Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Alice Bastos Malformações fetais As malformações podem ser: Menores: sem consequências graves para a saúde e/ou estética do paciente; Maiores: letais, incuráveis ou graves e com alto risco de déficit residual; Também podem ser classificadas de acordo com o seu período de aparecimento: Precoces: já estão presentes no primeiro trimestre da gestação (ex.: anencefalia, espinha bífida); Tardias: ocorrem no decorrer da gestação (ex.: rins multicísticos); É importante que seja feito o diagnóstico das malformações durante o pré-natal como forma de oferecer aos pais aconselhamento genético apropriado e, quando possível, planejar a terapêutica com as opções de interrupção judicial da gestação, terapias intrauterinas e assistência neonatal especializada ao recém-nascido malformado. Diagnóstico - geral A ultrassonografia é o mais efetivo método para diagnóstico pré-natal de malformações fetais; Cerca de 80 a 90% das malformações congênitas ocorrem em gestantes que não apresentam fator de risco identificável; Por isso, a ultrassonografia morfológica deve ser oferecida a todas as grávidas durante o pré-natal; Muitas das malformações podem ser diagnosticadas no primeiro trimestre, no entanto, a idade gestacional em que a maioria das malformações pode ser visualizada é entre 20 e 24 semanas. Conduta – geral Diante do diagnóstico de uma ou mais malformações fetais, é importante a realização de um exame morfológico em busca de outras malformações; Ecocardiograma deve ser solicitado invariavelmente; O cariótipo fetal é considerado diante do tipo (alta ou baixa prevalência de cromossomopatia) e do número (quanto maior o número, maior o risco para aneuploidia) de malformações e da idade materna; Deve-se oferecer o aconselhamento genético com o objetivo de elucidar o acompanhamento da gestação, a programação do parto e o prognóstico fetal e neonatal; Casos de malformações que necessitam de cirurgia pós- natal: parto tem de ser realizado em centros terciários, com equipes de neonatologia e cirurgia pediátrica disponíveis; A via de parto nas malformações, em geral, é por conduta obstétrica; Não existem benefícios da indicação da cesárea para a maioria das malformações. Prevenção – geral A causa definitiva da maioria das malformações fetais ainda é desconhecida, por isso, existem poucas oportunidades de prevenção primária; Algumas medidas: Fazer os controles pré-natais de rotina; Mudar a dieta das mulheres em idade fértil: garantir o consumo de nutrientes, vitaminas e minerais necessários (especialmente o ácido fólico); Não consumir substâncias que podem ser prejudiciais ao feto (ex.: drogas e álcool); Manter o controle pré-conceptivo e gestacional de doenças metabólicas; Controlar a exposição a radiações e o consumo de remédios durante a gravidez; Reduzir ou evitar a exposição ambiental a substâncias nocivas (metais pesados e inseticidas); Manter as vacinas em dia. Defeitos abertos do tubo neural Anencefalia É a ausência da calota craniana, com degeneração secundária do encéfalo. Alice Bastos Ultrassonografia: 1° trimestre (pode ser feito depois de 11 semanas): imagem típica é do perfil alongado da fronte fetal; 2° trimestre: demonstração de ausência da calota craniana e dos hemisférios cerebrais. A letalidade em todos os espectros da anencefalia é de 100% e a interrupção da gestação deve ser considerada. Ç Uso de ácido fólico. Encefalocele Defeito craniano, normalmente occipital, com herniação das meninges e eventualmente do encéfalo. Ç Uso de ácido fólico. Espinha bífida Arco vertebral é incompleto, com prejuízo para as meninges, a medula e as raízes nervosas expostas. Requer exame sistemático de cada arco vertebral, desde a região cervical até a sacral, em cortes transversal, longitudinal e coronal; O arco vertebral aparece em formato de U e é associado a uma saliência meningocele ou meningomielocele. Correção cirúrgica no período pós-natal preferencialmente até o segundo dia de nascimento; A cirurgia intrauterina também é uma opção viável. Ç Uso de ácido fólico. Hidrocefalia Também chamada de ventriculomegalia; É a dilatação anormal dos ventrículos laterais resultante do aumento de liquor, podendo ser comunicante ou não comunicante; Comunicante: obstrução do fluxo é extraventricular, no nível do espaço subaracnóideo; Não comunicante: obstrução do fluxo cefalorraquidiano no sistema intraventricular. Ultrassonografia: Presença de dilatação dos ventrículos laterais; Nos casos de dilatação leve, é importante a medida do corno posterior do ventrículo lateral (átrio do ventrículo lateral); Discrepância entre a idade gestacional e a medida do diâmetro biparietal (DBP) diagnóstico mais tardio; OBS.: o diagnóstico nem sempre é fácil à ultrassonografia; A grande maioria dos casos só aparece após 16 a 18 semanas. Ultrassom morfológico para buscar as anomalias associadas; Ecocardiografia fetal; Cariótipo; Pesquisa de infecção (citomegalovírus e toxoplasmose). Holoprosencefalia É caracterizada pela falência da divisão do encéfalo anterior no período embrionário, resultando em falha na diferenciação do prosencéfalo em hemisférios cerebrais e ventrículos laterais, que ocorre entre os dias 28 e 32 da gestação; Classificação morfológica (em ordem crescente de gravidade): lobar, semilobar e alobar. Alice Bastos Ultrassonografia: Alobar: observam-se cavidade ventricular única, cerebelo hipoplásico, tálamos fundidos na linha média e agenesia do corpo caloso. Alterações faciais como ciclopia e fendas labiopalatinas são comuns; Semilobar: presença de uma divisão parcial do cérebro, com os ventrículos laterias e hemisférios cerebrais parcialmente separados na porção posterior do cérebro. Os tálamos também estão parcialmente separados, no entanto, na região anterior, existe uma cavidade monoventricular; Lobar: cornos anteriores dos ventrículos laterais se comunicam diretamente com o terceiro ventrículo; OBS.: o dignóstico pré-natal da holoprosencefalia lobar pela ultrassonografia é muito difícil, podendo-se utilizar a ressonância nuclear magnética, que tem maior acurácia; Em casos mais graves, o diagnóstico pode ser realizado já no primeiro trimestre; No segundo trimestre o diagnóstico é pouco desafiador há uma riqueza de malformações associadas, particularmente as faciais como, por exemplo, fendas, cebocefalia, ciclopia, hipotelorismo, probóscide, entre outras. Em caso de diagnóstico de holoprosencefalia no período pré-natal devem ser oferecidos à gestante: Cariótipo; Ecocardiografia fetal. Agenesia de corpo caloso É quando alguma condição (geralmente vascular ou infecciosa) acomete o desenvolvimento do corpo caloso; Pode ser: Completa: corpo caloso é acometido até a 12ª semana de gestação; Parcial: corpo caloso acometido após a 12ª semana de gestação. Ultrassonografia: Achados são frequentemente indiretos; Ventrículos laterais em “forma de lágrima” associados à dilatação leve dos mesmos são os achados mais frequentes; Também pode ser realizado por ressonância magnética fetal e ultrassonografia tridimensional no plano sagital; Deve ser realizada ecocardiografia e cariótipo fetal, rastreio infeccioso (TORCH), além da ressonância magnética doo encéfalo fetal quando há ACC isolada; Não há tratamento para essa condição. Malformação de Dandy-Walker É caracterizada pela agenesia completa ou parcial do vermecerebelar, fossa posterior alargada e elevação do tentorium; Pode ser descrita em associação com síndromes genéticas, anomalias cromossômicas ou outras anomalias do SNC. Ultrassonografia: Visualização da dilatação do 4° ventrículo; Agenesia total ou parcial do verme cerebelar; Cisterna magna alargada; Hidrocefalia e outros defeitos extracranianos em 50% dos casos. Fenda labiopalatina São fendas faciais; Segundo grupo de malformações congênitas mais comuns. Ultrassonografia: Habitualmente reaalizado por corte coronal da face fetal, e a extensão do defeito é mais bem demonstrada no plano transversal do maxilar; A classificação sonográfica das fendas labial e palatina é feita em cinco tipos: Tipo 1: fenda labial; Tipo 2: fenda labiopalatina unilateral; Tipo 3 fenda labiopalatina bilateral; Tipo 4: fenda laabiopalatina mediana; Alice Bastos Tipo 5: defeito oriundo de brida amniótica. Cariótipo fetal não é em geral solicitado no pré-natal, a não ser que haja outras malformações presentes; Cirurgia corretiva após o nascimento; Defeitos leves, como edentações lineares nos lábios e fenda submucosa no palato mole não necessitam de correção cirúrgica. Malformações cardíacas São as malformações fetais mais comuns; O defeito do septo ventricular é a malformação mais frequente do coração, seguida pela estenose pulmonar e pelo defeito do septo atrial. São as malformações com menor taxa de detecção in utero, pois demandam experiência do examinador; Com o plano de 4 câmaras é possível detectar somente 50 a 60% das malformações cardíacas. A ecocardiografia deve ser realizada para obter confiramação; Pode ser realizada a partir de 18 semanas, mas a 28ª semana é a idade gestacional ideal para a visualização do coração fetal, com a desvantagem de ser tardia. Malformações pulmonares Principais malformações pulmonares: malformação adenomatóidea cística congênita (MAC), o sequestro pulmonar, hidrotórax e o cisto broncogênico. Malformação adenomatoide cística Há três tipos de MAC: Tipo I (macrocística) com cistos entre 2 e 10 cm; Tipo II (macrocística com componente microcístico) com cistos < 2 cm; Tipo III (microcística) com cistos < 0,5 cm. Ultrassonografia: Tipos I e II exibem macrocistos; Tipo III a lesão parece sólida e ecogênica. Terapia in útero pode ser realizada com a inserção de shunt toracoamniótico e só é recomendada quando há desvio mediastinal ou hidropsia. Sequestro pulmonar Caracterizado pela presença de lobo pulmonar supernumerário separado da árvore traqueobronquial normal; Pode ser dividido em intra e extralobar. O extralobar é o único diagnosticado no pré-natal; Consiste em massa multicística irrigada ao menos por um vaso oriundo da aorta. Hidrotórax Acúmulo uni ou bilateral de líquido no espaço entre as pleuras visceral e parietal. Toracocentese simples periparto, toracocentese seriada e derivação pleuro-amniótica. Alice Bastos Hérnia diafragmática congênita Ocorre por um defeito no forame posterolateral do diafragma, pelo qual vísceras abdominais passam para o interior do tórax. Ultrassonografia: Visualização das vísceras no interior do tórax. Consiste em tratamentos pré, peri e pós-natais. Defeitos da parede abdominal Gastrósquise e onfalocele são os dois mais comuns defeitos da parede abdominal; Onfalocele É a persistência da herniação do conteúdo abdominal na região proximal do cordão umbilical. Ultrassonografia: Demonstração do defeito da linha mediana da parede abdominal, caracterizado pela presença de saco herniário com conteúdo visceral, no qual se insere o cordão umbilical; Pode apontar suspeita a partir de 11 semanas de gestação. Recomenda-se a avaliação sonográfica a cada 2 semanas para monitorar o crescimento fetal e o aspecto das alças intestinais; O cariótipo é obrigatório uma vez confirmado o diagnóstico de onfalocele; Em caso de risco elevado de defeitos cardíacos, é sempre recomendada a ecocardiografia; Não há evidência de vantagem da cesariana para o desfecho perinatal; No entanto, fetos com onfalocele muito grande ou fígado extracorpóreo podem beneficiar-se da via cirúrgica alta; A correção cirúrgica primária do defeito é a conduta tradicional na onfalocele no período pós-natal. Gastrósquise É uma fenda que atravessa toda a espessura da parede abdominal sem envolver o cordão umbilical. Ultrassonografia a partir de 12 semanas de gestação; Aspecto das alças intestinais podem sugerir comprometimento. Cesárea preconizada com o objetivo de minimizar o trauma dos órgãos eviscerados, prevenir infecção e permitir um planejamento do tratamento cirúrgico imediato. Malformações gastrointestinais São, em sua maioria, obstruções do tubo digestivo em suas diferentes porções; Principais malformações gastrointestinais: atresia do esôfago (com ou sem fístula traqueoesofágica), atresia do duodeno, atresia jejunoileal, atresia anorretal, íleo meconial e peritonite meconial. Atresia do esôfago Ultrassonografia: Presença de polidrâmnio (excesso de líquido amniótico no saco amniótico); Não visualização de estômago (em pelo menos dois exames ultrassonográficos); Dilatação do esôfago; Regurgitação ou vômito fetal (indicando a presença de obstrução gastrointestinal alta); Em casos de fístula traqueoesofágica associada, o estômago pode ser evidenciado e, assim, somente uma pequena porcentagem poderá ser diagnosticada intraútero. Realização do cariótipo fetal e de ecocardiografia. Alice Bastos Atresia duodenal Determina obstrução completa do trânsito intestinal e a segunda parte do duodeno é a topografia mais frequentemente acometida. Ultrassonografia: Presença do sinal da “dupla bolha”, referente à dilatação do estômago e da primeira porção do duodeno, que normalmente só é observado após 20 semanas; Na maioria das vezes, polidrâmnio está presente. A conduta antenatal envolve o estudo pormenorizado do feto (ultrassonografia especializada) e a cariotipagem fetal; O nascimento em centro terciário facilita o reparo cirúrgico de recém-nascido no momento oportuno. Malformações urinárias Agenesia renal Pode ocorrer de um só lado ou bilateralmente. Se observa a associação entre oligoidramnia precoce (geralmente em torno da 17ª semana), rins não visualizados e bexiga fetal persistentemente vazia; Casos de agenesia renal unilateral cursam com volume de líquido amniótico adequado e bexiga normal torna o diagnóstico pré-natal desafiador; Doppler-colorido: Evidencia a inexistência de ambas as artérias renais. Deve ser oferecida a cariotipagem fetal e a ecocardiografia fetal. Displasias císticas do rim Principais: displasia renal multicística (rins multicísticos) e os rins policísticos infantil e adulto. Ultrassonografia: Rim multicístico: apresenta massa renal bastante volumosa, contendo cistos que não se comunicam entre si e ocupam toda a extensão renal, e não há evidências de parênquima renal restante nem diferenciação corticomedular; Rim policístico do tipo infantil: grandes rins hiperecoicos, com perda da diferenciação corticomedular, em geral na ausência de líquido amniótico, e com impossibilidade de visualizar a bexiga; Rim policístico adulto: tem manifestação intrauterina ou neonatal rara. Rinsapresentam- se com aspecto polimorfo (aspectos diferentes) e é difícil o diagnóstico no período pré-natal. Aconselhamento genético deve ser realizado se os pais desejarem.
Compartilhar