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AULA 03 - SEGURIDADE SOCIAL

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DEFINIÇÃO
Apresentação do desenvolvimento histórico e legislativo da Previdência e da Assistência Social,
caracterizando suas peculiaridades e distinções no âmbito da Seguridade Social e elencando os
princípios norteadores do sistema vigente no Brasil, bem como os objetivos constitucionais para a área
da Previdência. Identificação dos requisitos gerais à concessão de benefícios na esfera do Regime Geral
da Previdência Social (RGPS).
PROPÓSITO
Compreender o funcionamento da Seguridade Social como aspecto fundamental para um bom
planejamento do futuro (visão programática) e para salvaguardar a manutenção de um padrão de vida
diante de vicissitudes não esperadas durante o período laborativo (visão securitária).
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Analisar a Seguridade Social na matriz Constitucional
MÓDULO 2
Identificar os principais aspectos da Previdência Social no âmbito da Seguridade Social
MÓDULO 3
Reconhecer as instituições e os principais requisitos de funcionamento da Previdência
INTRODUÇÃO
São inúmeras as vicissitudes que podem atingir uma pessoa ao longo de sua vida. Questões
relacionadas à saúde e ao desamparo em situações de vulnerabilidade podem afetar a vida de todos –
tanto quando se pensa em si próprio quanto se considera aqueles com quem convivemos – e de alguma
forma podem ter laços de dependência.
Para lidar com infortúnios dessa espécie, a sociedade foi desenvolvendo sistemas de proteção ao longo
do tempo, alguns deles com caráter de seguro e outros com características de assistência solidária. Tais
sistemas culminam atualmente, em nosso país, com as previsões constantes do que se denominou
Seguridade Social, que abrange as áreas da Saúde, Previdência e Assistência Social.
A compreensão da sistemática estabelecida pela nossa legislação permite ao cidadão adotar uma
postura de prevenção e previsão quanto ao seu futuro próximo ou longínquo, diante de infortúnios
inesperados ou do simples transcurso do tempo, com o alcance de certa idade em que se pretenda gozar
de uma aposentadoria.
NESSE SENTIDO, VEREMOS OS CAMPOS QUE COMPÕEM A
SEGURIDADE SOCIAL E SUAS PECULIARIDADES,
EXPLORANDO O QUE ATUALMENTE SE OBSERVA EM NOSSA
LEGISLAÇÃO. PARTINDO DE ASPECTOS MAIS GERAIS,
ENTRAREMOS EM CONTATO COM OS PRINCÍPIOS
NORTEADORES DO SISTEMA PARA DEPOIS
PROSSEGUIRMOS COM A CONCEITUAÇÃO DE INSTITUTOS
PREVIDENCIÁRIOS MAIS ESPECÍFICOS, APROFUNDANDO OS
REQUISITOS PARA A CONCESSÃO DE BENEFÍCIOS E OS
FATORES QUE INFLUENCIAM NO MONTANTE A SER AFERIDO
POR CADA BENEFICIÁRIO.
MÓDULO 1
Analisar a Seguridade Social na matriz Constitucional
Fonte: rafapress | Shutterstock
O QUE NORTEIA A IDEIA DE SEGURIDADE
SOCIAL?
Uma boa maneira de nos aproximarmos do tema é começarmos pelo art. 25 da Declaração Universal dos
Direitos Humanos (DUDH - 1948). O que diz a primeira parte?
TODA PESSOA TEM DIREITO A UM NÍVEL DE VIDA
SUFICIENTE PARA LHE ASSEGURAR E À SUA
FAMÍLIA A SAÚDE E O BEM-ESTAR, PRINCIPALMENTE
QUANTO À ALIMENTAÇÃO, AO VESTUÁRIO, AO
ALOJAMENTO, À ASSISTÊNCIA MÉDICA E AINDA
QUANTO AOS SERVIÇOS SOCIAIS NECESSÁRIOS...
Nessa primeira parte, é possível observar a recomendação de políticas afetas à Saúde e à Assistência
Social. E quanto à Previdência? Vamos à segunda parte do art. 25 da DUDH:
... E TEM DIREITO À SEGURANÇA NO DESEMPREGO,
NA DOENÇA, NA INVALIDEZ, NA VIUVEZ, NA
VELHICE...
Na terceira e última parte do art. 25, vemos circunstâncias híbridas, que podem reclamar tanto a
proteção previdenciária quanto a assistencial:
...OU NOUTROS CASOS DE PERDA DE MEIOS DE
SUBSISTÊNCIA POR CIRCUNSTÂNCIAS
INDEPENDENTES DA SUA VONTADE.
Precisamos então sistematizar as políticas afetas à Seguridade Social e, para cumprir esse papel, nossa
Carta Política (a Constituição da República Federativa do Brasil – CRFB) nos dá as diretrizes. No art. 6º,
afirma que são direitos sociais, dentre outros: a Saúde, a Previdência Social e a Assistência aos
desamparados. Se a Constituição Federal define que a assistência se destina aos desamparados, há
necessidade de se buscar parâmetros para definir quem são essas pessoas.
SAIBA MAIS
Ao final do tema você encontrará a indicação de leitura da Constituição da República Federativa do Brasil
(CRFB) no Explore+.
QUAIS SÃO AS DEFINIÇÕES INTERNACIONAIS MAIS
CONHECIDAS?
Linha de pobreza
O nível de renda anual com o qual uma pessoa ou uma família não possui condições de obter todos os
recursos necessários para viver. Segundo o Banco Mundial: US$ 2,00 por dia = US$60,00 por mês por
pessoa. Família de 4 pessoas: US$240,00.
Linha de indigência (ou miséria)
Renda suficiente para comprar apenas os alimentos necessários para repor os gastos energéticos.
Segundo o Banco Mundial: US$1,00 por dia = US$30,00 por mês por pessoa. Família de 4 pessoas:
US$120,00.
SAIBA MAIS
Em 2017, passou-se a uma métrica de linha de pobreza que contemplava outros aspectos que
diferenciam os países (US$3,20/dia para países com renda média baixa e US$5,50/dia para países com
renda média alta – caso do Brasil). Nesse parâmetro, 1/5 da população brasileira estaria abaixo da linha
da pobreza – R$618,75 por pessoa ao mês (no início de 2019 com dólar a R$3,75).
Voltando à CRFB, onde está a previsão constitucional da Seguridade Social? Resposta: o art. 194 da
CRFB define os três ramos da seguridade (Saúde, Previdência e Assistência) e traz aspectos como:
contribuição de todos (inclusive beneficiários) e manutenção de vida digna.
SEGURIDADE SOCIAL
Esse tema não é simples e gera uma discussão sempre presente de filosofia política: “Quais
direitos cabem no Produto Interno Bruto (PIB) de um país?” O debate é amplo e, por isso, aqui
sinalizado para que não se entenda que é um processo meramente informativo.
OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL
SAÚDE
PREVIDÊNCIA SOCIAL
ASSISTÊNCIA SOCIAL
SAÚDE
Direito de todos e dever do Estado (artigo 196 da CRFB) independentemente de contribuição (individual
ou vinculada – então são os tributos de todos que arcam com as despesas). A saúde é norteada por
princípios e diretrizes:
Acesso universal e igualitário (Sistema Único);
Voltada à prevenção, promoção e recuperação (três frentes de atuação);
Prestada pelo poder público diretamente ou por meio de terceiros (art. 199 – livre à iniciativa
privada).
A Saúde no Brasil é integral (art. 198, inciso II) e universal (art. 196) – todos têm acesso (universal) a
todo tipo de assistência, inclusive medicamentos (integral).
PREVIDÊNCIA SOCIAL
É o seguro social para a pessoa que contribui (veja-se a distinção: caráter contributivo, ao menos em
parte). A Previdência Social e o Regime Geral de Previdência (RGPS) serão os tópicos que mais
aprofundaremos ao longo deste tema.
ASSISTÊNCIA SOCIAL
Para quem dela necessitar (art. 203), de caráter não contributivo. Características:
Prestações sociais mínimas e gratuitas a cargo do Estado para manutenção da dignidade e que
poderão ser realizadas por diversas ações;
Tem como público-alvo: maternidade, infância/adolescência, idosos e portadores de limitações.
SAIBA MAIS
Reserva do Possível x Tratamentos Custosos x Tratamentos Experimentais. Haveria recursos públicos
para cobrir qualquer espécie de tratamento custoso ou experimental? O direcionamento desses recursos
não deixaria a descoberto políticas que melhoram a saúde da população como um todo? Na
jurisprudência, foi decidido, no Tema 106 dos Recursos Repetitivos do STJ, em maio de 2018, que a
concessão dos medicamentos não incorporados em atos normativos do SUS exige a presença
cumulativa de requisitos. Confira outros detalhes sobre o assunto no Explore+ ao final deste tema.
O principal benefício (em volume financeiro) pago no Brasil, no âmbito da Assistência Social, é o BPC
LOAS – tem assento constitucional (art. 203, inciso V, da CRFB) e é definido pela Lei 8.742/93 (Lei
Orgânica da Assistência Social). Quem receberá ajuda financeira de um salário mínimo? Idoso e pessoa
com deficiência que comprovem não ter meios de prover sua manutenção ou tê-la provida por sua
família.Há grandes discussões quanto ao valor do salário mínimo (já houve tentativa de alteração legislativa) e
questionamentos sobre ser correta a vinculação do salário mínimo com índice indexador (que se destina
precipuamente a quem trabalha).
SAIBA MAIS
Segundo dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e da
Pension Watch, o Brasil é o único país que paga 100% do salário mínimo a título de benefício
assistencial ao idoso (os percentuais de cada país variam desde menos de 10% até 65%; a média fica
em torno de 45%).
CARÁTER CONTRIBUTIVO (PREVIDÊNCIA) X
CARÁTER NÃO CONTRIBUTIVO (ASSISTÊNCIA)
VAMOS PARTIR OS PROBLEMAS PARA ENTENDER?
Mesmo valor e mesma idade para aposentadoria e benefício assistencial não desestimulam o caráter
contributivo?
RESPONDER
Tanto aposentadoria por idade masculina quanto o BPC-LOAS se dão aos 65 anos e recebem um salário
mínimo.
O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) calcula regularmente qual
valor seria necessário para atender às nove necessidades (moradia, alimentação, educação, saúde, lazer,
vestuário, higiene, transporte e Previdência Social) determinadas pelo art. 7º, inciso IV, da CRFB. Para uma
família de 4 pessoas, segundo esse estudo cuja divulgação é mensal, o salário mínimo deveria ser, em abril
de 2020, R$4.673,39.
Vale notar que:
Isenção de IRPF (em 2019) – até R$1.903,98.
Segundo o PNAD – IBGE (em 2017) – salário médio brasileiro (geral): R$2.178; salário médio para quem
tem nível superior: R$5.110.
Voltando ao LOAS, o principal benefício assistencial sempre foi assim (mesma idade que a
aposentadoria)? Não. Como era o LOAS:
70 anos (até 31/12/1997).
67 anos (de 01/01/1998 até 31/12/2003 – Lei 9720/98).
65 anos (a partir de 01/01/2004 – Lei 10.741/03).
Admitia-se mais de um LOAS por família (jurisprudência estendeu para todos os benefícios até 1 SM).
SAIBA MAIS
Em 1993, uma pessoa com 70 anos tinha expectativa de vida em 10,4 anos. Em 2003, uma pessoa com
65 anos tinha expectativa de vida em 17,8 anos. Em 2018, 18,8 anos. Em resumo: num espaço de 20
anos, o Brasil, devido a alterações legislativas e da tábua de mortalidade, passou a pagar BPC-LOAS por
um período 7,5 anos maior.
Outra questão que gera dúvidas é se a aposentadoria por idade rural para segurado especial tem
natureza previdenciária ou assistencial, já que não se exige contribuições diretas de quem a recebe. Há
uma série de tentativas de mudanças legislativas para melhorar cadastros que visem controlar o direito a
esse tipo de benefício. Por ora, ficamos com três informações:
94% das aposentadorias rurais são concedidas para segurado especial (que não contribui diretamente).
Aposentadoria por idade é a prestação previdenciária com a maior quantidade de beneficiários no Brasil.
Há cerca de 10 milhões de benefícios rurais no Brasil e as aposentadorias rurais representam algo
próximo de 25% do custo total da Previdência.
Mas por que estamos falando disso? Apenas para colocar em perspectiva um problema sobre centro de
custo: A Assistência Social (não contributiva) é feita com o dinheiro da Previdência Social (contributiva)?
E ainda: Qual a relevância disso quando se propõe uma Reforma da Previdência?
Outro conhecido benefício da Assistência Social é o Bolsa Família. Veja o comparativo em relação ao
BPC-LOAS:
Bolsa Família BPC-LOAS
Elegibilidade (2018)
Família em situação de
extrema pobreza (renda
per capita de R$85).
Família em situação de
pobreza (renda per capita
de R$177).
Idoso com mais de 65 anos e
deficientes físicos com renda per
capita abaixo de ¼ de SM (R$238,50).
Valor em 2018
Parte Fixa:
R$89,00 por família em
extrema pobreza.
Parte Variável:
R$41,00 pp até 15 anos.
R$48,00 pp entre 15 e 17
anos.
R$954,00
Custo em 2018 R$30,6 bilhões R$53,8 bilhões
Benefícios pagos
(2018)
14 milhões 4,7 milhões
Efeito multiplicador no
consumo das famílias
2,4 1,54
Aumento nominal
(2004 a 2015)
54% 203%
Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
Fonte: Boletim Legislativo nº 16 de 2014 do Senado Federal com alguns dados atualizados.
A partir do quadro anterior, conseguimos visualizar o alcance e os requisitos que permeiam os dois
principais benefícios pagos com recurso da Assistência Social.
Mas, se há certa interpenetração entre Previdência e Assistência Social, talvez possamos colocar em
perspectiva o que é conhecido como Sistema de Pilares de Proteção para fins do amparo oferecido pela
Seguridade Social.
Premissas para a compreensão:
Nos sistemas não contributivos, a arrecadação provém de parcela da arrecadação tributária geral.
Contribuições sociais são tributos destinados a servir de base financeira para as prestações sociais.
Nos sistemas contributivos, tributos específicos são responsáveis pela prestação previdenciária.
O EXEMPLO DO CHILE DE 1981 A 2008
Uma experiência que parecia ótima: Chile e a experiência de 1981 a 2008 de privatização da previdência
no modelo de capitalização mais a possibilidade de benefício assistencial mínimo (para quem não
conseguisse se cotizar). Em 2008, no ocaso do modelo, institui-se o “aporte provisional solidário” para
quem se cotizou parcialmente.
Até 2004, era comum sustentar-se um
Depois, avança-se para um modelo
baseado no estudo Old Age Income
modelo de três pilares:
Support, de 2005 (Banco Mundial), com
modelo de 5 pilares de proteção:
pilar um: renda mínima para todos
(financiamento nos impostos em geral);
pilar dois: sistema de benefícios
contributivos (financiado por contribuições
sobre salários) – economia coercitiva
(benefício previdenciário suficiente a
garantir ao menos % da renda recebida na
ativa);
pilar três: previdência complementar privada
(em forma de capitalização) – economia
voluntária individual (entregue a
administradoras de fundos de pensão).
pilar zero: não contributivo;
pilar um: contributivo obrigatório em
regime de solidariedade;
pilar dois: contributivo obrigatório em
regime de capitalização individual;
pilar três: acordos voluntários
flexíveis financiados pelo
empregador;
pilar quatro: transferências adicionais
monetárias inter ou intrageracionais.
Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
SAIBA MAIS
Para alguns, a partir do momento em que cada trabalhador faça cotizações apenas para si e sua família
(e não para um fundo que contemple um grupo ou toda a sociedade), desaparece a noção de
solidariedade social. O regime financeiro de capitalização é próprio da previdência privada. Verifique o
Explore + ao final do tema para mais detalhes.
ECONOMICAMENTE, ESSA EXPERIÊNCIA É PERFEITA; O FUNDO
CAPTA, MULTIPLICA, GARANTE O BENEFÍCIO A TODOS E OS
GOVERNOS NÃO FICAM SOBRECARREGADOS. MAS A
CONSEQUÊNCIA É A FUNÇÃO DO ESTADO. AUMENTOU A
EXPECTATIVA DE VIDA. OS DIVIDENDOS PROJETADOS NÃO
CHEGARAM PERTO DOS QUE DEVERIAM SER ESTRUTURADOS.
PREJUÍZO DE QUEM INVESTIU. MAS NÃO É UM INVESTIMENTO, É
UMA GARANTIA DE ESTADO E DA PROTEÇÃO DO TRABALHADOR
QUE FOI POSTA EM XEQUE. E, COM ISSO, POBREZA EXTREMA,
SUICÍDIOS E PERDAS GRAVES DE RENDIMENTO.
Para fechar nosso primeiro módulo, vamos acrescentar algumas informações sobre o principal benefício
(em termos de dispêndios financeiros) da Assistência Social (BPC-LOAS):
FUNDAMENTO LEGAL
Art. 203, inciso V, CRFB, combinado com o art. 20 da Lei 8.742/93 (c/ alterações) e com o Decreto
6.214/07.
ÓRGÃO DE CONCESSÃO
INSS (apesar de ser benefício assistencial).
LEGITIMIDADE PASSIVA (PROCESSO JUDICIAL)
INSS (superada discussão quanto a ser da União).
REQUISITOS PARA A CONCESSÃO
Deficiência ou idade maior que 65 anos (requisito subjetivo);
Renda familiar baixa (a Reclamação nº 4.374/PE, de Relatoria do ministro Gilmar Mendes,
reconheceu, sem pronúncia de nulidade, a parcial inconstitucionalidade do §3º do artigo 20 da
LOAS, que estabelece o critério de ¼ da renda mensal per capita do salário mínimo - requisito
objetivo);
Inscrição e manutençãono Cadastro Único (MP 871/19 e Lei 13.846/19 introduziram o §12 no art.
20 da Lei 8.742/93).
REVISÃO
Revisão a cada dois anos (art. 21 da Lei 8.742/93 e art. 42 do Dec. 6.214/07) e não há direito ao abono
natalino [13º] (art. 22 do Dec. 6.214/07). A questão do 13º no LOAS também está em discussão
legislativa.
TRANSFERÊNCIA A HERDEIROS
Impossibilidade de transferir a herdeiros (art. 23 do Dec. 6.214/07): benefício personalíssimo que não
gera pensão.
SOBRE O REQUISITO SUBJETIVO DA
DEFICIÊNCIA
 Clique nas informações a seguir.
QUAL O CONCEITO?
BASTARIA A EXISTÊNCIA DE ALGUMA DEFICIÊNCIA?
TODA DEFICIÊNCIA IMPEDE QUE A PESSOA SEJA APTA A
PROVER A PRÓPRIA MANUTENÇÃO?
A pessoa que tem impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os
quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade
em igualdade de condições com as demais pessoas (art. 4º, inciso II c/c art. 9º, inciso I, do Dec.
6.214/07). A base desse conceito é a Convenção Sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência
patrocinada pela ONU (03/2007), aprovada pelo Brasil por intermédio do DL 186/08, nos termos do §3º
do art. 5º da Constituição Federal (confere status constitucional).
O art. 20 da Lei 8742/93 dispõe que deve ser comprovada a ausência de meios para prover a própria
manutenção.
Se isso fosse verdade, não seria cabível a existência da Aposentadoria da Pessoa com Deficiência (LC
142/13, que disciplina o art. 201, §1º, da CRFB).
Então, o LOAS tem como base a deficiência, mas não uma deficiência qualquer – a lei exige uma
deficiência qualificada que se aproxima da incapacidade de prover a própria manutenção. A deficiência
precisa ser de longo prazo, definido pelo art. 20 da Lei 8742/93 como a que supera dois anos.
Se o impedimento não for considerado permanente, há possibilidade de reavaliação a cada dois anos
(§7º). Segundo jurisprudência (Tema 173 da TNU), prevalece a ideia de que é imprescindível a
configuração de impedimento de longo prazo com duração mínima de 2 (dois) anos, a ser aferido
no caso concreto, desde o início do impedimento até a data prevista para a cessação.
Se a pessoa vai para o mercado de trabalho, o LOAS cessa (art. 47-A do Dec. 6.214/07). Mas se não se
adapta e atende aos requisitos da legislação, faz jus à nova concessão (art. 25) ou ao restabelecimento
do pagamento a partir da demissão ou do fim do seguro-desemprego (art. 47-A §2º).
Sobre o requisito objetivo da renda, temos um dos grandes problemas nacionais: renda informal. O Dec.
6.214/07, no art. 4º, inciso VI, ao especificar rendimentos que compõem a renda mensal bruta familiar,
expressamente inclui rendimentos do mercado informal e rendimentos auferidos do patrimônio.
ATENÇÃO
A partir do Estatuto do Idoso (art. 34, caput, da Lei 10.741/03), admite-se mais de um LOAS por família.
Isso vem expresso no art. 19, caput, do Dec. 6.214/07. A jurisprudência estendeu a exclusão para todos
os benefícios de idosos até um SM (inclusive previdenciários).
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. NO ÂMBITO DA SEGURIDADE SOCIAL, ENCONTRAMOS AS POLÍTICAS
PÚBLICAS ASSOCIADAS A TRÊS ÁREAS. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE NÃO
SERIA UMA POLÍTICA PÚBLICA DA SEGURIDADE SOCIAL:
A) Implementar um sistema integrado de gestão de leitos disponíveis por especialidade médica nos
hospitais públicos sob a gestão do SUS.
B) Promover a segurança pública por meio de sistemas integrados nacionalmente para gestão e controle
de ocorrências.
C) Alterar os limites e os valores relacionados ao seguro-desemprego.
D) Permitir a acumulação do BPC-LOAS com bolsas de estudo relativas a programas de primeiro
emprego.
2. NO QUE CONCERNE AO BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA (BPC-
LOAS), É CORRETO AFIRMAR:
A) Deve ser pago a todas as pessoas que apresentem deficiência.
B) É devido a quem tem renda familiar total inferior a 1 (um) salário mínimo.
C) Pode ser pago a duas pessoas maiores de 65 anos, no valor de 1 (um) salário mínimo para cada,
ainda que residam juntas.
D) Dispensa o registro da família no Cadastro Único (CadÚnico).
GABARITO
1. No âmbito da Seguridade Social, encontramos as políticas públicas associadas a três áreas.
Assinale a alternativa que não seria uma política pública da Seguridade Social:
A alternativa "B " está correta.
A opção B é política de segurança, estranha ao âmbito da Seguridade Social, que compreende três
ramos: Saúde, Previdência e Assistência Social. A opção A se refere à Saúde. A opção C se refere à
Previdência. A opção D se refere à Assistência Social.
2. No que concerne ao Benefício de Prestação Continuada (BPC-LOAS), é correto afirmar:
A alternativa "C " está correta.
A opção A está errada porque a deficiência deve se estender por prazo superior a dois anos e impedir o
próprio sustento. Opção B está errada porque o BPC-LOAS tem como critério a renda per capita e não a
renda familiar total. Opção C está certa porque o Estatuto do Idoso garante essa possiblidade de
acumulação. Opção D está errada haja vista a MP 871/19, convertida na Lei 13.846/19, ressaltar o
requisito de cadastro e atualização dos dados da família no CadÚnico ao menos a cada 2 anos.
MÓDULO 2
Identificar os principais aspectos da Previdência Social no âmbito da Seguridade Social
Fonte: Freepik
Antes de estudar os princípios que norteiam a Seguridade Social e, dentro dela, a Previdência Social, é
importante verificar o arcabouço histórico de construção desses sistemas de proteção social, pois é da
experiência pregressa da sociedade que se extraem as diretrizes que baseiam o nosso constructo atual
de proteção.
HISTÓRICO DA ASSISTÊNCIA E PREVIDÊNCIA
NO MUNDO
1601
Poor Law (Inglaterra): 1ª lei que instituía contribuição obrigatória para fins de implementar políticas
assistenciais. Foi a única medida até o séc. XVIII. Antes disso, apenas a caridade pessoal/social atuava
para compensar infortúnios.
1762
Surge o seguro de vida (em Londres).
1789
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão – Seguridade Social como direito que deve ser
assegurado a todos.
A PARTIR DE 1850
Estados da Europa gradativamente foram implantando um sistema jurídico de garantia dos trabalhadores
em face dos empregadores e um seguro mediante contribuição dos empregadores (a pedra fundamental
da previdência social).
1883
Modelo de Otto von Bismark (Alemanha) que garantia seguro-doença, aposentadoria e proteção às
vítimas de acidente do trabalho. Teve grande influência na implantação dos primeiros sistemas de
previdência.
1942
William Henry Beveridge (1879-1963), durante a Segunda Guerra Mundial, elaborou um plano (Beveridge
Report) visando erradicar a pobreza e as necessidades sociais, sendo considerado o embrião da
assistência social moderna.
1948
Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) – contempla a universalização dos direitos sociais.
SEGURO DE VIDA
Um modelo que aparece com uma relação híbrida entre governo e instituições bancárias.
DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM E DO
CIDADÃO
Valorização de ideais iluministas e de igualdade para os iguais, tornando a lei o princípio máximo.
HISTÓRICO DA ASSISTÊNCIA E PREVIDÊNCIA
NO BRASIL
1795
Plano de beneficência aos órfãos e às viúvas dos oficiais da Marinha.
1821
Aposentadoria dos mestres e professores após 30 anos de serviço.
CÓDIGO COMERCIAL (1850)
O art. 79 (revogado) garantia três meses de salário para o trabalhador acidentado.
1888
Surge a aposentadoria dos empregados dos Correios (depois de 60 anos de idade e 30 anos de serviço)
e, em 1890, a aposentadoria dos empregados da Estrada de Ferro Central do Brasil, logo em seguida,
estendida para todos os ferroviários.
1891
A Constituição de 1891 assegurava a aposentadoria por invalidez para os servidores públicos.
Obs.: Até esse ponto – benefícios graciosos por parte do Estado (não havia contribuição por parte dos
trabalhadores).
1923
Decreto Legislativo nº 4.682 de 1923 (Lei Eloy Chaves), marco inicial da Previdência Social paraa
doutrina majoritária: caixas de aposentadoria e pensões nas empresas de estradas de ferro mediante
contribuição dos trabalhadores, das empresas do ramo e do Estado; garantia aposentadoria e pensão por
morte. Antes da Lei Eloy Chaves já existia a Caixa de Aposentadorias e Pensões dos Operários da Casa
da Moeda.
ATÉ 1930
• Diversas caixas (para aposentadoria e pensão) são criadas, até que a Constituição de 1934 se torna a
primeira a tratar do modelo tripartite (contribuição dos trabalhadores, das empresas e do poder público);
• Diversos institutos de classe são criados na década de 1930: IAPM (marítimos), IAPC (comerciários),
IAPB (bancários), IAPI (industriários), IPASE (servidores do estado), IAPETEC (transporte de cargas).
1942
Cria-se a LBA (já extinta) para a assistência social.
A PARTIR DE 1945
Houve a primeira tentativa de unificação (criação de um sistema de previdência para todos) sem sucesso.
Mas os esforços continuam nesse sentido:
1) em 1949, o Decreto 26.778 padroniza a concessão de benefícios;
2) em 1953, cria-se a Caixa Nacional com a fusão das caixas setoriais;
3) em 1960, advém a Lei Orgânica da Previdência Social (LOPS), que não unificou os organismos, mas
criou normas uniformes (com plano único de benefícios).
1967
Criação do INPS (fusão de todos os IAP) – marco da unificação da chamada Previdência Social Urbana.
DÉCADA DE 1970
• Em 1971: Funrural (LC 11/71).
• Em 1977: possibilidade de criação de entidades de previdência complementar;
DÉCADA DE 1980
• Em 1986: Decreto-Lei nº 2284 – seguro-desemprego;
• Em 1988: Constituição Federal estabeleceu o Sistema de Seguridade Social.
DÉCADA DE 1990
• Em 1990: cria-se o INSS (substitui o INPS [benefícios] e o IAPAS [arrecadação]) e, em 1991, as Leis
8.212/91 (custeio) e 8.213/91 (benefícios e serviços) que ainda vigoram, apesar das inúmeras alterações
legislativas ao longo do tempo. O INSS tem natureza jurídica de autarquia federal;
• Em 1993: extingue-se o INAMPS (autarquia) com competência absorvida pelo SUS (sem personalidade
jurídica própria), gerido pelo CNS (federal) e pelas secretarias estaduais e municipais de Saúde;
• Em 1998: EC nº 20 de 1998 pretendia modificar a concepção do sistema de tempo de serviço para
tempo de contribuição (concepção que necessita de muitos anos para se estabelecer).
2003
EC nº 41 de 2003 altera o regime próprio de previdência dos servidores públicos e cria disposição de
inclusão previdenciária para segurados de baixa renda.
2007
EC nº 47 de 2005 cria a aposentadoria especial para os segurados com deficiência.
2019
EC nº 103 de 2019 – Reforma da Previdência.
PLANO DE BENEFICÊNCIA
Ainda sob o modelo colonialista, a tentativa era criar alguma assistência local, aos moldes do vivido
em Portugal. O funcionamento era de uma caixa comum para auxílio.
MESTRES E PROFESSORES
Era outra categoria em estruturação. Ganhou notoriedade a partir de 1808, mas era forte somente
nas capitais.
CONSTITUIÇÃO DE 1891
Era a primeira Constituição republicana e tentava manter ordenamentos sociais como fundamento
da Nova República, fundada pela Égide da “Ordem e Progresso”.
CAIXAS
Caixas eram fundos comuns de caridade. É preciso lembrar que a tradição cristã sempre
fundamentou a ideia da organização da caridade, fosse para recolher órfãos, ou ainda para
conseguir dotes para meninas pobres, essas caixas são herdeiras das tradições das irmandades e
de outros centros de caridade.
INSTITUTOS DE CLASSE
Os primeiros institutos de previdência eram organizados por categorias. Com esse dinheiro, eles
faziam desde habitações populares até a organização de hospitais; o sentido era garantir a
assistência em vários aspectos.
FUNRURAL
A CLT não atendia os trabalhadores do campo. A lei é uma tentativa de estabelecer um cuidado aos
trabalhadores rurais.
PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR
A previdência unificada deixa de ser o único órgão possível, ainda que fosse linear e direito coletivo,
por instituições de associações de trabalhadores ou das próprias empresas. Cria-se a possibilidade
de uma complementação para vencer o estabelecimento do teto.
SEGURO
A mudança das relações de trabalho, reduzindo modelos de estabilidade, provocando a criação de
mecanismo de acúmulo; assim, trabalhadores podem ser demitidos a qualquer momento, exceto –
iminentemente e comprovadamente – às vésperas da aposentadoria. Fora isso, mantêm-se por
seguro-desemprego, FGTS e afins.
Com base nesse histórico, é possível concluir que a Previdência Social, no Brasil, ainda não completou
100 anos e o Sistema de Seguridade, como o conhecemos, possui pouco mais de 30 anos.
REGIME PREVIDENCIÁRIO
O que é necessário para que se diga que existe um Regime Previdenciário? Todo sistema de seguro
social em virtude de relação de trabalho (regime previdenciário) tem que garantir, ao menos:
aposentadoria e pensão por morte.
Existem inúmeros regimes previdenciários no Brasil (geral, servidores, militares), mas costuma-se, por
convenção, dizer que há duas espécies de regime no Brasil:
Regime Geral de Previdência Social – RGPS
Instituído em benefício dos trabalhadores da iniciativa privada e de servidores que não sejam abrangidos
por sistema próprio de previdência (alguns municípios não possuem regime de previdência). O RGPS é
gerido pelo INSS.
Regime próprio
Instituído em benefício dos servidores com vínculo efetivo com a Administração e mantido pelas
entidades federativas (União, estados, Distrito Federal e municípios). Os inúmeros regimes próprios
abrangem grupos determinados e são regidos por regras próprias que, por vezes, são bastante diferentes
do RGPS.
Com essa base histórica e conceitual, passamos agora a analisar os princípios da Seguridade Social,
lembrando sempre de sua composição fincada nas áreas da saúde, previdência e assistência, de modo
que os princípios que veremos se referem a essas três áreas de forma conjunta. Apesar do art. 194,
parágrafo único, da CRFB falar em objetivos, a doutrina entende que esses “objetivos”, na verdade, são
os princípios da Seguridade Social elencados pela Carta Política:
UNIVERSALIDADE DA COBERTURA E ATENDIMENTO
A universalidade se refere aos eventos ou infortúnios que devem ser cobertos pelo sistema. Há quem
faça a ligação desse princípio com a obrigatoriedade da participação de todos (não é uma opção fazer
parte ou não do sistema de proteção e contribuir para sua manutenção [no caso previdenciário] – todos
são abrangidos).
UNIFORMIDADE E EQUIVALÊNCIA DOS BENEFÍCIOS PARA
POPULAÇÕES URBANAS E RURAIS
A equivalência não significa igualdade, mas o tratamento deve ser uniforme, respeitando as
peculiaridades.
SELETIVIDADE NAS PRESTAÇÕES, CONFERINDO
VANTAGENS AOS MAIS NECESSITADOS
A seletividade também engloba a ideia de que não serão concedidos todos os benefícios para todas as
pessoas, mas apenas para as que se enquadrarem na situação prevista em lei (ex.: não se permite uma
pensão por morte se não houver um dependente que não esteja entre os previstos em lei).
IRREDUTIBILIDADE DO VALOR DOS BENEFÍCIOS
Numa expressão da vedação ao retrocesso social, os benefícios (especialmente os da assistência social)
não podem ter valor reduzido. É uma orientação diferente da prevista pelo art. 201 §4º (que se aplica
somente à previdência): “reajustamento dos benefícios para preservar-lhes, em caráter permanente, o
valor real”. Os benefícios previdenciários devem preservar o valor real, os demais apenas têm garantia
de não redução do valor nominal.
EQUIDADE NO CUSTEIO
Exprime a ideia de que os mais abastados devem contribuir com a maior parcela na sustentação do
sistema. Surge uma pergunta sobre esse princípio: haveria a possibilidade de fatores sociais reduzirem a
zero o custeio para certas pessoas? Isso porque, em diversas situações, há significativo deslocamento
de renda. Na área assistencial, parece não haver maiores dúvidas, mas até que medida isso seria
admitido na área previdenciária?
DIVERSIDADE DA BASE DE FINANCIAMENTO
Diversas contribuiçõesdiferentes alimentam o sistema da seguridade social (folha de salários,
faturamento, lucro, concurso de prognósticos etc.), o que garante, mesmo diante de uma crise setorial,
que seja possível manter a higidez do sistema.
No que concerne ao Regime Geral da Previdência Social (RGPS), o art. 201 da CRFB prevê:
Caráter contributivo
Filiação obrigatória
Preservação do equilíbrio financeiro e atuarial
Proteção: doença, invalidez, idade avançada, maternidade e desemprego
Proteção a dependentes: em razão de morte do segurado
Proteção a dependentes (de baixa renda): salário-família e auxílio-reclusão
Sob o ponto de vista subjetivo, o sistema é tripartite, com o financiamento pelo empregador, pelo
empregado e pelo Estado (art. 195 CRFB).
E QUEM PAGA A CONTA? A SAÚDE FINANCEIRA DA
PREVIDÊNCIA SOCIAL
A preocupação com a rigidez do sistema de proteção social faz com que sejam apresentadas algumas
diretrizes constitucionais para garantir a saúde financeira da Previdência Social:
O ART. 167, XI, CRFB (INCLUÍDO PELA EC 20/98)
Veda a utilização dos recursos provenientes das contribuições sociais de que trata o art. 195, I, a
[patronal], e II [segurados], para a realização de despesas distintas do pagamento de benefícios do
RGPS (ideia de receita tipicamente previdenciária, dentro das receitas da seguridade).
ANTES DA EC 103/19
Exigência de lei complementar para concessão de anistia ou remissão. Depois da EC 103/19, surge uma
vedação mais forte: não se admite mais remissão e anistia para a parte patronal e de empregados, além
de serem vedados parcelamentos e moratórias por prazos superiores a 60 meses (impossibilita REFIS
por lei). O art. 31 da EC nº 103 de 2019 resguarda o direito adquirido dos aderentes, mas impossibilita a
reabertura de prazos em REFIS anteriores.
EXIGÊNCIA DE CND (CERTIDÃO NEGATIVA DÉBITO) OU
CPD-EN (CERTIDÃO POSITIVA COM EFEITO DE NEGATIVA):
ART. 195 §3º
Art. 195 §3º
A pessoa jurídica em débito com o sistema da seguridade social, como estabelecido em lei, não poderá
contratar com o Poder Público nem dele receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios.
FONTES COMPLEMENTARES DE CUSTEIO
Art. 195 §4º
A lei poderá instituir outras fontes destinadas a garantir a manutenção ou expansão da seguridade social,
desde que obedecidos certos requisitos.
CORRESPONDÊNCIA BENEFÍCIO – CUSTEIO
Art. 195 §5º
Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ou estendido sem a
correspondente fonte de custeio total. Esse comando está na redação original da CRFB. Pergunta-se:
Isso vem sendo respeitado pelos benefícios que confundem previdência com assistência social?
Por outro lado, também existem certas imunidades e proteções ao contribuinte:
IMUNIDADE
Art. 195 §7º
São isentas de contribuição para a seguridade social as entidades beneficentes de assistência social que
atendam às exigências estabelecidas em lei.
PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE NONAGESIMAL QUE
SUBSTITUI O PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE DE
EXERCÍCIO PARA TRIBUTOS EM GERAL
Art. 195 §6º
As contribuições sociais de que trata esse artigo só poderão ser exigidas após decorridos noventa dias
da data da publicação da lei que as houver instituído ou modificado, não se lhes aplicando o disposto no
artigo 150, III, b (anterioridade de exercício).
EQUIDADE E PROPORCIONALIDADE NO SISTEMA DE
CUSTEIO
Art. 195 §9º
As contribuições sociais patronais (art. 195, I) poderão ter alíquotas ou bases de cálculo diferenciadas em
razão da atividade econômica, da utilização intensiva de mão de obra, do porte da empresa ou da
condição estrutural do mercado de trabalho.
Obs.: Tema 470 da Repercussão Geral no STF, julgado em junho de 2018: “É constitucional a
contribuição adicional de 2,5% (dois e meio por cento) sobre a folha de salários instituída para as
instituições financeiras e assemelhadas.”.
Vistos o histórico, os princípios e os objetivos que norteiam a Seguridade e a Previdência Social, vamos
exercitar a identificação das suas singularidades e, no próximo módulo, tratar do Direito Previdenciário e
seus institutos.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. SOBRE A PREVIDÊNCIA SOCIAL, É CORRETO AFIRMAR QUE:
A) Sempre houve proteção dos trabalhadores em relação a acidentes de trabalho, ainda que, no início, o
custeio fosse pelo Estado.
B) A proteção previdenciária para os trabalhadores urbanos e rurais iniciou de forma simultânea, ainda
que com benefícios distintos.
C) A criação de um plano unificado de benefícios só foi possível com a criação do INSS.
D) A cobertura dos empregados não vinculados a um regime próprio de previdência é sempre feita pelo
RGPS, cuja administração compete a uma autarquia federal.
2. SOBRE OS PRINCÍPIOS QUE REGEM A PREVIDÊNCIA SOCIAL, NÃO É
CORRETO AFIRMAR:
A) Quando não puder ser feita a verificação automática pelos sistemas do INSS, é exigível a
apresentação de CND ou CPD-EN para o recebimento da primeira parcela do benefício previdenciário
concedido.
B) A irredutibilidade do valor nominal dos benefícios é um princípio que alcança tanto os benefícios
previdenciários quanto os assistenciais.
C) O princípio da equivalência dos benefícios para populações urbanas e rurais não significa igualdade
no valor dos benefícios, mas exige que o tratamento dirigido às áreas rurais e urbanas seja uniforme.
D) Não se aplica o princípio da anterioridade de exercício às contribuições sociais, ou seja, pode ocorrer
a cobrança de uma nova contribuição social dentro do mesmo ano base em que foi instituída.
GABARITO
1. Sobre a Previdência Social, é correto afirmar que:
A alternativa "D " está correta.
Os empregados, como segurados obrigatórios da Previdência Social, precisam estar cobertos por algum
sistema previdenciário. Quando não se enquadram em nenhum dos regimes próprios de previdência,
vinculam-se automaticamente ao Regime Geral (RGPS) e isso se dá pelo simples exercício de uma
atividade remunerada. O RGPS é administrado atualmente pela autarquia federal INSS. As demais
opções estão incorretas, como se pode observar pelo histórico da Assistência e Previdência no Brasil
(item estudado durante esse módulo).
2. Sobre os princípios que regem a Previdência Social, não é correto afirmar:
A alternativa "A " está correta.
A Certidão Negativa de Débito (CND) ou Certidão Positiva com Efeitos de Negativa (CPD-EN) é exigida
da pessoa jurídica que deseja contratar com o poder público e não do beneficiário da previdência social.
A afirmativa constante da opção B está correta, pois a irredutibilidade nominal se aplica a todos os
benefícios ainda que a preservação do valor real só se aplique aos benefícios previdenciários (e não aos
assistenciais). A afirmativa da opção C está correta conforme a própria descrição do princípio da
equivalência feita durante o estudo neste módulo. A afirmativa da opção D é correta porque se aplica o
princípio da anterioridade nonagesimal às contribuições sociais, enquanto, para os tributos em geral,
aplica-se o princípio da anterioridade de exercício.
MÓDULO 3
Reconhecer institutos fundamentais do Direito Previdenciário
Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa – Senado Federal. Fonte: Wikimedia
ALGUNS DOS CONCEITOS E INSTITUTOS FUNDAMENTAIS DO
DIREITO PREVIDENCIÁRIO FICAM MAIS EVIDENTES QUANDO
COMPARAMOS REGIMES DISTINTOS. OU SEJA, QUANDO
ENXERGAMOS AS DIFERENÇAS OU OPOSIÇÕES ENTRE DOIS
REGIMES PREVIDENCIÁRIOS DIFERENTES, ENTENDEMOS MELHOR
OS MECANISMOS E OS OBJETIVOS QUE NORTEIAM AS REGRAS
DESSE RAMO DO DIREITO.
Façamos então uma comparação (ressaltando as diferenças) entre o Regime Geral (RGPS) e o Regime
Próprio dos Servidores da União (RPPS dos Servidores da União):
INTEGRALIDADE E PARIDADE NO VALOR DO BENEFÍCIO
Para servidores que ingressaram antes da EC nº 41 de 2003, há a possibilidade de concessão de
benefício previdenciário com integralidade ou paridade. O fim da integralidade no RPPS foi regulado (em
âmbito nacional e não apenas para servidores federais) pela Lei 10.887/04.
O que éintegralidade? Percepção de proventos e pensão igual à totalidade da remuneração no
momento da aposentadoria;
O que é paridade? Concessão dos mesmos aumentos e reajustes atribuídos aos servidores ativos
(protrai a igualdade remuneratória de ativos e aposentados no tempo);
Há integralidade e paridade no RGPS? Não. No RGPS nunca existiu paridade ou integralidade.
Para servidores que ingressaram depois da Lei 10.887/04, também não existe.
TETO DE CONTRIBUIÇÃO
O segurado é obrigado a contribuir sobre todo o seu salário ou há um teto (além do qual não é cobrado
nenhum valor adicional de contribuição previdenciária)?
Servidor Federal que ingressa até a Lei 12.618/12: contribui sobre o total da remuneração e tem
cálculo do benefício em cima do total que contribuiu (sem aplicar o teto do RGPS na contribuição e
no benefício);
Servidor Federal que ingressa após a Lei 12.618/12: contribui, no máximo, sobre o teto do RGPS e
recebe benefício considerando esse mesmo teto;
RGPS: sempre houve teto de contribuição, que é reajustado anualmente. O segurado do RGPS
contribui até o teto (não incide contribuição sobre o que ultrapassar) e receberá benefício também
limitado a esse teto, igual aos servidores que ingressaram após a Lei 12.618/12.
Observações:
A Lei 12.618/12 institui o Regime de Previdência Complementar para os servidores públicos federais. A
adesão é opcional e funciona de forma parecida com os fundos de previdência fechados (Previ, Petros,
Postalis etc.).
Houve possibilidade e regra para todos os servidores antigos que quiseram migrar para o novo sistema,
recebendo um benefício especial em razão das contribuições já realizadas além do teto. A Lei 13.809/18
possibilitou a migração até 03/2019.
RECOLHIMENTO AO SISTEMA PREVIDENCIÁRIO DEPOIS DE
SE APOSENTAR
EC nº 41 de 2003 previu a contribuição de servidores inativos. O art. 5º da Lei 10.887/04
estabeleceu 11% sobre o que exceder o teto do RGPS. As ADINs 3105 e 3128 consideraram
constitucional essa cobrança;
Não há contribuição de aposentados ou pensionistas vinculados ao RGPS;
Mudança advinda com a EC nº 103 de 2019: contribuição adicional progressiva conforme tabela do
art. 11, que prevê alíquotas de até 22% sobre o que exceder o teto do RGPS.
POSSIBILIDADE DE CASSAÇÃO DA APOSENTADORIA
Aplica-se apenas a servidores (art. 134 da Lei 8.112/90), não encontrando paralelo no RGPS. Para
alguns, a cassação da aposentadoria fulmina a ideia de sistema contributivo. No RGPS, não há
possibilidade de se desconsiderar contribuições ou tempo de serviço (pertencem ao patrimônio do
trabalhador). As cassações de aposentadoria no RGPS ocorrem em razão de não ter havido o vínculo ou
as remunerações que deram base à concessão (fraude na contagem de tempo ou inserção indevida de
salários de contribuição) e não como punição por desvios de natureza trabalhista. Os delitos de servidor
no exercício da função podem ser punidos com perda da aposentadoria.
Essas foram, portanto, algumas diferenças entre o RGPS e o RPPS dos servidores da União. Tais
diferenças nos ajudam a compreender alguns institutos muitas vezes debatidos nos círculos que
discutem o Sistema Previdenciário e suas reformas. Como se pode observar, os sistemas foram
gradativamente se aproximando, tendo esse processo culminado com a EC nº 103 de 2019, que busca
parametrizações cujo norte é a equivalência das regras.
SAIBA MAIS
O Regime dos Militares das Forças Armadas não entrou nessa equivalência, preservando regras próprias
muito distantes das estabelecidas para o RGPS ou o RPPS dos servidores. A EC nº 103 de 2019 não
tratou da previdência dos militares. As alterações desse regime foram feitas pela Lei 13.954/19.
Feitas essas considerações iniciais, partiremos para um conhecimento mais aprofundado do Regime
Geral de Previdência Social (RGPS) e nosso primeiro passo será identificar os sujeitos protegidos por
esse regime. São eles:
Trabalhadores que possuem relação de emprego regida pela CLT
Empregados rurais – Lei nº 5.889/73
Empregados domésticos - LC 150/15
Trabalhadores autônomos, eventuais ou não
Empresários, titulares de firma individual ou sócios gestores
Trabalhadores avulsos mediante Órgão Gestor de Mão de Obra (OGMO) ou sindicatos
Pequenos produtores rurais e pescadores artesanais (economia familiar)
Servidor exclusivamente em cargo comissionado (art. 40, §13)
Os dependentes de todos esses trabalhadores
Como se pode observar, são muitas categorias e isso se dá porque a ideia do Regime Geral é abranger
todas as atividades remuneradas que não são amparadas por algum regime próprio de previdência
(RPPS) e, assim, alcançar um dos princípios da Seguridade Social que é a universalidade da cobertura
e do atendimento.
DIVISÃO DOS SEGURADOS DO RGPS
Segurado obrigatório
Aquele que se filia de forma compulsória à Previdência Social, em razão de exercer atividade
remunerada, efetiva ou eventual, de natureza urbana ou rural, com ou sem vínculo de emprego, a título
precário ou não.
Segurado facultativo
Aquele que, mesmo não tendo vínculo obrigatório de filiação, deseja participar do sistema e alcançar
seus benefícios. Ex.: quem realiza trabalho doméstico no âmbito de sua própria residência.
Apesar de serem inúmeros os trabalhadores que possuem vínculo obrigatório com o RGPS, há uma
classificação em categorias que determinam a forma de custeio e os benefícios que podem ser obtidos. A
classificação atual dos segurados obrigatórios do RGPS é a seguinte:
 Clique nas informações a seguir.
EMPREGADO
EMPREGADO DOMÉSTICO
CONTRIBUINTE INDIVIDUAL
TRABALHADOR AVULSO
SEGURADO ESPECIAL
Empregado, segundo definição do art. 3º da CLT, é aquele que presta serviço de natureza urbana ou
rural à empresa, em caráter não eventual, sob sua subordinação e mediante remuneração. Empregado
temporário e trabalhador intermitente se enquadram como empregado (Lei 13.467/17). Por questão de
política legislativa, o conceito de empregado não se aplica de forma absoluta em todas as hipóteses
previstas no art. 11, I, da Lei 8.213/91, como, por exemplo, o servidor público ocupante de cargo em
comissão, sem vínculo efetivo com a União, autarquias, inclusive em regime especial, e fundações
públicas federais e àqueles que exercem mandato eletivo desde que não estejam vinculados a regime
próprio;
Aquele que presta serviço de natureza contínua à pessoa ou família, no âmbito residencial delas, em
atividades sem fins lucrativos. Grandes modificações na categoria foram previstas na LC 150/15;
Esta categoria engloba:
Empresário (sócio-gerente, sócio cotista, titular de firma individual, diretor não empregado, conselho
de administração de SA, titular de EIRELI);
Diretor de cooperativa ou associação;
Autônomo (presta serviço de natureza urbana ou rural, em caráter eventual, a uma ou mais
empresas, sem relação de emprego ou presta serviços diretamente à PF exercendo atividade de
natureza urbana);
Síndico de condomínio;
Pessoa Física que tenha empregados que não sejam domésticos;
Pessoa Física que explora atividade agropecuária em área superior a quatro módulos fiscais;
Garimpeiro;
Médico residente (Lei 6.932/81);
Ministro de confissão religiosa sem vínculo empregatício com a instituição a qual pertence.
Quem, sindicalizado ou não, presta a diversas empresas, sem vínculo empregatício, serviço de natureza
urbana ou rural. Conforme o Decreto 3.048/99, possuem as seguintes características:
Intermediação obrigatória do OGMO ou sindicato de categoria;
Não há vínculo empregatício com tomadores de serviço, sindicato ou OGMO;
Eventualidade da prestação sob a ótica das empresas tomadoras de serviço.
Pessoa física residente no imóvel rural ou em aglomerado urbano ou rural próximo a ele que,
individualmente ou em regime de economia familiar, ainda que com o auxílio eventual de terceiros,
seja:
produtor agropecuário em área até quatro módulos;
seringueiro ou extrativista vegetal;
pescador artesanal;
cônjuge ou filho maior de 16 anos que trabalhe com o grupofamiliar.
REGIME DE ECONOMIA FAMILIAR
Regime de economia familiar é definido como a atividade em que o trabalho dos membros da
família é indispensável à própria subsistência, exercido em condições de mútua dependência e
colaboração, sem a utilização de empregados permanentes (admite-se até 120 dias x pessoas por
ano).
SAIBA MAIS
Observações que valem para qualquer trabalhador: todos que exercerem, concomitantemente, mais de
uma atividade remunerada sujeita ao RGPS são obrigatoriamente filiados em relação a cada uma delas.
Todavia, o segurado especial deixa de sê-lo caso assuma condição de qualquer outro segurado
obrigatório.
SEGURADOS DE BAIXA RENDA
A CF, art. 201, §12 e 13 (introduzido pela EC nº 41 de 2003 e alterado pela EC nº 47 de2005) prevê a
figura do segurado de baixa renda com a possibilidade de inclusão previdenciária. Para esses segurados,
haverá alíquotas e carências inferiores às vigentes para os demais segurados.
ART. 201, §12
“... trabalhadores de baixa renda e aqueles sem renda própria que se dediquem exclusivamente ao
trabalho doméstico no âmbito de sua residência, desde que pertencentes a famílias de baixa renda,
garantindo-lhes acesso a benefícios de valor igual a um salário-mínimo.”
As regras para os segurados de baixa renda foram previstas pela Lei 12.470/11 (que alterou o art. 21 da
Lei 8.212/91 – Lei de Custeio da Previdência Social (LCPS)): contribuem com 5% do salário mínimo e
devem se enquadrar em uma das seguintes situações:
Microempreendedor individual (previsto no art. 18-A da LC 123/06).
Segurado facultativo (que se dedique exclusivamente ao trabalho doméstico no âmbito de sua
residência), inscrito no CadÚnico e cuja renda familiar total seja de até 2 salários mínimos.
SEGURADO FACULTATIVO
É o maior de 14 anos que se filia voluntariamente ao Regime Geral de Previdência Social, mediante
contribuição, desde que não incluído em qualquer regime de previdência como segurado
obrigatório.
VAMOS FALAR DOS DEPENDENTES?
São pessoas ligadas ao RGPS não em razão de sua própria atividade remunerada, mas como
dependentes dos segurados. As Classes de Dependentes estão previstas no art. 16 da Lei 8.213/91 – Lei
de Benefícios da Previdência Social (LBPS):
Clique nas informações a seguir.
CLASSE I
O cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não emancipado menor de 21 anos ou inválido ou
que tenha deficiência intelectual ou mental ou deficiência grave.
CLASSE II
Os pais.
CLASSE III
O irmão não emancipado menor de 21 anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental ou
deficiência grave.
OBSERVAÇÕES SOBRE CONCESSÕES DE BENEFÍCIOS A
DEPENDENTES
Para fins de concessão de benefício, a existência de dependente de qualquer das classes
precedentes exclui o direito das classes seguintes. Havendo mais de uma pessoa numa mesma
classe, há divisão do valor em partes iguais entre os dependentes.
Cessado o benefício para alguém dentro de determinada classe, haverá nova divisão do valor entre
os remanescentes dentro da classe. Quando acabarem todos os dependentes da mesma classe,
cessa o benefício, não passando para as classes subsequentes.
A dependência econômica das pessoas indicadas na classe I é presumida e a das demais deve ser
comprovada (há jurisprudência favorável ao entendimento de que a presunção de dependência
econômica das pessoas indicadas na classe I é absoluta, mas não é pacífica).
O momento da verificação da dependência econômica é a época do óbito (princípio do tempus regit
actum) – há controvérsias também sobre esse ponto, mas essa é a posição que prevalece.
QUAIS OS BENEFÍCIOS DESTINADOS AOS DEPENDENTES?
Pensão por morte
Auxílio-reclusão
Serviço social
Reabilitação profissional
A EXISTÊNCIA DE DEPENDENTE DE QUALQUER DAS CLASSES
DESSE ARTIGO EXCLUI DO DIREITO ÀS PRESTAÇÕES OS DAS
CLASSES SEGUINTES.
O ENTEADO E O MENOR TUTELADO
Equiparam-se a filho mediante declaração do segurado e desde que comprovada a dependência
econômica na forma estabelecida no regulamento. A dependência econômica dos dependentes de
Classe I é presumida e a das demais classes deve ser comprovada. Vale destacar que as provas de
união estável e de dependência econômica exigem início de prova material (documental) contemporânea
dos fatos, produzido em período não superior a 24 (vinte e quatro) meses anterior à data do óbito ou do
recolhimento à prisão do segurado, não admitida a prova exclusivamente testemunhal, exceto na
ocorrência de motivo de força maior ou caso fortuito, conforme disposto no regulamento.
FILIAÇÃO E INSCRIÇÃO NO RGPS
Para o segurado obrigatório, nasce a relação de seguro social no primeiro dia de trabalho, porque é
nessa data que se dá sua filiação ao RGPS. Para o segurado facultativo, a relação se inicia no dia em
que ocorre sua inscrição no RGPS, com a primeira contribuição vertida (art. 20, e parágrafos do Dec.
3.048/99). A forma de inscrição dos segurados e dependentes é disciplinada pelos arts. 17 a 24 do Dec.
3.048/99.
Vistas as espécies de segurado e seus dependentes, vamos agora compreender os aspectos
relacionados à carência.
CARÊNCIA
O que é a carência no RGPS? É o número de contribuições mensais indispensáveis para que o
beneficiário faça jus ao benefício, consideradas a partir do transcurso do primeiro dia dos meses de suas
competências (artigo 24 da LBPS).
Obs.: Entrou em 29 de março no local de trabalho. Esse mês de março conta como carência? Sim; até a
EC 103/19. Veja-se a redação da IN 77/05, art. 145.
A EC nº 103 de 2019 (art. 195, §14) altera a regra: podem ser reconhecidas como tempo de contribuição
somente competências cuja contribuição seja igual ou superior à contribuição mínima mensal exigida
para a categoria do segurado, admitido o agrupamento de contribuições. O art. 29 da EC faculta
soluções, desde que ocorra no mesmo ano civil:
complementação do valor para atingir o limite mínimo;
utilizar o valor excedente a um salário mínimo de outra competência para suprir a complementação
da competência que esteja abaixo do salário mínimo;
agrupar contribuições inferiores ao mínimo em diferentes competências para superar o patamar de
1 SM.
IN 77/05, ART. 145
“Período de carência é o tempo correspondente ao número mínimo de contribuições indispensáveis
para que o beneficiário faça jus ao benefício, consideradas a partir do transcurso do primeiro dia
dos meses de suas competências, observado que um dia de trabalho, no mês, vale como
contribuição para aquele mês, para qualquer categoria de segurado, ...”
PERÍODOS DE CARÊNCIA CONFORME A ESPÉCIE DE
BENEFÍCIO
AUXÍLIO-DOENÇA E APOSENTADORIA POR INVALIDEZ
APOSENTADORIAS POR IDADE, POR TEMPO DE
CONTRIBUIÇÃO, ESPECIAL E DA PESSOA COM
DEFICIÊNCIA
SALÁRIO-MATERNIDADE
AUXÍLIO-ACIDENTE, SALÁRIO-FAMÍLIA, PENSÃO POR
MORTE E AUXÍLIO-RECLUSÃO
São 12 meses, exceto nos casos de acidente de qualquer natureza ou causa e de doença profissional ou
do trabalho, bem como nos casos de segurado que, após filiar-se ao RGPS, for acometido de alguma das
doenças e afecções especificadas em lista elaborada pelos Ministérios da Saúde e da Previdência Social.
A lista está no artigo 147, II, anexo XLV, da Instrução Normativa 77/2015 do INSS. Ex.: cegueira,
tuberculose, hanseníase, alienação mental, neoplasia maligna, cardiopatia grave etc.
Obs.: É importante diferenciar os dois institutos: qualidade de segurado X carência. A preexistência da
incapacidade em relação à filiação impede a concessão de benefícios, pois retiraria o caráter de seguro
social. A dispensa de carência não é sinônimo de dispensa da qualidade de segurado no momento em
que a pessoa é acometida pela enfermidade. A pessoa precisa ser segurada do RGPS antes de se tornar
incapaz, ainda que a carência possa ser, em alguns casos, dispensada.
São 180 meses (observando o art. 142 da LBPS: tabela de redução para quem completa requisitos até
2011);
São 10 meses (contribuinte individual e facultativa), não havendo carência para a empregada,
empregada domésticae avulsa. A segurada especial deve comprovar exercício de atividade rural nos
últimos dez meses imediatamente anteriores ao requerimento;
Não há carência.
INÍCIO DA CONTAGEM DA CARÊNCIA CONFORME A
ESPÉCIE DE SEGURADO:
Segurados empregados (inclusive domésticos) e trabalhadores avulsos
A partir da filiação ao RGPS (art. 27, inciso I, LBPS).
Contribuinte individual e facultativo
A contar do pagamento da primeira contribuição sem atraso (art. 27, inciso II, LBPS).
Qual a ideia por trás da diferenciação? Distinguir quem está obrigado legalmente a fazer o recolhimento
(não podemos ser prejudicados por eventual omissão de terceiros). Como o contribuinte individual e o
facultativo estão, em regra, obrigados ao próprio recolhimento, para eles só conta a carência a partir da
1ª contribuição em dia.
ATENÇÃO
Em relação ao CI, conforme entendimento do STJ (REsp 1.346.852 em 05/2013), não se admite
recolhimento de contribuições previdenciárias post mortem a fim de que, reconhecida a qualidade de
segurado do falecido, seja garantida a pensão por morte. A MP 871/19 convertida na Lei 13.846/19
introduz o §7º no art. 17 da LBPS: proíbe a inscrição post mortem de segurado contribuinte individual e
segurado facultativo.
Veja também outros pontos relacionados à carência:
REDUTOR DE CARÊNCIA
Há um redutor de carência para os benefícios de auxílio-doença, aposentadoria por invalidez e salário-
maternidade. A previsão está no art. 27-A da LBPS (Lei 8.213/91) – situação: era segurado, perdeu
qualidade de segurado e retornou ao sistema. Quando recupera as contribuições anteriores? Quando
recolher metade das contribuições exigíveis a título de carência do benefício pretendido.
EXCLUSÃO DE CARÊNCIA
Há também hipóteses de exclusão de carência aplicáveis aos benefícios por incapacidade: quando
ocorre um acidente de qualquer natureza ou causa, doença profissional ou do trabalho, ou quando o
segurado é acometido por uma das doenças descritas no art. 1º da Portaria Interministerial 2.998 de
2001 (tuberculose ativa; hanseníase; alienação mental; neoplasia maligna; cegueira; paralisia irreversível
e incapacitante; cardiopatia grave; doença de Parkinson; espondiloartrose anquilosante; nefropatia grave;
estado avançado da doença de Paget [osteíte deformante]; síndrome da deficiência imunológica
adquirida (Aids); contaminação por radiação, com base em conclusão da medicina especializada; e
hepatopatia grave).
A exclusão de carência não elimina os óbices relativos a eventual preexistência da doença,
situação na qual o benefício é indeferido.
Vista a carência, passamos a outro instituto, cujo objetivo é garantir a manutenção da qualidade de
segurado durante algum tempo, mesmo que cessadas as contribuições ou o exercício de atividade
considerada como de filiação obrigatória ao RGPS.
PERÍODO DE GRAÇA
O Período de Graça (art. 15 da Lei 8.213/91) é o período em que o indivíduo continua filiado ao RGPS,
mesmo não exercendo atividade que o enquadre como segurado obrigatório, nem contribuindo
mensalmente como segurado facultativo.
Em razão do Período de Graça, a perda da qualidade de segurado ocorrerá no dia seguinte ao término
do prazo para recolhimento da contribuição referente ao mês imediatamente posterior ao final do Período
de Graça.
Veja o exemplo a seguir:
Supondo que o Período de Graça seja de 12 meses e a demissão do empregado tenha sido em
14/04/2016. Quando ele perde a qualidade de segurado?
PERÍODO DE GRAÇA DEFINIDO EM LEI
Mantém a qualidade de segurado, independentemente de contribuições:
sem limite de prazo, quem está em gozo de benefício;
por 12 meses após a cessação das contribuições, o segurado que deixar de exercer atividade
remunerada abrangida pela Previdência Social ou estiver suspenso ou licenciado sem
remuneração;
por 12 meses após o livramento, o segurado retido ou recluso;
por 3 meses após o licenciamento, o segurado incorporado às Forças Armadas para prestar serviço
militar;
por 6 meses após a cessação das contribuições, o segurado facultativo.
ATENÇÃO
O segurado que deixar de exercer atividade remunerada tem Período de Graça prorrogado para 24
meses se já tiver pago mais de 120 (cento e vinte) contribuições mensais sem interrupção que acarrete a
perda da qualidade de segurado.
Serão acrescidos 12 meses para o segurado desempregado, desde que comprovada essa situação pelo
registro no órgão próprio do Ministério do Trabalho e da Previdência Social.
Fechamos o Período de Graça e passamos a um tema que gera alguma controvérsia em razão de
representar uma mudança de paradigma que iniciou em 1998 (EC 20) e se estende até os dias atuais.
Trata-se da diferenciação entre tempo de serviço X tempo de contribuição.
TEMPO DE SERVIÇO X TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO
Até 1998, os benefícios eram garantidos em razão do tempo de serviço. Havia a obrigação legal de
recolhimentos, mas o foco da análise dos benefícios era o serviço prestado. Por questões econômicas e
de sustentação do sistema, a EC nº 20 de 1998 iniciou a mudança de paradigma para deixar de lado o
tempo de serviço e adotar o foco no tempo de contribuição.
Todavia, a Lei 8.213/91 continuou usando a expressão tempo de serviço. E como não há definição legal
do que deva ser considerado como tempo de contribuição, consideram-se ainda aplicáveis (em muitos
casos) os conceitos de tempo de serviço para esse fim (art. 4º da EC nº 20 de 1998). Vale dizer que será
considerado como tempo de serviço (art. 60 do Decreto 3.048/99):
Período intercalado em que esteve em gozo de auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez;
Tempo de serviço militar ou de serviço civil alternativo;
Período de gozo de licença-maternidade;
Período de contribuição como segurado facultativo;
Período de licença remunerada, desde que tenha havido contribuição;
Tempo de contribuição em outro regime (RPPS) mediante contagem recíproca;
Mandato eletivo quando não contado para outro regime;
Vitimado por atos de exceção que tenham sido compelidos ao afastamento de atividade
remunerada no período de 18/09/46 a 05/10/88;
Licença remunerada;
Período como aluno-aprendiz referente ao período de aprendizado profissional em escola técnica,
desde que comprovada a remuneração, mesmo que indireta, à conta do orçamento público e o
vínculo empregatício.
Obs.: O INSS costuma considerar o tempo em que o segurado esteve em gozo de auxílio-doença como
tempo de contribuição, mas não conta esse período para fins de carência (ante a ausência de
contribuição). A jurisprudência amplamente majoritária considera o auxílio-doença também para fins de
carência.
MEI E CONTRIBUINTE INDIVIDUAL
Há uma figura de natureza jurídica híbrida (empresa e contribuinte individual ao mesmo tempo) que
ganhou bastante espaço nos últimos anos e merece ser aqui tratada sob o ponto de vista previdenciário.
Trata-se do microempreendedor individual (MEI). A LC 128/08 criou, com vigência a partir de julho de
2009, a figura do MEI, por meio da introdução do art. 18-A na LC 123/06 (Estatuto da ME e EPP). Podem
ser úteis algumas distinções entre as figuras do MEI e da microempresa:
MEI (art. 18-A da LC 123)
MEI é empresário (art. 968, §4º CC)
Receita até R$81.000 por ano
Pode ter até 1 empregado
Contribuições migram do DARF para o CNIS
Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal
Microempresa (art. 3º da LC 123)
Microempresa tem administrador
Receita até R$360.000 por ano
Pode ter mais empregados
Necessidade de fazer GFIP
Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal
Contribuições:
MEI
A Contribuição do MEI é de 5% sobre o salário mínimo (art. 21, §2º, II, “a” da Lei nº 8.212/91, com
redação pela Lei 12.470/11) e é realizada pelo próprio MEI.
Sócio da microempresa
A contribuição do sócio da microempresa que ganhe pró-labore é de 11% sobre o valor do pró-labore
(retido e recolhido pela microempresa – art. 4º da Lei 10.666/03).
Até aqui, vimos diversos aspectos do RGPS e institutos que serelacionam com a concessão dos
benefícios previdenciários, mas ainda não falamos sobre a renda desses benefícios, o que faremos
agora.
Renda Mensal Inicial (RMI) – traduz-se como renda inicial (valor) do benefício a ser recebida pelo
segurado ou dependente. Para compreendermos como se chega a esse montante, alguns conceitos
prévios são necessários:
SALÁRIO DE CONTRIBUIÇÃO (SC)
São os valores que servem de base de cálculo para a incidência da contribuição previdenciária paga pelo
segurado ao longo da sua vida. Via de regra, retrata a remuneração recebida em razão da atividade que
o vincula ao RGPS.
PERÍODO BÁSICO DE CÁLCULO (PBC)
É o lapso temporal cujos salários de contribuição (SC) serão levados em conta no cálculo do salário de
benefício (SB).
SALÁRIO DE BENEFÍCIO (SB)
Valor obtido a partir de uma média dos salários de contribuição (SC) durante o período básico de cálculo
(PBC), observando, ao final, os limites mínimo (salário mínimo) e máximo (teto do RGPS) e a incidência
ou não do fator previdenciário, conforme o caso. Esse cálculo se dá na forma do art. 29 da Lei 8213/91.
FATOR PREVIDENCIÁRIO
Criado pela Lei nº 9.876/99, insere-se na fórmula do salário de benefício da aposentadoria por tempo de
contribuição (obrigatoriamente) e da aposentadoria por idade (facultativamente).
Obs.: O salário de benefício é o valor usado para o cálculo da Renda Mensal Inicial dos principais
benefícios previdenciários de pagamento continuado (exceções: SFam e SMat). A regra é: RMI = SB x
Cf, onde Cf é o coeficiente de cálculo específico para o benefício pretendido (91% para auxílio-doença e
50% para auxílio-acidente). Muitos coeficientes mudaram com a EC 103/19 (veremos essas mudanças
quando abordarmos cada benefício especificamente).
Para melhor compreensão, vejamos como se calcula o salário de benefício (SB) na aposentadoria por
tempo de contribuição (ATC) e na aposentadoria por idade (APID):
Antes da EC 103/19
Média aritmética simples dos maiores salários de contribuição correspondentes a 80% do PBC,
multiplicada pelo fator previdenciário. Para APID, o fator previdenciário é opcional.
Depois da EC 103/19 (art. 26)
Média aritmética simples de todos os salários de contribuição do PBC.
SAIBA MAIS
A EC (Emenda Constitucional) 103/19 incluiu uma regra nova (art. 26 § 6º), que permite exclusão de
contribuições que abaixem o salário de benefício. Em especial, depois da alteração que determina o
cálculo com 100% do PBC e não mais as 80% maiores contribuições, essa opção pode trazer diferenças
significativas. Mas vale dizer: se excluir as contribuições, deve excluir também o tempo e todos os seus
efeitos, inclusive para averbação em outros regimes (RPPS).
O salário de benefício (por força do art. 29, §2º) e a RMI (por força do art. 33) respeitam o limite máximo
(teto) do RGPS. Exceções:
25% sobre aposentadoria por invalidez (art. 45 da Lei 8.213/91);
Salário-maternidade (arts. 72 e 73 da Lei 8.213/91).
A partir da EC nº 103 de 2019, também por força constitucional (art. 26, §1º), há limitação do salário de
benefício (SB) ao teto do RGPS.
COMENTÁRIO
Sempre são levados em conta os 80% de maiores salários ou os 100% maiores salários dentro de uma
média aritmética simples? Não (art. 3º, §2º da Lei 9.876/99); deve haver pelo menos 60% de
contribuições no PBC (de julho de 1994 até o momento da aposentadoria). Isso é o que se chama de
divisor mínimo (60% do período contributivo). A ideia é privilegiar aqueles que têm muitas contribuições e
não deixar que haja vantagem para aqueles que possuem poucas contribuições com valores altos. Desse
modo, se não houver ao menos 60% de meses com contribuições no PBC, não haverá mais a média
aritmética simples, mas o somatório do que se contribuiu ao longo do tempo, dividido pelo divisor
mínimo (número de meses correspondente a 60% do PBC).
Vejamos o seguinte exemplo:
Aposentadoria em dezembro de 2016: de julho/1994 a dezembro/2016 = 270 meses. Então, 60% de 270
= 162 (esse é divisor mínimo):
SITUAÇÃO 1
Pessoa tem 220 contribuições
80% de 220 = 176
Como 176 > 162 – usará as 176 maiores (80% maiores) / 176.
SITUAÇÃO 2
Pessoa tem 180 contribuições
80% de 180 = 144
Como 144 < 162 – usará as 162 maiores (90% maiores) / 162.
SITUAÇÃO 3
Pessoa tem 150 contribuições
Como 150 < 162 – usará todas as 150 (100%) / 162
TESE DA REVISÃO DA VIDA TODA
Pessoas, cujo cálculo compreende os 80% maiores SC desde julho/1994, desejam ver considerados
também os salários anteriores (ou seja, de toda a vida contributiva). A diferença é favorável quando
houver queda dos SC no final da vida contributiva. Julgado de forma favorável pelo STJ (em
dezembro/2019 – Tema 999). Pendente Recurso Extraordinário no STF.
FATOR PREVIDENCIÁRIO
Fator que altera o salário de benefício, levando em conta o tempo de contribuição, a idade na data da
aposentadoria e a expectativa de sobrevida do segurado. Essa expectativa é definida a partir de tábua
completa de mortalidade para o total da população brasileira, que compete ao IBGE publicar. Aplicação:
ATC (aposentadoria por tempo de contribuição) e APID (aposentadoria por idade), sendo que na APID é
facultativa.
Observações:
Mesmo com o fator previdenciário, o governo não conseguiu aumentar a idade média de aposentadoria,
que se estabilizou, desde 2002, em 54 anos para homens e 51 anos para mulheres. O efeito prático foi a
redução do valor dos benefícios quando a renda supera um salário mínimo. Com a EC 103/19, não
haverá como não aumentar a idade de aposentadoria, porque as novas regras determinam uma idade
mínima a ser alcançada.
Após a EC 103/19, o fator previdenciário continua sendo aplicado, mas em apenas uma regra de
transição (pedágio de 50% dos art. 16 da EC), de modo que influenciará cada vez menos até
desaparecer completamente.
ACUMULAÇÃO DE BENEFÍCIOS
O §5º do art. 24 da EC nº 103 de 2019 garante o direito adquirido para as acumulações feitas até a data
de promulgação da emenda. Mas, a partir da EC nº 103 de 2019 (art. 24), surgiram regras de cálculo
para os casos em que o segurado acumula 2 pensões (de regimes diferentes) ou pensão com
aposentadoria:
Recebe o maior benefício de forma integral;
Recebe o menor benefício conforme a seguinte escala (§2º):
100% até 1 SM;
60% de 1 até 2 SM;
40% de 2 até 3 SM;
20% de 3 até 4 SM;
10% do que superar 4 SM.
FATOR
Julgado constitucional pelo STF em 12/2003 (ADI 2111).
TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO
O art. 29, § 9º da LBPS estabelece que devem ser adicionados: a) 5 anos ao tempo de contribuição
da mulher; b) 5 anos ao tempo de contribuição do professor (homem) exceto universitário; c) 10
anos ao tempo de contribuição da professora (mulher) exceto universitária.
Outra questão que vale a pena ser abordada diz respeito à conexão existente entre o Direito do Trabalho
e o Direito Previdenciário, em especial quanto aos efeitos das sentenças trabalhistas para fins
previdenciários. Quanto a esse ponto, ressaltemos os seguintes aspectos:
Por um lado
Há uma sentença judicial transitada em julgado (no âmbito da Justiça do Trabalho) em que se reconhece
um vínculo.
Por outro lado
O INSS não participou do processo trabalhista, de modo que não está subjetivamente abrangido pela
coisa julgada advinda da reclamatória trabalhista proposta pelo trabalhador.
SENTENÇA TRABALHISTA
Antigamente, o STJ entendia que a sentença trabalhista perfazia início de prova material sem adentrar
em como tinha sido a instrução do processo. Nesse entendimento anterior, a sentença trabalhista
ganhava força como meio de prova a ser utilizada perante o INSS. Entretanto, julgados mais recentes
(AgInt no AREsp 688117 em 11/12/2017 e AgInt nos EDcl no AREsp 1140573 em 19/03/18) apontam
para a necessidade de que a instrução do processo trabalhista tenha se dado com provas materiais para
que seja possível considerá-la como início de prova material. Ou seja, sentenças homologatórias de
acordos sem provas ou com provas exclusivamente testemunhais acabam perdendoforça como meio de
comprovação de vínculo perante o INSS. Não quer dizer que não seja uma prova, mas não é mais
entendida como uma prova material.
Em suma, temos uma posição amplamente dominante no sentido de que a sentença trabalhista não é
definitiva quanto à relação previdenciária, nem é prova plena do vínculo, mas apenas início de prova. Se
for apenas homologação de acordo, tem ainda menos densidade probante. Nos casos de acordo na JT, a
regra é que se faça audiência de instrução com a presença do INSS. Se houver acordo (empresa –
empregado) em momento posterior à prescrição das parcelas que seriam devidas pela empresa, é ainda
menor a densidade probatória.
O art. 43 da LBPS (8.213/91) prevê que, nas ações trabalhistas de que resultar o pagamento de direitos
sujeitos à incidência de contribuição previdenciária, o juiz, sob pena de responsabilidade, determinará o
imediato recolhimento das importâncias devidas à Seguridade Social. No §3º, há previsão de que o
recolhimento será feito em tantas parcelas quanto as previstas no acordo, nas mesmas datas em que
sejam exigíveis e proporcionalmente a cada uma delas.
A SEGURIDADE SOCIAL É UM TEMA QUE INTERFERE EM TODA A
DINÂMICA SOCIAL, NÃO SE ESGOTA NA GESTÃO, NA EDUCAÇÃO E
NO DIREITO. SUA PERCEPÇÃO É PLENA E VIVA.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. EM RELAÇÃO AO REGIME GERAL DA PREVIDÊNCIA SOCIAL, É CORRETO
AFIRMAR QUE:
A) Caso haja demissão com justa causa por cometimento de crime do empregado contra a empresa,
perderá o trabalhador o tempo contributivo desse vínculo para fins previdenciários.
B) Ainda que ganhe valores acima de 40 salários mínimos, o empregado apenas contribui para o RGPS
até um limite, definido anualmente por portaria.
C) Aos segurados é garantida a paridade de remuneração quando se aposentam por acidente do
trabalho.
D) Ao possuir dois vínculos, poderá o segurado optar por contribuir por um deles, o que lhe for mais
vantajoso.
2. SOBRE OS ASPECTOS GERAIS DOS BENEFÍCIOS DO RGPS, NÃO É
CORRETO AFIRMAR:
A) Há diferentes períodos de carência, a depender do benefício pleiteado.
B) Período de Graça pode ser definido como o período em que o segurado mantém a qualidade de
segurado, independentemente de contribuições.
C) O período básico de cálculo (PBC) dos benefícios do Regime Geral compreende as contribuições
vertidas ao sistema, mas nem sempre contempla a vida laborativa inteira do segurado.
D) Para o segurado facultativo, a relação previdenciária se inicia no dia em que ocorre sua inscrição
perante o INSS, ainda que ocorra atraso na primeira contribuição vertida.
GABARITO
1. Em relação ao Regime Geral da Previdência Social, é correto afirmar que:
A alternativa "B " está correta.
Opção A está errada, pois apenas servidores públicos sofrem com a perda de direitos previdenciários em
razão do cometimento de delitos. Opção B está correta, pois o valor da contribuição do segurado é
limitado ao teto do RGPS, reajustado anualmente por portaria do ministério competente. Opção C está
errada porque apenas para servidores que ingressaram antes da EC nº 41 de 2003 é possível a
paridade. Opção D está errada, pois o segurado é obrigado a contribuir em relação a todos os vínculos
de filiação obrigatória.
2. Sobre os aspectos gerais dos benefícios do RGPS, não é correto afirmar:
A alternativa "D " está correta.
Opção A está correta, conforme as variações dos períodos de carência estudadas. Opção B está correta,
segundo a definição legal vista durante a abordagem do tema. Opção C está correta, de acordo com a
previsão contida na LBPS, exposta anteriormente. Opção D está errada, pois apenas a primeira
contribuição em dia caracteriza o efetivo vínculo do segurado facultativo com o RGPS para fins de
cobertura securitária.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste tema, procuramos oferecer uma apresentação panorâmica da Seguridade Social e seus campos,
perpassando um breve histórico (no mundo e no Brasil), alguns conceitos básicos e princípios
relacionados às ações estatais nas áreas da Saúde, Previdência e Assistência Social. Além disso, foram
apresentados diversos institutos e aspectos gerais relacionados aos principais benefícios concedidos no
âmbito da Assistência Social e da Previdência, sobretudo no que se refere ao Regime Geral da
Previdência Social, gerido pelo INSS.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Casa Civil. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, 1988.
BRASIL. Casa Civil. Lei n. 8.742, de 7 de dezembro de 1993. Dispõe sobre a organização da
Assistência Social e dá outras providências. Brasília, 1993.
BRASIL. Casa Civil. Lei n. 9.720, de 30 de novembro de 1998. Brasília, 1998.
BRASIL. Casa Civil. Lei n. 10.741, de 1º de outubro de 2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá
outras providências. Brasília, 2003.
BRASIL. Casa Civil. Lei n. 13.846, de 18 de junho de 2019. Institui o Programa Especial para Análise de
Benefícios com Indícios de Irregularidade, o Programa de Revisão de Benefícios por Incapacidade, o
Bônus de Desempenho Institucional por Análise de Benefícios com Indícios de Irregularidade do
Monitoramento Operacional de Benefícios e o Bônus de Desempenho Institucional por Perícia Médica em
Benefícios por Incapacidade e dá outras providências. Brasília, 2019.
CASTRO, C. A. P.; LAZZARI, J. B. Manual de Direito Previdenciário. 21. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2018.
DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS. Assembleia Geral das Nações Unidas. Paris,
1948.
EXPLORE+
Para aprofundar seus conhecimentos sobre direitos sociais, leia o art.6o da Constituição da
República Federativa do Brasil – CRFB.
Sobre a cobertura no sistema de saúde, veja o Tema 106 dos Recursos Repetitivos do STJ, julgado
em 05/2018.
Sobre a solidariedade nos sistemas de proteção social e o equilíbrio financeiro da previdência
privada, pode-se acompanhar os julgados referentes ao Tema 452 no STF (RE 639.138 com
repercussão geral reconhecida em 08/2018) e Tema 955 no STJ (RecRep 1.312.736).
Para aprofundamento em conformidade com as posições da Turma Nacional de Uniformização
(TNU), há os seguintes julgados afetos ao que abordamos: Temas 37, 172, 173, 181 e 216 e
Súmulas 14, 27, 34, 52, 63 e 73.
CONTEUDISTA
Marcos Paulo Secioso de Góes
CURRÍCULO LATTES

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