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Ultrassom em obstetrícia 1 Ultrassom em obstetrícia Aplicações clínicas Principais benefícios: avaliação precisa da idade gestacional (IG), avaliação do crescimento fetal, detecção de anormalidades do feto e da placenta. OMS preconiza a realização de três exames ultrassonográficos na gestação de risco habitual. Primeiro trimestre: entre 11 e 14 semanas. Segundo trimestre: entre 20 e 24 semanas. Terceiro trimestre: entre 32 e 36 semanas. Avaliação do primeiro trimestre Primeiras 14 semanas. Principais indicações: confirmar a gestação intrauterina; investigar a suspeita de gravidez ectópica; definir a causa do sangramento vaginal; avaliar a causa da dor pélvica; estimar a IG; diagnosticar ou avaliar as gestações multifetais; confirmar a atividade cardíaca (BCF); guiar biópsia de vilo corial, auxiliar na transferência de embriões, bem como a localização e remoção de dispositivo intrauterino (DIU); avaliar determinadas anomalias fetais (por exemplo = anencefalia) nas gestantes de alto risco; avaliar massas pélvicas e/ou anormalidades uterinas maternas; medir a translucência nucal (TN) como parte do programa de triagem para aneuploidia fetal; avaliar a suspeita de doença trofoblástica gestacional (gravidez molar). Componentes dos exames ultrassonográficos padronizados por trimestre Localizar o saco gestacional (identificado em torno da 5ª semana). Identificar o embrião e/ou vesícula vitelina (ambos entre 5-6 semanas) = a presença de vesícula vitelina indica que há embrião, mesmo que ele não seja visível. Ultrassom em obstetrícia 2 Determinar o comprimento cabeça-nádega (CNN - índice biométrico mais preciso para estimar a idade gestacional). Detectar a atividade cardíaca (aparece em torno da 6ª semana - obrigatória no embrião com 5mm ou mais). Determinar o número de fetos, inclusive a amnionicidade e corionicidade dos fetos múltiplos, se possível. Avaliar a anatomia embrionária/fetal compatível com o primeiro trimestre (anencefalia). Avaliar o feto, o útero, os anexos e o fundo de saco. Avaliar a região da nuca fetal, se possível. Saco gestacional (5 semanas) Vesícula vitelina (5 semanas) Embrião (5 semanas) Gestação múltipla CNN CNN Ultrassom em obstetrícia 3 Translucência nucal Medida que representa a espessura máxima da área de translucência subcutânea entre a pele e os tecidos moles que recobrem a coluna vertebral do feto na região posterior do pescoço (11 a 14 semanas). Recomendações para a medida da TN: os limites das bordas da TN devem estar suficientemente nítidos para permitir o posicionamento preciso do marcador; o feto deve estar no plano sagital mediano; a imagem precisa ser ampliada de modo que seja preenchida pela cabeça, pescoço e parte superior do tórax do feto; o pescoço do feto deve estar em posição neutra, ou seja, não flexionado ou estendido excessivamente; o âmnio deve ser evidenciado como estrutura separada da linha de TN; marcadores eletrônicos devem ser usados para realizar a medição; o marcador deve ser aplicado nas bordas internas do espaço nucal, sem qualquer linha transversal entrando no espaço; o marcador deve ser aplicado perpendicularmente ao eixo longitudinal do feto; a medida deve ser obtida na área mais ampla do espaço de TN. Corionicidade/amnionicidade Gravidez molar Gravidez ectópica TN embrião de 12 semanas Ultrassom em obstetrícia 4 Avaliações do segundo e terceiro trimestres Componentes dos exames ultrassonográficos padronizados: determinar o número de fetos; gestações multifetais; amnionicidade/corionicidade; dimensões fetais; volume do líquido amniótico e genitália fetal (se for visualizada); definir a apresentação; confirmar a atividade cardíaca fetal; determinar a localização da placenta e sua relação com o orifício interno do colo; estimar o volume do líquido amniótico; estimar a IG; estimar o peso fetal; avaliar o útero, os anexos e o colo; examinar a anatomia fetal, inclusive a descrição das limitações técnicas. Indicações dos exames ultrassonográficos do 2º ou 3º trimestres Estimar a IG. Investigar a causa do sangramento vaginal. Determinar a apresentação fetal. Detectar discrepâncias significativas entre as dimensões uterinas e as datas calculadas pela história clínica. Investigar massas pélvicas. Investigar a suspeita de gravidez ectópica. Investigar a suspeita de anormalidade uterina. Investigar a suspeita de poli ou oligodramnia. Avaliar a ruptura prematura da placenta e/ou trabalho de parto prematuro. Investigar a gestante com marcadores bioquímicas anormais. Avaliar o crescimento fetal Investigar incompetência istmocervical. Avaliar a causa da dor abdominal/pélvica. Investigar a suspeita de gestação multifetal. Complementar a amniocentese ou outro procedimento diagnóstico. Avaliar a suspeita de gestação molar. Investigar a suspeita de morte fetal. Avaliar o bem-estar fetal. Investigar a suspeita de descolamento prematuro da placenta. Facilitar a versão cefálica externa. Reavaliar uma anomalia fetal detectada. Ultrassom em obstetrícia 5 Avaliar uma gestante com história de anomalia congênita em gestação anterior. Detectar anormalidades que possam aumentar o risco de aneuploidia. Reavaliar a localização da placenta quando há suspeita de placenta anterior. Avaliar as condições fetais nas fases finais da assistência pré-natal. Realizar a triagem de anomalias fetais. Tipos de ultrassom Existem três tipos de exame ultrassonográfico: padronizado, especializado e limitado. Padronizado: também conhecido como básico; é a modalidade realizada mais comumente. Especializado: 1. Morfológico: avaliação anatômica detalhada realizada quando há suspeita de anomalia com base na história clínica, anormalidades dos testes de triagem sérica materna ou achados anormais de exame padronizado. Atualmente, é costumeiramente pedido, entretanto não está disponível no sistema público de saúde. 2. Ecocardiografia fetal: quando há detecção de arritmias ou alterações na frequência cardíaca ou quando há suspeita no morfológico. 3. Dopplerfluxometria: quando é gravidez de alto risco; avaliar o bem-estar fetal. 4. Avaliação do perfil biofísico fetal: avaliar o bem-estar fetal; se há sofrimento fetal. Limitado: realizado quando determinada questão precisa ser investigada, como a avaliação do líquido amniótico, localização placentária ou apresentação ou viabilidade fetais. Na maioria dos casos, os exames limitados são convenientes apenas depois de ter sido realizado um exame padronizado. Componentes mínimos do exame padronizado da anatomia fetal: Cabeça, face e Cerebelo. Plexo coroide. Cisterna magna. Ultrassom em obstetrícia 6 pescoço. Ventrículos laterais do cérebro. Foices da linha média. Septo pelúcido craniano. Lábio superior. Medida da TN. Tórax. Rins. Bexiga. Abdome: estômago = presença, dimensão e posição (situs). Membros: pernas e braços = presença/ausência. Avaliação dos tratos de saída, se tecnicamente exequível. Coluna vertebral, segmentos: cervical/torácico/lombar/sacro. Número de vasos do cordão umbilical. Visão das 4 câmaras do coração. Inserção do cordão umbilical no abdome fetal Idade gestacional Comprimento cabeça-nádega: é mais preciso no primeiro trimestre. Diâmetro bi parietal (DBP): mostra-se mais exato entre a 14ª e a 26ª semana, com variação de 7 a 10 dias. O DBP é medido da borda externa do crânio proximal até a borda interna do crânio distal no nível dos tálamos e septo pelúcido do crânio. Circunferência craniana (CC): também deve ser medida quando o formato do crânio é achatado (dolicocefalia) ou arredondado (braquicefalia). A CC é mais confiável que o DBP. Comprimento do fêmur (CF): correlaciona-se diretamente com o DBP e a IG. O CF é medido com o feixe ultrassônico perpendicular ao eixo longitudinal da diáfise com exclusão da epífise e tem variação de 7 a 11 dias no segundo trimestre. Circunferência abdominal (CA): apresenta variação mais ampla (2 a 3 semanas). Essa medida é a mais afetadapelo crescimento fetal. A CA é medida no nível da pele em visão transversal do feto no nível do estômago e da veia umbilical do feto. Ultrassom em obstetrícia 7 Líquido amniótico Subjetivamente, a oligodramnia caracteriza-se pelo “amontoamento” do feto e inexistência de bolsões significativos de líquidos. Por outro lado, a polidramnia evidencia-se por excesso de líquidos. Objetivamente, temos utilizado o Índice de Líquido Amniotico (ILA), calculado somando a profundidade em centímetros do bolsão vertical mais volumoso em cada um dos quatro quadrantes do útero (Phelan e cols., 1987). Os valores de referência mostram-se definidos a partir da 16 semana de gestação, e, na maioria das gestações normais, o ILA varia de 8 a 24 centímetros. Outra técnica mede o maior bolsão vertical de líquido amniótico, cuja variação normal é de 2 a 8 centímetros = valores <2cm indicam oligodramnia e valores >8 sugerem polidramnia. Esse método é comum para avaliar gestações gemelares. Sistema Nervoso Central O cérebro deve ser examinado em 4 incidências transversais (axiais). ILA Maior bolsão vertical Ultrassom em obstetrícia 8 Incidência transtalâmica: usada para medir o DBP e a CC, incluindo os tálamos e o septo pelúcido do crânio. Incidência transventricular: inclui os átrios dos ventrículos laterais, que contêm os plexos coroides ecogênicos. Incidência transcerebelar: obtida com a angulação do transdutor na direção da fossa posterior. Nessa incidência, o cerebelo e a cisterna magna geralmente podem ser medidos. Entre a 12ª e a 22ª semana de gestação, o diâmetro cerebelar em milímetros é praticamente equivalente a idade gestacional em semanas. 🚩 O exame especializado possibilita o diagnóstico preciso de anomalias, como malformações do tubo neural, ventriculomegalia, holoprosencefália, hidranencefalia, anomalia de Dandy-Walker, agenesia do corpo caloso, porencefalia ou tumor intracraniano. Transtalâmica Transcerebelar Transventricular Anencefalia Mielomeningocele Ventriculomegalia Ultrassom em obstetrícia 9 Tórax Os pulmões são visíveis mais claramente depois de 20-25 semanas, aparecendo como estruturas homogêneas que circundam o coração. Na incidência torácica das 4 câmaras, os pulmões ocupam cerca de dois terços da área. Coração As malformações cardíacas costumam ser as anomalias congênitas mais comuns, com incidência aproximada de 8 por 1000 nascidos vivos. Até 30 a 40% das malformações cardíacas diagnosticadas antes do nascimento estão associados às anormalidades cromossômicas (Moore e cols., 2004; Paladini e cols., 2002). Por essa razão, a detecção de tais malformações deve indicar a realização do cariótipo fetal. As aneuploidias encontradas mais comumente são a síndrome de Down (21), trissomias do 18 (Edwards) e 13 (Patau), bem como a síndrome de Turner (45, X). Parede abdominal A integridade da parede abdominal deve ser avaliada ao nível da inserção do cordão umbilical durante o exame padronizado. Anomalias = gastrosquise, onfalocele. Holoprosencefalia (tálamo fundido) Anomalia de Dandy-Walker Ultrassom em obstetrícia 10 Trato gastrointestinal O estômago é visível em quase todos os fetos com mais de 14 semanas, quando não visualizado pensar em: atresia esofágica, hérnia diafragmática, anomalias da parede abdominal e malformações neurológicas que inibem a deglutição fetal. O fígado, baço, vesícula biliar e intestino podem ser detectados em muitos fetos no segundo e terceiro trimestres. Rins e vias urinárias Os rins fetais podem ser facilmente visualizados ao lado da coluna vertebral, geralmente a partir da 14ª semana e rotineiramente em torno da 18ª semana. A placenta e as membranas são as principais fontes do líquido amniótico no início da gravidez. Após a 18ª semana a maior parte deste líquido é produzida pelos rins. Ultrassom em obstetrícia 11 O débito urinário fetal aumenta de 5 ml/h com 20 semanas para cerca de 50 ml/h na gestação a termo (Rabinowitz e cols., 1989). Oligoidramnia inexplicável sugere anormalidades das vias urinárias. Alterações: agenesia renal, rins policísticos, obstrução da junção uretero- pélvica (JUP). Ultrassonografias tridimensional (3-d) e quadrimensional (4-d) O objetivo da US 3-D é obter um volume e, em seguida, reproduzir este volume de forma a melhorar as imagens bidimensionais em tempo real. Transdutores especiais são utilizados para obter volumes na forma de imagens estáticas (3D) e em função do tempo (4D). 🚩 Entretanto, as comparações da US de modalidade 3-D com a 2-D convencional no diagnóstico da maioria das anomalias congênitas não evidenciaram qualquer vantagem para a detecção global (Gonçalves e cols., 2006; Reddy e cols., 2008). Recentemente, o American College of Obstetricians and Gynecologists (2009) confirmou que não existe comprovação da superioridade clínica da US 3-D em geral. Desse modo, a utilidade exata de tal tecnologia excitante ainda não está claramente definida. Ultrassom em obstetrícia 12 Dopplerfluxometria Aplicações clínicas: a equação Doppler ilustrada na figura, contém as variáveis que afetam o desvio Doppler. Uma causa importante de erros durante o cálculo do fluxo ou velocidade é o ângulo entre as ondas sonoras emitidas pelo transdutor e o fluxo dentro do vaso sanguíneo, conhecido como ângulo de insonação (ideal <60º) e abreviado pela letra teta (e). Como o cosseno de e é um dos componentes da equação, o erro de medição torna-se maior quando o ângulo de insonação não se encontra próximo de zero; em outras palavras, quando o fluxo do vaso sanguíneo não está avançando ou afastando-se diretamente do transdutor. Aplicações clínicas: artéria umbilical Normalmente, esse vaso tem fluxo anterógrado durante todo o ciclo cardíaco. O volume do fluxo durante a diástole aumenta à medida que a gestação avança. Assim, a relação S/D diminui cerca de 4 com 20 semanas para 2 na gestação a termo. O Doppler da artéria umbilical não é recomendado para as gestações de baixo risco ou outras complicações, além da restrição ao crescimento intrauterino. O Doppler da artéria umbilical é considerado anormal quando a relação S/D é maior que o 95° percentil para a idade gestacional. Ultrassom em obstetrícia 13 Nos casos extremos de restrição ao crescimento intrauterino, o fluxo diastólico final pode desaparecer ou mesmo ser reverso. Se não houver alguma complicação materna reversível ou anomalia fetal, a inversão do fluxo diastólico final sugere disfunção circulatória fetal grave, sendo geralmente indicada a necessidade de realizar o parto imediatamente. Aplicações clínicas: canal arterial O exame Doppler do canal arterial tem sido utilizado principalmente para monitorar os fetos expostos à indometacina e outros agentes anti- inflamatórios não esteroides (AINE). A indometacina pode causar contração ou fechamento do canal arterial (Huhta e cols., 1987). O aumento resultante do fluxo sanguíneo pulmonar pode causar hipertensão pulmonar. A contração do canal arterial pode ser revertida, e sua persistência estar diretamente relacionada com a elevação da dose e o prolongamento do tratamento com AINE. Comumente, a constrição do canal arterial é uma complicação potencialmente grave, devendo ser evitada. Por essa razão, a duração do tratamento com AINE geralmente é limitada a menos de 72 horas. Aplicações clínicas: artéria uterina O traçado Doppler da artéria uterina é singular, caracterizando-se por velocidades altas de fluxo diastólico comparáveis às velocidades sistólicas. Também há fluxo extremamente turbulento, que se evidencia por um espectro de várias velocidades. O aumento da resistência ao fluxo e o aparecimento de uma “incisura" diastólica bilateral foram associados à hipertensão induzida pela gravidez. O aumento da impedância ao fluxo da artéria uterina entre a 16ª e a 20ª semanas de gestação, prevê o desenvolvimento de pré-eclâmpsia sobretudo nas mulheres com hipertensão crônica. Aplicações clínicas: artéria cerebral média (ACM) A determinaçãoda velocimetria da artéria cerebral média pelo Doppler foi estudada e realizada clinicamente para detectar a anemia fetal e investigar a possibilidade de restrição ao crescimento intrauterino. Ultrassom em obstetrícia 14 Aplicações clínicas: duto venoso As anormalidades do duto venoso podem identificar os fetos prematuros com restrição do crescimento, que se encontram sob maior risco de desfecho (Baschat, 2003, 2004; Bilardo e cols., 2004; Figueras e cols., 2009). 🚩 Alterações no duto venoso podem indicar a necessidade de interromper a gravidez independente do tempo gestacional. Aplicações clínicas: ecocardiografia em modo M A US em modo M (ou modo de movimento) é uma representação linear dos componentes do ciclo cardíaco, com o tempo no eixo x e o movimento no eixo y. É utilizada para determinar a frequência cardíaca fetal, e as variações da frequência e ritmo cardíacos fetais são facilmente detectadas. Se houver alguma anormalidade, o exame da anatomia cardíaca deverá ser realizado.
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