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SEGURIDADE SOCIAL

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MÓDULO 1
Analisar a Seguridade Social na matriz Constitucional
O QUE NORTEIA A IDEIA DE SEGURIDADE SOCIAL?
Uma boa maneira de nos aproximarmos do tema é começarmos pelo art. 25 da Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH - 1948). O que diz a primeira parte?
Toda pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários...
Nessa primeira parte, é possível observar a recomendação de políticas afetas à Saúde e à Assistência Social. E quanto à Previdência? Vamos à segunda parte do art. 25 da DUDH:
... e tem direito à segurança no desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice...
Na terceira e última parte do art. 25, vemos circunstâncias híbridas, que podem reclamar tanto a proteção previdenciária quanto a assistencial:
...ou noutros casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias independentes da sua vontade.
Precisamos então sistematizar as políticas afetas à Seguridade Social e, para cumprir esse papel, nossa Carta Política (a Constituição da República Federativa do Brasil – CRFB) nos dá as diretrizes. No art. 6º, afirma que são direitos sociais, dentre outros: a Saúde, a Previdência Social e a Assistência aos desamparados. Se a Constituição Federal define que a assistência se destina aos desamparados, há necessidade de se buscar parâmetros para definir quem são essas pessoas.
Saiba mais
Ao final do tema você encontrará a indicação de leitura da Constituição da República Federativa do Brasil (CRFB) no Explore+.
Quais são as definições internacionais mais conhecidas?
Linha de pobreza
O nível de renda anual com o qual uma pessoa ou uma família não possui condições de obter todos os recursos necessários para viver. Segundo o Banco Mundial: US$ 2,00 por dia = US$60,00 por mês por pessoa. Família de 4 pessoas: US$240,00.
Linha de indigência (ou miséria)
Renda suficiente para comprar apenas os alimentos necessários para repor os gastos energéticos. Segundo o Banco Mundial: US$1,00 por dia = US$30,00 por mês por pessoa. Família de 4 pessoas: US$120,00.
Saiba mais
Em 2017, passou-se a uma métrica de linha de pobreza que contemplava outros aspectos que diferenciam os países (US$3,20/dia para países com renda média baixa e US$5,50/dia para países com renda média alta – caso do Brasil). Nesse parâmetro, 1/5 da população brasileira estaria abaixo da linha da pobreza – R$618,75 por pessoa ao mês (no início de 2019 com dólar a R$3,75).
Voltando à CRFB, onde está a previsão constitucional da Seguridade Social? Resposta: o art. 194 da CRFB define os três ramos da seguridade (Saúde, Previdência e Assistência) e traz aspectos como: contribuição de todos (inclusive beneficiários) e manutenção de vida digna.
OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL
Saúde
Direito de todos e dever do Estado (artigo 196 da CRFB) independentemente de contribuição (individual ou vinculada – então são os tributos de todos que arcam com as despesas). A saúde é norteada por princípios e diretrizes:
1. Acesso universal e igualitário (Sistema Único);
2. Voltada à prevenção, promoção e recuperação (três frentes de atuação);
3. Prestada pelo poder público diretamente ou por meio de terceiros (art. 199 – livre à iniciativa privada).
A Saúde no Brasil é integral (art. 198, inciso II) e universal (art. 196) – todos têm acesso (universal) a todo tipo de assistência, inclusive medicamentos (integral).
Previdência Social
É o seguro social para a pessoa que contribui (veja-se a distinção: caráter contributivo, ao menos em parte). A Previdência Social e o Regime Geral de Previdência (RGPS) serão os tópicos que mais aprofundaremos ao longo deste tema.
Assistência Social
Para quem dela necessitar (art. 203), de caráter não contributivo. Características:
a. Prestações sociais mínimas e gratuitas a cargo do Estado para manutenção da dignidade e que poderão ser realizadas por diversas ações;
b. Tem como público-alvo: maternidade, infância/adolescência, idosos e portadores de limitações.
Saiba mais
Reserva do Possível x Tratamentos Custosos x Tratamentos Experimentais. Haveria recursos públicos para cobrir qualquer espécie de tratamento custoso ou experimental? O direcionamento desses recursos não deixaria a descoberto políticas que melhoram a saúde da população como um todo? Na jurisprudência, foi decidido, no Tema 106 dos Recursos Repetitivos do STJ, em maio de 2018, que a concessão dos medicamentos não incorporados em atos normativos do SUS exige a presença cumulativa de requisitos. Confira outros detalhes sobre o assunto no Explore+ ao final deste tema.
O principal benefício (em volume financeiro) pago no Brasil, no âmbito da Assistência Social, é o BPC LOAS – tem assento constitucional (art. 203, inciso V, da CRFB) e é definido pela Lei 8.742/93 (Lei Orgânica da Assistência Social). Quem receberá ajuda financeira de um salário mínimo? Idoso e pessoa com deficiência que comprovem não ter meios de prover sua manutenção ou tê-la provida por sua família.
Há grandes discussões quanto ao valor do salário mínimo (já houve tentativa de alteração legislativa) e questionamentos sobre ser correta a vinculação do salário mínimo com índice indexador (que se destina precipuamente a quem trabalha).
Saiba mais
Segundo dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e da Pension Watch, o Brasil é o único país que paga 100% do salário mínimo a título de benefício assistencial ao idoso (os percentuais de cada país variam desde menos de 10% até 65%; a média fica em torno de 45%).
CARÁTER CONTRIBUTIVO (PREVIDÊNCIA) X CARÁTER NÃO CONTRIBUTIVO (ASSISTÊNCIA)
Vamos partir os problemas para entender?
Mesmo valor e mesma idade para aposentadoria e benefício assistencial não desestimulam o caráter contributivo?
Tanto aposentadoria por idade masculina quanto o BPC-LOAS se dão aos 65 anos e recebem um salário mínimo.
O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) calcula regularmente qual valor seria necessário para atender às nove necessidades (moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e Previdência Social) determinadas pelo art. 7º, inciso IV, da CRFB. Para uma família de 4 pessoas, segundo esse estudo cuja divulgação é mensal, o salário mínimo deveria ser, em abril de 2020, R$4.673,39.
Vale notar que:
Isenção de IRPF (em 2019) – até R$1.903,98.
Segundo o PNAD – IBGE (em 2017) – salário médio brasileiro (geral): R$2.178; salário médio para quem tem nível superior: R$5.110.
Voltando ao LOAS, o principal benefício assistencial sempre foi assim (mesma idade que a aposentadoria)? Não. Como era o LOAS:
70 anos (até 31/12/1997).
67 anos (de 01/01/1998 até 31/12/2003 – Lei 9720/98).
65 anos (a partir de 01/01/2004 – Lei 10.741/03).
Admitia-se mais de um LOAS por família (jurisprudência estendeu para todos os benefícios até 1 SM).
Saiba mais
Em 1993, uma pessoa com 70 anos tinha expectativa de vida em 10,4 anos. Em 2003, uma pessoa com 65 anos tinha expectativa de vida em 17,8 anos. Em 2018, 18,8 anos. Em resumo: num espaço de 20 anos, o Brasil, devido a alterações legislativas e da tábua de mortalidade, passou a pagar BPC-LOAS por um período 7,5 anos maior.
Outra questão que gera dúvidas é se a aposentadoria por idade rural para segurado especial tem natureza previdenciária ou assistencial, já que não se exige contribuições diretas de quem a recebe. Há uma série de tentativas de mudanças legislativas para melhorar cadastros que visem controlar o direito a esse tipo de benefício. Por ora, ficamos com três informações:
94% das aposentadorias rurais são concedidas para segurado especial (que não contribui diretamente).
Aposentadoria por idade é a prestação previdenciária com a maior quantidade de beneficiários no Brasil.
Há cerca de 10 milhões de benefícios rurais no Brasil e as aposentadorias rurais representam algo próximo de 25% do custo total da Previdência.
Mas por que estamos falando disso?Apenas para colocar em perspectiva um problema sobre centro de custo: A Assistência Social (não contributiva) é feita com o dinheiro da Previdência Social (contributiva)? E ainda: Qual a relevância disso quando se propõe uma Reforma da Previdência?
	
	Bolsa Família
	BPC-LOAS
	Elegibilidade (2018)
	Família em situação de extrema pobreza (renda per capita de R$85).
Família em situação de pobreza (renda per capita de R$177).
	Idoso com mais de 65 anos e deficientes físicos com renda per capita abaixo de ¼ de SM (R$238,50).
	Valor em 2018
	Parte Fixa:
R$89,00 por família em extrema pobreza.
Parte Variável:
R$41,00 pp até 15 anos.
R$48,00 pp entre 15 e 17 anos.
	R$954,00
	Custo em 2018
	R$30,6 bilhões
	R$53,8 bilhões
	Benefícios pagos (2018)
	14 milhões
	4,7 milhões
	Efeito multiplicador no consumo das famílias
	2,4
	1,54
	Aumento nominal (2004 a 2015)
	54%
	203%
Outro conhecido benefício da Assistência Social é o Bolsa Família. Veja o comparativo em relação ao BPC-LOAS:
A partir do quadro anterior, conseguimos visualizar o alcance e os requisitos que permeiam os dois principais benefícios pagos com recurso da Assistência Social.
Mas, se há certa interpenetração entre Previdência e Assistência Social, talvez possamos colocar em perspectiva o que é conhecido como Sistema de Pilares de Proteção para fins do amparo oferecido pela Seguridade Social.
Premissas para a compreensão:
· Nos sistemas não contributivos, a arrecadação provém de parcela da arrecadação tributária geral.
· Contribuições sociais são tributos destinados a servir de base financeira para as prestações sociais.
· Nos sistemas contributivos, tributos específicos são responsáveis pela prestação previdenciária.
O exemplo do Chile de 1981 a 2008
Uma experiência que parecia ótima: Chile e a experiência de 1981 a 2008 de privatização da previdência no modelo de capitalização mais a possibilidade de benefício assistencial mínimo (para quem não conseguisse se cotizar). Em 2008, no ocaso do modelo, institui-se o “aporte provisional solidário” para quem se cotizou parcialmente.
Até 2004, era comum sustentar-se um modelo de três pilares:
· pilar um: renda mínima para todos (financiamento nos impostos em geral);
· pilar dois: sistema de benefícios contributivos (financiado por contribuições sobre salários) – economia coercitiva (benefício previdenciário suficiente a garantir ao menos % da renda recebida na ativa);
· pilar três: previdência complementar privada (em forma de capitalização) – economia voluntária individual (entregue a administradoras de fundos de pensão).
Depois, avança-se para um modelo baseado no estudo Old Age Income Support, de 2005 (Banco Mundial), com modelo de 5 pilares de proteção:
· pilar zero: não contributivo;
· pilar um: contributivo obrigatório em regime de solidariedade;
· pilar dois: contributivo obrigatório em regime de capitalização individual;
· pilar três: acordos voluntários flexíveis financiados pelo empregador;
· pilar quatro: transferências adicionais monetárias inter ou intrageracionais.
Saiba mais
Para alguns, a partir do momento em que cada trabalhador faça cotizações apenas para si e sua família (e não para um fundo que contemple um grupo ou toda a sociedade), desaparece a noção de solidariedade social. O regime financeiro de capitalização é próprio da previdência privada. Verifique o Explore + ao final do tema para mais detalhes.
Economicamente, essa experiência é perfeita; o fundo capta, multiplica, garante o benefício a todos e os governos não ficam sobrecarregados. Mas a consequência é a função do Estado. Aumentou a expectativa de vida. Os dividendos projetados não chegaram perto dos que deveriam ser estruturados. Prejuízo de quem investiu. Mas não é um investimento, é uma garantia de Estado e da proteção do trabalhador que foi posta em xeque. E, com isso, pobreza extrema, suicídios e perdas graves de rendimento.
Para fechar nosso primeiro módulo, vamos acrescentar algumas informações sobre o principal benefício (em termos de dispêndios financeiros) da Assistência Social (BPC-LOAS):
FUNDAMENTO LEGAL
Art. 203, inciso V, CRFB, combinado com o art. 20 da Lei 8.742/93 (c/ alterações) e com o Decreto 6.214/07
ÓRGÃO DE CONCESSÃO
INSS (apesar de ser benefício assistencial).
LEGITIMIDADE PASSIVA (PROCESSO JUDICIAL)
INSS (superada discussão quanto a ser da União).
REQUISITOS PARA A CONCESSÃO
1. Deficiência ou idade maior que 65 anos (requisito subjetivo);
2. Renda familiar baixa (a Reclamação nº 4.374/PE, de Relatoria do ministro Gilmar Mendes, reconheceu, sem pronúncia de nulidade, a parcial inconstitucionalidade do §3º do artigo 20 da LOAS, que estabelece o critério de ¼ da renda mensal per capita do salário mínimo - requisito objetivo);
3. Inscrição e manutenção no Cadastro Único (MP 871/19 e Lei 13.846/19 introduziram o §12 no art. 20 da Lei 8.742/93).
REVISÃO
Revisão a cada dois anos (art. 21 da Lei 8.742/93 e art. 42 do Dec. 6.214/07) e não há direito ao abono natalino [13º] (art. 22 do Dec. 6.214/07). A questão do 13º no LOAS também está em discussão legislativa
TRANSFERÊNCIA A HERDEIROS
Impossibilidade de transferir a herdeiros (art. 23 do Dec. 6.214/07): benefício personalíssimo que não gera pensão.
SOBRE O REQUISITO SUBJETIVO DA DEFICIÊNCIA
QUAL O CONCEITO
A pessoa que tem impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas (art. 4º, inciso II c/c art. 9º, inciso I, do Dec. 6.214/07). A base desse conceito é a Convenção Sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência patrocinada pela ONU (03/2007), aprovada pelo Brasil por intermédio do DL 186/08, nos termos do §3º do art. 5º da Constituição Federal (confere status constitucional
BASTARIA A EXISTÊNCIA DE ALGUMA DEFICIÊNCIA
O art. 20 da Lei 8742/93 dispõe que deve ser comprovada a ausência de meios para prover a própria manutenção.
TODA DEFICIÊNCIA IMPEDE QUE A PESSOA SEJA APTA A PROVER A PROPRIA MANUTENÇÃO
Se isso fosse verdade, não seria cabível a existência da Aposentadoria da Pessoa com Deficiência (LC 142/13, que disciplina o art. 201, §1º, da CRFB).
Então, o LOAS tem como base a deficiência, mas não uma deficiência qualquer – a lei exige uma deficiência qualificada que se aproxima da incapacidade de prover a própria manutenção. A deficiência precisa ser de longo prazo, definido pelo art. 20 da Lei 8742/93 como a que supera dois anos.
Se o impedimento não for considerado permanente, há possibilidade de reavaliação a cada dois anos (§7º). Segundo jurisprudência (Tema 173 da TNU), prevalece a ideia de que é imprescindível a configuração de impedimento de longo prazo com duração mínima de 2 (dois) anos, a ser aferido no caso concreto, desde o início do impedimento até a data prevista para a cessação.
Se a pessoa vai para o mercado de trabalho, o LOAS cessa (art. 47-A do Dec. 6.214/07). Mas se não se adapta e atende aos requisitos da legislação, faz jus à nova concessão (art. 25) ou ao restabelecimento do pagamento a partir da demissão ou do fim do seguro-desemprego (art. 47-A §2º).
Sobre o requisito objetivo da renda, temos um dos grandes problemas nacionais: renda informal. O Dec. 6.214/07, no art. 4º, inciso VI, ao especificar rendimentos que compõem a renda mensal bruta familiar, expressamente inclui rendimentos do mercado informal e rendimentos auferidos do patrimônio.
Atenção
A partir do Estatuto do Idoso (art. 34, caput, da Lei 10.741/03), admite-se mais de um LOAS por família. Isso vem expresso no art. 19, caput, do Dec. 6.214/07. A jurisprudência estendeu a exclusão para todos os benefícios de idosos até um SM (inclusive previdenciários)
MÓDULO 2
Identificar os principais aspectos da Previdência Social no âmbito da Seguridade Social
Antes de estudar os princípios que norteiam a Seguridade Social e, dentro dela, a Previdência Social, é importante verificar o arcabouço histórico de construção desses sistemas de proteção social, pois é da experiência pregressada sociedade que se extraem as diretrizes que baseiam o nosso constructo atual de proteção.
HISTÓRICO DA ASSISTÊNCIA E PREVIDÊNCIA NO MUNDO
1. 1601
Poor Law (Inglaterra): 1ª lei que instituía contribuição obrigatória para fins de implementar políticas assistenciais. Foi a única medida até o séc. XVIII. Antes disso, apenas a caridade pessoal/social atuava para compensar infortúnios.
1. 1762
Surge o seguro de vida (Um modelo que aparece com uma relação híbrida entre governo e instituições bancárias )(em Londres).
1789
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão(Valorização de ideais iluministas e de igualdade para os iguais, tornando a lei o princípio máximo.) – Seguridade Social como direito que deve ser assegurado a todo
1. A partir de 1850
Estados da Europa gradativamente foram implantando um sistema jurídico de garantia dos trabalhadores em face dos empregadores e um seguro mediante contribuição dos empregadores (a pedra fundamental da previdência social).
1. 1883
Modelo de Otto von Bismark (Alemanha) que garantia seguro-doença, aposentadoria e proteção às vítimas de acidente do trabalho. Teve grande influência na implantação dos primeiros sistemas de previdência.
1. 1942
William Henry Beveridge (1879-1963), durante a Segunda Guerra Mundial, elaborou um plano (Beveridge Report) visando erradicar a pobreza e as necessidades sociais, sendo considerado o embrião da assistência social moderna.
1948
Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) – contempla a universalização dos direitos sociais
HISTÓRICO DA ASSISTÊNCIA E PREVIDÊNCIA NO BRASIL
1795
Plano de beneficência(Ainda sob o modelo colonialista, a tentativa era criar alguma assistência local, aos moldes do vivido em Portugal. O funcionamento era de uma caixa comum para auxílio.) aos órfãos e às viúvas dos oficiais da Marinha
1. 1821
Aposentadoria dos mestres e professores(Era outra categoria em estruturação. Ganhou notoriedade a partir de 1808, mas era forte somente nas capitais.) após 30 anos de serviço.
1. Código Comercial (1850)
O art. 79 (revogado) garantia três meses de salário para o trabalhador acidentado.
1. 1888
Surge a aposentadoria dos empregados dos Correios (depois de 60 anos de idade e 30 anos de serviço) e, em 1890, a aposentadoria dos empregados da Estrada de Ferro Central do Brasil, logo em seguida, estendida para todos os ferroviários.
1. 1891
A Constituição de 1891(Era a primeira Constituição republicana e tentava manter ordenamentos sociais como fundamento da Nova República, fundada pela Égide da “Ordem e Progresso”.) assegurava a aposentadoria por invalidez para os servidores públicos.
Obs.: Até esse ponto – benefícios graciosos por parte do Estado (não havia contribuição por parte dos trabalhadores).
1923
Decreto Legislativo nº 4.682 de 1923 (Lei Eloy Chaves), marco inicial da Previdência Social para a doutrina majoritária: caixas de aposentadoria e pensões nas empresas de estradas de ferro mediante contribuição dos trabalhadores, das empresas do ramo e do Estado; garantia aposentadoria e pensão por morte. Antes da Lei Eloy Chaves já existia a Caixa de Aposentadorias e Pensões dos Operários da Casa da Moeda
1. Até 1930
• Diversas caixas (Caixas eram fundos comuns de caridade. É preciso lembrar que a tradição cristã sempre fundamentou a ideia da organização da caridade, fosse para recolher órfãos, ou ainda para conseguir dotes para meninas pobres, essas caixas são herdeiras das tradições das irmandades e de outros centros de caridade). (para aposentadoria e pensão) são criadas, até que a Constituição de 1934 se torna a primeira a tratar do modelo tripartite (contribuição dos trabalhadores, das empresas e do poder público);
• Diversos institutos de classe(Os primeiros institutos de previdência eram organizados por categorias. Com esse dinheiro, eles faziam desde habitações populares até a organização de hospitais; o sentido era garantir a assistência em vários aspectos.) são criados na década de 1930: IAPM (marítimos), IAPC (comerciários), IAPB (bancários), IAPI (industriários), IPASE (servidores do estado), IAPETEC (transporte de cargas).
1. 1942
Cria-se a LBA (já extinta) para a assistência social.
1. A partir de 1945
Houve a primeira tentativa de unificação (criação de um sistema de previdência para todos) sem sucesso. Mas os esforços continuam nesse sentido:
1) em 1949, o Decreto 26.778 padroniza a concessão de benefícios;
2) em 1953, cria-se a Caixa Nacional com a fusão das caixas setoriais;
3) em 1960, advém a Lei Orgânica da Previdência Social (LOPS), que não unificou os organismos, mas criou normas uniformes (com plano único de benefícios).
1967
Criação do INPS (fusão de todos os IAP) – marco da unificação da chamada Previdência Social Urbana
1. Década de 1970
• Em 1971: Funrural(A CLT não atendia os trabalhadores do campo. A lei é uma tentativa de estabelecer um cuidado aos trabalhadores rurais.) (LC 11/71).
• Em 1977: possibilidade de criação de entidades de previdência complementar;( A previdência unificada deixa de ser o único órgão possível, ainda que fosse linear e direito coletivo, por instituições de associações de trabalhadores ou das próprias empresas. Cria-se a possibilidade de uma complementação para vencer o estabelecimento do teto.)
1. Década de 1980
• Em 1986: Decreto-Lei nº 2284 – seguro-desemprego;( A mudança das relações de trabalho, reduzindo modelos de estabilidade, provocando a criação de mecanismo de acúmulo; assim, trabalhadores podem ser demitidos a qualquer momento, exceto – iminentemente e comprovadamente – às vésperas da aposentadoria. Fora isso, mantêm-se por seguro-desemprego, FGTS e afins.)
• Em 1988: Constituição Federal estabeleceu o Sistema de Seguridade Social.
1. Década de 1990
• Em 1990: cria-se o INSS (substitui o INPS [benefícios] e o IAPAS [arrecadação]) e, em 1991, as Leis 8.212/91 (custeio) e 8.213/91 (benefícios e serviços) que ainda vigoram, apesar das inúmeras alterações legislativas ao longo do tempo. O INSS tem natureza jurídica de autarquia federal;
• Em 1993: extingue-se o INAMPS (autarquia) com competência absorvida pelo SUS (sem personalidade jurídica própria), gerido pelo CNS (federal) e pelas secretarias estaduais e municipais de Saúde;
• Em 1998: EC nº 20 de 1998 pretendia modificar a concepção do sistema de tempo de serviço para tempo de contribuição (concepção que necessita de muitos anos para se estabelecer).
1. 2003
EC nº 41 de 2003 altera o regime próprio de previdência dos servidores públicos e cria disposição de inclusão previdenciária para segurados de baixa renda.
1. 2007
EC nº 47 de 2005 cria a aposentadoria especial para os segurados com deficiência.
1. 2019
EC nº 103 de 2019 – Reforma da Previdência.
Com base nesse histórico, é possível concluir que a Previdência Social, no Brasil, ainda não completou 100 anos e o Sistema de Seguridade, como o conhecemos, possui pouco mais de 30 anos.
REGIME PREVIDENCIÁRIO
O que é necessário para que se diga que existe um Regime Previdenciário? Todo sistema de seguro social em virtude de relação de trabalho (regime previdenciário) tem que garantir, ao menos: aposentadoria e pensão por morte.
Existem inúmeros regimes previdenciários no Brasil (geral, servidores, militares), mas costuma-se, por convenção, dizer que há duas espécies de regime no Brasil:
Regime Geral de Previdência Social – RGPS
Instituído em benefício dos trabalhadores da iniciativa privada e de servidores que não sejam abrangidos por sistema próprio de previdência (alguns municípios não possuem regime de previdência). O RGPS é gerido pelo INSS.
Regime próprio
Instituído em benefício dos servidores com vínculo efetivo com a Administração e mantido pelas entidades federativas (União, estados, Distrito Federal e municípios). Os inúmeros regimes próprios abrangem grupos determinados e são regidos por regras próprias que, por vezes, são bastante diferentes do RGPS.
Com essa base histórica e conceitual, passamos agora a analisar os princípios da Seguridade Social, lembrando sempre de sua composição fincada nas áreas da saúde, previdência e assistência,de modo que os princípios que veremos se referem a essas três áreas de forma conjunta. Apesar do art. 194, parágrafo único, da CRFB falar em objetivos, a doutrina entende que esses “objetivos”, na verdade, são os princípios da Seguridade Social elencados pela Carta Política:
UNIVERSALIDADE DA COBERTURA E ATENDIMENTO
A universalidade se refere aos eventos ou infortúnios que devem ser cobertos pelo sistema. Há quem faça a ligação desse princípio com a obrigatoriedade da participação de todos (não é uma opção fazer parte ou não do sistema de proteção e contribuir para sua manutenção [no caso previdenciário] – todos são abrangidos).
UNIFORMIDADE E EQUIVALÊNCIA DOS BENEFÍCIOS PARA POPULAÇÕES URBANAS E RURAIS
A equivalência não significa igualdade, mas o tratamento deve ser uniforme, respeitando as peculiaridades.
SELETIVIDADE NAS PRESTAÇÕES, CONFERINDO VANTAGENS AOS MAIS NECESSITADOS
A seletividade também engloba a ideia de que não serão concedidos todos os benefícios para todas as pessoas, mas apenas para as que se enquadrarem na situação prevista em lei (ex.: não se permite uma pensão por morte se não houver um dependente que não esteja entre os previstos em lei).
IRREDUTIBILIDADE DO VALOR DOS BENEFÍCIOS
Numa expressão da vedação ao retrocesso social, os benefícios (especialmente os da assistência social) não podem ter valor reduzido. É uma orientação diferente da prevista pelo art. 201 §4º (que se aplica somente à previdência): “reajustamento dos benefícios para preservar-lhes, em caráter permanente, o valor real”. Os benefícios previdenciários devem preservar o valor real, os demais apenas têm garantia de não redução do valor nominal.
EQUIDADE NO CUSTEIO
Exprime a ideia de que os mais abastados devem contribuir com a maior parcela na sustentação do sistema. Surge uma pergunta sobre esse princípio: haveria a possibilidade de fatores sociais reduzirem a zero o custeio para certas pessoas? Isso porque, em diversas situações, há significativo deslocamento de renda. Na área assistencial, parece não haver maiores dúvidas, mas até que medida isso seria admitido na área previdenciária?
DIVERSIDADE DA BASE DE FINANCIAMENTO
Diversas contribuições diferentes alimentam o sistema da seguridade social (folha de salários, faturamento, lucro, concurso de prognósticos etc.), o que garante, mesmo diante de uma crise setorial, que seja possível manter a higidez do sistema.
No que concerne ao Regime Geral da Previdência Social (RGPS), o art. 201 da CRFB prevê:
Caráter contributivo
Filiação obrigatória
Preservação do equilíbrio financeiro e atuarial
Proteção: doença, invalidez, idade avançada, maternidade e desemprego
Proteção a dependentes: em razão de morte do segurado
Proteção a dependentes (de baixa renda): salário-família e auxílio-reclusão
Sob o ponto de vista subjetivo, o sistema é tripartite, com o financiamento pelo empregador, pelo empregado e pelo Estado (art. 195 CRFB).
E quem paga a conta? A saúde financeira da Previdência Social
A preocupação com a rigidez do sistema de proteção social faz com que sejam apresentadas algumas diretrizes constitucionais para garantir a saúde financeira da Previdência Social:
O ART. 167, XI, CRFB (INCLUÍDO PELA EC 20/98)
Veda a utilização dos recursos provenientes das contribuições sociais de que trata o art. 195, I, a [patronal], e II [segurados], para a realização de despesas distintas do pagamento de benefícios do RGPS (ideia de receita tipicamente previdenciária, dentro das receitas da seguridade).
ANTES DA EC 103/19
Exigência de lei complementar para concessão de anistia ou remissão. Depois da EC 103/19, surge uma vedação mais forte: não se admite mais remissão e anistia para a parte patronal e de empregados, além de serem vedados parcelamentos e moratórias por prazos superiores a 60 meses (impossibilita REFIS por lei). O art. 31 da EC nº 103 de 2019 resguarda o direito adquirido dos aderentes, mas impossibilita a reabertura de prazos em REFIS anteriores.
EXIGÊNCIA DE CND (CERTIDÃO NEGATIVA DÉBITO) OU CPD-EN (CERTIDÃO POSITIVA COM EFEITO DE NEGATIVA): ART. 195 §3º
Art. 195 §3º
A pessoa jurídica em débito com o sistema da seguridade social, como estabelecido em lei, não poderá contratar com o Poder Público nem dele receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios
FONTES COMPLEMENTARES DE CUSTEIO
Art. 195 §4º
A lei poderá instituir outras fontes destinadas a garantir a manutenção ou expansão da seguridade social, desde que obedecidos certos requisitos
CORRESPONDÊNCIA BENEFÍCIO – CUSTEIO
Art. 195 §5º
Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ou estendido sem a correspondente fonte de custeio total. Esse comando está na redação original da CRFB. Pergunta-se: Isso vem sendo respeitado pelos benefícios que confundem previdência com assistência social?
Por outro lado, também existem certas imunidades e proteções ao contribuinte:
IMUNIDADE
Art. 195 §7º
São isentas de contribuição para a seguridade social as entidades beneficentes de assistência social que atendam às exigências estabelecidas em lei.
PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE NONAGESIMAL QUE SUBSTITUI O PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE DE EXERCÍCIO PARA TRIBUTOS EM GERAL
Art. 195 §6º
As contribuições sociais de que trata esse artigo só poderão ser exigidas após decorridos noventa dias da data da publicação da lei que as houver instituído ou modificado, não se lhes aplicando o disposto no artigo 150, III, b (anterioridade de exercício).
EQUIDADE E PROPORCIONALIDADE NO SISTEMA DE CUSTEIO
Art. 195 §9º
As contribuições sociais patronais (art. 195, I) poderão ter alíquotas ou bases de cálculo diferenciadas em razão da atividade econômica, da utilização intensiva de mão de obra, do porte da empresa ou da condição estrutural do mercado de trabalho.
Obs.: Tema 470 da Repercussão Geral no STF, julgado em junho de 2018: “É constitucional a contribuição adicional de 2,5% (dois e meio por cento) sobre a folha de salários instituída para as instituições financeiras e assemelhadas.”.
Vistos o histórico, os princípios e os objetivos que norteiam a Seguridade e a Previdência Social, vamos exercitar a identificação das suas singularidades e, no próximo módulo, tratar do Direito Previdenciário e seus institutos.
MÓDULO 3
Reconhecer institutos fundamentais do Direito Previdenciário
Alguns dos conceitos e institutos fundamentais do Direito Previdenciário ficam mais evidentes quando comparamos regimes distintos. Ou seja, quando enxergamos as diferenças ou oposições entre dois regimes previdenciários diferentes, entendemos melhor os mecanismos e os objetivos que norteiam as regras desse ramo do Direito.
Façamos então uma comparação (ressaltando as diferenças) entre o Regime Geral (RGPS) e o Regime Próprio dos Servidores da União (RPPS dos Servidores da União):
INTEGRALIDADE E PARIDADE NO VALOR DO BENEFÍCIO
Para servidores que ingressaram antes da EC nº 41 de 2003, há a possibilidade de concessão de benefício previdenciário com integralidade ou paridade. O fim da integralidade no RPPS foi regulado (em âmbito nacional e não apenas para servidores federais) pela Lei 10.887/04.
· O que é integralidade? Percepção de proventos e pensão igual à totalidade da remuneração no momento da aposentadoria;
· O que é paridade? Concessão dos mesmos aumentos e reajustes atribuídos aos servidores ativos (protrai a igualdade remuneratória de ativos e aposentados no tempo);
· Há integralidade e paridade no RGPS? Não. No RGPS nunca existiu paridade ou integralidade. Para servidores que ingressaram depois da Lei 10.887/04, também não existe
TETO DE CONTRIBUIÇÃO
O segurado é obrigado a contribuir sobre todo o seu salário ou há um teto (além do qual não é cobrado nenhum valor adicional de contribuição previdenciária)?
· Servidor Federal que ingressa até a Lei 12.618/12: contribui sobre o total da remuneração e tem cálculo do benefício em cima do total que contribuiu (sem aplicar o teto do RGPS na contribuição e no benefício);
· Servidor Federal que ingressa após a Lei 12.618/12: contribui, no máximo, sobre o teto do RGPS e recebe benefícioconsiderando esse mesmo teto;
· RGPS: sempre houve teto de contribuição, que é reajustado anualmente. O segurado do RGPS contribui até o teto (não incide contribuição sobre o que ultrapassar) e receberá benefício também limitado a esse teto, igual aos servidores que ingressaram após a Lei 12.618/12.
Observações:
A Lei 12.618/12 institui o Regime de Previdência Complementar para os servidores públicos federais. A adesão é opcional e funciona de forma parecida com os fundos de previdência fechados (Previ, Petros, Postalis etc.).
Houve possibilidade e regra para todos os servidores antigos que quiseram migrar para o novo sistema, recebendo um benefício especial em razão das contribuições já realizadas além do teto. A Lei 13.809/18 possibilitou a migração até 03/2019
RECOLHIMENTO AO SISTEMA PREVIDENCIÁRIO DEPOIS DE SE APOSENTAR
· EC nº 41 de 2003 previu a contribuição de servidores inativos. O art. 5º da Lei 10.887/04 estabeleceu 11% sobre o que exceder o teto do RGPS. As ADINs 3105 e 3128 consideraram constitucional essa cobrança;
· Não há contribuição de aposentados ou pensionistas vinculados ao RGPS;
· Mudança advinda com a EC nº 103 de 2019: contribuição adicional progressiva conforme tabela do art. 11, que prevê alíquotas de até 22% sobre o que exceder o teto do RGPS.
POSSIBILIDADE DE CASSAÇÃO DA APOSENTADORIA
Aplica-se apenas a servidores (art. 134 da Lei 8.112/90), não encontrando paralelo no RGPS. Para alguns, a cassação da aposentadoria fulmina a ideia de sistema contributivo. No RGPS, não há possibilidade de se desconsiderar contribuições ou tempo de serviço (pertencem ao patrimônio do trabalhador). As cassações de aposentadoria no RGPS ocorrem em razão de não ter havido o vínculo ou as remunerações que deram base à concessão (fraude na contagem de tempo ou inserção indevida de salários de contribuição) e não como punição por desvios de natureza trabalhista. Os delitos de servidor no exercício da função podem ser punidos com perda da aposentadoria.
Essas foram, portanto, algumas diferenças entre o RGPS e o RPPS dos servidores da União. Tais diferenças nos ajudam a compreender alguns institutos muitas vezes debatidos nos círculos que discutem o Sistema Previdenciário e suas reformas. Como se pode observar, os sistemas foram gradativamente se aproximando, tendo esse processo culminado com a EC nº 103 de 2019, que busca parametrizações cujo norte é a equivalência das regras.
Saiba mais
O Regime dos Militares das Forças Armadas não entrou nessa equivalência, preservando regras próprias muito distantes das estabelecidas para o RGPS ou o RPPS dos servidores. A EC nº 103 de 2019 não tratou da previdência dos militares. As alterações desse regime foram feitas pela Lei 13.954/19.
Feitas essas considerações iniciais, partiremos para um conhecimento mais aprofundado do Regime Geral de Previdência Social (RGPS) e nosso primeiro passo será identificar os sujeitos protegidos por esse regime. São eles:
Trabalhadores que possuem relação de emprego regida pela CLT
Empregados rurais – Lei nº 5.889/73
Empregados domésticos - LC 150/15
Trabalhadores autônomos, eventuais ou não
Empresários, titulares de firma individual ou sócios gestores
Trabalhadores avulsos mediante Órgão Gestor de Mão de Obra (OGMO) ou sindicatos
Pequenos produtores rurais e pescadores artesanais (economia familiar)
Servidor exclusivamente em cargo comissionado (art. 40, §13)
Os dependentes de todos esses trabalhadores
Como se pode observar, são muitas categorias e isso se dá porque a ideia do Regime Geral é abranger todas as atividades remuneradas que não são amparadas por algum regime próprio de previdência (RPPS) e, assim, alcançar um dos princípios da Seguridade Social que é a universalidade da cobertura e do atendimento.
DIVISÃO DOS SEGURADOS DO RGPS
Segurado obrigatório
Aquele que se filia de forma compulsória à Previdência Social, em razão de exercer atividade remunerada, efetiva ou eventual, de natureza urbana ou rural, com ou sem vínculo de emprego, a título precário ou não.
Segurado facultativo
Aquele que, mesmo não tendo vínculo obrigatório de filiação, deseja participar do sistema e alcançar seus benefícios. Ex.: quem realiza trabalho doméstico no âmbito de sua própria residência.
EMPREGADO
Empregado, segundo definição do art. 3º da CLT, é aquele que presta serviço de natureza urbana ou rural à empresa, em caráter não eventual, sob sua subordinação e mediante remuneração. Empregado temporário e trabalhador intermitente se enquadram como empregado (Lei 13.467/17). Por questão de política legislativa, o conceito de empregado não se aplica de forma absoluta em todas as hipóteses previstas no art. 11, I, da Lei 8.213/91, como, por exemplo, o servidor público ocupante de cargo em comissão, sem vínculo efetivo com a União, autarquias, inclusive em regime especial, e fundações públicas federais e àqueles que exercem mandato eletivo desde que não estejam vinculados a regime próprio;
EMPREGADO DOMÉSTICO
Aquele que presta serviço de natureza contínua à pessoa ou família, no âmbito residencial delas, em atividades sem fins lucrativos. Grandes modificações na categoria foram previstas na LC 150/15
CONTRIBUINTE INDIVIDUAL
Esta categoria engloba:
a. Empresário (sócio-gerente, sócio cotista, titular de firma individual, diretor não empregado, conselho de administração de SA, titular de EIRELI);
b. Diretor de cooperativa ou associação;
c. Autônomo (presta serviço de natureza urbana ou rural, em caráter eventual, a uma ou mais empresas, sem relação de emprego ou presta serviços diretamente à PF exercendo atividade de natureza urbana);
d. Síndico de condomínio;
e. Pessoa Física que tenha empregados que não sejam domésticos;
f. Pessoa Física que explora atividade agropecuária em área superior a quatro módulos fiscais;
g. Garimpeiro;
h. Médico residente (Lei 6.932/81);
i. Ministro de confissão religiosa sem vínculo empregatício com a instituição a qual pertence.
 TRABALHADOR AVULSO
Quem, sindicalizado ou não, presta a diversas empresas, sem vínculo empregatício, serviço de natureza urbana ou rural. Conforme o Decreto 3.048/99, possuem as seguintes características:
a. Intermediação obrigatória do OGMO ou sindicato de categoria;
b. Não há vínculo empregatício com tomadores de serviço, sindicato ou OGMO;
c. Eventualidade da prestação sob a ótica das empresas tomadoras de serviço.
 SEGURADO ESPECIAL
Pessoa física residente no imóvel rural ou em aglomerado urbano ou rural próximo a ele que, individualmente ou em regime de economia familiar(Regime de economia familiar é definido como a atividade em que o trabalho dos membros da família é indispensável à própria subsistência, exercido em condições de mútua dependência e colaboração, sem a utilização de empregados permanentes (admite-se até 120 dias x pessoas por ano).), ainda que com o auxílio eventual de terceiros, seja:
a. produtor agropecuário em área até quatro módulos;
b. seringueiro ou extrativista vegetal;
c. pescador artesanal;
d. cônjuge ou filho maior de 16 anos que trabalhe com o grupo familiar.
Saiba mais
Observações que valem para qualquer trabalhador: todos que exercerem, concomitantemente, mais de uma atividade remunerada sujeita ao RGPS são obrigatoriamente filiados em relação a cada uma delas. Todavia, o segurado especial deixa de sê-lo caso assuma condição de qualquer outro segurado obrigatório.
SEGURADOS DE BAIXA RENDA
A CF, art. 201, §12 e 13 (introduzido pela EC nº 41 de 2003 e alterado pela EC nº 47 de2005) prevê a figura do segurado de baixa renda com a possibilidade de inclusão previdenciária. Para esses segurados, haverá alíquotas e carências inferiores às vigentes para os demais segurados.
As regras para os segurados de baixa renda foram previstas pela Lei 12.470/11 (que alterou o art. 21 da Lei 8.212/91 – Lei de Custeio da Previdência Social (LCPS)): contribuem com 5% do salário mínimo e devem se enquadrar em uma das seguintes situações:
Microempreendedor individual (previsto no art. 18-A da LC 123/06).
Segurado facultativo (que se dedique exclusivamenteao trabalho doméstico no âmbito de sua residência), inscrito no CadÚnico e cuja renda familiar total seja de até 2 salários mínimos.
Vamos falar dos dependentes?
São pessoas ligadas ao RGPS não em razão de sua própria atividade remunerada, mas como dependentes dos segurados. As Classes de Dependentes estão previstas no art. 16 da Lei 8.213/91 – Lei de Benefícios da Previdência Social (LBPS):
O cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não emancipado menor de 21 anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental ou deficiência grave.
Os pais
O irmão não emancipado menor de 21 anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental ou deficiência grave.
1. Para fins de concessão de benefício, a existência de dependente de qualquer das classes precedentes exclui o direito das classes seguintes. Havendo mais de uma pessoa numa mesma classe, há divisão do valor em partes iguais entre os dependentes.
2. Cessado o benefício para alguém dentro de determinada classe, haverá nova divisão do valor entre os remanescentes dentro da classe. Quando acabarem todos os dependentes da mesma classe, cessa o benefício, não passando para as classes subsequentes.
3. A dependência econômica das pessoas indicadas na classe I é presumida e a das demais deve ser comprovada (há jurisprudência favorável ao entendimento de que a presunção de dependência econômica das pessoas indicadas na classe I é absoluta, mas não é pacífica).
4. O momento da verificação da dependência econômica é a época do óbito (princípio do tempus regit actum) – há controvérsias também sobre esse ponto, mas essa é a posição que prevalece
Quais os benefícios destinados aos dependentes?
Pensão por morte
Auxílio-reclusão
Serviço social
Reabilitação profissional
A existência de dependente de qualquer das classes desse artigo exclui do direito às prestações os das classes seguintes.
O ENTEADO E O MENOR TUTELADO
Equiparam-se a filho mediante declaração do segurado e desde que comprovada a dependência econômica na forma estabelecida no regulamento. A dependência econômica dos dependentes de Classe I é presumida e a das demais classes deve ser comprovada. Vale destacar que as provas de união estável e de dependência econômica exigem início de prova material (documental) contemporânea dos fatos, produzido em período não superior a 24 (vinte e quatro) meses anterior à data do óbito ou do recolhimento à prisão do segurado, não admitida a prova exclusivamente testemunhal, exceto na ocorrência de motivo de força maior ou caso fortuito, conforme disposto no regulamento.
FILIAÇÃO E INSCRIÇÃO NO RGPS
Para o segurado obrigatório, nasce a relação de seguro social no primeiro dia de trabalho, porque é nessa data que se dá sua filiação ao RGPS. Para o segurado facultativo, a relação se inicia no dia em que ocorre sua inscrição no RGPS, com a primeira contribuição vertida (art. 20, e parágrafos do Dec. 3.048/99). A forma de inscrição dos segurados e dependentes é disciplinada pelos arts. 17 a 24 do Dec. 3.048/99.
Vistas as espécies de segurado e seus dependentes, vamos agora compreender os aspectos relacionados à carência.
CARÊNCIA
O que é a carência no RGPS? É o número de contribuições mensais indispensáveis para que o beneficiário faça jus ao benefício, consideradas a partir do transcurso do primeiro dia dos meses de suas competências (artigo 24 da LBPS).
Obs.: Entrou em 29 de março no local de trabalho. Esse mês de março conta como carência? Sim; até a EC 103/19. Veja-se a redação da IN 77/05, art. 145.
A EC nº 103 de 2019 (art. 195, §14) altera a regra: podem ser reconhecidas como tempo de contribuição somente competências cuja contribuição seja igual ou superior à contribuição mínima mensal exigida para a categoria do segurado, admitido o agrupamento de contribuições. O art. 29 da EC faculta soluções, desde que ocorra no mesmo ano civil:
1. complementação do valor para atingir o limite mínimo;
2. utilizar o valor excedente a um salário mínimo de outra competência para suprir a complementação da competência que esteja abaixo do salário mínimo;
3. agrupar contribuições inferiores ao mínimo em diferentes competências para superar o patamar de 1 SM.
Períodos de carência conforme a espécie de benefício
AUXILIO DOENÇA E APOSENTADORIA POR INVALIDEZ
São 12 meses, exceto nos casos de acidente de qualquer natureza ou causa e de doença profissional ou do trabalho, bem como nos casos de segurado que, após filiar-se ao RGPS, for acometido de alguma das doenças e afecções especificadas em lista elaborada pelos Ministérios da Saúde e da Previdência Social. A lista está no artigo 147, II, anexo XLV, da Instrução Normativa 77/2015 do INSS. Ex.: cegueira, tuberculose, hanseníase, alienação mental, neoplasia maligna, cardiopatia grave etc.
Obs.: É importante diferenciar os dois institutos: qualidade de segurado X carência. A preexistência da incapacidade em relação à filiação impede a concessão de benefícios, pois retiraria o caráter de seguro social. A dispensa de carência não é sinônimo de dispensa da qualidade de segurado no momento em que a pessoa é acometida pela enfermidade. A pessoa precisa ser segurada do RGPS antes de se tornar incapaz, ainda que a carência possa ser, em alguns casos, dispensada.
APOSENTADORIA POR IDADE, POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO,ESPECIAL E DA PESSOA COM DEFICIENCIA
São 180 meses (observando o art. 142 da LBPS: tabela de redução para quem completa requisitos até 2011);
 SALÁRIO- MATERNIDADE
 São 10 meses (contribuinte individual e facultativa), não havendo carência para a empregada, empregada doméstica e avulsa. A segurada especial deve comprovar exercício de atividade rural nos últimos dez meses imediatamente anteriores ao requerimento;
 AUXILIO ACIDENTE,SALARIO- FAMILIA,PENSAO POR MORTE,AUXIO RECLUSAO.
Não há carência.
Início da contagem da carência conforme a espécie de segurado:
Segurados empregados (inclusive domésticos) e trabalhadores avulsos
A partir da filiação ao RGPS (art. 27, inciso I, LBPS).
Contribuinte individual e facultativo
A contar do pagamento da primeira contribuição sem atraso (art. 27, inciso II, LBPS).
Qual a ideia por trás da diferenciação? Distinguir quem está obrigado legalmente a fazer o recolhimento (não podemos ser prejudicados por eventual omissão de terceiros). Como o contribuinte individual e o facultativo estão, em regra, obrigados ao próprio recolhimento, para eles só conta a carência a partir da 1ª contribuição em dia.
Atenção
Em relação ao CI, conforme entendimento do STJ (REsp 1.346.852 em 05/2013), não se admite recolhimento de contribuições previdenciárias post mortem a fim de que, reconhecida a qualidade de segurado do falecido, seja garantida a pensão por morte. A MP 871/19 convertida na Lei 13.846/19 introduz o §7º no art. 17 da LBPS: proíbe a inscrição post mortem de segurado contribuinte individual e segurado facultativo.
Veja também outros pontos relacionados à carência:
REDUTOR DE CARÊNCIA
Há um redutor de carência para os benefícios de auxílio-doença, aposentadoria por invalidez e salário-maternidade. A previsão está no art. 27-A da LBPS (Lei 8.213/91) – situação: era segurado, perdeu qualidade de segurado e retornou ao sistema. Quando recupera as contribuições anteriores? Quando recolher metade das contribuições exigíveis a título de carência do benefício pretendido.
EXCLUSÃO DE CARÊNCIA
Há também hipóteses de exclusão de carência aplicáveis aos benefícios por incapacidade: quando ocorre um acidente de qualquer natureza ou causa, doença profissional ou do trabalho, ou quando o segurado é acometido por uma das doenças descritas no art. 1º da Portaria Interministerial 2.998 de 2001 (tuberculose ativa; hanseníase; alienação mental; neoplasia maligna; cegueira; paralisia irreversível e incapacitante; cardiopatia grave; doença de Parkinson; espondiloartrose anquilosante; nefropatia grave; estado avançado da doença de Paget [osteíte deformante]; síndrome da deficiência imunológica adquirida (Aids); contaminação por radiação, com base em conclusão da medicinaespecializada; e hepatopatia grave).
A exclusão de carência não elimina os óbices relativos a eventual preexistência da doença, situação na qual o benefício é indeferido.
Vista a carência, passamos a outro instituto, cujo objetivo é garantir a manutenção da qualidade de segurado durante algum tempo, mesmo que cessadas as contribuições ou o exercício de atividade considerada como de filiação obrigatória ao RGPS.
PERÍODO DE GRAÇA
O Período de Graça (art. 15 da Lei 8.213/91) é o período em que o indivíduo continua filiado ao RGPS, mesmo não exercendo atividade que o enquadre como segurado obrigatório, nem contribuindo mensalmente como segurado facultativo.
Em razão do Período de Graça, a perda da qualidade de segurado ocorrerá no dia seguinte ao término do prazo para recolhimento da contribuição referente ao mês imediatamente posterior ao final do Período de Graça.
Veja o exemplo a seguir:
Supondo que o Período de Graça seja de 12 meses e a demissão do empregado tenha sido em 14/04/2016. Quando ele perde a qualidade de segurado?
PERÍODO DE GRAÇA DEFINIDO EM LEI
Mantém a qualidade de segurado, independentemente de contribuições:
· sem limite de prazo, quem está em gozo de benefício;
· por 12 meses após a cessação das contribuições, o segurado que deixar de exercer atividade remunerada abrangida pela Previdência Social ou estiver suspenso ou licenciado sem remuneração;
· por 12 meses após o livramento, o segurado retido ou recluso;
· por 3 meses após o licenciamento, o segurado incorporado às Forças Armadas para prestar serviço militar;
· por 6 meses após a cessação das contribuições, o segurado facultativo.
Atenção
O segurado que deixar de exercer atividade remunerada tem Período de Graça prorrogado para 24 meses se já tiver pago mais de 120 (cento e vinte) contribuições mensais sem interrupção que acarrete a perda da qualidade de segurado.
Serão acrescidos 12 meses para o segurado desempregado, desde que comprovada essa situação pelo registro no órgão próprio do Ministério do Trabalho e da Previdência Social.
Fechamos o Período de Graça e passamos a um tema que gera alguma controvérsia em razão de representar uma mudança de paradigma que iniciou em 1998 (EC 20) e se estende até os dias atuais. Trata-se da diferenciação entre tempo de serviço X tempo de contribuição.
TEMPO DE SERVIÇO X TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO
Até 1998, os benefícios eram garantidos em razão do tempo de serviço. Havia a obrigação legal de recolhimentos, mas o foco da análise dos benefícios era o serviço prestado. Por questões econômicas e de sustentação do sistema, a EC nº 20 de 1998 iniciou a mudança de paradigma para deixar de lado o tempo de serviço e adotar o foco no tempo de contribuição.
Todavia, a Lei 8.213/91 continuou usando a expressão tempo de serviço. E como não há definição legal do que deva ser considerado como tempo de contribuição, consideram-se ainda aplicáveis (em muitos casos) os conceitos de tempo de serviço para esse fim (art. 4º da EC nº 20 de 1998). Vale dizer que será considerado como tempo de serviço (art. 60 do Decreto 3.048/99):
1. Período intercalado em que esteve em gozo de auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez;
2. Tempo de serviço militar ou de serviço civil alternativo;
3. Período de gozo de licença-maternidade;
4. Período de contribuição como segurado facultativo;
5. Período de licença remunerada, desde que tenha havido contribuição;
6. Tempo de contribuição em outro regime (RPPS) mediante contagem recíproca;
7. Mandato eletivo quando não contado para outro regime;
8. Vitimado por atos de exceção que tenham sido compelidos ao afastamento de atividade remunerada no período de 18/09/46 a 05/10/88;
9. Licença remunerada;
10. Período como aluno-aprendiz referente ao período de aprendizado profissional em escola técnica, desde que comprovada a remuneração, mesmo que indireta, à conta do orçamento público e o vínculo empregatício.
Obs.: O INSS costuma considerar o tempo em que o segurado esteve em gozo de auxílio-doença como tempo de contribuição, mas não conta esse período para fins de carência (ante a ausência de contribuição). A jurisprudência amplamente majoritária considera o auxílio-doença também para fins de carência.
MEI E CONTRIBUINTE INDIVIDUAL
Há uma figura de natureza jurídica híbrida (empresa e contribuinte individual ao mesmo tempo) que ganhou bastante espaço nos últimos anos e merece ser aqui tratada sob o ponto de vista previdenciário. Trata-se do microempreendedor individual (MEI). A LC 128/08 criou, com vigência a partir de julho de 2009, a figura do MEI, por meio da introdução do art. 18-A na LC 123/06 (Estatuto da ME e EPP). Podem ser úteis algumas distinções entre as figuras do MEI e da microempresa:
	MEI (art. 18-A da LC 123)
	MEI é empresário (art. 968, §4º CC)
	Receita até R$81.000 por ano
	Pode ter até 1 empregado
	Contribuições migram do DARF para o CNIS
	Microempresa (art. 3º da LC 123)
	Microempresa tem administrador
	Receita até R$360.000 por ano
	Pode ter mais empregados
	Necessidade de fazer GFIP
MEI
A Contribuição do MEI é de 5% sobre o salário mínimo (art. 21, §2º, II, “a” da Lei nº 8.212/91, com redação pela Lei 12.470/11) e é realizada pelo próprio MEI.
Sócio da microempresa
A contribuição do sócio da microempresa que ganhe pró-labore é de 11% sobre o valor do pró-labore (retido e recolhido pela microempresa – art. 4º da Lei 10.666/03).
Até aqui, vimos diversos aspectos do RGPS e institutos que se relacionam com a concessão dos benefícios previdenciários, mas ainda não falamos sobre a renda desses benefícios, o que faremos agora.
Renda Mensal Inicial (RMI) – traduz-se como renda inicial (valor) do benefício a ser recebida pelo segurado ou dependente. Para compreendermos como se chega a esse montante, alguns conceitos prévios são necessários:
SALARIO DE CONTRIBUIÇÃO
São os valores que servem de base de cálculo para a incidência da contribuição previdenciária paga pelo segurado ao longo da sua vida. Via de regra, retrata a remuneração recebida em razão da atividade que o vincula ao RGPS.
PERIODO BASICO DE CALCULO(PBC)
É o lapso temporal cujos salários de contribuição (SC) serão levados em conta no cálculo do salário de benefício (SB).
SALARIO BENEFICIO(SB)
Valor obtido a partir de uma média dos salários de contribuição (SC) durante o período básico de cálculo (PBC), observando, ao final, os limites mínimo (salário mínimo) e máximo (teto do RGPS) e a incidência ou não do fator previdenciário, conforme o caso. Esse cálculo se dá na forma do art. 29 da Lei 8213/91.
FATOR PREVIDENCIARIO
Criado pela Lei nº 9.876/99, insere-se na fórmula do salário de benefício da aposentadoria por tempo de contribuição (obrigatoriamente) e da aposentadoria por idade (facultativamente).
Obs.: O salário de benefício é o valor usado para o cálculo da Renda Mensal Inicial dos principais benefícios previdenciários de pagamento continuado (exceções: SFam e SMat). A regra é: RMI = SB x Cf, onde Cf é o coeficiente de cálculo específico para o benefício pretendido (91% para auxílio-doença e 50% para auxílio-acidente). Muitos coeficientes mudaram com a EC 103/19 (veremos essas mudanças quando abordarmos cada benefício especificamente).
Para melhor compreensão, vejamos como se calcula o salário de benefício (SB) na aposentadoria por tempo de contribuição (ATC) e na aposentadoria por idade (APID):
Antes da EC 103/19
Média aritmética simples dos maiores salários de contribuição correspondentes a 80% do PBC, multiplicada pelo fator previdenciário. Para APID, o fator previdenciário é opcional.
Depois da EC 103/19 (art. 26)
Média aritmética simples de todos os salários de contribuição do PBC.
Saiba mais
A EC (Emenda Constitucional) 103/19 incluiu uma regra nova (art. 26 § 6º), que permite exclusão de contribuições que abaixem o salário de benefício. Em especial, depois da alteração que determina o cálculo com 100% do PBC e não mais as 80% maiores contribuições, essa opção pode trazer diferenças significativas. Mas vale dizer: se excluir as contribuições, deve excluir também o tempo e todosos seus efeitos, inclusive para averbação em outros regimes (RPPS).
O salário de benefício (por força do art. 29, §2º) e a RMI (por força do art. 33) respeitam o limite máximo (teto) do RGPS. Exceções:
1. 25% sobre aposentadoria por invalidez (art. 45 da Lei 8.213/91);
2. Salário-maternidade (arts. 72 e 73 da Lei 8.213/91).
A partir da EC nº 103 de 2019, também por força constitucional (art. 26, §1º), há limitação do salário de benefício (SB) ao teto do RGPS.
Comentário
Sempre são levados em conta os 80% de maiores salários ou os 100% maiores salários dentro de uma média aritmética simples? Não (art. 3º, §2º da Lei 9.876/99); deve haver pelo menos 60% de contribuições no PBC (de julho de 1994 até o momento da aposentadoria). Isso é o que se chama de divisor mínimo (60% do período contributivo). A ideia é privilegiar aqueles que têm muitas contribuições e não deixar que haja vantagem para aqueles que possuem poucas contribuições com valores altos. Desse modo, se não houver ao menos 60% de meses com contribuições no PBC, não haverá mais a média aritmética simples, mas o somatório do que se contribuiu ao longo do tempo, dividido pelo divisor mínimo (número de meses correspondente a 60% do PBC).
Vejamos o seguinte exemplo:
Aposentadoria em dezembro de 2016: de julho/1994 a dezembro/2016 = 270 meses. Então, 60% de 270 = 162 (esse é divisor mínimo):
Clique nas informações a seguir.
Situação 1
Pessoa tem 220 contribuições
80% de 220 = 176
Como 176 > 162 – usará as 176 maiores (80% maiores) / 176.
Situação 2
Pessoa tem 180 contribuições
80% de 180 = 144
Como 144 < 162 – usará as 162 maiores (90% maiores) / 162.
Situação 3
Pessoa tem 150 contribuições
Como 150 < 162 – usará todas as 150 (100%) / 162
TESE DA REVISÃO DA VIDA TODA
Pessoas, cujo cálculo compreende os 80% maiores SC desde julho/1994, desejam ver considerados também os salários anteriores (ou seja, de toda a vida contributiva). A diferença é favorável quando houver queda dos SC no final da vida contributiva. Julgado de forma favorável pelo STJ (em dezembro/2019 – Tema 999). Pendente Recurso Extraordinário no STF.
FATOR PREVIDENCIÁRIO
Fator que altera o salário de benefício, levando em conta o tempo de contribuição, a idade na data da aposentadoria e a expectativa de sobrevida do segurado. Essa expectativa é definida a partir de tábua completa de mortalidade para o total da população brasileira, que compete ao IBGE publicar. Aplicação: ATC (aposentadoria por tempo de contribuição) e APID (aposentadoria por idade), sendo que na APID é facultativa.
Observações:
Mesmo com o fator previdenciário, o governo não conseguiu aumentar a idade média de aposentadoria, que se estabilizou, desde 2002, em 54 anos para homens e 51 anos para mulheres. O efeito prático foi a redução do valor dos benefícios quando a renda supera um salário mínimo. Com a EC 103/19, não haverá como não aumentar a idade de aposentadoria, porque as novas regras determinam uma idade mínima a ser alcançada.
Após a EC 103/19, o fator previdenciário continua sendo aplicado, mas em apenas uma regra de transição (pedágio de 50% dos art. 16 da EC), de modo que influenciará cada vez menos até desaparecer completamente.
ACUMULAÇÃO DE BENEFÍCIOS
O §5º do art. 24 da EC nº 103 de 2019 garante o direito adquirido para as acumulações feitas até a data de promulgação da emenda. Mas, a partir da EC nº 103 de 2019 (art. 24), surgiram regras de cálculo para os casos em que o segurado acumula 2 pensões (de regimes diferentes) ou pensão com aposentadoria:
· Recebe o maior benefício de forma integral;
· Recebe o menor benefício conforme a seguinte escala (§2º):
a. 100% até 1 SM;
b. 60% de 1 até 2 SM;
c. 40% de 2 até 3 SM;
d. 20% de 3 até 4 SM;
e. 10% do que superar 4 SM.
· Outra questão que vale a pena ser abordada diz respeito à conexão existente entre o Direito do Trabalho e o Direito Previdenciário, em especial quanto aos efeitos das sentenças trabalhistas para fins previdenciários. Quanto a esse ponto, ressaltemos os seguintes aspectos:
· Por um lado
· Há uma sentença judicial transitada em julgado (no âmbito da Justiça do Trabalho) em que se reconhece um vínculo.
· Por outro lado
· O INSS não participou do processo trabalhista, de modo que não está subjetivamente abrangido pela coisa julgada advinda da reclamatória trabalhista proposta pelo trabalhador.
SENTENÇA TRABALHISTA
Antigamente, o STJ entendia que a sentença trabalhista perfazia início de prova material sem adentrar em como tinha sido a instrução do processo. Nesse entendimento anterior, a sentença trabalhista ganhava força como meio de prova a ser utilizada perante o INSS. Entretanto, julgados mais recentes (AgInt no AREsp 688117 em 11/12/2017 e AgInt nos EDcl no AREsp 1140573 em 19/03/18) apontam para a necessidade de que a instrução do processo trabalhista tenha se dado com provas materiais para que seja possível considerá-la como início de prova material. Ou seja, sentenças homologatórias de acordos sem provas ou com provas exclusivamente testemunhais acabam perdendo força como meio de comprovação de vínculo perante o INSS. Não quer dizer que não seja uma prova, mas não é mais entendida como uma prova material.
Em suma, temos uma posição amplamente dominante no sentido de que a sentença trabalhista não é definitiva quanto à relação previdenciária, nem é prova plena do vínculo, mas apenas início de prova. Se for apenas homologação de acordo, tem ainda menos densidade probante. Nos casos de acordo na JT, a regra é que se faça audiência de instrução com a presença do INSS. Se houver acordo (empresa – empregado) em momento posterior à prescrição das parcelas que seriam devidas pela empresa, é ainda menor a densidade probatória.
O art. 43 da LBPS (8.213/91) prevê que, nas ações trabalhistas de que resultar o pagamento de direitos sujeitos à incidência de contribuição previdenciária, o juiz, sob pena de responsabilidade, determinará o imediato recolhimento das importâncias devidas à Seguridade Social. No §3º, há previsão de que o recolhimento será feito em tantas parcelas quanto as previstas no acordo, nas mesmas datas em que sejam exigíveis e proporcionalmente a cada uma delas.
A Seguridade Social é um tema que interfere em toda a dinâmica social, não se esgota na gestão, na educação e no direito. Sua percepção é plena e viva.

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