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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 2ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE IPATINGA/MG Processo nº 5014872-31.2020.8.13.0313 TRANSPORTES AÉREOS PORTUGUESES S.A. (“Apelante”), pessoa jurídica, já devidamente qualificada nos autos da ação indenizatória, que lhe GABRIEL AUGUSTO JABOUR SALVADOR e outra, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com fundamento nos artigos 1.009 e seguintes do CPC, no prazo legal, não se conformando, data venia, com a r. sentença de ID 6669037999, interpor o competente RECURSO DE APELAÇÃO requerendo que sejam as razões anexas recebidas para, após, serem processadas e remetidas ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais. 1. Para tanto, requer-se o recebimento do presente apelo e a remessa dos autos ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo para processo, recebimento no duplo efeito e julgamento. 2. Outrossim, requer-se também a juntada da guia anexa, bem como do seu respectivo comprovante de recolhimento do preparo recursal. 3. Por fim, reitera o pedido de que todas as intimações relativas a este processo sejam feitas em nome dos advogados João Joaquim Martinelli, inscrito na OAB/MG sob o nº 1.796-A e Natalia Cançado Scarpelli, inscrita na OAB/MG sob o nº 115.733, sob pena de nulidade. Termos em que pede deferimento. São Paulo, 28 de março de 2022. JOÃO JOAQUIM MARTINELLI NATALIA CANÇADO SCARPELLI OAB/MG 1.796-A OAB/MG 115.733 RAZÕES DE APELAÇÃO Apelante: TRANSPORTES AÉREOS PORTUGUESES S.A. Apelado: GABRIEL AUGUSTO JABOUR SALVADOR e outra Processo n° 5014872-31.2020.8.13.0313 Juízo de Origem: 2ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE IPATINGA/MG EGRÉGIO TRIBUNAL, COLENDA CÂMARA, NOBRES JULGADORES. I. DA TEMPESTIVIDADE 4. De início, cumpre esclarecer que o presente recurso é protocolado dentro do prazo legal de 15 (quinze) dias úteis, previsto no art. 1.003, § 5º, do CPC1. 5. Com efeito, o a decisão que rejeitou os Embargos de Declaração foi objeto de intimação no dia 07/03/2022, logo, o prazo de 15 dias úteis se encerra em 28/01/2022. 6. Desse modo, não há dúvidas quanto à tempestividade do presente recurso. II. DO CABIMENTO DO RECURSO 7. De acordo com art. 1.009, do Código de Processo Civil, contra a sentença cabe apelação. 8. Diante do acima exposto, resta indubitável a necessidade de se conhecer da presente apelação, a fim de garantir o acesso à Justiça e possibilitar a reforma da r. sentença nos termos expostos a seguir, o que desde já se requer. 1 Art. 1.003. O prazo para interposição de recurso conta-se da data em que os advogados, a sociedade de advogados, a Advocacia Pública, a Defensoria Pública ou o Ministério Público são intimados da decisão. § 3º No prazo para interposição de recurso, a petição será protocolada em cartório ou conforme as normas de organização judiciária, ressalvado o disposto em regra especial. III. DA SÍNTESE DA CAUSA 1. Em síntese, trata-se de ação de indenização por danos morais, por meio da qual a parte RECORRIDA pleiteia a condenação da RECORRENTE ao pagamento de indenização de R$ 6.727,16, pelas passagem adquirida, exame de covid, nova passagem comprada, apostilamento de certidão de casamento, transporte de ida e volta do aeroporto e 50% dos valores gastos nas diárias do airbnb perdidas, além de danos morais no valor de R$ 7.000,00 para cada autor, decorrente de suposto impedimento de embarque. 2. Em sede de contestação a TAP demonstrou que existem requisitos para entrar em Portugal. Ainda, destacou-se a evidente excludente de responsabilidade da Re, o no show configurado e a não ocorrência e não comprovação dos supostos danos morais sofridos. 3. Apesar disso, o feito foi julgado procedente para condenar a TAP a título de danos materiais, o montante de R$6.776,32 e ao pagamento de R$ 10.000,00 a título de danos morais. 4. A RECORRENTE ainda opôs embargos de declaração, entretanto, estes foram rejeitados, mantendo a condenação nos mesmos termos. 5. Nesse contexto, não restou alternativa à RECORRENTE, senão a interposição do presente recurso, a fim de que seja reformada a r. sentença, nos termos das razões a seguir expostas. IV. DAS RAZÕES QUE JUSTIFICAM A REFORMA DA SENTENÇA: IV.A. DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA ENTRAR EM PORTUGAL 6. Com a devida vênia, a r. sentença merece reforma, pois como é cediço, a TAP deve realizar um controle das documentações necessárias para ingresso em Portugal, ou seja, ainda que houvesse determinação de um embarque de um passageiro que não possui a documentação necessária para tanto a companhia aérea, qualquer que seja ela, não poderia garantir sua entrada no país estrangeiro, já que há normas que a viabilizam. 7. Nesse sentido, no que diz respeito ao direito constitucional de locomoção, cumpre destacar que tal direito se limita constitucionalmente ao território nacional, sem que o aqui decidido possa modificar a jurisdição em país estrangeiro. 8. Desde o início da pandemia, os voos para Portugal sofreram diversos ajustes. A priori foram totalmente paralisados e, com o retorno dos voos limitados a um seleto grupo de pessoas. 9. Assim, as condições de ingresso no estrangeiro estão sofrendo variações no tempo, conforme gravidade da epidemia mundial, que tem gerado novas ondas e variantes do coronavírus, estando inclusive suspensos os voos do Brasil para Portugal. 10. Desde 1º de julho, quando a Europa começou a reabrir as suas fronteiras, o governo português vem publicando e prorrogando “Despachos” impondo regras de quem pode e quais as obrigações dos passageiros que viajam para Lisboa. 11. De acordo com o Despacho n.º 8391-A/2020, publicado em 31/08/2020, vigente a época do voo da parte RECORRIDA, que define as medidas aplicáveis ao tráfego aéreo com destino e a partir de Portugal, só poderiam viajar para o país europeu partindo do Brasil quem estivesse em viagem essencial “4 — Para efeitos do disposto no número anterior, consideram -se viagens essenciais, nos termos referidos na Recomendação (UE) 2020/1186 do Conselho, de 7 de agosto de 2020, designadamente as destinadas a permitir o trânsito ou a entrada ou saída de Portugal de: a) Cidadãos nacionais da União Europeia, nacionais de Estados associados ao Espaço Schengen e membros das respetivas famílias, nos termos da Diretiva 2004/38/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 29 de abril de 2004, e nacionais de países terceiros com residência legal num Estado -Membro da União Europeia; b) Nacionais de países terceiros em viagem por motivos profissionais, de estudo, de reunião familiar, por razões de saúde ou por razões humanitárias” 12. No presente caso, a parte RECORRIDA estava plenamente ciente dos requisitos para ingressar no território português, tanto é que anexou e-mail enviado ao Serviço de Estrangeiros e Fronteiras a respeito do assunto doc. ID 1815939860. 13. À vista disso, o RECORRIDA anexou outro email com o mesmo destinatário, em que é afirmado que a função de autorização de embarque cabe à companhia aérea (doc. ID 1815939859). 14. Ora Excelência, toda a narrativa da parte RECORRIDA é no sentido de que estaria viajando para acompanhar sua esposa que iria a estudo, no entanto, sabe-se que esse momento de pandemia tem provocado o fechamento de diversas fronteiras internacional (situação que já era conhecida pelo RECORRIDA na data da compra – agosto de 2020). 15. Portanto, ainda que a TAP não tivesse informado a parte RECORRIDA dos requisitos, era dever da parte RECORRIDA se informar junto às autoridades do país de destino a respeito dos requisitos de ingresso naquelelocal. De toda forma, a TAP tem tais informações à disposição em seu site, bem como é possível consultá-las junto ao site governo português. 16. Ademais, o artigo 18 da Resolução nº 400 da ANAC estabelece que para a execução do contrato de transporte o passageiro deve atender aos seguintes requisitos: “I - apresentar-se para embarque munido de documento de identificação civil e em horário estabelecido pelo transportador; II - atender a todas as exigências relativas à execução do transporte, tais como a obtenção do visto correto de entrada, permanência, trânsito e certificados de vacinação exigidos pela legislação dos países de destino, escala e conexão; III - obedecer aos avisos transmitidos pelo transportador.” 17. Inclusive, o mesmo artigo autoriza o transportador a negar o embarque ao passageiro que descumprir qualquer dos requisitos supra expostos, o qual seja o caso. 18. Por sua vez, o Código de Defesa do Consumidor estabelece em seu artigo 14, §3º, II, que o fornecedor não será responsabilizado quando provar culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro, o qual seja o caso, posto que a parte RECORRIDA não apresentou todos os documentos que autorizassem seu ingresso no país de destino. 19. Nesse sentido já julgou o TJSP por meio do Ilustre DES. Israel Góes dos Anjos ao pontuar que é dever do consumir verificar os documentos necessários para a viagem: “AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS. Voo internacional com conexão. Impedimento de embarque em razão da ausência de visto. Sentença de improcedência. Pretensão de reforma. INADMISSIBILIDADE: Dever do consumidor, viajante, de verificar os documentos necessários para a viagem. Informação constante dos sítios eletrônicos das rés e também do Itamaraty. Sentença mantida. RECURSO DESPROVIDO.” (TJSP; Apelação Cível 1002804-30.2014.8.26.0099; Relator (a): Israel Góes dos Anjos; Órgão Julgador: 37ª Câmara de Direito Privado; Foro de Bragança Paulista - 2ª Vara Cível; Data do Julgamento: 15/03/2016; Data de Registro: 16/03/2016) (grifo nosso). 20. Do acima exposto extrai-se que a TAP apenas verifica se os passageiros possuem a documentação necessária para ingressar em país estrangeiro e ao verificar que um passageiro não possui toda a documentação exigida não permite a entrada de tal passageiro, a título exemplificativo, conforme regras do próprio país de destino pretendido. 21. Portanto, a TAP, realizou o impedimento de embarque com justificativa concreta, baseada nos documentos apresentados pela parte RECORRIDA. 22. RESUME-SE: NÃO SE TRATOU DE IMPEDIMENTO DESMOTIVADO E INFUNDADO! 23. Por conseguinte, não há outro entendimento para o caso, razão pela qual deve a sentença atacada ser REFORMADA para julgar improcedente os pedidos formulados na peça inicial. IV.B. DA EVIDENTE EXCLUDENTE DE RESPONSABILIDADE DA RÉ: 24. A parte RECORRIDA solicitou a indenização a título de danos morais, contudo, conforme manifestamente se demonstra, a presente demanda está fadada ao insucesso. 25. No caso dos autos não existe qualquer dano a ser indenizado ou compensado, já que para a configuração do dano a ser indenizado, necessário à coexistência de três requisitos clássicos: (i) o ato ilícito consubstanciado numa ação ou omissão culposa do agente; (ii) a ocorrência de um dano efetivo; e (iii) a existência de nexo causal entre aquela conduta culposa e o dano experimentado. 26. Registre-se que não há que se falar em responsabilidade da TAP, sendo evidente que a parte RECORRIDA é a responsável pelos eventuais danos que sofreu, conforme narrativa da própria inicial e documentação que a acompanha. 27. A parte RECORRIDA deixou de embarcar por motivos alheios a vontade da TAP, no entanto o voo contratado foi realizado. 28. Como se sabe, conforme previsto no artigo 186 do Código Civil, é imprescindível a presença de ato ilícito para ensejar o dever de indenizar. Vejamos: "Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito". 29. Não se verifica no caso, portanto, presença de ato ilícito ou falha na prestação de serviço por parte da TAP, já que a culpa é exclusivamente do passageiro. Nesse sentido, versa o artigo 14, § 3º, inciso II do CDC prevê que: “Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados ao consumidor por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. (...) § 3º O fornecer de serviços só não será responsabilizado quando provar: (...) I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste II – a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.” 30. Não houve ato lesivo perpetrado pela TAP, porquanto seus procedimentos estão em perfeita consonância com a legislação em vigor, não havendo que se falar, no caso em tela, em nexo causal entre ato ilícito e dano perpetrado pela mesma. 31. Sendo assim, não há razão para que a TAP seja condenada aos pedidos requeridos pela parte RECORRIDA, já que não causou qualquer dano à parte RECORRIDA, pelo que deve ser julgado improcedente a presente demanda. IV.C.DO NOSHOW CONFIGURADO EM RELAÇÃO AO VOO DE VOLTA: 32. Em virtude da documentação suficiente para embarque, a conduta do passageiro configurou noshow, já que foi impedido de embarcar regularmente. 33. De acordo com o Código Civil, a restituição do valor da passagem é devida ao passageiro apenas quando este provar que outra pessoa foi transportada em seu lugar, conforme art. 740, § 2º, reproduzido abaixo: Art. 740. O passageiro tem direito a rescindir o contrato de transporte antes de iniciada a viagem, sendo-lhe devida a restituição do valor da passagem, desde que feita a comunicação ao transportador em tempo de ser renegociada. (...) § 2 o Não terá direito ao reembolso do valor da passagem o usuário que deixar de embarcar, salvo se provado que outra pessoa foi transportada em seu lugar, caso em que lhe será restituído o valor do bilhete não utilizado. 34. Da mesma forma, é a excludente de responsabilidade do CDC, quando há culpa exclusiva do consumidor: “Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. (...) § 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar: (...) II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro”. 35. Pois bem. No presente caso, é incontroverso que os recorridos deixaram de embarcar e, por outro lado, eles não comprovaram (sequer alegaram) que outra pessoa foi transportada no seu lugar. 36. Assim sendo, não há dúvidas de que os Recorridos não fazem jus a restituição da passagem originalmente adquirida, porque não comunicaram ao transportador a tempo de ser renegociada a passagem. Nesse sentido, é o entendimento pacífico da Jurisprudência: COMPANHIA AÉREA. NO SHOW. CULPA EXCLUSIVA DO CONSUMIDOR. INEXISTENTE O DEVER DE INDENIZAR QUANTO AO TRECHO DE IDA. DEVER DE REEMBOLSAR O TRECHO DE VOLTA. ABUSIVO O CANCELAMENTO UNILATERAL DA PASSAGEM DE VOLTA PELO NÃO COMPARECIMENTO NO TRECHO DA IDA. PRECEDENTES STJ. DANO MORAL NÃO CONFIGURADO, HAVENDO APENAS PREJUÍZO FINANCEIRO. Recorrente que não compareceu no embarque aéreo no horário previsto, no- show, não havendo que se falar em remarcação do que já estava perdido, não restando ao recorrente naquela oportunidade alternativa senão a aquisição de nova passagem para o destino pretendido. Culpa exclusiva doconsumidor, nos termos do art. 14, §3º, inciso II, do Código de Defesa do Consumidor, que não gera o dever de indenizar. Trecho de retorno, no entanto, que por conta do no- show do trecho de ida não pode ser cancelado unilateralmente pela Companhia Aérea, configurando prática abusiva, sendo devido o reembolso, ficando a recorrida condenada nesse ponto. Dano extrapatrimonial não verificado, senão apenas prejuízo material. Recurso parcialmente provido. (TJSP; Recurso Inominado Cível 0025159-21.2019.8.26.0602; Relator (a): Carlos Alberto Maluf; Órgão Julgador: 1ª Turma; Foro de Sorocaba - 1ª Vara do Juizado Especial Cível; Data do Julgamento: 29/10/2020; Data de Registro: 29/10/2020). "DANOS MORAIS E MATERIAIS. TRANSPORTE AÉREO. 'NO SHOW'. TAXAS DEVIDAS. RECURSO IMPROVIDO. Recorrente que admite ter cometido equívoco quanto ao horário do voo, acarretando o 'no show'. Hipótese em que valores do reembolso e da taxa cobrada estão claros no site da empresa aérea. Liberdade tarifária que não se mostra abusiva. Recorrente que deve, ademais, arcar com o valor da emissão de novo bilhete. Entendimentos jurisprudenciais colacionados na r. sentença. Indenização indevida. Improcedência que era de rigor. Sentença mantida por seus próprios fundamentos, nos termos do art. 46 da Lei nº 9.099/95. Condenação do recorrente nas custas processuais e honorários advocatícios fixados em 10% (dez por cento) do valor da causa, observando-se a gratuidade de justiça." (TJSP; Recurso Inominado Cível 1031204-49.2017.8.26.0002; Relator (a): Marcela Raia de Sant´Anna; Órgão Julgador: 3ª Turma Recursal Cível - Santo Amaro; Foro Regional II - Santo Amaro - 2ª Vara do Juizado Especial Cível; Data do Julgamento: 26/10/2018; Data de Registro: 29/10/2018). 37. Dessa forma, resta esclarecido que não há abusividade alguma na retenção do valor desembolsado pelas passagens de ida e volta, já que houve noshow – ausência de comparecimento ou comparecimento sem a documentação necessária para embarcar. 38. Exa., no que se refere ao suposto prejuízo extrapatrimonial sofrido pela parte RECORRIDA em razão da demora para efetuar a reacomodação pleiteada, faz-se mister esclarecer que esse fato não ocasiona danos morais. V. DA INEXISTÊNCIA DE DANOS MORAIS 39. Exa., na hipótese remota de Vossa Excelência entender que restou configurado descumprimento contratual, o que se admite apenas em atenção ao princípio da eventualidade, mesmo assim, o pedido da parte RECORRIDA não deve ser acolhido na sua integralidade. 40. A parte RECORRIDA formulou pedido de condenação da RECORRENTE ao pagamento de indenização por danos morais no montante de R$ 14.000,00. Todavia, esse valor revela-se em dissonância com a Jurisprudência. 41. Vale lembrar que em momento algum, repita-se, a parte RECORRIDA trouxe fato que comprovasse o suposto “sofrimento” que a ela lhe foi imputado, especialmente, pois como exposto, o fato se deu por culpa exclusiva do consumidor. 42. A descrição do fato que constituiria a conduta culposa é absolutamente indispensável, não bastando dizer que a RECORRENTE agiu com culpa. Devendo, também, ser mencionada de que forma o ato atingiu a órbita dos bens morais da vítima. A angústia, a perda do prestígio social, a exposição a constrangimento ou vexame, a perturbação do bem-estar psíquico que a acometeu ou ainda acomete, para, então, se permitir inferir a existência do dano moral. “A simples alegação da ocorrência de dano moral não é suficiente para a obtenção de indenização, sendo necessária a sua comprovação, bem como o nexo de causalidade entre o sofrimento experimentado pela vítima e a conduta lesionadora, sob pena de enriquecimento sem causa.” (TJPR – 2.ª Câmara – Apelação Cível n.º 64792-7 – Relator Sidney Moura – julgado em 10.06.98 – RT 762/377). 43. A fim de corroborar o aduzido, leciona Sergio Cavalieri Filho: “Em tema de dano moral a questão que se coloca atualmente não é mais a de saber se ele é ou não indenizável, nem, ainda, se pode ou não ser cumulado com o dano material, mas sim o que venha a ser o próprio dano moral. Esse é o ponto de partida para o equacionamento de todas as questões relacionadas com o dano moral, inclusive quanto à sua valoração.” 44. E, ainda: "Nessa linha de princípio, só deve ser reputado como dano moral a dor, vexame, sofrimento ou humilhação que, fugindo à normalidade, interfira intensamente no comportamento psicológico do indivíduo, causando-lhe aflições, angústia e desequilíbrio em seu bem-estar. Mero dissabor, aborrecimento, mágoa, irritação ou sensibilidade exacerbada estão fora da órbita do dano moral, porquanto, além de fazerem parte da normalidade do nosso dia-a-dia, no trabalho, no trânsito, entre os amigos e até no ambiente familiar, tais situações não são intensas e duradouras, a ponto de romper o equilíbrio psicológico do indivíduo. Se assim não se entender, acabaremos por banalizar o dano moral, ensejando ações judiciais em busca de indenizações pelos mais triviais aborrecimentos" (p. 89, 3ª ed.). 45. Sabe-se que não é qualquer sentimento incômodo ou constrangedor que é capaz de fazer surgir na esfera jurídica o direito à indenização de cunho moral, eis que, para tanto, impõe-se a demonstração de que a parte efetivamente experimentou sentimentos contundentes, seja de sofrimento, dor ou humilhação, os quais fogem daqueles considerados cotidianos, ainda que ruins, que um cidadão normal está apto a enfrentar na vida, especialmente quando se tem em perspectiva a situação vivida na Itália à época. 46. Por isso é que não se pode admitir que a parte RECORRIDA obtenha vantagem indevida sob o cunho de danos morais, se aproveitando de uma situação corriqueira, passível de ser vivenciada por qualquer pessoa, cabendo destacar, neste diapasão, que deve haver a devida apreciação do caso, para que o nobre instituto não seja desvirtuado em mera fonte de enriquecimento. 47. Neste aspecto, destaca-se que a linha divisória entre a justa pretensão de reparação de um dano e a injusta pretensão de enriquecimento ilícito é muito tênue. O tema vem causando grande preocupação entre os magistrados e os operadores do direito em geral, principalmente levando- se em conta o fenômeno que ocorre nos EUA, onde, atualmente, existe uma lucrativa indústria de ações embasadas nos mais disparatados pedidos de indenização de danos morais. Vejam-se as sábias ponderações feitas sobre o tema pelo insigne mestre Ives Gandra da Silva Martins: “Dano moral não deve ser um negócio. Não poucas vezes tal veículo, saudável para restabelecer os direitos inerentes à personalidade, tem sido desvirtuado pela criação de uma autêntica indústria dos negociantes da honra, como se honra tivesse preço”. (Parecer in RT, vol. 722, pgs. 113/121) (grifo nosso). 48. Na realidade, o episódio narrado na exordial deve ser tratado como um mero aborrecimento sofrido pela parte RECORRIDA, o que é hipótese de afastamento da condenação por danos morais, conforme narrado no parágrafo anterior. 49. A propósito, vale mencionar a recente introdução no ordenamento jurídico brasileiro do art. 251-A, no Código Brasileiro de Aeronáutica, que prestigiou o novo entendimento jurisprudencial do Superior Tribunal de Justiça de que dano extrapatrimonial decorrente de transporte aéreo internacional não se presume: Art. 251-A. A indenização por dano extrapatrimonial em decorrência de falha na execução do contrato de transporte fica condicionada à demonstração da efetiva ocorrência do prejuízo e de sua extensão pelo passageiro ou pelo expedidor ou destinatário de carga. (Incluído pela Lei nº 10.034, de 2020). 50. A experiência comum revela que os fatos alegados na petição inicial não causam rompimento do equilíbrio psicológico doindivíduo nem, tampouco, qualquer violação a bem não patrimonial, como moral, honra (subjetiva ou objetiva), integridade física, bom nome, etc. 51. Ademais, o Código de Defesa do Consumidor artigo 14, §3º, II, estabelece que o fornecedor não será responsabilizado quando provar culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro, posto que a parte não embarcou por seu ato. 52. O mesmo se aplica ao suposto dano material, pois não há o que se falar em culpa da RECORRENTE. 53. Em que pesem as alegações colacionadas pela parte RECORRIDA, não há qualquer fundamento que justifique seu pleito quanto aos alegados danos morais e materiais sofridos, pois, ressalte-se que conforme http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2020/Lei/L14034.htm#art4 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2020/Lei/L14034.htm#art4 salientado nos itens anteriores, a empresa RECORRENTE não praticou qualquer ato que pudesse ser reputado ilícito. 54. Desse modo, fica caracterizada que a narrativa promovida pela parte RECORRIDA não atingiu à sua esfera moral e, portanto, não enseja indenização por danos morais, devendo o ser julgado improcedente nos termos do artigo 487, I do CPC. VI.. SUBSIDIARIAMENTE: DO QUANTUM INDENIZATÓRIO 55. Em observância ao princípio da eventualidade, em remota e improvável hipótese de não serem acolhidas as razões expostas acima, ainda assim merece ser reformada a r. sentença para que seja minorado o valor da condenação a título de danos morais, sob pena de acarretar punição extrema da empresa RECORRENTE e fatídico enriquecimento sem causa da parte RECORRIDA. 56. Observe que a r. sentença condenou a parte RECORRENTE ao pagamento de R$ 5.000,00, a título de danos morais para cada autor. 57. No entanto, o quantum fixado destoa do razoável. Nesse sentido, importante frisar que a indenização por danos morais deve obedecer a critérios de equidade e justiça, sob o bom senso do magistrado, responsável por repelir pedidos surrealistas e da boa-fé das partes, repelindo indenizações descabidas, que somente aumentam a indústria do dano moral. 58. Não é outra a leitura que se extrai da Constituição Brasileira que, em seu artigo 5°, inciso X, expressamente prevê que “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”. 59. Conclui-se, portanto, que nos termos dos princípios norteadores do instituto da responsabilidade civil, a indenização a título de danos morais deve ter caráter exclusivamente compensatório, que espelhe as circunstâncias especiais do caso, mormente a extensão do eventual dano sofrido pela parte RECORRIDA. 60. Nota-se, por consequência, que a Lei Fundamental, ao utilizar a expressão “indenização” por danos morais, atém-se à noção de compensação, própria do instituto da responsabilidade civil, não havendo, portanto, qualquer menção a um acréscimo indenizatório a título de punição/desestímulo. 61. Assim, cabe ao d. magistrado, no estrito e regular exercício de suas funções, realizar um sopesamento entre a conduta praticada pela RECORRENTE e o suposto dano moral sofrido pela parte RECORRIDA. 62. A eventual indenização por danos morais deve ser realizada com base nos princípios da razoabilidade e proporcionalidade, evitando-se valores exorbitantes que gerariam o enriquecimento sem causa da parte RECORRIDA. 63. Ademais, frente a legislação aplicável ao caso e jurisprudência, é importante observar que o sistema jurídico brasileiro não é compatível com institutos como os punitive damages (danos punitivos de caráter exemplar) do direito norte-americano. A natureza da indenização, no sistema brasileiro, é de compensar a vítima, não de punir o causador do dano, como quer fazer crer a parte RECORRIDA. 64. Em suma, se algum dano moral for reconhecido, o que não é esperado, a indenização há de ser arbitrada em valor consentâneo com a extensão do eventual dano causado à parte RECORRIDA, respeitando os artigos 944, parágrafo único, do Código Civil e artigo 5º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro. VII. DOS REQUERIMENTOS 65. Por todo o exposto, requer-se seja dado TOTAL PROVIMENTO ao presente recurso inominado, reformando a sentença recorrida e desconstituindo a obrigação da Recorrente de restituir a Recorrida em qualquer valor, nos termos da contestação. 66. Subsidiariamente, requer que seja minorado o valor da condenação de danos morais, tendo em vista a necessidade de observância do cenário econômico-social em que se encontra o presente processo, nos termos do art. 6º, da Lei 9.099/95. 67. Por fim, reitera o pedido de que todas as intimações relativas a este processo sejam feitas em nome dos advogados João Joaquim Martinelli, inscrito na OAB/MG sob o nº 1.796-A e Natalia Cançado Scarpelli, inscrita na OAB/MG sob o nº 115.733, sob pena de nulidade. Termos em que pede deferimento. São Paulo, 28 de março de 2022. JOÃO JOAQUIM MARTINELLI NATALIA CANÇADO SCARPELLI OAB/MG 1.796-A OAB/MG 115.733
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