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Paulo Matheus Marinho Rodrigues Universidade Federal do Acre Curso de Ciências Econômicas Economia da Inovação Prof. Raimundo Cláudio Assunto: Fichamento de Dosi (2006) Tendências da inovação e seus determinantes: os ingredientes do processo inovador (pp 29 – 53). DOSI, Giovanni. Mudança técnica e transformação industrial – A teoria e uma aplicação à indústria dos semicondutores, Campinas - SP, 2006. Citações: 2.1 Teorias da mudança técnica: Indução pela demanda versus impulso pela tecnologia “Sobre o assunto, costumam ser definidas duas abordagens básicas diferentes: a primeira, indicando as forças de mercado como principais determinantes da mudança técnica..., e a segunda, definindo a tecnologia como fator autônomo, ou quase autônomo, pelo menos a curto prazo” (p. 30) “Essa teoria “pura” da indução pelo mercado funcionaria, tanto de forma causal como cronológica, do seguinte modo: (1) Existem no mercado, em dado momento, um conjunto de bens de consumo e de bens intermediários incorporando diferentes “necessidades” dos compradores. (2) Os consumidores (ou usuários) expressam suas preferências em relação às características dos bens desejados através de seus padrões de demanda” (p.31) “(3) Essa teoria sustentaria que, com a renda crescente afrouxando a restrição orçamentária dos consumidores/usuários, estes últimos passam a demandar proporcionalmente maior quantidade de bens... (4) Quando isto se dá, os produtores entram em cena, constatando as necessidades expressas pelos consumidores /usuários... (5) É nesse ponto que tem início o processo de inovação propriamente dito, e que as firmas bem sucedidas irão, no final, trazer ao mercado seus bens novos ou aperfeiçoados, permitindo que o “mercado” monitore sua crescente aptidão de satisfazer as necessidades dos consumidores” (p.32) “Os pontos de vista delineados acima podem ser criticados em diversos aspectos: (a) quanto à teoria geral dos preços ser determinada por funções de oferta e demanda; (b) no que ser refere às dificuldades de definir as funções de demanda, determinadas por funções de utilidade, e a própria viabilidade de um conceito de utilidade” e (c) com relação às dificuldades lógicas e práticas de interpretar o processo de inovação através dessa abordagem” (p.33) “(a) Supõe-se que uma teoria da inovação explique não apenas (e nem mesmo principalmente) o progresso técnico “incremental” em relação aos produtos/processos existentes, mas, antes de mais nada, que pretenda interpretar os avanços tecnológicos principais e seus secundários” (p.33) “(b) Mesmo depois de aceitar a identificação a priori de uma “necessidade”, é difícil explicar, por meio dessa abordagem, o que acontece entre essa identificação pelos produtores e o resultado final de um novo produto. Ou temos que admitir um conjunto de possibilidades tecnológicas já existentes, ou devemos admitir uma limitada defasagem de tempo entre as pesquisas e os resultados das mesmas” (p.34) “Os estudos que tendem a provar as teorias da indução pela demanda parecem, de fato, incapazes de explicar o timing das inovações e a existência de descontinuidades em seus padrões” (p.35) “A principal tarefa teórica com respeito às abordagens referentes ao lado da oferta consiste em evitar uma concepção unidirecional “ciência-tecnologia-produção” (p.36) “Constatamos que, de fato, há uma complexa estrutura de retroalimentação entre o ambiente econômico e as direções das mudanças tecnológicas” (p.36) “Alguns aspectos do processo de inovação podem ser considerados bem estabelecidos. 1. O crescente papel de insumos científicos no processo de inovação; 2; A crescente complexidade das atividades de pesquisa e de desenvolvimento (P&D); 3. Uma significativa correlação entre os esforços de P&D e o produto da inovação em diversos setores produtivos” (p.37-38) “4.Uma significativa quantidade de inovações e aperfeiçoamentos originando-se do “aprendizado pela execução”; 5. Não obstante a crescente formalização institucional de pesquisa, as atividades de pesquisa e inovação mantêm uma intrínseca natureza de incerta; 6. A mudança técnica não ocorre ao acaso por dois motivos. Em primeiro lugar, as direções da mudança técnica são muitas vezes definidas pelo estado-da-arte da tecnologia já em uso. Em segundo lugar, muitas vezes, a probabilidade de empresas e organizações alcançarem avanços técnicos depende dos níveis tecnológicos já alcançados por essas empresas e organizações; 7. A evolução das tecnologias através do tempo apresenta certas regularidades significativas” (p.38) 2.2 Uma interpretação proposta: Paradigmas tecnológicos e trajetórias tecnológicas “Em geral, define-se o progresso técnico em termos de uma curva móvel de possibilidades de produção e/ou em termos de uma quantidade crescente de bens produzíveis” (p.40) “Definimos a tecnologia como um conjunto de parcelas de conhecimento, de know- how, métodos, procedimentos, experiências de sucesso e insucessos e também, é claro, dispositivos físicos e equipamentos” (p.40) “Em termos aproximados, pode-se definir um “paradigma científico” como uma “perspectiva” que expressa problemas relevantes, um “modelo” e um “padrão” d e inquirição”. “O sucesso do paradigma... constitui, no início, uma grande promessa de sucesso que se pode descobrir em exemplos selecionados e ainda incompletos” (p.41) “Assim como a “ciência normal” constitui a “efetivação de uma promessa” contida num paradigma científico, o “progresso técnico” é definido por meio de um certo “paradigma tecnológico” (p.42) “Os paradigmas tecnológicos possuem um poderoso efeitos de exclusão: os esforços e a imaginação tecnológica dos engenheiros e das organizações às quais pertencem focalizam-se em direções precisas, embora fiquem “cegos” com respeito a outras possibilidades tecnológicas” (p.42) “A identificação de uma paradigma tecnológico relaciona-se com os esforço genérico ao qual está aplicado, com a tecnologia material selecionada, com as propriedades físico-químicas exploradas e com as dimensões e os equilíbrios tecnológico e econômico focalizados” (p.43) “Deixando provisoriamente de lado os problemas referentes a feedbacks, a hipótese é que, ao longo da corrente ciência-tecnologia-produção, as “forças econômicas”, junto com os fatores institucional e social, funcionam como dispositivo seletivo” (p.44) “Os critérios econômicos, que agem como seletores, definem cada vez mais precisamente as trajetórias reais seguidas, dentro de um conjunto muito maior de trajetórias possíveis” (p.45) “Uma trajetória tecnológica – isto é, para reiterar, a atividade “normal” de resolução de problemas determinada por um paradigma – pode ser representada pelo movimento dos balanços multidimensionais entre as variáveis tecnológicas definidas como relevantes pelo paradigma. Pode-se definir o progresso como o aperfeiçoamento desses balanços” (p.45) “Vale a pena considerar certas características dessas trajetórias tecnológicas, definidas em termos dos paradigmas tecnológicos. 1. Pode haver trajetórias mais genéricas ou mais circunscritas; 2. Estas são geralmente complementaridades entre diversas formas de conhecimento, experiência, habilidades etc.; 3. Em termos do nosso modelo, podemos definir como fronteira tecnológica o mais alto nível alcançado em relação a uma trajetória tecnológica, com respeito às dimensões tecnológicas e econômicas relevantes; 4. É provável que o “progresso” numa trajetória tecnológica conserve certos aspectos cumulativos; 5. Quando uma trajetória é muito “poderosa”, pode haver dificuldade em mudar para uma trajetória alternativa; 6. É questionável a possibilidade de, a priori, comparar e avaliar a superioridade de certa trajetória tecnológica em relação a outra” (p.46-47) “De modo mais geral, é provável que os padrões dos conflitos industriais e sociais funcionem no processode seleção de novos paradigmas tecnológicos, tanto como critério negativo, quanto como critério positivo. A esse respeito, podemos ser capazes de definir algum relacionamento de longo prazo entre os padrões de desenvolvimento social e os paradigmas tecnológicos escolhidos de fato” (p.49-50) “Às vezes, quando estão surgindo novas tecnologias, podemos com frequência observar novas empresas tentando explorar diversas inovações tecnológicas. O mercado funciona como um sistema de recompensas e penalidades, verificando e selecionando entre diversas alternativas” (p.51) “As condições de mudança econômica interagem sem dúvida com o processo de seleção das novas tecnologias, com seu desenvolvimento e, finalmente, com a obsolescência e substituição das mesmas” (p.51) “As mudanças dos preços relativos e das participações distributivas afetam a demanda das diversas mercadorias e as rentabilidades relativas para fabricá-las. Os produtores certamente reagem a esses sinais do ambiente econômico, procurando responder através de avanços técnicos” (p.52) “No entanto, isso muitas vezes acontece dentro dos limites de uma dada trajetória tecnológica, que pode ser conducente ou impor crescentes restrições a quaisquer desenvolvimentos compatíveis com os “sinais” liberados pelo ambiente econômico. Devemos ressaltar, no entanto, que as dificuldades tecnológicas não-solucionadas não acarretam automaticamente uma mudança para outra “trajetória. Naturalmente, mudanças nas condições e nas oportunidades do mercado continuamente provocam pressões no “sentido ascendente” em diversos níveis. (p.52) “Além disso, um resultado implícito é que o impacto “ascendente” das condições de mudança econômica sobre os padrões da pesquisa tecnológica parece diretamente proporcional ao caráter determinante dos próprios estímulos econômicos” (p.52-53)
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