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PREPARAÇÃO DISCURSIVA DELEGADO RIO DE JANEIRO 1 RESUMO TEORIA DO ESTADO LIVRO DO EXAMINADOR IVO DANTAS C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 PREPARAÇÃO DISCURSIVA DELEGADO RIO DE JANEIRO 2 TEORIA GERAL DO ESTADO Neste momento, vamos trabalhar alguns pontos “diferenciados” do edital. Tais pontos foram localizados EXATAMENTE no livro do Ivo Dantas (Teoria do Estado Contemporâneo), 3ª Edição. Curitiba: Juruá, 2016. O tema é bastante doutrinário e para quem nunca realizou estudo sobre o tema pode parecer confuso. Sugerimos, então, a adoção de uma doutrina para complementação dos estudos, já que o material foi elaborado DE FORMA SUCINTA com base na bibliografia identificada por meio dos pontos do edital. 7.1 Ponto: O poder como fenômeno social e as bases psicossociais do poder. O conceito de poder político O poder como fenômeno social – pgs. 61/63. O ESTUDO da Ciência Política tem como tema central o Poder Político em seus aspectos estático e dinâmico, além da análise do Poder Constituinte em suas relações com a Revolução. Deve-se partir de uma diferenciação entre poder social e poder político: “o Poder é fenômeno social, inerente a toda a vida comunitária, por mais primitiva que esta seja. Há, em outras palavras, uma natureza social do Poder, em decorrência da existência, em qualquer época, de pessoas encarregadas de governar e outras encarregadas de serem governadas” Há um reconhecimento de natureza social do Poder e é generalizado pelos grandes nomes da doutrina sociológica e da Ciência Política. “Toda sociedade possui uma ordem social desejável, moldada na razão direta dos seus Valores. Isto porque impossível seria pensar que o homem na vida grupal não estivesse submisso a padrões e comportamentos que lhe são, de fora, impostos pelo grupo”. O Poder enquanto veículo na busca de alcançar uma Ordem Social que, representando a Ideia de Direito, objetive o Bem Comum: toda sociedade possui uma ordem social desejável, moldada na razão direta de seus Valores. Esta necessidade chega ao ponto de gerar normas de conduta – inclusive jurídica. ▪ Ideia de Direito: “é, pois, a primeira crença para fundamentar o Poder e exigir o consentimento à sua realização”. ▪ Notas sobre a natureza do Poder Político: “sem iniciativa, sem direção, a ordem pública não se estabelece nem perduraria”. Pois bem. Conclui-se que a constatação da realidade e mais a certeza de que o Poder é uma das agências do chamado controle social formal. ▪ E por que existem homem que obedecem [que são governados] e homens que impõem obediência [que governam]? Por causa das Bases psicossociais do poder – pgs. 64. O Poder Político possui bases psicossociais já que o seu objetivo é realizar Ideias. Isto em decorrência implica na compreensão do poder como relação social bipolar: de um lado a vocação psicossocial de alguns em se fazerem obedecer (governantes) – atuação predominantemente ativa; de outro lado a vocação psicossocial de muitos em serem obedientes (governados) – atuação predominantemente passiva. ▪ A Ideia de Direito – Interinfuência – valores aceitos pelo grupo – Direito Vivo; C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 PREPARAÇÃO DISCURSIVA DELEGADO RIO DE JANEIRO 3 ▪ Valores comuns a todas as camadas de uma determinada sociedade; ▪ Valores privativos a cada estrato ou camada social que lutam para os impor através do exercício do poder. Conceito de poder político – pgs. 65/66. Que é Poder Político? ▪ Max Weber: “concepto sociologicamente amorfo”; “poder significa la probailidad de imponer la própria viluntad, dentro de uma relación social, aun contra toda resistência y cualquiera que sea el fundamento de esa probabilidad” ▪ Mac Iver: é o controle regulador final da ordem social. ▪ George Burdeau: é “uma força ao serviço de uma idéia. É uma força da vontade social preponderante, destinada a conduzir o grupo em direção a uma ordem social que considera benéfica e, conforme o caso, capaz de impor aos seus membros os comportamentos que esta busca obrigar”; “le pouvoir est une force au servisse d´une idée. C´est une force née de la conscience sociale, destinée à conduire le groupe dans la recherce du Bien commun et capable, le cas échéant, d’imposer aux membres l’attitude qu’elle commande”. ▪ Jorge Xifra Heras: “todos os fenômenos políticos são fenômenos de poder”; “o que caracteriza fundamentalmente o político é a coação que o respalda, a possibilidade de apelar para fazer valer sua eficácia”; “é, antes de tudo, a faculdade eficaz de regulamentar a conduta humana”. Assim, o termo comum entre os levantamentos e os conceitos encontrados pelos maiores nomes dos estudos sociológicos e políticos é a imposição. - Até que ponto a força e a sanção são elementos indispensáveis ao fenômeno Poder? “A nós nos parece que sim, principalmente, pela própria natureza daquilo sobre o que o Poder Político será exercido – o homem-, com sua possibilidade de Ser Livre e, portanto, optante final de seu comportamento, dentro os limites e parâmetros traçados pelo grupo. Força ou coação: elemento pelo qual se opera a imposição inerente ao Poder: “con el se designa todo elemento exterior a los indivíduos que ejerza sobre ellos uma presión encaminhada a obtener la obediencia a los governantes. Puede tratarse de uma coacción puramente material y física (la política o el ejercito) o de una coacción psicologica o psicosociológica (tal y como resulta del peso de las costumbres, por ejemplo, o de la fuerza de la propaganda).” Na análise do Poder como relação social bipolar, há de ser lembrado no extremo oposto à Força, outro elemento: a Obediência, a qual só se consegue quando e na medida em que, a atuação do Poder traz em sua base os valores sociais, a Ideia de Direito aceita pela sociedade, exatamente pelo fato de que nenhum Poder se consegue manter a partir do instante em que sua atuação se choca com os interesses do grupo. As vinculações entre Poder e Obediência se resumem a uma questão de Consenso e Anuência ao exercício do Poder, visando o Bem Comum, em determinado memento geográfico e histórico. ▪ Jorge Xifras Heras: “el poder no és solo fuerza,.no es exclusivamente potestas, mando. Su concepto se especifica com um segundo elemento: la obediência. No hay poder sin obediência. Como decía TARDE, poder es la faculdade de hacerse obedecer, obedientia facit imperantem. Mando y obediência, no sólo se complementan, sino que se engendran C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 PREPARAÇÃO DISCURSIVA DELEGADO RIO DE JANEIRO 4 mutuamente. Son las dos categorias que rigen el fenómeno del poder. Todo poder real, efectivo, positivo, suponeuna obediência, pues no manda quien quiere, sino quien puede, quien encuentre obediência”. Processo revolucionário: mudança de governantes e da estrutura jurídico-constitucional por outra [estrutura jurídico-constitucional] que realize os objetivos desejados pelo grupo. Note-se que, sem um dos elementos citados não temos configurada a Revolução. Se houve apenas uma mudança de governantes, temos Revezamento. Se houve mudança na estrutura constitucional provocada pela força, mas sem o acordo com o Direito Vivo, também não se pode falar em revolução, mas apenas mudança constitucional. 7.2 Ponto: O Estado como forma histórica de organização política. O pensamento político moderno e o surgimento do Estado – pgs. 81 seguintes Definição de Estado: estrutura de organização do poder político soberano, assentado sobre um determinado território, no qual a Constituição desempenha um papel fundamental. Enquanto a ciência política analisa o poder político e a sua dinâmica, a Teoria do Estado analisa sus elementos e as variações através dos tempos (não apenas sob a ótica jurídica). ▪ Javier Perez Royo: “la Constituición es un instrumento de articulación jurídica del Estado”; “La Constituición presupone una determinada forma de organización del poder político, sin la cual ella misma no existiría”; “El Derecho Constitucional no es más que el estudio del proceso a través del cual el Estado se somete al Derecho; es decir, el estudio del proceso a través del cual el Estado se convierte en un Estado de Derecho”. O Estado, forma de Organização Política típica das eras moderna e contemporânea, devido ao seu aspecto de valor histórico-cultural, é passível de alterações ao longo dos tempos – já se fala em comunidades (ex.: europeia) para designar o novo momento-modelo da Organização Política. Premissa: O Estado como forma de Organização Política é produto da Idade Moderna. Logo, é incorreto falarmos em Estado antes daquela época (Idade Moderna). ▪ A FORMA DE ORGANIZAÇÃO POLÍTICA É GÊNERO DO QUAL O ESTADO É ESPÉCIE, assim como a comunidade também é espécie. O Estado nem sempre existiu e nem sempre existirá, exatamente em razão de seu caráter cultural. ▪ Martínez Esteruelas: “El Estado no ha sido la forma política de todos los tiempos. Es un fenómeno histórico que, como otros, se produjo una época determinada y está, posiblemente, llamado a desaparecer. No ha constituido, por tanto, la única manera que los hombres han tenido de gobernarse. La humanidad ha conocido otras, como, por ejemplo, las ciudades griegas o los imperios antiguos. Por ello ha de ser contemplado con sentido histórico. Para aproximarse a la idea del Estado como forma política concreta, distinta de otras, se hace preciso indagar aquellos caracteres que le son propios y que, concurrentemente, lo definen. Esto supone, también, una labor comparativa con otras formas políticas, por sumaria que ésta sea”. C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 PREPARAÇÃO DISCURSIVA DELEGADO RIO DE JANEIRO 5 ▪ Miguel Ayuso: “o Estado deve colocar-se entre as formas de organização da comunidade política. Deve ser pois inserido na história: é um conceito histórico.” Possui “vinculação essencial com uma dada estrutura histórica e cultural”. “nem toda a forma de governo, ou seja, nem toda a organização que dirija a sociedade civil e evite o caos, pode ser considerada como um Estado”. ▪ Galvão de Souza: A sociedade política existe sempre, mas a forma de organizá-la “varia de época para época e de lugar para lugar”. “Uma de suas formas é o estado. Surgiu no Renascimento e não antes. Poderá desaparecer para dar lugar a outras formas de sociedade política”. “O Estado não é conceito geral, válido para todos os tempos, mas conceito histórico concreto, cujo aparecimento ocorre no século XVI, acompanhando a idéia e a prática da soberania”. ▪ Giorgio Balladore Pallieri: “a palavra ‘Estado’ pode ser entendida num sentido vago e genérico, de modo a compreender qualquer forma de convivência política dos homens, desde as hordas barbáricas à polis grega, ao império romano e às atuais comunidades estatais. Mas em tal hipótese perde-se totalmente a determinação do conceito: cai-se no abstrato e no impreciso; cobrem-se com a mesma denominação formas de convivência tão diferentes, orientadas por princípios tão diversos e às vezes até antiéticos, com finalidades e com meios para atingir seus escopos tão diferentes, que tornaria totalmente impossível qualquer profícua investigação científica a tal respeito. Na realidade, quando falamos em Estado, referimo-nos a qualquer coisa muito mais concreta: ao Estado em que vivemos atualmente, e em que, de há alguns séculos para cá, vive o mundo ocidental, ao Estado provido de certos caracteres, como a territorialidade, a soberania, etc., e que, de um modo particular resolve o problema político” Síntese: O Estado se manifesta “pela presença de todo um conjunto de elementos: territorialidade, soberania, etc., entre os quais não existe qualquer nexo lógico, no sentido de que a presença de um implique, necessariamente, também a presença de outros”. Veja que se referindo sempre às relações entre as ideias e estruturas de cada momento histórico, um ou outro elemento não poderá ser esquecido. Ademais, os períodos em História não têm caráter da rigidez. Assim, é incorreto falar em sucessão cronológica, na qual o início de uma forma de Organização Política implica no desaparecimento total de forma precedente. Veja: ▪ Anderson de Menezes: “os tipos estatais, por conseguinte, tem os seus cursos em certas ocasiões renovados, repercutindo os seus característicos em diferentes épocas e em diferentes locais. Não há uma regra de sucessão cronológica quanto aos tipos de Estado já aparecidos e existentes na superfície de nosso planeta” (...) “um tipo estatal contemporâneo ou a ser estruturado e posto em funcionamento pode ser semelhante a outro já conhecido na antiguidade, da mesma forma que o tipo estatal do futuro poderá apresentar-se idêntico ou parecido com o então praticado na Idade Média, igualmente com o tipo estatal do passado pode ressurgir na Era Moderna (monarquia teocrática designada C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 PREPARAÇÃO DISCURSIVA DELEGADO RIO DE JANEIRO 6 de direito divino)”. “(...) diante das circunstâncias cada vez mais díspares de lugar para lugar, de período para período, de ambiente cultural para ambiente cultural”. Pensamento político moderno: visão geral. O surgimento do Estado – pgs. 101/103 Assim se expressa o autor Ivo Dantas: “O Renascimento e a Reforma provocaram na História da Ideias o aumento de interesse pelas reflexões sobre o social e o político. O dogmatismo religioso característico da Idade Média cedeu lugar ao livre exame, revestindo-se em consequência, toda a produção doutrinária de um caráter laico e, portanto, secular, mundano. Ao lado dos chamados socialistas utópicos (MORUS, BACON e CAMPANELLA) e dos contratualistas (HOBBES e ROUSSEAU) dois nomes tiveram importância fundamental para a Teoria do Estado: Nicola Machiavelli e Jean Bodin, este últimotrazendo à tona aquilo que, a partir de então, passaria a distinguir a Organização Política das outras formas que lhe antecederam: a soberania, cuja teorização foi por ele exposta nos Six Livres de la Republique, enquanto que, através do escritor florentino se utilizou, pela primeira vez, o termo Stato na perspectiva que hoje o faremos, ou seja, como Forma de Organização Política Moderna.” • Nicola Machiavelli - termo Stato como Forma de Organização Política Moderna • Jean Bodin – soberania (Six Livres de la Republique) ▪ Juan José González Rivas: “El Estado es una forma de organización del poder político y antes de que surja el Estado como forma de organización del poder, los historiadores y los politólogos suelen clasificar en cuatro tipos las formas de poder anteriores del Estado, que podemos concretar en los siguientes puntos: a) Los grandes Imperios del Oriente, cuyas características son el despotismo y la teocracia; b) La polis griega con comunidades reducidas que constituyen también comunidades religiosas; c) La civitas romana, con características similares a la polis griega, donde hace acto de presencia la distincíon entre el derecho público y el derecho privado; d) La estructura política de la Edad Media” 7.3 Ponto: O Estado e seus elementos materiais: território e população – pgs. 117 seguintes Em se tratando de estado moderno contemporâneo, apresenta sob aspecto material-formal, os mesmos elementos: território, população e poder político. ▪ George Burdeau: “nem toda sociedade politicamente organizada é um Estado. Portanto, não podemos considerar válidas as definições que o assimilam ao fato da diferenciação entre governados e governantes. O que essa hierarquia revela é a existência de um Poder. Ora, embora o fenômeno do Poder seja universal, existem muitas formas suas que não são estatais”. ▪ Joseph R. Strayer: “actualmente aceitamos o estado como um dado adquirido e fora de questão. Queixamo-nos das suas exigências, lamentamos o facto de ele se imiscuir cada vez mais em assuntos que costumávamos considerar privados, mas dificilmente concebemos a vida sem a sua existência”. C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 PREPARAÇÃO DISCURSIVA DELEGADO RIO DE JANEIRO 7 O Estado nem sempre existiu, mas é impossível fixar-lhe a certidão de nascimento, sobretudo porque o fato histórico-político não se concretiza, ao mesmo tempo em todos os locais, do que é exemplo o Estado Social que teve seu início no México em 1917, em Weimar (1919) e no Brasil só se fez presente, constitucionalmente falando, na Constituição de 1934. Elementos do Estado: elementos que se fazem presentes na configuração da forma de Organização Política do Poder denominada de Estado, e que, se neles houver alteração, ter-se-á que criar uma denominação nova para esta nova forma de organização política. Surgido como consequência de acontecimentos históricos do início da Idade Moderna, o Estado se constitui de elementos que, ao longo da história, através das formas de Organização Política que lhe antecederam, variaram de importância conforme a época. Assim, por exemplo, a polis grega e a civitas romana acentuavam a importância do elemento humano, comunitário, enquanto que a Idade Média, com seu sistema feudal, tinha uma tônica no território, resultando daí a compreensão do poder político em sua íntima vinculação com o direito de propriedade. A partir do surgimento do Estado, os seus elementos ficam no mesmo plano, ou seja, território, população e poder político soberano. Na soberania se encontra a indispensável característica que torna o poder político institucionalizado – o grande diferencial entre as formas anteriores e as possíveis formas futuras que venha a assumir a Organização Política. • Elemento: “aquela substância que não se pode decompor” ou “tudo o que entra a composição de uma coisa”. • O Estado moderno-contemporâneo é composto de três elementos: território, população e poder político. a) Elementos de ordem material: Território: onde o grupo se acha fixado; População: componente humano genérico, compreendendo graus como povo e nação. b) Elementos de ordem formal: Poder Político: institucionalizado e soberano. Território como elemento material do Estado Território: elemento material do Estado sobre o qual será fixado o elemento humano e terá lugar o exercício do poder e a aplicação o ordenamento jurídico positivo-estadual. Estado Nômade ou Estado sem território? ▪ Oskar Georg Fischbach: “sem território, um Estado não se pode conceber”; “não se pode imaginar o Estado sem território. Caso, falte a porção limitada terrestre, não existe um Estado, mas sim, uma manifestação social de outra natureza. Nisto se distingue o Estado de outras entidades: ainda que estas possam ser aterritoriais, e em um mesmo âmbito local possam existir numerosas e diversas entidades, num determinado território só pode existir um Estado”. C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 PREPARAÇÃO DISCURSIVA DELEGADO RIO DE JANEIRO 8 ▪ Jean Dabin: no caso do Estado, “o elemento territorial representa um fator de base, e indispensável”. ▪ Marcello Caetano: “a coletividade que constitua Estados há de estar fixada em certo território, tem de ser uma sociedade sedentária. Nem sempre a forma mais perfeita de comunidade política exigiu a sedentariedade; mas hoje as grandes sociedades políticas a que chamamos Estados implicam necessariamente a existência de um território onde o povo seja senhor de si, regendo-se segundo as suas leis, executadas por autoridade própria, com exclusão da intervenção de outros povos.” Em verdade, é graças à existência do território que ao Estado é dado o exercício da soberania a qual, sobre aquele território, compreende o Imperium e Dominium, ou seja, “o primeiro constituído por uma espécie de soberania abstrata sobre as pessoas que nele se encontram; o segundo, constituído pelo direito de reger o território e dele dispor segundo sua própria vontade, para as necessidades legítimas da coletividade nacional”. Em outras palavras: o exercício da soberania dá-se nos limites precisos do território, razão pela qual, inexistindo território, deixará a organização política de ser soberana e, portanto, deixará de ser Estado. No tocante às funções do território, Jellinek afirma que são duas as funções do território, sendo uma positiva e outra negativa. ▪ Função Positiva (três aspectos): • o território proporciona a riqueza indispensável à satisfação do bem comum (que é função irrenunciável do Estado); • o território atua como fator de unificação servindo para compreender o Estado como unidade diferencial, fazendo nascer na população um sentimento de unidade; • o território delimita o espaço onde opera e se exerce a ordem jurídica que emana da sua soberania. ▪ Função Negativa: • o território fixa o limite do poder do Estado e deste modo veda [nega] poderes estaduais estrangeiros. ▪ Obs1.: a função negativa do território é consequência do último aspecto da função positiva (delimitação do espaço onde opera e se exerce a ordem jurídica queemana da sua soberania). Obs2.: a função negativa do território é de interesse, sobretudo, do Direito Internacional Público. Acerca da natureza Jurídica do Território, temos: 1. Doutrina Patrimonialista: o território é objeto de propriedade do Estado. Encontra suas origens na Idade Média, com seu sistema de feudalismo, onde o Senhor, além de proprietário, exercia o poder político, confunde-se os conceitos de soberania e propriedade. 2. A Doutrina do Território como elemento de personalidade do Estado: território é um elemento integrante da personalidade do Estado, pois não existe Estado sem Território. 3. Doutrina do Território como âmbito de competência do Estado: território é o espaço onde se exerce o poder do Estado. ▪ “Território é o domínio administrativo do Estado. O Estado não tem direito real sobre ele como coisa, pois é ele simples reflexo de uma qualidade jurídica do Estado”. C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 PREPARAÇÃO DISCURSIVA DELEGADO RIO DE JANEIRO 9 População é o termo mais adequado (sentido demográfico-matemático), frente a nação (conceito psico-sócio-antropológico) ou frente a povo (conceito jurídico-políticoconstitucional). ▪ Art. 5º caput (CRFB/1988): “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade e à propriedade, nos termos seguintes...”. Note-se que a Constituição fala em brasileiros e estrangeiros, o que implica em dizer-se o que habitam o território nacional e, como tal, estão sob o poder do Estado Brasileiro. Em outras palavras, refere- se à população que, em si, tem um conceito demográfico, ou seja, nele se incluem não só os brasileiros (natos ou naturalizados), mas os estrangeiros aqui residentes ou que estejam, temporariamente, no território nacional. Povo é um conceito jurídico-constitucional equivalente a eleitorado, ou conjunto de cidadãos, isto é, daqueles que votam e são votados. ▪ Art. 1º parágrafo único (CRFB/1988): “todo poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”. ▪ Art. 14 (CRFB/1988): “A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: I – plebiscito; II – referendo; III – iniciativa popular”. ▪ Giancarlo Ospitali: povo é “o conjunto de indivíduos vinculados pela cidadania a um determinado ordenamento jurídico”. ▪ Afonso Arinos: “Povo é aquela parte da população capaz de participar através de eleições, do processo democrático, dentro de um sistema variável de limitação, que depende de cada país e de cada época”. Sobre a nação: • Teoria Naturalista: a nação tem sua essência em algo natural, como sangue, raça ou determinado território com fronteiras bem definidas, ou ainda o corpo material de um idioma. • Teoria Espiritualista: nação é o ato espiritual coletivo de adesão, que em cada momento verificam todos os partícipes de uma determinada comunidade. ▪ José Afonso da Silva: “Sociologicamente é certo que a nacionalidade indica pertinência da pessoa a uma nação. (...) Não é, porém esse o sentido dos termos nacional e nacionalidade no sistema jurídico. Aqui, nacionalidade é o vínculo jurídico-político de direito público interno, que faz da pessoa um dos elementos componentes da dimensão pessoal do Estado. (...) Nacional é o brasileiro nato ou naturalizado, ou seja, aquele que se vincula, por nascimento ou naturalização, ao território do Brasil, cujo conjunto forma o povo (a população); cidadão é o nacional no gozo dos direitos políticos”. Em síntese: C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 PREPARAÇÃO DISCURSIVA DELEGADO RIO DE JANEIRO 10 • População: conceito demográfico-matemático. Conjunto de habitantes de um determinado Estado, vivendo sob o império do poder desta organização política, independente da nacionalidade e cidadania; • Povo: conceito jurídico-constitucional. Conjunto de cidadãos, isto é, dos que estão no gozo dos direitos políticos. O mesmo que eleitorado. • Nação: conceito psico-sócio-antropológico. Conjunto de pessoas com mesma tradição histórica, valores e aspirações. Em termos jurídicos, a nacionalidade pode ser nata ou adquirida, nos termos fixados pela Constituição. 7.4 Ponto: Contrato Social e a revolução como fonte do Direito. A revolução e a Nova Ordem Jurídica – pgs. 133 seguintes ▪ Machado Neto: “não obstante o caráter conservador de toda sociedade – que, como tudo que é vivo, procura a todo custo, manter-se e conservar-se – o império da temporalidade, atributo de tudo que é humano, impõe-lhe a dura sina de contínuas transformações, decorrendo mesmo sua maior ou menor capacidade de sobrevivência da maior ou menos habilidade no mudar, adaptando-se às novas condições que, continuamente, lhe apresenta a circunstância histórica”. Em outras palavras devemos afirmar que há indissolúveis relações entre a realidade vigente e o conteúdo material do documento denominado Constituição, sob pena de, em não havendo estas correspondência, ocorrer a quebra do processo constitucional ou Revolução na perspectiva kelseniana, instalando-se no poder um novo grupo que represente tais valores, e com eles produzam uma nova Constituição, que represente as relações destes dois polos – a Constituição Político-Jurídica e a Constituição Social. A Revolução como Fonte do Direito: A revolução é resultado de um choque existente entre a Constituição Política (uma das formas de Direito Legislado) e a Realidade Social ou Sociedade. Estes dois elementos, em uma visão sociológica, formam uma relação não contestada, salvo quanto à intensidade que cada componente desempenha no conjunto. A Constituição como reflexo da Sociedade: posicionamento tipicamente marxista (visão ortodoxa) ou sociologista. A expressão reflexo indica passividade de um dos elementos do binômio, o que de forma alguma ocorre, embora não se possa negar a influência não só do econômico sobre o fenômeno jurídicoconstitucional, mas de todos os aspectos da chamada Constituição Social. ▪ H. Levy Bruhl: (factores de evolución del Derecho) “Puesto que es la expresión de las voluntades del cuerpo social, todo que influye en la sociedad repercute en su derecho”; “podemos distinguir factores económicos, políticos y culturales”. ▪ Ferdinand Lassale: (Que é uma Constituição?) “Essa é, em síntese, em essência, a Constituição de um país”; “mas, que relação existe com o que vulgarmente chamamos de Constituição, com a Constituição Jurídica? Não é difícil compreender a relação que ambos conceitos guardam entre si. Juntam-se esses fatores reais do Poder, escrevemo-nos em uma folha de papel, dá-se-lhe expressão C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 PREPARAÇÃO DISCURSIVA DELEGADO RIO DE JANEIRO 11 escrita e a partir desse momento, incorporados a um papel, não são simples fatores reais do Poder mas sim, verdadeiro direito, nas instituições jurídicas e quem atentar contra eles atenta contra a lei, e por conseguinte é punido”. Note que o fenômeno da Dinâmica Constitucional nada mais é que a constante tentativa de adaptar o texto político às novas realidades-valores sociais ▪ German J. Bidart Campos: “La materia social es cambiadiza, las circunstancias se sucedenm lois elementos están en permanente mutación. De donde también cambian los motivos políticos, las directivas, las formas de convivencia y, por sobre todo eso, el proceso consitucional”. ▪ Felippe Augusto de Miranda Rosa: (Direito como Fato Social) “a norma jurídica portanto, é um resultado da realidade social. Ela emana da sociedade, por seus instrumentos e instituições e destinados a formular o Direito, refletindo o que a sociedade tem como seus objetivos, bem como suas crenças e valorações, o complexo de seus conteúdos éticos e finalísticos”. ▪ J. P. Galvão de Souza: (Tensão entre a norma e a realidade do Direito Constitucional) “Se as leis pouco valem sine moribus, sem estarem assentadas na realidade social e no Direito Histórico, isto também é verdade em se tratando da Lei fundamental do Estado, mesmo na hipótese de um novo regime Político a estruturar, quando importa ajustar instituições a um determinado meio, levando em conta os hábitos sociais, as tradições locais e regionais, o caráter do povo, enfim, todo o background psico- sociológico, político e econômico. Nesta subestrutura se acha o que há de mais fundamental ou constitucional numa nação, a sua Constituição Social, o suporta da Constituição Política. Essa última não deve ser um produto concebido aprioristicamente ou fabricado como um artefato, pois não é obra de engenho mecânico mas a de prudência legislativa, se o legislador prudente sabe auscultar os condicionalismos sociais”. Conclusão: existe uma influência recíproca da Constituição sobre a Sociedade e vice-versa embora evidentemente não há como se negar a predominância do social (compreendido em uma visão global) sobre o jurídico. A partir do instante em que existe um divórcio entre Constituição Jurídica e a Realidade Social, estaremos diante daquilo que alguns chamam impropriamente de desconstitucionalização, que na verdade é identificado como um Hiato Constitucional, ou seja, Revolução entendida na perspectiva de Fonte do Direito. A Revolução deve ser encarada como um tipo de Hiato Constitucional, isto é, como uma quebra no processo político-constitucional e histórico normal vigente em determinada organização política, em certa época. Sendo o Poder uma força a serviço de ideia, o seu exercício deve estar de acordo com os valores e o Direito aceito pela sociedade, a Revolução existe a partir do instante em que o Direito Legislado – expresso na Constituição – não corresponde à ideia de Direito aceita pelo grupo em dado momento. Não tem sentido diferenciar-se Revolução e Golpe de Estado, uma vez que Golpes de Estado poderão ser entendidos no C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 PREPARAÇÃO DISCURSIVA DELEGADO RIO DE JANEIRO 12 sentido amplo de Revolução, bastando que haja ruptura no processo jurídico-estatal da Organização Política [Estado]. A Norma Jurídico-Positiva nada mais é que meio de tornar efetivos os Valores consagrados na sociedade, sendo em consequência, o Poder o meio indispensável ao alcance dos fins desejados. ▪ Hans Kelsen: (Teoria Pura do Direito) “Uma revolução no sentido amplo da palavra compreendendo também o golpe de Estado é toda modificação ilegítima [ilegal] da Constituição, isto é, toda modificação da Constituição ou sua substituição por outra, não operada segundo as determinações da mesma Constituição”. Atenção: Se o movimento trouxe a mudança da estrutura Constitucional, substituindo-a por outra, temos Revolução; caso contrário, se apenas os homens que estavam no Poder foram substituídos, temos um Revezamento de Governantes, nunca Revolução, processo político este, por sinal, bastante comum nos Estados Latino-Americanos... ▪ Hebert Marcuse (Ética de la Revolucíon) indo um pouco mais além do que exigir a “mudança constitucional”: “por revolución entiendo yo el derrocamiento de un gobierno y de una constitución legalmente establecidos, por una clase o un movimiento cuyo fin es cambiar la estructura social y la estrutura política. Esta definición excluye todos los golpes de Estado militares, revoluciones de palacio y el nacionalsocialismo, porque no cambian la estructura social básica” ▪ J.P. Galvão de Souza (choque da Constituição Política com a Constituição Social) “quando ela (a Constituição) é elaborada levando devidamente em conta os dados reais do poder a que visa reger, aquela tensão não se manifesta de modo muito sensível. Mas quando a Constituição formal não corresponde à realidade Constitucional histórico-política, então vê-se aparecer o que GEORGE DASKALAKIS chama ‘a paraconstituição’ e ‘a contraconstituição’. Na primeira hipótese (paraconstituição), a constituição permanece em vigor, mas se vê modificada, nas suas aplicações, por regras de Direito escrito, pelos costumes, pela interpretação, pelos usos constitucionais. Na segunda hipótese (contraconstituição), a constituição torna-se un chiffon de papier e as práticas políticas são radicalmente contrárias ao espírito e às instituições fundamentais do regime constitucional formalmente estabelecido” Ocorrendo a revolução, em nome de valores sociais e do Direito não legislado, evidentemente que todo o sistema jurídico-constitucional será posto de lado e uma nova estrutura jurídica deverá brotar com base nos ideais revolucionários. Vitoriosa a revolução e procurando atingir a ordem jurídica contra a qual foi deflagrado o processo de jurisdicização positiva da sociedade tem início por intermédio do que se poderia chamar Direito Transitório, através do qual não se tem de logo as linhas definitivas da nova organização, mas sim a fixação dos objetivos primordiais do movimento, que, se em princípio era algo não legal, mas legítimo, hoje é fonte do Direito Positivo, através do qual será elaborada a viga mestra do novo sistema: a Constituição Política. C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 PREPARAÇÃO DISCURSIVA DELEGADO RIO DE JANEIRO 13 A substituição de uma ordem jurídica por outra (a ordem antiga pela nova = revolucionária) não se opera de forma imediata ou abrupta, mas é possível identificar-se nesta transformação o Hiato Jurídico- Constitucional: há um corte no ordenamento jurídico-constitucional que aos poucos será substituído por outro, embora neste período não deixe de existir, pelo menos, regras de exceção ao lado de regras do Direito não legislado, costume etc. Nesta fase de Hiato ou Corte Constitucional, o movimento se vê retratado no que se chama de Edito Revolucionário,documento jurídico-positivo através do qual é possível identificar os objetivos e a linha do movimento revolucionário vitorioso, além de sua tentativa de institucionalizar-se e legislar-se, já que para as lideranças, tudo foi feito em nome de um interesse maior – o interesse da comunidade, em nome dos valores que se chocam com aqueles outros do ancien regime. ▪ Ruy Ruben Ruschel: (A Revolução e o Poder constituinte) “outorgar é conceder, consentir, facultar, permitir, aprovar (...) A outorga constitucional comete ao dono da soberania do Estado (...) A promulgação revolucionária de novas normas fundamentais, por seu turno, tem pressupostos doutrinários outros. Os chefes não se dizem titulares da soberania, mas apenas seus guardiães em nome do povo. Admitem como originários do poder os elementos do povo e assumem-no como representantes e em benefícios de seus titulares. O Edito Revolucionário não é, portanto, ‘outorgado’ à nação, mas ‘editado’ em nome da nação”. 7.5 Ponto: A Constituição como positivação do Direito – pgs. 253/255. O constitucionalismo liberal e o constitucionalismo social – pgs. 213/219. O constitucionalismo e a era da globalização– pgs. 267/275 Pode-se dizer que a Constituição é a Positivação do Direito, que, por sua vez, nutrirá a Ideologia Constitucional daquele momento, visto que cada sociedade, em cada momento histórico, tem os seus valores que são transformados em normas de direito positivo que, caracterizadas por uma Supremacia inserem-se na Constituição, enquanto esta própria, para lhes dar eficácia, marca-as com os elementos da Supralegalidade e da Imutabilidade Relativa. Em consequência destes dois últimos elementos, é que se explicam os institutos do Controle de Constitucionalidade das Leis e Atos (inclusive jurisdicionais) e o Poder de Reforma (manifestado pela Revisão e/ou Emenda constitucionais). Exatamente por este mecanismo é que alguns autores, dentre eles o Burdeau, consideram a Constituição como Estatuto do Poder exatamente, em razão de caber-lhe determinar as diretrizes fundamentais, básicas e gerais que definirão o conteúdo do Estado e das demais formas de manifestação da norma jurídica. ▪ Georges Burdeau: (Trauté de Science Politique) « le pouvoir est une force au sercie d’une idée. C’est une force née de la conscience sociale, dstinée à onduire le groupe dans la recherce du Bien commun et capable, le cas échéant, d’imposer aux membres l’attitude qu’elle commande ». Constituição Social e Constituição Política: Constituição Social – espontânea; Constituição Política – conscientemente ordenada. Ambas são mutáveis e variáveis. C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 PREPARAÇÃO DISCURSIVA DELEGADO RIO DE JANEIRO 14 ▪ Xifra Heras: “entre uma e outra não há desvinculação nem subordinação: relacionam-se em um plano de igualdade. A Constituição Social é a estrutura estável que resulta em uma sociedade determinada e que constitui ‘seu temperamento próprio, sua peculiar atividade, seu talento, suas aptidões, sua energia originária ou a sua apatia congênita, suas ambições ideais ou seus apetites de gozo, suas disposições comunitárias, seu espírito de equipe ou seu individualismo furioso’. A Constituição política reflete, ao contrário, o estatuto do poder do Estado; porém, se trata de um poder existente estruturado sobre uma sociedade concreta” ▪ Georges Burdeau: (Trauté de Science Politique) « le pouvoir est une force au sercie d’une idée. C’est une force née de la conscience sociale, dstinée à onduire le groupe dans la recherce du Bien commun et capable, le cas échéant, d’imposer aux membres l’attitude qu’elle commande ». ▪ Edwin Selligman (condenando o monismo marxista inicial): “entendemos por teoria da interpretação econômica da História, não que toda História seja explicada tão somente segundo termos econômicos, e sim que, o que principalmente deve ter-se em conta no progresso humano são as condições sociais e que o fator importante da mudança social é o fator econômico. A interpretação econômica da História significa não que as relações econômicas exerçam uma exclusiva influência, e sim que a exerçam predominantemente no pregresso da sociedade”. ▪ Ferdinand Lassale (Que é uma Constituição?): “a soma dos fatores reais do poder que regem um país”; “Mas, que relação existe com o que vulgarmente chamamos Constituição [Constituição Social], com a Constituição jurídica [Constituição Política]?”... O fenômeno da Dinâmica Constitucional, que culmina com a ascensão do econômico-social ao plano jurídico-constitucional, nada mais é do que uma tentativa de adaptar os textos às novas realidades, em constante processo de mudança sociocultural, em permanente vir-a-ser. Essa dinâmica ou ajuste da norma constitucional à realidade social é o meio de se evitar hiatos constitucionais, sejam por revoluções, golpes de estado etc., sobretudo, porque, o poder político existe em função de valores representados por ideias que se concretizam na norma jurídica. Nos instantes onde não ocorre a adaptação e harmonia das normas constitucionais às novas realidades [distanciamento entre Constituição Política e Constituição Social], ocorre o hiato constitucional, ou fenômeno a que, impropriamente, se tem chamado de Desconstitucionalização, equivalente ao divórcio entre a realidade social e a norma constitucional jurídico-positiva. A mobilidade e a mutação dos valores sociais são bem mais rápidas que a produção da norma oficial, sujeita a procedimentos legislativos cada vez mais rígidos, principalmente quando referentes à matéria tida como constitucional. Este aspecto se verifica, inclusive, nos sistemas jurídicos consuetudinários, onde o costume deve ser visto em seu enfoque jurídico e, portanto, portador de uma certa rigidez que poderá durar até séculos para que possa ser modificado. A História é uma ciência Auxiliar para a correta compreensão dos fenômenos jurídicos. Nos Sécs. XVIII, XIX e XX houve transformações pelas quais tem passado o próprio conceito material de Constituição; mesmo considerando apenas o modelo constitucional do século passado, constataremos que naquele C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 PREPARAÇÃO DISCURSIVA DELEGADO RIO DE JANEIRO 15 período não houve um conceito único de Constituição e a predominância do conteúdo liberal da Constituição, só ocorreu até os anos de 1917 (no México), e 1919 (Constituição de Weimar). Considerando-se, assim, estes marcos históricos, visualiza-se que o referido conteúdo liberal da Constituição após aqueles anos, cede lugar a um conteúdo social, que predominaria até os anos 1980, quando em alguns Estados começa a vigorar o modelo de Constituição neoliberal, que hoje (início do séc. XXI) sofre profundas críticas. ▪ José Alfredo de Oliveira Baracho: “No constitucionalismo de entreguerras ocorre a confluência de tendências socialistas, liberais, cristãs, com influências nas Constituições, onde já começam as técnicas planificadoras. Na descrição dessas modificações, PABLO LUCAS VERDU ressalta a configuração do Estado de Direito, como Estado Social de Direito. Sente-se anecessidade de constitucionalização das realidades econômico-sociais. Com as Constituições da Primeira Guerra Mundial e após a Segunda Guerra, as Constituições europeias, antecedidas pela Constituição do México, de 1917, consagram direitos econômicos e sociais (trabalho, seguro social, função social da propriedade, nacionalização, empresa pública)”. ▪ Paulo Bonavides: (Do Estado Liberal ao Estado Social) “Este (o Estado Social) representa efetivamente uma transformação superestrutural por que passou o antigo Estado Liberal. Seus matizes são riquíssimos e diversos. Mas algo, no Ocidente, o distingue, desde as bases, do Estado proletário, que o socialismo marxista intenta implantar: é que ele conserva sua adesão à ordem capitalista, princípio cardeal a que não renuncia”. O Lema do Estado Liberal em sua feição de Política Econômica – Lessez faire, lessez passer, et le monde va la lui-même – cede lugar à presença do Estado que assume papel e a responsabilidade de oferecer ao Homem um mínimo de condições para vier com dignidade. Esta presença estatal é representativa de uma segunda fase na evolução dos direitos individuais que passa de uma visão clássica absenteísta, para uma visão positivista, de ação, ou seja, enquanto os direitos individuais da primeira fase significavam um não fazer do Estado e dos demais agentes públicos, os direitos sociais devem ser vistos como aqueles que tem por objeto atividades positivas do Estado, do próximo e da sociedade, para subministrar aos homens certos bens e condições. É a constitucionalização dos Direitos Sociais e, dentre eles, dos Direitos Trabalhistas. Pergunta: Diante do conteúdo com que se apresenta o constitucionalismo atual, expresso sob a forma de Constitucionalismo Global ou Constitucionalismo na era da Globalização, é correto que identifiquemos nele um novo Direito Constitucional? Seja sob que forma se apresente o Direito Constitucional nos dias atuais, estará ele sempre ligado à noção de Estado, sendo válido relembrar que sendo o Estado um dado de cultura ou histórico, ou ainda forma de que se revestiu a Organização Política ao longo de sua evolução, significa que ele (o Estado) nem sempre existiu e nem sempre existirá. Não seria agora, sobretudo diante do momento atual, que o aspecto de mutabilidade da Organização Política seria substituído pela característica da imutabilidade. C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 PREPARAÇÃO DISCURSIVA DELEGADO RIO DE JANEIRO 16 Referência Bibliográficas: Ivo Dantas. Teoria do Estado Contemporâneo. C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06 C AR LA S O U SA 1 06 72 88 97 06
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