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UAB – UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL FUESPI – FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ NEAD – NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA ESPECIALIZAÇÃO EM BIODIVERSIDADE E CONSERVAÇÃO METODOLOGIA DA PESQUISA E DO TRABALHO CIENTÍFICO JÂNIO JORGE VIEIRA DE ABREU FUESPI 2015 Ficha elaborada pelo Serviço de Catalogação da Biblioteca Central da UESPI Nayla Kedma de Carvalho Santos (Bibliotecária) CRB 3ª/1188 Abreu, Jânio Jorge Vieira de. Metodologia da pesquisa e do trabalho científico / Jânio Jorge Vieira de Abreu - Teresina: FUESPI, 2015. 198 p. ISBN XXXXXXXXXX Material de apoio pedagógico ao Curso de Especialização em Biodiversidade e Conservação do Núcleo de Educação a Distância da Universidade Estadual do Piauí – NEAD / UESPI, 2015. 1. Metodologia científica. 2. Pesquisa - Tipologias. 3. Trabalho científico. I. Título. CDD 001.4 A162m Presidente da República Dilma Vana Rousseff Vice-presidente da República Michel Miguel Elias Temer Lulia Ministro da Educação Renato Janine Ribeiro Diretor de Educação a Distância CAPES/MEC Jean Marc Georges Mutzig Governador do Piauí José Wellington Barroso de Araújo Dias Secretária Estadual de Educação e Cultura do Piauí Rejane Ribeiro Sousa Dias Reitor da FUESPI – Fundação Universidade Estadual do Piauí Nouga Cardoso Batista Vice-reitora da FUESPI Bárbara Olímpia Ramos de Melo Pró-reitora de Ensino e Graduação – PREG Ailma do Nascimento Silva Coordenadora da UAB-FUESPI Margareth Torres de Alencar Costa Coordenadora Adjunta da UAB-FUESPI Naira Lopes Moura Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação – PROP Geraldo Eduardo da Luz Junior Pró-reitor de Extensão, Assuntos Estudantis e Comunitários – PREX Luís Gonzaga Medeiros Figueredo Júnior Pró-reitor de Administração e Recursos Humanos – PRAD Raimundo Isídio de Sousa Pró-reitor de Planejamento e Finanças – PROPLAN Benedito Ribeiro da Graça Neto Coordenador do curso de Licenciatura Plena em História Valdinar da Silva Oliveira Filho MATERIAL PARA FINS EDUCACIONAIS DISTRIBUIÇÃO GRATUITA AOS CURSISTAS UAB/FUESPI Edição UAB - FNDE - CAPES UESPI/NEAD Diretora do NEAD Margareth Torres de Alencar Costa Diretora Adjunta Ailma do Nascimento Silva Coordenadora do Curso de Especialização em Biodiversidade e Conservação Joselita Izabel de Jesus Coordenador de Tutoria Francisco Marques de Oliveira Neto Coordenadora de Produção de Material Didático Silvana Maria Pantoja dos Santos Autor do Livro Jânio Jorge Vieira de Abreu Revisão Joselita Izabel de Jesus Teresinha de Jesus Ferreira Diagramação Vilsselle Hallyne Bastos de Oliveira Capa Pedro Leonardo de Sousa Magalhães UAB/FUESPI/NEAD NEAD/UESPI, Rua João Cabral, 2231, bairro Pirajá, Teresina (PI). CEP: 64002-150, Telefones: (86) 3213-5471 / 3213-1182 Web: ead.uespi.br E-mail:eaduespi@hotmail.com SUMÁRIO UNIDADE 1 INICIAÇÃO À METODOLOGIA DA PESQUISA E DO TRABALHO CIENTÍ- FICO ..........................................................................................................07 1.1 Aspectos Conceituais ..........................................................................13 1.2 Tipos De Conhecimento .....................................................................19 1.3 Ciência: aspectos conceituais e metodológicos ................................ 25 1.4 Procedimentos de estudo .................................................................. 31 UNIDADE 2 EPISTEMOLOGIA DA PESQUISA E DO TRABALHO CIENTÍFICO ......51 2.1 A pesquisa científica ........................................................................... 53 2.2 Pesquisa científica: conceituação, caracterização, Classificação e metodologia ............................................................................................ 65 2.3 Classificação / tipos de pesquisa....................................................... 71 2..4 Projetos de pesquisa e projetos de intervenção ............................... 80 UNIDADE 3 O/A PESQUISADOR/A NO CAMPO DE PESQUISA E A REDAÇÃO DO TCC: MONOGRAFIAS, ARTIGOS E RESENHAS ..................................95 3.1 Instrumentos de produção de dados ................................................. 99 3.2 Como o/a pesquisador/a deve proceder no campo de Pesquisa ..... 104 3..3 A análise de dados na produção da monografia ............................... 111 3.4 Roteiro para produção de uma monografia em dois ou Três capítulos.....................................................................................................114 3.5 Resenha: o que é, como se faz ........................................................ 125 3.6 Artigo científico, o que é? ................................................................. 131 UNIDADE 4 4 ORIENTAÇÕES PARA ESTRUTURAÇÃO, APRESENTAÇÃO GRÁFICA E ORAL DO TCC ....................................................................................149 4.1 Regras gerais para estruturação, formatação e apresentação gráfica do texto da monografia .......................................................................... 151 Considerações finais .......................................................................... 187 Referências .......................................................................................... 189 FUESPI/NEAD Especialização em Biodiversidade e Conservação 7 OBJETIVOS • Refletir sobre a prática de pesquisa e produção do trabalho acadêmico na universidade • Identificar e compreender os conceitos e categorias básicas do conhecimento científico reconhecendo e valorizando outros tipos de conhecimento; • Caracterizar a tipologia do conhecimento, especialmente as concepções de ciência e do método científico; • Desenvolver os procedimentos de estudos produzindo es- quemas, resumos, sínteses e outros recursos que permitam a produção do conhecimento. UNIDADE 1 INICIAÇÃO À METODOLOGIA DA PESQUISA E DO TRABALHO CIENTÍFICO FUESPI/NEAD Especialização em Biodiversidade e Conservação 9 1 INICIAÇÃO À METODOLOGIA DA PESQUISA E DO TRABALHO CIENTÍFICO As características da sociedade brasileira, tais como, a extensão territorial, a diversidade cultural, as diferenças sociais e ainda os problemas sociais que envolvem, entre outros, a desigualdade e exclusão social, a má distribuição de renda, o ritmo de trabalho, os hábitos alimentares, o stress etc., estes últimos consequências da emergência dos problemas da sociedade contemporânea, tudo isso constitui um campo fértil para a pesquisa científica contemplando as grandes áreas das ciências humanas, sociais, etc., incluindo a área de educação, outros campos e outras áreas de conhecimento. Trata-se de uma problemática de estudo para o campo acadêmico, com a qual, não só os profissionais da área, mas também os licenciandos, bacharelandos e pós-graduandos em geral, no campo de investigação, encontram novos horizontes, mas também velhos e grandes desafios. No mundo onde o conhecimento tornou-se elemento de primeira importância, inclusive, como condição para a inclusão social e como conquista da cidadania, integra-se uma estrutura social contraditória, que ainda elitiza culturalmente uma minoria e nega o saber de qualidade à maioria. Assim, socializar o saber é competência, dever e função social dos/das professores/ras para estender e compartilhar um patrimônio que pertence a todo o conjunto da sociedade. Respeitadas as limitações e dificuldades estruturais pelas quais atravessa a universidade pública no Brasil, este livro procura contribuir para os cursos de graduação, pós-graduação e para outros níveis e áreas do conhecimento científico do campo das ciências humanas e sociais, a partir da identificação de problemas e investigação de fenômenos, para encontrar respostas para os mesmos, e, sobretudo, desmitificar a pesquisa acadêmica e a extensãouniversitária acreditando que a atitude de pesquisar propicia aos alunos/nas, e professores/ras promoverem para si e para a comunidade em geral o ideal de ser sujeito na história e na realidade a que se propõe conhecer, pois busca a superação das condições atuais de reprodução do conhecimento. Isto significa uma prática de ensino sempre Metodologia da Pesquisa e do Trabalho Científico 10 desvinculada da investigação científica, o que levou Paulo Freire (1998, p. 32) a uma incisiva abordagem sobre a questão enfatizando o seguinte: Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Fala- se hoje, com insistência, no professor pesquisador. No meu entender o que há de pesquisador no professor não é uma qualidade ou uma forma de ser ou de atuar que se acrescente à de ensinar. Faz parte da natureza da prática docente a indagação, a busca, a pesquisa. O de que se precisa é que, em sua formação permanente, o professor se perceba e se assuma, porque professor, como pesquisador. Esses que- fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade. Neste sentido, o pensamento sistemático, reflexivo ou o pensar certo de Freire (1998), do ponto de vista do professor, tanto implica o respeito ao senso comum no processo de sua necessária superação quanto o respeito e o estímulo à capacidade criadora do educando. Implica o compromisso de educadores e educadoras com a consciência crítica do educando cuja “promoção” da ingenuidade não se faz automaticamente, mas num processo. Muitas questões vêm sendo formuladas quanto à forma de inserção da pesquisa na formação e na prática docente. Pergunta-se: como vem se processando a articulação entre ensino e pesquisa nas universidades e qual a sua contribuição para a melhoria dos cursos de graduação e pós- graduação. Quais as condições materiais e intelectuais para o ensino e a pesquisa na universidade? Qual é o papel dos professores e dirigentes no desenvolvimento da pesquisa na universidade? De que professor e de que pesquisa se está tratando quando se fala em professor pesquisador. Que condições tem o professor que atua nas escolas e nas universidades para fazer pesquisas? Que pesquisas vêm sendo produzidas? Sabe-se da realidade das escolas e das universidades brasileiras, especialmente as condições para um ensino e aprendizagem com pesquisa. Considerando isso, é mais importante destacar o que pode ser feito diante FUESPI/NEAD Especialização em Biodiversidade e Conservação 11 das condições para a produção científica no país, respeitados os avanços e melhorias dos últimos anos. Assim, o professor e o aluno precisam conhecer e desenvolver os procedimentos de estudos, os fundamentos, os métodos e técnicas da pesquisa para criarem as condições mínimas de produção e difusão do conhecimento científico. É importante explicar que todo trabalho científico, desenvolvido mediante procedimentos teórico-metodológicos, constitui uma pesquisa, seja ela do tipo exploratória, descritiva ou explicativa, ou seja, de forma menos ou mais aprofundada. Mas é importante ressaltar que um trabalho não é científico porque seu autor ou alguém individualmente o proclama, mas porque membros de uma banca ou de uma comunidade científica, a partir de critérios, o aprovam, o admitem, o defendem epistemologicamente. Pode-se afirmar que professar a cientificidade é uma postura militante, prática e talvez necessária, mas que deve ser diferenciada de uma posição epistemológica, pois enquanto esta constitui a validação, os limites ou o significado do conteúdo de diferentes ramos do saber, aquela defende uma causa, celebra um envolvimento, um tipo ou um método de conhecer. Existem divergências entre as áreas do conhecimento com relação à prática científica ou à epistemologia do conhecimento. A propósito das disciplinas sociais e humanas, não há qualquer acordo nem entre os pesquisadores das ciências da natureza com relação a essas disciplinas, nem entre os próprios pesquisadores dessas disciplinas. Diante disso, professores e professoras precisam conhecer a epistemologia do conhecimento científico e assumirem uma postura ou defenderem uma perspectiva, o que só é possível com o conhecimento das diversas abordagens da ciência. É isso que, além das condições e/ou da problemática anunciada para as condições de ensino e aprendizagem com pesquisa, precisa ser feito por docentes e discentes – o conhecimento técnico para o exercício da cientificidade. Assim, podemos contribuir afirmando que, os debates epistemológicos conduzem hoje às seguintes constatações: não há senão uma única cientificidade, aquela que segue ou que se calca sobre as ciências da natureza; existe uma cientificidade específica que cada disciplina tende a enunciar de acordo com as suas regras próprias; há aqueles que advogam Metodologia da Pesquisa e do Trabalho Científico 12 uma cientificidade radicalmente diferentes umas das outras e que podem ser consideradas científicas para uns e não científicas para outros. A conclusão dessas constatações deveria conduzir à prudência nos julgamentos. Qualquer outra atitude reforça o fato de que o uso da expressão “científico” serve, em princípio, para afirmar ou confirmar uma posição social de marca, de dominação. Diante dessas reflexões vale ressaltar a relevância da pesquisa e da produção do conhecimento científico no ensino presencial e a distância, mas sem desconsiderar outros tipos de conhecimento e valorizando os diferentes métodos e técnicas que contemplam a especificidade do saber científico, pois, em muitas experiências, há preconceitos entre as próprias abordagens da ciência. Considerando isso, enfatiza-se a necessidade de um ensino com pesquisa e uma prática investigativa independente da abordagem, da epistemologia, mas que esteja em consonância com o objeto de estudo e com a realidade e os interesses das pessoas envolvidas. SAIBA MAIS O ensino e a aprendizagem com pesquisa exigem que a escola ou a universidade ofereça as condições estruturais, materiais e pedagógicas para que docentes e discentes pratiquem a investigação científica, mas, além disso, o professor pode assumir um compromisso com a prática e tentar superar essas dificuldades. Para isso, o docente precisa: Conhecer a realidade dos alunos e alunas; Pesquisar e descobrir o que os alunos precisam aprender; Transformar o conhecimento comum dos discentes em conhecimento acadêmico; Aprender a elaborar e investigar os problemas de pesquisa, mas antes de tudo, aprender a identificá-los; Aprender a criar possibilidades ou experiências de aprendizagem desenvolvendo a sensibilidade social dos discentes; Contribuir para a formação técnico-científica da comunidade acadêmica através da fundamentação, produção, normatização e socialização do conhecimento; FUESPI/NEAD Especialização em Biodiversidade e Conservação 13 Assim, o ensino com pesquisa proporcionará a docentes e discentes o seguinte: Produção, construção e inovação do conhecimento; Formação como pesquisador/ra; Viabilização e antecipação de uma formação continuada na formação inicial; Ampliação de horizontes ou uma prática científica sem fronteiras; Capacitação para proposições e intervenções sociais; Habilitação do professor para investigar sua própria prática;I nstrumentalização do ensino e da aprendizagem possibilitando e ampliando a criatividade. 1.1 ASPECTOS CONCEITUAIS Um dos principais problemas para alunos e professores se inserirem no processo sistemático e contínuo da investigação científica e extensão dos resultados é a falta de orientação adequada e oportuna a partir dos primeiros momentos da vida escolar. Isto faz com que a comunidade acadêmica crie resistência e até indisposição para a iniciaçãocientifica e continuidade na prática investigativa. Além disso, muitos pesquisadores (FREIRE, 1998); (GIL, 2002); (MINAYO, 1994); (SEVERINO, 2002); (TRIVIÑOS, 1987) entre outros, defenderam ou defendem que o pesquisador, por coerência, por disciplina, deve ligar a apropriação de qualquer idéia à sua concepção de mundo, em primeiro lugar, e, em seguida, inserir essa noção no quadro teórico específico que lhe serve de apoio para o estudo dos fenômenos sociais. E esta é uma habilidade que não se adquire em pequenas e isoladas experiências na academia. Exige um processo de escolarização para a pesquisa. A indisciplina a que me refiro é definida por Triviños (1987, p. 15) como sendo: [...] ausência de coerência entre os suportes teóricos que, presumivelmente, nos orientam e a prática social que realizamos. Confusamente nos movimentamos dominados por um ecletismo que revela, ao contrário do que se pretende, nossa informação indisciplinada e nossa fraqueza intelectual. [...] A Metodologia da Pesquisa e do Trabalho Científico 14 mistura de correntes de pensamento, as citações avulsas fora de contexto etc., não só desse tipo de criatividade intelectual mencionados, mas também, de textos que circulam nos meios pedagógicos etc., são facilmente detectáveis por quem costuma trabalhar dentro dos limites de uma linha definida de idéias. Diante do exposto, pode-se afirmar que os conceitos e categorias teóricas ou empíricas, comumente identificados nos estudos e pesquisas contemporâneas, seja por falta de um maior aprofundamento teórico e empírico ou por inadequação do método ao objeto de estudo, não têm possibilitado explicar os significados ou desenvolver concepções e práticas relacionadas ao mundo social. Isso desqualifica os trabalhos e interfere na contribuição ou retorno dos estudos, sobretudo para aqueles que colaboram e/ou até participam da investigação. Por isso, para o autor do presente texto ficou perceptível que investigar sobre uma temática, desenvolver pesquisa, em muitas situações, exige uma abordagem interdisciplinar entre diferentes áreas de conhecimentos (gestão, saúde, educação, antropologia, sociologia, história, letras, etc.). Isto não significa um ecletismo exacerbado e incoerente na composição de ideias, mas a consciência e a segurança para ultrapassar as fronteiras de um campo de conhecimento quando da necessidade de explicação de um conceito ou categoria de análise. Isto porque, para conhecer ou aprofundar no conhecimento de um tema ou de um eixo temático, necessário se faz a identificação de categorias teóricas e empíricas cujos significados quase sempre estão ou se complementam em campos de conhecimentos diversos. Isso exige do/da pesquisador/ra habilidade e coerência ao fazer a interdisciplinaridade e/ou a transdisciplinaridade no sentido de contemplar a problemática levantada, alcançar os objetivos e produzir os conhecimentos desejados e possíveis. Glossário Empirismo: 1. Doutrina ou atitude que admite, quanto à origem do conheci- mento, que este provenha unicamente da experiência, seja negando a ex- istência de princípios puramente racio- nais, seja negando que tais princípios, existentes embora, possam, indepen- dentemente da experiência, levar ao conhecimento da verdade. Fonte: Dicionário Aurélio. Empirsimo: Em filosofia, designa a crença de que todo conhecimento é, em última instância, fruto da experiên- cia sensorial. O empirismo desconfia dos esquemas metafísicos baseados em proposições a priori, que se pre- tende que ignorem a experiência. Fonte: Enciclopédia Universal. FUESPI/NEAD Especialização em Biodiversidade e Conservação 15 Com estas reflexões percebe-se que a concretização de um trabalho de pesquisa, exige de qualquer pesquisador/a ir muito além das preocupações iniciais que são imprescindíveis em qualquer investigação científica: a inquietação com uma problemática, a delimitação do objeto de estudo, as questões norteadoras, a elaboração de objetivos, a composição de um quadro teórico-conceitual, os procedimentos metodológicos a serem desenvolvidos, etc. Neste sentido, o percurso de pesquisa deve ser marcado por um exercício constante de construção e reconstrução do objeto de estudo. O que significaria a construção do objeto de estudo? Significa que o/a pesquisador/a deve partir de um problema, definir um objeto de estudo, mas precisa, do início ao final de sua pesquisa, estar reelaborando, reformulando, reorientando o seu trabalho. Ele ou ela inicia sua investigação consciente do que está fazendo, mas não certo de suas conclusões, compreendendo-a como um processo, como uma prática mais reflexiva do que conclusiva, certo de um caminho, de uma direção, mas não certo do seu alvo. Tem-se objetivos, mas não conclusões antecipadas. O estudo deve partir de uma inquietação natural, ou seja, aquela problemática que diz respeito à sua realidade, aos seus desejos de conhecimento, à uma sensibilidade social ou estimulado por uma necessidade de conhecer ou solucionar algo. Assim, terá um problema, um fio condutor, uma finalidade, objetivos, saberá tomar decisões e assumir posições, o que contribuirá para identificar seu referencial, sua metodologia de trabalho e chegar à conclusões, mas estas conclusões serão sempre parciais ou provisórias. Seu objeto estará sempre em construção, uma pesquisa é mais uma etapa do caminho do que um percurso completo e todos os dias da caminhada de uma pesquisa, de um estudo, surgem fatos novos, categorias novas, variáveis, etc. que precisam ser consideradas. Assim, define-se um título, produz-se um texto, vai-se a campo, reconstrói-se o texto, reformula- se o título, inclui-se e exclui-se termos, questões, conceitos, etc. A prática de pesquisa, para ter êxito, tem sempre relação com a história de vida, com a trajetória escolar, com a formação básica e continuada Metodologia da Pesquisa e do Trabalho Científico 16 do/a pesquisador/a, mas, sobretudo, com o desejo e compromisso que o/a mesmo/a tem com os impactos produzidos antes, durante e após a investigação, na comunidade ou na sociedade. Embora a maioria das/os pesquisadoras/es só pesquisem e só escrevam a partir de um estudo sistemático ou escolar, ou ainda como mostra Magda Soares (2010), pesquisem e escrevam o que aprendem, percebe-se que a escolha do método e/ou da matriz paradigmática de cada pesquisador/a está relacionada à sua vida pessoal e intelectual. Isto significa que as concepções de pesquisa aqui registradas podem não se manifestar explicitamente nas práticas ou ações e técnicas científicas trabalhadas, mas, em muitos momentos, surgem precocemente na trajetória acadêmica e até independente dela. Assim, todas as pessoas que desenvolvem pesquisas, ainda que inconscientemente, contemplam uma abordagem da ciência ou uma perspectiva teórica. Considerando isso, é fundamental que o/a pesquisador/a conheça os aportes teóricos com os quais está trabalhando e assuma conscientemente uma posição ou uma matriz paradigmática para que saiba em que terreno está pisando no processo de investigação. Com esse procedimento, o/a pesquisador/a terá condições de identificar e construir seu objeto de estudo de acordo com suas inquietações e com a relevância social necessária possibilitando assim o retorno do estudo. Há na academia científica brasileira, desde problemas estruturais e de ordem econômica à precariedade dos quadros docentes e das condições de trabalho, etc., mas ainda impera a falta de disciplina e de aprofundamento nos estudos acadêmicos dificultando uma melhor organização do pensamento e um melhor planejamento da prática de pesquisa ou de investigação, o que poderia resultar numa produção científica sólida e de natureza múltipla. Quais são as causas disso? Pode- Glossário Paradigma: 1. Modelo, padrão, estalão. 2. Termo com o qual Thomas Kuhn designou as realizações científicas que geram modelos que, por períodos mais ou menos longos e de modomais ou menos explícito, orientam o desen- volvimento posterior das pesquisas ex- clusivamente na busca da solução para os problemas por ela suscitados. Fonte: Dicionário Aurélio. Paradigma: Todos os fatores, cientí- ficos e sociológicos, que influenciam a investigação científica. O termo, inicial- mente utilizado pelo historiador cientí- fico americano T. S. Kuhn, passou a ser também usado em estudos sociais e políticos. Fonte: Enciclopédia Universal. FUESPI/NEAD Especialização em Biodiversidade e Conservação 17 se citar alguns exemplos e que são fundamentais para compreender essas dificuldades porque passa a comunidade acadêmica brasileira. Primeiramente, ela é de natureza histórica e se manifesta de diversas maneiras. Triviños (1987) e Severino (2002) denunciam o limitado desenvolvimento do espírito crítico fruto de uma estrada estreita e única no estudo do pensamento científico. A segunda razão se deve à constatação da carência da prática investigativa e da confusão, mistura ou ecletismo que guia a maioria das experiências de pesquisas por nós observadas. Estas experiências constituem num conjunto de ideias sem a amarra de conceitos centrais orientadores. Alem disso, nossas universidades são carentes, em muitos casos, até mesmo deste nível de prática na produção de conhecimentos. Um terceiro aspecto que, inclusive, é inquietação de autores de outros campos de conhecimento além da metodologia da pesquisa científica, é a dependência cultural em que historicamente se vive cuja condição é limitada a um único centro propagador. É uma cultura que obriga todas as pessoas à sobrevivência intelectual através de um modelo de ciência cuja técnica é submetida a uma força maior – o modelo econômico. Outro fator determinante no problema da produção científica nas academias está relacionado à formação literária dos estudantes que não praticaram a produção de textos desde os primeiros anos escolares. As dificuldades de compreensão dos livros-textos impossibilitam aos alunos e até professores o exercício da pesquisa e da produção de relatórios ou monografias, dissertações e teses. Estes e outros fatores têm resultado numa legião de pseudo-cientistas que se caracterizam como inábeis, resistentes e indispostos à investigação científica. Qual é a conseqüência desta realidade das academias de ciências humana, sociais etc.? Alunos e professores estudam apreendendo conteúdos hierarquizados através de conceitos isolados tornando-os alheios à realidade social. Para os professores a situação é bastante grave. É necessário que se tenha clareza na busca, na criação e, sobretudo, na exposição do que, muitas vezes, são consideradas “verdades” para os docentes, aquelas verdades de quem está ensinando e as dos outros Metodologia da Pesquisa e do Trabalho Científico 18 estudiosos. Elas nem sempre são verdadeiramente dos professores e podem estar muito distantes das verdades dos/das alunos/nas. Se, como Paulo Freire alerta “não devemos estar demasiadamente certo das nossas certezas”, na formação acadêmica frágil que se tem reinará muito mais ainda a dúvida das verdades científicas que se produz. Elas dificilmente correspondem aos interesses majoritários da comunidade acadêmica. Neste sentido faz-se necessário a compreensão do que vem a ser o conhecimento, sua tipografia, a forma como ele é produzido, sobretudo o conhecimento científico. O que vem a ser conhecimento? Para Ana Maria Garcia (apud HÜHNE, 2002) buscando-se a palavra francesa connaissance, pode- se observar que conhecimento significa nascer (naissance) com, sendo que os seres humanos se distinguem dos outros seres exatamente pela capacidade de conhecer. Diferentemente dos outros animais, os humanos são os únicos seres que possuem razão, capacidade de raciocinar, e ir além da realidade imediata; são os seres que superam a animalidade com a racionalidade. Assim, os humanos ao entrarem em contato com a realidade imediatamente apreendem essa realidade em relação ao seu eu, à sua cultura, à sua história. Os homens e mulheres interpretam a realidade e se mostram nesta interpretação. Aí, eles dizem da realidade e dizem de si mesmo. E quando dizem eles nascem como seres pensantes juntamente com aquilo que eles pensam e conhecem. E nessa relação se estrutura o conhecimento humano. À medida que esse processo, que é histórico, desenvolve-se, os humanos se afirmam à parte dos outros animais e seres. E, assim, as pessoas se conhecem e se elaboram. Desse modo o conhecimento é uma forma de estar no mundo. E o processo do conhecimento mostra aos homens e mulheres que eles jamais são alguma coisa pronta, mas, estão sempre nascendo de novo, quando têm a coragem de se mostrarem abertos diante da realidade. Isso mostra que o conhecimento é algo inerente à existência humana e em qualquer organização social existem possibilidades de conhecer ou maneiras de produzi-lo, pois ele é produzido a partir da atividade social. FUESPI/NEAD Especialização em Biodiversidade e Conservação 19 Não existe produção “inata” ou “natural”, toda ela depende da articulação “artificial”, de inúmeros fatores e relações concretas. O ser humano, como qualquer vivente, necessita adaptar-se ao meio para garantir a sua sobrevivência. Para isso precisa satisfazer desde as suas necessidades básicas (alimentação, procriação) até as necessidades criadas pela convivência com os outros. O ser humano deve então atuar para dominar e intervir na natureza e em sua relação com os outros seres. Dominar e intervir significa saber que pode fazer, isto é, significa “produzir” conhecimentos. A produção de conhecimentos se dá desde as relações mais simples e empíricas das pessoas com a natureza e com o social até suas atividades e práticas mais complexas. Ela é uma dimensão da produção real dos homens e mulheres na história. Nesse sentido, corresponde à aquisição de consciência. Mas o que vem a ser, em síntese, a consciência? Para Dirce Eleonora Nigro Solis (apud HÜHNE, 2002) é o atributo do ser consciente, que no nível das ideias significa um conjunto estruturado de conceitos que tem por finalidade dá conta da totalidade do real. A consciência representa abstrata e sinteticamente, a nível de ideias, a realidade concreta. A consciência distingue-se, portanto, da realidade, ou melhor, está situada num outro nível que o do real, sendo, antes, seu produto. Desta forma, os homens e mulheres existem em condições reais determinadas e então pensam. Neste sentido, o ser humano em uma determinada realidade, desde a mais simples à mais complexa forma de vida social elabora conceitos a partir de sua forma concreta de vida, o que nos faz, enquanto seres humanos, apresentar diversas formas de conhecer e interpretar a realidade. 1.2 TIPOS DE CONHECIMENTO É importante salientar que o saber não se adquire por compartimentos estanques, conforme uma rígida ordem de sucessão. Se é lícito admitir que a evolução da sociedade humana determina mudanças na tipologia do saber, tal transformação deve ser vista em termos de predominância de um modo sobre outro, nunca como exclusividade. Assim, apenas de forma Metodologia da Pesquisa e do Trabalho Científico 20 geral pode-se dizer que a Era Antiga se caracterizou pelo predomínio do saber mítico e artístico, enquanto a Era Moderna aprimorou o conhecimento filosófico e científico (SALVATORE D’ ONOFRIO, 2000). Aqui serão apresentados alguns tipos de conhecimento que expressam como os seres humanos em diferentes sociedades e períodos históricos diversos interpretaram a sua realidade. Antes disso, pretende- se fazer algumas reflexões sobre o conhecimento e/ou a epistemologia dos saberes. É importante destacar que “toda experiência social produz e reproduz conhecimento e, ao fazê-lo, pressupõe uma ou várias epistemologias. Epistemologia é toda a noção ou ideia, refletida ou não, sobre as condições do que conta como conhecimento válido.” (SANTOS & MENESES, 2010, p. 15).A humanidade, embora caracterizada pela dinâmica social, pela diversidade cultural, pela sociabilidade de grupos e de culturas, tanto produz quanto nega e hierarquiza o conhecimento. Santos e Meneses (2010, p. 21) mostram que há na sociedade contemporânea, uma epistemologia dominante. O que de fato significa isso?: (Esta) epistemologia dominante é, de fato, uma epistemologia contextual que assenta numa dupla diferença: a diferença cultural do mundo moderno cristão ocidental e a diferença política do colonialismo e capitalismo – intervenção epistemológica força da intervenção econômica, política do colonialismo capitalista aos povos e culturas não-ocidentais e não-cristãos. Assim, quanto mais avançada ou mais moderna, mais complexa e mais desigual e injusta é a sociedade. Produz-se, acumula-se e nega-se riquezas materiais e intelectuais independentemente das riquezas culturais produzidas por todas as sociedades. Um dos mais graves problemas da vida em sociedade é o desrespeito às diferenças, a intolerância entre pessoas, o etnocentrismo cultural. Estabelece-se o grau de validade do conhecimento dos grupos e das organizações sociais. O reconhecimento Glossário Etnocentrismo: Tendência do pensam- ento a considerar as categorias, nor- mas e valores da própria sociedade ou cultura como parâmetro aplicável a todas as demais. Fonte: Dicionário Aurélio. FUESPI/NEAD Especialização em Biodiversidade e Conservação 21 da diversidade epistemológica tem lugar, tanto no interior da ciência como na relação entre ciência e outros tipos de conhecimentos; (SANTOS E MENESES, 2010, p. 18/19), pois a epistemologia também pode ser definida como: um conjunto de conhecimentos que têm por objeto o conhecimento científico visando a explicar os seus condicionamentos (sejam eles técnicos, históricos, ou sociais, sejam lógicos, matemáticos, ou linguísticos), sistematizar as suas relações, esclarecer os seus vínculos, e avaliar os seus resultados e aplicações (FERREIRA, 2009, p. 774); Para Santos e Meneses (2010) nos dois últimos séculos, dominou uma epistemologia que eliminou da reflexão epistemológica o contexto cultural e político da produção e reprodução do conhecimento. O referido autor levanta uma problemática instigante: quais foram as consequências disso? São hoje possíveis outras epistemologias? Além do colonialismo no mundo ocorrer em relação a outros aspectos, ocorre uma dominação epistemológica. Santos e Meneses (2010, p. 19) fazem uma demarcação geográfica e uma contextualização do que eles chamam de Epistemologias do Sul – os saberes e práticas que compreendem o conjunto de países e regiões do mundo que foram submetidos ao colonialismo europeu, com exceções como, por exemplo, da Austrália e da Nova Zelândia, aqueles que não atingiram níveis de desenvolvimento semelhantes ao do Norte Global (Europa e América do Norte). Eles afirmam que a sobreposição não é total porque há pequenas europas no Sul e dominação capitalista e colonial de muitos grupos no interior do Norte geográfico. Mas os autores comungam dos objetivos das epistemologias do sul, pois a quase totalidade deles provém do Sul geográfico. A epistemologia do conhecimento científico enquanto paradigma dominante provoca uma reflexão sobre o papel e a validade da ciência ocidental em detrimento das epistemologias do sul. O importante numa avaliação histórica do papel da ciência é ter presente que os juízos epistemológicos sobre a ciência não Metodologia da Pesquisa e do Trabalho Científico 22 podem ser feitos sem tomar em conta a institucionalidade que se constituiu com base nela. A epistemologia que conferiu à ciência a exclusividade do conhecimento válido traduziu-se num vasto aparato institucional – universidades, centros de pesquisa, sistema de peritos, pareceres técnico – e foi ele que tornou mais difícil ou mesmo impossível o diálogo entre a ciência e os outros saberes. (SANTOS e MENESES, 2010, p. 17). Os autores enfatizam a necessidade de reconhecimento de outras epistemologias, especialmente as Epistemologias do Sul definidas por eles como “a diversidade epistemológica do mundo”; metaforicamente, um campo de desafios epistêmicos que procuram reparar os danos e impactos historicamente causados pelo capitalismo na sua relação colonial com o mundo. É o conjunto de intervenções epistemológicas que denunciam essa supressão, valorizam os saberes que resistiram com êxito e investigam as condições de um diálogo horizontal entre conhecimentos, o que eles denominam de ecologias de saberes (SANTOS e MENEZES, 2010). Compartilhando desse propósito, serão apresentados outros tipos de conhecimentos no sentido de mostrar que todos os saberes de todas as culturas humanas são significativos, possuem validade, são relevantes para um determinado grupo social. CONHECIMENTO MÍTICO O conhecimento mítico se manifesta através de uma narrativa de significação simbólica, geralmente ligada à cosmologia e relativa a deuses incorporadores das forças da natureza e/ou de aspectos da condição humana; é representação de fatos ou personagens reais, exagerados pela imaginação popular, pela tradição, etc. Idéia falsa correspondente na realidade; imagem simplificada, não raro ilusória, da pessoa ou de acontecimento, elaborada ou aceita pelos grupos humanos, e que tem significativo papel em seu comportamento; coisa inacreditável; irreal, utopia; O ser humano, desde que descobriu sua faculdade cognitiva, buscou uma resposta para suas dúvidas existenciais, querendo saber sobre a origem do universo e de si próprio, sobre o porquê do sofrimento e da morte. A religiosidade é um exemplo de manifestação do conhecimento FUESPI/NEAD Especialização em Biodiversidade e Conservação 23 mítico. Considerando a palavra religião em seu significado etimológico, implica a crença de uma “ligação” entre o mundo natural, visível e um pressuposto mundo sobrenatural, invisível. É muito difícil encontrar um agrupamento humano, primitivo ou civilizado, que não acredite numa força misteriosa, considerada criadora do universo, a que se deve prestar culto. O tipo de religião varia conforme as sociedades e as épocas. Politeísmo, Monoteísmo e Panteísmo são os macrogêneros que agrupam uma infinidade de crenças. CONHECIMENTO EMPÍRICO Do grego empeirikós, é o tipo de conhecimento proveniente apenas da experiência do dia-a-dia, da observação dos fenômenos da natureza, das sensações que o contato com o mundo exterior estimula nas pessoas. Originário do senso comum constitui um conjunto de opiniões tão geralmente aceitas em época determinada que as opiniões contrárias podem significar verdadeiras aberrações individuais. O conhecimento empírico pode servir de base para a produção de outros tipos de conhecimento, como exemplo, do próprio conhecimento científico. Determinados objetos de estudos ou problemas de pesquisa, comumente são construídos, reconstruídos ou elaborados, a partir do conhecimento empírico ou do senso comum. CONHECIMENTO FILOSÓFICO Este tipo de conhecimento constitui a base e o aperfeiçoamento ou aprofundamento de outros tipos de conhecimentos, pois, desde a sua origem na Grécia antiga ou, antes dela, desde a origem da humanidade se reconhece a importância do conhecimento filosófico, seja como teoria ou, independente dela, como exercício do filosofar. Para D’ Onofrio (2000) o conhecimento filosófico origina-se do grego Philo (amante) e Sophia (sabedoria), a filosofia tenta suplantar o princípio da autoridade, sustentáculo próprio do saber teológico, pela razão ou pensamento reflexivo. Filósofo, portanto, conforme o sentido etimológico é o homem que ama o saber no sentido geral, aquele que procura respostas para os questionamentos fundamentais da existência, não por meio da crença numa revelação Metodologia da Pesquisa e do Trabalho Científico 24 transcendental, mas mediante o raciocínio lógico. De onde se originou o cosmos? Existe outra vida após a morte? Matériae espírito são inseparáveis? Além da aparência, existe uma essência das coisas? O que é a consciência, a razão, a verdade? Qual é o fundamento do sentimento ético? A felicidade reside no exercício do livre arbítrio, satisfazendo os instintos individuais, ou na observância dos preceitos sociais? (D’ ONOFRIO, 2000, P. 14). O conhecimento filosófico é o estudo realizado com a intenção de ampliar incessantemente a compreensão da realidade, no sentido de apreendê-la na sua inteireza, é a razão, sabedoria. CONHECIMENTO ARTÍSTICO A arte é uma forma de conhecimento da realidade, como a Filosofia e todas as ciências. Admirar um tempo ou um quadro, ler um poema ou um romance, assistir um filme ou uma peça teatral, ouvir uma sinfonia ou uma canção, tudo isso importa em captar uma parcela de sentido do mundo que cada obra de arte tem dentro de si. Alcançar um saber é a finalidade primordial de qualquer atividade humana. O que diferencia a aprendizagem científica da artística, é apenas o meio utilizado: enquanto os vários tipos de conhecimento científico (educacional, matemático, físico, químico, biológico, jurídico, etc.) se servem da observação e da comprovação, as várias formas de artes (literatura, pintura, cinema, teatro etc.) têm como meio de expressão a fantasia, a imaginação. O que irmana todas as artes é o recurso à ficção. Ficcional, cognato de fictício, pode significar inexistente, falso, mentiroso, além de imaginário, fantasioso. A arte seria, portanto, uma bela mentira, tanto que Fernando Pessoa, usando a figura do paradoxo, peculiar de seu estilo, chama o poeta de “fingidor” no poema “Autopsicografia” de seu cancioneiro. CONHECIMENTO CIENTÍFICO O conhecimento científico é o saber sistematizado, escolar, acadêmico produto da ciência. A Ciência constitui um conjunto organizado FUESPI/NEAD Especialização em Biodiversidade e Conservação 25 de conhecimentos sobre um determinado objeto, em especial obtidos mediante a observação, a experiência dos fatos e um método próprio. Soma de conhecimentos práticos que servem a um determinado fim. Processo pelo qual o ser humano se relaciona com a natureza visando dominá-la em seu benefício O étimo latino scientia (ciência, saber) deu origem a vários cognatos na língua portuguesa: ciente, discente, docente, cientista, científico, cientificar, cientismo. Num sentido amplo, portanto, a palavra ciência diz respeito a qualquer tipo de saber. Por isso, fala-se de ciências físicas, biológicas, humanas, sociais etc. Na Antiguidade Greco-romana não havia muita distinção entre as várias atividades do espírito: era chamado de “sábio” aquele que sabia das coisas. Assim, por exemplo, Aristóteles, além de tratar de filosofia, escreveu obras sobre poética, estética, ética, política, retórica, física, astronomia, zoologia. Ainda na Renascença, é encontrável o homem com um saber enciclopédico. Haja vista Leonardo da Vinci (1452- 1519) que, além do artista imortal da cultura, foi também poeta, arquiteto, escultor, engenheiro, cartográfico, geólogo, botânico, físico, tendo inventado maquinarias que o tornaram precursor da aviação, da hidráulica, da óptica, da acústica. Num sentido estrito, o termo científico relaciona-se ao estudo da natureza física, visando à compreensão de seus fenômenos, a sua classificação e à denominação dela por parte do homem e em seu benefício, usando métodos rigorosos de investigação. O conhecimento científico pretende suplantar, quer o princípio da autoridade, próprio do saber religioso, quer o pensamento abstrato que se serve apenas da razão, peculiar do saber filosófico, na tentativa de alcançar a distinção entre o verdadeiro e o falso por meio de uma comprovação irrefutável. 1.3 CIÊNCIA: ASPECTOS CONCEITUAIS E METODOLÓGICOS Aqui se apresenta diversos conceitos de ciência no sentido de aprofundar mais sobre o que significa a verdade científica tendo em vista que cada concepção está relacionada à uma corrente do conhecimento científico. No entanto, o saber científico não se constitui em verdade Metodologia da Pesquisa e do Trabalho Científico 26 absoluta. Como explica Hilton Japiassu (2006, apud HÜHNE, 2002, p. 32): ...do ponto de vista epistemológico, nenhum ramo do saber possui a verdade. Esta não se deixa aprisionar por nenhuma construção intelectual. Uma verdade possuída não passa de um mito, de uma ilusão ou de um saber mumificado. Face à verdade, devemos padecer de profunda insegurança. É preciso que morra a ilusão do porto seguro. [...] Ao invés de vivermos das evidências e das teorias certas, como se fôssemos proprietários da verdade, precisamos viver de aproximações da certeza e da verdade. Porque somos seus pesquisadores e não seus defensores. A este respeito torna-se imprescindível uma opção crítica. Esta só pode surgir da incerteza das teorias estudadas. [...] Aqui se trata apenas de revelar os limites do conhecimento, nunca de negar sua possibilidade. Marconi e Lakatos (2010) apresentam diversos conceitos de ciência que contribuem para compreender como se constitui este campo de conhecimento na visão de outros pesquisadores. As autoras acima referidas apresentam alguns conceitos semelhantes, mas mostram divergências entre outros. Um exemplo de concepções divergentes por elas apresentada é a seguinte “ciência é a atividade que se propõe a demonstrar a verdade dos fatos experimentais e suas aplicações práticas” em relação a afirmação de que a ciência “caracteriza-se pelo conhecimento racional, sistemático, exato, verificável e, por conseguinte, falível”. Considerando o termo “falível” apresentado neste último conceito pode-se afirmar a divergência em relação à “verdade dos tatos” no primeiro conceito. No entanto, a maioria dos conceitos apresentados, não só neste manual, mas em outros estudos de metodologia do trabalho científico apresentam significados semelhantes, como exemplo dos que são apresentados a seguir pelas autoras acima citadas: Conhecimento sistemático dos fenômenos da natureza e das leis que o regem, obtido pela investigação, pelo raciocínio e pela experimentação intensiva; Conjunto de enunciados lógica e dedutivamente justificados por outros enunciados; Conjunto orgânico de conclusões certas e gerais, metodicamente demonstradas e relacionadas com objeto determinado; Corpo de conhecimentos consistindo em percepções, experiências, fatos certos e seguros. Estudo de problemas solúveis, mediante FUESPI/NEAD Especialização em Biodiversidade e Conservação 27 método científico. Forma sistematicamente organizada de pensamento objetivo (P. 21) Considera-se mais precisa a definição de que “a ciência é todo um conjunto de atitudes e atividades racionais, dirigidas ao sistemático conhecimento com objeto limitado, capaz de ser submetido à verificação” (TRUJILLO 1974, p. 8 apud MARCONI & LAKATOS, 2010, P. 21). Um conceito mais abrangente e que integraria divergências e convergências teóricas sobre a ciência seria o de que “a ciência é um conjunto de conhecimentos racionais, certos ou prováveis, obtidos metodicamente sistematizados e verificáveis, que fazem referência a objetos de uma mesma natureza” (ANDER-EGG, 1975, p. 15 apud MARCONI & LAKATOS, 2010, P. 21) Para facilitar a compreensão de tais conceitos explica-se algumas das categorias principais que compõem cada um deles: Conhecimento racional – que tem exigências de método e está constituído por uma série de elementos básicos, tais como sistema conceitual, hipóteses, definições; diferencia- se das sensações ou imagens que se refletem em um estado de ânimo, como o conhecimento poético, e da compreensão. Certo ou provável – já que não se pode atribuir à ciência a certeza indiscutível de todo o saber que a compõe. Ao lado dos conhecimentos certos, é grande a quantidade dos prováveis. Antes de tudo, toda lei indutiva é meramente provável, por mais elevada que seja sua probabilidade; Obtidos metodicamente – pois não se os adquire ao acaso ou na vidacotidiana, mais mediante regras lógicas e procedimentos técnicos; Sistematizadores – não se tratam de conhecimentos dispersos e desconexos, mas de um saber ordenado logicamente, constituindo um sistema de idéias (teoria); Verificáveis – Pelo fato de que as afirmações que não podem ser comprovadas ou que não passam pelo exame de experiência, não fazem parte do âmbito da ciência, que necessita, para incorporá-las, de afirmações comprovadas pela observação; Relativos a objetos de uma mesma natureza – objetos pertencentes a determinada realidade, que guardam entre si certos caracteres de homogeneidade (MARCONI & LAKATOS, 2010, P. 22 – grifo nosso). Metodologia da Pesquisa e do Trabalho Científico 28 Agenor Martins (2013, p. 23), ao reconstruir o conceito de ciência do filósofo Immanuel Kant afirma que “ciência, ao contrário da abordagem positivista, deve ser a ‘organização do conhecer’, ou seja: a organização do processo, de nome conhecer, em vez de ‘organização do conhecimento’ ou do produto, de nome conhecimento”, como afirmara Kant. Martins apresenta uma Nova Ciência como ponte para o trans-humano, o que seria: O estágio superior do fazer das ciências em domínio de fronteiras do saber humano – ora em construção. Estas novas ciências não apenas descobrem, mas são impactadas pela complexidade das realidades do mundo. O objetivo das novas ciências é construir esse saber que computa a complexidade inerente à tessitura das realidades e de modo a integrar diferentes saberes, para além da interdisciplinaridade, rumo à transdisciplinaridade. Qualquer definição de ciência é conseqüência de um modelo de produção do conhecimento científico. Neste sentido os conceitos estão relacionados ao método que significa o modo como se faz ciência. Para isso é necessário apresentar o conceito de método científico, pois é o método que ajuda a compreender o processo de investigação. Entre outros conceitos apresentados neste texto, método significa “um conjunto de processos mediante os quais se torna possível chegar ao conhecimento de algo”, trata-se de um conjunto de processos que o espírito humano deve empregar na investigação e demonstração da verdade” (CERVO; BERVIAN, 1996 apud SOARES, 2003, P. 14). Para Hegenberg (1976:II, p. 115) “método é o caminho pelo qual se chega a determinado resultado, ainda que esse caminho não tenha sido fixado de antemão de modo refletido e deliberado. Marconi e Lakatos (2010) ressaltam que método é uma forma de selecionar técnicas, forma de avaliar alternativas para ação científica. Assim, enquanto as técnicas Glossário Positivismo: 1. Sistema filosófico que, banindo a metafísica e o sobrenatural, se funda na consideração do que é material e evidente. Fonte: Dicionário Aurélio. Positivismo: Teoria que confina o con- hecimento genuíno aos limites da ciên- cia e da observação. Fonte: Enciclopédia Universal. FUESPI/NEAD Especialização em Biodiversidade e Conservação 29 utilizadas por um cientista são frutos de suas decisões, o modo pelo qual tais decisões são tomadas depende de suas regras de decisão. Métodos são regras de escolhas; técnicas são as próprias escolhas. SAIBA MAIS O método de pesquisa constitui um meio e não um fim, por isso, ele precisa, antes de se apropriar do objeto, ser apropriado por ele ou se adequar a ele, portanto, podemos afirmar ao pesquisador que se trata de algo flexível, utilizando a metáfora de Morin et al (2009), alertamos o seguinte: “Caminhante não há caminho, o caminho faz-se caminho ao andar”. [...] “Se existe um método, este só poderá nascer durante a pesquisa; talvez no final poderá ser formulado, e até em alguns casos formalizar-se”. Como tantos outros já afirmaram, parafraseando Nietzsche o autor e seus colaboradores mostram que: “o método vem no final” e através de Kafka afirma: “chamamos caminhos os nossos titubeios” (MACHADO apud Morin et. al., 2009, p. 21-22). “O método inclui também a precariedade do pensar e a falta de fundamento do conhecer” (pág. 24); “O método é obra de um ser inteligente que ensaia estratégias para responder às incertezas – serve para aprender e é aprendizagem” (pág. 29). Finalizando: “o método é o caminho possibilitado pela(s) opções teóricas, pelo ver em profundidade”. Reserva-se a palavra método para significar o traçado das etapas fundamentais da pesquisa, enquanto a palavra técnica significa os diversos procedimentos ou a utilização de diversos recursos peculiares a cada objeto de pesquisa, dentro das diversas etapas do método. Pode- se afirmar que técnica é a instrumentação específica da ação, e que o método é mais geral, mais amplo, menos específico. Por isso, dentro das linhas gerais e estáveis do método, as técnicas variam muito e se alteram e progridem de acordo com o progresso tecnológico, naturalmente. Como já foi explicitado, não há modelo de ciência, e conseqüentemente de método científico pronto e acabado, pois depende da concepção ou da corrente de pensamento. Grande parte das experiências de pesquisa é proveniente ou Metodologia da Pesquisa e do Trabalho Científico 30 influenciada pelo método dedutivo e método indutivo. Os aspectos relevantes dos métodos indutivo e dedutivos são divergentes. O primeiro parte da observação de alguns fenômenos de determinada classe para “todos” daquela mesma classe, ao passo que o segundo parte de generalizações aceitas, do todo, de leis abrangentes, para casos concretos, partes da classe que já se encontram na generalização. “O pensamento é dedutivo quando, a partir de enunciados mais gerais dispostos ordenadamente como premissas de um raciocínio, chega- se a uma conclusão particular ou menos geral”. Já o método indutivo “é um processo de raciocínio inverso ao processo dedutivo. Enquanto a dedução parte de enunciados mais gerais para chegar a conclusão particular ou menos geral, a indução caminha do registro de fatos singulares ou menos gerais para chegar a conclusão desdobrada ou ampliada em enunciado mais geral” (RUIZ, 2008, p. 138/139). Tem-se assim, duas escolas em confronto: empirismo versos racionalismo. As duas admitem a possibilidade de alcançar a verdade manifesta, só que as fontes do conhecimento, os pontos de partida de uma e de outra escola são opostos. Para o empirismo, são os sentidos, a verdade da natureza, livro aberto em que todos podem ler. Para o racionalismo, a veracidade de Deus que não pode enganar e que deu ao seu humano a intuição é a razão. Em resumo tem o conhecimento sua origem nos fatos ou na razão? Na observação ou em teorias e hipóteses? Quanto ao ponto de chegada, ambas as escolas estão concordes: tem como base a formulação de leis ou sistemas de leis para descrever, explicar e prever a realidade. Assim, a discussão versa sobre o ponto de partida e o caminho a seguir para alcançar o conhecimento. Concluindo, a indução afirma que em primeiro lugar vem a observação dos fatos particulares e depois as hipóteses a confirmar, a dedução, como pode ser observado no método hipotético-dedutivo, defende o aparecimento em primeiro lugar, do problema e da conjectura que serão testados pela observação e experimentação. Há, portanto, uma inversão de procedimentos. Cada ciência particular ocupa-se de analisar um só campo da FUESPI/NEAD Especialização em Biodiversidade e Conservação 31 realidade. Em outras palavras, cada disciplina científica especializa-se na análise de um só setor do universo com a finalidade de entender a fundo os elementos e as relações que o constroem e que determinam seu comportamento e desenvolvimento. Para tal fim utiliza o método científico, múltiplas técnicas particulares e um léxico ou vocabulário especial. Aprender sobre uma ciência significa, portanto, não somente aprender o uso do método científico e de suas técnicas particulares, mas também a linguagem ou discurso específico de conceitos e conhecimentos que emprega (HEINZ DIETERICH, 1999) Assim, é fundamental a identificaçãodas principais correntes de pensamento que dão origem ao conhecimento científico produzido na atualidade, o que significa identificar, conceituar e caracterizar a epistemologia da pesquisa e do trabalho científico, pois o desenvolvimento de um estudo está sempre inserido em um paradigma científico através do qual é possível proceder a um processo investigatório. Com este propósito apresentaremos no capítulo 2 as principais abordagens da ciência, os tipos de pesquisa, bem como instrumentos e técnicas de pesquisa com a finalidade de mostrar que a prática investigativa reflete ou é orientada por paradigmas científicos ou às abordagens da ciência que constituem um modo de fazer ciência. 1.4 PROCEDIMENTOS DE ESTUDO Caro(a) estudante, Um curso ou livro de metodologia do trabalho científico e, especificamente, de metodologia da pesquisa, orienta desde os procedimentos de estudo, à fundamentação, produção e socialização do conhecimento científico, portanto, é fundamental que o/a leitor/a leia, estude este e/ou outros manuais para que possam desenvolver seus trabalhos científicos viabilizando suas pesquisas. Se, como em toda a vida escolar, devemos criar o hábito da leitura, neste curso e neste nível de ensino a prática de estudo deve ser diária, seja através de obras impressas ou de ferramentas online, seja com a Metodologia da Pesquisa e do Trabalho Científico 32 mediação do professor, na socialização com os colegas ou individualmente. Estamos em um nível de ensino de graduação e/ou pós-graduação, o que exige do estudante procedimentos de estudos acadêmicos em níveis mais aprofundados ou mais desafiadores do que no ensino básico com o propósito de que os estudantes superem as suas limitações ou possam suprir as deficiências criadas em anos escolares anteriores e sejam habilitados às pesquisas concretizando a produção de conhecimentos. Com este propósito, cada unidade, cada tarefa ou atividade, em muitas situações, impõem um desafio para compreensão ou para realização em busca da aprendizagem. Considerando isso, as leituras devem possibilitar que o aluno tenha uma postura crítica e reflexiva, o que exige a utilização de referências, como o exemplo desta e de outras obras, mas também a utilização de ideias próprias, o exige esforço de cada pessoa que deseja realmente produzir conhecimentos. Com esta preocupação, esperamos que a sua relação com esta obra seja dialógica e não apenas de contemplação do conteúdo ou recepção passiva por parte do aluno. Acreditamos que o/a verdadeiro/a leitor/a é aquele/a que decifra os códigos linguísticos recriando ou produzindo um novo texto, não só decodifica e reproduz a ideia, mas recebe uma contribuição porque também contribui construindo seu ponto de vista ou formando a sua própria ideia ou opinião. É assim que, por excelência, se pratica a leitura crítica. Para isso é necessário adquirir, além do hábito da leitura, o hábito da produção de textos, o que não se adquire sem a prática constante de ler e escrever. No processo de formação ou de qualificação profissional, sobretudo pautado pela intelectualidade como deve ser a formação do licenciado, do bacharel ou do especialista, é imprescindível que o/a aluno/a, antes de tudo, aprenda a ser um bom leitor ou uma boa leitora, um bom escritor ou uma boa escritora ou ainda um/a pesquisador/a autor/a. Para João Álvaro Ruiz (2008) “a leitura amplia e integra os conhecimentos, desonerando a memória, abrindo cada vez mais os horizontes do saber, enriquecendo o vocabulário e a facilidade de comunicação, disciplinando a mente e alargando a consciência [...]. Quem lê constrói sua própria ciência”, pois lendo e dialogando com o/a FUESPI/NEAD Especialização em Biodiversidade e Conservação 33 escritor/a se aprende a produzir, desvelar, recriar, descobrir a novidade e a nos tornarmos outros. É para isso que ingressamos neste curso, com o objetivo de crescer como profissionais, como seres humanos, sociais e experimentarmos a mudança. É importante ressaltar que, estar na academia científica é fazer ciência e esta prática nos conduz à descoberta, inclusive, do outro que existe em nós. Embora o conhecimento científico não se configure como única forma de conhecer e nem a mais importante, ela exige elaboração, sistematização e discussão entre aqueles que o produzem, ele nos mostra algumas limitações, mas nos traz grandes possibilidades. Como procedimentos de estudo iniciais, recomendamos o seguinte: • Fazer a leitura dos planos de trabalho e planos de curso das disciplinas que ora estuda (fazer isso no início de cada disciplina); • Observar e respeitar o cronograma apresentado para o processo de ensino e aprendizagem do período; • Iniciar os estudos dos conteúdos fazendo uma Leitura superficial dos textos online ou impressos indicados como material do curso (fazer isso no início de cada disciplina oferecida no período); • Em seguida, fazer uma releitura reflexiva dos textos e assistir e analisar os filmes indicados mediante a solicitação e orientação dos docentes para a realização das atividades e tarefas; • Participar das discussões nos encontros presenciais e online: fóruns; chats no período e hora indicados no cronograma; • Antes de realizar qualquer trabalho ou desenvolver qualquer atividade, não esquecer de fazer uma leitura do texto de orientação indicado para a atividade ou tarefa e desenvolvê-la de acordo com o tempo e a sequência das unidades apresentadas; • Não deixar acumular tarefas e nem dúvidas, fazer as tarefas no tempo previsto, mas dirimindo, sempre que considerar necessário, todas as dúvidas que surgirem. Isso deve ser feito buscando a explicação dos professores e professoras, pedindo Metodologia da Pesquisa e do Trabalho Científico 34 ajuda aos colegas e recorrendo a outras fontes. Fazer isso sempre que precisar e/ou independente disso. OUTROS PROCEDIMENTOS DE ESTUDO ORIENTAÇÃO PARA ELABORAÇÃO DE ESQUEMA Caro(a) aluno(a) A elaboração de um esquema proporciona uma aprendizagem mais significativa do conteúdo. Esquema é o plano, a linha diretriz seguida pelo autor no desenvolvimento de sua escrita, pois, em qualquer texto, o autor delimita um tema e estabelece a trajetória básica de sua exposição, subordinando ideias, selecionando fatos e argumentos. Assim, a função do esquema é definir o tema e hierarquizar as partes de um todo numa linha diretriz, para torná-lo possível a uma visão global. Pelo esquema, pode-se atingir a compreensão da mensagem de todo o texto com um único olhar ou apenas com uma leitura panorâmica. Para Jorge Leite de Oliveira (2005, p. 66) a elaboração de um esquema deve obedecer às seguintes regras: a) Ser fiel ao texto. Não se pode trabalhar com esquemas fixos ou preconcebidos e forçar o texto lido a entrar neles. b) Compreender o tema do autor, destacar títulos, subtítulos que guiaram a introdução, o desenvolvimento e as conclusões do texto. c) Ser simples, claro e distribuir organicamente as ideias de maneira a apresentar uma límpida imagem concentrada do todo. d) Subordinar ideias e fatos evitando simplesmente reuni-las. e) Manter um sistema uniforme de observações, gráficos e símbolos para as divisões e subordinações que caracterizam a estrutura do texto. Um sumário ou estrutura de tópicos não deve ser considerado um esquema de texto, mas é uma ideia de como se faz um esquema, pois constitui uma representação estruturada e hierarquizada de todo o conteúdo de um texto e quando acrescentamos a ideia central em cada uma das seções e subseções de um sumário estaremos elaborando um esquema. FUESPI/NEAD Especialização em Biodiversidade e Conservação 35 Outros recursos muito úteis e que podem ser utilizados na elaboração de esquemas são os diagramas e chaves. Agora leia o texto do capítulo 1 e inicie a elaboração de um esquema das seções: “1.2 Tipos de conhecimento” e “1.3 Ciência: aspectos conceituais e metodológicos” A seguir, colocamoscomo exemplo, o esquema da primeira seção do referido capítulo: “1.1 Aspectos conceituais”. Em primeiro lugar devemos observar o seguinte: a que conteúdo se refere as seções de texto e/ou os subtítulos abaixo, dos quais deve ser elaborado o esquema? Ao primeiro capítulo do livro, não é? Eles são títulos ou subtítulos do capítulo “1. INICIAÇÃO À METODOLOGIA DA PESQUISA E DO TRABALHO CIENTÍFICO”. Tomando como exemplo o primeiro, poderíamos apresentar “aspectos conceituais” como sendo um assunto específico ou a um aspecto da “iniciação à metodologia da pesquisa e do trabalho científico”, ou seja, nesta seção é feita uma discussão sobre “aspectos conceituais” do processo de investigação ou, poderíamos dizer, estamos tratando ou apresentando reflexões, concepções, etc. a cerca da metodologia da pesquisa e do trabalho científico no espaço onde as atividades deste campo ou disciplina são comumente desenvolvidas – a universidade. Esquematizar um texto exige que se mostre a estrutura do mesmo, seja apresentando somente títulos, subtítulos e termos chaves, aqueles que poderíamos considerar estruturantes na transmissão da mensagem, os guias e indicadores. Também poderíamos ir além, mostrando os termos que estruturam e as ideias-chave ou até chegarmos à apresentação dos conceitos fundamentais. Vejamos no exemplo, como já destacamos, esboçaremos um esquema de uma das seções do capítulo 1, o aluno ou aluna poderia utilizar o título do capítulo aos quais as seções se referem, mas se não mencionamos o capítulo, evitaremos confundir o aluno e sugerimos que trabalhem diretamente das seções solicitadas. Iniciamos lembrando que o aluno terá o direito de criar a sua própria numeração sem levar em consideração a numeração progressiva do livro e Metodologia da Pesquisa e do Trabalho Científico 36 também podem utilizar chaves ou outros recursos de estruturação. Como a numeração deve ficar a critério do autor do esquema, no exemplo abaixo não partimos da numeração progressiva do capítulo em questão, preferimos criar a nossa, isso não altera o resultado, pois o mais importante é organizar as ideias estabelecendo uma hierarquia entre as mesmas, o que significa mostrar como poderia escrever o texto utilizando somente as palavras ou os termos chaves. 1 INICIAÇÃO À METODOLOGIA DA PESQUISA E DO TRABALHO CIENTÍFICO 1 ASPECTOS CONCEITUAIS 1.1 DIFICULDADES DOS PROFESSORES E ALUNOS NA INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA: 1.1.1 Falta escolarização para a pesquisa; 1.1.2 Falta condições de trabalho – formação: 1.1.2.1 Falta de formação literária dos estudantes 1.1.3 Falta de disciplina, adequação das ideias a um quadro teórico: 1.1.3.1 Mistura de correntes de pensamento, citações avulsas fora de contexto, etc.; 1.1.3.2 Inadequação do método ao objeto; 1.1 CONSEQUÊNCIAS: 1.1.1 Pesquisas sem retorno para a sociedade; 1.1.2 Legião de pseudocientistas; 1.1.3 Alunos e professores alheios à realidade social; 1.2 O QUE FALTA? 1.2.2 Contemplar a problemática levantada – abordagem interdisciplinar; 1.2.3 Conhecer os aportes teóricos – assumir uma FUESPI/NEAD Especialização em Biodiversidade e Conservação 37 posição, um paradigma; 1.2.4 Alcançar os objetivos – produzir os conhecimentos desejados; 1.3 ÊXITO NA PESQUISA: 1.3.1 Relação do estudo com a história de vida do pesquisador; 1.3.2 Desejo – compromisso; 1.3.3 Retorno à sociedade; 1.4 ACADEMIA BRASILEIRA - PROBLEMAS ESTRUTURAIS: 1.4.1 Subordinação a um modelo econômico; 1.4.1.1 Dependência cultural historicamente limitada a um único centro propagador – modelo de ciência cuja técnica é submetida a o modelo econômico 1.5.3 Problemas infraestruturais: 1.5.3.1 Dificuldades na produção científica: falta de espírito crítico consequência de uma estrada estreita e única nos estudos; 1.1.1.2 Carência de investigação – ecletismo – sem amarra de conceitos centrais; 1.1.1 NECESSIDADE DE SABER O QUE VEM A SER CONHECIMENTO 1.1.1.1 Renascer – nascer de novo 1.1.1.2 Inerente à existência humana; 1.1.1.3 Estar no mundo 1.1.2 Em qualquer organização social há possibilidades de conhecer e maneira de produzir conhecimento – atividade social; 1.6 CONSCIÊNCIA OU CONSCIENTIZAÇÃO 1.6.6 Percepção da realidade concreta Metodologia da Pesquisa e do Trabalho Científico 38 1.6.7 Elaboração de conceitos a partir de sua forma concreta de vida 1.6.8 Interpretação da realidade Concluindo! O bom esquema de um texto é aquele que nos permite, com a colocação de simples conectivos, transforma-lo em um resumo ou, reconstruindo ou recriando o texto, transforma-lo em síntese. De uma estrutura de tópicos, coloca-se conectivos e o transforma em frases, períodos, parágrafos, etc. produzindo um resumo. A partir do resumo, com a compreensão mais aprofundada das ideias do autor, será possível condensa-las, abstraindo-as no pensamento, o que significa construir e reconstruir o conhecimento. Trata-se de um nível em que teremos condições de criar e recriar – é a produção de um texto novo – uma síntese. ORIENTAÇÃO PARA ELABORAÇÃO DE UM RESUMO Existem diversos tipos de resumo com diversas finalidades, mas a produção de resumos realizada no âmbito acadêmico tem sido feita como procedimento de estudo e como difusão das informações contidas em livros, artigos, teses, etc. A primeira possibilita e/ou é condição ou contribuição para a segunda e vice-versa, mas, comumente, quando se produz um resumo de um texto que já é resultado de uma pesquisa, é porque já resumimos muitos textos ou obras como pesquisa bibliográfica ou documental e como suporte para o estudo. Considerando isso a produção de resumos como procedimento de estudo torna-se condição para produção de resumos de trabalhos de pesquisa ou trabalhos científicos concluídos e que foram por nós realizados, como os exemplos supramencionados. Estes resumos, de trabalhos próprios, são realizados com o objetivo de mostrar uma sinopse científica do trabalho permitindo a quem o ler resolver sobre a conveniência ou não de consultar o texto completo. Assim, como mostra Décio Vieira Salomon (2004, p. 114): resumir não é atividade exclusiva dos procedimentos de estudo, sempre representou uma necessidade de quem ler, escreve, deseja aprender, mas também para socialização ou difusão de conhecimentos. FUESPI/NEAD Especialização em Biodiversidade e Conservação 39 Os alunos e alunas, em sua maioria, quando iniciam um curso de graduação ou pós-graduação e se deparam com as exigências acadêmicas, especialmente as solicitações dos professores que costumam exigir muitas leituras e produções de textos, desde simples procedimentos de estudo à elaboração de trabalhos acadêmicos, mostram-se inquietos e, em muitas situações, até angustiados, por não saberem como fazer. Isto se justifica por diversos fatores, mas em síntese, pode-se destacar, algo já mencionado no início do capítulo, a tradição escolar deficiente que temos, especialmente em relação ao hábito da leitura e da escrita, mas somando-se a isso, acrescentamos aqui as dificuldades que muitas famílias têm em acompanhar e orientar seus filhos nos estudos escolares, aquelas pessoas que também foram vítimas do sistema e tiveram uma trajetória escolar desassistida ou seque estiveram em uma escola. Em função disso e de muitos outros fatores, os discentes chegam à graduação e pós-graduação com dificuldades de leitura e interpretação dos livros-textos e com muitas limitações para desenvolver trabalhos acadêmicos e/ou científicos, inclusive para resumir os textos, o que contribui muito para as pesquisas simples do cotidiano acadêmico. Consideramos o resumo um trabalho simples na sua elaboração, e, ao mesmo tempo fundamental para a vida acadêmica, pois ele é um procedimento de estudo eficiente, contribui muito para a pesquisa e para a redação científica e não oferece grandes dificuldades ao aluno ou aluna em sua produção. Iniciamos a orientação para produção de um resumo apresentando o conceito dele para alguns autores.Marconi e Lakatos (2009, p. 72), afirmam que “resumo é uma apresentação concisa e frequentemente seletiva do texto, destacando-se os elementos de maior interesse e importância, isto é, as principais ideias do autor da obra”. Medeiros (2014, p. 112) também compartilha da mesma concepção, mas vai além, mostrando que: Resumo é um tipo de redação informativo-referencial que se ocupa de reduzir um texto a suas ideias principais. Em princípio, o resumo é uma paráfrase e pode-se dizer que dele não devem fazer parte comentários e que engloba duas fases: a compreensão do texto e a elaboração de um novo [...]. Metodologia da Pesquisa e do Trabalho Científico 40 Levando em consideração o que já afirmamos, resumir exige leitura e compreensão do conteúdo específico ou técnico do assunto lido, conhecimento e domínio da língua oficial (em nosso caso, da língua portuguesa) e conhecimento das normas técnico-científicas. Mas existem procedimentos que, além disso, podem facilitar ainda mais a prática de resumir textos. Para Marconi e Lakatos (2009, p. 73): Quem escreve obedece a um plano lógico através do qual desenvolve as ideias em uma ordem hierárquica, ou seja, proposição, explicação, discussão e demonstração, é aconselhável, em uma primeira leitura, fazer um esboço do texto, tentando captar o plano geral da obra e seu desenvolvimento. A seguir, volta-se a ler o trabalho para responder a duas questões principais: de que trata este texto? O que pretende demonstrar? Em uma terceira leitura, a preocupação é com a questão: como o disse? As autoras reafirmam o que expomos antes, ou seja, resumir possibilita descobrir as partes principais em que se estrutura o texto. É importante distinguir as ideias, a ordem em que aparecem as diferentes partes do texto, seja quando muda de parágrafo ou através da junção deles, o que exige o uso de termos ou elementos gramaticais capazes de uni-los sem afetar a distinção das ideias, exemplo: em consequência; por conseguinte; portanto; por isso; em decorrência disso; e; da mesma forma; da mesma maneira; porém; entretanto; por outra parte; sem embargo, etc. (MARCONI e LAKATOS, 2009). No texto apresentado ou formatado com a distinção estrutural entre os parágrafos, há maior facilidade para resumir, mas naqueles em que não se usa este recurso na formatação, torna-se imprescindível conhecer e utilizar as palavras ou termos que indicam a mudança de ideia com a junção dos parágrafos. Décio Vieira Salomon (2004, p. 114) também coloca que a técnica mais importante na elaboração de resumo é apontar a ideia principal ou ideias mais importantes das seções de um texto, o autor aconselha que não devemos resumir enquanto lemos, pois isso pode torna-lo muito extenso; não confiar na memória, utilizar as anotações, ou seja, não resumir antes de tirar as notas do conteúdo, especialmente revendo-as porque elas servirão FUESPI/NEAD Especialização em Biodiversidade e Conservação 41 como guias; usar frases curtas e diretas. Para concluir, aconselha-se a Leitura de modelos de resumos, resenhas, recensões, pois estes trabalhos ensinam como fazer. ORIENTAÇÃO PARA FICHAMENTO DE TEXTOS, LIVROS OU TRABALHOS CIENTÍFICOS Embora a maioria dos estudantes não pratique o fichamento no dia a dia acadêmico, é um procedimento de estudo imprescindível, atual e acessível aos discentes, independentemente do poder aquisitivo deles, pois as fichas podem ser adquiridas por um baixo custo ou poderão até ser confeccionadas pelos próprios interessados. É uma técnica de extrema relevância para a pesquisa científica, desde a prática de leitura à redação do trabalho científico em geral. O uso de fichas e do fichário é um recurso técnico de documentação pessoal e pode ser feito tanto fichando diretamente os textos lidos, como aquele em que apenas inserimos esquemas, resumos, etc., já produzidos. Qualquer uma dessas práticas viabiliza a pesquisa tornando-se uma atividade de estudo de alto nível porque constitui a criação de um fichário ou de um acervo e possibilita um aprendizado eficiente e eficaz dos conteúdos. É uma forma disciplinar os estudos acadêmicos, é o que transforma o estudante em pesquisador autor e de o tornar grande conhecedor dos assuntos de seu campo de estudo ou área de formação garantindo assim o seu sucesso profissional. As fichas podem ser usadas na preparação de qualquer tipo de pesquisa e para a realização de qualquer trabalho acadêmico, como exemplo: resenhas; TCCs, monografias, artigos, etc. Elas possibilitam muitas ações: identificar as obras, conhecer e resumir o conteúdo, destacar as partes ou ideias principais dos livros ou textos lidos, registrar dados de documentos facilitando a redação do texto científico e outras. Além de ser uma técnica de estudo, permite, entre outros benefícios: a classificação dos assuntos ou temas específicos; o arquivamento e documentação do acervo ou do referencial teórico da pesquisa; a organização do conteúdo ou das ideias no processo de investigação (teoria e empiria) e uma prática Metodologia da Pesquisa e do Trabalho Científico 42 formativa para a vida profissional e intelectual em geral. Marconi e Lakatos (2009, p. 62) sugerem um modelo de ficha que consideramos apropriada, mas procuramos reformular para melhor atender às necessidades dos alunos e alunas em seus estudos e trabalhos acadêmicos. Pode-se utilizar de diversos tamanhos, mas recomendamos o tipo médio: 10,5 cm x 15,5 cm. Entre outros, destacamos dois modelos: ficha resumo ou de conteúdo e ficha bibliográfica, as quais, com as referidas adequações, apresentam a seguinte estrutura: Cabeçalho: título genérico ou primário; título secundário; título específico ou terciário; número de página do texto fichado; número de classificação da ficha e a letra indicativa da sequencia (quando se utiliza mais de uma ficha para um tema específico). Vejamos os modelos de apresentação gráfica do fichamento. FICHA DE RESUMO OU DE CONTEÚDO Este tipo de ficha serve para documentar e arquivar os resumos de obras e textos, ela apresenta uma síntese bem clara e concisa das ideias principais do autor ou um resumo dos aspectos essenciais da obra. Embora seja uma ficha resumo, o texto pode ser mais detalhista do que outros tipos de ficha. FUESPI/NEAD Especialização em Biodiversidade e Conservação 43 INICIAÇÃO À METODOLOGIA DA PESQUISA E DO TRABALHO CIENTÍFICO CIÊNCIA: ASPECTOS CONCEITUAIS E METODOLÓGICOS Conceitos de ciência 1.2 A Nº da Pág.Do texto Fichado. P. 25, P. 26 ABREU, Jânio Jorge Vieira de. Metodologia da pesquisa e do trabalho científica. Teresina: UAB/UESPI, 2015. Entre outros conceitos apresentados no texto Abreu (2015, p. 25) destaca que a “Ciência constitui um conjunto organizado de conhecimentos sobre um determinado objeto, em especial obtidos mediante a observação, a experiência dos fatos e um método próprio”. Através de autores pós-críticos, o texto traz concepções da chamada nova ciência. Abreu (2015 apud MARTINS, 2013, p. 26) ao reconstruir o conceito de ciência do filósofo Immanuel Kant afirma que: [...] ciência, ao contrário da abordagem positivista, deve ser a ‘organização do conhecer’, ou seja: a organização do processo, de nome conhecer, em vez de ‘organização do conhecimento’ ou do produto, de nome conhecimento, como afirmara Kant. Tais conceitos estão relacionados ao método que significa o modo como se faz ciência. Figura 1 – Modelo de Ficha de Resumo ou de Conteúdo Metodologia da Pesquisa e do Trabalho Científico 44 Nº pág Apresentar aqui o tema do assunto que deve continuar no verso P. 26 P. 27 P. 30 O autor, porém, ressalta que, não há modelo de ciência, e consequentemente de método científico pronto e acabado, pois depende da concepção ou da corrente de pensamento. Grande parte das experiências de pesquisa é proveniente ou influenciada pelo método dedutivo e método indutivo. Marconi e Lakatos (2010) ressaltam que método é uma forma de selecionar
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