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SP.4 – UMA PEDRA NO CAMINHO MÓDULO: DOR 1. CONCEITUAR DOR VISCERAL (FISIOPATOLOGIA E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS) As vísceras são órgãos internos do corpo, alojadas especialmente no interior do tórax e abdômen e estão relacionadas com diversas funções vitais importantes do corpo, tais como respiração, irrigação sanguínea, digestão, excreção, reprodução, entre outras. A dor visceral é mais comum do que dor somática e se origina de órgãos internos do tórax, abdômen e pelve, tais como: coração, grandes vasos e estruturas perivasculares [p. ex.: os gânglios linfáticos); estruturas das vias aéreas [faringe, traqueia, brônquios, pulmão, pleura); trato gastrintestinal (esôfago, estômago, intestino delgado, cólon e reto]; estruturas abdominais (fígado, vesícula biliar, vias biliares, pâncreas e baço); estruturas urológicas (rins, ureteres, bexiga e uretra); órgãos reprodutivos (útero, ovários, vagina, testículos, canais deferentes e próstata] ; omento e peritônio visceral. As dores viscerais podem ser de natureza orgânica ou disfuncional. Elas estão relacionadas à existência de lesões anatômicas, tais como neoplasias, litíases ou alterações vasculares. Por outro lado, as alterações funcionais se devem a uma perturbação no funcionamento do órgão e/ou sistema, no qual, na maioria das vezes, tem investigação anatômica normal. São exemplos de dores disfuncionais aquelas relacionadas, por exemplo, com a Sll, dismenorreia, cistite intersticial, entre outras. As vísceras estão predominantemente vinculadas ao chamado sistema nervoso autônomo, nome dado em virtude de seu pouco controle voluntário. De modo geral, não tomamos consciência do funcionamento normal dessas estruturas viscerais em nosso dia-a-dia, exceto quando existem modificações, que podem ocorrer em decorrência de fome ou sensação de plenitude, bem como por doenças. A dor visceral tem cinco características importantes, que merecem destaque: 1- A dor não é evocada de todas as vísceras. Órgãos como fígado, rim, a maioria das vísceras sólidas e o quanto membranas serosas de órgãos ocos são mais sensíveis à dor. Isto ocorre devido a propriedades funcionais de receptores periféricos dos nervos de certos órgãos viscerais e também pelo fato de que muitas vísceras são inervadas por receptores que não evocam percepção consciente”. 2- A intensidade da dor não é ligada diretamente com o grau de injúria visceral: o corte do intestino, por exemplo, não causa dor, sendo um exemplo de lesão sem dor, enquanto a distensão da bexiga é dolorosa e é um exemplo de dor sem lesão”. 3- A dor é difusa e pobremente localizada devido a poucos aferentes viscerais, quando comparada com vias somáticas. Particularmente, a ausência de vias sensoriais viscerais individualizadas e a extensiva divergência no sistema nervoso central (SNC) podem também levar a diagnósticos errôneos. 4- A dor geralmente é referida para outros locais devido à convergência viscerossomática em vias de dor central. Pode ser, inclusive, a queixa mais importante, e pode confundir a exata localização da doença”. 5- A dor é frequentemente acompanhada de reflexos autonômicos e motores, como náusea, vômito e tensão muscular lombar baixa, como ocorre na cólica renal. Estas alterações podem servir como sistema mantenedor e facilitador da transmissão dolorosa”. A ocorrência de dor visceral depende da natureza dos estímulos provocados. Estímulos adequados que produzem dor visceral são: distensão ou estiramento, isquemia e processo inflamatório (de origem infecciosa ou química, por exemplo). Órgãos ocos como o intestino são relativamente sensíveis à distensão e inflamação e insensíveis ao corte e queimadura. Logo, a gravidade da dor nem sempre reflete a gravidade da condição causadora da dor. Uma dor abdominal intensa pode estar associada à presença de gases ou cólica em casos de gastroenterite, enquanto uma dor relativamente leve ou ausente pode estar associada a condições fatais como câncer de cólon ou apendicite precoce. Em condições patológicas, por outro lado, estímulos levemente dolorosos ou até mesmo inócuos, como a passagem de gases e material fecal. Podem causar dor [hiperalgesia e alodínea) quando passam por tecidos inflamados ou alterados (p. ex.: Sll). As doenças viscerais podem determinar dores de vários tipos: visceral verdadeira, visceral referida, parietal localizada ou parietal referida. A dor visceral verdadeira - não referida - manifesta-se na região da linha média do abdômen, sem localização precisa no epigástrio, região periumbilical ou mesogástrio, habitualmente descrita como cólica e associa-se a náuseas, vômitos, sudorese ou palidez1. A dor visceral referida localiza-se nos miótomos e dermatômeros supridos pelos neurônios que se projetam nos mesmos segmentos medulares das vísceras afetadas2. A dor parietal localizada ou a dor parietal não referida resulta da irritação do peritônio parietal e localiza-se na parede abdominal correspondente ao local da lesão. A dor parietal referida manifesta-se em ponto distante do local da estimulação nociceptiva FISIOPATOLOGIA DA DOR VISCERAL O trajeto dos aferentes viscerais tem estreita proximidade com o sistema nervoso autônomo e, devido à possibilidade de comunicação interneuronal, os sintomas relacionados aos nervos simpáticos e parassimpáticos são prevalentes. Todas as vísceras abdominais e torácicas tem inervação aferente associada com nervos simpáticos e parassimpáticos, com exceção do pâncreas”. O sistema nervoso autônomo é responsável pelo controle de reflexos cardiopulmonar, gastrointestinal e funções geniturinárias, transmitindo a informação da viscera para o SNC. A maioria destas informações não é percebida no nível consciente (por exemplo: respostas a nutrientes intraluminais, estímulo de barorreceptores, insuflação pulmonar, motilidade gastrintestinal etc.). As vias parassimpáticas, originadas de estruturas cranianas (no tronco do encéfalo), bem como da porção sacral. As vias simpáticas, originadas na medula espinhal em suas porções cérvico-torácicas. Após a sua saída, frequentemente se agrupam em cadeias (plexos), que em geral se localizam na porção pré- vertebral. Os receptores dos neurônios aferentes viscerais primários são localizados na mucosa, músculo e serosa de órgãos ocos e respondem a estímulos químicos locais e luminals e a estímulos mecânicos (distensão). São geralmente polimodais, respondendo às múltiplas modalidades de estímulos: mecânicos, térmicos e químicos. Sua ativação resulta em respostas a estímulos nocivos e reflete a sua intensidade. Há duas classes de nociceptores viscerais. 1- Receptores de alto limiar a estímulos naturais: que respondem a estímulos principalmente mecânicos de alcance nocivo. Estes receptores inervam exclusivamente órgãos cuja dor é a única sensação consciente, por exemplo: ureter, rim, pulmão, vias aéreas, coração, veias, vesícula biliar, esôfago, Intestino delgado, cólon, bexiga e útero. 2- Receptores de baixo limiar para estímulos naturais: ambém principalmente mecânicos, que codificam a intensidade do estímulo na magnitude de suas descargas, desde estímulos inócuos até os de alcance nocivos, porém, são relativamente escassos em determinados órgãos, como por exemplo: cólon, estômago, esôfago, bexiga e testículos. Os chamados nociceptores silenciosos estao presentes em larga escala nos órgãos viscerais e em condições normais são irresponsivos a estímulos, mas, geralmente se tornam ativados na presença de injúria tecidual: hipóxia ou inflamaçao, passando a transmitir estímulos de dor”. A nocicepção é iniciada pela ativaçao de receptores viscerais e, se estes estímulos forem suficientemente fortes, são transmitidos para a coluna dorsal da medula espinhal,através das fibras Aõ [pobremente mielinizadas) e C (amielinizadas]. Sensibilização periférica Na presença de um estímulo repetitivo, bem como na presença de um processo inflamatório, ocorre sensibilização de nociceptores. Estes podem reduzir seu limiar de ativação, ter um aumento de resposta a um dado estímulo ou ocorrer atividade espontânea”. Esta sensibilização de nociceptores ocorre no tecido lesionado e resulta na liberação de diversos mediadores inflamatórios [histamina, prostaglandinas. serotonina, prótons, NGF e substância P). Alguns desses mediadores podem ativar diretamente os nociceptores e influenciar no limiar desses receptores, bem como ativar indiretamente a via de células inflamatórias. Em adição. um subgrupo de fibras que não são ativas sob condições normais, os nociceptores silenciosos, podem ser recrutados e ativados pelo processo inflamatório, passando a aumentar a aferência de transmissão da dor. Esta rede resulta em um aumento de sinais de transmissão de dor para a medula espinhal, levando à hiperalgesia visceral”. Transmissão e processamento central As vias aferentes viscerais são consideradas parte do sistema nervoso visceral e constituem 10% de toda a entrada aferente na medula espinhal”. Estas vias aferentes viscerais são organizadas de forma difusa, tanto periférica, quanto centralmente. As fibras nervosas aferentes primárias que inervam as vísceras se proietam para o SNC por três vias: a] o nervo vago e seus ramos; b] dentro e ao longo de vias eferentes simpáticas [cadeias simpáticas e ramos esplâncnicos, inclusive ramos torácicos e lombares maior, menor e mínimo) e; c) no nervo pélvico, com eferentes parassimpáticos, e seus ramos”. A passagem por meio dos gânglios periféricos ocorre por meio do contato sináptico, por exemplo: nervos do plexo celíaco, mesentérico superior e hipogástrico. O trato gastrintestinal e os gânglios periféricos formam grandes plexos neuronais que controlam as funções autonômicas. No entanto, sua função na sensação dolorosa não é totalmente conhecida. Os corpos celulares de aferentes primários que vão em direção ao SNC se localizam principalmente no gânglio nodoso [vagal) e nos gânglios das raízes dorsais T2- L2 e S1-S5 (associados aos eferentes simpáticos e nervo pélvico. Pode haver função dos aferentes vagais na nocicepção. Alguns, mas não todos os aferentes espinhais estão associados à nocicepção. Ao entrar na coluna dorsal da medula espinhal, os aferentes viscerais terminam nas lâminas de Rexed l, Il, V e X na medula espinhal. Aferentes viscerais constituem 10% de toda entrada aferente na medula espinhal. Este é um número relativamente pequeno, considerando a grande superfície de área de alguns órgãos. Estudos anatômicos e eletrofisiológicos demonstram haver uma convergência viscerossomática no corno dorsal da medula espinhal, no qual fibras aferentes somáticas e viscerais terminam no mesmo nível [embora fibras sensoriais sejam anatomicamente distintas nos tecidos periféricos e em centros supraespinhais). Os aferentes viscerais frequentemente ativam o mesmo neurônio espinhal, como aquele ativado por estímulos nocivos somáticos. Consequentemente, a dor é conscientemente percebida erradamente como originada de tecidos somáticos, fenômeno conhecido como dor referida. Em algumas situações, as dores de origem nas estruturas somáticas podem predominar no quadro de dores viscerais, tais como a dor irradiada para o dorso na pancreatite e a dor irradiada para a escápula direita na colecistite aguda. Há também a ocorrência de convergência viscero-- visceral nos neurônios de segunda ordem”. Esta tipicamente provoca alodinea (dor decorrente de estímulos que usualmente não provocam dor] e hiperalgesia [aumento da dor por estimulos que usualmente provocam dor) em estruturas viscerais que são distantes da viscera que provocou primariamente a dor (por exemplo: hiperalgesia de cólon retossigmoide em pacientes com pancreatite crônica). A partir da medula espinhal, a entrada nociceptiva até o cérebro é transmitida por várias vias”. A maioria dos aferentes ascende pelo trato espinotalâmico até o tálamo”. Outras vias conhecidas são: o trato espino- hipotalâmíco, o trato espinorreticular. o trato espinosolitário, o trato espinoparatraqueal entre outros. Por sua vez, 0 tálamo projeta para insula, hipotálamo, amígdala e áreas corticais altas (córtex pré-frontal e cingular). A insula integra a atividade motora e sensorial visceral com a entrada do sistema limbico. Este é um fator importante na percepção da dor de órgãos como o intestino. O córtex pré-frontal e cingular anterior mediam vários componentes cognitivos. emocionais e afetivos na experiência de dor2'*. A coluna dorsal tem também a função de mediar a dor do cólon para o SNC. Finalmente uma parte de aferentes ascende pelo trato espinomesencefálico, que se refere a uma rede neuronal complexa, incluindo a substância cinzenta periaquedutal, o núcleo rostroventral da medula e o tegmento pontinho dorsolateral. Esta rede compreende a base estrutural de controle de dor descendente e modula o processo de dor no nível espinhal através de inibição descendente ou de vias facilitadoras. Sensibilização central Um aumento na entrada do estímulo nocivo na medula espinhal pode resultar em um aumento na capacidade de resposta na transmissão neuronal central da dor. Este fenômeno é conhecido como sensibilização central da dor e se refere a um aumento na eficácia sináptica em neurônios sensoriais no SNC, devido a um intenso estímulo nocivo periférico, ocasionado em casos como aqueles relacionados ao grande dano tecidual ou a alterações neuropáticas. Vários mecanismos têm sido associados a este fenômeno e um dos mais importantes é a ativação do receptor NMDA (N-metil-D-aspartato), revelando um envolvimento chave do glutamato neste processo. A sensibilização central tem sido estudada extensivamente em dores somáticas e se manifesta tipicamente como alodínea e hiperalgesia, sendo que este último também ocorre em pacientes com dores viscerais. A hiperalgesia visceral é vista como um aumento da sensibilidade à dor em um órgão interno [por exemplo: inflamação devido ao fenômeno de sensibilização periférica e central). A manutenção do estado de hiperexcitabilidade central generalizada, com a ativação de determinados receptores, é crucial em dor crônica visceral e hiperalgesia. As evidências experimentais têm demonstrado o papel central do receptor' NMDA nesta situação. Ao contrário do sistema somático, onde a somação de estímulos repetidos, bem como a presença de estímulos prolongados, como ocorrida durante uma inflamação, são necessários para ativar os receptores NMDA, parece que o receptor neste caso pode ser ativado por estímulos viscerais de baixa intensidade e curta duração”. Uma especial forma de hiperalgesia, que está frequentemente presente ein síndromes dolorosas viscerais é a chamada hiperalgesia víscero~visceral, que reflete um aumento na percepção de dor de dois diferentes órgãos internos, dividindo pelo menos parte de suas projeções sensoriais centrais, provavelmente devido ao fenômeno de sensibilização central de neurônios convergentes viscero-viscerais. Deve ser enfatizado que, em dor crônica visceral, com hiperalgesia víscero-visceral, o tratamento da condição de uma viscera pode efetivamente aliviar os sintomas da outra viscera (por exemplo, 0 tratamento hormonal de dismenorreia pode diminuir sintomas de Sil). Há evidências de que alterações neuroplásticas no SNC são diferentes e de fato mais prevalentes em processos de dor visceral quando comparadas com a dor somática. Outro mecanismo relacionado à geração do fenômeno de sensibilização central são as mudanças ocorridas nas células daglia2°. Estas células do SNC e periférico que, até há pouco pareciam ter funções estáticas na homeostase do sistema nervoso, têm sido demonstradas como tendo a capacidade de sofrer mudanças anatômicas e funcionais, que em última análise, culminariam com o desenvolvimento de geração de uma dor persistente. Modulação da dor Entende-se por modulação ou supressão da dor a todos os mecanismos que geram uma diminuição na transmissão dos impulsos dolorosos, funcionando como uma espécie de “sistema filtro", que bloquearia parcial ou totalmente a passagem (e consequentemente, a percepção] do fenômeno doloroso. Existem vários mecanismos do sistema de modulação da dor. A modulação descendente da dor pode resultar em um aumento (facilitação), ou uma diminuição (inibição) na transmissão espinhal. O balanço entre inibição e facilitação define a qualidade de força da transmissão do sinal da dor. Na transição de dor aguda para crônica, e em alguns casos de dores neuropáticas, têm sido demonstradas alterações, nas quais os estímulos passam da inibição para a facilitação. Isto envolve estruturas do tronco cerebral e pode levar à geração e manutenção de sensibilização central e hiperalgesia. No nível cortical, o córtex do cingulo anterior é a fonte mais importante de modulação descendente, projetando do mesencéfalo para a amígdala e substância periaquedutal. A substância periaquedutal controla a transmissão nociceptiva por meio de conexões através de neurônios na medula ventromedial rostral e tegmento pontino dorsolateral. Estas duas regiões projetam através do funículo dorsolateral da medula espinhal e seletivamente atingem a lâmina do corno dorsal que realiza a transmissão de estímulos nociceptivos. Este circuito pode seletivamente modular a transmissão nociceptiva por seus nociceptores aferentes primários anatomicamente próximos na coluna dorsal da medula espinhal. A estimulação destes locais inibe a resposta de neurônios espinais aos estímulos nocivos. Na parte inferior do tronco cerebral, o locus coeruieus [noradrenérgicoj, o núcleo da rafe (serotoninérgico) e a medula ventral rostromedial recebem estímulos da amígdala e substância periaquedutal e projetam para o corno dorsal da medula espinhal, onde a transmissão da entrada pode ser fechada. Embora muitas dessas informações venham de estudos de dores somáticas, alguns confirmam que as estimulações desses locais podem ter efeitos analgésicos na modulação da entrada visceral. Finalmente, a organização central do circuito da dor pode diferir em doenças somáticas e viscerais, tal como a insula, que parece exercer a maior função na dor visceral, onde conexões entre a ínsula e outras estruturas do sistema límbico são prevalentes. APRESENTAÇÃO CLÍNICA DA DOR VISCERAL a) Dor visceral verdadeira: dor usualmente vaga, difusa e de localização imprecisa. Ocorre devido à baixa densidade de inervação sensorial visceral e à extensiva divergência de entrada dos estímulos com o sistema nervoso autônomo. Tem uma evolução temporal e pode ser dificil de identificar no estágio inicial. Algumas vezes apresenta-se somente como uma vaga sensação de desconforto, mal-estar ou opressão. Pode estar associada com marcados fenômenos autonômicos e com fortes reações emocionais, conforme descrito anteriormente. Um exemplo tipico é a dor do infarto agudo do miocárdio. Não tem correlação direta entre a intensidade da dor e a extensão da injúria. A correlação entre dor visceral e emoções negativas pode aumentar a ocorrência de dor relacionada ã memória de dor- ~sensibilizaçao central. B) Dor referida e hiperalgesia (convergência viscerossomática): a dor visceral pode se apresentar numa localização somática. Ocorre devido à convergência da inervação dos órgãos viscerais e áreas somáticas no mesmo neurônio sensorial espinhal. Esta dor se apresenta tipicamente como somática profunda, mais localizada e não acompanhada de francas reações simpáticas e emocionais. Pode estar associada com hiperalgesia e é usualmente limitada aos músculos, mas pode se estender superficialmente para 0 tecido subcutâneo e pele. A hiperalgesia referida de órgãos internos resulta provavelmente de um processo de sensibilização central, envolvendo neurônios da convergência viscerossomática (facilitação da convergência). Pode persistir até mesmo após o estímulo primário ter cessado. Hiperalgesia referida é com frequência acompanhada por alterações tróficas, tipicamente um espessamento do tecido subcutâneo e algum grau de atrofia muscular local. Estes eventos são presumidamente decorrentes da ativação de reflexos viscerossomáticos. c) Hiperalgesia visceral: definida como um aumento da sensibilidade de um órgão interno, de tal modo que até mesmo um estímulo não patológico ou normal pode produzir dor desse órgão. Isto é comumente associado com dor visceral e acredita-se ser decorrente de sensibilização periférica e central. Exemplo: dor após a ingestão de comida ou líquido em um esôfago ou estômago quando a mucosa está inflarnada, ou dor na bexiga devido à distensão de um grau normal durante um processo inflamatório do trato urinário baixo. d) Hiperalgesia víscero-visceral: é o aumento da dor devido à interação sensorial entre dois diferentes órgãos internos que dividem pelo menos parte de seus circuitos aferentes. Consiste de um aumento de ambos: sintomas diretos e referidos de toda a viscera envolvida, produzindo um quadro clínico complexo. Por exemplo: pacientes com doença cardíaca coronariana associada a cálculo biliar podem experimentar crises mais frequentes de angina e cólica biliar em comparação com pacientes com uma condição única. Isso ocorre devido à sobreposição parcial de vias aferentes em T5 do coração e da vesícula biliar. Hiperalgesia viscero-visceral é provavelmente produzida por processo de sensibilização, envolvendo neurônios em convergência víscero-visceral no SNC. A dor crônica visceral também pode ser considerada como orgânica ou funcional dependendo se o fator etiológico da patologia específica pode ser identificado”. A dor funcional visceral se refere à dor sem evidência de anormalidades anatômicas, inflamatórias, metabólicas ou neoplásicas. O exemplo mais prevalente de dor funcional visceral é a Sll. DIFERENCIAR A DOR VISCERAL DA DOR SOMÁTICA Não há diferença fundamental entre a dor que se origina em uma víscera e a que provém de uma estrutura somática profunda (músculos, tendões e articulações). Ambas têm a mesma qualidade, são difusas e mal localizadas. Os sistemas visceral e somático estão estreitamente vinculados. As fibras aferentes das vísceras fazem parte dos nervos simpáticos e raramente do parassimpático. Habitualmente seus impulsos não atingem níveis de consciência, salvo algumas exceções (fome e sede, plenitude do reto e da bexiga, etc.) É bem conhecido que o parênquima visceral, assim como o cerebral, pode ser manuseado sem que se desperte sensação alguma. No decurso de intervenções cirúrgicas feitas com anestesia local as vísceras de indivíduos conscientes podem ser cortadas ou cauterizadas sem provocar dor. As vísceras não são, contudo, completamente insensíveis, porém as membranas que as recobrem, o tecido de sustentação, os pedúnculos neurovasculares e os músculos viscerais é que podem ser origem de dor localizada ou irradiada. Os impulsos assim originados são conduzidos por fibras que estão incluídas em nervos simpáticos e excepcionalmente nos parassimpáticos, tal como na região pélvica, esôfago e traquéia. Já que os nervos simpáticos não são essenciais para os reflexos reguladores viscerais, a simpatectomia para aliviar a dor não provoca disfunção visceral sária. A dor somática profunda localiza-se bastante bem quando tem sua origem em tecidos situados próximoda superfície do corpo, por exemplo nos tendões ou aponeuroses superficiais, no periósteo de ossos imediatamente sob a pele, nas paredes das cavidades abdominal e torácica. Ao contrário, quando se origina em estruturas profundas, é mais difusa e é referida em um ponto distante. Na localização das sensações intervêm dois pontos importante: a representação cortical e experiência. Quanto mais desenvolvida é aquela e mais frequente esta última, mais precisa é a localização. As vísceras e os segmentos profundos têm uma representação cortical muito menos extensa do que os receptores exteroceptivos e os impulsos aferentes das vísceras e dos músculos habitualmente não chegam a ser conscientes. Esses fatos bastam para explicar porque as sensações profundas não têm um sinal local preciso e são referidas sob forma difusa ao segmento ou aos segmentos em que se originaram e as regiões da superfície de onde partem impulsos dolorosos que chegam ao neuroeixo pelas mesmas raízes medulares e estão representados nos mesmos pontos do córtex cerebral. 2. DIFERENCIAR DOR REFERIDA E SUA FISIOPATOLOGIA DA DOR IRRADIADA Dor Referida: sensação dolorosa distante do ponto de onde originou a dor. Ocorre porque a região da medula espinhal, onde convergem os sinais de uma víscera, recebe também os sinais de um dermátomo específico. Por causa do desenvolvimento embrionário, o órgão e o dermátomo originaram-se de um mesmo segmento medular. Enfim, daí o cérebro interpreta dor vinda do órgão como se fosse do dermátomo. Alguns exemplos são: dor na face interna do braço e mandíbula nos pacientes com IAM; epigastralgia ou dor periumbilical nos pacientes com apendicite; dor no ombro em indivíduos com irritação do nervo frênico ou lesão diafragmática; dor no ombro direito em indivíduos com doenças hepáticas ou vesiculares. No exemplo da apendicite, a dor começa referida na região citada e depois por irritação do peritônio parietal adjacente passa a ser sentida na fossa ilíaca direita (somática profunda). Os axônios de nociceptores viscerais entram na medula espinhal pelo mesmo trajeto que os de nociceptores cutâneos. Na medula espinhal, ocorre uma mistura substancial de informação dessas duas fontes de aferências (Figura 12.29). Essa linha cruzada origina o fenômeno da dor referida, pelo qual a ativação do nociceptor visceral é percebida como uma sensação cutânea. Um exemplo clássico de dor referida é a angina, que ocorre quando o coração não recebe oxigênio em quantidade suficiente. Os pacientes localizam frequentemente a dor da angina na parte superior do tórax e no braço esquerdo. Outro exemplo comum é a dor associada à apendicite, que é referida, em seu estágio inicial, na parede abdominal ao redor do umbigo Dor Irradiada: dor sentida à distância de sua origem, mas em estruturas inervadas pela raiz nervosa ou em nervo cuja estimulação é responsável pela dor. Trata- se de um tipo de dor sentida à distância de sua origem, mas obrigatoriamente em estruturas inervadas pela raiz nervosa ou pelo nervo cuja estimulação tóxica é responsável pela dor. Ocorre, portanto, em virtude do comprometimento direto de um nervo ou de uma raiz nervosa espinal. Como exemplo, a ciatalgia provocada pela compressão de uma raiz nervosa por hérnia de disco lombar. A dor irradiada, também chamada de dor radicular, é produzida pelo estiramento, torção, compressão ou irritação de uma raiz espinhal, central ou forame intervertebral. Apesar de possuir muitas das características da dor referida, ela difere quando a intensidade, aos fatores agravantes e atenuantes e ao tipo de disseminação. Sua característica é de dor aguda e muito intensa, que quase sempre se inicia em uma região central, próxima a coluna, e se dirige para uma parte da extremidade inferior. O melhor exemplo é a compressão da 4ª ou 5º raiz lombar e 1ª raiz sacral por uma hérnia de disco intervertebral, produzindo a dor ciática. Ela se estende caudalmente através da parte posterior da coxa, e posterior da perna até o pé. Parestesia ou perda de sensibilidade na pele e diminuição da sensibilidade de algumas regiões ao longo do nervo geralmente estão associadas. Se coexistir envolvimento das raízes anteriores, podem ainda, ocorrer perda de reflexos, atrofia, diminuição da força muscular, fasciculações e edema de estase. Ações que causam estiramento no nervo (flexão do tronco sobe as pernas estendidas, elevação das pernas em extensão) ou aumento da pressão intra-espinhal (compressão da veia jugular, tosse, espirro) agravam a dor radicular. 3. COMPREENDER A FISIOPATOLOGIA DA NEFROLITÍASE, BEM COMO A SUA EPIDEMIOLOGIA, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO (MEDICAMENTOSO E NÃO MEDICAMENTOSO) E TRATAMENTO DA CRISE AGUDA DA CÓLICA NEFRÉTICA A litíase Renal resulta de formações sólidas constituídas por concentrados de substâncias normalmente excretadas na urina, tais como o cálcio, o oxalato e o ácido úrico, cristalizados que pode surgir por diversos fatores: pode desenvolver-se como resultado de anomalias metabólicas ou malformações anatômicas do trato urinário e infecções, mas também por fatores ambientais e/ou nutricionais. É um fato comprovado por vários estudos que a incidência e a prevalência da litíase renal estão a aumentar, sendo a sua causa específica incerta, mas determinado pela conjugação de fatores genéticos e ambientais. Embora os fatores genéticos influenciem o risco de desenvolver litíase renal, alterações a este nível surgem a um ritmo muito lento, sendo os fatores ambientais os prováveis determinantes das alterações que se verificaram nos últimos anos. Informação analítica recente demonstra uma maior prevalência da patologia na população de raça caucasóide, do sexo masculino e em associação com aumento dos triglicerídeos, da obesidade, da diabetes, da hiperuricemia, da síndrome metabólica e de idade avançada. Embora a litíase renal seja mais prevalente no sexo masculino, nos últimos anos ocorreu um aumento dramático da prevalência no sexo feminino e na população em idade pediátrica. Embora o impacto da patologia na função renal ainda não esteja totalmente esclarecido, a litíase renal tem sido reportada como causadora de danos renais crônicos bastante significativos, podendo mesmo finalizar numa doença renal crônica terminal, ocorrendo esta última em cerca de 3% dos casos. Para além destes dados, em cerca de 5% dos doentes submetidos a ecografias abdominais e tomografias computadorizadas (TC), assintomáticos para esta patologia, são, acidentalmente, identificados cálculos que em cerca de 11 a 32% dos casos acabarão por desenvolver sintomas nos 3 a 4 anos subsequentes. Sabe-se ainda que cerca de 80% dos cálculos são constituídos por oxalato de cálcio, fosfato de cálcio ou ambos, sendo os cálculos formados por ácido úrico e estruvite mais raros. Muitos dos doentes com esta patologia, apresentam um volume urinário baixo e anomalias bioquímicas, nomeadamente hipercalciúria, hipocitratúria, hiperoxalúria, hiperuricosúria e anomalias do pH urinário, enquanto outros sofrem de doenças predisponentes, tal como hiperparatiroidismo, diabetes, hipertensão arterial (HTA) e, recentemente, vários estudos comprovaram a associação com a obesidade. Sabe-se que o risco de litíase renal aumenta associado ao aumento do índice de massa corporal (IMC) e ao perímetro abdominal. Pensa-se que um dos fatores que ditou o aumento da patologia nos últimos anos, foi o aumento do número de obesos e pessoas com excesso de peso. Outro fator de risco que tem sido estudado nos últimos anos é a temperatura. Sabe-se que a população que vive em climas quentes, ou cujo trabalho implica exposição a temperaturas elevadas, têm maior propensão para vir a desenvolver litíase renal. Este fato foi explicado fisiopatologicamentecomo consequência de desidratação, enquadrado, tal como os doentes com baixos consumos de água, numa explicação baseada no baixo débito urinário, um fator de risco conhecido e estudado. Recentemente, demonstrou-se que para, além disso, o simples fato de aumentar a temperatura, leva a um aumento do cálcio na urina, saturação de oxalato de cálcio e de fosfato de cálcio na urina, podendo, assim, potenciar o risco de desenvolver litíase renal. Patologia e patogênese Os cálculos renais resultam de alterações na solubilidade de várias substâncias na urina, de tal modo que haja nucleação e precipitação de sais. Numerosos fatores podem afetar o equilíbrio em favor da formação de cálculos. A desidratação favorece a formação de cálculos, e uma alta ingestão de líquidos para manter um volume urinário diário de 2L ou mais parece ser protetora. O mecanismo preciso dessa proteção é desconhecido. Hipóteses incluem a diluição de substâncias desconhecidas que predispõem à formação de cálculos e diminuição do tempo de trânsito de Ca2 + pelo néfron, minimizando a probabilidade de precipitação. Uma dieta rica em proteínas predispõe à formação de cálculos em indivíduos suscetíveis. Uma sobrecarga proteica na dieta causa acidose metabólica transitória e uma TFG aumentada. Embora o Ca2+ sérico não esteja elevado de forma detectável, há, provavelmente, um aumento transitório da reabsorção de cálcio a partir do osso, um aumento na filtração glomerular de cálcio, e inibição da reabsorção tubular distal de cálcio. Este efeito parece ser maior em formadores de cálculos conhecidos que em controles sadios. Uma dieta rica em Na+ predispõe à excreção de Ca2+ e à formação de cálculos de oxalato de cálcio, ao passo que uma dieta pobre em Na+ tem o efeito oposto. Além disso, a excreção urinária de Na+ aumenta a saturação do urato monossódico, que pode agir como um nicho para cristalização de Ca2+. Apesar de a maioria dos cálculos ser de oxalato de cálcio, a concentração de oxalato na dieta geralmente é baixa demais para favorecer uma recomendação de evitar oxalato para prevenir a formação de cálculos. De modo semelhante, a restrição de cálcio, anteriormente uma recomendação dietética importante para os formadores de cálculos de cálcio, é benéfica somente para o subgrupo de pacientes cuja hipercalciúria é dependente da dieta. Em outros, o cálcio diminuído na dieta pode, na verdade, aumentar a absorção de oxalato e predispor à formação de cálculos. Vários fatores protegem contra a formação de cálculos. Pela ordem decrescente de importância, líquidos, citrato, magnésio e fibras na dieta parecem ter um efeito protetor. O citrato diminui a probabilidade de formação de cálculos por quelar o cálcio em solução e formar complexos altamente solúveis com oxalato de cálcio e fosfato de cálcio. Embora tenha sido mostrado que a suplementação farmacológica da dieta com citrato de potássio aumenta o citrato e o pH urinário e diminui a incidência de formação recorrente de cálculos, os benefícios de uma dieta naturalmente rica em citrato são menos evidentes. Entretanto, alguns estudos sugerem que os vegetarianos têm uma incidência mais baixa de formação de cálculos. Presumivelmente, eles evitam o efeito formador de cálculos de uma dieta rica em proteína e Na+, combinado com os efeitos protetores de fibra e outros fatores. A formação de cálculos por si só dentro da pelve renal é indolor, até que um fragmento se desgarre e percorra o ureter, precipitando a cólica ureteral. Hematúria e dano renal podem ocorrer na ausência de dor. FISIOPATOLOGIA DA NEFROLITÍASE CÁLCICA A nefrolitíase cálcica representa 85% do total. Ocorre devido ao aumento do cálcio, ácido úrico ou oxalato urinário e/ou diminuição do citrato urinário. Estas alterações podem ser encontradas nos estudos metabólicos, ocorrendo normalmente de forma combinada e com menor frequência de forma isolada. Na dieta ocidental a quantidade média de cálcio ingerida é de 400 a 2000 mg/dia. Cerca de 1/3 é absorvido pelo intestino delgado. 95% do cálcio circulante é filtrado no glomérulo e reabsorvido a nível tubular, sendo apenas excretado na urina cerca de 2%. De referir que o osso é um reservatório importante de cálcio que pode em determinadas circunstâncias ser mobilizado para a circulação num processo metabolicamente controlado pela vitamina D e PTH. A hipercalciúria definida como a excreção do cálcio urinário superior 200 mg em 24 horas ou 4 mg/kg/24 h., pode ter três origens: absortiva, renal e reabsortiva. Hipercalciúria Absortiva Na hipercalciúria absortiva o principal defeito é um aumento da absorção do cálcio intestinal, normalmente ao nível do intestino delgado. O resultante aumento do cálcio circulante determina um aumento do cálcio filtrado e uma supressão da hormona paratiróide. Esta supressão origina uma menor reabsorção tubular do cálcio. A combinação do aumento do filtrado de cálcio e a diminuição da reabsorção tubular de cálcio conduz inevitavelmente a hipercalciúria. A hipercalciúria compensa a absorção intestinal aumentada mantendo os valores séricos de cálcio dentro de valores normais A hipercalciúria absortiva pode ser subdividida em 3 tipos: Tipo I que é independente da dieta, isto é mesmo nas dietas restritivas em cálcio mantém-se a hipercalciúria. Tipo II que é dependente da dieta, portanto com valores de cálcio urinário normais em regimes dietéticos restritivos em cálcio. Tipo III. Esta tem um comportamento semelhante ao tipo I no entanto o defeito primordial consiste numa fuga renal anormal de fosfato. A hipofosfatémia resultante determina a estimulação do metabolismo da vitamina D que por sua vez aumenta a absorção intestinal de cálcio e origina hipercalciúria. Hipercalciúria Renal Na hipercalciúria renal a alteração principal é a perda urinária de cálcio que resulta do comprometimento da reabsorção tubular renal de cálcio. A diminuição do cálcio sérico determina uma estimulação compensadora de hormona paratiróide e secundariamente do metabolismo da vitamina D. Como consequência ocorre um aumento da absorção intestinal de cálcio e a mobilização óssea de cálcio, restabelecendo as calcemias. O hiperparatiroidismo é assim uma situação secundária podendo, no entanto contribuir para uma diminuição da densidade óssea e osteopénia nalguns doentes. Hipercalciúria Reabsortiva O hiperparatiroidismo primário é considerado o paradigma da hipercalciúria reabsortiva. A alteração principal é a hipersecreção de hormona paratiróide. Este evento desencadeia vários eventos. A nível renal verifica-se um aumento da reabsorção tubular de cálcio e diminuição do fosfato. No osso ocorre um aumento da reabsorção do cálcio. E a nível intestinal também mediado pela estimulação do metabolismo da vitamina D aumenta a absorção do cálcio. A consequência é a hipercalcemia e hipofosfatemia com hipercalciúria devido à sobrecarga renal de cálcio. Hiperuricosúria A hiperuricosúria pode ser a única alteração fisiopatológica encontrada em cerca de 10 % dos doentes com nefrolitiase cálcica. Considera-se hiperuricosúria para níveis urinários de ácido úrico superiores a 700 mg/dia. O mecanismo mais frequentemente envolvido para a formação de litíase é nucleação heterogênea do oxalato de cálcio e de ácido úrico devido ao meio supersaturado nestas moléculas e ainda pela ação que estas exercem na remoção de várias substâncias inibidoras da formação de cálculos cálcicos. De referir que a acidez urinária pode ser um fator determinante, pois para um pH <5,5 a solubilidade do ácido úrico perde-se e o processo de cristalização é potenciado. Hiperoxalúria A hiperoxalúria define-se como a excreção urinária de oxalato superior a 45 mg/dia. 80 a 90 % do oxalato urinário ésintetizado no fígado sendo o restante proveniente da dieta e do ácido ascórbico. A hiperoxalúria pode ocorrer devido a síntese alterada, dieta rica em alimentos com oxalato ou excesso de vitamina C. No entanto estas causas são uma minoria. A maior proporção das hiperoxalúrias com formação de cálculos de oxalato de cálcio tem origem entérica, devido a doenças de má absorção lipídica. Os lípidos não absorvidos saponificam o cálcio e magnésio que deixam de estar disponíveis para se complexarem com o oxalato, determinando um aumento do oxalato intraluminal disponível para absorção. Este evento é ainda potenciado pela ação que os sais biliares exercem na mucosa intestinal ao aumentarem a permeabilidade para o oxalato. Novas evidências implicaram ainda a ausência de certas bactérias intestinais degradadoras de oxalato – Oxalobacter formigenes – como fatores de uma absorção aumentada. Hipocitratúria Ocorre hipocitratúria para valores de citrato urinário inferiores a 320 mg/dia. A excreção urinária de citrato pode encontrar-se comprometida em situações de acidose, hipocalemia, dieta rica em proteínas animais e infecções urinárias. O citrato aumenta a solubilidade do cálcio ao complexar- se com este, mas também exerce um efeito inibitório direto na cristalização. Desta forma a hipocitratúria isolada ou combinada com outras alterações metabólicas é um agente da nefrolitíase. De referir que as diferenças entre sexos para a nefrolitíase, poderão ser o resultado do efeito inibitório do citrato na litíase. São evidências, o fato dos níveis de citrato nas mulheres serem tendencialmente maiores, e as mulheres com litíase terem níveis de citrato mais aproximados aos do sexo masculino. Hipomagnesúria A hipomagnesúria define-se para valores urinários inferiores a 50 mg/dia. O magnésio tem um papel inibidor da nefrolitíase ao aumentar a solubilidade do oxalato e fosfato de cálcio, pelo que os seus níveis baixos têm sido implicados como factor de risco para a nefrolitíase. FISIOPATOLOGIA DA LITÍASE NÃO CÁLCICA Cálculos de Ácido Úrico Os cálculos de ácido úrico constituem menos de 5% de todos os cálculos urinários e são mais frequentes no sexo masculino. As causas de excesso de ácido úrico na urina incluem patologias mieloproliferativas, gota, doenças em tratamento com drogas citotóxicas, outras causas de produção endógena de urato, desidratação e excesso dietário em purinas. No entanto a alteração mais frequentemente encontrada na litíase úrica não é a hiperuricemia ou a hiperuricosúria, mas a acidez urinária. Assim para a formação de cálculos de ácido úrico é necessário pH urinário baixo inferior a 5,5 (pK 5,75), volume urinário baixo e a excreção urinária de ácido úrico. Qualquer situação que determine um pH urinário baixo pode precipitar o ácido úrico e induzir a cristalização com formação de litíase úrica. Cálculos de Cistina Correspondem a cerca de 1 a 2 % de todos os cálculos urinários. Têm um pico de incidência na infância e 2ª década de vida. A cistinúria é uma doença autossômica recessiva que se caracteriza por um erro metabólico em que o transporte de aminoácidos dibásicos como a cistina, ornitina, lisina e arginina, se encontra alterado no intestino e rim. A formação de litíase ocorre devido a uma excreção urinária excessiva de cistina e sua baixa solubilidade na urina (pK 8,1) (9). O principal determinante da cristalização é a supersaturação urinária. Para cistinúrias superiores a 250 mg/dia a cistina precipita, podendo-se considerar que não existe formação de litíase para valores inferiores a 200mg/dia. Cálculos de Infecção Os cálculos de infecção podem ser constituídos por estruvite (magnésio, amónio e fosfato) ou apatite. O elemento chave nestes cálculos é a infecção do aparelho urinário com bactérias desdobradoras de ureia como Proteus, Pseudomonas, Klebsiella, alguns Stafilococos e Micoplasman. Como consequência da acção da urease bacteriana, a partir da ureia existe a produção de amónia ficando a urina altamente alcalina, com pH que raramente é inferior a 7. A solubilidade da estruvite que, para o pH normal da urina é total, perdese, ocorrendo precipitação e formação de cristais. A litíase de estruvite ocorre de forma mais frequente em situações de infecção urinária crónica e alterações anatómicas ou funcionais que favoreçam a estase urinária como derivações, divertículos, bexiga neurogénica e outros. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A dor associada com cálculos renais deve-se à distensão do ureter, da pelve renal ou da cápsula do rim. A intensidade da dor está relacionada com o grau de distensão que ocorre, e assim é extremamente forte na obstrução aguda. Anúria e azotemia são sugestivas de obstrução bilateral ou obstrução unilateral de um só rim em funcionamento. Dor, hematúria e mesmo obstrução ureteral causadas por um cálculo renal, geralmente, são autolimitadas. Para cálculos menores, a eliminação requer apenas hidratação, repouso no leito e analgesia. As principais complicações são (1) hidronefrose e dano renal permanentemente potencial como um resultado de obstrução completa de um ureter, com refluxo de urina resultante e acúmulo de pressão; (2) infecção ou formação de abscesso atrás de um cálculo com obstrução parcial ou completa; (3) dano renal subsequente a cálculos renais repetidos; e (4) hipertensão resultante da produção aumentada de renina por um rim obstruído EXAMES SUBSIDIÁRIOS Vários exames são possíveis para o diagnóstico de urolitíase, no entanto, de forma didática podemos dividi-los em 3 categorias: -Diagnóstico no Pronto-socorro -Investigação de cálculo renal -Exames complexos, na dúvida de diagnóstico e tratamento 1-Diagnóstico no Pronto-socorro Quando o paciente comparece ao Prontosocorro devido à cólica renal, o diagnóstico deverá ser baseado na história clínica e exame físico. Nesse momento, além do diagnóstico rápido, o mais importante é o alívio da dor. Em situações de dúvidas, devemos realizar exames simples e baratos como o de Urina tipo I e RX simples de abdômen. ● Urina I: Esse exame serve para pesquisa principalmente de hematúria que conforme exposto anteriormente pode estar associada à urolitíase. Pesquisa de leucócitos, os quais são inespecíficos, mas podem estar associados a com urolitíase e infecção. ● RX simples de Abdômen: Embora o exame ideal de RX simples de abdômen necessite de preparo adequado, esse exame realizado sem preparo no prontosocorro pode ser útil para identificar calcificações no trajeto do ureter e intrarenal. É importante ressaltar que também se trata de um exame inespecífico que é capaz de detectar somente calcificações maiores de 2-3 mm, desde que não haja sobreposição de gases, resíduos e estruturas ósseas. 2-Investigação de cálculo renal ● Ultra-sonografia de abdômen: Trata-se de um exame barato, que pode ser repetido várias vezes, sem o inconveniente da radiação e injeção de contraste iodado. Bom para avaliação intra-renal, vesical e ureter distal. No entanto, apresenta dificuldade na avaliação de possíveis cálculos em ureter médio e proximal. ● Urografia Excretora: Também é um exame barato, mas apresenta os inconvenientes da radiação e injeção de contraste iodado. Bom para avaliação de todo trato urinário alto, inclusive avaliação indireta da função renal, através da excreção do contraste iodado. Bom para planejamento terapêutico e avaliação de prognóstico do tratamento da urolitíase. ● Tomografia Computadorizada (CT): Atualmente com a possibilidade de reconstrução de imagens em 3D, é um excelente exame para avaliação de todo o trato urinário. A exposição à radiação é muito baixa, porém necessita de injeção de contrastes. A principal limitação dométodo é o seu preço, inacessível a maior parte dos nossos pacientes. 3- Exames complexos, na dúvida de diagnóstico e tratamento ● Uretero-pielografia: A uretero-pielografia é um exame invasivo, pouco utilizado nos dias atuais, no qual o contraste deverá ser injetado diretamente na via excretora; ureter, pelve e cálices renais. O contraste pode ser injetado por via retrógrada (ascendente), através de um cateter ureteral inserido no ureter de forma endoscópica uretro-vesical, ou por via anterógrada (descendente), através de punção da pelve ou cálices renais. ● Ressonância Nuclear Magnética: Excelente exame para avaliação de todo trato urinário e que não apresenta o inconveniente de exposição à radiação e injeção de contrastes. É o exame de escolha para gestantes e pacientes com alergias aos contrastes iodados. O grande inconveniente é o seu preço que é maior do que a CT de abdômen. O diagnóstico é feito mais comumente pelo raio-x de abdômen ou pela ecografia de vias urinárias. Se um dos exames for negativo (raio-x ou ecografia), sugere-se solicitar o outro exame caso a dúvida diagnóstica persista. O exame de maior probabilidade de identificar o cálculo é a tomografia computadorizada helicoidal sem contraste, porém tem a desvantagem de exposição à irradiação e acesso restrito na Atenção Primária a Saúde. Em resumo, apesar de a tomografia computadorizada ter mais sensibilidade e especificidade que a urografia excretora ou a ultrassonografia, a ultrassonografia é capaz de detectar praticamente todas as pessoas que não eliminaram o cálculo urinário espontaneamente. TRATAMENTO DE CÓLICA RENAL AGUDA. A maioria dos pacientes podem ser manejados conservadoramente com analgesia durante o episódio agudo. Tratamento inicial da cólica renal é realizado com analgésico potente opiáceo ou AINE. Hidratação forçada na cólica renal aguda não é indicada. Deve-se encaminhar para tratamento hospitalar de urgência os pacientes sem controle adequado da dor, se existir a possibilidade de gravidez ectópica (mulher em idade fértil com atraso menstrual) ou aneurisma de aorta, infecção urinária, litíase com suspeita de obstrução em rim único e/ou anúria. É pouco provável que cálculos ureterais maiores que 10 mm sejam expelidos. Portanto, nesses casos, a avaliação com o urologista é necessária. Para cálculos ureterais menores ou iguais a 10 mm em pacientes que apresentam sintomas controláveis e não apresentam razão para remoção cirúrgica imediata, o acompanhamento pode ser conservador com analgesia e terapia medicamentosa que aumenta a probabilidade de liberação do cálculo. É utilizado preferencialmente bloqueador alfa-adrenérgico (tansulosina 0,4mg/dia ou doxazosina de 2 a 4mg/dia) por 4 semanas. Bloqueadores dos canais de cálcio, como a nifedipina (30mg/dia), também podem ser utilizados na indisponibilidade do bloqueador alfa- adrenérgico. Nesses casos, o paciente deve estar atento para a eliminação do cálculo e caso não seja expelido deve-se solicitar um novo exame de imagem em 6 semanas para identificar sua expulsão. A perda de função renal irreversível não ocorre na obstrução aguda unilateral, mas pode ser uma complicação resultante de obstrução crônica, pielonefrite de repetição, pionefrose, cicatriz cirúrgica e nefrectomia parcial ou total. OUTRO REFERÊNCIA A atitude imediata perante uma cólica renal é obviamente a analgesia. Para além do reconhecido papel dos prostanoides na fisiopatologia da obstrução ureteral completa ou parcial, aguda ou crônica, as prostaglandinas (PGs) potenciam e modulam os mecanismos locais e centrais da dor. É com base nestes conhecimentos, que o uso tradicional dos narcóticos e espasmolíticos no tratamento da cólica renal, tem vindo a ser substituído pelos inibidores da sintetáse da PG H ou ciclooxigenase (COX). A COX converte o ácido araquidônico em PG H2 que é o substrato de várias sintetáses de PGs. A COX existe em duas formas. A COX 1 é uma enzima constitutiva, ativa em praticamente todos os tecidos, e a COX-2 é ativada por estímulos como a inflamação. A maioria dos AINEs inibem de forma reversível as COXs. O efeito terapêutico decorre por um lado da interferência com os mecanismos locais e centrais da dor e por outro da diminuição da pressão intraluminal A ação destes anti-inflamatórios a nível central parece ser responsável por um efeito protetor destas drogas em relação à hiperalgesia muscular referida. Para além da atividade analgésica central, o metamizol apresenta igualmente uma ação espasmolítica ao nível do ureter. Existem vários quadros de cólica renal que requerem observação por um Médico Urologista: A presença de febre e ITU, ou seja uma pielonefrite aguda obstrutiva (o refluxo pielovenoso que ocorre num rim obstruído favorece a ocorrência de sépsis) e a existência de insuficiência renal associada (a maioria das vezes por obstrução em rim único ou agudização de uma insuficiência renal prévia) são indicações absolutas para derivação urinária interna, com colocação transuretral de um catéter endo-ureteral, ou derivação externa pela realização de uma nefrostomia percutânea com orientação ultrassonográfica. Quando a dor é resistente á analgesia por via entérica, é preferível o internamento com analgesia parentérica e eventualmente uma derivação urinária temporária. Cálculos coraliformes: os cálculos de estruvite são os mais frequentes deste grupo. São originados por infecção urinária por bactérias produtoras de urease e acarretam grande morbilidade, pelo que é necessário antibioterapia orientada pelo antibiograma e remoção rápida destes cálculos. Cálculos de grandes dimensões, sobretudo no ureter lombar, nos quais a eliminação espontânea é pouco provável, e a obstrução de longa duração com hidronefrose marcada e atrofia do córtex renal, não são uma indicação absoluta para internamento e tratamento urgentes, embora necessitem de uma resolução célere, temporária ou definitiva, da obstrução. Cerca de 90% dos doentes observados por cólica renal no Serviço de Urgência têm alta clínica com orientação para o Médico Assistente, medicados com uma associação de analgésicos potentes. Foi demonstrado a eficácia do diclofenac na profilaxia a curto prazo de novos episódios de cólica. No rim obstruído há um predomínio de efeitos vasoconstritores, pelo que são produzidos localmente eicosanoides vasodilatadores para compensar estes efeitos. Persiste o receio que o bloqueio da síntese de prostanoides acentue este desequilibro com consequências deletérias para o rim. A utilização, no ambulatório, de inibidores selectivos da COX-2 permite evitar este fenômeno a nível renal, bem como outros efeitos laterais, nomeadamente ao nível do trato gastrointestinal, mantendo o efeito terapêutico e a atividade essencial da COX-1. A utilização de bloqueadores de canais de cálcio (nifedipina), pelos seus efeitos mio-relaxantes, parece aumentar a taxa de eliminação espontânea dos cálculos. Em cálculos de ácido úrico assintomáticos < 1 cm a quemólise por via oral é o tratamento de primeira escolha. O passo seguinte é, obviamente, a eliminação ou remoção do cálculo. Dependendo da posição e tamanho, mais de 70% dos cálculos ureterais são eliminados espontaneamente. Cálculos inferiores a 6 mm de diâmetro transversal, localizados no terço inferior do ureter são eliminados em 80-90% dos casos. As possibilidades de eliminação espontânea vão diminuindo à medida que o tamanho aumenta e em posições mais proximais. Em cálculos superiores a 6-8 mm, sobretudo se localizados no ureter lombar, a intervenção urológica é quase sempre necessária. A taxa de complicações aumenta com o tempo de eliminação, sendo, no entanto inferior a 7% para períodos até trinta dias, aceitando-se atualmente que, emrins previamente normais, não há efeitos nocivos irreversíveis mesmo em obstruções completas, sem infecção, até às quatro semanas. É este o período aceitável de tempo de espera nas situações em que a eliminação espontânea do cálculo é previsível. As obstruções parciais, apesar de terem efeitos deletérios sobre o rim, dão-nos maior margem de manobra, embora sem limite de tempo definido. Independentemente do grau de obstrução, um cálculo que mantém a mesma posição durante cerca de trinta dias provavelmente está impactado, imobilizado pelo edema a montante e a jusante, e não vai ser eliminado espontaneamente. 4. ESTUDAR O MECANISMO DE AÇÃO DOS ANTIESPASMÓDICOS, INDICAÇÕES, CONTRAINDICAÇÕES E EFEITOS ADVERSOS Os antiespasmódicos são medicamentos usados para tratar os espasmos musculares. Eles acalmam ou neutralizam as contrações involuntárias dos músculos. Essa classe de remédios é frequentemente utilizada para espasmos digestivos, dores como cólicas hepáticas ou renais. Alguns antiespasmódicos podem ter efeitos colaterais importantes por sua ação anticolinérgica, o que pode resultar em ressecamento bucal, constipação, dificuldades de eliminação de urina ou aumento da frequência cardíaca. Os antiespasmódicos são classificados em vários grupos, de acordo com seu mecanismo de ação: Agentes relaxantes direto do musculo liso (mebeverina, derivados da papaverina); Anticolinérgicos (butiliosiosina, hioscina, levocina, dicicloverina, butilescopolamina, trimebutina e brometo de cimetrópio); Agentes bloqueadores dos canais de cálcio (brometo de pinaverium, brometo de otilônio, alverina, rociverina e pirrenzepina); Os relaxantes musculares diretos atuam sobre as miofibrilas do musculo liso do sistema digestivo, reduzem o tônus e o peristaltismo e aliviam espasmos intestinais sem afetar substancialmente a motilidade gastrointestinal. Os efeitos colaterais desse tipo de medicamento são muito raros e incluem dores de cabeça e tonturas. Os antiespasmódicos anticolinérgicos ou também chamado de antagonistas muscarinicos são fármacos parassimpaticolíticos, ou seja, eles bloqueiam a ação da acetilcolina. O bloqueio desses receptores tem efeito considerável sobre a motilidade da musculatura lisa gastrointestinal. Em geral, as paredes das vísceras vão ser relaxadas, e tanto o tônus quanto os movimentos propulsores estão diminuídos ao inibir a atividade parassimpática. Os efeitos colaterais mais comuns são dores de cabeça, tonturas, visão turva, disúria, erupção cutânea. https://saude.ccm.net/faq/807-colica-definicao https://saude.ccm.net/faq/2171-efeito-colateral-definicao https://saude.ccm.net/faq/2171-efeito-colateral-definicao Já os antagonistas de cálcio relaxam o intestino, impedindo a entrada do cálcio nas células do musculo liso intestinais. Como o cálcio desencadeia a cascata de eventos que ativam a contração muscular, sua inibição causa relaxamento intestinal. Esse grupo de medicamentos, ao reduzir o índice de motilidade, pode diminuir o reflexo gastrocólico e modificar o tempo de transito colônico. As reações colaterais mais comuns são náuseas, erupção cutânea, diarreia xerostomia. Os antiespasmódicos mais utilizados, principalmente no Brasil são: 1. ATROPINA: A atropina é um antagonista competitivo das ações da acetilcolina no receptor muscarinico. É importante dizer que todos os receptores muscarinicos (M1 a M5) são bloqueados pela atropina: os existentes nas glândulas exócrinas, musculo liso e cardíaco, gânglios autônomos e neurônios intramurais. Em relação à ação da atropina no estomago e intestino ela é utilizada como agente antiespasmódico para os distúrbios gastrointestinais e tratamento de ulcera péptica. A atropina também reduz a secreção gástrica, além de promover relaxamento da musculatura lisa, sendo eficiente no tratamento de cólicas geniturinárias. Esse fármaco produz efeitos acentuados sobre a motilidade do trato gastrointestinal, pois produzem efeitos inibitórios nítidos e prolongados sobre a atividade motora do estomago, duodeno, jejuno, íleo e cólon, caracterizados pelas reduções do tônus, amplitude e frequência das contrações peristálticas. 2. BUSCOPAN: O buscopan exerce atividade espasmolítica sobre a musculatura lisa do TGI, geniturinário e vias biliares. O butilbrometo de escopolamina, como é um derivado do amônio quaternário, não atravessa a barreira hemato- encefálica, e deste modo, não produz efeitos colaterais anticolinérgicos sobre o SNC. A ação anticolinérgica periférica resulta de uma ação bloqueadora sobre os gânglios intramurais das vísceras ocas, assim como de uma atividade antimuscarínica. Lembrando que o BUSCOPAN composto possui uma associação de butilbrometo de escopolamina e dipirona sódica, o que promove efeitos analgésicos. 3. BEBEERINA: A Mebeverina é um antiespasmódico musculotrópico com ação direta sobre a musculatura lisa do trato gastrointestinal, sem afetar a motilidade intestinal normal. O exato mecanismo de ação é desconhecido, m as mecanismos múltiplos, tais como a redução da permeabilidade dos canais de íon, o bloqueio da recaptação de noradrenalina, o efeito anestésico local, alterações na absorção de água pode contribuir para o efeito local da Mebeverina no trato gastrointestinal. Através destes mecanismos, a Mebeverina tem efeitos antiespasmódicos, resultando na normalização da motilidade intestinal sem exercer um relaxamento permanente das células do músculo liso no trato gastrointestinal (chamado de hipotonia). Os efeitos colaterais sistêmicos, como observados com anticolinérgicos comuns, estão ausentes.
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