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Anemia Hemolítica Hereditária Hemocaterese - Hemocaterese é o processo fisiológico de destruição de hemácias pelo baço (eventualmente pode ocorrer pelo fígado e MO) - A vida normal da hemácia é de cerca de 120 dias - Essa destruição é realizada através da passagem pelos sinusóides esplênicos, em que as hemácias ficam presas e são eventualmente fagocitadas por macrófagos - Quando a hemácia é destruída os componentes da hemoglobina são reutilizados: • A globina é transformada em aminoácidos para síntese proteica • O HEME é separado em: • Ferro: que é reutilizado na produção de novas hemácias • Biliverdina: é convertida em bilirrubina indireta no sangue —> fígado converte em bilirrubina direta —> excreção (principalmente intestinal) Hemólise - É a destruição aumentada (patológica) de hemácias - Nem toda hemólise causa anemia! • Muitas vezes essa hemólise é compensada por um aumento de produção medular (redução da meia-vida da hemácia até 20 dias) - Anemia hemolítica ocorre apenas quando a MO não consegue compensar - A hemólise pode ocorrer em 2 locais: • Extra-vascular: • Baço (principalmente), fígado e medula • É o sítio mais comum de hemólise • Intra-vascular (raro) - Consequências da hemólise: • Hiperplasia eritroide na MO: • Anemia estimula a produção da MO (desde que haja substratos e medula saudável) • Há aumento de reticulócitos (hemácias jovens) no sangue periférico • Aumento de bilirrubina indireta (BI): • O número aumentado de hemólise ultrapassa a capacidade de conversão hepática de bilirrubina indireta em direta • Formação de cálculos biliares: • Ocorre em hemólises crônicas • Bilirrubina se une ao cálcio formando cálculos de bilirrubinato de cálcio (radiopacos) Etiologias Achados Laboratoriais de Anemia Hemolítica - Anemia Normo-Normo ou Macrocítica (pelo aumento de reticulócitos) • Exceção —> talassemias são microcíticas - Reticulocitose - Aumento de BI - Aumento de LDH (LDH está dentro da hemácia, logo, sempre que há destruição de eritrócito há aumento de LDH) - Redução da haptoglobina: • Haptoglobina é uma proteína hepática que se liga na globina da hemácia destruída - Achados exclusivos de anemia hemolítica intra-vascular: • Hemoglobina livre no sangue (hemoglobinemia) • Hemoglobinúria • Hemossiderinúria • Aumento da metemalbumina (albumina+HEME) Defeitos de Membrana e do Citoesqueleto - A membrana plasmática das hemácias é altamente complexa e conta com inúmeras proteínas - Essas proteínas são responsáveis pela elasticidade e formato (bi-côncavo) das hemácias - Alterações genéticas podem causar defeitos nessas proteínas, mudando a conformação do eritrócito - O defeito de membrana mais comum é a esferocitose hereditária Esferocitose Hereditária - Doença autossômica dominante em 80% dos casos (isso indica história familiar positiva) - Ocorre por deficiência em várias proteínas do citoesqueleto (principalmente anquirina, banda 3, espectrina e proteína 4.2) - A hemácia adquiri um aspecto esférico (esferócitos e microesferócitos) - O grande problema é que a hemácia com formato esférico não consegue transitar pelos sinusóides esplênicos, sofrendo maior ação fagocitária dos macrófagos. Isso leva a uma hemólise crônica. - O quadro é bastante variável, mas a anemia é geralmente moderada - Diagnóstico: • Anemia normocícita e hipercrômica (pelo formato da hemácia a Hb fica mais concentrada) • Por ser hipercrômica há aumento do CHCM • Há perfil de hemólise • Presença de esferócitos e microesferócitos (setas) • Teste de fragilidade osmótica positivo • Testes genéticos podem auxiliar - Tratamento: • Esplenectomia: • Indicado em pacientes com anemia moderada a grave • Não é necessária de anemia leve ou hemólise compensada • Melhores resultados em maiores de 4 anos (crianças mais jovens esplenectomizadas possuem maior taxa de mortalidade pela maior possibilidade de infecção) • Todo paciente que não tem baço possui maior chance de infecção por germes encapsulados. Por isso, recomenda-se a vacinação antipneumocócica, Haemophylus e meningococo • Ácido fólico 1mg/dia • OBS: • A esplenectomia resolve a hemólise mas não resolve o formato incorreto das hemácias (esferócitos) • No entanto, a diminuição da hemólise já é suficiente para resolver a anemia Eliptocitose Hereditária - Também é um defeito de membrana, fazendo com que a hemácia adquirida o formato de elipse (ovalócitos) - É muito mais rara do que a esferocitose - Doença autossômica dominante - Ocorre por alteração na espertina ou na proteína 4.1 - Maioria dos pacientes é assintomático ou sofre apenas hemólise leve - Fragilidade osmótica normal - Tratamento: esplenectomia em casos severos Piropoiquilocitose Hereditária - Defeito de membrana muito rara - As hemácias adquirem formatos muito variados e apresentam maior sensibilidade ao calor (fragmentam-se a 45ºC, quando o normal é a 49ºC) - Autossômica recessiva - Ocorre por alteração na espectrina - Faz um anemia microcítica com hemólise severa - Tratamento: esplenectomia Estomatocitose Hereditária - Defeito de membrana com influxo de H2O e Na (causa redução de HCM, hemácia “inchada” e palidez central) - Essa palidez central na hemácia caracteriza o estomatócito - No entanto, nem sempre que estomatócito está presente é indicativo de estomatocitose hereditária (pelo contrário, na maioria dos casos ocorre em paciente com doença hepática) - Cursa com esplenomegalia e anemia hemolítica - Não realiza esplenectomia pois há aumento do risco de trombose Defeitos Enzimáticos Deficiência de G6PD (Shunt da Hexose-Monofosfato) - Herança ligada ao X (mais comum em homens) - A enzima G6PD está presente normalmente dentro da hemácia - Um defeito genético produz enzimas G6PD deficitárias ou com meia-vida muito menor (não conseguindo cobrir todo o tempo de vida normal de uma hemácia) - Enzimas deficitárias não protegem hemácias contra estresse oxidativo (infecções e mediações) - Isso leva a uma oxidação de proteína, lipídios de membrana e da Hb, causando hemólise intra-vascular (por ruptura da membrana plasmática) e extra-vascular (por depósito de globina oxidada, os chamados corpúsculos de Heinz) - Clínica: • Só se manifesta quando em situações de estresse oxidativo, principalmente infecções ou uso de alguns medicamentos específicos • Se manifesta como crises de hemólise pós infecções ou uso de drogas, com início 2 a 4 dias após a exposição ao fator desencadeante • Os medicamentos que mais causam são: sulfas, nitrofurantoína, dapsona, primaquina, ácido nalidíxico, fenaxopiridina e naftaleno) - Diagnóstico: dosagem de G6PD - Tratamento: • Evitar fator desencadeante • Suporte durante a crise (eventualmente com transfusão em casos muito graves) • Esplenectomia não gera nenhum benefício Deficiência de Piruvato Quinase (Via de Embden-Meyerhof) - Piruvato quinase é um enzima necessária na produção de ATP - Logo, sua deficiência causa queda na produção de ATP, gerando uma ausência de renovação de lipídios de membrana - Essa ausência de renovação faz com que a hemácia “envelheça mais precocemente” - Isso gera hemólise extra-vascular - Doença autossômica recessiva - Pacientes apresentam um grau variado de hemólise - Fragilidade osmótica normal - Tratamento: esplenectomia e ácido fólico Hemoglobinopatia Anemia Falciforme - Muito mais comum na África equatorial (“Cinturão da Malária”) - Há formação de uma hemoglobina patológica, a HbS (HbA1 mutada): • Formado por 2 cadeias alfa + 2 cadeias beta S - Essa formação de HbS ocorre por mutação no cromossomo 11 (responsável pela produção da cadeia beta) • Genótipo: • B/B: normal • Bs/B: traço ou doença AS • Bs/Bs: doença SS (doença falciforme) - Fisiopatologia: • A HbS em estado dessaturado polimeriza, fazendo com que a hemácia fique em forma de foice (drepanócito) • O depranócito possui poucaelasticidade e deformabilidade, sofrendo mais hemólise nos sinusóides do baço • A polimerização depende da oxigenação (hipóxia), pH (acidose), CHCM (> concentração de Hbs) e genótipo (pacientes com doença SS irão sofrer muito mais do que aqueles com apenas traço) • A polimerização reduz a meia-vida de hemácia para em torno de 20 dias • Além da hemólise, esses paciente apresentam aumento de mecanismos vasoclusivos, pois os depranócitos possuem maior adesividade em capilares, favorecendo a formação de obstruções - Clínica: • Crises Vasoclusivas: • Desencadeantes: infecção, estresse, desidratação, menstruação, frio, gestação, consumo de álcool, etc • Dact i l i te fa lcêmica (pode ser a pr imei ra manifestação clínica do paciente, por volta dos 5 meses a 3 anos de idade) • Crise de dor óssea intensa • Crise abdominal (confundido com abdome agudo) • Crise hepática (hepatite isquêmica aguda) • Síndrome torácica aguda (infecção pulmonar e infarto pulmonar) • Priapismo • AVE: • Isquêmico (em crianças) e hemorrágico (em adultos) • Ocorre em 5-15% dos paciente • Chance de recorrência de até 70% • Se paciente sofrer AVC na infância realizar hipertransfusão para manter HbS < 30% • Disfunção esplênica: • Pequenos infartos repetitivos —> Autoesplenectomia —> baço fibrótico e atrofiado devido a múltiplos infartos (normalmente entre os 2 e 5 anos de idade) • Isso causa predisposição a infecção de germes capsulados (por isso vacinar contra S. Pneumoniae, H. Influenzae tipo B e cuida com Salmonella sp) • Anemia hemolítica: • Hb entre 6 a 10 • Aumento de BI, LDH e reticulócito • Crise do sequestro esplênico: • Ocorre em crianças < 5 anos (pois elas ainda apresentam baço funcionante) • Oclusão de sinusóides esplênicos —> dificuldade de drenagem venosa —> acúmulo de sangue e aumento do baço (o sangue entra no baço mas não consegue sair) • Esplenomegalia, anemia severa e hipovolemia • Tratamento: transfusão e esplenectomia • Crise Aplásica: • É a crise mais comum • Ocorre por infecção de Parvovírus B19 • Esse vírus apresenta tropismo pelos precursores eritróides, causando hipoplasia eritróide transitória • Causa anemia severa por algumas semanas (perda da capacidade de realizar reticulocitose) • Tratamento: transfusão • Crise Megaloblástica: • Ocorre por deficiência de ácido fólico • Atualmente é mais incomum devido a reposição rotineira de ácido fólico • Crise Hiper-Hemolítica: • Aumento da hemólise crônica causada por infecções • Disfunções orgânicas crônicas: • Atraso de crescimento e desenvolvimento (o adulto é normal) • Alterações ósseas e osteonecrose da cabeça do fêmur • Envolvimento renal: • Hematúria, isostenúria (perda da capacidade de concentrar urina), glomerulopatia e acidose tubular tipo I • Envolvimento hepático/biliar (devido a formação de cálculos de bilirrubinato de cálcio): • Colelitíase, crise hepática vasoclusiva, hepatites virais e hepatopatia crônica • Envolvimento pulmonar: • Pneumopatia crônica e fibrose pulmonar • Outros: • ICC, alteração de SNC, retinopatias, úlceras maleolares e complicações na gestação - Diagnóstico: • Anemia de intensidade variável • Perfil de hemólise positivo • Neutrofilia e plaquetose (pois o baço também ajuda na destruição de neutrófilos e plaquetas, o que estará diminuído devido a autroesplenectomia) • Drepanócitos (hemácias em foice) e hemácias em alvo • VHS baixo • Teste do afoiçamento positivo • Eletroforese de Hb - Eletroforese de Hemoglobina: • Relembrando o genótipo: • B/B: normal • Bs/B: traço ou doença AS • Bs/Bs: doença SS (doença falciforme) - Variantes: • Traço Falcêmico (Doença AS): • Genótipo Bs/B • Assintomáticos • TTO: aconselhamento genético • Hemoglobinopatia SC: • Genótipo Bs/Bc • Manifestações mais leves que doença SS • Cursa com retinopatia e oteonecrose de fêmur • Não ocorre autoesplenectomia • Variante S / Beta Talassemia: • Paciente herda um gene de traço talassemia e um gene de traço falciforme • Genótipo: Bs/B0 ou Bs/B+ • Clínica semelhante a doença SS • Anemia microcítica e esplenomegalia - Tratamento da Anemia Falciforme: • Prevenção de infecções (devido a autoesplenectomia): • Dos 3 meses aos 5 anos de idade —> Penicilina V oral • Aos 2 anos —> vacinação HepB e antipneumocócica • Ácido fólico: • 1mg/dia • Tratamento das crises álgicas: • Hidratação vigorosa • Analgesia (de analgésicos simples até opioide) • Oxigênio se hipoxemia • ATB • Hidroxiuréia: • Medicamento que aumenta a Hb fetal no paciente (diminui a falcização) • Dose: 10 a 30mg/kg/dia • Transfusão: • Transfusão reduz a HbS (<30%), o que também reduz crise vasoclusiva • Opções de transfusão: • Exsanguíneo transfusão: • É a retirada de sangue do paciente e transfusão de hemácia rica em HbA1 (diminui porcentual de HbS) • Indicado em AVC, priapismo refratário e crise torácica grave • Hemotransfusão: • Indicado no pré-operatório, crise aplasia ou crise álgica refratária • Hipertransfusão crônica: • 5-10ml/kg a cada 3-5 semanas • Indicado em história de AVC isquêmico, retinopatia grave, doença renal crônica progressiva, úlcera maleolar refratária e alteração de Doppler transcraniano
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