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CUIABÁ. Plano Diretor de Cuiabá: Plano Diretor de Desenvolvimento Estratégico de Cuiabá. Cuiabá: Lei Complementar nº150 de janeiro de 2007. Resenha Crítica: Thaís Reis Mazine O plano diretor de Desenvolvimento Estratégico de Cuiabá (PDDE) é um instrumento básico do processo de planejamento do município para implementação da Política de desenvolvimento Estratégico, apresentando soluções e diretrizes a partir da leitura do território proporcionando transformações no espaço de forma a resultar em um “(...) desenvolvimento integrado, harmonioso, o bem-estar social e a sustentabilidade de Cuiabá e da Região de seu entorno.”(Art.3.p.23) Plano Diretor de Cuiabá, tendo a Fundação Instituto de Planejamento e Desenvolvimento Urbano (IPDU) realizado, com a colaboração e participação das Secretarias e Agências Municipais e outros organismos públicos e representantes de conselhos e entidades da sociedade civil organizada, diversos seminários, reuniões, oficinas de capacitação e audiências públicas, seguindo formulação metodológica com a finalidade de possibilitar uma discussão ampla, transparente e democrática sobre as demandas que afetam diretamente o Município de Cuiabá, possibilitando a leitura popular da cidade, acrescida de leitura técnica (Santos.p.14) O Plano diretor foi instituído pela Constituição Federal de 1988, que o define como “instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana" e é regulamentado pela Lei Federal nº10, tendo como princípios básicos a Lei Complementar nº150 de 29 de Janeiro de 2007. O texto inicia-se com uma apresentação redigida pela Arquiteta Adriana Bussuki Santos, Presidente da Fundação Instituto de Planejamento e desenvolvimento Urbano (IPDU), que destaca a forma na qual foi feito o presente documento, o Plano Diretor de Desenvolvimento Estratégico de Cuiabá. Santos apresenta que foram definidos sete eixos estratégicos de diretrizes especificas de forma a facilitar a organização e por em questão a realidade do município, estes eixos são: Questão sistema viário, questão ambiental -citada pela Arquiteta como uma das mais debatidas no plano-, questão fundiária, desenvolvimento econômico, desenvolvimento social, grandes projetos e modernização institucional. O Professor Juacy da Silva, Diretor Executivo do IPDU e Coordenador da revisão do Plano diretor de Cuiabá, salienta a Universalidade do Plano diretor, sendo necessário seu diálogo com o público, evitando decisões por interesses individuais. Tendo em vista que o plano diretor é, ao mesmo tempo, um espaço de diálogo e de conflito, principalmente pelo fato de que a Cidade, o Município, o Estado e o País representam classes, categorias e grupos sociais que têm interesses distintos, na elaboração ou revisão de um plano diretor é importante que sejam buscados objetivos e metas que representem uma média das aspirações, interesses e objetivos comuns, jamais permitindo que prevaleçam os interesses de um grupo em detrimento da coletividade. Neste sentido, o plano diretor deve ser considerado uma bússola para orientar as ações de todos os agentes públicos e privados na busca do bem-comum, entendido este como uma sociedade em que todos, independentemente de suas posições filosóficas, ideológicas, de classe ou de interesses econômicos, possam sentir-se realizados como contribuinte, usuário dos serviços públicos, cidadão ou cidadã. (Silva. P.17) Posteriormente são apresentados outros instrumentos no processo de planejamento municipal. As diretrizes gerais e específicas, apresentando diversos tópicos a serem seguidos, porém, nenhuma explicação de como realizar os mesmos. Para exemplificar, no Artigo 11,XVII temos: XVII – promover a acessibilidade, facilitando o deslocamento no Município, através de uma rede integrada de vias, ciclovias e ruas exclusivas de pedestres, com segurança, autonomia e conforto (p.29) Entretanto, não é possível observar nenhuma instrução ou critica a respeito de como conquistar esta máxima. A cidade de Cuiabá apresenta diversas problemáticas relacionadas ao transporte, tanto público quanto privado, segundo dados do Detran (2018), Cuiabá conta com uma frota de 423.644 veículos (de vários tipos), para uma população de entorno de 608 habitantes (IBGE, 2018), o que significa, em média, 1,43 habitantes por veículo. Quando comparada com as demais cidades brasileiras, representa um índice muito elevado de veículo/hab. Tal frota não é atendida pelas estreitas ruas do Centro da Cidade. Ciclovias são raras na Capital e são desestimuladas pelo sol quente e pelo perigo da alta velocidade de veículos, ruas para pedestres são raridades encontradas apenas no Centro da cidade em forma de “calçadões” ou em dias de feira em determinados bairros como no CPAII e no Imperial. Logo, fica claro que diversas das diretrizes apresentadas no Plano Diretor não são realidade no Município de Cuiabá. Evidentemente, sabe-se que tais soluções não são realizadas de noite para o dia, porém é possível observar também que muitas delas são priorizadas de acordo com interesse de determinados grupos, o constante aumento do perímetro urbano da cidade para áreas de lotes adquiridos por construtoras parece ser preferência do poder público em detrimento da valorização e ocupação adequada do Centro Histórico da cidade que atualmente sofre muito com a negligência de proprietários e falta de verba e poder de órgãos responsáveis pela fiscalização. No segundo capítulo é apresentado o zoneamento, classificando diferentes áreas do solo de acordo com seu adensamento e ocupação. São estes divididos em: Zona Urbana de Uso Múltiplo (ZUM) restringindo apenas os usos de alto impacto Zona de expansão Urbana (ZEX) sendo áreas destinadas a futuras ampliações da área urbana; Zonas Urbanas Especiais, que se subdividem segundo condições particulares: Zona Residencial Unifamiliar (ZRU), Zonas Centrais (ZC), Zonas de Interesse Ambiental (ZIA), Zona de Interesse Histórico (ZIH), Zona de Especial Interesse Social (ZEIS), Zona de Alto Impacto (ZAI), Corredores de Tráfego CTR) e Zona de Influência de Torres de Transmissão (ZTC). Cada zona segue um parâmetro de ocupação do Solo Urbano, aferida pela quantidade, intensidade e disponibilidade de área a ser construída. O potencial construtivo (PC), Coeficiente de aproveitamento (CA), Capacidade Construtiva (CC), Limite de adensamento (LA), Potencial construtivo excedente (PCE), Capacidade construtiva excedente (CCE), Coeficiente de ocupação (CO), Coeficiente de permeabilidade (CP), Afastamento frontal mínimo (AFM), Largura real da via (LRV), Infraestrutura urbana mínima (IUM), Padrão geométrico mínimo (PGM). O terceiro capítulo apresenta a implementação da PDDE, através da criação do Sistema Municipal de Planejamento e Desenvolvimento Estratégico (SMPDE) formado por: Art. 42 Da composição do SMPDE: I – Órgão Superior – Conselho Municipal de Desenvolvimento Estratégico – CMDE; II – Órgão Central – Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano; III – Órgão de Planejamento e Apoio Técnico – Fundação Instituto de Planejamento e Desenvolvimento Urbano – IPDU; IV – Órgãos Executivos – Órgãos das Administrações Públicas Federal, Estadual e Municipal, direta e indireta, responsáveis total ou parcialmente pela execução de Programas Setoriais de interesse direto dos Desenvolvimentos Urbano e Rural de Cuiabá, e solidários com os objetivos do Sistema; V – Órgãos Colaboradores – Entidades civis representativas de setores organizados da sociedade, relacionados aos objetivos do Sistema. No quarto capítulo é citado o Gerenciamento Municipal que será executado por meio das definições do SMPDE, que inclui o controle do Patrimônio Imobiliário, Licenciamentos e Fiscalização Centralizada e controle do Patrimônio Imobiliário, fazendo uso de Instrumentos de Indução do Desenvolvimento Urbano: oParcelamento, edificação ou utilização compulsórios, exigindo que o proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, promova o seu adequado aproveitamento; IPTU progressivo, aplicando o Imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana (IPTU) progressivo no tempo, mediante não cumprimento da adequação requerida pelo poder público; direito de preempção, em que o poder municipal tem preferência para aquisição de imóvel urbano; a outorga onerosa do direito de construir ou solo criado, é a concessão emitida pelo Município, para edificar acima dos índices urbanísticos estabelecidos pelo coeficiente de aproveitamento, mediante contrapartida; a transferência do direito de construir, a autorização expedida pelo Município ao proprietário do imóvel urbano, privado ou público, para edificar em outro local, ou alienar o potencial construtivo de determinado lote; a operação urbana consorciada, que é o conjunto de intervenções e medidas coordenadas pelo Município com a participação dos proprietários, moradores, usuários permanentes e investidores privados, com o objetivo de alcançar em uma área de transformações urbanísticas estruturais, melhorias sociais e a valorização ambiental; o Estudo Prévio de Impacto de Vizinhança (EIV), instrumento de análise para subsidiar a aprovação de projetos, o licenciamento de empreendimentos ou atividades, públicas e privadas; e o sistema de monitoramento e controle do Plano Diretor de Cuiabá tem por objetivo organizar e sistematizar as informações municipais para o monitoramento e controle da implementação do Plano Diretor Estratégico de Cuiabá. Por fim, no quinto capítulo são apresentadas as disposições gerais e transitórias, iniciando-se com p Art. 89 que proíbe a ampliação do perímetro urbano de Cuiabá pelo período de 10 anos, salvo em situação de Calamidade Pública. São também apresentadas uma listagem de propostas de elaboração que colaborem com as propostas levantadas ao longo do texto. Não faltam críticas referentes ao PDDE apresentado, tanto as previamente já citadas aqui neste texto como a falta de explicações em como por em prática o plano apresentado, como também a falta da compatibilização do mesmo com a realidade da cidade, Cuiabá, como diversas capitais no país sofre uma séria crise habitacional que após eventos como A Copa de 2014, que trouxe mão de obra imigrante para a cidade e depois não pôde comportar este grande número de pessoas, quanto a crise na Venezuela, que a cada diz traz mais imigrantes latinos em situação de vulnerabilidade para a capital que não consegue comportar nem mesmos os próprios brasileiros, ao mesmo tempo em que diversos terrenos na cidade permanecem vazios por especulação imobiliária. O Centro Histórico da cidade, já citado também neste texto, apresenta diversas edificações em estado deplorável, como a Casa Bem-Bem que sofre risco de queda pela falta de interesse dos proprietários e pela desincentivo do município de cuidado e ocupação da área central, tornando-a cada vez mais perigosa e vazia, sobrando para o IPHAN (Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) o papel de lidar com tais negligências, porém restrito pela ausência de coordenação do governo municipal e federal. De acordo com dados do Sindicato das Indústrias da Construção do Estado de Mato Grosso (Sinduscon) o estado registra um déficit habitacional de pelo menos 100 mil moradias, das quais em torno de 40 mil estão localizadas entre Cuiabá e Várzea Grande, áreas vazias dentro do perímetro urbano com infraestrutura já existente, ao mesmo tempo em que há uma pressão pelo mercado imobiliário de ampliação deste perímetro para implementação de condomínios horizontais fechados para classe alta, como o exemplo da edificação Brasil Beach na estrada na saída de chapada.
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