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Recurso de Apelacao

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 2ª VARA CÍVEL DA 
COMARCA DE IPATINGA/MG 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Processo nº 5014872-31.2020.8.13.0313 
 
TRANSPORTES AÉREOS PORTUGUESES S.A. 
(“Apelante”), pessoa jurídica, já devidamente qualificada nos autos da ação 
indenizatória, que lhe GABRIEL AUGUSTO JABOUR SALVADOR e outra, vem, 
respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com fundamento nos artigos 1.009 
e seguintes do CPC, no prazo legal, não se conformando, data venia, com a r. 
sentença de ID 6669037999, interpor o competente 
 
RECURSO DE APELAÇÃO 
 
requerendo que sejam as razões anexas recebidas para, após, serem processadas e 
remetidas ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais. 
 
1. Para tanto, requer-se o recebimento do presente 
apelo e a remessa dos autos ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo 
para processo, recebimento no duplo efeito e julgamento. 
 
2. Outrossim, requer-se também a juntada da guia 
anexa, bem como do seu respectivo comprovante de recolhimento do preparo 
recursal. 
 
3. Por fim, reitera o pedido de que todas as 
intimações relativas a este processo sejam feitas em nome dos advogados João 
Joaquim Martinelli, inscrito na OAB/MG sob o nº 1.796-A e Natalia Cançado 
Scarpelli, inscrita na OAB/MG sob o nº 115.733, sob pena de nulidade. 
 
 
Termos em que pede deferimento. 
São Paulo, 28 de março de 2022. 
 
JOÃO JOAQUIM MARTINELLI NATALIA CANÇADO SCARPELLI 
OAB/MG 1.796-A OAB/MG 115.733 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RAZÕES DE APELAÇÃO 
 
Apelante: TRANSPORTES AÉREOS PORTUGUESES S.A. 
Apelado: GABRIEL AUGUSTO JABOUR SALVADOR e outra 
Processo n° 5014872-31.2020.8.13.0313 
Juízo de Origem: 2ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE IPATINGA/MG 
 
 
EGRÉGIO TRIBUNAL, 
 
 COLENDA CÂMARA, 
 
 NOBRES JULGADORES. 
 
I. DA TEMPESTIVIDADE 
 
4. De início, cumpre esclarecer que o presente 
recurso é protocolado dentro do prazo legal de 15 (quinze) dias úteis, previsto no 
art. 1.003, § 5º, do CPC1. 
 
5. Com efeito, o a decisão que rejeitou os Embargos 
de Declaração foi objeto de intimação no dia 07/03/2022, logo, o prazo de 15 dias 
úteis se encerra em 28/01/2022. 
6. Desse modo, não há dúvidas quanto à 
tempestividade do presente recurso. 
 
II. DO CABIMENTO DO RECURSO 
 
7. De acordo com art. 1.009, do Código de Processo 
Civil, contra a sentença cabe apelação. 
 
8. Diante do acima exposto, resta indubitável a 
necessidade de se conhecer da presente apelação, a fim de garantir o acesso à Justiça 
e possibilitar a reforma da r. sentença nos termos expostos a seguir, o que desde já 
se requer. 
 
1 Art. 1.003. O prazo para interposição de recurso conta-se da data em que os advogados, a sociedade 
de advogados, a Advocacia Pública, a Defensoria Pública ou o Ministério Público são intimados da decisão. 
§ 3º No prazo para interposição de recurso, a petição será protocolada em cartório ou conforme as normas 
de organização judiciária, ressalvado o disposto em regra especial. 
 
 
 
III. DA SÍNTESE DA CAUSA 
 
1. Em síntese, trata-se de ação de indenização por 
danos morais, por meio da qual a parte RECORRIDA pleiteia a condenação da 
RECORRENTE ao pagamento de indenização de R$ 6.727,16, pelas passagem 
adquirida, exame de covid, nova passagem comprada, apostilamento de certidão de 
casamento, transporte de ida e volta do aeroporto e 50% dos valores gastos nas 
diárias do airbnb perdidas, além de danos morais no valor de R$ 7.000,00 para cada 
autor, decorrente de suposto impedimento de embarque. 
 
2. Em sede de contestação a TAP demonstrou que 
existem requisitos para entrar em Portugal. Ainda, destacou-se a evidente 
excludente de responsabilidade da Re, o no show configurado e a não ocorrência e 
não comprovação dos supostos danos morais sofridos. 
 
3. Apesar disso, o feito foi julgado procedente para 
condenar a TAP a título de danos materiais, o montante de R$6.776,32 e ao 
pagamento de R$ 10.000,00 a título de danos morais. 
 
4. A RECORRENTE ainda opôs embargos de 
declaração, entretanto, estes foram rejeitados, mantendo a condenação nos mesmos 
termos. 
 
5. Nesse contexto, não restou alternativa à 
RECORRENTE, senão a interposição do presente recurso, a fim de que seja 
reformada a r. sentença, nos termos das razões a seguir expostas. 
 
IV. DAS RAZÕES QUE JUSTIFICAM A REFORMA DA SENTENÇA: 
 
IV.A. DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA ENTRAR EM PORTUGAL 
6. Com a devida vênia, a r. sentença merece 
reforma, pois como é cediço, a TAP deve realizar um controle das documentações 
necessárias para ingresso em Portugal, ou seja, ainda que houvesse determinação 
de um embarque de um passageiro que não possui a documentação necessária para 
tanto a companhia aérea, qualquer que seja ela, não poderia garantir sua entrada no 
país estrangeiro, já que há normas que a viabilizam. 
 
7. Nesse sentido, no que diz respeito ao direito 
constitucional de locomoção, cumpre destacar que tal direito se limita 
constitucionalmente ao território nacional, sem que o aqui decidido possa modificar 
a jurisdição em país estrangeiro. 
 
8. Desde o início da pandemia, os voos para Portugal 
sofreram diversos ajustes. A priori foram totalmente paralisados e, com o retorno 
dos voos limitados a um seleto grupo de pessoas. 
 
9. Assim, as condições de ingresso no estrangeiro 
estão sofrendo variações no tempo, conforme gravidade da epidemia mundial, que 
tem gerado novas ondas e variantes do coronavírus, estando inclusive suspensos os 
voos do Brasil para Portugal. 
 
10. Desde 1º de julho, quando a Europa começou a 
reabrir as suas fronteiras, o governo português vem publicando e prorrogando 
“Despachos” impondo regras de quem pode e quais as obrigações dos passageiros 
que viajam para Lisboa. 
 
11. De acordo com o Despacho n.º 8391-A/2020, 
publicado em 31/08/2020, vigente a época do voo da parte RECORRIDA, que define 
as medidas aplicáveis ao tráfego aéreo com destino e a partir de Portugal, só 
poderiam viajar para o país europeu partindo do Brasil quem estivesse em viagem 
essencial 
 
“4 — Para efeitos do disposto no número anterior, 
consideram -se viagens essenciais, nos termos referidos 
na Recomendação (UE) 2020/1186 do Conselho, de 7 de 
agosto de 2020, designadamente as destinadas a 
permitir o trânsito ou a entrada ou saída de Portugal de: 
a) Cidadãos nacionais da União Europeia, nacionais de 
Estados associados ao Espaço Schengen e membros das 
respetivas famílias, nos termos da Diretiva 2004/38/CE 
do Parlamento Europeu e do Conselho, de 29 de abril de 
2004, e nacionais de países terceiros com residência 
legal num Estado -Membro da União Europeia; b) 
Nacionais de países terceiros em viagem por motivos 
profissionais, de estudo, de reunião familiar, por razões 
de saúde ou por razões humanitárias” 
 
 
12. No presente caso, a parte RECORRIDA estava 
plenamente ciente dos requisitos para ingressar no território português, tanto é que 
anexou e-mail enviado ao Serviço de Estrangeiros e Fronteiras a respeito do assunto 
doc. ID 1815939860. 
13. À vista disso, o RECORRIDA anexou outro email 
com o mesmo destinatário, em que é afirmado que a função de autorização de 
embarque cabe à companhia aérea (doc. ID 1815939859). 
 
14. Ora Excelência, toda a narrativa da parte 
RECORRIDA é no sentido de que estaria viajando para acompanhar sua esposa que 
iria a estudo, no entanto, sabe-se que esse momento de pandemia tem provocado o 
fechamento de diversas fronteiras internacional (situação que já era conhecida pelo 
RECORRIDA na data da compra – agosto de 2020). 
 
15. Portanto, ainda que a TAP não tivesse informado 
a parte RECORRIDA dos requisitos, era dever da parte RECORRIDA se informar junto 
às autoridades do país de destino a respeito dos requisitos de ingresso naquelelocal. 
De toda forma, a TAP tem tais informações à disposição em seu site, bem como é 
possível consultá-las junto ao site governo português. 
 
16. Ademais, o artigo 18 da Resolução nº 400 da 
ANAC estabelece que para a execução do contrato de transporte o passageiro deve 
atender aos seguintes requisitos: 
“I - apresentar-se para embarque munido de documento 
de identificação civil e em horário estabelecido pelo 
transportador; II - atender a todas as exigências 
relativas à execução do transporte, tais como a obtenção 
do visto correto de entrada, permanência, trânsito e 
certificados de vacinação exigidos pela legislação dos 
países de destino, escala e conexão; III - obedecer aos 
avisos transmitidos pelo transportador.” 
 
17. Inclusive, o mesmo artigo autoriza o 
transportador a negar o embarque ao passageiro que descumprir qualquer dos 
requisitos supra expostos, o qual seja o caso. 
 
18. Por sua vez, o Código de Defesa do Consumidor 
estabelece em seu artigo 14, §3º, II, que o fornecedor não será responsabilizado 
 
quando provar culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro, o qual seja o caso, 
posto que a parte RECORRIDA não apresentou todos os documentos que 
autorizassem seu ingresso no país de destino. 
 
19. Nesse sentido já julgou o TJSP por meio do Ilustre 
DES. Israel Góes dos Anjos ao pontuar que é dever do consumir verificar os 
documentos necessários para a viagem: 
 
“AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E 
MATERIAIS. Voo internacional com conexão. 
Impedimento de embarque em razão da ausência de 
visto. Sentença de improcedência. Pretensão de 
reforma. INADMISSIBILIDADE: Dever do consumidor, 
viajante, de verificar os documentos necessários para a 
viagem. Informação constante dos sítios eletrônicos das 
rés e também do Itamaraty. Sentença mantida. 
RECURSO DESPROVIDO.” (TJSP; Apelação Cível 
1002804-30.2014.8.26.0099; Relator (a): Israel Góes 
dos Anjos; Órgão Julgador: 37ª Câmara de Direito 
Privado; Foro de Bragança Paulista - 2ª Vara Cível; Data 
do Julgamento: 15/03/2016; Data de Registro: 
16/03/2016) (grifo nosso). 
 
20. Do acima exposto extrai-se que a TAP apenas 
verifica se os passageiros possuem a documentação necessária para ingressar em 
país estrangeiro e ao verificar que um passageiro não possui toda a documentação 
exigida não permite a entrada de tal passageiro, a título exemplificativo, conforme 
regras do próprio país de destino pretendido. 
 
21. Portanto, a TAP, realizou o impedimento de 
embarque com justificativa concreta, baseada nos documentos apresentados pela 
parte RECORRIDA. 
 
22. RESUME-SE: NÃO SE TRATOU DE 
IMPEDIMENTO DESMOTIVADO E INFUNDADO! 
 
23. Por conseguinte, não há outro entendimento para 
o caso, razão pela qual deve a sentença atacada ser REFORMADA para julgar 
improcedente os pedidos formulados na peça inicial. 
 
 
IV.B. DA EVIDENTE EXCLUDENTE DE RESPONSABILIDADE DA RÉ: 
 
24. A parte RECORRIDA solicitou a indenização a 
título de danos morais, contudo, conforme manifestamente se demonstra, a presente 
demanda está fadada ao insucesso. 
 
25. No caso dos autos não existe qualquer dano a ser 
indenizado ou compensado, já que para a configuração do dano a ser indenizado, 
necessário à coexistência de três requisitos clássicos: 
 
(i) o ato ilícito consubstanciado numa ação ou 
omissão culposa do agente; 
(ii) a ocorrência de um dano efetivo; e 
(iii) a existência de nexo causal entre aquela conduta 
culposa e o dano experimentado. 
 
26. Registre-se que não há que se falar em 
responsabilidade da TAP, sendo evidente que a parte RECORRIDA é a responsável 
pelos eventuais danos que sofreu, conforme narrativa da própria inicial e 
documentação que a acompanha. 
 
27. A parte RECORRIDA deixou de embarcar por 
motivos alheios a vontade da TAP, no entanto o voo contratado foi realizado. 
 
28. Como se sabe, conforme previsto no artigo 186 
do Código Civil, é imprescindível a presença de ato ilícito para ensejar o dever de 
indenizar. Vejamos: 
 
"Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência 
ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que 
exclusivamente moral, comete ato ilícito". 
 
29. Não se verifica no caso, portanto, presença de ato 
ilícito ou falha na prestação de serviço por parte da TAP, já que a culpa é 
exclusivamente do passageiro. Nesse sentido, versa o artigo 14, § 3º, inciso II do 
CDC prevê que: 
 
 
“Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente 
da existência de culpa, pela reparação dos danos causados ao 
consumidor por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem 
como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua 
fruição e riscos. 
(...) § 3º O fornecer de serviços só não será responsabilizado 
quando provar: 
(...) I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste II – a 
culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.” 
 
30. Não houve ato lesivo perpetrado pela TAP, 
porquanto seus procedimentos estão em perfeita consonância com a legislação em 
vigor, não havendo que se falar, no caso em tela, em nexo causal entre ato ilícito e 
dano perpetrado pela mesma. 
 
31. Sendo assim, não há razão para que a TAP seja 
condenada aos pedidos requeridos pela parte RECORRIDA, já que não causou 
qualquer dano à parte RECORRIDA, pelo que deve ser julgado improcedente a 
presente demanda. 
 
IV.C.DO NOSHOW CONFIGURADO EM RELAÇÃO AO VOO DE VOLTA: 
 
32. Em virtude da documentação suficiente para 
embarque, a conduta do passageiro configurou noshow, já que foi impedido de 
embarcar regularmente. 
 
33. De acordo com o Código Civil, a restituição do 
valor da passagem é devida ao passageiro apenas quando este provar que outra 
pessoa foi transportada em seu lugar, conforme art. 740, § 2º, reproduzido abaixo: 
 
Art. 740. O passageiro tem direito a rescindir o contrato de transporte 
antes de iniciada a viagem, sendo-lhe devida a restituição do valor da 
passagem, desde que feita a comunicação ao transportador em tempo 
de ser renegociada. 
(...) 
§ 2 o Não terá direito ao reembolso do valor da passagem o usuário 
que deixar de embarcar, salvo se provado que outra pessoa foi 
transportada em seu lugar, caso em que lhe será restituído o valor do 
bilhete não utilizado. 
 
34. Da mesma forma, é a excludente de 
responsabilidade do CDC, quando há culpa exclusiva do consumidor: 
 
 
“Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da 
existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos 
consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem 
como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição 
e riscos. 
(...) 
§ 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando 
provar: 
(...) 
II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro”. 
 
35. Pois bem. No presente caso, é incontroverso que 
os recorridos deixaram de embarcar e, por outro lado, eles não comprovaram (sequer 
alegaram) que outra pessoa foi transportada no seu lugar. 
 
36. Assim sendo, não há dúvidas de que os 
Recorridos não fazem jus a restituição da passagem originalmente adquirida, porque 
não comunicaram ao transportador a tempo de ser renegociada a passagem. Nesse 
sentido, é o entendimento pacífico da Jurisprudência: 
 
COMPANHIA AÉREA. NO SHOW. CULPA EXCLUSIVA DO 
CONSUMIDOR. INEXISTENTE O DEVER DE INDENIZAR 
QUANTO AO TRECHO DE IDA. DEVER DE REEMBOLSAR O 
TRECHO DE VOLTA. ABUSIVO O CANCELAMENTO UNILATERAL DA 
PASSAGEM DE VOLTA PELO NÃO COMPARECIMENTO NO TRECHO 
DA IDA. PRECEDENTES STJ. DANO MORAL NÃO CONFIGURADO, 
HAVENDO APENAS PREJUÍZO FINANCEIRO. Recorrente que não 
compareceu no embarque aéreo no horário previsto, no-
show, não havendo que se falar em remarcação do que já 
estava perdido, não restando ao recorrente naquela 
oportunidade alternativa senão a aquisição de nova 
passagem para o destino pretendido. Culpa exclusiva doconsumidor, nos termos do art. 14, §3º, inciso II, do Código 
de Defesa do Consumidor, que não gera o dever de 
indenizar. Trecho de retorno, no entanto, que por conta do no-
show do trecho de ida não pode ser cancelado unilateralmente pela 
Companhia Aérea, configurando prática abusiva, sendo devido o 
reembolso, ficando a recorrida condenada nesse ponto. Dano 
extrapatrimonial não verificado, senão apenas prejuízo material. 
Recurso parcialmente provido. (TJSP; Recurso Inominado Cível 
0025159-21.2019.8.26.0602; Relator (a): Carlos Alberto Maluf; 
Órgão Julgador: 1ª Turma; Foro de Sorocaba - 1ª Vara do Juizado 
Especial Cível; Data do Julgamento: 29/10/2020; Data de 
Registro: 29/10/2020). 
 
"DANOS MORAIS E MATERIAIS. TRANSPORTE AÉREO. 'NO SHOW'. 
TAXAS DEVIDAS. RECURSO IMPROVIDO. Recorrente que admite 
ter cometido equívoco quanto ao horário do voo, acarretando o 'no 
show'. Hipótese em que valores do reembolso e da taxa cobrada 
estão claros no site da empresa aérea. Liberdade tarifária que não 
se mostra abusiva. Recorrente que deve, ademais, arcar com o 
valor da emissão de novo bilhete. Entendimentos jurisprudenciais 
colacionados na r. sentença. Indenização indevida. Improcedência 
que era de rigor. Sentença mantida por seus próprios 
fundamentos, nos termos do art. 46 da Lei nº 9.099/95. 
 
Condenação do recorrente nas custas processuais e honorários 
advocatícios fixados em 10% (dez por cento) do valor da causa, 
observando-se a gratuidade de justiça." (TJSP; Recurso 
Inominado Cível 1031204-49.2017.8.26.0002; Relator 
(a): Marcela Raia de Sant´Anna; Órgão Julgador: 3ª Turma 
Recursal Cível - Santo Amaro; Foro Regional II - Santo Amaro - 2ª 
Vara do Juizado Especial Cível; Data do Julgamento: 26/10/2018; 
Data de Registro: 29/10/2018). 
 
37. Dessa forma, resta esclarecido que não há 
abusividade alguma na retenção do valor desembolsado pelas passagens de ida e 
volta, já que houve noshow – ausência de comparecimento ou comparecimento sem 
a documentação necessária para embarcar. 
 
38. Exa., no que se refere ao suposto prejuízo 
extrapatrimonial sofrido pela parte RECORRIDA em razão da demora para efetuar a 
reacomodação pleiteada, faz-se mister esclarecer que esse fato não ocasiona danos 
morais. 
 
V. DA INEXISTÊNCIA DE DANOS MORAIS 
39. Exa., na hipótese remota de Vossa Excelência 
entender que restou configurado descumprimento contratual, o que se admite apenas 
em atenção ao princípio da eventualidade, mesmo assim, o pedido da parte 
RECORRIDA não deve ser acolhido na sua integralidade. 
 
40. A parte RECORRIDA formulou pedido de 
condenação da RECORRENTE ao pagamento de indenização por danos morais no 
montante de R$ 14.000,00. Todavia, esse valor revela-se em dissonância com a 
Jurisprudência. 
 
41. Vale lembrar que em momento algum, repita-se, 
a parte RECORRIDA trouxe fato que comprovasse o suposto “sofrimento” que a ela 
lhe foi imputado, especialmente, pois como exposto, o fato se deu por culpa exclusiva 
do consumidor. 
 
42. A descrição do fato que constituiria a conduta 
culposa é absolutamente indispensável, não bastando dizer que a RECORRENTE agiu 
com culpa. Devendo, também, ser mencionada de que forma o ato atingiu a órbita 
dos bens morais da vítima. A angústia, a perda do prestígio social, a exposição a 
 
constrangimento ou vexame, a perturbação do bem-estar psíquico que a acometeu 
ou ainda acomete, para, então, se permitir inferir a existência do dano moral. 
 
“A simples alegação da ocorrência de dano moral não é 
suficiente para a obtenção de indenização, sendo 
necessária a sua comprovação, bem como o nexo de 
causalidade entre o sofrimento experimentado pela 
vítima e a conduta lesionadora, sob pena de 
enriquecimento sem causa.” 
(TJPR – 2.ª Câmara – Apelação Cível n.º 64792-7 – 
Relator Sidney Moura – julgado em 10.06.98 – RT 
762/377). 
 
43. A fim de corroborar o aduzido, leciona Sergio 
Cavalieri Filho: 
 
 
“Em tema de dano moral a questão que se coloca 
atualmente não é mais a de saber se ele é ou não 
indenizável, nem, ainda, se pode ou não ser cumulado 
com o dano material, mas sim o que venha a ser o 
próprio dano moral. Esse é o ponto de partida para o 
equacionamento de todas as questões relacionadas com 
o dano moral, inclusive quanto à sua valoração.” 
 
44. E, ainda: 
 
"Nessa linha de princípio, só deve ser reputado como 
dano moral a dor, vexame, sofrimento ou humilhação 
que, fugindo à normalidade, interfira intensamente no 
comportamento psicológico do indivíduo, causando-lhe 
aflições, angústia e desequilíbrio em seu bem-estar. 
Mero dissabor, aborrecimento, mágoa, irritação ou 
sensibilidade exacerbada estão fora da órbita do dano 
moral, porquanto, além de fazerem parte da 
 
normalidade do nosso dia-a-dia, no trabalho, no trânsito, 
entre os amigos e até no ambiente familiar, tais 
situações não são intensas e duradouras, a ponto de 
romper o equilíbrio psicológico do indivíduo. Se assim 
não se entender, acabaremos por banalizar o dano 
moral, ensejando ações judiciais em busca de 
indenizações pelos mais triviais aborrecimentos" 
(p. 89, 3ª ed.). 
 
45. Sabe-se que não é qualquer sentimento 
incômodo ou constrangedor que é capaz de fazer surgir na esfera jurídica o direito à 
indenização de cunho moral, eis que, para tanto, impõe-se a demonstração de que a 
parte efetivamente experimentou sentimentos contundentes, seja de sofrimento, dor 
ou humilhação, os quais fogem daqueles considerados cotidianos, ainda que ruins, 
que um cidadão normal está apto a enfrentar na vida, especialmente quando se tem 
em perspectiva a situação vivida na Itália à época. 
 
46. Por isso é que não se pode admitir que a parte 
RECORRIDA obtenha vantagem indevida sob o cunho de danos morais, se 
aproveitando de uma situação corriqueira, passível de ser vivenciada por qualquer 
pessoa, cabendo destacar, neste diapasão, que deve haver a devida apreciação do 
caso, para que o nobre instituto não seja desvirtuado em mera fonte de 
enriquecimento. 
 
47. Neste aspecto, destaca-se que a linha divisória 
entre a justa pretensão de reparação de um dano e a injusta pretensão de 
enriquecimento ilícito é muito tênue. O tema vem causando grande preocupação 
entre os magistrados e os operadores do direito em geral, principalmente levando-
se em conta o fenômeno que ocorre nos EUA, onde, atualmente, existe uma lucrativa 
indústria de ações embasadas nos mais disparatados pedidos de indenização de 
danos morais. Vejam-se as sábias ponderações feitas sobre o tema pelo insigne 
mestre Ives Gandra da Silva Martins: 
 
“Dano moral não deve ser um negócio. Não poucas vezes 
tal veículo, saudável para restabelecer os direitos 
inerentes à personalidade, tem sido desvirtuado pela 
 
criação de uma autêntica indústria dos negociantes da 
honra, como se honra tivesse preço”. 
(Parecer in RT, vol. 722, pgs. 113/121) (grifo nosso). 
 
48. Na realidade, o episódio narrado na exordial deve 
ser tratado como um mero aborrecimento sofrido pela parte RECORRIDA, o que é 
hipótese de afastamento da condenação por danos morais, conforme narrado no 
parágrafo anterior. 
 
49. A propósito, vale mencionar a recente introdução 
no ordenamento jurídico brasileiro do art. 251-A, no Código Brasileiro de Aeronáutica, 
que prestigiou o novo entendimento jurisprudencial do Superior Tribunal de Justiça 
de que dano extrapatrimonial decorrente de transporte aéreo internacional não se 
presume: 
 
Art. 251-A. A indenização por dano extrapatrimonial em 
decorrência de falha na execução do contrato de 
transporte fica condicionada à demonstração da efetiva 
ocorrência do prejuízo e de sua extensão pelo passageiro 
ou pelo expedidor ou destinatário de carga. (Incluído 
pela Lei nº 10.034, de 2020). 
 
50. A experiência comum revela que os fatos 
alegados na petição inicial não causam rompimento do equilíbrio psicológico doindivíduo nem, tampouco, qualquer violação a bem não patrimonial, como moral, 
honra (subjetiva ou objetiva), integridade física, bom nome, etc. 
 
51. Ademais, o Código de Defesa do Consumidor 
artigo 14, §3º, II, estabelece que o fornecedor não será responsabilizado quando 
provar culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro, posto que a parte não embarcou 
por seu ato. 
 
52. O mesmo se aplica ao suposto dano material, pois 
não há o que se falar em culpa da RECORRENTE. 
 
53. Em que pesem as alegações colacionadas pela 
parte RECORRIDA, não há qualquer fundamento que justifique seu pleito quanto aos 
alegados danos morais e materiais sofridos, pois, ressalte-se que conforme 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2020/Lei/L14034.htm#art4
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2020/Lei/L14034.htm#art4
 
salientado nos itens anteriores, a empresa RECORRENTE não praticou qualquer 
ato que pudesse ser reputado ilícito. 
 
54. Desse modo, fica caracterizada que a narrativa 
promovida pela parte RECORRIDA não atingiu à sua esfera moral e, portanto, não 
enseja indenização por danos morais, devendo o ser julgado improcedente nos 
termos do artigo 487, I do CPC. 
 
VI.. SUBSIDIARIAMENTE: DO QUANTUM INDENIZATÓRIO 
55. Em observância ao princípio da eventualidade, 
em remota e improvável hipótese de não serem acolhidas as razões expostas acima, 
ainda assim merece ser reformada a r. sentença para que seja minorado o valor da 
condenação a título de danos morais, sob pena de acarretar punição extrema da 
empresa RECORRENTE e fatídico enriquecimento sem causa da parte RECORRIDA. 
 
56. Observe que a r. sentença condenou a parte 
RECORRENTE ao pagamento de R$ 5.000,00, a título de danos morais para cada 
autor. 
 
57. No entanto, o quantum fixado destoa do razoável. 
Nesse sentido, importante frisar que a indenização por danos morais deve obedecer 
a critérios de equidade e justiça, sob o bom senso do magistrado, responsável por 
repelir pedidos surrealistas e da boa-fé das partes, repelindo indenizações 
descabidas, que somente aumentam a indústria do dano moral. 
 
58. Não é outra a leitura que se extrai da Constituição 
Brasileira que, em seu artigo 5°, inciso X, expressamente prevê que “são invioláveis 
a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito 
a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”. 
 
59. Conclui-se, portanto, que nos termos dos 
princípios norteadores do instituto da responsabilidade civil, a indenização a título de 
danos morais deve ter caráter exclusivamente compensatório, que espelhe as 
circunstâncias especiais do caso, mormente a extensão do eventual dano sofrido pela 
parte RECORRIDA. 
 
 
60. Nota-se, por consequência, que a Lei 
Fundamental, ao utilizar a expressão “indenização” por danos morais, atém-se à 
noção de compensação, própria do instituto da responsabilidade civil, não havendo, 
portanto, qualquer menção a um acréscimo indenizatório a título de 
punição/desestímulo. 
 
61. Assim, cabe ao d. magistrado, no estrito e regular 
exercício de suas funções, realizar um sopesamento entre a conduta praticada pela 
RECORRENTE e o suposto dano moral sofrido pela parte RECORRIDA. 
 
62. A eventual indenização por danos morais deve ser 
realizada com base nos princípios da razoabilidade e proporcionalidade, evitando-se 
valores exorbitantes que gerariam o enriquecimento sem causa da parte 
RECORRIDA. 
 
63. Ademais, frente a legislação aplicável ao caso e 
jurisprudência, é importante observar que o sistema jurídico brasileiro não é 
compatível com institutos como os punitive damages (danos punitivos de caráter 
exemplar) do direito norte-americano. A natureza da indenização, no sistema 
brasileiro, é de compensar a vítima, não de punir o causador do dano, como quer 
fazer crer a parte RECORRIDA. 
 
64. Em suma, se algum dano moral for reconhecido, 
o que não é esperado, a indenização há de ser arbitrada em valor consentâneo com 
a extensão do eventual dano causado à parte RECORRIDA, respeitando os artigos 
944, parágrafo único, do Código Civil e artigo 5º da Lei de Introdução às Normas do 
Direito Brasileiro. 
 
 
VII. DOS REQUERIMENTOS 
 
65. Por todo o exposto, requer-se seja dado TOTAL 
PROVIMENTO ao presente recurso inominado, reformando a sentença recorrida e 
desconstituindo a obrigação da Recorrente de restituir a Recorrida em qualquer valor, 
nos termos da contestação. 
 
 
66. Subsidiariamente, requer que seja minorado o 
valor da condenação de danos morais, tendo em vista a necessidade de observância 
do cenário econômico-social em que se encontra o presente processo, nos termos do 
art. 6º, da Lei 9.099/95. 
 
67. Por fim, reitera o pedido de que todas as 
intimações relativas a este processo sejam feitas em nome dos advogados João 
Joaquim Martinelli, inscrito na OAB/MG sob o nº 1.796-A e Natalia Cançado 
Scarpelli, inscrita na OAB/MG sob o nº 115.733, sob pena de nulidade. 
 
Termos em que pede deferimento. 
São Paulo, 28 de março de 2022. 
 
JOÃO JOAQUIM MARTINELLI NATALIA CANÇADO SCARPELLI 
OAB/MG 1.796-A OAB/MG 115.733

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