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CLASSES E MOVIMENTOS SOCIAIS

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Prévia do material em texto

Autora: Profa. Renata Leandro
Colaboradores: Profa. Amarilis Tudela
 Profa. Maria Francisca S. Vignoli
 Prof. Amauri Tadeu Barbosa Nogueira
Classes e 
Movimentos Sociais
Professora conteudista: Renata Leandro
Em 2002, graduou‑se em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC 
– Campinas). Tem especialização na área de violência doméstica contra crianças e adolescentes 
pelo Laboratório da Criança (LACRI) do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo 
(USP, 2005), em sexualidade humana pela Faculdade de Educação da Universidade Estadual de 
Campinas (UNICAMP, 2009) e é pós‑graduanda em formação em EaD pela UNIP. Atualmente, é 
docente na UNIP, campus de Sorocaba, consultora em gestão pública e captadora de recursos 
e responsabilidade social no primeiro e no segundo setor. Possui experiência em gestão social, 
tendo atuado como gestora municipal em São Thomé das Letras (MG) e na Secretaria Estadual 
de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos no estado do Rio de Janeiro. Atuou, também, em 
Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) no município de Campinas, no atendimento 
matricial de famílias e na área de crianças e adolescentes com suas respectivas famílias, no Projeto 
Rotas Recriadas (atualmente denominado Programa Municipal de Enfrentamento à Exploração 
Sexual Infanto‑juvenil), de 2003 a 2007.
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
L437m Leandro, Renata.
Classes e Movimentos Sociais / Renata Leandro. ‑ São Paulo, 
2013.
96 p., il.
Notas: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517‑9230.
1. Movimentos sociais. 2. Serviço social. 3. Sujeitos coletivos. I. Título.
CDU 362
U503.04 – 19
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Prof. Dr. Yugo Okida
Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona‑Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcello Vannini
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Andréia Andrade
 Carla Moro
Sumário
Classes e Movimentos Sociais
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7
Unidade I
1 KARL MARX E A ABORDAGEM DIALÉTICA ............................................................................................ 11
1.1 As classes sociais segundo Marx .................................................................................................... 12
1.2 Revolução Russa e o leninismo ...................................................................................................... 16
2 A LUTA DE CLASSES: UMA FORÇA QUE PRODUZIU MOVIMENTO NA HISTÓRIA ................... 18
2.1 A inevitabilidade da luta de classes .............................................................................................. 19
3 PENSAMENTOS SOCIOLÓGICOS E AS RELAÇÕES DE PODER ......................................................... 22
3.1 A crítica marxista: o pensamento de Antonio Gramsci (1891‑1937) e 
sua influência na análise sociológica .................................................................................................. 22
3.1.1 Sobre a sociedade civil e a sociedade política ............................................................................ 24
3.1.2 Os intelectuais orgânicos e o partido ............................................................................................. 24
3.1.3 A superestrutura...................................................................................................................................... 25
3.2 Bourdieu: as relações sociais e suas contradições .................................................................. 25
3.2.1 Habitus e campo ..................................................................................................................................... 25
3.2.2 A violência simbólica ............................................................................................................................. 27
3.3 Michel Foucault e a relação de poder .......................................................................................... 29
3.3.1 As relações de poder .............................................................................................................................. 30
3.3.2 O poder disciplinar ................................................................................................................................. 31
4 ABERTURA DEMOCRÁTICA E A REVALORIZAÇÃO DA 
SOLIDARIEDADE MICROTERRITORIAL ......................................................................................................... 31
4.1 Linha do tempo das políticas sociais ............................................................................................ 31
4.2 Contextos do período de ditadura militar.................................................................................. 33
4.3 Revalorização das experiências da sociedade civil ................................................................. 33
4.4 Cenário de fortalecimento das organizações da sociedade civil ...................................... 35
4.5 A transição para a democracia liberal .......................................................................................... 36
Unidade II
5 O QUE SÃO MOVIMENTOS SOCIAIS? ....................................................................................................... 43
5.1 Contextualização histórica dos movimentos sociais ............................................................. 43
5.2 Idade Média e os movimentos sociais ......................................................................................... 45
5.3 A desagregação da sociedade feudal e os movimentos sociais ........................................ 46
5.4 Ideologia, movimentos sociais e o Serviço Social ................................................................... 48
5.4.1 Conceito de ideologia ........................................................................................................................... 48
5.4.2 Movimentos sociais e ideologia ........................................................................................................ 48
5.4.3 Ideologia e Serviço Social .................................................................................................................... 50
6 OBJETO E OBJETIVOS DO SERVIÇO SOCIAL E OS MOVIMENTOS SOCIAIS ................................. 53
6.1 O Movimento de Reconceituação ................................................................................................. 56
6.2 O processo de conhecimento e intervenção do Serviço Social e sua 
relação com os movimentos sociais ..................................................................................................... 59
6.2.1 O assistente social e as demandas sociais .................................................................................... 59
6.2.2 A atuação do Serviço Social............................................................................................................... 60
7 MOVIMENTOS SOCIAIS NO BRASIL .......................................................................................................... 63
7.1 Os movimentos sociais e o advento do populismo ................................................................ 65
7.2 Os movimentos sociais em tempos adversos ............................................................................ 67
7.3 Novos movimentos sociais e a luta pela cidadania ............................................................... 69
7.4 O Serviço Social e os movimentos sociais .................................................................................. 71
7.5 Movimentos sociais, globalização e neoliberalismo ............................................................... 72
7.5.1 Globalização e neoliberalismo: o que é isso? .............................................................................. 72
7.5.2 Os movimentos sociais e a globalização ....................................................................................... 74
7.5.3 Neoliberalismo ......................................................................................................................................... 75
7.5.4 Os movimentos sociais em ação em função das políticas neoliberais .............................. 75
7.5.5 O Serviço Social, a globalização e o neoliberalismo ................................................................. 77
8 PRÁTICAS SOCIAIS, SUJEITOS COLETIVOS E REDES DE MOVIMENTOS SOCIAIS ..................... 79
8.1 As práticas sociais dos sujeitos coletivos.................................................................................... 79
8.2 Conceituação e contexto histórico das redes sociais .................................................................. 79
8.3 O Serviço Social no contexto das redes sociais ....................................................................... 82
7
APRESENTAÇÃO
O estudo dos movimentos sociais é de fundamental importância para o assistente social, uma vez 
que a questão social constitui o objeto de trabalho do Serviço Social.
Os movimentos sociais representam a principal forma de luta e organização, visam à satisfação das 
necessidades criadas ao longo da história da sociedade e de suas contradições.
É com essa compreensão que esta disciplina foi preparada. Espera‑se que você possa ter a disposição 
necessária para alcançar os objetivos propostos.
Este livro é dividido em duas unidades; nelas, você vai encontrar desde a conceituação de movimentos 
sociais até a relação entre globalização e as suas influências na sociedade. Vai conhecer a questão da 
ideologia e sua relação com os movimentos sociais e o Serviço Social, objeto e objetivos do Serviço 
Social, frente às demandas dos movimentos sociais. O processo de conhecimento e intervenção do 
Serviço Social, movimentos sociais no Brasil e o Serviço Social, globalização e neoliberalismo, práticas 
sociais, sujeitos coletivos e redes de movimentos sociais também serão estudados. Este material será 
indispensável para o seu aprendizado no curso de Serviço Social. Fique atento e disposto para aprofundar 
seus conhecimentos.
Um ótimo estudo.
INTRODUÇÃO
Na unidade I, compreenderemos as teorias de Marx, que propõem alternativas para uma nova 
sociedade socialista a partir dos conflitos e contradições sociais. O pensamento de Karl Marx influenciou 
consideravelmente as ciências sociais e a sociedade, especialmente no que se refere aos movimentos 
sociais e à política em geral. As principais ideias desse clássico da Sociologia e seus conceitos centrais 
servem para compreender a sociedade fundada no capitalismo e suas consequências no comportamento 
dos indivíduos, grupos e instituições sociais.
A definição marxista começa com o fator material da existência de determinado sistema de produção 
(formação social), usando como critérios objetivos de diferença entre as classes a sua posição nesse 
sistema, a relação com os meios de produção, o papel na organização do trabalho e a posse ou não de 
parcela da riqueza produzida pela sociedade. Esta abordagem científica se mostra muito diferente da 
abordagem subjetiva das teorias burguesas. Por exemplo, termos como “classe alta” ou “classe baixa”, que 
não precisam o significado dos termos “alto” e “baixa”, são absolutamente vagos; a definição por letra 
do alfabeto é ainda pior. Poderia haver tantas classes quanto faixas de renda existentes e a definição 
poderia ser diferente de acordo com a opinião individual de cada um. Como podemos ver, a definição de 
Lenin menciona a renda de cada classe social – volume da parte da riqueza social de que dispõem, mas 
acrescenta a origem dela utilizando o critério objetivo e verificável.
A definição de classe social fornecida por Lenin deixa evidente a ligação entre a existência de classes 
e a luta entre elas. Para o autor, classes são grandes grupos de homens que se diferenciam pelo seu 
8
lugar no sistema historicamente determinado de produção social; pela sua relação (na maioria dos 
casos confirmada e precisada nas leis) com os meios de produção; pelo seu papel na organização social 
do trabalho e, por conseguinte, pelos meios de obtenção e volume da parte de riqueza social de que 
dispõem. Em suma, para o pensador, as classes são grupos de homens em que uns podem apropriar‑se 
do trabalho dos outros graças à diferença do lugar que ocupam num sistema da economia social.
Outra crítica às teorias não marxistas de classe é que, além de não tratarem das causas fundamentais 
do fenômeno de classe social, elas também servem para ocultar a existência da exploração da classe 
operária pela classe dominante capitalista. Isso significa que estamos diante de um ponto de vista 
ideológico burguês. Conforme advertia Lenin (1977, p. 28):
[...] os homens sempre foram em política vítimas ingênuas do engano 
dos outros e do próprio e continuarão a sê‑lo enquanto não aprenderem 
a descobrir por trás de todas as frases, declarações e promessas morais, 
religiosas, políticas e sociais, os interesses de uma ou de outra classe.
Essas palavras chamam a atenção para a grande importância de se aprofundar o estudo da teoria 
da luta de classes, a fim de que possamos desenvolver a crítica da realidade social conforme a visão 
de mundo da classe operária. Exprimem, ainda, o enorme passo representado pela fundamentação e 
elaboração da teoria marxista‑leninista da luta de classes na procura de respostas capazes de desvendar, 
do ponto de vista dos explorados na sociedade capitalista, como se desenvolvem as relações entre as 
classes sociais, apontando para a necessidade do enfrentamento às condições impostas pelos interesses 
do capital e de construção da sociedade comunista, dando fim à exploração do homem pelo homem.
Conheceremos também o pensamento do italiano Antonio Gramsci e, a partir das reflexões sobre ele 
e Lenin, você terá mais elementos para compreender a realidade social da qual fazemos parte.
Vamos estudar as principais ideias de Pierre Bourdieu e de Michel Foucault, analisando a sociedade 
contemporânea sob a ótica da reprodução e da violência simbólica, por meio de movimentos sociais e 
populares ou não. As teorias abordam a questão do poder nas micros e macros relações sociais, além 
de trabalhar com o conceito de poder disciplinar. Suas ideias são importantes para a compreensão das 
contradições da sociedade moderna, especialmente no que se refere às instituições e suas relações com 
os indivíduos na sociedade.
Veremos o contraponto existente entre o pleno desenvolvimento de políticas sociais por parte do 
poder público e a valorização das experiências solidárias, estratificada pelo grau de envolvimento das 
pessoas em movimentos sociais e organizações da sociedade civil, bem como pelo fortalecimento do 
terceiro setor, em resposta à ausência ou ineficiência do Estado.
É importante que se tenha em mãos os principaismarcos históricos das políticas sociais brasileiras, 
para que, assim, se possa estabelecer, de maneira mais contextualizada, a análise da relação entre a ação 
do poder público e o fortalecimento do terceiro setor.
9
Na unidade II, apresentaremos vários motivos que levam à formação dos movimentos sociais, como 
péssimas condições de moradia, trabalho, salários baixos, falta de liberdade, preconceito, discriminação, 
entre outros. Em geral, os movimentos sociais surgem naturalmente; a partir das necessidades que os 
indivíduos têm e sentem, eles se juntam e se organizam com base em objetivos e metas comuns.
Iremos estudar o conceito de movimentos sociais e sua contextualização ao longo da história 
da humanidade; compreender como os indivíduos e grupos se organizam a partir de determinadas 
concepções de mundo que orientam suas ações em torno de um objetivo comum e baseados em uma 
ideologia. Veremos também a relação entre ideologia e os tipos de movimentos sociais. Iniciaremos com 
a conceituação de ideologia e, em seguida, desenvolveremos uma breve reflexão sobre a relação entre 
ideologia e movimentos sociais e o Serviço Social.
Outro tópico será compreender como o objeto e os objetivos do Serviço Social orientam a prática do 
assistente social nos movimentos sociais; quando se tem claro esses dois elementos (objeto e objetivos), 
o assistente social pode atuar com mais segurança e precisão. A questão social, objeto central do Serviço 
Social, permite a definição de objetivos e, por sua vez, um conjunto de práticas profissionais que variam 
conforme a relação com os movimentos sociais.
Estudaremos também o processo de conhecimento do Serviço Social e sua relação com os movimentos 
sociais em continuidade, aprofundando o conhecimento produzido e difundido. Para isso, partiremos 
de concepções e teorias sobre a realidade social, as metodologias e as estratégias de ação que se fazem 
presentes na profissão do assistente social e sua relação com os movimentos populares.
A história do Brasil, assim como a dos demais países, é marcada por diversos movimentos sociais. 
Iremos estudar a história dos movimentos sociais brasileiros, da época da colonização até os períodos 
dos anos 1930 a 1945 e atualidade. A partir de 1960, temos uma participação incisiva do Serviço Social. 
As discussões internas dão origem ao Movimento de Reconceituação.
Por fim, estudaremos a emergência de novas formas de organização de ação coletiva no cenário do 
país, que demonstram que o Estado, antes como gestor das carências populacionais, agora se tornaria 
um poder mínimo diante do poderio de necessidades do povo. Os atores sociais cansados de reivindicar 
por melhorias em diversos setores, especialmente, os direitos civis, iniciam um processo de reivindicação 
por meio de mobilizações para conquistar espaços e reconhecimento da população. Assim, veremos as 
práticas sociais, sujeitos coletivos e redes de movimentos sociais, bem como os conceitos e um breve 
histórico das redes de movimentos sociais e as principais formas de atuação do Serviço Social nessa 
realidade.
11
CLASSES E MOVIMENTOS SOCIAIS
Unidade I
1 KARL MARX E A ABORDAGEM DIALÉTICA
As ideias de Karl Marx (1818‑1884), além de contribuírem para um estudo científico crítico da 
sociedade, tornaram‑se influentes junto aos movimentos sociais e aos partidos de esquerda, e base para 
as diversas manifestações contrárias ao capitalismo na busca por uma sociedade mais justa.
Karl Marx é considerado um dos clássicos da Sociologia, embora sua obra não esteja voltada 
especificamente para esse campo, suas análises contêm elementos de economia e filosofia. Ele 
elabora uma teoria marcada pela crítica ao capitalismo e por sua metodologia dialética de análise 
do conflito.
 Lembrete
O capitalismo é um sistema que tem por base o lucro e surgiu após o fim 
do feudalismo. O capitalismo surge na história quando, por circunstâncias 
diversas, uma enorme quantidade de riquezas se acumula nas mãos de uns 
poucos indivíduos interessados sempre em obter mais lucros (COSTA, 1987).
Karl Marx viveu no século XIX, período da consolidação do capitalismo, e centrou sua teoria no 
estudo de maior produtividade dos trabalhadores com vistas ao lucro dos empresários.
Diferentemente de Durkheim, Marx estuda a sociedade a partir da metodologia dialética, evidenciando 
os conflitos, as contradições e a dinâmica da sociedade, principalmente a capitalista.
O termo dialética vem do grego e significa movimento. Na concepção de Karl Marx, significa analisar 
o movimento e a dinâmica das sociedades do ponto de vista histórico. Essas mudanças ocorrem pelas 
alterações tecnológicas na produção, associadas ao modo de produção de bens e às relações técnicas, 
sociais e contraditórias entre trabalhadores e patrões.
 Observação
Dialética é composta de três elementos básicos: a tese, a antítese e 
a síntese. A tese se resume na palavra inicial, no assunto em questão; a 
antítese vem logo em seguida, como uma oposição à tese, e o resultado 
dessa argumentação é a síntese.
12
Unidade I
A partir da explicação anterior, fica nítido que, para Marx, o motor da sociedade é o trabalho e, em 
torno dele, a sociedade se organiza. As relações sociais estabelecidas no dia a dia se dão em função do 
trabalho, do qual emergem os conflitos, uma vez que, nessa relação, o dono dos meios de produção 
(capitalista) explora o trabalhador.
Nesse contexto de polarização entre proprietários e não proprietários dos meios de produção, 
os conflitos e as lutas dos trabalhadores recrudescem. Karl Marx utiliza‑se do método dialético para 
desmistificar as formas de exploração dos capitalistas, tornando explícita para os trabalhadores sua 
situação de explorados, visando à luta para a transformação da sociedade.
 Observação
Na visão marxista, o estudo de qualquer sociedade deve partir 
justamente das relações técnicas e sociais que os homens estabelecem 
entre si para utilizar os meios de produção e transformar a natureza.
 Lembrete
Classe social é um grupo de indivíduos que ocupam uma mesma posição 
nas relações de produção, em determinada sociedade (TOMAZI, 1993, p. 23).
1.1 As classes sociais segundo Marx
O objeto do Marxismo é a análise da realidade capitalista, bem como das sociedades divididas 
em classes. Para Marx, a dialética é uma ideia fundamental, extraída da filosofia clássica alemã, que 
aborda uma tensão permanente entre sujeito e objeto, considerando o ser como uma totalidade em 
movimento.
Um dos principais conceitos trabalhados por Marx refere‑se ao modo de produção de mercadorias, 
que ocupa lugar central na sociedade e caracteriza cada momento histórico particular. Assim, o 
comunismo seria a última etapa do processo do modo de produção e, consequentemente, da ordem 
social. A condição para o conhecimento são as relações sociais de produção em que os sujeitos vivem.
A noção de conflito, originada na luta de classes, é uma categoria de análise que dá movimento 
à história. É a partir do conflito que os movimentos sociais surgem, defendendo o fim da exploração 
econômica.
A utopia socialista, preconizada pela doutrina sociológica marxista, indica elementos que deveriam 
ser aplicados no socialismo real, na perspectiva de rompimento total e superação do modo de produção 
capitalista. Dessa forma, Marx tece sua obra com centralidade no protagonismo do movimento operário 
que, segundo o autor, se torna sujeito histórico a partir da tomada de consciência da exploração e 
opressão sofridas dentro do sistema capitalista.
13
CLASSES E MOVIMENTOS SOCIAIS
Karl Marx analisou os conflitos e as contradições da sociedade capitalista e propôs alternativas para uma 
nova sociedade socialista. Durante o tempo que viveu na Inglaterra, no século XIX, os trabalhos de Marx foram 
uma resposta aos sérios problemas sociais decorrentes da Revolução Industrial. Nesse período, o capitalismo 
gerou contradições sociais e conflitos pela enorme diferença de renda entre capitalistas e trabalhadores.
Alémde ter desempenhado outras funções, como a de jornalista, Marx dedicou‑se a analisar alguns 
aspectos da vida social. Uma de suas contribuições foi discutir a relação entre indivíduo e sociedade. 
Tomazi (2000) assinala que Marx considerava que não se pode pensar a relação indivíduo‑sociedade 
separadamente das condições materiais em que essas relações se dão. Ou seja, para viver, os homens 
precisam, inicialmente, transformar a natureza, isto é, comer, construir abrigos, fabricar utensílios, entre 
outros. Marx ainda ressalta que o estudo de toda sociedade deveria partir justamente das relações 
sociais que os homens estabelecem entre si para utilizar os meios de produção e transformar a natureza.
Em seus estudos, Marx tem como objetivo maior investigar a sociedade de seu tempo, a sociedade 
capitalista. Nela, as relações sociais de produção definem dois grandes grupos: os capitalistas, que 
possuem os meios de produção (máquinas, ferramentas e capital) necessários para transformar a natureza 
e produzir mercadorias; e os trabalhadores, também chamados, no seu conjunto, de proletariado, que 
nada possuem, a não ser o seu corpo e a sua disposição para trabalhar (TOMAZI, 2000).
Na sociedade capitalista, a produção só se realiza porque capitalistas e trabalhadores entram em 
relação. O capitalista paga ao trabalhador um salário e, no final da produção, fica com o lucro. Esse 
excedente é chamado de mais‑valia (excedente de horas de trabalho não pagas).
Esse tipo de relação leva à exploração do trabalhador pelo capitalista. A mais‑valia está associada 
ao conceito de alienação. Costa (1997) assinala que Marx desenvolve esse conceito mostrando que 
a industrialização, a propriedade privada e o assalariamento separam o trabalhador dos meios de 
produção. Que meios são esses? São as ferramentas, a matéria‑prima, a terra e as máquinas, que se 
tornaram propriedade privada do capitalista. Separam, também, ou alienam o trabalhador do fruto de 
seu trabalho. Essas ideias são a base da alienação econômica do homem sob o capital.
O trabalho de Marx, conforme Gomes (1994, p. 46), pode ser distinguido a partir de três pontos:
[...] os fatores econômicos determinam a estrutura social e a mudança social, ou 
seja, a organização social se sustenta em três fundamentos: as forças materiais 
de produção, com que o homem assegura sua subsistência a partir dos métodos; 
as relações de produção (relações e direitos de propriedade); as superestruturas 
legais e políticas, além das ideias e formas de consciência social;
[...] a história é a história da luta de classes sociais, que se caracteriza pela oposição 
das classes, com base em sua posição econômica e interesses divergentes. “A 
história segue, pois, um movimento dialético, de oposição de classes”;
[...] a cultura das sociedades de classe se caracteriza pela ideologia: as ideias 
estão intimamente condicionadas pelo modo de produção.
14
Unidade I
Assim, a classe que dispõe dos meios de produção controla a difusão intelectual, por meio da 
educação, da política etc.; toda uma sociedade que fica à mercê da classe dominante.
Em seu livro A Ideologia Alemã, bem como em seus inúmeros estudos sobre história, Marx (1975, 
p. 237) tomou como hipótese no Manifesto Comunista apenas um traçado mínimo, a tese de que “a 
história de todas as sociedades até o presente é a história das lutas de classes”. Trata‑se, portanto, de 
trazer para o centro do relato da história humana o conflito, a luta ininterrupta, ora dissimulada ora 
aberta, entre oprimidos e opressores.
O Marxismo propõe a deposição da classe dominante (a burguesia) por uma revolução do proletariado. 
O capitalismo, como modo de produção, é criticado por Marx pelo fato de possuir o sistema de livre 
empresa que, segundo ele, pelas contradições econômicas internas, levaria a classe operária à máxima 
exploração do seu trabalho em função dos lucros dos capitalistas. Propõe, assim, uma sociedade em que 
os meios de produção sejam de toda a coletividade, com a distribuição igualitária de riqueza produzida.
Para discutir a relação entre classes e movimentos sociais, é preciso esclarecer de que maneira 
utilizamos o conceito de classe social e luta de classes, mesmo que só possamos fazê‑lo de uma 
maneira esquemática. Em primeiro lugar, embora insistir nesse aspecto possa parecer um lugar‑comum, 
descartamos os conceitos de classe que se circunscrevem à renda e/ou dimensão ocupacional, pela razão 
evidente de que esses conceitos se situam fora do Marxismo. Em segundo lugar, as classes como força 
social em ação não podem ser consideradas como meros reflexos da posição na estrutura econômica: 
o economicismo anula a política ao derivar o comportamento político da situação objetiva de classe.
 Saiba mais
O filme brasileiro Eles não usam black‑tie retrata um movimento grevista 
que se inicia dentro de uma empresa. Esse filme é importante para entender 
a dinâmica dos movimentos sociais brasileiros.
ELES não usam black‑tie. Direção de Leon Hirszman. Brasil, 1983.
A história da luta de classes, citada no livro Manifesto Comunista, corrobora a ideia de que a luta 
não é um puro caos de acontecimentos, pelo contrário, é o produto do confronto entre classes sociais, 
da evolução, do desenvolvimento econômico ou material da humanidade.
A luta de classes atinge o seu ponto extremo na sociedade capitalista: uma pequena minoria de 
proprietários explora uma imensa maioria que nada possui, a não ser a sua força de trabalho, para 
miseravelmente sobreviver. É um momento “pré‑histórico” do devir da humanidade porque é ainda 
absolutamente desumano (exploração escandalosa do homem pelo homem). Com a obsessão do lucro, 
a competição desenfreada entre os capitalistas leva à crescente proletarização e à contradição entre 
a apropriação privada da riqueza pela classe burguesa e o modo de produção cada vez mais coletivo, 
15
CLASSES E MOVIMENTOS SOCIAIS
tornando a crise do sistema capitalista sinônimo de destruição noticiada. O proletariado dará o golpe 
definitivo nesse sistema de opressão em nome de uma luta em que a propriedade dos meios de produção 
será social e não privada?
A teoria marxista da luta de classes baseia‑se na concepção da hegemonia do proletariado. 
Defendendo essa teoria, Marx e Engels moveram uma luta incessante contra o desprezo pelas camadas 
não proletárias das massas trabalhadoras, especialmente o campesinato, bem como contra a tendência 
oportunista, pequeno‑burguesa, da social democracia que substituía a concepção de “povo” pela divisão 
da sociedade e colocava em último plano a luta de classes.
Para muitos pesquisadores, esse conceito de divisão de classe não dá conta de compreender a sociedade 
atual, pois enfoca especificamente os fatores econômicos e prejudica a análise de outras dimensões, outras 
características que marcam a sociedade de classe. Além disso, como ressaltam esses estudiosos, existem 
outros grupos profissionais na sociedade atual que não se encaixam em nenhuma dessas categorias.
Pierre Bourdieu (1989) desenvolve um conceito mais complexo de classe social partindo de sociedade 
de classe. Para ele, a análise das classes sociais só pode ser feita se as diferenças culturais entre elas 
forem consideradas. Isso significa que, além dos obstáculos econômicos, há também as diferentes 
classes e culturas, que dificultam ou impedem a ascensão dentro desse sistema. Bourdieu chama isso de 
“capital simbólico”, pois considera que as estruturas de poder são formadas por símbolos. Diante dessa 
constatação, ele considera que o valor da pessoa é sinalizado pela formação, título e outros símbolos 
que oferecem uma posição na sociedade.
Cavalcanti (2004) destaca o “modelo espacial” de sociedade, proposto por Bourdieu, que pode ser 
observado em três eixos.
O primeiro eixo diferencia posições de acordo com o volume de capital 
(econômico e cultural) possuído pelas pessoas. O segundo eixo diferencia 
posições no interior das situações de classes, que são divididas de acordo 
com acomposição do capital possuído pelas pessoas. E o terceiro eixo 
diferencia posições de acordo com as trajetórias seguidas pelas pessoas; em 
outras palavras, de acordo com as mudanças ou estabilidades (conversões 
de capital) experimentadas ao longo do tempo no volume e na composição 
dos capitais dos indivíduos (CAVALCANTI, 2004, p. 3).
O capital cultural, segundo Bourdieu:
[...] corresponde ao conjunto das qualificações intelectuais produzidas pelo 
sistema escolar ou transmitidas pela família. Este capital pode existir sob três 
formas: em estado incorporado, como disposição duradoura do corpo (por 
exemplo, a facilidade de expressão em público); em estado objetivo, como 
bem cultural (a posse de quadros, de obras); em estado institucionalizado, 
isto é, socialmente sancionado por instituições (como os títulos acadêmicos) 
(BOURDIEU, 1989, p. 46).
16
Unidade I
Outro teórico que também destaca a importância do cultural na formação das classes é Thompson (2001), 
historiador inglês neomarxista. Ele afirma em seus estudos que, apesar de o econômico prevalecer, o simbólico 
é importante na difusão da cultura de classe. Para o autor, a classe se define segundo o modo como homens 
e mulheres vivem suas relações de produção e segundo a experiência de suas situações determinadas, no 
interior do conjunto de suas relações sociais, com a cultura e as expectativas a eles transmitidas e com base 
no modo pelo qual se valeram dessas experiências em nível cultural (THOMPSON, 2001, p. 277).
Na visão de Thompson, a principal mudança que ocorre é a questão da consciência de classe, que gera 
a luta de classes. Para ele, sem ter consciência de si, a classe não existe, e, consequentemente, só pode haver 
uma luta quando existir uma ação coletiva empreendida pela classe por meio da consciência de si mesma.
[...] uma classe não pode existir sem um tipo qualquer de consciência de si 
mesma. De outro modo, não é, ou ainda não é uma classe. Quer dizer, não 
é “algo” ainda, não tem espécie alguma de identidade histórica. Até aquela 
díspar e móbil entidade, que é a multidão ou a plebe da Inglaterra do século 
XVIII, possuía uma noção de seus direitos de legalidade e de respeito que 
foram investigados pelos historiadores. Se a noção de seus próprios direitos 
e a própria consciência fossem outras e diversas de suas atitudes, então 
surgiria um outro tipo de classe, como de fato ocorreu depois de 1816. Mas 
dizer que uma classe em seu conjunto tem uma consciência verdadeira ou 
falsa é historicamente sem sentido (THOMPSON, 1977, p. 43).
O fator cultural e a experiência são definidores na formação de uma classe social, segundo Thompson. 
A partir dessa premissa, entende‑se que a consciência de classe se constrói por meio das experiências 
vividas pelo grupo social, expressas nas formas culturais. As questões como tradições, costumes e valores 
são frutos de uma vivência em comum, de um grupo social. A consciência de partilhar interesses iguais 
e identificar‑se com estes e com os membros do grupo social é que, para Thompson, forma a classe. 
A classe não existe sem a consciência. Fazer parte de uma é identificar‑se com seus valores e seus 
interesses, consciente de que estes são partilhados por todo o grupo.
1.2 Revolução Russa e o leninismo
A Rússia, até a segunda metade do século XIX, ainda estava no regime feudal. A concorrência mundial 
obrigava o país a se modernizar, pois a Rússia entrou no período de industrialização muito depois das grandes 
potências mundiais. Entretanto, com o aporte financeiro de países como Inglaterra e França, o país pôde importar 
tecnologia avançada e equipar suas indústrias no mesmo nível que os países industrializados europeus.
Assim, num período relativamente curto, a Rússia precisou construir grandes vias férreas, as quais 
cortavam o país em toda sua extensão, e criar suas primeiras indústrias. Com isso, houve o êxodo rural russo.
Ao se lançar na guerra, denominada Revolução Russa, a Rússia acirrou os ânimos no interior 
do seu país, pois a indústria desacelerou o crescimento, a área rural parou de produzir e faltou 
alimento para a maioria da população. Com o empobrecimento do povo, acentuaram‑se ainda mais 
as contradições sociais.
17
CLASSES E MOVIMENTOS SOCIAIS
A Rússia fazia parte da Tríplice Intente, mas não havia consenso entre a população, ou seja, uma parte 
dela, os sovietes, queria a saída da Rússia, mas a Duma, grupo representado pela parte conservadora 
(ala burguesa), queria permanecer na guerra. Com esse desentendimento, surgiram dois partidos que 
influenciaram a tomada de poder pelos proletariados.
O primeiro deles, o partido dos mencheviques, liderado por Plekhanov, pensava em uma tomada 
de poder paulatinamente. Pretendiam assumir o poder e aos poucos ir colocando em prática as teses 
comunistas; o segundo partido, dos bolcheviques, liderados por Lenin, fundamentavam‑se nas teses 
marxistas, sustentavam a ideia de que deveria existir um governo cujo poder estivesse nas mãos de 
um único partido e representasse tanto operários quanto camponeses. Acreditavam também que o 
poder deveria ser derrubado pelas armas. Somente com um confronto direto com o czar e sua posterior 
derrota, o partido teria a oportunidade de criar um Estado proletário. Os bolcheviques pregavam a 
ditadura do proletariado.
Os conflitos se intensificaram e os bolcheviques passaram a usar os lugares de destaque em 
Petrogrado, o quartel general da Revolução de Outubro. No dia 25 de outubro de 1917, foi anunciada a 
vitória dos bolcheviques.
Lenin não esperou as comemorações e, no dia 26 de outubro, promulgou dois decretos que foram de 
extrema importância para dar início ao Estado Revolucionário. São eles:
• primeiro: iniciou uma conversação para que a Rússia saísse da guerra, o que deu segurança aos 
russos e a possibilidade de iniciarem as transformações no interior do país; então, providenciou o 
Tratado de Paz de Brest‑Litovsk, em 1918;
• segundo: esse sim deu um caráter comunista e marxista à revolução e anunciou o fim das grandes 
propriedades privadas. Num gesto de grande repercussão na Rússia e no mundo, Lenin transferiu 
o poder dos proprietários privados de acumular suas terras para as mãos da população, que se 
organizava nos comitês agrários.
Nascia assim a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, a União Soviética (URSS).
Lenin governou de 1917 até 1924. Nesse período, enfrentou várias batalhas, entre elas, a luta contra 
os mencheviques, que se intitulavam russo‑brancos e que recebiam apoio dos países contrários ao 
regime comunista. Na esteira de suas ações, o governo criou a Nova Política Econômica (NEP); esta se 
baseava no controle, por parte do Estado, dos meios de produção, do sistema econômico e financeiro, 
das comunicações e do comércio externo.
A Revolução Russa causou impacto no mundo moderno. Só se viu algo parecido na Comuna de Paris. 
Pretendia‑se criar uma sociedade socialista e um modo de produção alternativo àquele de produção 
capitalista. Os trabalhadores se apropriaram do poder e criaram pela primeira vez na história uma nação 
socialista, que tinha em seu centro as teses marxistas e os meios de produção como coletivos e sob a 
tutela do Estado.
18
Unidade I
2 A LUTA DE CLASSES: UMA FORÇA QUE PRODUZIU MOVIMENTO NA 
HISTÓRIA
As características fundamentais das classes sociais são:
• elas nem sempre existiram;
• o conflito entre elas é inevitável;
• a luta de classes é o motor do desenvolvimento das sociedades ao longo da história;
• a ideia de uma sociedade sem classes é construída na luta de classes e uma possibilidade histórica 
concreta.
Marx demonstrou que, nas sociedades primitivas, não havia a divisão entre classes. Essa divisão 
surgiu com base em mudanças nas forças de produção e nos conflitos entre os homens, ou seja, a posse 
privada, por um grupo social, da terra e do excedente, graças à exploração de outra classe social que 
não detinha os meios de produção.
A primeira forma de propriedade é a propriedade tribal.Corresponde a um 
estágio não desenvolvido da produção em que um povo vive da caça e da 
pesca, criando animais ou, na fase mais elevada, da agricultura. [...] A divisão 
do trabalho, neste estágio, é muito elementar ainda, e está limitada a uma 
extensão da divisão natural do trabalho imposta pela família: a estrutura 
social é, portanto, resumida a uma extensão da própria família. [...] A 
segunda forma é a antiga propriedade comunal e do Estado, que provém, 
particularmente, da união de várias tribos numa cidade, por acordo ou 
conquista, e ainda é acompanhada pela escravidão. Ao lado da propriedade 
comunal, já encontramos a propriedade privada móvel e, mais tarde, a 
imóvel, em desenvolvimento, mas como forma subordinada à propriedade 
comunal. [...] Toda a estrutura da sociedade baseada em tal propriedade 
comunal, e com ela o poder do povo, entra em decadência na mesma 
medida em que progride a propriedade privada imóvel. A divisão do trabalho 
já está mais desenvolvida. Já encontramos o antagonismo entre a cidade 
e o campo, depois o antagonismo entre aqueles estados que representam 
interesses urbanos e os que representam interesses rurais e, dentro das 
próprias cidades, o antagonismo entre a indústria e o comércio marítimo. As 
relações de classe entre os cidadãos e os escravos estão, agora, totalmente 
desenvolvidas (MARX, 1975, p. 114‑115).
Estudando as condições materiais de existência e os conflitos sociais resultantes das relações 
contrárias entre as diversas classes surgidas no decurso do processo histórico, a teoria marxista produziu 
análises que nos permitem compreender que o processo de formação, desenvolvimento e luta entre as 
classes é o cerne da própria história humana.
19
CLASSES E MOVIMENTOS SOCIAIS
 Saiba mais
O filme O Germinal aborda os movimentos grevistas de um grupo de 
mineiros no norte da França do século XIX . Entretanto, ao se levantarem 
contra o sistema, são alvos da repressão das autoridades.
O GERMINAL. Direção de Claude Berri. França, 1993. 158 min.
2.1 A inevitabilidade da luta de classes
A realidade da oposição irreconciliável entre a classe de proprietários e a classe não proprietária 
é um fato comprovado que permite tirar a conclusão de que a luta entre as classes é algo 
historicamente determinado, pois se iniciou num período histórico específico quando surgiu a 
primeira sociedade dividida em classes, e se encerrará quando a propriedade privada dos meios 
de produção desaparecer, como consequência da derrota da classe capitalista. Sendo assim, é 
possível depreender a inevitabilidade da luta como fenômeno historicamente determinado por 
leis sociais.
Classes são grandes grupos de pessoas que se distinguem principalmente pelo fato de possuírem 
ou não meios de produção e os possuidores exploram aqueles não possuidores. A contradição entre 
exploradores e explorados é algo incompatível, oposto.
Outras características das classes são: o seu diferente papel na organização social do trabalho (se 
exercem uma função dirigente e dominante ou executante, se têm ou não de se submeter às ordens 
dos detentores dos meios de produção) e a forma diferente de como obtêm sua parte da riqueza social 
(como salário proveniente do trabalho ou como lucro) e a grandeza dessa parte.
A luta de classes é, portanto, um fenômeno regido por leis sociais historicamente determinadas. 
As classes não foram inventadas pelos marxistas ou outros revolucionários para atiçarem conflitos na 
sociedade e minarem um dado regime. São, antes, um resultado necessário de determinadas condições 
econômicas, sociais e históricas. Enquanto a posição econômica dos homens permitir que uma minoria 
se aproprie gratuitamente de grande parte do que é produzido pela maioria trabalhadora, é inevitável 
a divisão da sociedade, os homens, inevitavelmente, pertencerão às classes de exploradores ou de 
explorados, típicas da sociedade em questão.
A luta de classes se manifesta, por vezes, segundo formas mais ou menos sutis, abertas ou 
encobertas. Na vida econômica, por conta de conflitos salariais etc., ela verifica‑se de uma 
forma diferente da vida política, expressa, por exemplo, nos embates eleitorais ou em ações de 
massas contra as políticas prejudiciais aos interesses dos trabalhadores, aplicadas pelos governos 
burgueses.
20
Unidade I
A compreensão de seus verdadeiros interesses pelos explorados, a determinação para a luta e a 
confiança nas próprias forças podem ser ludibriadas pela mentira, manipulações ideológicas, campanhas 
difamatórias anticomunistas e por se espalharem ilusões e medo durante determinado período, tornando 
inócuas as formas de luta contra os exploradores dominantes.
Os exploradores conseguiram, por mais de uma vez, reprimir as tentativas dos explorados de se 
defenderem e se levantarem para a luta por meio do terror e da violência. O que nunca se conseguiu, no 
entanto, foi fazer desaparecerem as oposições de classe existentes ou a própria luta de classes.
A classe burguesa anunciou muitas vezes o desaparecimento da divisão de classes entre burguesia e 
proletariado e, desse modo, o fracasso definitivo da teoria marxista‑leninista da luta de classes. Contudo, 
após certo tempo, as greves, as lutas da classe operária e a crise da dominação voltaram a acontecer. 
O trabalho social, inicialmente, buscava os meios de subsistência por meio do controle das forças da 
natureza. Gradativamente, esse resultou no desenvolvimento das forças produtivas (representadas 
centralmente pela força de trabalho), permitindo maior acesso aos meios de produção e à criação de 
um excedente.
A partir da dominação do excedente do processo de produção, o modo de produção e a formação 
social nele baseada passaram a ser dirigidos para atender às necessidades e vontades de uma única 
classe. Dessa maneira, a contradição social passou a ser o conflito material dentro do modo de produção 
entre a classe exploradora e a classe explorada, tornando‑se a “mola mestra” da história.
As relações e a luta entre as classes perpassam, assim, todos os domínios da vida social. Elas precisam 
ser analisadas quando se pretende compreender determinados períodos históricos em que ocorrem 
importantes modificações e transformações sociais. Partindo desses princípios orientadores da visão de 
mundo da classe operária, a teoria marxista‑leninista entendia ser o conteúdo principal da história a 
transição da humanidade do capitalismo para o socialismo.
A luta de classes foi a mais importante força motriz por trás das grandes revoluções que ocorreram 
na história humana. Segundo Engels:
[...] todas as lutas históricas, quer se desenvolvam no terreno político, no 
religioso, no filosófico ou noutro terreno ideológico qualquer, não são, na 
realidade, mais do que a expressão mais ou menos clara de lutas de classes 
sociais (ENGELS, 1992, p. 407).
Pela luta de classes, a ação humana adquire efeito e significado históricos, e esta é a grande lei do 
movimento da história.
Se as intenções e ações de homens isolados, ou de grupos de homens, exercem ou não uma 
influência duradoura sobre a marcha do desenvolvimento social, se provocam uma transformação das 
circunstâncias ou se não têm significado, é algo que depende, em primeira linha, do fato de conferirem 
ou não expressão aos interesses e anseios de forças de classe reais ou aos planos ambiciosos, aos desejos 
ilusórios de um punhado de aventureiros. Isso não se relaciona apenas com o fato de uma pessoa isolada 
21
CLASSES E MOVIMENTOS SOCIAIS
ter sempre mais possibilidades quando age em consonância com outras; resulta, sobretudo, do fato de 
as tendências do desenvolvimento material e econômico da vida social tomarem, como interesses de 
classe, uma forma social.
Todas as transformações históricas foram precedidas pelo aparecimento de novos interesses e 
necessidades materiais que, de forma mais ou menos rápida e mais ou menos direta, entraram em 
conflito com os interesses e necessidades existentes. Nesses conflitos se refletia sempre,em última 
instância, uma transformação da vida econômica e social.
Segundo Engels:
As novas tendências econômicas, historicamente superiores, que se 
desenvolviam e amadureciam, necessitavam de uma força social para se 
imporem às tendências já antiquadas — mas que, de imediato, continuavam 
poderosas e predominantes — para poderem se desenvolver sem entraves. 
[...] Esta conexão necessária entre desenvolvimento econômico e luta de 
classes adquire a sua expressão mais visível nas revoluções sociais. Nas 
revoluções sociais, decide‑se o resultado da luta entre progresso e reação. 
As revoluções sociais estarão sempre na ordem do dia enquanto existirem 
classes exploradoras que se oponham à luta das classes que encarnam o 
desenvolvimento histórico mais avançado das forças produtivas e das 
relações de produção (ENGELS, 1982, p. 416).
Este olhar para os comunistas é exatamente a superação do capitalismo pela passagem à primeira 
etapa do comunismo, o socialismo, que existe como muito mais do que uma possibilidade. O advento do 
socialismo é visto como resultado da ação dos seres humanos conscientes da sua necessidade histórica. 
A palavra “necessidade”, segundo a teoria marxista, não significa apenas algo que é avaliado como útil, 
mas como resultante da natureza básica – a essência – do processo de desenvolvimento histórico.
Em A Luta de Classes, Lenin recorre a Marx para reforçar que a luta de classes é o motor dos 
acontecimentos. O Manifesto do Partido Comunista mostra‑nos o que Marx exigia da ciência social para 
a análise objetiva da situação de cada classe no seio da sociedade moderna, em ligação com a análise 
das condições do desenvolvimento de cada classe. Segundo Lenin:
De todas as classes que hoje em dia defrontam a burguesia só o proletariado 
é uma classe totalmente revolucionária. As demais classes vão se arruinando 
e soçobram com a grande indústria; o proletariado é o produto mais 
característico desta. As camadas médias, o pequeno industrial, o pequeno 
comerciante, o artífice, o camponês, lutam todos contra a burguesia para 
assegurarem a sua existência como camadas médias, antes do declínio. Não 
são, pois, revolucionárias, mas conservadoras. Mais ainda, são reacionárias, 
pois procuram pôr a andar para trás a roda da história [...] Em numerosas 
obras históricas, Marx deu exemplos brilhantes e profundos de historiografia 
materialista, de análise da situação de cada classe particular e, por vezes, 
22
Unidade I
dos diversos grupos ou camadas no seio de uma classe, mostrando, até 
a evidência, porque e como ‘toda a luta de classes é uma luta política’. A 
passagem que acabamos de citar ilustra claramente como é complexa a 
rede das relações sociais e dos graus transitórios de uma classe para outra, 
do passado para o futuro, que Marx analisa, para determinar a resultante do 
6desenvolvimento histórico (LENIN, 1977b, p. 13).
Em O Socialismo, Lenin ainda afirma:
A socialização do trabalho — que avança cada vez mais rapidamente sob 
múltiplas formas e que, no meio século decorrido depois da morte de Marx, 
se manifesta, sobretudo, pela extensão da grande indústria, dos cartéis, 
dos sindicatos, dos trustes capitalistas e também pelo aumento imenso 
das desproporções e do poderio do capital financeiro, eis a principal base 
material para o advento inelutável do socialismo. O motor intelectual e 
moral, o agente físico desta transformação, é o proletariado, educado 
pelo próprio capitalismo. A sua luta contra a burguesia, revestindo‑se de 
formas diversas e de conteúdo cada vez mais rico, torna‑se inevitavelmente 
uma luta política tendente à conquista pelo proletariado do poder político 
(LENIN, 1977b, p. 22).
3 PENSAMENTOS SOCIOLÓGICOS E AS RELAÇÕES DE PODER
3.1 A crítica marxista: o pensamento de Antonio Gramsci (1891‑1937) e sua 
influência na análise sociológica
Antonio Gramsci foi um dos destacados pensadores do século XX que deixou um legado importante 
para a análise e compreensão da sociedade. Suas ideias apresentam‑se com nova compreensão e prática 
das propostas de Marx. Como afirma Reale (1991, p. 829),
[...] desenvolvido, sobretudo, nos seus Cadernos do Cárcere, o pensamento 
de Antonio Gramsci constitui uma das mais notáveis reelaborações do 
Marxismo neste século (século XX), seja por sua constante referência a 
problemas sociais, culturais, políticos concretos, seja por sua intenção de 
inserir o Marxismo na tradição italiana. A esse objetivo, precisamente, 
correspondem, por exemplo, os seus estudos sobre Maquiavel, sobre a 
Renascença italiana, sobre a questão meridional, sobre os católicos, sobre 
suas instituições e organizações, sobre os movimentos operários, sobre as 
camadas intelectuais italianas, sobre as formas de greve e os conselhos 
operários, sobre a filosofia de Benedetto Croce.
Gramsci elabora os conceitos de hegemonia, bloco histórico, superestrutura, sociedade política e 
sociedade civil, entre outros. Esse pensador contribui significativamente para o estudo da sociedade, 
especialmente no que diz respeito à cultura e à política.
23
CLASSES E MOVIMENTOS SOCIAIS
Gramsci viveu durante o período do fascismo italiano e época de intensas lutas sociais. Sua base teórica 
marxista serviu para a organização do partido socialista italiano, que enfrentava o totalitarismo de Mussolini.
A dialética gramsciana inseriu o Marxismo na tradição italiana. A prática dos grupos e militantes 
socialistas tinha como objetivo a organização da sociedade em defesa de melhores condições de vida 
para os trabalhadores. Os partidos políticos de esquerda, os movimentos sociais e os jornais focados na 
defesa dos pobres e trabalhadores em geral foram os principais alvos deste intelectual. Grande parte 
da sua vida foi dedicada à luta por uma sociedade mais justa e igualitária. A filosofia da práxis é assim 
chamada quando se unem teoria e prática social. Reale afirma que
[...] a filosofia da práxis de Gramsci constitui uma concepção do Marxismo 
contrária às interpretações de cunho positivista e mecanicista. É concepção 
na qual os acontecimentos estruturais se entrelaçam e interagem com 
elementos humanos como a vontade e o pensamento. Essa, portanto, é a 
lição que se deve aprender de Lenin: como sintetizar dialeticamente teoria 
e práxis, de modo a chegar à conquista do poder por uma força emergente 
que visa à criação de nova civilização; a lição de Lenin é importante não 
porque devemos repeti‑la, mas porque nos indica a estratégia para penetrar 
(em condições diversas a serem analisadas) na cidadela, a fim de criar a 
sociedade socialista. Na realidade, é impossível decifrar Gramsci sem 
referir‑se a Lenin (REALE, 1991, p. 832).
O conceito gramsciano de hegemonia é de fundamental importância para a compreensão do seu 
pensamento e de sua influência na análise sociológica. A ideia de hegemonia refere‑se ao poder exercido 
pela classe dirigente da sociedade. Gramsci, assim como Marx, percebe a existência de duas classes 
sociais fundamentais, diferenciadas a partir da economia, da cultura e da ideologia.
Para permanecer no poder, a classe dirigente precisa criar mecanismos que se tornem eficazes para 
manter sua hegemonia, isto é, ser aceita pela maioria da sociedade, muito embora o conflito seja, por 
vezes, latente. Reale acrescenta que
[...] na construção da hegemonia, parte‑se da direção e da capacidade 
de indicar soluções para os problemas de uma sociedade e de bater‑se 
eficazmente por tais soluções. A direção permite construir o domínio. 
Quando decai a capacidade de dirigir, de indicar a solução para os problemas, 
a hegemonia entra em crise: o domínio ainda manterá aquelas forças 
sociais e políticas no poder por certo período, mas elas já estão condenadas 
(GRUPI apud REALE, 1991). E então teremos a revolução, que explode e abre 
caminho no interior do vazio de direção criado por uma classe que controla a 
cidadela, mas que não sabe mais dirigir e perde o consentimento das classes 
subalternas. E perde porque, nesse meio tempo, nasceue se desenvolveu 
nova classe dirigente e hegemônica, que ainda não é dominante, mas que, 
percebendo com força o seu direito a sê‑lo, se tornará tal – e, se preciso for, 
com violência (REALE, 1991, p. 832‑833).
24
Unidade I
Gramsci (1978) destaca que o domínio de hegemonia é mantido pelo consenso estabelecido entre 
as duas classes: dominantes e dominados, o que resulta na formação de um bloco histórico, ou seja, um 
sistema articulado e orgânico de alianças sociais ligadas por ideologia e cultura comuns. Para Gramsci 
(1978), nunca existiu Estado sem hegemonia e, em substância, a luta entre duas classes pelo domínio 
é uma luta entre duas hegemonias. Por tudo isso, devemos distinguir a classe dominante e a classe 
dirigente; a supremacia de um grupo social se manifesta de dois modos, como domínio e como direção 
intelectual e moral.
3.1.1 Sobre a sociedade civil e a sociedade política
Os conceitos de sociedade civil e política em Gramsci são básicos nessa reflexão sobre hegemonia 
e bloco histórico. A diferença é que a sociedade política é formada pela classe dirigente (o poder como 
força e o Estado que consiste na máquina jurídico‑coercitiva), enquanto a sociedade civil é formada pela 
trama das relações sociais que os homens estabelecem em instituições, como os sindicatos, partidos, 
igreja, imprensa, escola e assim por diante (REALE, 1991, p. 833). As campanhas eleitorais, por exemplo, 
podem representar aspectos da sociedade civil e da sociedade política, visando à hegemonia.
Para Gramsci, as classes sociais se confrontam o tempo todo, embora haja a hegemonia. A classe 
dirigente, representada pelo Estado, procura manter o poder a partir da hegemonia, do contrário, 
utiliza‑se da força. Na sua concepção, a classe que se confronta com o Estado é aquela fora da esfera 
institucional do Estado e constitui‑se no grupo social que, para assumir o Estado/poder, precisa criar 
condições favoráveis, de modo que:
[...] se mostre capaz de elaborar uma cultura própria, uma visão de mundo 
e um conjunto de ideias que o ponham em condições de apresentar a sua 
candidatura à direção da sociedade nacional. Mas isso não basta, já que 
também deve se organizar para difundir essa cultura entre as massas e 
fazê‑la transformar‑se em patrimônio nacional. Ao mesmo tempo, deve dar 
vida a um organismo autônomo que discipline de modo férreo as forças 
sociais interessadas na mudança e que pretendem instituir nova organização 
social (REALE, 1991, p. 834).
3.1.2 Os intelectuais orgânicos e o partido
Em razão da necessidade de organização das classes, surge a figura do intelectual orgânico, 
na concepção de Gramsci, forjado entre as massas que não têm sentido sem uma liderança e uma 
organização. O intelectual orgânico passa a ser o elemento central capaz de orientar a classe dirigida 
para a conquista dos seus direitos ou para a conquista do poder. Reale assevera que:
[...] o intelectual não é mais o desinteressado pesquisador da verdade: 
ele se configura como agente do partido. Deve se transformar, escreve 
Gramsci, em “político, dirigente orgânico de partido”, ou seja, deve “se 
dedicar ativamente à vida prática como construtor, organizador e persuasor 
permanente”. E intelectuais não são somente os que comumente se dizem 
25
CLASSES E MOVIMENTOS SOCIAIS
tais: para Gramsci, sob a denominação de intelectuais devemos abranger 
“em geral, todo segmento social que exerce funções organizativas em 
sentido lato, seja no campo da produção, seja no campo da cultura, seja no 
campo político‑administrativo” (REALE, 1991, p. 834).
Na compreensão de Gramsci, o partido político consiste no principal meio representativo para a 
organização em torno do poder. O autor compara o partido como o príncipe moderno, em referencia às 
ideias de Maquiavel e sua clássica obra O Príncipe.
Diferentemente do que é em Maquiavel, o moderno não pode ser pessoa real, indivíduo 
concreto; pode ser somente organismo, elemento social complexo, no qual já tenha se iniciado 
a concretização de uma vontade coletiva reconhecida e afirmada parcialmente na ação. Esse 
organismo já é dado pelo desenvolvimento histórico: é o partido político, a primeira célula em que 
se resumem os germens da vontade coletiva que tendem a se tornar universais e totais (REALE, 
1991, p. 835).
3.1.3 A superestrutura
Diferentemente de Karl Marx, Gramsci não dá primazia à infraestrutura (economia), mas à 
superestrutura (ideias, pensamentos, teorias e cultura em geral que fazem parte da sociedade). Para 
ele, no desenvolvimento da história, é a superestrutura que se torna fundamental. Estas abordagens 
poderão servir‑lhe como instrumento de análise para compreensão das contradições e conflitos gerados 
no contexto dos grupos e indivíduos com os quais você irá trabalhar. Foi a partir dos conceitos de 
Gramsci, como hegemonia, sociedade civil, sociedade política, bloco histórico e superestrutura que o 
Serviço Social passa a fazer uma leitura crítica sobre as questões sociais, cujo marco foi o Movimento 
de Reconceituação.
3.2 Bourdieu: as relações sociais e suas contradições
Pierre Bourdieu (1930), formado em Filosofia, apoiou‑se nas fontes dos clássicos Durkheim, Weber 
e Karl Marx e teve a preocupação de trabalhar uma Sociologia voltada para a compreensão das 
complexidades das relações sociais e suas contradições.
3.2.1 Habitus e campo
Os conceitos de habitus e de campos são básicos para compreender o pensamento de Bourdieu. 
A ação dos indivíduos é analisada em suas diversas situações. Habitus se refere a um sistema de 
disposições duradouras adquirido pelo indivíduo durante um processo de socialização, conforme 
destaca Bonnewitz (2003).
Segundo Corcuff (2001, p. 50), o habitus se refere à “história feita corpo”, enquanto que campo se 
refere à “história feito coisa”. É importante refletir sobre esses conceitos para perceber que nenhuma 
ação humana ocorre simplesmente por acaso, mas sim pelas várias situações desencadeadas tanto pela 
interiorização do exterior quanto pela exteriorização do interior.
26
Unidade I
A interiorização do exterior relaciona‑se à forma como as pessoas assimilam a realidade em que 
estão inseridas. Se você tomar como exemplo o ambiente de trabalho com todas as relações sociais, 
organizações, processos e problemas que possam existir, talvez não compreenda exatamente, em 
princípio, essa realidade.
Ao fazer parte de uma rotina de trabalho, mesmo sem se dar conta, você interioriza várias coisas que 
fazem parte dele. Por exemplo, você já conhece bem os colegas de trabalho, seus gostos (de certa forma), 
sua forma de se comportar, até mesmo no que diz respeito às disposições materiais ou físicas de onde 
passa a maior parte do tempo (no escritório, por exemplo). Se refletir mais um pouco, saberá até mesmo 
o tom de voz de cada pessoa do setor em que você atua, inclusive quando está de mau humor ou quando 
está feliz. Você é capaz de identificar até mesmo quantas vezes o telefone toca e quem mais atende.
Em uma percepção mais ampla, conhece a cultura, a política da empresa, a ideologia, os problemas 
mais comuns e as formas mais utilizadas por seus colegas e superiores para solucionar os problemas e 
conflitos. Portanto, a interiorização do exterior significa incorporar o que você percebe cotidianamente, 
tais imprevistos repetidos passam a constituir o habitus.
Se as pessoas são capazes de interiorizar uma dada realidade, significa que existe algo, de certa forma, 
permanente e que permite orientar a ação. Assim, você tem uma estrutura já construída mentalmente, 
devido à capacidade de percepção das experiências vividas e repetidas.
No caso da exteriorização da interioridade da pessoa, você pode imaginar o oposto do que foi 
apresentado no exemplo anterior. A exteriorização parte do indivíduo, considerando o que ele pensa 
sobre o mundo, as coisas e as pessoas nas diversas realidades sociais. Se você pensa de uma determinada 
forma sobre como deve ser um ambiente de trabalho, vai procurar colocar em prática aquiloque pensa, 
isto é, vai exteriorizar aquilo que corresponde ao seu interior.
Nas palavras de Corcuff (2001):
[...] os habitus, de certa forma, são as estruturas sociais de nossa subjetividade 
que se constituem inicialmente por meio de nossas experiências (habitus 
primário), e depois, de nossa vida adulta (habitus secundário). É a maneira 
como as estruturas sociais se imprimem em nossas cabeças e em nossos 
corpos, pela interiorização da exterioridade (CORCUFF, 2001, p. 51).
Para Bourdieu, o termo estruturas sociais significa exatamente a ideia de que tudo o que envolve as 
pessoas nas suas relações sociais pode ser percebido e estudado, porque formam uma base ou estrutura. 
Como vimos no exemplo anterior, em um ambiente de trabalho, tudo ocorre de modo a se repetir.
As coisas se formam ou acontecem quase sempre do mesmo jeito, devido à necessidade de 
padronização para permitir segurança. As pessoas exteriorizam o que pensam e procuram tornar isso 
comum para terem o controle das situações. Há uma interiorização do exterior – quando você já sabe 
como funciona o dia a dia da empresa em que trabalha – e, por outro lado, há uma exteriorização do 
interior – quando você coloca em prática aquilo que pensa e tenta ser compreendido e aceito.
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CLASSES E MOVIMENTOS SOCIAIS
A noção de campos, segundo Bourdieu, refere‑se exatamente à forma como se constituem a 
exteriorização da interioridade. Conforme acentua Corcuff (2001, p. 5), “O campo é uma esfera da vida 
social que se autonomizou progressivamente por meio da história, em torno de relações sociais, de 
conteúdo e de recursos próprios, diferentes dos de outros campos”. Quando você ouve falar em campo 
político, campo econômico, campo artístico, entre outros, pode perceber o que o Bourdieu quer dizer 
com a noção de campos e de habitus.
Cada campo, na perspectiva bourdieusiana, é marcado por uma distribuição desigual de forças – os 
dominantes e os dominados. Nessa concepção, percebe‑se a influência marxista na abordagem de Bourdieu. 
Esse teórico vai além de Marx ao conceber a existência de diferentes mecanismos específicos de capitalização.
Assim, temos o capital cultural, político, econômico, educacional, entre outros. Nesse sentido, o 
capitalismo, para Bourdieu, não se refere apenas ao campo econômico, mas abrange todos os aspectos 
da vida em sociedade.
Quando se fala em ideias ou ideologia capitalista, refere‑se à maneira de o capitalismo se apresentar 
e obter sua hegemonia, o que se dá, inclusive, a partir de elementos simbólicos.
3.2.2 A violência simbólica
Os estudos de Bourdieu, além da ideia de habitus e de campos, têm, no conceito de violência simbólica, 
uma importante referência para se compreender também a sociedade capitalista e suas formas de reprodução.
A partir da compreensão marxista de que a sociedade é dividida em classes e, portanto, um ambiente 
de constantes lutas e de conflitos, Bourdieu percebe a sociedade capitalista marcada por profundas 
desigualdades. Por outro lado, esse autor não deixa de beber na fonte weberiana, “compreendendo que 
a realidade social é também um conjunto de relações de sentido, que ela tem, então, uma dimensão 
simbólica” (CORCUFF, 2001, p. 53).
Para a compreensão do significado de violência simbólica, Bourdieu distingue dois tipos de violência: 
a física e a simbólica. A primeira é exercida pela força física: bater em uma criança, ataque de policiais 
com cassetetes, entre outros. A segunda, a simbólica, significa repassar para as pessoas e grupos sociais 
valores que devem ser seguidos, caso contrário, serão punidos.
A violência simbólica também é repassada ideologicamente quando são incutidas nas pessoas, ou na 
sociedade, normas e valores que devem ser seguidos por serem “os melhores”, quando na maioria das 
vezes não correspondem ao que expressam. Por exemplo: ouvimos ou lemos constantemente, por meio 
da mídia e outros meios de comunicação, que a “escola é igual para todos”. Na realidade, é diferenciada 
conforme a classe social.
A dimensão simbólica para Bourdieu relaciona‑se com as maneiras de se pensar as formas de dominação 
social. É importante perceber que Bourdieu tem a compreensão de que a sociedade é dividida em classes, 
isto é, em dominantes e dominados. Nesse caso, na sociedade apresentam‑se diferentes campos, e o campo 
do poder é formado pela luta entre os detentores de poder e os não detentores de poder.
28
Unidade I
Bourdieu trabalha com a noção de violência simbólica, o que implica, conforme vimos, formas de 
dominação legitimadas pela maioria da sociedade.
As ideias repassadas, mesmo podendo ser negativas, não são vistas dessa forma pelas pessoas, pois 
o princípio da violência simbólica se dá pelo reconhecimento e desconhecimento da realidade. Para 
Bourdieu (apud Bonnewitz, 2003, p. 99):
[...] a violência simbólica é uma forma de violência que se exerce sobre 
um agente social com a sua cumplicidade [...] Para dizer isso mais 
rigorosamente, os agentes sociais são agentes cognoscentes que, mesmo 
quando submetidos a determinismos, contribuem para produzir a eficácia 
daquilo que os determina, na medida em que eles estruturam aquilo que 
os determina. E é quase sempre nos ajustes entre os determinantes e as 
categorias de percepção que os constituem como tais que o efeito de 
dominação surge.
Existem diversos tipos de situações na sociedade que são exemplos da violência simbólica. Se você 
tomar como exemplo uma empregada doméstica que trabalha em precárias condições, com salário 
muito baixo e que aceita essa situação, significa que ela introjetou uma forma de violência simbólica, 
por não se sentir sujeito de direitos garantidos por lei e, consequentemente, capaz de lutar por esses 
direitos.
É comum na sociedade capitalista, na qual existe uma desigualdade social imensa e um processo de 
exclusão cada vez mais frequente, as pessoas se submeterem inclusive a situações de trabalho escravo, 
como acontece ainda em determinadas regiões do Brasil; e, por incrível que possa parecer, quando 
alguns trabalhadores são procurados para falar sobre o caso, geralmente, não se veem como explorados.
Ao estudar sobre os currículos escolares na sociedade capitalista, juntamente com Passeron, Bourdieu 
demonstra como a violência simbólica se faz presente no universo escolar. A partir da premissa de que 
a escola produz e reproduz as desigualdades sociais, todo o sistema curricular no capitalismo é formado 
para atender à ideologia dominante.
Poucos são os que acompanham as necessidades do capitalismo, pois os capitais cultural, econômico 
e político falam mais alto. Se a maioria dos alunos não se inclui nas novas necessidades do mercado, 
logo são excluídos do processo; os poucos detentores do saber ocupam os melhores cargos, sem contar 
com os apadrinhamentos e os sistemas de corrupção.
As realidades sociais que demonstram situações como desemprego, discriminação, humilhação, 
pobreza, entre outras, são vistas como naturais, como se não fossem fruto de todo um processo histórico, 
político, ideológico desencadeados a partir da luta desigual e injusta e de diferentes interesses.
Se você analisar as histórias das diferentes sociedades, especialmente aquelas frutos de um processo 
de colonização, com pilhagem, escravismo, desrespeitos às culturas nativas, entre outras, perceberá 
como a violência simbólica se faz presente, além da violência física.
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CLASSES E MOVIMENTOS SOCIAIS
As sociedades simples, consideradas atrasadas pelos colonizadores, aquelas afastadas da sociedade 
industrializada, como os aborígines e os indígenas, foram saqueadas. Muitos povos foram extintos em 
nome da civilização e até da religião. Os astecas e os maias, no México e no Peru, foram massacrados e 
reduzidos numericamente, assim como várias nações indígenas brasileiras foram exterminadas.
3.3 Michel Foucault e a relação de poder
O pensamento do filósofo francês Michel Foucault se faz influente pela sua característica 
particular em perceber o conhecimento, o saber eo poder. As contribuições desse teórico se 
mostram contrárias à interpretação da sociedade feita pelas concepções positivistas e marxistas. Na 
concepção de Foucault, os modelos ou paradigmas que se pautam em padronização e determinismo 
ignoram as diversas realidades que se apresentam, bem como impedem a compreensão maior dos 
diversos fenômenos sociais. A sociedade moderna não é algo tão simples de se estudar, de modo 
que ideias e conceitos positivistas não são suficientes para se compreender a complexidade das 
relações sociais.
Você viu que o Positivismo e o Funcionalismo têm como referência os modelos orgânicos na análise 
social, comparando a sociedade a um grande organismo vivo com suas partes interdependentes.
A preocupação dos teóricos do Positivismo, por exemplo, é realizar uma análise objetiva da sociedade, 
de forma neutra e sem subjetividades.
Foucault foi o principal representante do estruturalismo. Toda a sua obra é um exaustivo 
trabalho sobre a arqueologia do saber ocidental, pondo em evidência as estruturas conceptuais 
que a priori e em época determinam as articulações entre o saber e o poder, estabelecendo o 
que é interdito e o que é permitido. As obras de Foucault costumam ser divididas em três fases 
distintas. Na primeira, ele chamava seus estudos históricos de arqueologia (ocorre na década de 
1960), a segunda fase é denominada genealógica (que faz referência ao nosso estudo), sendo o 
termo que Foucault escolheu para seus estudos do poder e, por fim, a fase ética, quando ele se 
voltou para a ética antiga, discutindo‑a até os dias atuais. Cabe ressaltar que no início de cada 
“nova” fase há a introdução de um novo eixo de análise, resultando numa visão mais abrangente 
para a escrita de sua obra.
Conhecer esse esquema tripartite, sem dúvida, torna mais fácil para os iniciantes compreender a 
vasta obra de Foucault, sendo importante tratá‑lo como um modelo heurístico ou pedagógico, não 
como uma divisão estrita.
 observação
Genealogia: procedência, origem. O que faz a genealogia é considerar o 
saber – compreendido como materialidade, prática, acontecimento – como 
peça de um dispositivo político que, como dispositivo, articula‑se com a 
estrutura econômica (HOUAISS, 2004).
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Unidade I
Por meio de um estudo denominado arqueológico, e partindo da problemática da constituição 
histórica dos saberes sobre os homens, Foucault tenta mostrar que, para se chegar ao conhecimento, 
não há um método universal. Ele produziu uma série de estudos que apontam para uma espécie de 
genealogia do sujeito moderno.
3.3.1 As relações de poder
Você já pensou sobre o que significa poder? Como se apresenta ou quais as formas de poder 
existentes? O que é preciso para se ter poder? Qual a relação entre poder e saber?
Na concepção de Foucault, o poder está presente em toda parte, em todas as relações sociais. Para 
muitas pessoas, o poder refere‑se às instâncias políticas: representante político (presidente, governador, 
prefeito, legislativo). Para Foucault, o poder se faz presente nas mínimas relações sociais, até mesmo 
entre duas pessoas.
A concepção sobre as relações de poder tornou‑se paradigma para análise contemporânea voltada 
para as nuances e para as relações do dia‑a‑dia, contrariamente às análises totalitárias da sociedade até 
então vigentes.
A noção de poder, a partir de Foucault, tem uma forte ligação também com o saber ou os saberes, 
como ele costumava se referir. Da mesma forma que o poder, o saber também está em toda parte e 
não somente no mundo acadêmico. Há, na verdade, na sua percepção, uma íntima relação entre saber 
e poder, uma vez que os que detêm certo tipo de saber, detêm também o poder. Isso é perceptível nas 
diversas situações sociais. Na análise de Foucault, o controle do saber e do poder apresenta‑se, por 
exemplo: no jurídico, no Estado, nas organizações, nos hospitais, nas prisões, no corpo, na disciplina, 
entre outros.
Os diferentes saberes se confrontam, afirmam‑se, controlam e reagem entre si. Na sociedade 
moderna, em que predomina a força do capital, o saber constitui‑se em uma forma de capitalização.
Para o filósofo francês Michel Foucault (1986), a formação de saberes e o sistema de poder regulam 
as práticas sociais. O poder não é um objeto natural, uma coisa: é uma prática social. Todo saber é 
político, tem sua gênese nas relações de poder. O poder, por sua vez, deve ser analisado não nas formas 
legítimas, mas captado em suas extremidades, nas ramificações, em suas formas e instituições mais 
regionais e locais; não é tomado como um fenômeno de dominação maciço e homogêneo de um 
indivíduo sobre os outros.
O poder deve ser analisado como algo que circula, funciona em cadeia, veiculado por cada um 
de nós, não é exclusivo das classes dominantes nem tem origem no capitalismo, pois se faz presente 
historicamente em outros sistemas sociais.
De acordo com Stuart Hall (1999, p. 42), Foucault destaca um novo tipo de poder, o “poder disciplinar”, 
que se desdobra ao longo do século XIX, chegando ao seu desenvolvimento máximo no início do presente 
século. Esse poder disciplinar está preocupado, em primeiro lugar, com a regulação, a vigilância. Vai 
31
CLASSES E MOVIMENTOS SOCIAIS
desde o governo ou de populações inteiras até o indivíduo e ao seu corpo. Seus locais são aquelas 
instituições que se desenvolveram ao longo do século XIX e que “policiam” e disciplinam as populações 
modernas – oficinas, quartéis, escolas, prisões, hospitais, clínicas e assim por diante. Seu objetivo básico 
consiste em produzir um ser humano que possa ser tratado como um corpo dócil, facilitando, assim, as 
relações de dominação que atingem toda a realidade social, penetrando com sutileza na vida cotidiana.
Foucault desconstrói a concepção de poder apenas como algo negativo, repressivo e destrutivo. 
É uma relação de poder que não atua do exterior, mas trabalha o corpo dos homens, manipulando 
seus elementos e produzindo seu comportamento, ou seja, fabrica o tipo de homem necessário ao 
funcionamento e manutenção da sociedade industrial capitalista.
3.3.2 O poder disciplinar
Os estudos realizados por Foucault abrangem uma variedade de assuntos e situações. Esse autor 
realizou pesquisas sobre a medicina e o nascimento da clínica, além de fazer um apanhado histórico de 
como os saberes se constituíram ao longo do tempo. De forma geral, sua obra demonstra o poder nos 
variados aspectos.
Uma das formas de poder para a qual Foucault chama a atenção na sociedade moderna é o que 
ele denomina de poder disciplinar. Essa forma de poder é muito presente até mesmo nas fábricas, nas 
escolas, nas igrejas, nos presídios, nos hospitais etc. Em uma de suas obras significativas sobre o tema, 
Vigiar e Punir, o autor analisa as relações de poder na sociedade.
Outro estudo importante realizado por Foucault foi sobre a loucura, mais precisamente sobre a 
concepção de loucura desenvolvida na sociedade moderna. A loucura está associada à maneira como o 
saber e o poder se fizeram presentes para disciplinar os indivíduos.
Nota‑se, aluno, que os pensamentos de Bourdieu, como também de Foucault, têm sua relevância 
para analisar a sociedade atual, especialmente por não se prenderem a modelos rígidos e determinantes. 
As concepções de poder e de poder disciplinar são importantes para que se perceba a política por vários 
ângulos. Por outro lado, os conceitos de habitus, de campo e de violência simbólica, em Bourdieu, 
trouxeram novas perspectivas de análises sociológicas para que possamos compreender as diferentes 
formas de dominação presentes nos dias atuais, principalmente por meio da educação, da mídia e das 
instituições e organizações sociais modernas.
4 ABERTURA DEMOCRÁTICA E A REVALORIZAÇÃO DA SOLIDARIEDADE 
MICROTERRITORIAL
4.1 Linha do tempo das políticas sociais
Para contextualizar como se deu o processo de amadurecimento das estruturas de atendimento 
às demandas sociais públicas, apresentamos, a seguir, uma relação dos principais marcos mundiais 
e

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