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1 SAÚDE REPRODUTIVA, GÊNERO E GERAÇÃO 1 Sumário SAÚDE REPRODUTIVA, GÊNERO E GERAÇÃO........................................ GÊNERO, SEXUALIDADE E SAÚDE ......................................................... 3 REPRODUÇÃO E GÊNERO: PATERNIDADES E TEORIAS DA CONCEPÇÃO ....................................................................................................... 6 NECESSIDADES DE SAÚDE, POLÍTICAS PÚBLICAS E GÊNERO: PERSPECTIVAS DAS PRÁTICAS PROFISSIONAIS ........................................... 10 INTEGRALIDADE E GÊNERO NA ASSISTÊNCIA A SAÚDE .................... 13 REFERÊNCIAS .......................................................................................... 17 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história, inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender a crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós- Graduação. Com isso foi criado a instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 GÊNERO, SEXUALIDADE E SAÚDE Uma breve análise gênero nas análises sociais, Gênero é um conceito das ciências sociais que se refere à construção social do sexo. Significa dizer que a palavra sexo designa agora no jargão da análise sociológica somente a caracterização anátomo-fisiológica dos seres humanos e a atividade sexual propriamente dita. O conceito de gênero existe, portanto, para distinguir a dimensão biológica da social. Genericamente, as ciências humanas utilizam termos em suas teorias que são de uso da linguagem comum. Portanto, definir com precisão o sentido e a que dimensão da realidade a que se referem seus instrumentos conceituais é preocupação semelhante à das demais ciências. O raciocínio que apoia essa distinção baseia-se na ideia de que há machos e fêmeas na espécie humana, mas a qualidade de ser homem e ser mulher é realizada pela cultura. Mas, por que é possível afirmar-se que homens e mulheres só existem na cultura, ou melhor, que são realidades sociais e não naturais? Na conjuntura dos direitos reprodutivos articulados entre as problemáticas do gênero e da sexualidade, a dimensão no campo da saúde que incidem sobre o domínio da reprodução e da prevenção das doenças sexualmente transmissíveis avaliando os sujeitos aos quais elas se destinam, estão marcados por condições sociais distintas, entrelaçando estas, determinações de classe, gênero, etnia, faixa etária, posição no ciclo reprodutivo, afiliação religiosa, capital cultural e educacional. A dimensão de itens deve ser considerada como constituindo a moldura que fabrica e encerra as condições de existência dos seres sociais e atualiza os dilemas da contemporaneidade, considerando como conciliar universalismo e diferença na formulação de políticas. “Através da comparação entre diversas sociedades, pode-se perceber que homens e mulheres são concebidos representacionalmente e modelados socialmente de maneira muito variada, deduzindo-se assim a fraca determinação da natureza na 4 definição de comportamentos sociais; a espécie humana é essecialmente dependente da socialização” (Elias, 1987). Portanto, é usual conceber-se, no senso comum que as condutas que homens e mulheres ostentam da consequência da dimensão natural inscrita em seus corpos. A exemplo disso são as convicções muito difundidas sobre correlação inata entre sexo e personalidade. Na cultura ocidental, imagina-se que o masculino é dotado de maior agressividade e o feminino de maior suavidade e delicadeza. Margareth Mead, uma antropóloga americana, na década de 30, resolveu estudar essa questão nos anos 30. Seu livro Sexo e Temperamento (Mead,1969) traz os resultados da pesquisa realizada na Nova Guiné sobre o que então se chamava de papéis sexuais, e que hoje em dia chamamos de construção social do gênero. Da comparação entre três culturas (Arapesh, Mundugomor e Tchambuli) que compartilhavam de uma organização social semelhante. Portanto a cultura é composta de conjuntos ideacionais específicos apresentam se como um todo integrado; cada domínio pode ser objeto de concepções peculiares, contudo eles mantêm entre si uma tessitura que não é de simples justaposição, ao contrário, integram um sistema interdependente que provê a coerência de uma determinada visão de mundo. Mas quais são as articulações entre gênero e reprodução? “A problemática do gênero explica ser na apropriação da fecundidade feminina pelo sexo masculino a origem da desigualdade entre os gêneros presentes em diversas sociedades” (Barbieri, 1991). Toda via o constrangimento que a natureza exerce sobre a organização social para essas tarefas é bastante frágil. Na vida social lidamos sempre com formas institucionais e, portanto, arbitrárias de arranjo das relações entre seres humanos. É apenas efeito da ideologia, e do seu subsistema de ideia referidos ao gênero, "conceber instituições estáveis da sociedade como formas 'naturais' de organização da vida coletiva" (Durham,1983::15). 5 No que diz a respeito da palavra a sexo, foi desalojada do entendimento da elaboração cultural das condutas de homens e mulheres, a sexualidade como expressão das trocas eróticas entre sujeitos de sexos diferentes ou de um mesmo sexo foi despejada de uma significação transhistórica e/ ou transcultural. “A sexualidade é uma forma moderna (sec.XVIII) de arranjo e construção de representações e atitudes acerca do que seria uma orientação erótica expontânea, traduzindo uma dimensão interna dos sujeitos, ordenada pelo desejo”. Relativo à sexualidade em sua dimensão na construção social, ou seja, a cultura quem delimita nesse esforço a pessoa, no próprio sentido de vem ser masculino e feminino, também o próprio reconhecimento a ser um ser humano, subjetiva e socialmente falando-se, depende das representações coletivas presentes em uma sociedade sobre o que significa. “Este modo de formular a questão apoia-se na perspectiva construtivista, que privilegia uma abordagem do sexo como um domínio social equivalente a outros tantos: carece de socialização, de internalização de representações, de introdução a determinadas práticas, de negociação de significados sobre atitudes do que venha a se constituir como erótico o sexual em um determinado contexto social” (Gagnon e Simon:1973). Portanto a cultura é a grande responsável pela transformação de corpos sexuados em corpos socializados, inseridos estes em redes de significados que definem categorizações de gênero, de orientação sexual e de escolha de parceiros; é por intermédio de valores que se modelam, se orientam e se esculpem os desejos e as trajetórias sexuais-amorosas. O sexo é um canal de comunicação, um meio de troca, articulado nuns visão de mundo, onde estão igualmente presentes, concepções sobre amor romântico, intimidade, corpo e os sentimentos a ele relacionados como gostoe desagrado, também estes culturalmente fabricados. 6 REPRODUÇÃO E GÊNERO: PATERNIDADES E TEORIAS DA CONCEPÇÃO De acordo a concepção de Strathern, gênero se refere a um tipo de categoria de diferenciação. Gênero se refere a categorizações de pessoas, artefatos, eventos, sequências e tudo o que desenha a imagem sexual, indicando os meios pelos quais as características de masculino e feminino tornam concretas as ideias das pessoas sobre a natureza das relações sociais. As mediações em relação a paternidade mostram-se concebida como fundamental para uma determinada masculinidade, a dos casados, uma vez que a dos solteiros pode fundamentar-se na sua falta de responsabilidades, liberdade sexual e acesso a várias mulheres. Assim, o casamento (heterossexual e monogâmico) recria a noção de masculinidade ao incorporar a paternidade, com suas consequentes responsabilidades Retratando a paternidade, não se refere apenas como ‘fazer filhos’; ela está relacionada também à capacidade de sustentá-los e educá-los. Sustentar os filhos é uma responsabilidade considerada masculina, o que coloca o trabalho remunerado dos homens como referência fundamental nas concepções sobre paternidade e masculinidade. Sendo assim, fazer filhos’ pode servir para comprovar o atributo físico da paternidade, conseguir sustentá-los e educá-los comprova seu atributo moral. A conjunção de atributos físicos e morais na representação da paternidade elucida a coexistência do desejo por filhos ‘próprios’, de ‘seu sangue’, junto com a criação de filhos da companheira com outro parceiro, de filhos da irmã, ou filhos adotivos. Ou seja, criar filhos que não são ‘biologicamente’ seus relaciona-se aos atributos morais da paternidade, como dar sustento, educação e amor. Atributos estes que são colocados, porém, no atributo físico da paternidade, entendido como a origem modelar de doação de amor, educação e sustento. 7 “Strathern enfatiza que, na representação por ela denominada de “euro-americana”, parentesco é um conceito híbrido, uma vez que é considerado como um fato da sociedade enraizado em fatos da natureza”. No processo de procriação como tal é visto como, pertencendo ao domínio da natureza, e não ao domínio da sociedade. Ou seja, o parentesco é visto como um arranjo social dos fatos naturais, entre os dois domínios. As tecnologias reprodutivas permitem que homens e mulheres se tornem pais e mães através da manipulação de um ou mais fatos considerados naturais da vida: relação sexual, transmissão de genes e dar à luz. Portanto as tecnologias reprodutivas abrem mais possibilidades para as atribuições de maternidade e paternidade, mas sem que estas deixem de ser consideradas, de acordo Strathern em relação ao parentesco, um fato da sociedade enraizado em fatos da natureza. Entretanto a paternidade é atribuição da masculinidade, mas não da mesma forma que a maternidade é atribuição da feminilidade. A maternidade é vista pelas mulheres como um desejo que sempre existiu, como natural, instintivo, essencial, como a realização de um sonho do passado. Dessa forma, a representação de que as mulheres vão se constituindo mães ao longo de suas trajetórias de vida, e que a maternidade é uma experiência de continuidade, de repetição, de realização de um plano desde sempre elaborado no passado feminino. Em relação à masculinidade, segundo Almeida, relata, que esta não pode ser vista como a mera formulação cultural de um dado natural, uma vez que ela é marcada por assimetrias (como heterossexual/homossexual) e hierarquias (de mais a menos ‘masculino). No que diz afirmativa em relação à feminilidade, e a questão da esterilidade ilustra bem esse ponto. mesmo havendo a incorporação de dimensões femininas na masculinidade, não há uma falta de delimitação de prerrogativas normativas masculinas e femininas. A necessidade de manutenção de demarcação de fronteiras aparece como evitando o perigo da contaminação inerente à união do que deveria estar. 8 “Segundo Delaney, culturas influenciadas pelo monoteísmo elaboraram uma teoria monogenética da reprodução. Essa teoria considera que os homens são os geradores das crianças, e a participação das mulheres restringe-se a acolher a criança em seu corpo para que se desenvolva. A analogia é com a plantação, pois os homens simbolizam a semente e as mulheres a terra: a semente germina e se transforma independentemente da terra em que foi cultivada.” Carol DELANEY, 1986. Uma vez que, a ideia da existência de uma teoria monogenética da reprodução estar bem alicerçada no trabalho de campo de Delaney, mesmo que sua afirmação que essa teoria continua informando noções sobre reprodução em outros lugares da Europa e na América, acaba por encobrir a existência de outra teoria sobre a reprodução que pode ser encontrada nas culturas influenciadas pelas religiões monoteístas. Strathern em sua representação euro-américa onde aponta a teoria duogenética da reprodução, considerando que pai e mãe contribuem geneticamente para gerar a criança. Mas é uma participação desigual, na medida em que a mãe contribui com um elemento a mais, o útero. Dessa forma, a denominação de teoria duogenética de reprodução para referir às representações que consideram que pai e mãe participam do processo reprodutivo, mas de maneira desigual, uma vez que a gravidez é tida como um processo que ocorre exclusivamente (até agora, pelo menos) no corpo da mãe, e o embrião desenvolve independentemente da participação paterna. Esta é a confirmação das noções de amor natural materno, de ligação natural e automática da mãe com o filho. Ou seja, a gravidez é tomada como a responsável por estabelecer esse amor e essa ligação natural da mãe com o filho, pois confere à mãe uma experiência exclusiva de intimidade com a criança. Para Fonseca, quando mostra que a noção do amor natural materno está presente em setores sociais onde é comum a circulação de crianças. As mães que entregam seus filhos para que outras mulheres cuidem temporariamente (o que pode significar anos) não consideram que abandonaram seus filhos. 9 Ao contrário, acreditam que fizeram um grande sacrifício ao cederem suas pejorativas maternas para outras mulheres em nome do bem-estar da criança. Mas, ainda que essa prerrogativa possa ser cedida, ela nunca é perdida, uma vez que os laços de sangue são considerados perenes, e a mística da ligação mãe–filho é onipresente. Cláudia FONSECA, 1995. Portanto a gravidez representa um processo que, uma vez ocorrido, prescinde da participação paterna para seu desenvolvimento, sendo exclusivo das mulheres – contida na teoria duogenética da reprodução –, informa as concepções da maternidade como uma essência e as da paternidade como um projeto. Senso assim, a uma diferença considerada natural e biológica é atribuído um peso explicativo. Além disso, o ‘modo natural de reprodução’ – compreendido como incluindo relação sexual, transmissão de genes e gravidez – é tomado como modelo a ser seguido nos arranjos sociais relativos à reprodução, como a adoção e o uso de tecnologias reprodutivas. NECESSIDADES DE SAÚDE, POLÍTICAS PÚBLICAS E GÊNERO: PERSPECTIVAS DAS PRÁTICAS PROFISSIONAIS No âmbito da saúde, circula como questão no campo da Saúde Coletiva, estudos sobre o acesso a serviços e cuidados, a qualidade da assistência e das práticas dos profissionais, situando como os direitos à saúde e deveres do Estado em suas políticas públicas. Foi o centro da estruturação da Saúde Coletiva, nos anos 1970, vinculando-se à democratização do estado brasileiro e à reforma da saúde. Enfatizando o estudo das necessidades em permitia o serviço da assistência quando o tema foi tratado como necessidades satisfeitas e não satisfeitas pelos serviços de saúde então existentes.Causou a discussão sobre a premência transformadora do Estado, com o reconhecimento dos direitos de cidadania e do acesso universal aos serviços de saúde. 10 A Saúde Coletiva teve na realização do Sistema Único de Saúde (SUS) em 1980, o maior engajamento, cujo projeto democratizante, mesmo tendo avançado, até hoje persiste como questão. Porém os estudos das necessidades também levavam, à época, à crítica da especialização assistencial, tanto em termos das práticas profissionais, quanto do ensino médico. Perspectiva de gênero voltada para a saúde dos homens, alinhando à produção da última década na Saúde Coletiva. Gênero implica dois parâmetros de análise: a dimensão relacional que leva a pensar homens de modo articulado com mulheres e a tomada explícita da desigualdade de poder entre eles, sendo um maior valor atribuído à esfera masculina de questões sociais, o que repercute em necessidades de homens e de mulheres. A teoria de gênero permite a compreensão da construção sócio histórica acerca do ser homem e mulher com a pretensão de sua desconstrução: identifica a desigualdade de valor, evidenciando as formas tradicionais de definir e abordar homens e mulheres na vida social, para uma crítica contra cultural, em busca da equidade de gênero. Aproxima se a crítica ao encontro do princípio da integralidade para as políticas públicas de saúde e toma necessidades de modo alternativo ao pensamento hegemônico da racionalidade biomédica. Em alguma forma já indica que a maior equidade na atenção integral não se assenta em medidas idênticas para homens e mulheres, pois a construção das desigualdades reflete uma dada concepção de poder na sociedade. Portanto as relações entre as distintas classes sociais nessa reprodução, onde o social conforma um todo cujas partes se apresentam em uma dinâmica de afirmação e negação das características sócio históricas desse todo. Refere se a noção de (re)produção como uma reiteração que é, ao mesmo tempo, uma nova produção, gerando tensões. Ou seja, mesmo em práticas sociais que conservam o social, mudanças podem ser impulsionadas por sujeitos sociais agentes das mesmas. A exemplo, estudos apontam que as práticas de violências socializam os meninos na formação da identidade masculina, revelando também que, embora as noções de competitividade e uso da força física, que estão na base da representação 11 de virilidade, sejam a referência simbólica hegemônica de masculinidade dos homens, nem todos efetivamente se comportam de modo violento, evidenciando a diversidade de práticas sociais na mesma referência cultural de gênero. Portanto é de esperar, que o campo da saúde venha (ré)produzindo a desigualdade de gênero e contribuindo para sua conservação em modalidades de atenção dirigidas a homens e a mulheres que apresentem aspectos comuns e divergentes entre si, sendo assim conservem, de modo conflituoso, a referência do maior valor das questões masculinas. Portanto a crítica cultura, requer o reconhecimento das dominâncias (biomédica e de gênero) e de seus 'escapes', o que deve ser perseguido nos estudos e pesquisas exploradores dessa tensão. Portanto, a conquista da atenção integral para homens e mulheres, programas com ajustes similares não serão suficientes; Porem, significa que alguns projetos e algumas medidas práticas poderão ser similares, sendo a principal base de mudança o valor desses sujeitos perante a sociedade e, pois, a diferença de sentidos com que se inserem na racionalidade assistencial biomédica e hegemônica na atenção à saúde. No parecer, gênero, permite enriquecer conceitualmente 'necessidades de saúde', bem como diferenciar práticas profissionais de atenção integral destinadas a homens e mulheres particulares e concretos, para alcançar maior equidade nas políticas públicas. Considerando a política pública, diz respeito à tomada de decisões por parte do Estado, já enquanto o resultado das disputas de grupos de interesses presentes no governo. O Estado decide perante alternativas de responder a questões sociais, cada qual já representando ganhos e perdas para distintos grupos, entre eles os profissionais e os cientistas da saúde. Às alternativas representadas por todos envolvidos, a técnico-científica nem sempre é a referência de maior valor, tal como o é para o exercício profissional. O estatuto dos conhecimentos científicos e técnicos é bastante diverso para a instância 12 da política e a das práticas de saúde; necessidades de saúde, portanto, serão alvo de leituras diversas nessas instâncias. Na esfera das políticas já está tão vinculada à dos serviços, e a democratização do acesso aos serviços e o reconhecimento dos direitos humanos e sociais já são questões tão presentes para a elaboração de programas de atenção específicos, que parecerá até estranho querer destacar a distinção. Referente ao pensamento hegemônico em saúde, ainda bastante presente na área da medicina, as práticas dos profissionais eram vistas como independentes das questões sociais, econômicas, políticas ou culturais, parecendo que sua qualidade se baseava exclusivamente na dimensão técnico-científica de seus saberes. Tendo o planejamento como emergência da gestão em saúde como instrumento de mudança social, foi um dos produtos da politização da Saúde a partir da estruturação da Saúde Coletiva, abrindo definitivo diálogo entre a política e a organização das redes de serviços e do sistema de saúde. O movimento, porém, perdeu-se de vista a problemática da distinção e com isso a reflexão em torno à capacidade de mudanças articuladas. Não obstante, é inegável a importância histórica da Saúde Coletiva1, que já bem estabelecida como campo, ou seja, como movimento social politizador, sempre permanecer atuante e revisitar criticamente suas próprias conquistas. INTEGRALIDADE E GÊNERO NA ASSISTÊNCIA A SAÚDE Sobre integralidade, questões importantes são apresentadas e debatidas no campo da Saúde Coletiva nas últimas três décadas no Brasil. Nessa direção, recorremos a tal perspectiva para discutir gênero e suas articulações com sexualidade e reprodução no contexto da Atenção Primária à Saúde (APS) e, em especial, na Estratégia Saúde da Família (ESF) que, desde 2006, com a publicação da Política Nacional de Atenção Básica (BRASIL, 2006), foi reafirmada como a principal estratégia para a organização da APS. 13 Segundo Teixeira (2003) ressalta que os diversos sentidos empregados à noção de integralidade no campo da saúde se articulam sempre em torno de um núcleo semântico simples e geral: a qualidade de integral como equivalente a estar todo, inteiro, completo. Dessa forma, as diversas compreensões da noção dependeriam fundamentalmente do que os diferentes projetos tecnopolíticos no campo pretendem integrar, tornar inteiro. Foi inserida a introdução no vocabulário analítico de gênero a dimensão relacional da categoria, com a qual as mulheres e os homens são definidos em termos recíprocos. Com o referencial, atentamos para o fato histórico de que a apropriação da perspectiva de gênero no âmbito das práticas e das políticas de saúde resvala em desarticulações, sobretudo no que diz respeito à compreensão relacional do binômio homem-mulher. Portanto a história da saúde da mulher de um lado está atrelada ao desenvolvimento da medicina e da produção da tecnologia médica, propicia para o corpo feminino, que foram responsáveis por um avanço nas condições de saúde e sobrevivência de mulheres e crianças, solucionando problemas cruciais da reprodução social (VIEIRA, 2002). Conforme o autor, ao mesmo tempo, essa história é marcada pela manutenção do controle médico, sobretudo ginecológico, sobre as mulheres (ROHDEN, 2001), tal como apontado na crítica feita pelo movimento feminista. A reivindicação do movimento demulheres no Brasil a respeito da necessidade de superar o reducionismo que circunscrevia a abordagem dos problemas de saúde das mulheres, aos contextos culturais e às diversas formas de dominação que conferiam especificidades a seu adoecimento, influenciou diretamente a elaboração do PAISM. A definição das mulheres como população-alvo prioritária de ações em saúde nesse programa assinala uma ruptura com a concepção que marcava sua presença no grupo materno-infantil (MATTOS, 2003). A partir do PAISM a formulação da assistência como atenção integral, fornecesse as bases para a articulação entre diferentes temas da saúde da mulher, 14 entre eles destacavam se a reprodução e a sexualidade, tal proposta não se efetivou plenamente. Para (SCHRAIBER, 2008) a saúde sexual, por exemplo, não conseguiu se desenvolver tanto quando a saúde reprodutiva. Nesse sentido, mesmo diante da tentativa de ultrapassar o reducionismo da mulher a mamas, útero e gestação, a principal referência das práticas em saúde para mulheres parece ainda ser a diferenciação do corpo feminino como um corpo que reproduz (MEDEIROS; GUARESCHI, 2009). “Em virtude dessa histórica inserção das mulheres nos serviços da APS, elas representam melhor do que os homens a clientela atendida, tanto em termos de frequência, quanto de familiaridade com o espaço e a lógica de organização; mostram-se mais adaptadas aos moldes de funcionamento do serviço e mais à vontade na comunicação com os profissionais, no uso do espaço e nas formas de interação” (COUTO et al., 2010). Em virtude a inserção das mulheres nos serviços da APS, elas representam melhor do que os homens a clientela atendida, tanto em termos de frequência, quanto de familiaridade com o espaço e a lógica de organização; mostram-se mais adaptadas aos moldes de funcionamento do serviço e mais à vontade na comunicação com os profissionais, no uso do espaço e nas formas de interação (COUTO et al., 2010). Nesse sentido, um dos desafios que a implantação de ações em saúde do homem tem a enfrentar é a própria inserção dos homens nos serviços da APS Entre os documentos da política chamam a atenção por pouca ênfase dada às questões de saúde reprodutiva e à paternidade (MEDRADO et al., 2011). Essa preocupação está relacionada a inclusão dos homens nas discussões reprodutivas, realizada de forma instrumental, na qual ocupam não o lugar de sujeitos que se reproduzem e podem regular sua fecundidade, mas o papel daqueles que apoiam ou dificultam as decisões de suas parceiras (FIGUEROA-PEREA, 1998). 15 Neste contexto compreendemos a legítima aplicação da dimensão relacional, considerando a estreita relação que a construção social delas mantém entre si e com o referencial cultural de gênero. Segundo Villela e Arilha (2003), uma vez que a relação sexual entre homem e mulher pode gerar outros seres, parte das normas relacionadas às práticas sexuais está atrelada ao modo como cada cultura lida com a reprodução. Em relacionando - homens-mulheres e sexualidade-reprodução - nos remete à noção de integralidade, em sua acepção primeira de "tornar inteiro", uma vez que nosso argumento segue na direção de conectar, articular, tornar dialógico o que compreendemos como intrinsecamente relacional. 16 REFERÊNCIAS BARBIERI, Teresita de. “Sobre la categoria de género - una introducción téorico-metodologica" In: AZEREDO, Sandra & STOLCKE, Verena. Direitos Reprodutivos. São Paulo: Fundação Carlos Chagas/DPE, 1991, p. 25-46. ELIAS, Norbert “On human beings and their emotions: a process-sociological essay” In:Theory, Culture ad Society. SAGE, Londodn, v.4 1987 (339-3361) MEAD, Margareth. Sexo e Temperamento. São Paulo: Perspectiva, 1969.PAICHELER, Geneviève & QUEMIN, Alain. “Integration des conaissances et logiques preventives face au risque de contamination par le HIV”. IN: Connaissances, représentations, comportements. Paris: ANRS, 1994. DURHAM, Eunice. "Família e reprodução humana". In: FRANCHETTO et alii. Perspectivas antropológicas da mulher n . 3. Rio de Janeiro: Zahar, 1983. 21. Bourdieu P. Razões Práticas. Sobre a teoria da ação. São Paulo: Papirus; 1996. VIEIRA, E.M. A medicalização do corpo feminino. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2002, 81p. TEIXEIRA, R. O acolhimento num serviço de saúde entendido como uma rede de conversações. In: PINHEIRO, R.; MATTOS, R.A. (Orgs.). Construção da Integralidade: cotidiano, saberes e práticas em saúde. Rio de Janeiro: Cepesc, 2003. p.89-111. ROHDEN, F. Uma ciência da diferença: sexo e gênero na medicina da mulher. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2001, 222p. MEDEIROS, P.L.; GUARESCHI, N.M. de F. Políticas públicas de saúde da mulher: a integralidade em questão. Revista Estudos Feministas. Florianópolis, v.17, n.1, p.31-47, 2009. 17 MATTOS, R.A. Integralidade e a formulação de políticas específicas de saúde. In: PINHEIRO, R.; MATTOS, R.A. (Orgs.). Construção da integralidade: cotidiano, saberes e práticas em saúde. 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