46) f) Endereçamento da petição: “o endereçamento equivocado não impede o recebimento da denúncia, tratando-se de mera irregularidade sanável com a remessa ou recebimento dos autos pelo juízo competente.” (CAPEZ; COLNAGO, 2009, p. 46) g) Nome, cargo e posição funcional do denunciante. h) Assinatura: “a falta de assinatura não invalida a peça, se não houver dúvidas quanto a sua autenticidade.” (CAPEZ; COLNAGO, 2009, p. 46) Para maiores detalhes a respeito dos principais requisitos que devem constar em uma Denúncia veja o seguinte modelo: Modelo de Denúncia 2. Memoriais / alegações finais O Código de Processo Penal “previa as alegações escritas nos arts. 406 e 500. Hoje, a Lei nº 11.719/2008 aboliu, praticamente, essas alegações escritas. Elas se fazem verbalmente na audiência,salvo a hipótese de haver alguma complexidade, quando, então, se fazem por memoriais.” (TOURINHO FILHO, 2009, p. 462) Apesar de o CPP não estabelecer quais elementos compõem as alegações finais (memoriais), a solução para tal impasse, entretanto, é bastante simples, pois a referida peça processual deve seguir os mesmos parâmetros estabelecidos no artigo 387 do CPP, que trata dos requisitos legais exigidos para a sentença, quais sejam, relatório, fundamentação e parte dispositiva (esta última quando o juiz acolhe ou rejeita a https://www.dropbox.com/s/5rq3h67trhvf94n/denuncia.doc?dl=0 Introdução à Redação Jurídica 28 pretensão do autor). A fase das alegações é considerada o momento final da instrução criminal. Além disso, “nas alegações, devem as partes arguir nulidades, mormente aquelas que, não arguidas nessa fase, ficarão sanadas (arts. 572, I e 571. II). No mérito, devem as partes analisar os depoimentos, os documentos, as perícias, enfim, toda a prova colhida e fazer ver ao juiz a procedência da tese sustentada.” (TOURINHO FILHO, 2009, p. 464) Como já mencionado, as alegações são feitas verbalmente, na audiência, conforme estabelecem os artigos 402 e 531 do CPP, com a redação dada pela Lei nº 11.719/2008. “Por isso, às vezes, é conveniente já levar para a audiência, meio alinhavadas, as alegações, que serão completadas em face das provas produzidas.” (TOURINHO FILHO, 2009, p. 464) Muitas vezes, as partes costumam levar suas alegações já digitadas e, na sala de audiência, “pedem a juntada aos autos, ou se limitam a ditar o que já escreveram para o escrivão, ou, então, o que é comum, na hora dos debates, as partes falam, ou melhor, ditam ao escrivão suas alegações... Nessas alegações, se qualquer das partes observar alguma nulidade, deverá arguí-la (art. 571, III). Se às partes parecer oportuno, para o esclarecimento da verdade, alguma diligência, nada obstará possam requerer ao juiz que determine a sua realização. E como o juiz tem o dever de prover à regularidade do processo, bem como o de determinar que se procedam às diligências necessárias ao esclarecimento da verdade, caberá a ele julgar-lhes a conveniência.” (TOURINHO FILHO, 2009, pp. 464/465) Um dos grandes embates travados pela doutrina e pela jurisprudência relacio- na-se à seguinte indagação: “A ausência das alegações finais constitui nulidade abso- luta ou mera irregularidade?” (TOURINHO FILHO, 2009, p. 465) A esse respeito existem duas orientações: “a) constituindo as alegações finais peça essencial do processo, sua ausência acarreta nulidade absoluta (cf. JTACrim, 43:109, 45:343, 49:335, 52:375, 53:157 e 56:220 (…); b) não constituindo as alegações finais peça essencial do processo, sua ausência caracteriza mera irregularidade Introdução à Redação Jurídica 29 (JTAcrim, 36:122, 45:83 e 71:423 (…).” (TOURINHO FILHO, 2009, p. 465) Dessa forma, para evitar maiores problemas, é sempre recomendável a apresentação dos Memoriais, cujo modelo pode ser acessado clicando no link abaixo: Modelo de Memoriais 3. Razões e contrarrazões recursais Antes de tratar das peculiaridades das razões e contrarrazões recursais é importante tecer alguns esclarecimentos iniciais a respeito do conceito e das generalidades relacionadas aos recursos. A palavra recurso origina-se do vocábulo latino “‘recursus’, que significa ‘corrida para trás’, ‘caminho para voltar’, ‘volta’. Por outro lado, o termo ‘recursus’ deriva do verbo recurro, recurris, recurri, recursum, recurrere, que se traduz por ‘voltar correndo’. Tal expressão, pois, dá a ideia de um novo curso daquilo que estava em curso. Daí o seu emprego para traduzir o ato pelo qual a parte pode pedir ao órgão jurisdicional que reexamine a questão decidida, retornando, assim, ao ponto de onde se partiu.” (TOURINHO FILHO, 2009, p. 540) De modo geral os recursos estão “intimamente ligados ao duplo grau de jurisdição. Já sabemos que em todas as Justiças, Comuns ou Especiais, há órgãos jurisdicionais inferiores, que decidem as causas, e órgãos superiores, criados preferentemente para reexaminar as decisões proferidas pelos primeiros. Dissemos preferentemente porque, ao lado dessa função proeminente que se comete aos órgãos superiores das Justiças, outras não menos importantes lhe são atribuídas.” (TOURINHO FILHO, 2009, p. 540) https://www.dropbox.com/s/cmrwk32uz8lj7md/Alega%C3%A7%C3%B5es%20Finais__art._310%2C_ctb_e_331%2C_cp.odt?dl=0 Introdução à Redação Jurídica 30 Via de regra, o recurso exige “dualidade de instâncias, dualidade de jurisdições, vale dizer, uma jurisdição inferior e outra superior. Uma da qual se recorre e outra para a qual se recorre. Todavia, no Direito brasileiro, o recurso não supõe, necessariamente, tal dualidade, uma vez que há alguns casos em que é dirigido ao próprio órgão prolator da decisão recorrida, vale dizer, cabe ao próprio órgão que a prolatou reexaminá-la através dele. Tal se dá, por exemplo, com os embargos declaratórios. (…).” (TOURINHO FILHO, 2009, p. 541) No que tange ao fundamento do recurso, a questão que se coloca é a seguinte: Porque existem os recursos? A resposta a tal indagação pode ser assim resumida: “Se as decisões fossem proferidas por deuses ou semideuses, trariam elas a nota da infalibilidade. Mas quem as profere são os juízes, homens portanto, e, como tais, falíveis. Desse modo, o fun- damento de todo e qualquer recurso, como dizia o Marquês de São Vicente, descansa na falibilidade humana. Ao lado disso há a necessidade psicológica: o recurso visa à satisfação de uma tendência inata e incoercível do espírito humano. Na verdade, em qualquer setor da atividade humana, ninguém se conforma com um primeiro julga- mento. (…).” (TOURINHO FILHO, 2009, p. 542) Além disso, existem razões históricas que justificam os recursos. “Entre todos os povos e em todas as épocas, foram eles admitidos, de maneira rudimentar ou evoluída, segundo o grau de civilização de cada povo, de cada época.” (TOURINHO FILHO, 2009, p. 543) Sobre esse assunto, a doutrina esclarece o seguinte: “Por que se acabou com a autodefesa como forma geral de composição de litígios? Por acaso a extinção da autodefesa não se deu para evitar a iniquidade, a prepotência e o arbítrio? O Estado não chamou a si a tarefa de administrar justiça, na certeza de que a aplicação da lei ao caso concreto melhor seria feita pelos seus juízes? E se estes fossem prepotentes, arbitrários e iníquos, não satisfazendo, assim, ao interesse do Estado, no sentido de ser a justiça bem distribuída? Para coarctar tal possibilidade, nada mais salutar que a adoção das vias recursais, tornando viável o reexame das questões já decididas em primeira instância, preferentemente por outros órgãos mais experimentados.” Introdução à Redação Jurídica 31 (TOURINHO FILHO, 2009, p. 543) Vale lembrar, entretanto, que todo recurso apresenta dois pressupostos. O pressuposto lógico de qualquer recurso é a “existência de um despacho ou decisão do órgão jurisdicional. Para que alguém possa interpor um recurso, presume-se, logicamente, haja um ato jurisdicional. Por outro lado, há o pressuposto fundamental de todo e qualquer recurso, que é a sucumbência.” (TOURINHO FILHO, 2009, p. 543) A sucumbência se traduz em lesividade de interesse, gravame, prejuízo, ou, em outras palavras, ela “nada mais é senão aquela desconformidade entre o que foi pedido e o que foi concedido. Pode-se até dizer que essa noção de sucumbência é um pouco acanhada. E realmente o é. Tecnicamente, sempre que a decisão do órgão jurisdicional não atender àquilo que a parte aspirava (com foros de legalidade, obviamente) fala-se em sucumbência. Assim, quando o promotor pede a condenação do réu às penas do art. 155 do CP e o juiz o absolve, há, evidentemente, uma desarmonia, uma descon- formidade entre o pedido e a sentença. Também haverá se o juiz o condenar mas o promotor entender que a pena imposta não o satisfaz. Nesses casos, como exemplos dados, surgepara o Ministério Público a sucumbência e, assim, pode ele fazer uso do recurso. Sim, porque, nos termos do parágrafo único do art. 577 do CPP, não se admi- te recurso da parte que não tenha interesse na reforma ou modificação da decisão e, como tal interesse exsurge quando há desconformidade entre o que foi pedido e o que foi decidido, e se essa desconformidade existiu, evidente estar satisfeito o pressuposto fundamental do recurso.” (TOURINHO FILHO, 2009, pp. 543/544) Assim, nas razões recursais serão expostas as irresignações em relação à senten- ça, quer seja no todo ou apenas no que diz respeito à parte dela (artigo 599 do CPP). Para tanto, tais irresignações devem seguir a mesma ordem da sentença. A argumentação recursal também precisa seguir as recomendações apresentadas no início deste curso, ou seja, ter objetividade, clareza e eficiência. A peça não precisa ser, necessariamente, extensa, mas é preciso que a argumentação seja lógica e convincente, para demonstrar que o recorrente está com a razão. Recomenda-se que a argumentação esteja realçada com citações doutrinárias e jurisprudenciais, haja vista que tais artifícios aumentam o poder de convencimento. Introdução à Redação Jurídica 32 Nas razões recursais, não é de boa técnica se referir ao magistrado “a quo”, julgador singular, etc. Reporte-se apenas à sentença ou acórdão, que é a prestação jurisdicional com a qual o recorrente não concorda. Já nas contrarrazões rebatem-se os argumentos do recorrente. Não precisa seguir a ordem das razões, conquanto todas as ponderações sejam refutadas numa sequência lógica de raciocínio. No mais, as recomendações são as mesmas utilizadas para a elaboração das razões recursais. Para maiores detalhes a respeito dos principais requisitos que devem constar nas Razões e nas Contrarrazões Recursais veja os seguintes modelos: Modelo de Razões Recursais Modelo de Contrarrazões Recursais https://www.dropbox.com/s/me6im5ry073xs1j/Raz%C3%B5es%20de%20Apela%C3%A7%C3%A3o-1.odt?dl=0 https://www.dropbox.com/s/tusaaymjuf8z4qk/Contrarraz%C3%B5es%20de%20Apela%C3%A7%C3%A3o%202.pdf?dl=0 Introdução à Redação Jurídica 33 Principais Peças Processuais Cíveis 1. Petição inicial – ação civil pública A petição inicial é considerada o “ato jurídico processual mais importante praticado pela parte autora dentro do processo, isto porque, em regra, define os limites da litiscontestatio em relação ao titular do direito perseguido, além de ser o ato por intermédio do qual provoca-se a jurisdição a ser exercida pelo Estado-Juiz.” (BARROS, 2003) Como se isso não bastasse, a petição inicial, em uma análise mais ampla, “representa o próprio exercício do direito de ação, pois é ato introdutório do processo, ao qual todos os demais irão se seguir e manter estreita correlação com o objetivo de alcançar o fim maior do processo, qual seja, a tutela jurisdicional através da sentença de mérito.” (BARROS, 2003) O artigo 282 do Código de Processo Civil elenca da seguinte forma os requisitos da petição inicial: 1) “o juiz ou tribunal a quem é dirigida”; 2) “os nomes, prenomes, estado civil, profissão, domicílio e residência do autor e do réu”; 3) “o fato e os fundamentos jurídicos do pedido”; 4) “o pedido, com as suas especificações”; 5) “o valor da causa”; 6) “as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados” e 7) “o requerimento para a citação do réu”. Nesse instante convém analisar, ainda que superficialmente, cada um dos requisitos acima mencionados: O primeiro requisito diz respeito ao juiz ou tribunal a quem a petição é Introdução à Redação Jurídica 34 dirigida. O autor da ação deve estar atento a este requisito, pois, caso o juízo seja absolutamente incompetente, o magistrado poderá encaminhar os autos ao juízo competente e todos os atos decisórios serão considerados nulos, nos termos do §2° do artigo 113 do CPC. Porém, se o magistrado, ao despachar a petição inicial, não encaminhar os autos ao juízo competente, caberá ao réu suscitar a incompetência absoluta, conforme estabelece o artigo 301, inciso II, do CPC, sob pena de responder pelas custas processuais, nos moldes preconizados pelo artigo 113, §1° do CPC. Por outro lado, caso o juízo seja relativamente incompetente, a petição só poderá ser encaminhada ao juízo competente após o acolhimento da exceção de incompetência oposta pelo réu (artigo 112 do CPC) e, se tal providência não for adotada, o juízo relativamente incompetente terá a sua competência prorrogada. O segundo requisito da petição inicial refere-se à qualificação das partes, “imprescindível à formação do processo, devendo ocorrer da forma mais precisa possível, merecendo especial destaque a residência e/ou domicílio do réu para fixação da competência.” (BARROS, 2003) O terceiro requisito está relacionado à exposição do fato e dos fundamentos jurídicos do pedido. “A causa de pedir, também denominada de causa petendi ou fundamento jurídico do pedido, diverge do fundamento legal do pedido, cuja existência é imprescindível, mas não há necessidade de ser mencionada. Expondo os fatos, o juiz extrairá o direito, mas é de boa técnica processual sempre mencionar o embasamento legal almejado.” (BARROS, 2003) O quarto requisito diz respeito ao pedido e suas especificações. “O pedido mantém estreita relação com a causa de pedir, pois desta advém aquele. O pedido é o objeto da ação e do processo, já que representa aquilo que persegue o autor. É a expressão da pretensão. Diferencia-se o pedido em pedido imediato e pedido mediato. O primeiro é a prestação jurisdicional, a sentença e, o segundo, aquilo que se pretende atingir através da declaração, constituição ou condenação inserida na sentença.” Além disso, é importante lembrar que “está o juiz adstrito, por força dos artigos 128 e 460 do CPC, a decidir dentro dos limites do pedido, sendo-lhe vedado decidir além destes, que também são chamados de limites objetivos da coisa julgada.” Ademais, “a própria lei prevê que em caso de dúvida o pedido deve ser interpretado Introdução à Redação Jurídica 35 restritivamente, com fulcro no art. 293 do CPC.” (BARROS, 2003) O quinto requisito da petição inicial é o valor da causa. “No processo civil a indicação do valor da causa é obrigatória, ainda que não possua, a mesma, conteúdo econômico imediato (CPC, art. 258).” A finalidade da indicação é a de “possibilitar a fixação das custas e o procedimento, sendo possível ainda a impugnação em petição separada que poderá causar até mesmo a suspensão do processo enquanto o juiz não decidir em 10 dias acerca do incidente, o que ocorrerá após, obviamente, o prazo de 5 dias concedido ao autor para se manifestar.” (BARROS, 2003) O sexto requisito relaciona-se aos meios de prova. “A regra no processo civil é a de que a parte deverá indicar na inicial os meios de prova que pretende produzir na instrução processual, inclusive fazendo-se acompanhar de documentos, com espeque no art. 283 do CPC, bem assim nos artigos 276, 297 e 396 do mesmo diploma.” (BARROS, 2003) O sétimo requisito é o requerimento para citação do réu. De acordo com o artigo 213 do CPC, a citação é “o ato pelo qual se chama a juízo o réu ou o interessado a fim de se defender”, ou seja, é o ato pelo qual se assegura o exercício do contraditório. Vale lembrar que a citação pode ser feita das seguintes formas: a) pelo correio, com Aviso de Recebimento; b) por mandado, quando o réu é incapaz ou quando não há entrega domiciliar de correspondência; c) por edital, nas hipóteses previstas no artigo 231 do CPC, as quais devem ser mencionadas na inicial; d) por meio eletrônico, nos moldes previstos na Lei nº 11.419/2006. É importante ressaltar, ainda, que todos os requisitos mencionados acima devem ser observados, também, em sede de ação civil pública, a qual é “regulada pela Lei nº 7.347 de 24/07/1985 – LACP, dispondo sobre a responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitosde valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.” (LOPES, 2009, p.1077) A ação civil pública “tem natureza jurídica constitucional, incorporada no art. 129, III, da CF, que dispõe sobre a função institucional do Ministério Público promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, Introdução à Redação Jurídica 36 do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos.” (LOPES, 2009, p.1077) A legislação brasileira também admite ajuizamento de ações civis públicas para a “proteção de direitos homogêneos, tais como: Lei nº 7.913/99 (ação civil pública de responsabilidade por danos causados aos investidores no mercado de valores mobiliários); Lei nº 6.024/74 (ação civil pública de responsabilidade pelos danos causados pelos administradores e membros do conselho fiscal de instituições financeiras).” (LOPES, 2009, p.1078) A competência para o processo e julgamento da ação civil pública é “do foro do local onde ocorrer o dano, cujo juízo terá competência funcional para processar e julgar a causa (art. 2º da LACP). Caso esteja presente uma das hipóteses previstas no art. 109 da CF, a competência passa a ser da Justiça Federal (quando União, Entidade Autárquica ou Empresa Pública Federal for interessada).” (LOPES, 2009, p.1078) Além disso, a propositura da ação civil pública “prevenirá a jurisdição do juízo para todas as ações posteriores intentadas que possuam a mesma causa de pedir ou o mesmo pedido (art. 2º da LACP).” (LOPES, 2009, p.1078) Por fim é importante esclarecer que podem ser adotados “os ritos ordinário, sumário ou qualquer procedimento especial adequado, previstos no CPC (art. 19 da LACP).” (LOPES, 2009, p.1078) Para maiores detalhes a respeito dos principais requisitos que devem constar em uma Petição Inicial (Ação Civil Pública) veja o seguinte modelo: Da petição inicial Dica: Veja o seguinte trecho, extraído da obra “Manual de Português Jurídico”, de autoria do professor Eduardo Sabbag, sobre as técnicas para elaboração de uma boa petição inicial: Modelo de petição inicial - Ação Civil Pública https://dl.dropboxusercontent.com/u/52340770/redacao/Peti%C3%A7%C3%A3o%20Inicial%20-%20Eduardo%20Sabbag.pdf https://www.dropbox.com/s/zsz4u8ufy8rdhb6/ACP%20-%20Obriga%C3%A7%C3%A3o%20de%20Fazer%20-%20cria%C3%A7%C3%A3o%20de%20entidade%20de%20acolhimento%20e%20outras%20provid%C3%AAncias.odt?dl=0 Introdução à Redação Jurídica 37 2. Medidas cautelares Medida cautelar é o procedimento judicial que visa “prevenir, conservar, defender ou assegurar a eficácia de um direito. Isto porque é um ato de precaução ou um ato de prevenção promovido no Judiciário (...) quando for manifesta a gravidade, quando for claramente comprovado um risco de lesão de qualquer natureza, ou na hipótese de ser demonstrada a existência de motivo justo, amparado legalmente.” (SANTOS, 2011) As medidas cautelares poderão ser “‘preparatórias’, quando são requeridas antes da propositura do processo principal, ou ainda ‘incidentes’, quando são requeridas depois de proposto o processo principal.” (SANTOS, 2011) Quando a ação cautelar é proposta em caráter preparatório “haverá um prazo para que o autor promova a ação principal, sob pena de ficar sem efeito a providência deferida pelo juiz.” (SANTOS, 2011). A esse respeito o Código de Processo Civil dispõe o seguinte: Art. 806. Cabe à parte propor a ação, no prazo de 30 (trinta) dias, contados da data da efetivação da medida cautelar, quando esta for concedida em procedimento preparatório. Art. 807. As medidas cautelares conservam a sua eficácia no prazo do artigo antecedente e na pendência do processo principal; mas podem, a qualquer tempo, ser revogadas ou modificadas. Art. 808. Cessa a eficácia da medida cautelar: I - se a parte não intentar a ação no prazo estabelecido no art. 806; II - se não for executada dentro de 30 (trinta) dias; III - se o juiz declarar extinto o processo principal, com ou sem julgamento do mérito. Além disso, o Código de Processo Civil também estabelece o seguinte: Art. 796. O procedimento cautelar pode ser instaurado antes ou no curso do processo principal e deste é sempre dependente. Introdução à Redação Jurídica 38 Art. 809. Os autos do procedimento cautelar serão apensados aos do processo principal. Assim, percebe-se que a medida cautelar, pela sua própria natureza, “está vinculada à decisão do processo principal e, por isso, tem caráter de provisoriedade, ou seja, só manterá seus efeitos se, ao final da demanda, o juiz acolher na sentença do processo principal o reconhecimento da legalidade e legitimidade do pedido que lhe deu origem e fundamentação.” (SANTOS, 2011) Vale lembrar, ainda, que a medida cautelar pode ser deferida pelo juiz antes da outra parte apresentar defesa, ou até mesmo antes da outra parte saber da existência do processo. Estas situações, por óbvio especiais, e sempre autorizadas por lei, “visam garantir a eficácia da medida quando o simples fato de se permitir que a outra parte dela tome conhecimento, puder frustrar seu objetivo ou colocar em risco sua execução.” (SANTOS, 2011) Para maiores detalhes a respeito dos principais requisitos que devem constar em uma Ação Cautelar veja o seguinte modelo: 3. Memoriais / pareceres As alegações finais, chamadas por alguns de razões finais, “são atos processuais realizados pelos procuradores das partes, após a fase instrutória, por meio de debate oral ou apresentação de memoriais.” (SALOMÃO, 2013) A apresentação das alegações finais deve ocorrer após o fim da instrução. “O juiz dá a palavra ao advogado do autor e ao do réu, bem como ao MP, sucessivamente, Modelo de Ação Cautelar https://www.dropbox.com/s/u11ruhxk9pfsj5i/ok_-_acao_cautelar_de_busca_e_apreensao_de_cartao_do_inss_de_idoso.doc?dl=0 Introdução à Redação Jurídica 39 por 20 minutos, para que façam suas alegações finais. Cumpre ressaltar que este prazo pode ser prorrogável por mais 10 minutos, a critério do juiz (art. 454, caput do CPC).” (SALOMÃO, 2013) Encerrado o debate ou oferecidos os memoriais, “o juiz proferirá a sentença desde logo ou no prazo de 10 (dez) dias.” (SALOMÃO, 2013) O CPC ainda especifica como devem ocorrer tais debates na hipótese de haver litisconsórcio ou intervenção de terceiros. “Nestes casos, o prazo concedido é de 30 minutos para cada grupo (os 20 minutos normais mais 10 minutos de prorrogação), que serão divididos igualmente entre os interessados, salvo se convencionarem de forma diferente.” (SALOMÃO, 2013) A regra acima mencionada encontra-se prevista no art. 454, §1º, do CPC, cuja redação é a seguinte: “Havendo litisconsorte ou terceiro, o prazo, que formará com o da prorrogação um só todo, dividir-se-á entre os do mesmo grupo, se não convencionarem de modo diverso.” Por fim, o art. 454, §3º, do CPC estabelece que “quando a causa apresentar questões complexas de fato ou de direito, o debate oral poderá ser substituído por memoriais, caso em que o juiz designará dia e hora para o seu oferecimento.” Conclui-se, portanto, que as alegações finais (sejam na forma escrita ou oral) “esclarecem todos os fatos do processo, lembrando-os, mencionando-os e descrevendo-os de forma a demonstrar que as teses defendidas pelas partes devem ser acolhidas.” (SALOMÃO, 2013) Para maiores detalhes a respeito dos principais requisitos que devem constar nos Memoriais e nos Pareceres veja os seguintes modelos: Modelo de Memoriais Modelo de Parecer https://www.dropbox.com/s/rj3mj14glb5utwd/Memoriais%20finais%20-%20a%C3%A7%C3%A3o%20de%20destitui%C3%A7%C3%A3o%20de%20poder%20familiar%20cumulada%20com%20ado%C3%A7%C3%A3o.doc?dl=0 https://www.dropbox.com/s/v4tbw1fsqru5js9/Parecer%20-%20Mandado%20de%20Seguran%C3%A7a%20-%20Exonera%C3%A7%C3%A3o%20-%20Turv%C3%A2nia.doc?dl=0 Introdução à Redação Jurídica 40 4. Razões e contrarrazões recursais Antes de tratar das razões e contrarrazões recursais é imprescindível dedicar algumaslinhas aos principais aspectos inerentes aos recursos de uma forma geral. Um recurso, no contexto ora analisado, pode ser definido como uma espécie de “remédio processual que a lei coloca à disposição das partes para impugnação de decisões judiciais, dentro do mesmo processo, com vistas à sua reforma, invalidação, esclarecimento ou integração, bem como para impedir que a decisão impugnada se torne preclusa ou transite em julgado.” (PAIVA, 2013) O art. 496 do CPC trata da “grade recursal básica do processo civil brasileiro e elenca os seguintes recursos: apelação, embargos infringentes, embargos de declaração, recurso ordinário, recurso especial, recurso extraordinário e embargos de divergência em recurso especial ou extraordinário.” (PAIVA, 2013) Em relação aos requisitos genéricos de admissibilidade dos recursos, estes se dividem em: “condições recursais (cabimento, legitimidade e interesse) e pressupostos recursais (tempestividade, preparo, regularidade formal e inexistência de fato impeditivo ou extintivo do direito de recorrer).” (PAIVA, 2013) O cabimento é a “previsão legal do recurso e adequação à decisão judicial que se quer impugnar (sentença/apelação, interlocutória/agravo, etc.).” (PAIVA, 2013) Já em relação à legitimidade para recorrer, o art. 499 do CPC estabelece que “o recurso pode ser interposto pela parte vencida, pelo terceiro prejudicado ou pelo Ministério Público.” Quanto ao interesse em recorrer, pode-se dizer que somente tem tal interesse “aquele que, legitimado para tanto, tenha sofrido um gravame, total ou parcial, com a decisão impugnada (gravame material ou meramente processual). Aplica-se o binômio necessidade/utilidade.” (PAIVA, 2013) Sobre a tempestividade basta lembrar que “tempestivo é o recurso interposto Introdução à Redação Jurídica 41 dentro do prazo legal.” (PAIVA, 2013) Já o preparo significa que “o recorrente, ao interpor o recurso, deverá comprovar o pagamento das custas processuais respectivas. Ao protocolar o recurso, o preparo deve já ter sido feito. Sendo insuficiente o preparo, a parte será intimada para, em cinco dias, complementar o valor (§2º do art. 511 do CPC). Ministério Público, União, Estados, Municípios e respectivas autarquias, por gozarem de isenção legal, não se sujeitam ao preparo.” (PAIVA, 2013) No que tange à regularidade formal, é importante ressaltar que o recurso deve “obedecer às regras formais de interposição exigidas pela lei para seu tipo específico.” (PAIVA, 2013) Por fim, sobre a inexistência de fato impeditivo ou extintivo do direito de recorrer, a doutrina esclarece que “não podem existir, no caso concreto, situações como desistência, renúncia ou preclusão lógica.” (PAIVA, 2013) Tecidos esses esclarecimentos genéricos a respeito dos recursos, vale lembrar que nas razões recursais serão expostas as irresignações em relação à sentença, quer seja no todo ou apenas no que diz respeito à parte dela. Para tanto, tais irresignações devem seguir a mesma ordem da sentença. A argumentação recursal também precisa seguir as recomendações mencionadas no Módulo 1, ou seja, ter objetividade, clareza e eficiência. A peça não precisa ser, necessariamente, extensa, mas é preciso que a argumentação seja lógica e convincente, para demonstrar que o recorrente está com a razão. Recomenda-se que a argumentação esteja realçada com citações doutrinárias e jurisprudenciais, haja vista que tais artifícios aumentam o poder de convencimento. Como já mencionado, nas razões, não é de boa técnica se referir ao magistrado “a quo”, julgador singular, etc. Reporte-se apenas à sentença ou acórdão, que é a prestação jurisdicional, com a qual o recorrente não concorda. Nas contrarrazões rebatem-se os argumentos do recorrente. Não precisa seguir a ordem das razões, conquanto todas as ponderações sejam refutadas numa sequência Introdução à Redação Jurídica 42 lógica de raciocínio. No mais, as recomendações são as mesmas utilizadas para a elaboração das razões recursais. Para maiores detalhes a respeito dos principais requisitos que devem constar nas Razões e nas Contrarrazões Recursais veja os seguintes modelos: Modelo de Razões Recursais Modelo de Contrarrazões Recursais https://www.dropbox.com/s/i7kj1m71waf9o4r/apelacao_2%20pj%20novo%20gama_reforma%20unidade%20escolar%20estadual_2015.doc?dl=0 https://www.dropbox.com/s/bdsj0bwnnynh7ne/Contrarraz%C3%A3o%20Agravo%20de%20Instrumento%20-%20WALLMART%20%283%29.doc?dl=0 Introdução à Redação Jurídica 43 Documentos jurídicos diversos 1. Termo de ajustamento de conduta O termo de ajustamento de conduta é típico “meio alternativo de solução extrajudicial de conflitos: uma vez proposto, espera-se que o compromitente vá cumprir as exigências estabelecidas pelo legitimado-compromissário; do contrário, o movimento extrajudicial não se esgota, não se finda, tendo em vista a possibilidade de ingressar em Juízo visando sua execução.” (SANCHOTENE, 2011) É importante esclarecer que o termo de ajustamento de conduta, ao contrário do que alguns podem pensar, não nasceu com o advento da Lei nº 7.347/85. “Co- gitou-se dele, inicialmente, com o disposto no art. 211 do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069, de 13-07-90), que preceitua o seguinte: ‘Os órgãos públi- cos legitimados poderão tomar dos interessados compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais, o qual terá eficácia de título executivo extrajudicial.’” (SANCHOTENE, 2011) Pouco tempo depois, “o Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078, de 11-09-90), em seu artigo 113, acrescentou o §6º ao art. 5º da Lei nº 7.347/85, aprimorando o instituto, como segue: ‘Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais, mediante cominações, que terá eficácia de título executivo extrajudicial.’” (SANCHOTENE, 2011) Verifica-se na legislação consumerista, “o acréscimo do termo ‘mediante cominações’ ao que anteriormente foi disposto pelo ECA. Essa alteração foi significativa Introdução à Redação Jurídica 44 para que os legitimados impusessem certa exigência visando o cumprimento do que era estabelecido no pacto.” (SANCHOTENE, 2011) Conforme preceitua Hugo Nigro Mazzilli, “ao contrário de uma transação vera e própria do direito civil, na qual as partes transigentes fazem concessões mútuas para terminarem o litígio, já na área dos interesses metaindividuais temos o compromisso exclusivo do causador do dano (compromitente) a ajustar sua conduta de modo a submetê-la às exigências legais (objeto). De sua parte, o órgão público legitimado que toma o compromisso (compromissário), não se obriga a conduta alguma, exceto, como decorrência implícita, a não agir judicialmente contra o compromitente em relação àquilo que foi objeto do ajuste, exceto sob alteração da situação de fato (cláusula rebus sic stantibus implícita), ou em caso de interesse público indisponível...” (apud SANCHOTENE, 2011) Quanto ao objeto do termo de ajustamento de conduta fala-se em direitos metaindividuais, cuja definição legal encontra-se prevista no parágrafo único do artigo 81 do Código de Defesa do Consumidor: Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo. Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de: I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato; II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base; III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum.São, portanto e em princípio, “três os interesses ou direitos abrangidos pelo ajustamento de conduta: difusos, coletivos ou individuais homogêneos.” (SANCHOTENE, 2011) Introdução à Redação Jurídica 45 Quanto às principais características do termo de ajustamento de conduta, Hugo Nigro Mazzilli aponta as seguintes: “a) dispensa testemunhas instrumentárias; b) o título gerado é extrajudicial; c) mesmo que verse apenas ajustamento de conduta, passa a ensejar execução por obrigação de fazer; d) na parte em que comine sanção pecuniária, permite a execução por quantia líquida em caso de descumprimento da obrigação de fazer; e) mesmo que verse apenas obrigação de fazer, pode ser executado independentemente de prévia ação de conhecimento.” (apud SANCHOTENE, 2011) Por outro lado, Mazzilli aponta algumas limitações aos compromissos de ajustamento de conduta, dentre as quais destacam-se as seguintes: “a) como são garantia mínima e não máxima da responsabilidade do causador do dano a interesses metaindividuais, consequentemente não podem os compromissos estipular cláusulas limitativas de responsabilidade nem impeditivas de acesso dos lesados à jurisdição; b) pelo mesmo motivo, não podem os compromissos de ajustamento incluir renúncia a direitos materiais, de que não são titulares os órgãos públicos legitimados a tomarem os compromissos; c) ainda por isso, não se admite que, nos compromissos de ajustamento de conduta, haja transação quanto ao objeto material do litígio, até porque não têm os legitimados ativos à ação civil pública ou coletiva a disponibilidade sobre o direito material controvertido; d) porque não se admite transação nem mesmo em juízo de matéria atinente à improbidade administrativa, com maior razão não se admite compromisso de ajustamento que importe renúncia ou dispensa de exercício de direitos em prejuízo do patrimônio público.” (apud SANCHOTENE, 2011) Com base em tudo que foi mencionado, pode-se perceber que o termo de ajus- tamento de conduta é uma “genuína modalidade alternativa da solução de conflitos”, pois, “uma vez admitido, oferecido e cumprido, não mais subsistirá o denominado dano que deu causa à sua oferta e, desse modo, qualquer lesão ou ameaça a direito difuso, coletivo ou individual homogêneo.” (SANCHOTENE, 2011) Para maiores detalhes a respeito dos principais requisitos que devem constar no Termo de Ajustamento de Conduta veja o seguinte modelo: Modelo de Termo de Ajustamento de Conduta https://www.dropbox.com/s/2ybrn2mgv3phar0/tac_-_acessibilidade_transporte_coletivo_-_catalao.pdf?dl=0 Introdução à Redação Jurídica 46 2. Recomendações A Lei Orgânica Nacional do Ministério Público (Lei nº 8.625/93) estabelece que “no exercício de suas atribuições, incumbe à instituição emitir ‘recomendações’ dirigidas aos poderes estaduais ou municipais, órgãos da Administração Pública Estadual ou Municipal, direta ou indireta, concessionários e permissionários de serviço público e entidades que exerçam outra função delegada do Estado ou do Município ou executem serviço de relevância pública. As recomendações podem ser acompanhadas de requisição, ao destinatário, de divulgação adequada e imediata de seu conteúdo, assim como resposta por escrito.” (FRANCO JÚNIOR, 2013) Apesar disso, a utilização da recomendação ainda se encontra limitada por parte da instituição e, por isso, deve ser incrementada “a fim de que possa atender às finalidades protetivas do erário público, considerando a sua força de correção e prevenção, bem como sua utilidade preambular na adoção de outros instrumentos judiciais e extrajudiciais de maior complexidade ou contenciosidade.” (FRANCO JÚNIOR, 2013) Tomada de forma geral, a recomendação “pode ter um sentido positivo (realizar determinada tarefa ou suprir uma omissão) ou uma acepção negativa (deixar de agir de determinado modo)” (FRANCO JÚNIOR, 2013). Porém, ela também é apta a gerar efeitos indiretos, dentre os quais destacam-se os seguintes: a) condiciona comportamentos jurídicos, influenciando na tomada de decisões; b) tem um caráter psicologicamente conformador e influi nos mecanismos psicológicos de escolha, sem tolher a liberdade decisória do destinatário; c) gera o referido dever de pronunciamento do destinatário (a nossa lei prevê a possibilidade de exigir dele uma resposta escrita); d) quando acatada, pode ser útil como elemento atenuador de certas responsabilidades ou repercutir na esfera jurídica de terceiros (nomeadamente Introdução à Redação Jurídica 47 nos casos que envolvem direitos supraindividuais); e) quando não acatada, pode servir de elemento demarcador da responsabilidade civil e criminal e não impede que os fatos venham a constituir objeto de outras medidas; f) no campo interno, as recomendações vinculam o próprio Ministério Público. (FRANCO JÚNIOR, 2013) Com base em tudo que foi mencionado é possível concluir que a recomendação “é instrumento com assento legal e que permite estender a função-ombudsman do Ministério Público, prevista no inc. II, do art. 129, da CF, à função de proteção do patrimônio público e social, referida no inc. III do mesmo dispositivo constitucional; deve ser mais largamente utilizada, seja como forma singela de correção de ilegalidades, seja como medida preliminar demarcatória do elemento subjetivo, no exame de atos onde possam remanescer dúvidas acerca da má-fé do investigado, mas, em contrapartida, deve-se ter o cuidado para que não se incorra na banalização do seu uso; deve ser instruída por alentada fundamentação, de modo a agregar conteúdo jurídico à força moral que dela decorre; e pode ser expedida independentemente da existência de inquérito civil ou de outros procedimentos investigatórios, sem prejuízo de ser utilizada no curso ou no desfecho desses instrumentos.” (FRANCO JÚNIOR, 2013) Para maiores detalhes a respeito dos principais requisitos que devem constar nas Recomendações veja o seguinte modelo: Modelo de Recomendação https://www.dropbox.com/s/jjsp2liuswkjzj7/recomendacao.doc?dl=0 Introdução à Redação Jurídica 48 3. Termo de declarações O termo de declarações é um texto do gênero jurídico que corresponde ao registro das informações prestadas por indivíduos que, de alguma forma, possam colaborar com o esclarecimento de um determinado fato jurídico, entendido este como qualquer acontecimento que acarrete consequências no mundo jurídico, como ocorre, por exemplo, com as declarações prestadas por testemunhas, vítimas, indiciados, etc. É importante lembrar que as condições de produção desse tipo de texto são singulares, pois a pessoa responsável por reduzir a termo as declarações deve fazê-lo da maneira mais fidedigna possível. Ao colher as declarações é salutar, em primeiro lugar, ouvir um breve relato do que a pessoa tem a dizer. Além disso, convém utilizar apenas as palavras “declarante” ou “depoente”, para se referir à pessoa que está sendo ouvida. Da mesma forma, é de suma importância organizar uma sequência lógica (ou cronológica) dos fatos, independente do que for exposto pelo(a) depoente. Por isso, convém, sempre, perguntar e colocar no texto as datas e os locais dos fatos. No âmbito criminal, especificamente, o membro do Ministério Público deve perguntar se o(a) declarante quer representar [ou seja, se ele(a) deseja que sejam adotadas as providências criminais] contra o agressor (autor do fato), em especial nos delitos que dependam de representação da vítima. É importante, também, caso seja possível, identificar (com nome, endereço e telefone) as pessoas eventualmente referidas no depoimento a ser colhido, já que, muitas vezes, essas pessoas podem trazer mais esclarecimentos sobre os fatos. Um aspecto bastante polêmico acerca do termo de declarações diz respeito à constante utilização da palavra “que”. A esse respeito, Maria Izabel Plath da Costa ensina o seguinte: “a conjunção integrante ‘que’ cumpre papeis importantes nesse tipo de texto, considerando a Introdução
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