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Filosofia e política na contemporaneidade_ por uma ética da existência

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Filoso�a e política na contemporaneidade:
por uma ética da existência
Filoso�a e História da Educação
1. Introdução
Na sociedade brasileira, é muito comum ouvirmos nas conversas entre amigos, na mídia ou em
outros espaços diversas posições acerca das conexões entre estes dois temas. Em polos opostos,
percebemos posições mais alienadas e outras consideradas engajadas. Os mais desencantados e
descrentes tendem a reforçar a ideia de que as práticas do “mundo da política” nada têm de ético,
que os princípios que orientam os dois campos são autoexcludentes e que, de fato, não há o que
“Quanto menos inteligente um homem é, menos misteriosa lhe parece a existência.”
(Arthur Schopenhauer)
Existência. Existir para quê?
https://cead.uvv.br/conteudo/wp-content/uploads/2019/04/aula_filedu_top09_img01.png
fazer sobre isso. Por outro lado, há quem defenda que a política deva se basear na ética, orientar-se
por ela e, assim, resgatar o valioso papel que deve desempenhar em qualquer sociedade livre e
democrática. É realmente possível que a polarização entre essas perspectivas se explique pelas
experiências ruins ou boas vividas individualmente. Entretanto, acreditamos que, muitas vezes, as
opiniões derrotistas sejam alimentadas pela mera reprodução do senso comum. Por isso, nos
interessa questionar algumas ideias que envolvem esta temática e que se tornaram cristalizadas
apenas pela ausência de reflexão e de informação. Assim, precisamos pensar: o que é ética? O que
entendemos por política? Como a ética e a política se fazem presentes no nosso cotidiano? Podemos
dizer que esses termos são neutros? Quais as interseções entre os dois temas? Por que, afinal, esse
assunto parece pertencer a um “outro mundo” que se distancia do nosso dia a dia?
Então, precisamos ter em mente, para início de conversa, que Filosofia política é uma vertente da
filosofia cujo objetivo é estudar as questões a respeito da convivência entre o ser humano e as
relações de poder. Também analisa temas a respeito da natureza do Estado, do governo, da justiça,
da liberdade e do pluralismo.
O que investiga a filosofia política? Entre as diversas questões que a filosofia visa investigar, pode-
se perguntar sobre como é e como deveria ser o convívio em sociedade. Se for investigada a
palavra política, que vem do grego, será compreendido que “politika” refere-se aos assuntos da
cidade, ou seja, a “polis”.
2. Filosofia política – Um breve relato
Filosofia política é uma vertente da filosofia cujo objetivo é estudar as questões a respeito da
convivência entre o ser humano e as relações de poder. Também analisa temas a respeito da
natureza do Estado, do governo, da justiça, da liberdade e do pluralismo. Na filosofia, deve ser
entendida num sentido amplo, que envolve as relações entre os habitantes de uma comunidade e
seus governantes e não apenas como sinônimo de partidos políticos.
Tais cidades contemplavam as mais variadas formas de organização política como a aristocracia,
democracia, monarquia, oligarquia e, até, a tirania. Na medida em que as cidades cresceram, o
termo política passou a ser aplicado a todas as esferas cujo o poder estava envolvido. Assim, num
sentido amplo, existe política desde aqueles que habitam aldeias, como aqueles que moram em
estados-nacionais.
Inúmeros autores se dedicaram à filosofia política, porém destacaremos os mais importantes como
Aristóteles, Nicolau Maquiavel e Jean-Jacques Rousseau.
Entre as obras mais influentes da filosofia política está a “Política”, de Aristóteles. O pensamento
de Aristóteles aponta que a natureza humana é a justificativa para o homem viver em grupo e esta é
uma das características principais que torna homens e mulheres seres humanos.
 
A finalidade da vida humana é ser feliz e fazer os outros felizes. Desta maneira, Aristóteles aponta
que o “homem é um animal político”, no sentido que ele vive em comunidade.
A filosofia política ocidental surgiu na Grécia antiga e dizia a respeito sobre a convivência dos
habitantes dentro das cidades-estado gregas. Estas eram independentes e, muitas vezes, rivais
entre si
(CHAUÍ, 2010).
Aristóteles descreveu a política como um meio pelo qual a coletividade chega à felicidade.
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É importante lembrar que, para Aristóteles, a política era um desdobramento da ética e, sem esta,
não era possível fazer política.
A teologia cristã apropriou-se do pensamento de Aristóteles e o utilizou largamente, conciliando o
pensamento cristão com o a filosofia aristotélica.
Essa corrente é percebida nas obras de Santo Agostinho, que enfatiza o Estado como instrumento
de aplicação da moral; e São Tomás de Aquino, cuja filosofia escolástica dominou o pensamento
europeu por muitos séculos.
Também devemos a Aristóteles a definição do campo das ações éticas. Estas não só são definidas
pela virtude, pelo bem e pela obrigação, mas também, pertencem àquela esfera da realidade na qual
cabem a deliberação e a decisão ou escolha. Em outras palavras, quando o curso de uma realidade
segue leis necessárias e universais, não há como nem por que deliberar e escolher, pois as coisas
acontecerão, necessariamente, tais como as leis que as regem determinam que devam acontecer.
Não deliberamos sobre as estações do ano, o movimento dos astros, a forma dos minerais ou dos
vegetais. Não deliberamos e nem decidimos sobre aquilo que é regido pela Natureza, isto é, pela
necessidade. Mas, deliberamos e decidimos sobre tudo aquilo que, para ser e acontecer, depende de
nossa vontade e de nossa ação. Não deliberamos e não decidimos sobre o necessário, pois o
necessário é o que é e o que será sempre, independentemente de nós. Deliberamos e decidimos
sobre o possível, isto é, sobre aquilo que pode ser ou deixar de ser, porque para ser e acontecer
depende de nós, de nossa vontade e de nossa ação (CHAUÍ, 2010).
Aristóteles acrescenta à consciência moral, trazida por Sócrates, a vontade guiada pela razão como
o outro elemento fundamental da vida ética.
A importância dada por Aristóteles à vontade racional, à deliberação e à escolha o levou a
considerar uma virtude como condição de todas as outras e presente em todas elas: a prudência ou
sabedoria prática. O prudente é aquele que, em todas as situações, é capaz de julgar e avaliar qual a
atitude e qual a ação que melhor realizarão a finalidade ética, ou seja, entre as várias escolhas
possíveis, qual a mais adequada para que o agente seja virtuoso e realize o que é bom para si e para
os outros.
Com isso, pode-se observar que os valores morais modificam-se na História porque seu conteúdo é
determinado por condições históricas. Podemos comprovar a determinação histórica do conteúdo
dos valores, examinando as virtudes definidas em diferentes épocas.
Considerada uma obra fundamental do filósofo Aristóteles e um dos livros principais para se
compreender a cultura ocidental, “Ética a Nicômaco” é uma obra chave que debate assuntos
referentes à moral e ao caráter. O que chamamos de Ética a Nicômaco é uma coletânea que reúne
dez livros e versa sobre os mais variados assuntos, enfocando, especialmente, na questão da
felicidade e nos meios para se alcançá-la.
Se tomarmos como base tal obra, nela encontraremos a síntese das virtudes que constituíam a
“arete” (a virtude ou excelência ética) e a moralidade grega durante o tempo em que a polis
autônoma foi a referência social da Grécia.
Aristóteles distingue vícios e virtudes pelo critério do excesso, da falta e da moderação: um vício é
um sentimento ou uma conduta excessivos, ou, ao contrário, deficientes; uma virtude, um
sentimento ou uma conduta moderados (CHAUÍ, 2010).
O rompimento do entendimento europeu sobre a filosofia política se dá a partir da obra de Nicolau
Maquiavel (1469-1527).
Obra “Ética a Nicômaco”, de Aristóteles.
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Dessamaneira, os atos dos governantes não são bons ou maus por si mesmos. Eles devem ser
analisados tendo em conta o objetivo final que teriam. Maquiavel desvincula a política da moral, da
ética e da religião cristã. O objetivo é estudar a política pela política e afastar outras áreas que
possam afetar seu resultado.
O Iluminismo impõe uma nova ordem do pensamento ao privilegiar a reflexão científica. O
Absolutismo é questionado, gerando uma série de obras que visam ponderar sobre a origem dos
governos e da política.
Em “O Príncipe”, o filósofo pondera que o bem e o mal são apenas meios de chegar ao fim.
A obra O Príncipe é iniciada com uma dedicatória ao “Magnífico Lourenço, Filho de Pedro de
Médici” - diplomata, político e patrono de acadêmicos, artistas e poetas e também mecenas - na
qual o autor explicita o fato de que, não tendo algo melhor que os conhecimentos adquiridos ao
longo de sua vida: “o conhecimento das ações dos grandes homens“ adquiridos, assim como ele diz,
após estudos de fatos atuais e históricos (MAQUIAVEL, 1996).
Inicialmente, o autor lança mão da definição dos principados. Segundo Maquiavel (1996, p.6):
Todos os Estados, os domínios todos que existiram e existem sobre os homens, foram e são
repúblicas ou principados. Os principados ou são hereditários e seu senhor é príncipe pelo
sangue de longa data ou são novos. Seja habituado à sujeição a um príncipe, seja livre, e são
adquiridos com tropas alheias ou próprias, graças à fortuna ou à “virtú”.
Segundo Maquiavel (1996), principiados hereditários são aqueles que já são pertencentes a sua
família, basta que o príncipe não abandone o proceder dos antecessores, e também, use de
contemporização com as situações novas.
Acerca do principado misto, Maquiavel (1996, p.7) defende a tese de que “entretanto a dificuldade
está nos principados novos. Primeiro, se não é o caso de principado novo, totalmente, e sim, de
membro reunido a Estado hereditário”. Ou seja, aquele que se opuser ao príncipe é deste, inimigo;
ainda assim, o príncipe não deverá ter como amigos aqueles que o colocaram no poder, pois, se
assim o tiverdes, será possível que eles, ao se tornarem insatisfeitos com a autoridade, se rebelem
contra o príncipe.
Maquiavel (1996) sugere que, para resguardar seu poderio ao anexar novos territórios de mesma
cultura, o príncipe deve extinguir a linhagem do antigo príncipe e não modificar leis e impostos.
Porém, em caso de cultura, língua ou leis diferentes, é aconselhável que o príncipe vá habitar no
local, assim, em caso de desordens, está de pronto para resolvê-las, além de que, segundo
Maquiavel (1996, p.10)
“os súditos ficam satisfeitos porque o recurso ao príncipe se torna mais fácil, donde têm mais
razões para amá-lo, querendo ser bons, e para temê-lo, caso queiram agir por forma diversa.”
Nicolau Maquiavel, autor de “O Príncipe”, inaugura uma forma distinta de pensar a política.
Outro modo eficiente, ou remédio, é criar Colônias, visto que não é muito que se gasta com as
colônias, podendo assim, ser organizadas e mantidas. Os únicos que terão prejuízos com elas serão
de quem se tomam os campos e as moradias para se darem aos novos habitantes.
Sobre questões pertinentes a principiados que possuem leis próprias antes de serem conquistados,
o autor ainda reitera o fato de que é necessário deixar que vivam com suas leis, arrecadando um
tributo e criando um governo de poucos, que se mantenham amigos nesse governo.
Já um principado no qual o príncipe chegar ao poder não pela crueldade, e sim, pelo favor de seus
concidadãos, tal pode ser denominado principado civil.
O autor afirma que não é possível possuir todas as virtudes e que, quem as possuem, não consegue
se manter no poder. Segundo Maquiavel (1996, p.72):
A um príncipe, portanto, não é necessário que, de fato, possua todas as sobreditas qualidades;
é necessário, porém, e muito, que ele pareça possuí-las. Antes, ouso dizer que, possuindo-as e
praticando-as sempre, elas redundam em prejuízo para si.
Entretanto, a afirmação feita pelo autor, não significa que ele não dê importância às virtudes, pois
segundo Maquiavel (1996) assassinar os seus concidadãos, trair os seus amigos, renegar a fé, a
piedade, a religião, não são ações que possam ser chamadas de virtuosas, pois por esses meios
pode-se conquistar o poder, mas não a glória.
Dotada de grande cunho político, a obra O Príncipe, de Nicolau Maquiavel, é por excelência, obra
escrita na época para todo político que aspirasse obter bons resultados durante seu governo.
Maquiavel aconselha os governantes sobre como governar e manter o poder absoluto, mesmo que
seja necessário utilizar forças militares para alcançar tal objetivo. O autor conclui que um bom
governante deveria ter virtude e fortuna.
“O Príncipe”, livro de Nicolau Maquiavel.
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A obra é escrita de maneira rebuscada, o que, ainda assim, não é capaz de torná-la incompreensível,
visto que, com uma leitura crítica, percebe-se que atinge pontos essenciais do estado.
Ao ler, é possível inferir dados perceptíveis da nossa sociedade, como exemplo: a utilização do
governo dos meios de entretenimento como forma de distração da população – método utilizado no
império romano na política do pão e circo, e que se assemelha na utilização de governos nacionais
da contemporaneidade. Ou seja, a história se repete e, pelo visto, funciona até hoje.
No século XVIII, outro filósofo que procurava resolver essas questões filosófico-políticas era
Rousseau,. Para ele, a consciência moral e o sentimento do dever são inatos, são “a voz da
Natureza” e o “dedo de Deus” em nossos corações. Nascemos puros e bons , dotados de
generosidade e de benevolência para com os outros. Se o dever parece ser uma imposição e uma
obrigação externa, imposta por Deus aos humanos, é porque nossa bondade natural foi pervertida
pela sociedade, quando esta criou a propriedade privada e os interesses privados, tornando-nos
egoístas, mentirosos e destrutivos.
O dever simplesmente nos força a recordar nossa natureza originária e, portanto, só em aparência é
imposição exterior. Obedecendo ao dever (à lei divina inscrita em nosso coração), estamos
obedecendo a nós mesmos, aos nossos sentimentos e às nossas emoções e não à nossa razão, pois
esta é responsável pela sociedade egoísta e perversa.
Jean-Jacques Rousseau está entre os autores de destaque dessa época. Sua obra, “O Contrato
Social”, publicada em 1762, é uma das mais influentes obras de filosofia política.
 
Nela, Rousseau argumenta que os seres humanos fazem uma espécie de contrato social com os
governantes. Em troca de deixarem a liberdade - o estado natural - alguém superior se encarregará
de fazer leis e fiscalizá-las. Somente desta maneira, os seres humanos poderão viver em paz e
prosperar.
Rousseau defendia que a soberania política vinha do povo.
3. Filosofia e política contemporânea
Como toda matéria científica, é importante asseverar que não há a pretensão neste tópico, de
oferecer respostas definitivas aos problemas sociopolítico-atuais; antes de tudo, auscultar temas e
problemas contemporâneos à luz das teorias de grandes autores e, assim, oferecer alternativas,
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entendimentos e críticas aos principais temas da política dos dias atuais.
As relações humanas são, antes de tudo, peças-chave da convivência em sociedade. Como ciência
desta interação, a Política tem como questão, desde seu início como estudo, o homem e seu
convívio em comunidade. Desta forma, o homem, como “animal político”, não só faz parte desta
política, como mediadora da interação social, mas também reverbera a ciência política, em um
plano quase tecnológico. Neste sentido, é comum afirmar que, quando tratamos de questões
político-sociais, não há como ficar alheio, pois elas modificam a realidade, as relações e os
comportamentos. É vão, portanto, o esforço de muitos em deixar a “política de lado”. (BARBOSA;BRESOLIN, 2017).
 
No âmbito da práxis, os pensadores modernos trouxeram muitas novidades, tanto que nós ainda
tentamos encontrar melhores respostas. De fato, a secularização da política, o Estado, o pluralismo
religioso, etc. agem como marco do desenvolvimento da Democracia. Apesar de terem sido, ao
longo dos anos, investigadas, testadas, pensadas e – porque não – melhoradas em certos pontos, as
pesquisas políticas, principalmente, no que se refere à democracia, não se esgotam. Isso se deve,
naturalmente, ao constante movimento nas relações humanas e ao entendimento sobre as
instituições, o qual exige, sobretudo, do pensador político, novas respostas às teorias e ações
governamentais (BARBOSA; BRESOLIN, 2017).
As ciências humanas e sociais, por outras palavras, têm um papel em termos de
cidadania política e de reconhecimento social tanto quanto o temos cada um de nós, indivíduos e
grupos sociais, de participar e de intervir na vida social. Em vários sentidos, a pretensão de
objetividade que as guia e que guia as iniciativas
cidadãs e os movimentos sociais, possui uma fundamentação diretamente universalista, normativa.
(DANNER; DANNER, 2013).
Em uma época de pensamento pós-metafísico ou de desconstrução, que torna consciente e agudo o
perigo de pretensões universalistas e da normatividade propriamente filosófica em tornarem-se
fundamentalistas e colonizadoras, gerando o cientificismo, a atividade teórico-prática nas ciências
humanas e sociais ganha novo impulso.
Agora, as ciências humanas e sociais já não se percebem como o farol da vida cotidiana, ao qual
esta precisa, inevitavelmente, recorrer para ser salva das trevas da ignorância e de sua
miserabilidade teórica, mas um momento do próprio diálogo democrático, assim como qualquer
outra significação de mundo. Ou seja, conforme pensamos, uma época de pensamento pós-
metafísico ou de desconstrução retira o caráter messiânico das ciências humanas e sociais
(presente, por exemplo, no positivismo e no marxismo), reafirmando-as em sua contextualização
vital e, assim, como uma forma válida de tematização da vida social, que é o horizonte das ciências
humanas e sociais, ao qual elas estão vinculadas e o qual elas objetificam (DANNER; DANNER,
2013).
No século XX, as ciências humanas firmam-se como uma ciência original no campo científico,
discrepante do modelo canônico forjado nos séculos anteriores aqui apresentados, revelando a
heterogeneidade profunda de compreensão da vida humana e impelidas pela urgência de encontrar
horizontes para a humanidade. Para isso, a par do notável incremento alcançado pelas ciências da
natureza, as ciências humanas edificaram novos fundamentos para compreender novas dimensões
da história humana, puseram em questão certezas que se mostravam inabaláveis, adquiriram sólida
legitimidade científica e acadêmica e revelam promissoras perspectivas às possibilidades de vida na
sociedade humana.
 
Se, no século passado, as ciências humanas romperam com certezas estabelecidas para reconduzir
as esperanças de homens e de mulheres e conquistaram sólida legitimidade científica no mundo
intelectual, no século presente, as transformações objetivas da ciência e da sociedade continuam a
convocar todas as forças da inteligência para não só pôr em causa muitas certezas, que se mostram
inabaláveis, mas, sobretudo, mostrar novos caminhos de construção da vida humana (DORTIER,
2009).
Entendemos que a ciência é uma forma conexa e articulada de conhecimentos, um paradigma sob o
qual se “vê” o mundo e representa a concretização do movimento das idéias na produção do
conhecimento onde, cada área traduz para si, o modo como homem se relaciona com seu ambiente.
O deslocamento da centralidade da vida para o capital, na sociedade moderna, conduziu a
humanidade para um processo legitimo de crescente insatisfação do homem, que se manifesta em
diferentes aspectos da vida individual e coletiva tanto no nível das relações sociais, profissionais,
como no nível das relação homem-mundo, homem-vida (SANTOS, 2003).
É neste cenário que se torna necessária a construção de uma ordem societária no conhecimento
produzido especialmente nos campos das ciências humanas e sociais. Surge como fator inegável a
necessidade de superação de questões resultantes da divisão social, da fragmentação das ciências e
da desigualdade social, do distanciamento da ética e do valor a vida e ao homem.
Neste contexto, as ciências humanas e sociais necessitam reconhecer o próprio valor buscando
ampliar e alinhar o “focus” de sua intervenção, promovendo a necessária articulação entre todas as
ciências com vistas na centralidade no homem e na construção de uma nova ordem cidadã.
Potencializa-se o papel das ciências humanas e sociais na formação profissional das diversas áreas
do conhecimento, revelando o valor e relevância destas no momento atual; a concentração de
esforços no sentido de produção de conhecimentos que atendam a realidade concreta das
necessidades contemporâneas do homem (SANTOS, 2003).
Assim, as ciências humanas e as ciências sociais terão seu lugar garantido na sociedade do futuro
na medida em que estiverem preparadas para enfrentar os desafios contemporâneos, em que
preparar os jovens estudantes e os investigadores da área para consolidar a articulação com as
demais áreas e as demandas atuais exigidas pela nossa sociedade.
Os ganhos da universidade e das ciências humanas e sociais nesse contexto representam a
formalização das necessidades emergentes da sociedade contemporânea e estarão expressos no
novo período que se inicia da vida da humanidade, um período em que o conhecimento emerge de
um contexto que o legitime e fortaleça, que seja um elemento que potencialize o funcionamento das
relações sociais sedimentando o valor da vida em sua totalidade (SANTOS, 2003).
Certamente, esta reflexão não esgota a discussão do assunto, porém esperamos estar contribuindo
para o aprofundamento da discussão sobre o tema que inexoravelmente tem-se inserido nas
discussões contemporâneas que acometem os meios científicos das diversas categorias
profissionais, especialmente nas áreas do conhecimento ligadas às ciências humanas e
 
4. A existência ética
Nossos sentimentos e nossas ações exprimem nosso senso moral.
Vivemos certas situações, ou sabemos que foram vividas por outros, como situações de extrema
aflição e angústia.
Situações como essas - mais dramáticas ou menos dramáticas - surgem sempre em nossas vidas.
Nossas dúvidas quanto à decisão certa a tomar não manifestam nosso senso moral, mas também
põem a prova nossa consciência moral, pois exigem que decidamos o que fazer, que justifiquemos
para nós mesmos e para os outros as razões de nossas decisões e que assumimos todas as
consequências delas, porque somos responsáveis por nossas opções.
Quantas vezes, levados por algum impulso incontrolável ou por alguma emoção forte (medo,
orgulho, ambição, vaidade, covardia), fazemos alguma coisa que, depois, sentimos vergonha,
remorso, culpa. Gostaríamos de voltar atrás no tempo e agir de modo diferente. Esses sentimentos
também exprimem nosso senso moral (ARANHA; MARINTS, 2003).
O senso moral e a consciência moral referem-se a valores (justiça, honradez, espírito de sacrifício,
integridade, generosidade), a sentimentos provocados pelos valores ( admiração, vergonha, culpa,
remorso, contentamento, cólera, amor, dúvida, medo) e a decisões que conduzem a ações com
consequências para nós e para os outros. Embora os conteúdos dos valores variem, podemos notar
que estão se referindo a um valor mais profundo, mesmo que apenas subentendido: o bom ou o
bem.
O senso e a consciência moral dizem respeito a valores, sentimentos, intenções, decisões e ações
referidos ao bem e ao mal e ao desejo de felicidade. Dizem respeito às relações que mantemos com
os outros e, portanto, nascem e existem como parte da nossa vida subjetiva (ARANHA; MARINTS,
2003).
O homem é ontologicamente diferente dos animais no que se refere à liberdade: os animais já
nascem prontos, acabados, adaptadose aparelhados ao ambiente. Tem o comportamento
programado, determinado, fixo, de acordo com a espécie. O homem, ao contrário, tem o seu
comportamento indeterminado, flexível, surpreendente e deve, portanto, adaptar-se
gradativamente de acordo com a necessidade e o ambiente.
Captamos o mundo a partir de nossos sentidos – visão, audição, paladar, olfato e tato. É a partir
deles que entramos em contato com tudo aquilo que está fora de nós. Essas percepções são sempre
atuais, ou seja, sentimos sempre no instante presente, mesmo que tal sentimento tenha sido
provocado por lembranças passadas. Porém, só é possível captar uma parcela desta realidade, e
pelo sentir não posso saber se algo é verdadeiro ou não, apenas saberei se tal sensação me agrada
ou desagrada.
A partir dos elementos colhidos pelos sentidos, faz-se uma análise racional, de caráter objetivo,
universal, ou seja, o que eu compreendo pela razão deverá ser compreendido por qualquer outra
pessoa; a minha razão deverá ser compreendida pelos outros e de igual forma eu deverei
compreender as outras razões. Esse caráter racional interfere diretamente nas minhas ações: se o
meu conhecimento acerca de algo muda, minha ação também muda. A partir do que captei pelos
sentidos e da análise feita pela razão, o meu querer é quem irá direcionar as minhas ações.
Esse ponto é fundamental para definir o homem como livre e responsável por seus atos, visto que
ninguém, nunca, poderá querer no lugar do outro. É o querer que define a pessoa, retira-a do
anonimato e da massificação fazendo-a assumir-se como pessoa. A partir do querer culminarão as
minhas ações. Elas são a concretização do meu querer. As escolhas feitas a partir do querer não
podem servir para toda a vida, uma vez que a minha vontade e percepção do mundo e dos seres
muda (ARANHA; MARINTS, 2003).
Sendo assim, o sujeito deverá ter a liberdade de, em dado momento de sua vida, querer diferente e
refazer o seu caminho, agindo de um modo diferente. É importante reforçar que, ao refazer esse
caminho, o indivíduo não anula ou apaga a primeira escolha, daí a responsabilidade sobre seus
atos. O ideal seria que esses quatro elementos estivessem sempre equilibrados para que houvesse
harmonia em nossas vidas, tanto pessoal quanto social. Porém, eticamente o mais importante deste
processo é o querer, pois é a partir dele que o sujeito expressa a sua individualidade, a sua vontade.
Ele é quem dá o valor à pessoa.
A ética é quem nos faz despertar os sentimentos diante de fatos que não correspondem ao que nos é
justo, bom e verdadeiro. É uma sensibilidade moral diante do que não é certo, mas deveria ser
como, por exemplo, a raiva que sentimos diante das desigualdades sociais, sentimentos de remorso,
culpa, vergonha, etc. (ARANHA; MARINTS, 2003).
A existência do mundo moral exige uma consciência crítica chamada de consciência moral. Trata-se
do conjunto de sentimentos e valores, individuais e coletivos, que pesamos ao fazermos alguma
escolha. Devemos considerar que tais ações têm influências tanto no sujeito como na sociedade em
geral.
Tomemos alguns exemplos: Uma jovem grávida sem condições financeiras para criar seu filho.
Deverá ela abortar ou dar continuidade a gravidez? Um homem muito pobre recebe uma ótima
proposta de emprego que melhoraria consideravelmente sua situação financeira: iria trabalhar com
falsificação de documentos. Ele aceita ou não? Um jovem tem uma paixão e é correspondido. Vai a
uma festa e conhece outra pessoa, pela qual também se apaixona e é também correspondido. Pode
alguém amar duas pessoas? Ele terá que escolher entre um dos dois e machucar o outro?
(COZZOLI, 2002).
Visão, audição, paladar, olfato e tato.
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Os juízos de fato estão relacionados àquilo que as coisas são; a coisa como é e porque é, como nas
afirmações: o dia está frio; o trânsito está engarrafado. Já os juízos de valor refletem nossas
avaliações e julgamentos sobre coisas, pessoas ou acontecimentos, por exemplo: a situação foi
muito desagradável; as
mulheres devem submeter-se aos homens. Nesse último exemplo, observamos o caráter equivocado
e preconceituoso do julgamento. Esses valores herdamos da cultura em que estamos inseridos.
O agente ou sujeito moral deve ser capaz tanto de reconhecer o bem, entendido aqui como aquilo
que o realiza, e o mal, ou seja, aquilo que o frustra, quanto de ser capaz de julgar, emitir valores dos
atos e das condutas para finalmente agir em conformidade com esses valores. O indivíduo deverá
ser livre para agir, considerando os seus juízos de valores, entretanto, deverá aprender a conviver
com outros juízos, reconhecendo e considerando outros pontos de vista.
A atitude ética é complexa porque provoca efeitos não apenas no ser agente, mas também, naqueles
que o cercam e na sociedade em geral. É por isso que um ato para ser considerado ético deverá ser
livre, consciente, intencional e solidário. Devemos lembrar que a ação livre traz consigo
responsabilidades a serem assumidas pelo ser agente. A pessoa consciente e livre assume para si os
seus atos e responde pelas suas consequências (COZZOLI, 2002).
O comportamento ético apresenta-se também como obrigatório, mas esta obrigação não se impõe
pelo meio externo, antes pelo contrário, tem sua origem no próprio sujeito. A consciência moral,
como já vimos, avalia a situação, consulta as normas estabelecidas, as interioriza como suas ou não,
toma decisões e julga seus próprios atos. O compromisso que daí surge é a obediência à sua própria
escolha.
Este compromisso, porém, não exclui o seu descumprimento, e será justamente a existência dessa
possibilidade que determinará o caráter moral ou imoral das ações. Isso quer dizer que para sermos
realmente livres, devemos sempre considerar a possibilidade de transgressão da norma, mesmo
daquelas que nós mesmos escolhemos respeitar.
O campo da ética conecta o indivíduo em seu aspecto mais íntimo às pessoas com as quais convive.
Embora não se confunda com a política, elas se relacionam, necessariamente, cada qual em sua
área específica. A política, ao se preocupar com a justiça social, deverá preocupar-se com a melhor
formação ética dos indivíduos, enquanto a atitude ética é fundamental para o exercício da
cidadania, quando os interesses pessoais não se sobrepõem aos coletivos. Eis a difícil tarefa:
estabelecer a dialética entre o privado e o público (COZZOLI, 2002).
Para que haja conduta ética é preciso que exista o agente consciente, isto é, aquele que conhece a
diferença entre bem e mal, certo e errado, permitido e proibido, virtude e vício. A consciência moral
não só conhece tais diferenças, mas também reconhece-se como capaz de julgar o valor dos atos e
O comportamento ético.
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das condutas e de agir em conformidade com os valores morais, sendo por isso responsável por
suas ações e seus sentimentos e pelas consequências do que faz e sente. Consciência e
responsabilidade são condições indispensáveis da vida ética.
A consciência moral manifesta-se, antes de tudo, na capacidade para deliberar diante de
alternativas possíveis, decidindo e escolhendo uma delas antes de lançar-se na ação. Tem a
capacidade para avaliar e pesar as motivações pessoais, as exigências feitas pela situação, as
consequências para si e para os outros, a conformidade entre meios e fins (empregar meios imorais
para alcançar fins morais é impossível), a obrigação de respeitar o estabelecido ou de transgredi-lo
(se o estabelecido for imoral ou injusto) (CHAUÍ, 2010).
A vontade é esse poder deliberativo e decisório do agente moral. Para que exerça tal poder sobre o
sujeito moral, a vontade deve ser livre, isto é, não pode estar submetida à vontade de um outro nem
pode estar submetida aos instintos e às paixões, mas, ao contrário, deve ter poder sobre eles e elas.
O campo ético é, assim, constituído pelos valores e pelas obrigações que formam o conteúdo dascondutas morais, isto é, as virtudes. Estas são realizadas pelo sujeito moral, principal constituinte
da existência ética.
O campo ético é constituído por dois polos internamente relacionados: o agente ou sujeito moral e
os valores morais ou virtudes éticas.
Do ponto de vista do agente ou sujeito moral, a ética faz uma exigência essencial, qual seja, a
diferença entre passividade e atividade. Passivo é aquele que se deixa governar e arrastar por seus
impulsos, inclinações e paixões, pelas circunstâncias, pela boa ou má sorte, pela opinião alheia,
pelo medo dos outros, pela vontade de um outro, não exercendo sua própria consciência, vontade,
liberdade e responsabilidade (CHAUÍ, 2010).
Ao contrário, é ativo ou virtuoso aquele que controla interiormente seus impulsos, suas inclinações
e suas paixões, discute consigo mesmo e com os outros o sentido dos valores e dos fins
estabelecidos, indaga se devem e como devem ser respeitados ou transgredidos por outros valores e
fins superiores aos existentes, avalia sua capacidade para dar a si mesmo as regras de conduta,
consulta sua razão e sua vontade antes de agir, tem consideração pelos outros sem subordinar-se
nem submeter-se cegamente a eles, responde pelo que faz, julga suas próprias intenções e recusa a
violência contra si e contra os outros. Numa palavra, é autônomo.
Do ponto de vista dos valores, a ética exprime a maneira como a cultura e a sociedade definem para
si mesmas o que julgam ser a violência e o crime, o mal e o vício e, como contrapartida, o que
consideram ser o bem e a virtude. Por realizar-se como relação intersubjetiva e social, a ética não é
alheia ou indiferente às condições históricas e políticas, econômicas e culturais da ação moral.
Consequentemente, embora toda ética seja universal do ponto de vista da sociedade que a institui
(universal porque seus valores são obrigatórios para todos os seus membros), está em relação com
o tempo e a História, transformando-se para responder a exigências novas da sociedade e da
Cultura, pois somos seres históricos e culturais e nossa ação se desenrola no tempo.
Além do sujeito ou pessoa moral e dos valores ou fins morais, o campo ético é ainda constituído por
um outro elemento: os meios para que o sujeito realize os fins.
Suponhamos uma sociedade que considere um valor e um fim moral a lealdade entre seus
membros, baseada na confiança recíproca. Isso significa que a mentira, a inveja, a adulação, a má-
fé, a crueldade e o medo deverão estar excluídos da vida moral e ações que os empreguem como
meios para alcançar o fim serão imorais.
No entanto, poderia acontecer que para forçar alguém à lealdade seria preciso fazê-lo sentir medo
da punição pela deslealdade, ou seria preciso mentir-lhe para que não perdesse a confiança em
certas pessoas e continuasse leal a elas. Nesses casos, o fim – a lealdade – não justificaria os meios
– medo e mentira? A resposta ética é: não. Por quê? Porque esses meios desrespeitam a consciência
e a liberdade da pessoa moral, que agiria por coação externa e não por reconhecimento interior e
verdadeiro do fim ético.
No caso da ética, portanto, nem todos os meios são justificáveis, mas apenas aqueles que estão de
acordo com os fins da própria ação. Em outras palavras, fins éticos exigem meios éticos(CHAUÍ,
2010).
A relação entre meios e fins pressupõe que a pessoa moral não existe como um fato dado, mas é
instaurada pela vida intersubjetiva e social, precisando ser educada para os valores morais e para as
virtudes.
Poderíamos indagar se a educação ética não seria uma violência. Em primeiro lugar, porque se tal
educação visa a transformar-nos de passivos em ativos, poderíamos perguntar se nossa natureza
não seria essencialmente passional e, portanto: forçar-nos à racionalidade ativa não seria um ato de
violência contra a nossa natureza espontânea? Em segundo lugar, porque se a tal educação visa a
colocar-nos em harmonia e em acordo com os valores de nossa sociedade, poderíamos indagar se
isso não nos faria submetidos a um poder externo à nossa consciência, o poder da moral social.
Para responder a essas questões precisamos examinar o desenvolvimento das ideias éticas na
Filosofia.
 
Costuma-se dizer que os fins justificam os meios, de modo que, para alcançar um fim legítimo,
todos os meios disponíveis são válidos. No caso da ética, porém, essa afirmação deixa de ser óbvia.
5. Conclusão
Conforme vimos, a Filosofia Política investiga as relações humanas em sentido coletivo. Ela é
fruto da Antiguidade Clássica, foi criada pelos gregos, o primeiro povo a tentar solucionar seus
próprios problemas. Os gregos refletiam sobre as inquietações de suas vidas e buscavam soluções
que acreditavam ser eternas e aplicáveis a todas as sociedades. Inicialmente, a filosofia grega
dedicou-se ao entendimento da natureza, seus eventos e fenômenos. Mais tarde, vieram os três
grandes pilares da filosofia grega, Sócrates, Platão e Aristóteles. Eles desencadearam uma série de
mudanças nas reflexões filosóficas gregas e, principalmente, colocaram o homem como ponto
central de abordagem.
A partir da chamada filosofia socrática, tornar-se-ia central nas reflexões as questões sobre o
homem e seus relacionamentos, abrindo espaço para avaliações políticas. Sócrates foi julgado e
condenado à morte por ser considerado um subversor, mas deixou um grande legado reflexivo,
ainda que fosse analfabeto. Seu discípulo e seguidor Platão encarregou-se de manter vivo o
pensamento socrático, mas também ofereceu sua própria contribuição para a filosofia,
especialmente com a obra A República, na qual discutiu as possibilidades de uma sociedade justa e
ideal. No entanto, Aristóteles é que se tornaria célebre para a teoria política grega, estabelecendo o
formato de democracia dos gregos.
Na Grécia Antiga, o homem político era o cidadão, ou seja, aquele que podia participar das reuniões
na ágora e opinar juto a seus pares por ser homem, grego e maior de 21 anos de idade. A ideia de
República, criada com Platão, venceu o tempo, foi objeto de análise de Cícero, na Roma Antiga,
de Maquiavel, na península itálica, e de outros filósofos e intelectuais antes e depois da Revolução
Francesa. Ou seja, há mais de dois mil anos, reflexões sobre o relacionamento humano e sua forma
de fazer política fazem parte de nossas vidas.
Com o passar dos anos e o acúmulo de reflexões contribuíram para o enriquecimento do tema. No
entanto, desde a Grécia Antiga os temas são praticamente os mesmos, o relacionamento humano, a
participação política, a legitimação e a justificação do Estado e também do governo. Várias escolas
de pensamento filosófico se seguiram, como, por exemplo, o Liberalismo e o Socialismo, que são
perspectivas antagônicas e muito presentes nos debates e nos confrontos ideológicos a partir do
século XIX.
A Filosofia Política é indissociável de nossa condição social, através dela foram colocadas ideais
e práticas sobre os limites e a organização do Estado, as relações entre sociedade e Estado, as
relações entre economia e política, o poder do indivíduo, a liberdade, questões de justiça e Direto e
questões sobre participação e deliberação, por exemplo.
 
6. Referências
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à
filosofia. 3. ed. revista. São Paulo: Moderna, 2003.
BRESOLIN, Keberson; BARBOSA, Evandro. Temas de filosofia política contemporânea.
Caxias do Sul, RS: Educs, 2017.
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2010.
COZZOLI, Mauro. Liberdade e Verdade. Pontifícia Universidade Lateranense, Roma, 2002.
DANNER, Leno Francisco; DANNER, Fernando. Temas de Filosofia Política
Contemporânea. Porto Alegre, RS: Editora Fi, 2013. 376 p.
DORTIER, Jean François. Uma história das ciências humanas. São Paulo: Martins Fontes,
2009.
MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. (tradução Maria Júlia Goldwasser). 2. ed. São Paulo: Wmf
Martins Fontes, 1996.
SANTOS, Boaventura de Sousa. Um discurso sobre as ciências. Porto: Afrontamento. 2003.

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